TRECHO 1: ECONOMIA GRÉCIA ANTIGA. “As grandes linhas de evolução das cidades-Estados Quando as cidades-Estados gregas começam a ser mais bem iluminadas pelas fontes escritas, nós as achamos, na Época Arcaica (séculos VIII-VI a.C.), em plena crise social e política (stásis), entregues à luta entre facções. A raiz primeira desta crise parece ser o resultado da combinação do aumento demográfico (contínuo durante toda essa fase da história grega) com a circunstância de estarem, como se disse anteriormente, muitas das melhores terras monopolizadas pela aristocracia de sangue, que dispunha de todo o poder político e judiciário. Em contraste, os lotes dos camponeses pobres, devido a contínuas partilhas sucessórias, podiam chegar a tamanhos ínfimos. Mas o detalhe nos escapa: o único exemplo relativamente menos obscuro é o de Atenas, que será examinado no próximo capítulo. Em todo caso, algumas das características que podemos entrever na Ática parecem bastante gerais. Uma delas é o empréstimo in natura (sobretudo de cereais) que os proprietários mais ricos faziam aos camponeses pobres, do qual podia resultar a perda da terra pelos últimos, continuando o ex-dono a trabalhar a parcela, agora como arrendatário; e mesmo uma forma de escravidão ou servidão por dívidas, já que o pagamento destas era garantido pela pessoa do devedor e de seus familiares. Partindo da luta entre proprietários e despossuídos, credores e devedores, a evolução da polis dependeu também de outros fatores, entre os quais os que apontam para a urbanização, a divisão do trabalho, a importância crescente da economia mercantil. A arqueologia permite comprovar um artesanato cuja qualidade estava aumentando, a exportação de cerâmica grega nos séculos VII e VI a.C., a importação de artigos de luxo orientais, o surgimento de templos imponentes e outros monumentos, mais tardiamente o início da economia monetária (…)” “Ao mesmo tempo consequência da crise agrária, para a qual constituía uma saída, e fator de um progresso econômico diversificado, a colonização grega foi um dos acontecimentos essenciais dos séculos arcaicos, embora com ímpeto menor e algumas modificações se estendessem igualmente aos séculos clássicos (V e IV a.C.). Sem dúvida, foi a busca de terras cultiváveis que, em primeiro lugar, levou expedições fundadoras gregas ao Mediterrâneo Ocidental, ao norte da África, ao norte do Egeu, à Propôntide (atual Mar de Mármara) e ao Ponto Euxino (atual Mar Negro), num extraordinário movimento de multiplicação das póleis helênicas (…)” “Cada genos era o núcleo em tomo do qual se organizava uma "casa" real ou nobre, o oikos, que reunia pessoas - além da família, diversas categorias de agregados livres e de escravos- e bens variados (terras, rebanhos, o "palácio" - de fato bem modesto -, um "tesouro" constituído por reservas de vinho e alimentos, objetos de metal, tecidos preciosos, etc.), todos e tudo obedecendo ao chefe do genos em questão. Fora do oikos, achamos: uma categoria de "trabalhadores da coletividade" (demiurgos), gozando de certo prestígio social - artesãos especializados, profetas, médicos, arautos, poetas cantores (aedos), etc. -, que iam de uma "casa" nobre a outra na medida em que fossem solicitados seus serviços; camponeses sem terras (tetes), que alugavam quando podiam sua força de trabalho e eram muito malvistos; e - sabemoIo por Hesíodo - pequenos proprietários de terras.” CARDOSO, Ciro Flamarion S. A cidade-Estado antiga. São Paulo: Ática, 1993 (páginas 23, 25 e 20, respectivamente). TRECHO 2: Economia na Roma Antiga. “O botim e as indenizações de guerra, além dos impostos que se exigiam dos vencidos movimentavam a economia de forma considerável. Estes aspectos foram bastante importantes para o processo de estabelecimento do Império. À medida que se expandia o poderio político de Roma, cresciam as atividades comerciais. As conquistas romanas tiveram profunda repercussão na vida rural, dentre as quais podemos destacar as seguintes transformações: formação de vastas propriedades (latifundia), o aumento do número de escravos capturados em