1a edição Memorabilia Universidade Federal do Rio de Janeiro CoordCOM 2008 50 anos do curso de Astronomia do Observatório do Valongo da UFRJ – Série Memorabilia, foi produzido pelo Serviço de Mídias Impressas, Virtuais e de Produção Editorial da Coordenadoria de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, durante o segundo semestre de 2007. Gabinete do Reitor da UFRJ Coordenadoria de Comunicação (CoordCOM) Serviço de Mídias Impressas, Virtuais e de Produção Editorial (SIVP) Avenida Pedro Calmon, 550/2º andar – Prédio da Reitoria – Cidade Universitária Ilha do Fundão – Rio de Janeiro – RJ – CEP 21941-901. Reitor: Aloísio Teixeira Vice-reitora: Sylvia da Silveira de Mello Vargas Chefe do Gabinete do Reitor: João Eduardo Fonseca Coordenador da CoordCOM: Fortunato Mauro Observatório do Valongo (OV) Diretora: Silvia Lorenz Martins Vice-diretor: José Adolfo S. de Campos Chefe do Departamento de Astronomia: François Christophe Cuisinier Coordenação Acadêmica de Graduação: Carlos Roberto Rabaca Coordenação Acadêmica de Pós-graduação: Hélio Jaques Rocha Pinto Coordenação de Extensão: Rundsthen Vasques de Nader Ladeira do Pedro Antônio, 43 - Rio de Janeiro - RJ – Brasil - CEP 20080-090 Equipe de Produção da CoordCOM Supervisão Editorial: João Eduardo Fonseca Coordenação Editorial: Fortunato Mauro e Antônio Carlos Moreira Supervisão de Produção: Antônio Carlos Moreira Projeto Editorial: Fortunato Mauro e Nathália Barbosa Edição de Textos: Fortunato Mauro e Nathália Barbosa Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Viviane Codeço e Anna Carolina Bayer Tratamento de Imagens do Acervo do Observatório do Valongo: Viviane Codeço Fotografia: Marco Fernandes Ilustração: Jefferson Nepomuceno Revisão: Mônica Aggio Capa: Viviane Codeço, montagem. Fotografias da Nebulosa Pilares (Telescópio Hubble) e da vista geral do Observatório do Valongo (Acervo do OV) U58 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadoria de Comunicação. Serviço de Mídias Impressas, Virtuais e de Produção Editorial. Observatório do Valongo: 50 anos do curso de Astronomia Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadoria de Comunicação. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008. 118p. : il.; 18cm. (Série Memorabilia, 7) ISBN 978-85-61648-00-8 1. Observatório do Valongo. 2. Astronomia. 3. História. I. Título. CDD: 520.981 Sumário No mundo da lua 5 Prefácio 7 Astronomia: uma profissão antiga.. e de futuro! 11 Curso de Astronomia 41 Homenagem ao professor Machado 63 A Extensão em Astronomia 69 Observações sobre o infinito 85 Pós-graduação em Astronomia 103 No mundo da lua Quando a onda dos desejos inquietantes Que do peito transborda Morre, enfim, nas amplidões distantes, Recorda-te, recorda... Cruz e Sousa Neste ano de tantas remissões ao passado, em que se celebram os 200 anos da instalação tardia do Ensino Superior no Brasil, a Universidade Federal do Rio de Janeiro revisita-se; desde sua matriz, a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica, implantada em novembro de 1808, nas dependências do Real Hospital Militar, no Morro do Castelo, até as novas unidades e institutos criados nos últimos anos, na esteira recente de sua expansão. Esse passado, visto assim, a contrapelo, criticamente, é o requisito para imaginarmos nosso futuro: o território possível de nossos “desejos inquietantes” de transformação institucional, acadêmica, social, humana, universal. Essa utopia recomeçada arremessa-nos até as amplidões distantes, da imaginação e do conhecimento. Eleva-nos – figurativa, mas também literalmente – ao “mundo da lua”. A universidade, lócus em que o científico, o artístico, o cultural, se combinam e se articulam pelo fazer acadêmico, dedica-se, por natureza e vocação, ao alargamento e à organização do conhecimento. Ofício que requer atração pelo desconhecido, pelo diferente da realidade, pelo remoto, pelo incerto e livre caminho do mundo da lua. A observação do céu e o estudo da Astronomia no Rio de Janeiro e no Brasil tiveram impulso, a partir de 1881, com a criação do Ob- Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 5 servatório da Escola Politécnica, situado no morro de Santo Antônio, no Centro da cidade. Em 1901, começam a ser comprados instrumentos que ampliaram sua capacidade de trabalho. Em 1922, antes da derrubada do Morro de Santo Antônio, todos os equipamentos que ezistiam no observatório foram levados para a Chácara do Valongo, no Morro da Conceição. Nesse local, em 1924, foi instalado o Observatório do Morro do Valongo. Incorporado à UFRJ após a Reforma Universitária de 1968, com a criação do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), o então Observatório do Valongo (OV) passou a ser o espaço de aplicação do Departamento de Astronomia do Instituto de Geociências incorporado, definitivamente, ao OV, em 2002, quando passou a ser, de fato, uma unidade acadêmica. O Observatório do Valongo, desde então, vem fornecendo infra-estrutura para o desenvolvimento de suas atividades de Ensino, de Pesquisa e de Extensão. O Observatório é uma unidade universitária peculiar, já que, entre as instituições da área, no Brasil, é a única que oferece o curso de graduação em Astronomia enquanto as demais somente oferecem disciplinas eletivas para outros cursos de graduação e de pós-graduação. Com seu pioneirismo e sua excelência – agora cinqüentenários – no ensino e na pesquisa de Astronomia, o Observatório do Valongo da UFRJ, ao mesmo tempo em que, com destaque, é instituinte da complexa diversidade de expertises que caracteriza a universidade, soma-se à celebração do bicentenário do caminho percorrido e alinha-se na quadratura crescente que imagina e cria o futuro adiante. Aloísio Teixeira Reitor 6 No mundo da Lua - Observatório do Valongo - 50 anos Prefácio Há 50 anos, mais precisamente em 5 de fevereiro de 1958, era criado o curso de graduação em astronomia na Faculdade Nacional de Filosofia da antiga Universidade do Brasil. A idéia partiu de dois astrônomos, Alércio Moreira Gomes e Mário Ferreira Dias, oriundos do Observatório Nacional. Essa data nos faz refletir não somente sobre a trajetória do curso e do Observatório do Valongo - UFRJ, mas também sobre nossas diretrizes para o futuro. Em seu início, a criação do curso de Astronomia foi combatida por alguns membros da pequena comunidade astronômica brasileira de então, apesar da existência quase secular de cursos similares em universidades na Argentina, nos Estados Unidos e na Europa. O curso de graduação, ainda o único no Brasil a oferecer o diploma de Astronomia, resistiu e consolidou-se, graças ao esforço dos vários professores, funcionários e dos próprios alunos que por aqui passaram e hoje, após ter formado um percentual significativo da atual comunidade astronômica, têm o reconhecimento baseado na qualidade da formação. Entretanto, estamos implementando um novo modelo curricular, mais flexível e atrativo, permitindo aos alunos uma formação diferenciada, multidisciplinar mas mantendo uma base sólida em Astronomia, Física e Matemática. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 7 Já há algum tempo, ex-alunos do curso atuam em diferentes instituições tais como universidades públicas e privadas, institutos de pesquisa, planetários, museus e empresas de telecomunicação. Paralelamente, além de formar astrônomos, ao longo destes anos, desenvolvemos atividades de extensão, as quais atingem números cada vez maiores de atendimentos, contribuindo para disseminar o conhecimento de Astronomia em escolas e público em geral. Com um objetivo semelhante, foram criadas novas disciplinas eletivas de ensino e fundamentos de Astronomia para alunos de outras unidades dentro da UFRJ. ��������������������������������������������� Complementarmente, nos preocupamos com a formação qualificada dos alunos em nosso recente curso de mestrado, iniciado em 2003. Assim, pretendemos recuperar parte da história da criação do curso que, no entanto, é indissociável da história e desenvolvimento do Observatório do Valongo, que o abriga desde seu início. Essa história é contada em textos elaborados por professores do Departamento de Astronomia e imagens de nosso acervo. Talvez pareça incompleta aos olhos de alguns e, provavelmente será. Contudo, podemos constatar através dele o inegável crescimento pelo qual passou nossa instituição, impulsionado pela criação e manutenção do curso de graduação em Astronomia. Ao comemorarmos, no ano de 2008, os 50 anos de existência do curso de graduação em astronomia e a realização de várias atividades igualmente importantes no Observatório do Valongo, reafirmamos nosso compromisso face aos novos desafios colocados em nossa área, e na Universidade em geral, nos tempos atuais. Agradecemos o trabalho realizado pelo Serviço de Mídias Impressas, Virtuais e de Produção Editorial - CoordCOM, do Gabinete do Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro na produção do projeto editorial desse livro comemorativo, mais especificamente à Fortunato Mauro, Nathália Oliveira, Viviane Codeço, Anna Carolina Bayer e Marco Fernandes. 8 Prefácio - Observatório do Valongo - 50 anos Nossos agradecimentos à Cláudio Bevilácqua do Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela cessão de algumas das fotos utilizadas nessa publicação. Esse projeto foi fianciado pelo Banco do Brasil, no âmbito do convênio com a UFRJ a quem também agradecemos. Marco Fernandes Silvia Lorenz Martins Diretora do Observatório do Valongo - UFRJ Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 9 10 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos Astronomia: uma profissão antiga... e de futuro! Francois Ch. Cuisinier Carlos Roberto Rabaça Da Antiguidade à Bossa Nova A Astronomia é a mais antiga das ciências. Todas as civilizações têm entre os seus mitos de criação pelo menos algum elemento astronômico ou de referência ao céu, tais como os amores de Gaia e Urano para os gregos, ou de Nût e Geb para os egípcios. Civilizações agrícolas com certeza foram responsáveis pelo desenvolvimento inicial da astronomia, pois precisaram desenvolver calendários para marcar o tempo das colheitas. É aí que devemos buscar, por exemplo, o significado da preocupação dos antigos astrônomos egípcios com o nascer helíaco de Sirius, a estrela mais brilhante no céu noturno. Na época pré-dinástica, em 3.000 a.C., Sirius entrava em conjunção com o Sol em junho e ficava invisível durante uma dezena de dias, até ser novamente observada antes da alvorada, nos dias entre 20 e 25 de julho, o que coincidia com a época da cheia no rio Nilo, em Tebas. