1 PUC SBI - Sistema de Bibliotecas e Informação Projeto Memória da PUC Campinas CAMPINAS 100000501 COSTA, Maria Teresa. Estagnação deixa 197 mil desempregados na RMC. Correio Popular, Campinas, -SP,-- 27 abro2003. Cidades, Caderno p. 09. ~O::~.." _ ~___ (ãodcixal~mil _ .~ - ,desempregad~naRMC ---r--"""" ~ MARIATERESACOSTA Do Correio Popular [email protected] A taxa de l'~..% · I Região Metropodesemprego na .J,. ilA~ litana de Campinas (RMC) chegou a 15,5%da População Economicamente Ativa (PEA), o que significa uma situação dramática para 197,3mil pessoas que estão sem ocupação - a população da RMC gira em torno de 2,5 milhões de pessoas. Quase a metade desses desempregados vive em Campinas, cidade que atingiu uma taxa de desemprego de 17,1% em janeiro, conforme cálculos da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic). De uma população de 1.270.163pessoas com idade entre 16 e 65 anos, portanto economicamente ativas, menos da metade, 534,2mil, trabalham com carteira assinada, ou seja, estão íntegradas ao setor formal da economia. Outras 538,5mil estão na informalidade, incluídas aí desde o ambulante, passando pelo profIssional autônomo, enfim, pessoas que não têm carteira profIssional. Somados desempregados e informais, eles superam os empre- gados Iiõ setor formal. "Os muni- tp O c;reSClmen cípios po~em adotar medidas econômicomuito . '. de geração de emprego e renda, que são importantes devem ser ado-e ". pequeno'não geraospostos , ,.,~trablJ'r"'lho J-t-' tad~s, mas necessários serao sempre .. mecanismos paliativos para fazer frente ao desemprego", afirma o especialistaemEco- . ~ra ll),COrpOrar as peSs.oasno mercado de trab(J,~ho- nomia e Trabalho Fernando Mattos, professor da Faculdade de Economia da Pontificia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). "Só a retomada do crescimento econômico irá criar as condições para retirar essas pessoas do desemprego", afIrma. A situação regional é dramática, diz o pesquisador, por- que o desemprego tem uma dimensão econômica e fmanceira forte, mas tem também um forte componente que impacta a auto-estima das pessoas. '~s pessoas fIcam desalentadas, e muitas dessas podem eventualmente tentar soluções de desespero", afIrma o especialista, na oitava entrevista da série Pensando a RMC, que o Correio publica quinzenalmente, sempre aos domingos. Leia a seguir a íntegra da entrevista: COSTA, Maria Teresa. Estagnação deixa 197 mil desempregados na RMC. Correio Popular, Campinas, SP, 27 abro2003. Cidades, Caderno p. 09. Correio Popular - As cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) conseguirão suportar uma taxa de desemprego de 15,5%? O Fernando Mattos desemprego RMC está nesse patamar já há algum tempo. É uma taxa muito alta e a gente tem que levar também em consideração - que boa pa~te dos que - tem ocupaçao estão no setor informal da econo- É um . ararloxo .. f,P . , -' .~ mas °as regZQese o as!CJd a d e$ mals < m~a. ~óstemos rica~ v. tres lmportan. tes situações. Uma é do emprego formal, com car- sãoas q ue mais softem;'Os o A zltlpactO$ e tetJ1, teira assinada, as 7hb X mawre" t aas de desemprego com rendadefinida; outra é o . emprego precário, a ocupação precária, informal, semrenda defmida, muitas vezesrenda baixa; etemos a situação de desemprego mesmo, de pessoas que não estãoexercendo uma atividade,estãoprocurando um posto de trabalho e não conseguem encontrar. Essequadro vem há alguns anos e não é diferente deoutras regiões do Brasil. Em Salvador,o desemprego é de mais de 25%; em ~ - mismo, o setor que é atingido de forma mais dramática, em primeiro lugar, é a indústria. A indústria é o motor da economia. É um paradoxo,masas regiõese ascidadesmais ricas são as que mais sofrem os impactos e têm as maiores taxas de desemprego. o crescimento no número de ambulantes nas ruas de Campinas, por exemplo, é bastante visível. Isso tem, realmente, relação direta com o desemprego? A teoria econômica busca entender esse problema do inchaço edo encolhimento do setor informal. Essesetor tem uma capacidadelimitada, restrita, deabsorver pessoasque precisam deuma ocupação.O que puxa a ma da economia é o setor formal. A renda do setor informal depende em grande parte da renda que é transferida do ~~~O:micom~: economia. Há situações em que a econo- mia cresce, o setor formal Osprefeitosda regiãovêm o rea Zl~ando o g rande