guerras vitoriosas que afluíam para o campo e concorriam com os trabalhadores livres. Além disso, o contato com civilizações em que dominava um sistema agrícola mais desenvolvido provocou uma verdadeira revolução no meio rural italiano, entre outros fatores. (GIORDANI, 1986: 126). Assim, ao centralizar em Roma a transferência dos excedentes e dos recursos fiscais de todo mundo, ao unificar sob uma única administração, o Oriente e o Ocidente, ao fazer de Roma e da península itálica um centro de consumo cada vez mais importante, ao assegurar a paz e a segurança dos viajantes e dos meios de transporte, ao abrir as novas províncias às rotas comerciais do mediterrâneo, a conquista romana iria criar condições totalmente novas e intensificando os intercâmbios comerciais de todo tipo. (NICOLET, 1982: 79). Segundo os autores Aymard e J. Ayboyer a motivação econômica apresenta-se até certo ponto questionável: pois não houve, por exemplo, uma explosão demográfica que justificasse a necessidade de expansão territorial. A anexação de colônias explica-se muito mais por objetivos militares do que pela procura de instalações para uma população excedente. Não houve, durante os primeiros séculos da história de Roma nenhum problema econômico ou social que se pudesse resolver pela conquista. Problemas dessa ordem só começaram a acontecer mais tarde em função de conquistas anteriores. Os autores destacam então dois fatores que consideram principais: a avidez pura e simples e o medo. No primeiro aspecto pode-se perceber que por se tratar de um povo camponês, o Romano cobiçou as terras de seus vizinhos, principalmente quando eram mais férteis e mais bem exploradas; instalados num local por onde passavam certas rotas, quis monopolizar e aumentar os lucros desse tráfico e desejou também obter mais facilmente certas matérias primas”. “(…) com a anexação e a conquista de províncias, Roma obteve destas em primeiro lugar, consideráveis recursos fiscais. Tais recursos, entretanto destinavam-se a atender apenas uma parcela da população (o populus romano). Os resultados mais importantes, contudo estavam em dois setores: a exploração de metais preciosos e o cultivo de cereais. Deixando à parte o aspecto financeiro propriamente dito, a conquista romana teve, para o autor motivações estritamente econômicas. “ “Sabemos que desde o séc. II a.C. a escravidão se tornou o principal modo de produção da economia romana e que, através da evolução das relações de trabalho entre o senhor e o escravo, se desenvolveu o costume de se confiar aos escravos a gestão de propriedades ou bens do seu senhor, conseguindo com isso meios de comprar sua liberdade” MOURA, Fabricio Nascimento. “ECONOMIA E EXPANSIONISMO ROMANO: INTERAÇÕES E CARACTERÍSTICAS NO PERÍODO REPUBLICANO” in CANDIDO, Maria Regina (org). Roma e as sociedades da Antiguidade: política, cultura e economia Rio de Janeiro : NEA/UERJ, 2008. Páginas 42 e 43. TRECHO 3: ECONOMIA NO ANTIGO EGITO “É no Baixo Egito que a economia de produção provavelmente foi adotada, adaptada e difundida para o Alto Egito; a época badariana servindo talvez de intermediária. A produção agrícola era muito mais importante nas culturas do Baixo Egito do que no Alto Egito da mesma época. Além disso, as comunidades do Baixo Egito não apresentavam uma forte hierarquia. Um dos fatos marcantes do período Nagada II é a extensão da cultura nagadiana ao conjunto do vale, em direção ao norte até o Delta e em direção ao sul até depois da primeira catarata. Nessa época, o Egito conheceu uma unidade cultural. Foi preciso esperar o fim da segunda fase de Nagada para que, no conjunto do vale do Nilo, a economia as estruturas sociais dependessem quase exclusivamente do ciclo agrícola. A indústria da pedra continuou sua evolução até culminar na arte da estatuária faraônica. As populações passaram a sedentarizar-se junto à planície aluvial, a fim de aproveitar melhor os benefícios da cheia do Nilo. O fenômeno de hierarquização também se acentuou, fazendo surgir elites que buscavam distinguir-se através da acumulação e da ostentação, visíveis nas