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 11 Epiciclos 12 A Astronomia antiga tinha uma preocupação muito maior com os movimentos da Terra do que com a natureza das estrelas. Estas eram usadas simplesmente para referência, enquanto os planetas tinham um certo destaque. Sua posição em relação ao Sol e à Terra faz com que se movimentem no céu em uma certa direção com respeito as estrelas, e depois no sentido contrário, ou seja, os movimentos dos planetas (errantes, em grego) eram imprevisíveis. Não foi difícil, portanto, atribuir a eles uma natureza divina, quase mágica, que deveria se relacionar de algum modo à vida dos simples mortais, aqui embaixo, na Terra. Assim nasceu a Astrologia na forma que conhecemos atualmente. Ela surgiu entre os babilônios, mas seu conhecimento nos foi transmitido pelos gregos. Somente por volta do século II d.C. o célebre astrônomo e geógrafo grego Cláudio Ptolomeu propôs um sistema matemático geocêntrico (Terra como centro) para descrever as órbitas dos planetas. Essa concepção cosmogônica teve suas primeiras origens com o astrônomo Hiparco de Nicéia, no século II a.C., aperfeiçoada por outros pensadores, notadamente Ptolomeu. Segundo ele, os planetas estariam fixados em círculos que girariam ao redor de centros virtuais, eles mesmos descrevendo voltas ao redor de um círculo principal da órbita. Assim, os planetas andariam em órbitas dentro de órbitas, os chamados epiciclos. Na luz de nosso conhecimento atual, sabemos que o modelo ptolomáico está errado. Temos de considerar, entretanto, sua engenhosidade, pois estava muito longe do óbvio na época que a Terra e os planetas do nosso sistema solar giravam ao redor do Sol. Tudo o que Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos se podia observar a partir do referencial imóvel debaixo de nossos pés eram estrelas, planetas e o Sol se movimentando ao redor. O sistema ptolomáico tem um imenso mérito: propôs pela primeira vez uma explicação mecânica para os movimentos dos planetas, sem a explicação divina. Os deuses teriam criado as esferas do sistema solar e os epiciclos, e os teriam simplesmente deixado funcionar desde então. De fato, considerando a precisão das observações da época, os epiciclos permitiam aos astrônomos descrever muito bem as trajetórias aparentes dos planetas. As coisas pouco mudaram até o final da Idade Média, quando observações astronômicas feitas pelos árabes (e transmitidas através das Tabelas de Toledo e, mais tarde, das Tabelas Alfonsinas) demonstraram claramente que o modelo ptolomáico inicial era insuficiente. Isto levou astrônomos da época a sofisticar o modelo, acrescentado mais epiciclos dentro dos epiciclos. Apenas durante o Renascimento Nicolau Copérnico e Galileu Galilei propuseram o modelo heliocêntrico (Sol como centro). Este modelo acabou se impondo, apesar da visão religiosa contrária e da capacidade do modelo geocêntrico de explicar as observações antigas com qualidade pelo menos igual. No fim do século XVI, Tycho Brahé levou as observações a maior precisão superior. Isso permitiu que Johannes Kepler, usando os dados de Tycho Brahé, demonstrasse que as órbitas dos planetas eram elípticas e não circulares, além de descreverem propriedades matemáticas específicas. Entretanto, foi Isaac Newton quem deu a explicação final para os movimentos planetários. Suas leis da mecânica causaram uma revolução muito maior do que a revolução copernicana. A partir da atração universal, não era mais preciso colocar os planetas em algum tipo de suporte físico, com um movimento inicial de origem divina, o primum mobile. Os planetas se movimentariam simplesmente devido à atração que o Sol exerce sobre eles. Até o século XIX, a astronomia se dedicou principalmente ao estudo do sistema solar. Acreditava-se que quase tudo em astrono- Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 13 mia era conhecido e que a sua finalidade única era refinar as previsões dos movimentos planetários a partir da teoria da gravitação de Newton. As estrelas pouco interessavam. Estavam tão longe que pareciam inalcançáveis. O filósofo Auguste Comte chegou mesmo a dizer que, entre as coisas que nos eram impossíveis conhecer, e até absurdas pesquisar, estava a composição química das estrelas. Para o seu azar, os físicos Gustav Kirchhoff1 e Robert Bunsen2 descobriram, uns anos depois, o princípio físico que permite determinar a composição química do Sol e das estrelas com a mesma certeza com que podemos constatar a composição química de reagentes em laboratórios: átomos presentes nas atmosferas estelares seriam responsáveis por gerar linhas de absorção em comprimentos de onda que lhes são específicos. TOKOMAK TORE-SUPRA copyright: cea 14 1 2 1824-1887, Físico alemão 1811-1899, Químico alemão Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos Entretanto, somente a partir do final do século XIX, a tecnologia nos permitiu além de observar os espectros das estrelas, registrá-los em fotografia. Isso abriu as portas para uma nova área da astronomia, a astrofísica, isto é, o estudo das propriedades físicas dos astros. Os desafios de então eram enormes: as características das estrelas acabavam de sair de domínios completamente desconhecido. Perguntas inúteis, para as quais nunca iríamos obter respostas foram abandonadas, dando espaço a questionamentos mais profundos. O que levaria uma estrela a emitir luz? Por que estrelas apresentam linhas de absorção tão diferentes de uma para a outra? Tudo, então, parecia uma coleção incompreensível. Aos poucos, os astrônomos desmontaram o quebra-cabeça. Estrelas possuiam linhas de absorção diferentes porque tinham temperaturas diferentes, não porque suas composições químicas eram diferentes. A seqüência de linhas era de fato uma seqüência de excitação e não uma seqüência química. Para isso, foi necessário constatar – até admitirmos – que as estrelas, e em particular o Sol, eram constituídas principalmente de hidrogênio e hélio, em uma proporção respectiva de aproximadamente 70% e 30%, enquanto outros elementos (aqueles que encontramos todos os dias na Terra) representavam apenas cerca de 2% de tudo que existia no seu interior. O próprio hélio é tão raro na Terra que foi observado primeiramente no Sol, a partir do estudo de linhas de absorção, antes de ser detectado aqui. Descobrimos que, para a maior parte das estrelas, as temperaturas dependem fortemente de suas luminosidades: estrelas com temperaturas superficiais baixas tendem a ter luminosidades baixas, enquanto estrelas com temperaturas superficiais altas tendem a ser mais luminosas. Como as estrelas têm estruturas semelhantes e se concentram em uma seqüência bem definida, devem perdurar pelo Universo por muito, por um longo tempo. A fonte de energia das estrelas representou outro mistério. Na Antiguidade, estrelas eram pontos fixos sobre a esfera celeste, a úl- Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 15 tima que nos separava da luz do mundo dos deuses. No século XIX, surgiu a primeira explicação física: estrelas tirariam energia de seu colapso gravitacional; seriam esferas que estariam se contraindo sob o efeito de seu próprio peso e que se aqueceriam por causa disso. Seriam tão quentes que emitiriam a luz que vemos. Essa explicação, proposta por William Kelvin3 e Hermann von Helmholtz4, estava longe de ser absurda, mas entrava em conflito com avaliações de idade da Terra feitas sobre argumentos geológicos. Segundo essa teoria, o Sol seria muito mais novo do que a Terra. Com o surgimento da Física Quântica, no início do século XX, foi possível entender as reações nucleares e resolver o problema. Muitas reações foram primeiramente identificadas no Sol e em estrelas a partir de argumentos puramente teóricos. Os desafios ainda assim eram enormes. Segundo a Mecânica Clássica, as reações nucleares de fusão do hidrogênio, que ocorrem no caroço do Sol, não deveriam ocorrer. Mesmo com temperaturas muito altas para os nossos conceitos cotidianos (aproximadamente um milhão de graus), elas não seriam altas o suficiente para iniciar as reações termonucleares. Foi necessário recorrermos a argumentos quânticos de ubiqüidade intrínseca das partículas para resolver esse problema. Na década de 1930, ainda não era possível realizar experimentos na área de física atômica; o único laboratório que existia eram as estrelas. Portanto, de uma maneira um pouco trágica, podemos dizer que a Astrofísica deu uma contribuição muito importante ao projeto Manhattan e à confecção das primeiras bombas atômicas (de fissão nuclear) e termonucleares (de fusão do hidrogênio). Vale ressaltar, se hoje sabemos fabricar bombas termonucleares, estamos ainda muito longe de sermos capazes de manter essas reações de 3 1824-1907, físico e engenheiro irlandês, fez contribuições importantes nas areas de termodinamica e electromagnetismo. 4 1894, médico e fisico alemão. 16 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos uma maneira estável no tempo. No Sol, isto ocorre há cinco bilhões de anos e deve continuar por mais cinco. O domínio da fusão estável do hidrogênio nos permitiria ter uma fonte de energia barata e quase inesgotável (na Terra, o hidrogênio está presente em abundância na água). Isso possibilitaria a independência de combustíveis fósseis e evitaria o aquecimento global. Por enquanto, tudo ainda não Galáxia Andrômeda Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 17 passa de um sonho, mas os primeiros experimentos de fusão estável já estão sendo realizados em tokamaks5 (toróides na qual uma câmara de vácuo contém um anel de plasma confinado por campos magnéticos retorcidos). Contudo, mesmo com a tecnologia atual, os maiores tempos de fusão estável em tokamaks não passam de poucos segundos. O segredo da fusão duradoura do hidrogênio nas estrelas reside no fato que aquelas reações terem baixa probabilidade de ocorrência, consumindo, portanto, pouco hidrogênio. As probabilidades de ocorrência de reações termonucleares, traduzidas em termos físicos por secções de choque, são determinadas em aceleradores de partículas a partir de choques violentos de alta eficiência. Estrelas, na verdade, continuam a ser até hoje o único laboratório para reações termonucleares de baixa eficiência. O século XX trouxe consigo o despertar da astronomia extragaláctica e da cosmologia. Até a década de 1920, o universo era sinônimo da nossa galáxia, a via láctea. Para além do sistema solar existiam estrelas, nebulosas difusas e nebulosas espirais. Entre as últimas, encontrava-se a grande nebulosa de Andrômeda. O advento dos grandes telescópios tornou possível definir a real natureza das nebulosas espirais. Observações realizadas pelo astrônomo norte-americano Edwin Hubble6 no telescópio refletor de 2,5 m de Monte Wilson permitiram-lhe estabelecer a distância da nebulosa de Andrômeda e comprovar que ela não pertencia a Galáxia. Mesmo pequena pelos conceitos atuais, a distância medida de dois milhões de anos-luz era bem maior do que o tamanho da Galáxia. Andrômeda era, portanto, uma outra galáxia, tão grande quanto a nossa e com um número equivalente de estrelas – um verdadeiro universo-ilha. 5 Acrônimo derivado do russo Toroidalnaya Kamera v Magnitnykh Katuchkakh, (câmara toroidal com confinamento magnetico), dispositivo inventado pelos físicos russos Igor Tamm (1895-1971) e Andrei Sakharov (1921-1989) no início dos anos 1950 para poder controlar um plasma onde ocorre fusão nuclear. 6 1889-1953, astrônomo americano. 18 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos Esta descoberta abriu as portas para o estudo das galáxias como uma classe distinta de objetos e também como marcadores do Universo, por serem os objetos mais distantes até então conhecidos. Ao mesmo tempo em que a astronomia observacional passava por uma revolução graças ao desenvolvimento tecnológico, o conhecimento teórico da humanidade atingia um novo limiar com a Teoria da Relatividade geral7 proposta por Albert Einstein. Quando aplicada ao universo, a teoria permitia que ele não fosse estático, mas sim estivesse em expansão ou em contração. Foi unicamente a crença de Einstein em um universo dinamicamente estável que o levou a acrescentar uma constante de normalização em suas equações de campo. Pouco tempo depois de levar as fronteiras do universo para muito além da Galáxia, Hubble demonstrou algo ainda mais impressionante: a partir da observação de uma amostra de galáxias, ficou claro que o Universo parecia estar em expansão. Quanto mais distantes estavam as galáxias, mais rapidamente elas se afastavam de nós. No fundo, essa não foi uma conclusão fácil. Localmente, as galáxias não seguem a expansão do Universo, possuem movimentos peculiares por estarem submetidas à atração das galáxias vizinhas. Para notar a expansão do universo, foi necessário observar galáxias em distâncias suficientemente grandes. A descoberta da expansão do universo levou Einstein a declarar que a constante cosmológica havia sido seu maior erro. Se o universo está em expansão, então deve ter havido um momento no qual ele esteve extraordinariamente concentrado, quase um ponto. Hoje em dia, os astrônomos concordam que a idade do universo deva estar entre 10 e 20 bilhões de anos. O universo no seu 7 Teoria proposta por Albert Einstein (fisico alemão, 1879-1955) em 1915/1916. Segundo esta teoria, é impossivel diferenciar acceleração e força de gravitação, a matéria deforma o espaço-tempo, onde qualquer objeto projetado com certo impulso anda com uma trajetória que corresponde ao menor caminho no espaço-tempo curvado. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 19 estágio inicial era bem diferente do que é atualmente. As temperaturas existentes eram inimagináveis. A matéria se transformava espontaneamente em energia e vice-versa. Não existiam átomos, muito menos estrelas ou galáxias. Com o tempo, o universo se expandiu e esfriou o suficiente para que a matéria e a energia cessassem de se transformar uma na outra. Assim, as partículas elementares puderam se estabilizar. Com o contínuo resfriamento, formaramse inicialmente os átomos simples de hidrogênio e depois, com as reações nucleares subseqüentes, todos os outros átomos. Isso, pelo menos, era o que se acreditava até a década de 1950. O problema é que para formar átomos mais complexos existe uma cadeia de reações obrigatórias, que afunilam as possíveis reações nucleares subseqüentes. No processo de fusão do hélio para formar carbono, por exemplo, é preciso colidir dois núcleos de hélio para formar um núcleo de 84Be, que de sua vez vai colidir com um outro núcleo de hélio para finalmente formar o núcleo de carbono. Só que o 84Be é altamente instável, possuindo um tempo de vida de apenas 10-16 segundos (um sobre dez quatrilhões). Quando o Universo chega finalmente a ponto de formar o hélio, já está muito frio e diluído para que um núcleo de hélio tenha tempo de se colidir com um núcleo de 84Be 8. Contudo, átomos mais complexos existem e estamos cercados por eles. Onde, então, haveriam de ter se formado os átomos complexos, se não durante a nucleossíntese primordial9? A única possibilidade é que eles tenham se formado dentro de estrelas, único ambiente suficientemente quente e denso. Entretanto, as taxas das reações, tal qual avaliadas na década de 1950, eram muito baixas. Uma vez que existem átomos mais complexos que os de hidrogênio e de hélio, devem existir mecanismos que elevem 8 Isótopo do berilio, contendo 4 prótons e 4 neutrons; é altamente instavel; o isótopo mais estável do berilio é o 94Be, com 4 prótons e 5 neutrons. 9 formação de átomos, a partir dos prótons e neutrons que se formaram a partir de partículas elementares em épocas primordiais do universo. 20 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos essas taxas. Esses mecanismos existem e, em termos técnicos, são chamados de ressonâncias. Foi exatamente este argumento que levou Fred Hoyle10, na década de 1950, a propor uma ressonância que permitiria a fusão do hélio dentro de estrelas (o que foi confirmado depois pela teoria). Se átomos complexos se formam dentro das estrelas, eles devem ser expelidos para o meio interestelar ao final da vida da estrela, podendo ser reaproveitados pela próxima geração estelar. Como explicar o fato de que todas as estrelas teriam uma composição química semelhante? Na década de 1950 surgiram ainda evidências de que, mesmo a maior parte das estrelas da vizinhança solar tendo composição química semelhante, algumas – aproximadamente uma em cada 100 – eram deficientes de átomos complexos. Essas estrelas eram peculiares: pareciam apenas atravessar a vizinhança solar, como de raspão. Isto foi confirmado na década de 1960, a partir de determinações físicas precisas da composição química. A razão pela qual as estrelas têm uma composição química semelhante provém da própria estrutura da galáxia, de sua história de formação. A estrutura de nossa galáxia é uma outra área em que a Astronomia progrediu muito, no século XX. Sua maior componente aparece a olho nu: a via Láctea – marca do disco galáctico, sobre o qual o Sol se encontra; ela podia ser facilmente vista entrecortando o céu noturno, especialmente no hemisfério Sul (ainda hoje podemos vê-la, se nos permitirmos observar o céu de lugares com pouca iluminação noturna). A grande dificuldade foi entender que não estávamos no centro da galáxia, mas em uma região relativamente periférica, cerca de 30 mil anos-luz do seu centro, enquanto seu diâmetro é de aproximadamente 100 mil anos-luz. Esse entendimento não é tão evidente, uma vez que a distribuição de estrelas a nossa volta parece ser relativamente simétrica. A absorção da luz pela poeira presente no meio interestelar nos impede de enxergar muito longe, 10 1915-2001, Astrônomo inglês. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 21 Estrela V838 Monocerotis (V838 Mon) 28 de outubro de 2002 Fonte: Hubble em particular na direção do plano do disco, onde está fortemente concentrada. Hoje, tudo isso nos é óbvio, mas no início do século passado os astrônomos não sabiam sequer da existência de poeira entre as estrelas. As estrelas de composição química peculiar, que parecem apenas atravessar a vizinhança solar, de fato provém de uma outra componente muito maior e aparentemente invisível, o halo. De forma esferoidal, essa componente é com certeza um remanescente do passado de nossa galáxia. Evolução científica: transformações e mutações A evolução da astronomia, como a de qualquer outra ciência, foi complexa e constituída de várias etapas. A passagem de um paradigma para o próximo se deu por um processo complicado e muitas vezes traumático. Seria muito fácil acreditar que todo o nosso conhecimento atual supera conhecimentos anteriores, nos livrando de visões errôneas e até mesmo de superstições, para finalmente chegarmos ao “verdadeiro” conhecimento. Os epiciclos foram apenas um malabarismo matemático, Auguste Comte não passava de um indivíduo que formulava hipóteses sem ter um conhecimento aprofundado, a teoria da gravitação de Newton foi inteiramente superada pela relatividade geral de Einstein, e assim por diante. Precisamos lembrar, contudo, da natureza peculiar da astronomia: estudamos objetos, que, na maior parte dos casos, são inacessíveis. Pior do que isto, eles são em geral únicos. A alternativa para esse tipo de estudo consiste em encontrar objetos e fenômenos semelhantes e classificá-los. Como na zoologia ou na botânica, o primeiro passo em astronomia é efetuar uma classificação, uma ta-xonomia. A Astronomia, mesmo usando ferramentas da Matemática e da Física, é muito mais uma ciência natural do que uma ciência exata. Não nos é possível efetuar experimentos controlados; não existe um protocolo experimental para podermos fixar parâmetros, evidenciar apenas o Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 23 que nos interessa. Em vez disto, temos que construir modelos, onde projetamos uma visão de nosso espírito sobre os objetos estudados. Esta visão depende fortemente da época e do contexto científicocultural. Uma estrela pode ser caracterizada como uma divindade ou como uma idealização geométrica. Uma idealização geométrica parece-nos melhor no contexto atual, porque permite-nos fazer uma caracterização física, mas temos que nos lembrar de que ainda assim não passa de uma idealização. Em geral, estrelas são descritas como esferas, mas na verdade devem se parecer muito mais com elipsóides, sendo achatadas pela rotação. Com certeza apresentam erupções, coroas que se perdem em filamentos, da mesma maneira que no Sol. Construímos nossos modelos com o que temos de melhor à mão; se não temos nenhuma ferramenta matemática, recorremos ao mundo do divino, do mágico; se temos acesso a abstrações geométricas ou a uma ferramenta matemática, usamo-nas. Entretanto isto não é suficiente. Se voltarmos ao exemplo dos epiciclos, veremos que aquela teoria matemática explicava tão bem, ou melhor, os movimentos aparentes dos planetas e do Sol no céu do que o modelo heliocêntrico. A descoberta de Kepler de que as órbitas eram elípticas tornou possível reproduzir com maior precisão as observações, mas, mesmo assim, teria sido possível refinar o modelo geocêntrico, adicionando-lhe ainda mais epiciclos. De um modo até certo ponto frustrante, podemos dizer que foi a simplicidade natural do modelo de Kepler que permitiu sua imposição. Ou seja, no fundo, um argumento puramente estético. É bom lembrar que conceitos estéticos são culturais, variam em função das civilizações e da época. Se para nós um modelo de órbitas elípticas parece mais sedutor por causa de sua simplicidade, este não era necessariamente o caso na época do Renascimento. No fundo, os círculos imbricados dos epiciclos tinham o seu charme e ofereciam um excelente suporte para um conceito puramente mecânico, de discos e esferas girando um em cima do outro. Foi somente a teoria de 24 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos Newton da atração universal dos corpos que permitiu resolver o problema, providenciando a força motriz, a origem das órbitas elípticas de Kepler. Que lição devemos tirar disso? Precisamos de modelos, somos incapazes de entender o mundo sem eles, mas também nenhum deles, por mais sofisticado que seja, é a realidade; modelos não passam de uma representação da realidade. Assim sendo, somos unicamente capazes de representar o mundo da melhor forma que podemos, a partir das ferramentas que dispomos. Saber quando uma representação é melhor do que a outra não é uma tarefa fácil; o exemplo dos epiciclos demonstra que a qualidade de reprodução dos dados não é necessariamente o melhor critério. No fundo, o modelo heliocêntrico nos conduziu ao modelo de órbitas elípticas de Kepler, finalmente entendidas dentro da teoria da gravitação de Newton. Ou seja, nos fez questionar e elaborar novos conceitos. Tudo isso parece simples a posteriori, mas com certeza não o é no momento em que é proposto. Precisamos estar sempre abertos a representações diferentes, julgá-las de maneira crítica e racional, mas não nos embasar unicamente no argumento de que contradizem representações existentes. A bem da verdade, mudanças de paradigmas quase nunca ocorreram de maneira suave e harmoniosa, mas dolorosa e conflitante. Quando, em 1925, Cecilia Payne-Gaposchkin11 demonstrou em sua tese de doutorado que as estrelas tinham composições químicas semelhantes, apesar de suas grandes diferenças espectrais, e que eram compostas principalmente de hidrogênio e hélio, foi induzida por Henry Norris Russell12, um dos maiores astrônomos da época, a escrever que isto deveria com certeza ser um artefato de seus cálculos, sem relação com a realidade. Trinta anos depois, quando Nancy 11 1900-1979, astrônoma anglo-americana. 12 1877-1957, astrônomo americano. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 25 Roman13 indicou que estrelas de alta velocidade podiam ser (muito) deficientes em átomos complexos, passou pelas piores dificuldades em sua carreira, porque contradizia o novo paradigma. O fato de Cecilia Payne-Gaposchkin e Nancy Roman serem mulheres com certeza contribuiu muito para as dificuldades de ambas em suas épocas. Hoje em dia, com certeza o preconceito contra as mulheres é muito menor, mas não significa que outros preconceitos não existam. Vivemos na era da comunicação. O número de publicações científicas aumenta de modo exponencial, o que dificulta ao cientista se orientar em meio à profusão de informações. Cientistas tendem a se guiar em função de palestras apresentadas em congressos, o que sem dúvida nenhuma facilita a vida daqueles felizardos em divulgar suas idéias, graças a sua capacidade de expressão. Cientistas que, por outro lado, não têm esse tipo de habilidade, por razões pessoais ou por que sua cultura lhes inibe, são prejudicados, apesar de terem idéias por vezes muito interessantes. O progresso tecnológico com certeza é um fator preponderante nas descobertas astronômicas. Todo mundo tem na cabeça o telescópio inventado por Galileu. Um outro exemplo é a placa fotográfica: sem ela teria sido impossível registrar espectros, essencial para definir a seqüência das linhas de absorção em estrelas e dar início à Astrofísica. É preciso dizer que os estudos espectrais iniciais ocorreram longe dos grandes projetos científicos; na época, a astronomia estava muito focada no sistema solar, que precisava da determinação de posições dos astros. O grande projeto daquela época era o mapeamento fotográfico de todo o céu, a Carte du Ciel14. O ambicioso empreendimento representou, contudo, um fracasso retumbante, nunca gerou grandes resultados científicos. Consumiu 13 1925, astrônoma americana 14 Projeto internacional iniciado em 1887, no impulso do Observatório de Paris, visando a levantar as coordenadas de vários milhões de estrelas a partir de placas fotográficas. 