es+'or Ul ç para gerar vai bem e o setor informal também cresce. Isso porque acabam se emprego e renda, massãoações criando várias oportunidades no setor infor- mal qu~ndoos assalariados do setor -- . que apenas amenl~am O p roblema formal começam a consumir mais serviços e produtos. o COSTA, Maria Teresa. Estagnação deixa 197 mil desempregados na RMC. Correio Popular, Campinas, SP, 27 abr. 2003. Cidades, Caderno p. 09. "'=' Mas os camelôs, paredeiros, carrioleiros, enfim, toda essa gama de informalidade é mesmo resultado do desemprego? Eles sãoresultado da deterioração do mercado detrabalho. Temosum salário no Brasil, mesmo no setor formal, muito baixo e muitas vezesas ocupações no setor informal representam meras estratégias de sobrevivência. É o que uma solução o pessoalchama de "fazer bico". razoável se a Essa estratégia de sobrevivência acaba sendo a única alternativa, porque a pessoa não encontraemprego no setor formal. Há ttiguns casos nOiirsetor inforrnaJIde renda não muito baixa, lM.:osque conseguemse organizar eexerceralgumaatividade q{ie permite obter um rendimento muitas vezesbastante superior ao dos salários do setor formal. Mas, de uma forma geral, o setor informal é resul realmente da falta de oPO, . idade de empregos deboaq .dade.Osetorinformal envô ve uma gama muito grande de ocupações e nem o problema só poderia caminhar para economia adquirisse uma trajetória de crescimento por longo período l ~ ... - -- Recife, está na faixa de 20%; em São Paulo, é de 19%. Isso tudo sempre acompanhadode um alto nível de informalidade para os que estão ocupados. Isso tudo é resultado de um longo período que nós temos vivenciado na economia brasileira de crescimento econômico muito fraco. Esse é o ponto principal. O crescimento econômico muito pequenonão gera ospostos de trabalho necessários para incorporar as pessoas que estão entrando todo ano no mercado de trabalho e também para incorporar os que estãono mercado detrabalho procurando emprego. A pressão do desemprego é exercida nos municÍpios, porque é ali que aqueles que estão sem trabalho moram. As cidades têm mecanismos para responder a essa pressão? A origem do problema é a falta decrescimento econômicoqueperdura há muitos anos no Brasil. A década de 90foi muito ruim para o Brasil. Se a gente pegar os dados do ffiGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), vai ver que a produção no Brasil foi um fiasco, pequeno demais, a economia andou delado. Os dados não deixam dúvidas: os anos 90 foram os piores anos do desempenho da economia, foi pior ainda do que havia sido na chamada década perdida dos anos 80. Esse é o pro- blema principal. Osmunicípios podem fazer algumas coisas, mas a gente não deve se iludir, achar que eles podem ~ - COSTA, Maria Teresa. Estagnação deixa 197 mil desempregados na RMC. Correio Popular, Campinas, SP, 27 abr. 2003. Cidades, Caderno p. 09. ~ ,..ajudaràrêsolver o problema. Claro que algumas iniciativas são importantes, devem ser feitas e eu não sou totalmente cético. O mais importante, de fato, seria a retomada do crescimento econômico. Isso sim é que criaria as condições para retirar essas pessoas do desemprego. Mantendo esse perfil de crescimento econômico, o que pode acontecer com o emprego? Aumentar a informalidade? Se a economia continuar mais alguns anos sem ter crescimento -,pode aumentar a informalidade e o desemprego. O setor informal não absorve todo mundo. Esse é o problema. As pessoas às vezes pensam que os setores informal e de serviços vão absorvendo as pessoas que vão sendoexpelidas da indústria, mas isso não ocorre. Claro, ocorre em uma certa escala, mas uma parte grande das pessoas não consegue obter uma estratégia de sobrevivência no setor informal. Uma parte das pessoas que perde empregona indústria fica no desemprego mesmo. Na RMC, a maior taxa de desemprego é de Campinas, com 17,1%. Isso significa que quase 45% dos desempregados da região estão no municípiosede. Por que a cidade tem tantas pessoas sem trabalho? Nas regiões ou cidades mais industrializadas, o desemprego geraiinente é maior. Se você comparar São Paulo e Rio de Janeiro, em São Paulo o desemprego é maior. Salvador e Recife, a taxa de desemprego é maior em Salvador. Se comparar Campinas comqualquer outra cidade da RMC, a taxa de Campinas é maior do que as outras cidades. Isso aconteceporque, quando a