necrópoles”. “A política estrangeira do Médio Império tinha vários objetivos: a defesa das fronteiras, a ampliação do território nacional e a obtenção, essencial para a economia do país, de gêneros alimentícios e mão de obra. O Egito depende de seus vizinhos para o abastecimento de madeira e para todos os tipos de produtos preciosos. Nesse ponto, a inovação do Médio Império consistiu principalmente na coerência da política e na amplitude dos esforços empregados. Desde a 11ª dinastia, a Núbia estava integrada ao território egípcio. (…) Os soberanos do Médio Império parecem ter posto uma energia particular em dominar o sul do Egito. É sob o reinado de Sesóstris I que são designadas pela primeira vez as populações do reino núbio de Kush. As guerras de conquista em território núbio foram empreendidas principalmente por Sesóstris I e Sesóstris III. Este último estabelece uma fronteira em Semna e em Kumna, a fim de conter as populações do grupo C instaladas na Baixa Núbia e de se proteger da pressão do reino de Kerma na Alta Núbia.” As atividades agrícolas eram o setor fundamental da economia agrícola antiga. Nós as conhecemos bem, do ponto de vista da descrição, em virtude das copiosas cenas representadas nas pinturas e relevos murais das tumbas. A vida agrícola se desenvolvia segundo um ciclo bastante curto, se considerarmos as produções básicas - cereais (trigo duro e cevada em especial) e linho - , em função das três estações do ano que eram típicas do país: a inundação (julho-outubro), a “saída” ou o reaparecimento da terra cultivável do seio das águas, época da semeadura (novembro-fevereiro), e a colheita (março-junho). Com a paralisação das atividades agrícolas durante a inundação, e considerando-se que a colheita, realizada em abril e maio, terminava bem antes que ocorresse a nova cheia do rio, vemos que o ciclo da agricultura básica durava pouco mais de meio ano apenas. Isto quer dizer que era possível dispor de abundante mão-de-obra para as atividades artesanais da 11 aldeia, para trabalhar nas instalações de irrigação, e para as grandes obras estatais (templos, palácios, sepulcros reais, monumentos diversos). Além da mão-de-obra ocasional fornecida pelos camponeses na época da inundação, quando os trabalhos agrícolas se paralisavam, as obras públicas empregavam também trabalhadores permanentes, remunerados em espécie. (…) A escravidão teve certa importância econômica nas minas e pedreiras estatais e, no Reino Novo, também nas terras reais e dos templos. Houve igualmente tropas militares auxiliares constituídas de escravos, e existiram escravos domésticos, às vezes numerosos. A economia egípcia, no entanto, nunca foi “escravista” no sentido em que o foi a da Grécia clássica e helenística e a da Roma de fins da República e do Alto Império. (Cyro Flamarion Cardoso. O Egito Antigo). TRECHO 4: ECONOMIA FEUDAL “O modo de produção feudal que surgiu na Europa Ocidental foi caracterizado por uma unidade complexa.” (ANDERSON, 1982, p. 143). O modo de produção feudal uniu elementos do modo de produção escravo e do modo de produção primitivo. Este modo de produção retirava todas suas riquezas da terra, e é caracterizado como uma economia natural, de subsistência. Onde a posse de terra define toda a configuração social, e o trabalho e a mercadoria não são bens. O Senhor Feudal, proprietário de terra oferece em seu feudo, terra e proteção para os camponeses, que passam a obedece-lo em um regime de servidão. Em troca dos favores fornecidos pelo Senhor Feudal, o servo trabalha e lhe paga tributos. Porém as relações sociais não se limitam apenas entre Senhor Feudal e servo, existem relações entre a nobreza, entre Senhores Feudais e nobres superiores. O Senhor Feudal entra em uma relação de vassalagem com outros nobres, devendo-lhes serviços de cavalaria em troca da terra recebida. No ápice das relações de vassalagem entre os nobres está o monarca, o rei que é dono de todas as terras. Porém este não consegue deter o poder sobre o território como um todo, devido à divisão de terra realizada, pois em cada feudo o Senhor Feudal atua como