26 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos recursos importantes, tanto financeiros quanto humanos, que teriam sido melhor empregados de outro modo. Na França, país onde se iniciou, atrasou a astrofísica por pelo menos 30 anos. Era, contudo, o projeto mais óbvio a ser realizado. O estudo dos espectros estelares, na época, era apenas uma atividade marginal da Astronomia. Pouco se sabia de suas possibilidades. Onde será que as pessoas erraram, além de serem ambiciosas demais? No fundo, é sempre difícil saber o que vai dar certo. Temos certeza hoje que é um erro investir todos os recursos em um único projeto, mesmo sendo aparentemente o mais recomendado. A astronomia hoje No que a Astronomia moderna mudou? Primeiro, nosso conhecimento do meio interestelar melhorou consideravelmente. No início do século passado, só apreciávamos o que dizia respeito à absorção da luz de estrelas devido à presença de poeira; era mais um obstáculo ao estudo de estrelas que um objeto digno de estudo. Nos espectros estrelares, o meio interestelar aparecia também sob a forma de linhas de absorção atômicas e moleculares, demonstrando que continha átomos e moléculas, além da poeira. Depois da Segunda Guerra Mundial, a radioastronomia revolucionou a área. Uma quantidade impressionante de receptores, antenas e conhecimento foram disponibilizados ao fim da guerra e aproveitados pela Astronomia. Pudemos, então, determinar que a galáxia era transparente em comprimentos de ondas centimétricos. A emissão hiperfina do átomo de hidrogênio em 21cm nos permitiu desvendar a estrutura inteira do disco de nossa galáxia. Hoje em dia, conhecemos mais de 120 moléculas presentes no meio interestelar, principalmente graças às transições que ocorrem em comprimentos de onda milimétricos e submilimétricos. A partir dos anos 1970, satélites astronômicos nos permitiram observar no infravermelho distante, onde a poeira reemite a luz que Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 27 absorve. Na outra ponta do espectro eletromagnético, satélites de observação em raios X nos permitiram colocar em evidência gases em uma fase completamente diferente no meio interestelar, extremamente quente e diluído, com temperaturas da ordem do milhão de graus. O meio interestelar deixou de ser alguma coisa misteriosa que apenas obscurece a luz das estrelas para se tornar a sede de fenômenos altamente ricos e variados. As moléculas nele presentes podem ser altamente complexas, em cadeias orgânicas. Embora ainda contestado, a glicina, o mais simples dos aminoácidos, pode estar presente no meio interestelar. Ciclos aromáticos também estão presentes, podendo se juntar em macromoléculas. A fronteira entre macromoléculas e microgrãos de poeira ainda não está bem delineada; com certeza existe uma transição contínua entre suas propriedades. Moléculas são criadas e destruídas no próprio meio interestelar. Os grãos exercem aí um papel essencial, funcionam como catalisadores de muitas reações. Algumas moléculas se comportam de forma surpreendente, sob condições muito diferentes das encontradas na Terra. O hidrogênio molecular, por exemplo, se forma sobre os grãos, enquanto na Terra, catalisadores sólidos são usados para quebrar as moléculas de hidrogênio (procedimento comumente utilizado na petroquímica). Nosso entendimento da Astrofísica de estrelas também melhorou consideravelmente. Se, já a partir da década de 1940, a estrutura das estrelas durante a queima quieta do hidrogênio na seqüência principal era bem entendida, foi somente bem mais tarde que pudemos compreender a evolução subseqüente. A grande dificuldade estava em entender como se desenvolviam as camadas convectivas uma vez esgotado o hidrogênio no caroço das estrelas. Formulações teóricas da convecção existem desde os anos 20, mas só foi possível implementá-las a partir dos anos 70, devido às dificuldades numéricas envolvidas. Antes disso, simplesmente não existiam computadores capazes de realizar os cálculos. Se o uso de microcom- 28 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos Detalhe de um cronômetro. Acervo do Observatório do Valongo. Foto: Marco Fernandes putadores potentes é uma coisa corriqueira hoje em dia, vale a pena lembrar que as cápsulas Apollo levaram a bordo computadores menos desenvolvidos que as calculadoras de bolso atuais. A cosmologia, estudo do universo como um objeto astrofísico, conheceu uma tremenda evolução no último século. Primeiro, o cálculo de sua velocidade de expansão foi bastante aprimorado, dado o aumento na precisão da determinação da distância das galáxias. Esforços muito grandes também foram dedicados à procura de velas padrão, objetos de luminosidade bem definida que nos permitem calcular distâncias a partir de propriedades observacionais. As supernovas, explosões de estrelas na fase final de suas vidas, nos providenciaram tais ferramentas a partir da década de 1990. Supernovas podem ser, durante alguns dias, tão luminosas quanto as próprias galáxias onde residem, apesar destas conterem bilhões de outras estrelas. Elas alteraram em muito o nosso conhecimento do universo – mas não no sentido esperado. Durante décadas, astrônomos procuraram a marca da desaceleração na expansão do universo. Sendo essa expansão um efeito puramente geométrico, a massa contida no universo deveria freá-la, dada a atração que exercita sobre si mesmo. Ao invés disto, as supernovas mostraram que a expansão se acelera. Deve existir, portanto, algo no universo que se opõe a força de gravitação, acelerando a expansão. A história que as supernovas nos contam com certeza ainda não está totalmente escrita, uma vez que poucas explodem no Universo próximo. Apesar de acreditarmos que suas luminosidades pouco variam pelo universo afora, seu valor exato ainda é desconhecido. Outra grande novidade da Cosmologia é a radiação cósmica de fundo. Em seus estágios primordiais, o universo era opaco, isto é, os fótons não podiam ir muito longe antes de serem absorvidos ou espalhados. Cerca de 400 mil anos depois do Big Bang, a grande explosão onde tudo começou, o universo mudou de fase, tornou-se transparente. Quando olhamos para objetos a distâncias cada vez 30 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos maiores, olhamos também para épocas cada vez mais remotas do Universo, uma vez que os fótons emitidos por estes objetos viajam à velocidade da luz, finita no valor de 300 mil quilômetros por segundo. Se olharmos suficientemente distante, devemos ser capazes de enxergar essa transição de fase sob a forma da radiação. Serianos impossível observar além, dado que o universo antes era opaco. Isso foi predito pelo físico russo George Gamov15 e, efetivamente, observado pela primeira vez, por Arno Penzias16 e Richard Wilson17, que ganharam o prêmio Nobel, em 1965, pela descoberta. A radiação cósmica de fundo só pôde ser mapeada em detalhes a partir da década de 1990, com observações realizadas por satélites. Ela apresenta variações locais muito pequenas, da ordem de uma parte a cada 100 mil, que correspondem às primeiras concentrações de densidade existentes no universo. Essas concentrações viriam a formar as aglomerações de galáxias hoje observadas. A radiação cósmica de fundo constitui atualmente uma das maiores áreas de estudo em cosmologia. A partir da “invenção” das galáxias por Hubble, elas foram usadas para tracejar a expansão do universo. No fundo, elas não são adequadas para esse papel, pois estão muito longe de serem velas padrão: têm luminosidades e massas variadas. Com o passar dos anos, se tornaram também uma área específica de estudos astrofísicos. Se nos é impossível observar estrelas individualmente na maioria das galáxias, existem técnicas matemáticas que nos permitem 15 1904-1968, físico russo-americano; fez contruibuições de primeira importância para cosmologia, com a predição da radiação cosmológica de fundo, e da nucleossíntese primordial. Antes disto, havia identificado o mecanismo que permite que reações nucleares ocorram em estrelas (efeito túnel). Também foi ele que, no início do século, identificou a sequência principal no diagrama de Hertzsprung Russell como sequência de estruturas físicas parecidas de estrelas. 16 1933, físico americano. 17 1936, físico americano. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 31 decompor sua luz nas contribuições de vários tipos de estrelas, de várias populações estelares. As galáxias se dividem em tipos morfológicos bem definidos: elípticas, espirais, irregulares etc. Hubble, em sua época, já propôs uma classificação, ainda em uso. Galáxias espirais apresentam rotação e possuem bastante meio interestelar. Galáxias elípticas, por outro lado, quase não apresentam meio interestelar e (quase) não têm rotação organizada; suas estrelas andam em órbitas caóticas. O estudo de populações estelares mostra ainda que galáxias espirais contém estrelas jovens; já as galáxias elípticas não. A rotação das galáxias espirais colocou em evidência um excesso de massa, atribuído à presença de uma matéria escura, que não pode ser atômica (bariônica, em termos técnicos) e não emite luz. Esta matéria também está presente nos aglomerados de galáxias. Hoje sabemos, através de simulações cosmológicas, que ela é necessária para que sejam formadas estruturas no universo semelhantes às observadas. Nosso universo conteria mais ou menos 70% de energia escura (que daria origem à aceleração da expansão), 27% de matéria escura e somente cerca de 3% de matéria bariônica – aquela da qual somos feitos e com que cruzamos todos os dias. As simulações cosmológicas atualmente possuem resolução suficiente para nos permitir reproduzir e estudar a formação das galáxias. Nesse Universo de brinquedo, podemos ver como elas nascem e evoluem. Ao mesmo tempo, nos é possível analisar galáxias a partir de seu conteúdo estelar e das propriedades de reciclagem de seu gás, o que nos informa sobre o aumento, de geração em geração, no número de estrelas e da quantidade de átomos pesados. As duas abordagens deveriam fornecer as mesmas respostas, pois, afinal de contas, o universo é um só. Infelizmente, as respostas fornecidas pelos dois métodos parecem ser um pouco conflitantes. Simulações cosmológicas, em geral, predizem interações demais; claro, há evidências destas interações, mas com certeza elas 32 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos não existem na quantidade predita. As simulações predizem ainda que galáxias elípticas se formam preponderamente pela colisão de agregados menores e não por um único colapso gravitacional. Esse processo de formação seria lento e deveria sustentar a formação estelar por bastante tempo – vários bilhões de anos. Por outro lado, argumentos de composição química nos levam a concluir que essas galáxias devem ter formado todas as suas estrelas em um período relativamente curto em termos astronômicos – alguma