IDENTIFICANDO AFECÇÕES CUTÂNEAS NA INFÂNCIA: REFLEXÃO SOBRE OS CUIDADOS Alessandra Carvalhal Santos1 Marilda Andrade2 Jorge Luiz Lima da Silva3 A pele, o mais extenso órgão do corpo humano, é uma estrutura indispensável para a vida humana. Forma uma barreira entre os órgãos internos e o ambiente externo e participa de muitas funções vitais do organismo. Como os distúrbios da pele são prontamente visíveis, as queixas dermatológicas são, com frequência, as razões primárias para as visitas dos pacientes. Ao cuidar de pacientes com distúrbios dermatológicos, a enfermaria obtém importante informação através da história de saúde e das observações diretas. Muitas vezes, o paciente ou os membros da família se sentem mais à vontade conversando com a enfermeira, ou se sentem menos inibidos e, assim, capazes de suplementar as informações pertinentes que podem ter sido omitidas ou esquecidas diante do médico ou de outros profissionais de saúde. A habilidade da enfermeira na avaliação física, em conjunto com o conhecimento de anatomia e função da pele, pode assegurar que as anormalidades sejam reconhecidas, relatadas e documentadas. Nesse sentido, a atenção à saúde da criança sob a estratégia Saúde da Família parte da concepção de uma visão integral sobre o desenvolvimento humano, apontando para um conjunto de ações e intervenções direcionadas não só a criança, mas aos seus responsáveis e a todo o seu meio. Faz-se necessária a permanente busca das condições apropriadas para a capacidade de aprender e crescer de cada criança. É importante que a equipe e a família estejam alerta aos possíveis fatores de risco pertinentes a cada faixa etária, atentos ao aleitamento materno e ao esquema vacinal, bem como ao estado nutricional, à possibilidade de infecções, aos quadros de diarreia, aos problemas respiratórios e outros aspectos que possam caracterizar-se como sinais de perigo para a criança. Prestar atendimento à criança com problema dermatológico exige muito cuidado para que não atinja a sua integridade física. A pele da criança tem papel complexo a desempenhar, precisa manter os organismos nocivos fora do corpo. Quando ferida, precisa curar-se rapidamente. Mas crianças desnutridas não conseguem combater facilmente as infecções da pele. Muitas famílias precisam trazer a água de longe. Nem toda mãe tem higiene e condições de dar banho na criança com frequência necessária para afastar os organismos nocivos. Por esses motivos muitas crianças chegam à unidade de saúde com problemas de pele, principalmente infecção. Quando encontramos alguma criança com lesões na pele, devemos investigar se há algum problema de maior complexidade. No período do estudo foi constatado que as dermatoses neonatais são muito frequentes, estando presentes em quase todos os recém-nascidos (RN). A incidência relatada chega a 99,3% quando se realiza o exame da mucosa oral e se consideram achados como descamação, hiperplasia sebácea. Quando não são incluídas as lesões mais simples e se enfocam principalmente as lesões vasculares e pigmentadas, a incidência cai a 57,0%. Segundo o estudo, as lesões cutâneas são muito variáveis, podendo ser temporárias, inocentes, resultantes de uma reação fisiológica, ou podem indicar desordem séria e potencialmente fatal. Exemplo: Mancha salmão, mancha mongólica e o eritema tóxico, são alterações comuns, bem conhecidas e benignas, não causando maior preocupação do ponto de vista clínico. A importância do reconhecimento dessas lesões está na orientação adequada a ser feita aos pais das crianças. Por outro lado, várias dermatoses encontradas nos RN, apesar de geralmente passarem despercebidas, são consideradas como de importante significado clínico, mesmo não representando uma ameaça imediata à vida do RN. O reconhecimento precoce dessas lesões dermatológicas é de grande importância para que sejam estabelecidas orientações terapêuticas e prognósticas adequadas e se proceda, quando indicado o aconselhamento genético. A importância do cuidar, na visão do enfermeiro pediátrico, é mais bem estabelecida se considerada centro de um relacionamento terapêutico, sendo assistidas a criança, a família e esta dentro da comunidade. Os familiares devem fazer parte de todas as ações, estando informados sobre o tratamento, procedimentos e tomando parte nos cuidados prestados. Informe-se em promoção da saúde, v.4, n.1.p.03-05, 2008. 3 Hoje os profissionais de saúde estão dando importância ao cuidado com criança, pois a meta tem sido detectar precocemente os problemas de forma que eles possam ser tratados o mais cedo possível. Por outro lado, a visão que devemos ter da criança é como membro da família; o cuidado só é eficaz quando a enfermeira acredita que a família é a unidade de cuidado, que, portanto deve estar centrado na família. Devem-se verificar as necessidades da criança estimulando sua convivência no núcleo familiar e na comunidade. É preciso que haja investimento na parceria pais/profissionais, para que possamos capacitar a família a compartilhar conhecimentos, práticas e recursos e conscientizar a equipe multidisciplinar de que a família é uma constante na vida da criança, enquanto os serviços de saúde e seu pessoal são uma situação temporária. O estabelecimento de um relacionamento terapêutico é essencial para uma assistência de enfermagem de qualidade. As Enfermeiras precisam estar