1 Análise e Simulação do comportamento de Turbinas a Gás em Regime Transiente Plínio Ferreira Pinto (Orientado) 1, Professor Dr. Gilberto Martins (Orientador) 2 1 Aluno de graduação, Universidade Federal do ABC, Santo André-SP, Brasil Diretor do C.E.C.S., Universidade Federal do ABC, Santo André-SP, Brasil 2 Neste trabalho é apresentado um modelo de análise de turbinas a gás operando em regime permanente fora das condições de projeto. O equacionamento obtido em pesquisa bibliográfica prévia, associado a valores experimentais de mapas de desempenho (de compressores e turbinas), possibilitou o desenvolvimento de simulações que permitem avaliar qualitativamente as variações de eficiência e fornecimento de calor que devem estar associadas a variações de carga quando se mantém a rotação da máquina constante (simulando um gerador elétrico acoplado ao eixo da turbina). Os valores obtidos nessa simulação estão relativamente próximos dos obtidos utilizando-se um software mais sofisticado, o GSP. Isso indica que o modelo matemático e as hipóteses utilizadas estão presentes em abordagens mais sofisticadas de análise, para a mesma simulação. Palavras Chave—Simulação, Análise Termodinâmica, Turbinas a Gás. I. INTRODUÇÃO A s turbinas a gás, ha muito utilizadas na aviação, cada vez mais vem sendo modificadas e adaptadas para uso na geração de energia elétrica. Isso porque operando em regime permanente, obtém-se, relativamente a outros motores térmicos com ciclo de ar, maiores eficiências, e emissões menos poluentes. Devido ao interesse bastante atual em se utilizar essa máquina de fluxo o estudo de seu comportamento termodinâmico tornase relevante. Assim, este trabalho é uma continuação do trabalho anterior, que introduziu a análise do ciclo Brayton de turbinas a gás, seu modelo termodinâmico e as hipóteses e simplificações geralmente adotadas, (e onde se pode verificar alguns efeitos causados pela variação da temperatura e da pressão (na entrada da turbina) afetando negativamente a eficiência e a potência líquida da turbina). Naquele trabalho, considerava-se que a relação de pressão do compressor era constante com relação à temperatura de estagnação na entrada da turbina e com relação à temperatura na câmara de combustão, e num caso real, isso não acontece, a mudança de temperatura implica em mudança nas características do ar o que afeta diretamente a relação de compressão do compressor, e assim a pressão e a eficiência da máquina. Desse modo verificou-se que existe um conjunto de fatores que devem ser considerados para se poder modelar, além de situações do funcionamento em regime permanente nas condições de projeto (próximo das condições operacionais reais, com eficiência máxima), também a operação em regime permanente fora das condições de projeto (em carga parcial, onde a eficiência cai consideravelmente) e a operação em regime transiente (não será tratada nesse trabalho, exceto por uma pequena introdução ao tema). Assim, neste trabalho (que pode ser considerado um aprofundamento do assunto de turbinas a gás), serão apresentadas as maneiras de se considerar outros efeitos que afetam o desempenho de turbinas utilizando-se mapas de desempenho das características do compressor e da turbina, segundo a literatura especializada e trabalhos relacionados. II. METODOLOGIA O modelo adotado neste estudo é a turbina a gás simples, com um único eixo. Ela consta de um compressor, uma câmara de combustão e de uma turbina. Em funcionamento, a turbina aciona o compressor que absorve o ar atmosférico e o comprime, para que na câmara de combustão ele possa ser aquecido, expandido e assim impulsione a turbina. A potência excedente é aproveitada para mover qualquer máquina que utilize trabalho de eixo, um gerador elétrico por exemplo. A literatura consultada (COHEN et al., 1996; BATHIE, 1996; AILER et al., 2001; REBOLÇAS, et al., 2007; CENNERILLI et al., 2007, e outros), trata do assunto empregando análise dimensional e mapas das características da turbina e do compressor, além de algumas equações termodinâmicas de conservação de massa e de energia e hipóteses simplificatórias relevantes (dentre elas o cp constante com a variação de temperatura). Fig. 1. Linhas de equilíbrio de funcionamento de um compressor desenhadas sobre o mapa de características do compressor. Fonte: COHEN et al., 1996. Obtiveram-se mapas das características de uma turbina e de um compressor genéricos, de uma versão livre do software 2 G.S.P. (Gas Turbine Simulation Program). A figura 1 mostra o formato de um mapa característico de um compressor, onde pode-se observar a relação de pressão no eixo das abscissas e a vazão mássica adimensional no eixo das ordenadas e a velocidade adimensional como parâmetro (família de curvas em linha grossa), além da eficiência isentrópica associada.. Com as equações e os mapas foi possível simular o comportamento da máquina em função da variação da potência de carga no eixo da turbina, (mantendo-se a velocidade constante, simulando um acoplamento com um gerador elétrico), no E.E.S. (Enginnering Equation Solver) e em seguida comparar os resultados obtidos com os obtidos do G.S.P. III. PROCEDIMENTOS A. Análise com o G.S.P. O software G.S.P.