coisa inferior a um bilhão de anos. Simulações cosmológicas predizem ainda que galáxias elípticas gigantes se formam a partir da coaelescência de galáxias menores, o que está em aparente contradição com determinações observacionais da idade de galáxias: elípticas pequenas têm uma forte tendência a serem mais jovens do que elípticas grandes. Esse aparente paradoxo é explicado dentro do atual cenário de evolução das galáxias e do próprio universo. Em galáxias pequenas, a atividade de formação estelar frearia as forças gravitacionais que a originaram através da explosão de supernovas; o que não ocorreria em galáxias maiores, dado que as forças gravitacionais lá seriam mais intensas. Isso demonstra que a Física necessária para entendermos de forma global a evolução de galáxias no universo é complexa: precisamos considerar forças de gravitação e forças com se opõem a ela, pelo menos durante a atividade de formação estelar. Finalmente, está cada vez mais claro que várias galáxias hospedam buracos negros em seus centros. A questão que surge e, por enquanto permanece sem resposta, é saber até que ponto esses buracos negros atuam na formação e na evolução das galáxias hospedeiras e até mesmo das outras galáxias! Uma última área surgiu no fim do século passado e experimentou desde então um tremendo desenvolvimento: a dos exoplanetas. Até o início da década de 1990, o único sistema planetário conhecido era o sistema solar. Hoje, existem mais de 200 planetas gasosos Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 33 Telescópio Gemini Copyright: gemini 34 conhecidos em órbita de estrelas próximas. A grande maioria deles foi descoberta como conseqüência dos reflexos de seu movimento sobre a própria estrela. Uma vez que as estrelas possuem muito mais massa do que os planetas, esse movimento é pequeno, mas pode ser detectado se o planeta tiver massa suficiente e o movimento bastante rápido. Muitos destes planetas são bem mais massudos do que Júpiter e se localizam em órbitas muito próximas da estrela, por vezes a distâncias parecidas com a de Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol. A própria existência desses planetas desafia o entendimento teórico; certamente tiveram suas órbitas alteradas por mecanismos inimagináveis décadas atrás. Um tópico bastante discutido hoje em dia diz respeito às condições consideradas ideais para a formação de planetas ao redor das estrelas. Parece que estrelas que apresentam baixa abundância de átomos complexos têm dificuldades para formar planetas. Como novos planetas são descobertos quase todos os dias, esse conceito pode mudar. Pla-netas rochosos ainda não foram descobertos (são leves demais), mas daqui a uma década, com certeza esta situação mudará, tendo em vista esta área Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos das que mais se desenvolvem na Astronomia moderna. A possibilidade da existência de planetas rochosos nos leva naturalmente a perguntar se alguns deles poderiam hospedar alguma forma de vida-extraterrestre. Essa pergunta é legítima, apesar de existirem, por enquanto, poucos elementos para uma resposta definitiva. Não tenha dúvidas, entretanto, que a resposta está sendo procurada de forma intensiva. O progresso tecnológico contribuiu bastante para a astronomia. Em primeiro lugar, por propiciar a construção de telescópios cada vez maiores. Diâmetros maiores significam mais capacidade de coletar luz, o que nos permite observar objetos menos brilhantes ou mais distantes. No século passado, os diâmetros dos telescópios evoluíram rapidamente do estado da arte, na década de 1920, como o telescópio de 2,5 m de Monte Wilson, onde Hubble realizou suas principais descobertas, para 5 m na década de 1940, diâmetro típico utilizado nos primeiros trabalhos sobre a constituição interna de galáxias. cinco metros parece representar o limite tecnológico para o diâmetro de um espelho monolítico, devido a problemas de distorção gravitacional, polimento da superfície e suporte. Foi só com tremendos esforços que os russos construíram o Bolchoi TeleskoAzimutalni18, de seis metros de diâmetro, nos anos 1970. Esse limite foi ultrapassado na década de 1990, com telescópios de múltiplos espelhos finos, que contrariamente aos espelhos monolíticos, têm sua forma constantemente monitorada, para que as deformações gravitacionais possam ser compensadas. Esta nova tecnologia permitiu a construção de telescópios de 8 a 10 metros de diâmetro, como o Keck (no Havaí), o Very Large Telescope (no Chile), os Gemini (no Chile e no Ha18 Grande telescópio azimutal: de 6m de diâmetro, localizado no Vale de Zelentchuk, no Caucasio, próximo ao povoado de Nijny Arkhyz. Seu espelho monolitico pesa 42 toneladas! Foi construido em 1975, e foi o maior telescópio do mundo até 1993, ano em que o telescópio Keck 1 (10m de diâmetro) entrou em serviço. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 35 vaí), o Subaru (no Havaí) e o Gran Telescopio (nas ilhas Canárias). Na verdade 10 metros não representam um limite tecnológico, mas uma meta que astrônomos de vários países se propuseram a atingir com a tecnologia de espelhos finos, e alcançaram. Hoje não existe impedimento tecnológico para a construção de telescópios maiores, digamos, de 100 metros de diâmetro. Se ainda resta alguma dúvida de que tais telescópios existirão em um futuro próximo, saiba que já existem projetos muito sérios para a construção de telescópios de 30 a 40 metros de diâmetro. Ao mesmo tempo, as observações radioastronômicas, que se iniciaram na década de 1950 em comprimentos de onda centimétricos, espalharam-se por comprimentos milimétricos e sub-milimétricos a partir da década de 1970, trazendo-nos informações sobre processos físicos até então desconhecidos. Também a partir da década de 1970, satélites operando em raios gama, raios X, ultravioleta e infravermelho ampliaram em muito o horizonte de nossa compreensão. Paralelamente a tudo isso, desenvolvemos detectores consideravelmente melhores. No caso do visível, por exemplo, as placas fotográficas, utilizadas durante boa parte do século passado, só conseguiam registrar no máximo 10% da luz que incidia sobre elas. Enquanto isso, os CCDs, modernos detectores digitais, alcançam uma eficiência de quase 100%. Nossa capacidade de fazer ciência é tão boa quanto nossa capacidade perceber e registrar fenômenos. A placa fotográfica, origem de muitos dos avanços no século XX, nos permitiu registrar espectros estelares em uma época em que os astrônomos mal sabiam como eram produzidos e o que significavam. Um espectro trazia informações sem precedentes; eram como hieróglifos egípcios antes da descoberta da pedra da Roseta. Este tipo de situação, no fundo, é relativamente comum em Astronomia. Fenômenos novos são evidenciados e a explicação para eles surge somente depois. Isso nos obriga a armazenar todos os dados, sendo que só em um futuro in- 36 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos definido poderemos distinguir o que é ou não relevante. Nesta área também evoluímos tremendamente. Antigamente, os dados eram publicados apenas em papel, em sua forma final. Para termos acesso aos dados originais, era necessário contatar o astrônomo que os tinha observado, o que supunha, em geral, um deslocamento físico até o instituto do pesquisador. Hoje em dia, um volume imenso de dados está livremente acessível na Internet, o que facilita muito sua (re)análise e (re)interpretação pela comunidade cientifica, à luz de novas ferramentas teóricas ou simplesmente de idéias diferentes. O acesso a dados pressupõe que eles estejam organizados de uma maneira racional, padronizada. Todo mundo sabe que é mais fácil reencontrar um livro em uma biblioteca organizada do que na bagunça de um sótão abandonado. Observações de satélites foram as primeiras a serem organizadas de forma padronizada e a serem disponibilizadas na Internet. O acesso aos dados de observações feitas no solo, geralmente resultantes da pesquisa individual de astrônomos, ainda deixa a desejar, mas esta situação com certeza mudará em um futuro muito próximo. A Astronomia brasileira no contexto mundial Como a Astronomia brasileira se situa em todo o panorama descrito? Foram muitos os avanços obtidos. No início da década de 1970, só havia 1 ou 2 doutores na área; hoje em dia, somos mais de 200. A construção do telescópio de 1,6 m no Pico dos Dias, em Minas Gerais, com toda a certeza representou um salto significativo para a pesquisa aqui realizada. Os astrônomos brasileiros, contudo, não contaram apenas com este telescópio. Colaborações internacionais permitiram acesso a dados de ponta, embora de maneira restrita. Hoje, o Brasil participa de grandes colaborações internacionais, tais como o observatório SOAR (Southern Observatory for Astronomical Research), um telescópio de 4 m localizado no Chile (neste, 30% do tempo de observação é brasileiro), e os Gemini, dois telescópios de 8m localizados Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 37 no Chile e no Havaí (nosso país detém 2,5% do tempo de observação). O Brasil tem contribuições significativas e reconhecidas internacionalmente nas áreas de estrutura galáctica, estruturas em grandes escalas no universo e de buracos negros. Por hospedar o único curso de graduação em Astronomia do país, o Observatório do Valongo, da UFRJ, tem um papel muito importante no desenvolvimento da astronomia brasileira: o de fornecer um grande número de astrônomos graduados para os cursos de pós-graduação existentes no país. Em 2003, o Observatório abriu também seu próprio curso de pós-graduação, através da implantação inicial de um mestrado. As atividades de pesquisa realizadas englobam estrutura galáctica, procura por exoplanetas, astrobiologia, estágios avançados da evolução estelar, meio interestelar, astrofísica extragaláctica e cosmologia. Apesar de ser incontestável que o estado da arte da astronomia requer o preparo muito superior ao que uma simples graduação pode oferecer, podemos dizer que os jovens profissionais formados estão preparados para os desafios que lhes estão reservados. Francois Ch. Cuisinier é doutor pela Universidade de Strasbourg Carlos Roberto Rabaça é doutor pela Universidade do Alabama 38 Astronomia: uma profissão antiga e de futuro. - Observatório do Valongo - 50 anos Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 39 Acervo OV Acervo do Observatório do Valongo/UFRJ O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos O Curso de Astronomia Silvia Lorenz Martins Lilia I. Arany-Prado José Adolfo S. de Campos A Astronomia sempre teve um grande apelo popular. Quase toda semana os meios de divulgação noticiam algum fato ligado a eventos celestes. Este fascínio pela astronomia provém principalmente do fato de ser uma ciência relacionada a questionamentos fundamentais do ser humano (Como é o universo em que vivemos? Como o universo nasceu? Do que o universo é constituído? Estamos sós no universo? etc...). Atualmente a Astronomia é veiculada nas imagens espetaculares que obtemos através de instrumentos, tais como o telescópio espacial Hubble (Hubble Space Telescope (http://hubblesite.org/ newscenter), há mais de 15 anos nos envia centenas de milhares de imagens que nos ajudaram a entender e ver o universo de uma forma diferente. Hoje as pessoas discutem e opinam sobre fatos que antes eram de conhecimento apenas dos pesquisadores, tais como a mudança de status de planeta de Plutão. Mesmo sendo a ciência tão antiga, praticamente a cada dia vemos uma descoberta inesperada e intrigante e nisso reside o fascínio da astronomia. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 41 No Brasil, a Astronomia desembarcou em 1500, das caravelas de Pedro Álvares Cabral, com a ciência e a técnica do famoso mestre João que, pela primeira vez, efetuou determinações de latitude em nosso país. Praticamente nada se fez no setor astronômico em nossas terras até a chegada de D. João VI que, criando a Academia Real Militar, instituiu o primeiro curso regular de Astronomia. Durante a invasão holandesa e graças à visão e erudição do príncipe de Nassau, J. Marcgrave efetuou levantamentos astronômicos no nordeste. Até o Segundo Império, somente se trabalhava no que se convencionou chamar de Astronomia de posição. No Rio de Janeiro, o estudo sistemático da Astronomia data de 1827, com a criação por decreto, do Imperial Observatório As- Observatório da Escola Politécnica Morro de Santo Antônio Acervo Valongo 42 O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos tronômico hoje Observatório Nacional - MCT, no Morro do Castelo. Em 1870 sua direção foi confiada à Emmanuel Liais, astrônomo francês, em comissão no Brasil. Nesta época muitos trabalhos importantes ligados à Astronomia Planetária e de Cometas foram realizados, bem como foram efetuados os primeiros ensaios da aplicação da técnica fotográfica aos registros telescópicos. Posteriormente, em 5 de julho de 1881, a Escola Politécnica criou também seu observatório, situado no Morro de Santo Antônio, do qual o Observatório do Valongo (OV) se originou. Assim iniciou-se a compra dos instrumentos que dariam efetiva implantação do Observatório da Escola Politécnica com a chegada do Telescópio Refrator Cooke & Sons, na época o maior instrumento instalado no Brasil. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 43 Com o início da derrubada do Morro do Santo Antônio em 1921, todos os equipamentos existentes no Observatório foram levados para a sua atual localização, na Chácara do Valongo no Morro da Conceição, entre 1924 e 1926, local onde antes da abolição da escravatura, eram deixados escravos para serem vendidos. O OV ficou praticamente abandonado a partir de 1930. Em 1957, dois astrônomos do Observatório Nacional (Alércio Moreira Gomes1 e Mário Ferreira Dias) se transferiram para o Observatório do Valongo, dando início ao processo de criação do Curso de graduação em Astronomia na Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) da antiga Universidade do Brasil. Numa defasagem de 131 anos, desde a criação do Imperial Observatório Astronômico, em 5 de fevereiro de 1958, o Conselho Universitário da FNFi aprovou, por unanimidade, a criação do curso de Astronomia e das disciplinas de Astronomia e Geofísica. Assim, o novo curso de Astronomia passa a funcionar lado a lado com os cursos de Física, Matemática e Química, na Faculdade de Filosofia. A criação e desenvolvimento desse curso tiveram grande apoio do Magninífico Reitor da Universidade do Brasil, Dr. Pedro Calmon e do diretor da FNFi, Dr. Eremildo Luíz Vianna. Inicialmente, nos anos de 1958-1959, o presidente da Comissão de Astronomia da FNFi, foi o Dr. Eremildo Vianna; já de 1960-1967 este cargo passa a ser exercido pelo prof. Luíz Eduardo da Silva Machado. Na época, a existência do curso foi combatida, considerada como desnecessária e mesmo inconveniente, por alguns membros da pequena comunidade astronômica de então, apesar da existência quase secular de cursos congêneres em universidades na Argentina, nos Estados Unidos e na Europa. O curso de Astronomia não foi fechado graças ao apoio decidido recebido do Dr. Eremildo Vianna, e 1 O prof. Alécio Moreira Gomes foi o primeiro astrônomo a ganhar uma bolsa CAPES (Research Fellow) para trabalhar no Instituto de Tecnologia da Califórnia, 1958-1959. O professor fez parte do corpo de pesquisadores dos Observatórios Mount Palomar e Mount Wilson, os maiores observatórios na época. 44 O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 45 Observações de manchas solares na cúpula da Cook, professor Eduardo da Silva Machado e Edgar Vieira Acervo do Observatório Astronômico da UFRGS – foto de Raul Kuplich 46 de um grupo de alunos e professores da Escola Técnica do Exército e do Serviço Geográfico do Exército, além dos professores de Física, Matemática e Estatística da Universidade. Ainda em 1971 havia uma certa resistência a idéia do curso de Astronomia. Este fato levou o professor Machado, diretor do Valongo naquela época, a elaborar um questionário internacional sobre o ensino da Astronomia na graduação, enviando também, em anexo, o currículo do curso de Astronomia vigente. Tal questonário foi enviado a diversas instituições de ensino e pesquisa reconhecidas em todo o mundo, a University of London, o European Suthern Observatory (ESO), a Hale Observatories, a Universitäts-Sternwarte Wien, a Yale University, e a Kitt Peak National Observatory, entre outras. O resultado da enquete gerou uma publicação pelo Observatório do Valongo, de autoria do prof. Machado – O ensino da astronomia em nível de graduação e sua adequação ao regime universitário brasileiro. A reversão desta tendência se deu ao longo dos anos, devido a qualidade dos alunos formados pelo curso, qualidade amplamente reconhecida pela comunidade astronômica brasileira. Certamente parte dos méritos deveu-se aos professores do curso que sempre procuraram melhorar a qualidade do ensino ministrado apesar das muitas dificuldades encontradas. Nestes 50 anos de existência, o curso passou progressivamente a ser importante fornecedor de astrônomos para institutos de pesquisa, planetários, universidades públicas e privadas, e mesmo para a Embratel. O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Com a reforma universitária, Decreto Lei nº 53 de 1966, o curso de astronomia integra-se ao recém-criado Instituto de Geociências (IGeo) e o antigo Observatório Astronômico da Escola Politécnica, em janeiro de 1967, constituiu um Órgão Suplementar do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), passando a se chamar, inicialmente, de Observatório do Morro do Valongo. O Valongo passa então a servir efetivamente de núcleo para o desenvolvimento do ensino e da pesquisa em Astronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. No entanto, o Departamento de Astronomia, alocado no Instituto de Geocências, e o Observatório do Valongo passaram a operar na mesma área de conhecimento, a Astronomia sem estarem ligados administrativamente. De fato, as aulas teóricas e práticas do curso de graduação em Astronomia, de responsabilidade do Departamento de Astronomia, no IGeo, eram ministradas no Observatório do Valongo. Também no OV se efetuavam as inscrições e demais atos acadêmicos, bem como se localizava a biblioteca setorial. Em agosto de 1983, foi pleiteada a incorporação do Departamento de Astronomia ao Observatório do Valongo pelo então diretor, professor Machado. Embora tenha sido aprovada em seção do Consuni em 27 de outubro de 1983, esta solicitação demoraria alguns anos mais. Em 1998, a professora Heloisa Maria Boechat-Roberty, diretora do OV, com o apoio do decano do CCMN professor Marco Antônio França Faria, novamente pleitea a mudança de status do OV e a incorporação do Departamento de Astronomia. Entretanto, tal incorporação veio a ocorrer somente em 2002, através de uma Portaria nº. 509, de 27 de fevereiro de 2002. Assim, a partir dessa data, o OV passa a constar como uma Unidade Acadêmica do CCMN/ UFRJ. O currículo da astronomia e reformas curriculares Na primeira fase do curso, entre 1958 e 1962, inscreveram-se cerca de 30 alunos, provenientes, em sua maioria, de instituições militares, não se formando nenhum. O currículo em vigência nesta época, a ser Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 47 cumprido em 4 anos, tinha uma estrutura em que a carga didática das disciplinas de astronomia era claramente pequena, reflexo das dificuldades iniciais de infraestrutura. A ligação com a Matemática era tão intensa, que o diploma a ser concedido aos alunos formados era de bacharel em Astronomia e Matemática, conforme o Art. 4º do projeto 35/59. No início do curso, as disciplinas obrigatórias ministradas, aprovadas em reunião de congregação (1º de abril de 1963) eram, em sua maioria (11 em 16), disciplinas de Física e Matemática e somente cinco de Astronomia: Astronomia I, Astronomia II, Mecânica Celeste, Fundamentos de Astrofísica e Astronomia Prática. Nesta época o aluno podia escolher duas disciplinas optativas, em um elenco de quatro: Geofísica, Mecânica Analítica, Eletrônica e Radioastronomia. A maioria era desenvolvida em dois períodos. A segunda fase do curso iniciou-se com a reforma curricular aprovada pela congregação da FNFi em 1º de Abril e terminou somente com a Reforma Universitária de 1967. O currículo de 1963 aumentava a participação da Astronomia tanto em carga didática quanto em número de disciplinas. São desta fase os dois primeiros astrônomos formados pelo curso: Antônio de Souza Sande2 e Edina Alípio Sousa. Na terceira e mais importante fase do curso, que se iniciou com a instalação do Departamento de Astronomia, em 1968, e que vem até os dias de hoje, houve a consolidação do Curso de Astronomia. A maturidade se deu através do aumento do número de professores e de sucessivas reformas curriculares para adequação do curso. Em 1967, como consequência da Reforma Universitária, veio a reforma curricular de 1968, que introduziu o sistema de créditos e disciplinas semestrais. Criou-se então, um elenco de disciplinas de Astronomia. Nos anos 1967 e 1969 ocorreram alterações nas disciplinas do ciclo básico ministradas pelos institutos de Física e Matemática (IF e IM), consolidadas em um novo currículo, em 1971. Neste foi intro2 48 Este só veio a requerer o diploma em 1971. O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos duzida a obrigatoriedade da apresentação de um projeto de pesquisa – monografia de final de curso, já neste ano, tal requisito foi cumprido por cinco alunos. Esse requisito curricular complementar leva o nome de Projeto Final. A apresentação do Projeto Final forneceu (e fornece até hoje) uma forte motivação aos alunos os quais têm desenvolvido projetos cada vez mais elaborados, por vezes comparados a dissertações de mestrado. Entre 1958 e 1969 os Projetos de Final de Curso ainda não eram uma exigência formal à obtenção do diploma. No entanto, nesse intervalo de tempo, houve 11 defesas. A primeira delas ocorreu em 1961, apresentada por Antônio de Souza Sande. A partir de 1971 os Projetos Finais abrangiam áreas como Astrometria, Espectroscopia Astronômica e Astrofísica. Posteriormente, em 1975, uma nova reforma curricular foi feita e as principais modificações foram a introdução de disciplinas que tratam de computação, metodologia científica e uma disciplina de Astronomia-astrofísica básica para os calouros. Assim, o currículo passou a ter 11 disciplinas de Física, 8 de Matemática, 22 de Astronomia (além do Projeto Final), Educação Física e Estudos dos Pro- Vista do Observatório do Valongo. Acervo do Observatório Astronômico da UFRGS – foto de Raul Kuplich Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 49 blemas Brasileiros. Se por um lado as reformas eram positivas, pois visavam aprimorar o conhecimento do aluno e tornar o curso mais completo, por outro estas reformas adicionaram muitas disciplinas, além de inclusões de novos tópicos nas ementas, resultando em um currículo super-dimensionado que poderia ser cumprido somente em 5 anos, no mínimo. Este fato incentivou uma completa reformulação que resultou na reforma implementada em 1984. Houve um redimensionamento em todas as disciplinas, com diminuição em disciplinas de Astronomia Fundamental e um aumento em disciplinas da Física. Paralelamente, o próprio Instituto de Física reformulou seu currículo, aumentando o número de tópicos abordados. São 16 disciplinas obrigatórias de Física, 7 de Matemática, 15 de Astronomia; uma disciplina complementar de Astronomia, duas obrigatórias de especialização e o Projeto Final. Um dos principais objetivos dessa reforma foi o de preparar os alunos a ingressarem nas pós-graduações em astronomia e astrofísica que se consolidavam no Brasil. Esses são os números do currículo atual que contém 41 disciplinas totalizando 3180 horas, a ser concluído em 4 anos e meio. Neste ano de 2007, finalizamos o projeto de um novo modelo curricular para a graduação, multidisciplinar e atual. A reestruturação do currículo de Astronomia foi pensada de forma a torná-lo mais flexível e atrativo, permitindo aos alunos uma formação diferenciada mas mantendo uma base sólida em Astronomia, Física e Matemática. As áreas são definidas por cinco módulos seqüenciais: Astrofísica, Astronomia Matemática, Astronomia Instrumental, Difusão da Astronomia e Astronomia Computacional. Tais áreas foram selecionadas pela comissão de forma a atender ao mercado atual de profissionais da Astronomia. A nova proposta de currículo prevê a existência de um núcleo básico e um avançado. A idéia da criação de um núcleo básico (diferente de ciclo básico), composto de 29 disciplinas e um núcleo avançado composto de 8 disciplinas foi baseado na LDB, que prevê multidisciplinaridade e flexibilização curricular, por exemplo. 