significativamente integradas às crianças e seus familiares, não deixando que seus sentimentos e preconceitos interfiram nessa relação. A assistência de enfermagem deve estar centrada na necessidade do paciente/família. A enfermeira assegura que as famílias estejam conscientes de todos os serviços de saúde disponíveis, tratamento e procedimentos, que tomem parte nos cuidados à criança e sejam estimulados a apoiar as práticas de atenção à saúde existentes. O cuidado centrado na criança vai ao encontro das determinações do código de ética dos profissionais da enfermagem. Compete à enfermeira fornecer informações ao cliente e família sobre a assistência de enfermagem, seus benefícios, riscos e consequências, bem como reconhecer e respeitar o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e seu bem-estar. O desenvolvimento do processo de cuidar de forma sistematizada dá sustentação à assistência de enfermagem. E, além disso, centrar o cuidado na pessoa viabilizou o atendimento integral à criança. Apesar de ser biologicamente determinada, a amamentação sofre influências socioculturais e por isso deixou de ser praticada universalmente a partir do século XX. O primeiro passo antes de iniciar o tratamento de uma criança é fazer o diagnóstico da comunidade. É preciso fazer um levantamento e descobrir quais doenças têm as crianças daquele local, as crenças e costumes ligados a essas doenças. Quando fazemos o diagnóstico da comunidade, precisamos saber a frequência com que cada doença ocorre; a gravidade das doenças; a importância de cada doença para a comunidade; e como pode ser controlada a doença na comunidade, ou seja, como prevenir. Podemos prevenir as doenças de várias maneiras. A vacinação e a educação em saúde são duas maneiras eficientes de prevenir doenças e são de responsabilidade da equipe de saúde. Na unidade de saúde a equipe de enfermagem toma para si a responsabilidade em orientar, em ensinar certo porque faz parte da sua intenção em cuidar. Na realidade, está prática envolve a preocupação em tornar as mães aptas a acompanharem o crescimento da criança ao mesmo tempo em que compartilham tudo o que conhecem e aprenderam sobre saúde. A criança brasileira e suas condições de vida e de sobrevivência vêm sendo, ao longo das últimas décadas, objeto de preocupação nos diversos sistemas político-assistenciais e de governo pelos quais o país tem passado. A falta de educação, o desemprego e a fome são fatores que levam a miséria, contudo, aumenta o número de famílias que sobrevivem em condições subumanas, sem saneamento básico, sem alimentação e higiene adequada. Agir nestas condições, se torna um grande desafio para a enfermagem. A resolutividade dos problemas de saúde da população, certamente está contribuindo para a construção de uma prática de enfermagem há muito almejada. Enfim, a criança é um ser único e frágil, portanto, necessita de cuidados especiais e, acima de tudo, de carinho e atenção para manter sua saúde física e mental. REFERÊNCIAS CONSULTADAS SMELTZER, Suzanne C.; BARE, Brenda G. BRUNNER & SUDDARTH. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 8. ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1998. FELISBERTO, Eronildo; CARVALHO, Eduardo Freese de; SAMICO, Isabella. Estratégia da Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância(AIDPI): Considerações sobre o processo de implantação. Revista do IMIP, v.14, n.01, 2000. Informe-se em promoção da saúde, v.4, n.1.p.03-05, 2008. 4 ____________________ Identificando afecções cutâneas na infância: reflexão sobre os cuidados. ____________________ Identificando afecções cutâneas na infância: reflexão sobre os cuidados. GARIJO, C. Guia prático de enfermagem. São Paulo: McGRAW-HILL, 1998. KING, Maurice. Atenção Primária para a criança. Manual do pessoal de saúde. 1988. MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8. ed. São Paulo: Samviem. 1991. PEREIRA, Luciana B.; GONTIJO, Bernardo. Dermatoses Neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do recém-nascido. Jornal de Pediatria, v.75, n. 5, set./out. 1999. RODRIGUES, Cleide Regina. O Cuidar da criança na percepção do Enfermeiro. O Mundo da Saúde – São Paulo, ano 24 – V. 24 – n.4 – Jul./ago. 2000. SIGAUD, Cecília Helena de Siqueira; VERÍSSIMO, Maria De La Ó Ramalho. Enfermagem Pediátrica. O cuidado de Enfermagem à criança e ao adolescente, Cap. 7, pg. 83-86 – 1996. SILVA, C. V.; BRÊTAS, J. R. S; RIBEIRO, C. A; QUIRINO, M.D; SILVA, M.G.B; SAPAROLLI, E. C. L. Assistência à saúde da criança na comunidade: Projeto de Integração Docente Assistêncial. Acta Paul. Enf., São Paulo, v. 9, n.1, p. 71-79, 1996. TAVARES, Marli Rodrigues. Cuidando de Crianças em creches públicas: Perspectivas de Inserção do Enfermeiro. Dissertação (Mestrado). Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1999. REFERÊNCIA DESTE TEXTO: SANTOS, Alessandra C.; ANDRADE, Marilda; SILVA, Jorge Luiz L. Informe-se em promoção da saúde, v.4, n.1.p.01-03, 2008. 1 Enfermeira. Especialista em Promoção da Saúde pelo Curso de Especialização em Enfermagem e Promoção da Saúde com ênfase em PSF/ UFF 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa UFF. Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem e Promoção da Saúde/ UFF. 3 Professor do curso de Especialização em Enfermagem e Promoção da Saúde/ UFF. Informe-se em promoção da saúde, v.4, n.1.p.03-05, 2008. 5