®, em uma versão livre, foi obtido para ser utilizado como parâmetro, em função dos equacionamentos e resultados mais sofisticados que emprega em análises de turbinas a gás. Com esse software foi possível construir um modelo de turbina a gás derivado de um modelo pré-existente de uma turbina a jato. O modelo foi construído de modo a gerar potência líquida em seu eixo. Simulando o modelo criado nesse software, mantendo-se a velocidade constante, e reduzindo-se a temperatura na câmara de combustão, partindo do ponto ótimo de operação até um ponto onde não poderia haver trabalho líquido (pois o efeito de reduzir a potência exige um controle no fornecimento de calor do ciclo) obtiveram-se os dados necessários para realizar simulações com os equacionamentos encontrados na literatura e para comparar os resultados de ambos. Fig. 2. Potência do compressor (DHW_c), da turbina (DHW_t) e líquida (pot_líq) em função do calor fornecido na câmara de combustão (calor_fornecido). Gerado pelo GSP. O mesmo pode ser observado no gráfico da figura 3, gerados pelo E.E.S., com o equacionamento obtido. A semelhança dos gráficos das figuras 2 e 3, e dos valores correspondentes, mostra a proximidade existente entre os dois diferentes modelos, funcionando em regime permanente, quando valores experimentais de mapas de desempenho da turbina e do compressor são utilizados. Mesmo sendo ainda uma simulação em regime permanente, existe uma diferença significativamente grande com o modelo simplificado apresentado anteriormente (PINTO, 2008). Naquele trabalho, considerou-se que a máquina operava sempre no ponto de máxima eficiência e relação de pressão constante. Com a associação aos mapas de desempenho, pode se observar que mesmo em regime permanente, a eficiência isentrópica dos componentes não é máxima e a relação de pressão varia gerando uma relação não linear entre a eficiência do ciclo (eta_ciclo) e quantidade de calor inserida no ciclo (calor_fornecido), na figura 4. B. Análise com o E.E.S. O software E.E.S.®, em uma versão acadêmica, foi obtido para ser utilizado com as equações fornecidas pela literatura. O conjunto de equações, escrito no software, juntamente com a inserção dos dados relativos aos mapas de desempenho da turbina e do compressor, permitiu realizar a mesma simulação de funcionamento da turbina com velocidade constante, e variação de carga. Fig. 3. Potência do compressor (Wc), da turbina (Wt) e líquida (Wlíq) em função do calor fornecido na câmara de combustão (Wcomb). Gerado pelo EES. IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO A figura 2 mostra o gráfico gerado pelo G.S.P., nele pode-se observar que na medida em que se reduz o combustível, e correspondentemente a transferência de calor para o ciclo termodinâmico, a potência diminui, isso mostra a relação entre essas variáveis e pode-se inferir que uma mudança na potencia líquida (queda de demanda de energia elétrica por exemplo), deve estar acompanhada de um controle capaz de reduzir o fornecimento de combustível para o ciclo da turbina, se não ela sairá da linha de funcionamento em regime permanente. Fig. 4. Eficiência isentrópica do compressor (ef c), da turbina (ef t) e do ciclo (ef ciclo) em função do calor fornecido na câmara de combustão (Wcomb). Gerado pelo EES. 3 V. CONCLUSÃO O modelo assumido, usando o cp constante e assumindo hipóteses simplificatórias, produziu resultados semelhantes aos mais elaborados, gerados pela ferramenta mais sofisticada GSP. De fato, pode-se inferir que o equacionamento utilizado pelo software deve ser semelhante ao proposto, quando se trata de simulação em regime permanente. Verificou-se que variar a carga sob velocidade constante exige algum controle que reduza (ou aumente) o fornecimento de calor ao ciclo de modo que ele permaneça em regime permanente. O modelo apresentado neste trabalho é bem mais sofisticado que o apresentado anteriormente (PINTO, 2008), que era muito mais didático que prático. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - AILER, P.; SZEDERKÉNYI, G.; HANGOS, K.M. Modeling and Nonlinear Analysis of a Low-Power Gas Turbine, Budapest, 2001. - BATHIE, W. W.; Fundamentals of Gás Turbines, 2nd Ed., John Wiley and Sons, Inc. U.S.A., 1996. - COHEN, H.; ROGERS, G.F.C.; SARAVANAMUTTOO, H.I.H. Gas Turbine Theory, 4th Ed., Longman Group Limited, U.K., 1996. - CENNERILLI, S. & SCIUBBA, E. Application of the CAMEL Process Simulator to the Dynamic Simulation of Gas Turbines, University of Roma, Italy, 2007. - PINTO, Plínio Ferreira. Análise Termodinâmica do Comportamento de Turbinas a Gás, Iniciação Científica UFABC, Santo André-SP, 2008. - REBOUÇAS, R.R., HEMERLY, E.M., ALVES, M.A.C., Vargas, J.A.R., Dynamical Modeling, Control and Simulation of Single Shaft Gas Turbine. 19th International Congress of Mechanical Engineering, Brasilia DF-Brazil, 2007. - http://www.fchart.com, Sitio oficial do programa EES. Último acesso, agosto 2009. - http://www.gspteam.com/main/main.shtml, Sitio oficial do programa GSP. Último acesso, agosto 2009.