50 O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Além disso, optou-se por manter o Requisito Curricular Suplementar (Projeto Final) uma vez que tal requisito acrescenta maturidade aos alunos no desenvolvimento de projetos científicos, tecnológicos e de popularização da ciência, aumentando o grau de entendimento na identificação, formulação e solução de problemas. O núcleo básico é composto por 9 disciplinas de astronomia (57 créditos), 14 de Física (50 créditos) e 6 da Matemática (26 créditos), totalizando 29 disciplinas, 113 créditos e 1950 horas-aula. As disciplinas deste núcleo serão cursadas por todos os alunos do curso. O núcleo avançado é constituído por módulos seqüenciais de disciplinas orientadas para uma especialização (ênfase) desejada pelo aluno. O aluno deve obter 32 créditos no módulo seqüencial assim distribuídos: 8 créditos em disciplinas eletivas de livre escolha pelo aluno; 4 créditos em disciplinas eletivas de escolha condicionada pelo orientador acadêmico; 12 créditos em disciplinas eletivas de escolha restrita entre um elenco de disciplinas oferecidas para o módulo seqüencial escolhido, em um total de créditos igual a 32. Em uma atitude inovadora, propomos o módulo de difusão com a participação de institutos fora do Centro de Ciências Matemáticas e de Natureza (CCMN), das áreas humanas: Letras, Comunicação Social e Filosofia. Perfil do astrônomo Da experiência com as atividades de ensino e popularização da ciência astronômica, com a construção de um projeto pedagógico para cursos de formação de astrônomos e com a contribuição de membros da sociedade astronômica, foi elaborado um perfil do profissional da área, que tem como finalidade divulgar, para os não familiarizados, a real abrangência da ciência astronômica. O astrônomo realiza investigações sobre astros e universo pela observação, o desenvolvimento de modelos e técnicas de análise, para explicar a composição química, os movimentos, as posições relativas e a evolução de objetos celestes. A atuação do astrônomo, como a do físico, é fundamentada na aplicação de ferramentas físico-matemáticas. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 51 Entretanto, tal abordagem pressupõe a vivência de técnicas de observação de redução ou de análise de dados astronômicos, que estabelece o diferencial do perfil. O astrônomo, como outro qualquer, deve estar preocupado em exercer sua profissão de forma ética e, tendo em vista sua atuação científica e educacional, deve estar preocupado em formar cidadãos. As características da profissão são ter como objetos de estudo o sistema solar, planetas extra-solares, estrelas, meio interestelar, galáxias e estruturas em grande escala do Universo. A tecnologia empregada para a obtenção de dados consiste na utilização de telescópios terrestres e espaciais equipados com detetores para diversos intervalos do espectro eletromagnético, radiotelescópios, outros instrumentos para detectar diversos tipos de partículas e instrumentos de laboratório que simulam condições astrofísicas. Os objetivos do estudo consistem na determinação de composição, temperatura, luminosidade, massa, movimento, estrutura e estágio evolutivo dos referidos objetos astronômicos; na procura por um referencial absoluto para a construção de catálogos que indicam a posição e movimentos próprios dos corpos celestes, em determinados períodos; na confecção de catálogos com várias propriedades e classificações dos mesmos; no desenvolvimento de teorias matemáticas e técnicas computacionais para descrever os movimentos e investigar a evolução dinâmica de cometas, asteróides, planetas e estrelas; no desenvolvimento e aplicação de teorias físicas e técnicas computacionais para descrever a estrutura e evolução dos objetos astronômicos; na investigações relativas à relação entre o tempo e o espaço, à estrutura, composição e evolução dos diversos corpos celestes, ou de um conjunto destes; O objetivo último é buscar novas formas do saber científico e possibilitar o desenvolvimento dos conhecimentos de Astronomia e de Física. 52 O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Como metodologia de pesquisa o astrônomo deve realizar a comparação resultante de análise da radiação recebida por objetos celestes (ou de partículas detectadas) com dados de objetos padrões fornecidos pelos catálogos; a aplicação de teorias físicas, de técnicas matemáticas, de relações semi-empíricas, e simulação em laboratório de algumas condições astronômicas; a aplicação de ferramentas estatísticas ou matemáticas para descrever ou buscar correlações entre diversos parâmetros obtidos a partir das observações. Os campos da ciência astronômica seguem a tendência atual, a multidisciplinaridade. Aqui nos baseamos nas sugestões apresentadas por uma comissão da Sociedade Astronômica Brasileira: • • • • • • • • • • • • • Mecânica Celeste e Astrometria Sistemas Planetários O Sol Astrofísica Estelar Matéria Interestelar e Circunstelar A galáxia e populações estelares Astronomia Extragaláctica Estrutura em grande escala do universo Cosmologia Astrobiologia Astroquímica Dados atômicos, moleculares e nucleares Instrumentos, técnicas observacionais e processamento de dados O astrônomo atuará principalmente em instituições de pesquisa e ensino; instituições de divulgação e ensino (como planetários e museus de ciência); áreas aplicadas (como controle de satélites e projetos de instrumentos ou equipamentos óticos, mecânicos e eletrônicos) para a pesquisa astronômica. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 53 Luneta Pazos – Observatório do Valongo Foto: acervo do Observatório do Valongo Luneta Meridiana Observatório do Valongo Foto acervo do Observatório UFRGS 54 Acervo e resgate da memória do OV Embora pequeno, o acervo do Observatório do Valongo - UFRJ retrata a história de nosso instituto. Sua fundação no Morro de Santo Antônio, a instalação do curso ainda na Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) - Universidade do Brasil e também o desenvolvimento do Valongo, com a compra dos instrumentos e livros que foram adquiridos ao longo dos anos, complementaram a formação dos alunos do curso. Temos instrumentos científicos construídos entre 1880 e 1920, fotos e documentos, desde a criação do Observatório da Escola Politécnica, predecessor do atual OV, em 1881. O Valongo dispõe de dois telescópios de médio porte: um Cook and Sons de 300 mm de diâmetro e distância focal de 5500 mm e o outro um Coudé Zeiss Jena de 150 mm de diâmetro e 2250 mm de distância focal. Entretanto, um dos instrumentos de maior valor histórico do OV é uma luneta construída pela oficina Pazos, em 1880, com 110 mm de diâmetro e 1100 mm de distância focal. Além disso O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos possui um conjunto de instrumentos, antes utilizados para ministrar cursos, por exemplo, o teodolito Wild T4, que também possui um prédio próprio. A luneta Pazos merece destaque por ser única, tendo sido solicitada sob encomenda às oficinas Hermida Pazos, construída aqui no Brasil, em 1880. Estas oficinas originaram-se das oficinas de óptica e instrumentos científicos de José Maria Reis, e participaram de várias exposições, duas internacionais: uma em Buenos Aires em 1882 e a exposição Universal, de 1889, realizada em Paris. Nesta última, a Casa Hermida Pazos apresentou uma luneta azimutal criada por Emmanuel Liais e desenvolvida nas suas oficinas, sendo premiada com medalha de prata. Este prêmio evidenciou o reconhecimento da qualidade dos instrumentos desenvolvidos na casa Pazos. A luneta Pazos está instalada em um prédio próprio construído na década de 1920, época em que houve a transferência do Observatório do Valongo do Morro de Santo Antônio. No início da criação do curso de Astronomia, os instrumentos que haviam sido transferidos do Morro de Santo Antônio, já necessitavam de recuperação. A recuperação e a manutenção eram feitas inicialmente por professores e alunos do Valongo. Mais recentemente, em 1996, foi feito um levantamento do acervo histórico do OV, onde ficou evidenciada a necessidade de contração de profissionais para organizar e restaurar todo o material disponível e registrar a história do Observatório. A primeira etapa (1996–1998) contou com apoio da Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB). Nesta etapa foram restaurados o Telescópio Cook (1910) e sua cúpula. Na segunda etapa (1998–2000), também com o apoio da FUJB, foi possível registrar uma parte da história no livro “Imagens da Astronomia na Cidade do Rio de Janeiro: “Os 120 anos do Observatório do Valongo” de Heloisa M. Boechat Roberty, e Antonio Augusto Videira, 2003. Também foram restaurados a luneta Pazos (1880), a luneta Zeiss e um relógio de pêndulo. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 55 Em uma terceira etapa (2004-2005), houve o apoio do CT-INFRA/ MCT/CNPq – 003/2003, através da Seleção Pública de Projetos de apoio à Infra-estrutura de Preservação e Pesquisa da Memória Científica e Tecnológica Brasileira. Atualmente, o OV inicia um convênio institucional com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST-MCT), que possui reconhecida experiência nas diversas áreas de preservação de acervos históricos documentais e museológicos, os quais incluem a pesquisa, a restauração, a gestão e a sua conservação; elaboração de banco de dados; capacitação e aperfeiçoamento profissional, mantendo, para isto, laboratórios de Conservação de Instrumentos Científicos. Esse convênio vai possibiliar não somente a recuperação e manutenção de nosso arcervo mas também o treinamento de nossos técnicos nesse sentido. Nesta fase atual haverá o apoio da FAPERJ (APQ4 – 170.523/2007). Acervo bibliográfico e iconográfico Além do acervo de instrumentos científicos, o Observatório possui um acervo documental importante. São livros, fotografias e documentos que remontam à transferência do Observatório do Valongo do morro de Santo Antônio para o morro da Conceição e também publicações que contam a história da criação do Curso de Astronomia. Alguns dos documentos são acompanhados por fotografias do Observatório ainda no morro de Santo Antônio e também fotografias já aqui, no início de sua transferência. Recentemente recebemos a doação de uma coleção significativa de livros raros em Astronomia, tais como a coleção de Camille Flammarion, autor de, entre outros livros, l’Astronomie populaire (1879). Esta doação de livros, feita pela esposa do primeiro diretor do OV, também veio acompanhada de documentos e fotos enriquecendo ainda mais nosso acervo bibliográfico. Nosso acervo também conta com um inventário da transferência do Observatório, datado de 1921; escrituras de posse; registros da instalação do relógio atômico, em 1972, para o fornecimento da hora legal em todo o país, entre outros. 