economia padece de falta de dina- COSTA, Maria Teresa. Estagnação deixa 197 mil desempregados na RMC. Correio Popular, Campinas, SP, 27 abr. 2003. Cidades, Caderno p. 09. Crescer 5% ao ano em quatro ou cinco anos seguidos - sempre de renda muitoõaixa. A maioria sim. No setor informal se pode incluir alguns profIssionais liberais, enfIm, que ganham mais. Por defmição, setor informal é o que não tem carteira assinada e não é assalariado formal. É administrável uma região com tanta gente no desemprego e na informalidade? Não é. Tanto que o que a gente mais vê na região é a violência, a desigualdade. É um problema grave. Os municípios podem criar frentes de trabalho, obras, tem sempre alguma coisa que eles podem fazer para estimular a geração de emprego e renda. Essas iniciativas como Banco do Povo, cooperativa de trabalhadores, são muito importantes, interessantes, sou favorável, só que são paliativos. O problema só poderia caminhar para uma solução razoável se a economia adquirisse uma trajetória de crescimento razoável e por um longo período.Por exemplo, se crescesse 5% ao ano durante quatro, cinco anos seguidos. _ ~ _ é utópico? O modelo econômico que está sendo adotado é o mesmo que vinha sendo adotado nos últimos anos. Eu, particularmente, sou muito cético quanto às possibilidades de retomada do crescimento nesse patamar que eu falei. O Brasil precisaria ter uma outra política econômica. Precisaria ter um modelo que criasse as condições para que os juros fossem reduzidos e para que nós pudéssemos enfrentar o principal problema da economia brasileira, que é a vulnerabilidade externa. O Brasil acumulou uma quantidade muito grande de um passivo externo nesses últimos anos que faz com que nós tenhamos que remunerar esse capital que está aqui com lucros, dividendos e juros que pressionam a nossa balança de serviços e geram muita difIculdade para enfrentar essa crise cambial que a gente passou nos últimos tempos. Agora, o dólar teve uma baixa, mas isso pode ser uma ilusão. Mesmo no período FHC, em alguns momentos, aconteceu de o real se valorizar com a entrada de dólares especula- ~ - COSTA, Maria Teresa. Estagnação deixa 197 mil desempregados na RMC. Correio Popular, Campinas, SP, 27 abro2003. Cidades, Caderno p. 09. ,. o qúe me-preocupa é - renda:eureconheço1Sso~mas que essas últimas semanas são ações que apenas amenipodem criar . ... zam o probleuma ilusão de ~ -A ol : ma. Campinas tivos. queessemode- 10 ecc.;mômico podera nos ~ev~.aumatra- Jetona de prosperidade, mas eu sou cético, estamos com A.::i.1:lessof-'s. ..e OS várias mediPef1Sfi'm ...,..,.. ./ das, mas o setor:~s znpnma1impactosobre? ,.J, . ". - desemprego so e ~ $ervzqosvao virá mesmo as com mudança ab&orve~,J ,., I fU" no desempenho ~ ..'" muitasdifi~ul- plJs$oas dades especIalmentepara bai- vem adotando . ." ~ qu'viio ..~..' econômicodo País. sendoex(Jelldp,s Mas dainrlú$tril4 senhor ' o acha -J que o combare~uzir t~x~ mas issQnãQ de Juros,anao e ... ..., te ao de sempossível retogeOrF9-' . prego está de mar o crescifato na pauta mento. dos prefeitos ou apenas funcionou como discurso de Até quando o senhor campanha? acha que isso vai durar? Está sim, porque o desemO desemprego ainda vai prego gera muita violência e ficar alto pelo menos até o muito desespero. As pessoas meio do ano que vem ou mes- que ficam desempregadas um mo durante todo o mandato tempo muito longo tendem a do Lula, se a economia não se se sentirem inúteis. O desemprego tem essa dimensão ecorecuperar. nômica e financeira que é dramática e tem a questão da Campinas vai passar auto-estima das pessoas. As com alguma tranqüilidade pessoas ficam desalentadas e por isso? muitas dessas podem evenCampinas tem grandes tual tentar soluções de desespossibilidades, é uma cidade pero, e isso é muito dramátirica, é uma cidade que tem co. Entre os jovens, o desemtodos os setores importantes prego é muito mais alto, e isso da economia,mas o que de fato é um problema grave. Medipode reduzir o desemprego é das voltadas para treinamenmuito mais a política econô- to da mão-de-obra de jovens, mica adotada em nível federal programas de primeiro do que ações no município. Os emprego são muito importanprefeitos da região vêm reali- tes. Sãojovens de 16a 25anos zando grande esforço para que estão praticando os atos gerar políticas de emprego e mais violentos. j~~o:' tax~e~ -