soberano. A descentralização política é uma das principais características do Feudalismo. “A consequência deste sistema era que a soberania política nunca estava enfocada em um único centro. [...] Esta parcelarização da soberania seria constitutiva de todo o modo de produção feudal.” (ANDERSON, 1982, p. 144). Este cenário caracterizou três estruturas do Feudalismo. A primeira é a presença de terras comunais, os pedaços de terras que ficam entre os feudos. Estas terras tornaram-se o local refugio e resistência dos camponeses. A fuga da mão de obra comprometeu a produtividade dos feudos. A segunda é o fenômeno das cidades medievais. As cidades medievais constituíram centros independentes do poder da Igreja e da nobreza. Elas eram governadas por comerciantes, e nelas existia a presença de associações e corporações de ofícios. “As cidades modelares da Europa que praticavam o comércio e as manufaturas eram comunidades autogovernadas, tendo uma autonomia incorporada política e militar isolada da Igreja e nobreza.” (ANDERSON, 1982, p. 146). Apesar de não atingirem o tamanho das cidades da antiguidade, as cidades medievais desenvolviam-se de forma autônoma e oposta ao campo. Em terceiro lugar existia a ambiguidade do exercício do poder dos nobres. O rei por ser o soberano deveria governar todo o território, porém a descentralização política impediu que isto ocorresse na prática. Nesse contexto o rei passou a ser mais um Senhor Feudal. “O monarca, em outras palavras, era um suserano feudal de seus vassalos, aos quais estava ligado por laços de feudalidade, e não um soberano supremo colocado acima de seus súditos.” (ANDERSON, 1982, p. 147). Fonte: http://historiaepensamentoeconomico.blogspot.com.br/2014/03/perryanderson-passagens-da-antiguidade.html TRECHO 5: O SURGIMENTO DO CAPITALISMO “Qual a ligação existente entre a revolta dos pequenos produtores e a gênese do capitalismo? A revolta camponesa contra o feudalismo, mesmo se bem sucedida, não implica o aparecimento simultâneo de relações burguesas de produção. Em outras palavras, o elo entre elas não é direto, mas indireto, o que explica, creio eu, a razão por que a dissolução do feudalismo e a transição tendem a ser demoradas, e por que o processo às vezes se interrompe (como no caso da Itália, mencionado por Eric Hobsbawm, e também da Holanda, com as primeiras relações burguesas de produção já nos séculos XIII e XIV, embora numa forma ainda muito elementar). É verdade, e merece ser acentuado, que "a transição do feudalismo para o capitalismo não é um processo simples mediante o qual os elementos capitalistas no interior do feudalismo vão fortalecendo-se até estarem bastante vigorosos para romper a casca feudal". (E. H.) A meu ver, é esta a conexão. Na medida em que os pequenos produtores conseguiam emancipação parcial da exploração feudal — talvez no começo um mero abrandamento — eles podiam guardar para si mesmos uma parte do produto excedente. Assim obtinham os meios e a motivação para melhorar o cultivo e ampliálo a áreas novas, o que incidentalmente serviu para aguçar mais ainda o antagonismo contra as restrições feudais. Assim se lançaram também as bases para alguma acumulação de capital no interior do próprio pequeno modo de produção, e portanto para o começo de um processo de diferenciação de classes no interior da economia de pequenos produtores — o conhecido processo, presenciado em várias épocas em lugares muito espalhados do mundo, no sentido da formação, por um lado, de uma camada superior de agricultores progressistas relativamente abastados (os kulaks da tradição russa) e, por outro, de uma camada de camponeses arruinados. Essa polarização social na aldeia (e, de maneira similar, nos artesanatos urbanos) preparou o caminho para a produção assalariada e, em decorrência, para as relações burguesas de produção. Foi assim que se formou o embrião das relações burguesas de produção no seio da antiga sociedade. O processo, porém, não amadureceu imediatamente. Levou tempo: na Inglaterra, alguns séculos. “ DOBB, Maurice. A transição do Feudalismo para o Capitalismo.