56 O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Bibliografia Boechat-Roberty, H. M., Passos Videira, A. A. (2003) Imagens da Astronomia na Cidade do Rio de Janeiro: os 120 anos do Observatório do Valongo, Observatório do Valongo UFRJ, Rio de Janeiro. Boechat-Roberty, Heloísa M. (2004) O Observatório do Valongo e o Ensino da Astronomia. MAST Colloquia Vol.1 – Memória da Astronomia, Heloísa Maria Bertol Domingues (org.), MAST-MCT, Rio de Janeiro, pp. 171-185. Campos, J. A. S. (1994) “Observatório do Valongo: Mais de um Século a Serviço do Ensino de Astronomia”, in: Barbuy, B., Braga, J., Leister, N. (orgs). Astronomia no Brasil: depoimentos, pp 93-105, São Paulo, Sociedade Astronômica Brasileira. Freitas Filho, A. P. (1985) As officinas e Armazém d’Óptica e Instrumentos Scientíficos de José Maria dos Reis e José Hermida Pazos, Relatório Final de Pesquisa, Museu do Observatório Nacional - CNPq. Machado, L. E .S. (1964) “A Pesquisa e o Ensino da Astronomia na Universidade”, in: Boletim do Curso de Astronomia, Faculdade Nacional de Filosofia, Universidade do Brasil. Machado, L. E. S. (1970) Alguns aspectos da expansão do panorama astronômico internacional e a contribuição do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aula inaugural dos cursos do Instituto de Geociências – UFRJ. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 57 Professores do Curso de Astronomia (1958 -2007) Aldemar Pereira Tôrres Alércio Moreira Gomes Alexandre Sérgio da Rocha Alexandre Lyra de Oliveira Antônio de Sousa Sande Carlos Roberto Rabaça Cláudio José Ribeiro Daniel Pereira Pinto Filho Denise Rocha Gonçalves Edgar Rangel Netto Encarnación Amélia Martinez Gonzales Fernando de Azevedo Prado Francisco de Paula Saldanha François Christophe Cuisinier Getúlio de Jesus Vilar Gilson Gomes Vieira Guilherrne Wenning Gustavo Frederico Porto de Mello Hélio Jaques Rocha Pinto Heloísa Maria Boechat Roberty Jorge de Albuquerque Vieira José Adolfo Snajdauf de Campos José Augusto Buarque de Nazareth José Felipe Caria Caldeira Júlio Angel Fernandez Lília Irmeli Arany Prado Lúcia Papini Góes Cajueiro Luiz Eduardo da Silva Machado Marcelo Assafin Mário Ferreira Dias 58 O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Peggy Dumas René Coelho e Silva Ronaldo Perseke Rubens Pinto Mondaini Sérgio Levi Sérgio Menge de Freitas Sérgio Valente Duarte Sílio Vaz Sílvia Lorenz Martins Sueli Aparecida Guillens Teodoro José Vives Soteras Walther Henninger Walther Pollis Walther da Silva Curvelo Presidentes da Comissão de Astronomia Faculdade Nacional de Filosofia 1958 - 1959 1960 - 1967 Eremildo Vianna Luiz Eduardo da Silva Machado Diretores do Observatório do Valongo 1967 - 1990 1990 - 1995 1996 - 2002 2002 - 2006 2006 Luiz Eduardo da Silva Machado Gilson Gomes Vieira Heloísa Maria Boechat Roberty Gustavo Frederico Porto de Mello Silvia Lorenz Martins Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 59 Chefes do Departamento de Astronomia 1967 - 1976 1976 - 1980 1980 - 1982 1982 - 1984 1984 - 1986 1986 - 1989 1989 - 1992 1992 - 1995 1995 - 2001 2001 - 2002 2002 - 2004 2005 Luiz Eduardo da Silva Machado José Adolfo S. Campos Silio Vaz Getúlio de Jesus Villar Gilson Gomes Vieira Silio Vaz José Adolfo S. Campos Heloisa Ma. Boechat Roberty Lilia I. Arany Prado Gustavo F. Porto de Mello Marcelo Assafin François Ch. Cuisinier Comissão de Astronomia (1958 - 1961) Dr. Eremildo Luiz Vianna, presidente Dr. João Cristovão Cardoso Dr. José Leite Lopes Dr. José Abdelhay Coordenadores de Graduação em Astronomia 1961 - 1967 1980 - 1985 1985 - 1989 1989 - 1991 1991 - 1994 1994 - 1995 1995 - 2000 2000 - 2001 60 Luiz Eduardo da Silva Machado José Adolfo de Campos Jorge Albuquerque Vieira Getulio de Jesus Villar Encarnación A. M. Vilar José Augusto Buarque Nazareth Encarnación A. M. Vilar Gustavo F. Porto de Mello O Curso de Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos 2002 - 2003 2003 - 2004 2004 - 2006 2007 Alexandre Lyra de Oliveira Sueli Aparecida Guillens Silvia Lorenz Martins Carlos R. Rabaça Quadro docente atual Professor Alexandre Lyra de Oliveira Carlos Roberto Rabaça Denise Rocha Gonçalves Encarnación A. M. Vale François Christophe Cuisinier Gustavo Porto de Mello Hélio Jaques Rocha Pinto Heloisa Maria Boechat-Roberty José Adolfo S. de Campos Lilia Irmeli Arany-Prado Marcelo Assafin Silvia Lorenz Martins Suely Aparecida Guillens Titulação Cargo Doutor Doutor Doutor Especialização Doutor Doutor Doutor Doutor Mestre Doutor Doutor Doutor Doutor Adjunto Adjunto Adjunto Assistente Associado Associado Adjunto Associado Adjunto Adjunto Associado Adjunto Adjunto Regime de trabalho 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE 40h DE Secretaria Acadêmica Rosa Maria Machado Gomes Professora Silvia Lorenz Martins, Doutora pela Universidade de Nice Sophia-Antipolis Professora Lilia I. Arany-Prado, Doutora pelo Observatório Nacional/MCT Professor José Adolfo S. de Campos, Mestre pelo NCE/UFRJ Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 61 Homenagem ao professor Machado - Observatório do Valongo - 50 anos Homenagem ao professor Machado Discurso proferido na reinauguração da Biblioteca Sílio Vaz, em 30 de novembro de 2007. Professor José Adolfo S. de Campos, Mestre pelo NCE/UFRJ Estou muito honrado ao ser convidado para falar algumas palavras sobre o professor Machado, seu amor pela astronomia e seu empenho e entusiasmo ao participar da criação do Curso de Astronomia na Faculdade Nacional de Filosofia, da então chamada Universidade do Brasil, no ano de 1958, e na revitalização (e por que não dizer, redescoberta?) do Observatório do Valongo. Ao longo de 25 anos tive a honra e o prazer de conviver com Luiz Eduardo da Silva Machado, acompanhando a sua luta em prol da consolidação do Curso de Astronomia e do Observatório do Valongo. Em 1967, quando entrei para Astronomia na então Faculdade Nacional de Filosofia, confesso que ao conhecer o professor Machado tive a impressão dele ser uma pessoa austera e fechada, talvez reforçada pelo seu grande bigode, visão esta que se mostrou completamente equivocada. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 63 Falarei brevemente aqui sobre as faces professor, divulgador, pesquisador, administrador, humano e líder com quem convivi ao longo destes 25 anos, desde 1967 até 1992. O meu primeiro contacto com o seu lado professor foi, se a memória não me falha, no ano de 1968. Suas aulas eram muito motivantes, pois além de mostrar o seu conhecimento sobre os temas apresentados com muita vibração deixando claro o seu envolvimento e amor pela astronomia, ele conseguia passar aos alunos esta vibração, despertando a curiosidade e a necessidade de saber mais. Ao longo do curso, o professor Machado ministrou disciplinas desde Astronomia Geral até Astrofísica, passando pela Astronomia Observacional, sempre com o mesmo entusiasmo e a mesma preocupação de fazer com que os estudantes entendessem corretamente o conteúdo. O seu lado de divulgador revelou-se nas dezenas de conferências feitas para o público não especializado sobre assuntos de interesse como eclipses, a Lua (em 1969, com o auditório do jornal O Globo completamente lotado e gente do lado de fora), conquista espacial, Astrologia e Arqueoastronomia entre outros. Também participou de muitos programas de televisão e rádio, sempre com o intuito de esclarecer as dúvidas e nunca mostrar erudição, que, aliás, tinha de sobra. Como resultado da participação do Observatório do Valongo no programa internacional de “Observações de ocultações rasantes de estrelas pela Lua”, os professores e alunos do Curso de Astronomia viajaram para locais distantes deste Brasil, onde sempre o professor Machado ministrava palestras sobre a Astronomia procurando mostrar as maravilhas do nosso universo. Como pesquisador, publicou mais de 50 trabalhos em revistas nacionais e internacionais, mas a sua contribuição fundamental foi iniciar um programa de pesquisas internacional sobre Astrometria de Asteróides, em colaboração com o dr. Henri Debehogne, do Observatório Real da Bélgica, que propiciou uma direção inicial e uma proposta agregadora para o grupo de jovens pesquisadores do Depar- 64 Homenagem ao professor Machado - Observatório do Valongo - 50 anos tamento de Astronomia do Observatório do Valongo. Esta linha de pesquisa deu oportunidades de acesso aos instrumentos do European Southern Observatory (ESO), o maior observatório do mundo, na época, propiciando o contato não só com instrumentos modernos, mas principalmente com astrônomos profissionais de importantes observatórios da comunidade astronômica. Esta pesquisa levou à descoberta de dezenas de asteróides novos, um dos quais levou o nome de Machado (o de número 2543), e frutifica até hoje como um grupo de pesquisas reconhecido internacionalmente. Como administrador, o professor Machado foi membro (1958 a 1960) e presidente da Comissão de Astronomia da FNFi (1960 a1967) responsável pelos primeiros passos do Curso de Graduação em Astronomia, que estará completando no ano que vem 50 anos. Ele teve papel decisivo na defesa da importância dos astrônomos fazerem um curso de graduação em Astronomia, idéia finalmente reconhecida pela comunidade dos astrônomos brasileiros, não antes de batalhas que infelizmente não foram só no campo das idéias. Sua atuação como administrador, não só do Departamento de Astronomia, mas também do Observatório do Valongo, em épocas conturbadas, conseguiu que o local onde se situa este observatório deixasse de ser um criadouro de porcos e galinhas. Com muito trabalho, esforço e dedicação de um grupo liderado por ele, mas contando com a ajuda inestimável de pessoas como Sílio Vaz, Guilherme Wenning, Paulo Manzo, Walter Pollis, Mário Ferreira Dias, dentre outros, a fazendinha passou a ser o que é hoje, um local aprazível e onde frutifica o Ensino, a Pesquisa e as atividades de Extensão. A sua liderança foi fundamental para que o Valongo e o Curso de Astronomia chegassem até os dias de hoje. Como aluno, fui convocado como soldado (não só eu mas todos alunos e jovens professores) numa batalha para defender o Curso de Astronomia dos idealizadores da descontinuidade. Quero aqui lembrar a sua capacidade de agregar um grupo de inexperientes alunos e jovens professores recém forma- Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 65 dos e conduzi-los unidos ao longo dos muitos anos difíceis em defesa de um ideal. Divergências; sempre as tivemos, mas com a ajuda preciosa também do professor Sílio Vaz, conseguimos atravessar mares turbulentos que quase fizeram naufragar a nossa frágil embarcação de então. Machado sempre mostrava ânimo e uma visão otimista e motivadora do futuro, mesmo em momentos de desânimo de alguns com os acontecimentos. Esta idéia frutificou e hoje o Observatório do Valongo oferece não somente o curso de graduação em Astronomia, mas também o curso de pós-graduação em seus primeiros passos (iniciou-se em 2003), participa em linhas de pesquisa internacionais com um grande número de publicações, em revistas de circulação internacional (56 no triênio 2004 - 2006), e divulgando a astronomia como uma área motivadora e importante para o ensino de ciências. Os professores e alunos do OV atenderam cerca de 20 mil estudantes somente em 2006 e 2007). Um parêntese, é preciso reverter esta estatística vergonhosa do Brasil ser o 52° em 57 países no aprendizado em Ciências, fecha parênteses. É importante ressaltar que Luiz Eduardo da Silva Machado atuou às vezes como um pai, na condução de um grupo de jovens entusiasmados mas inexperientes na vida. Ele, juntamente com Sílio Vaz, ajudou nos meus passos iniciais como professor e profissional, além de ser meu padrinho de um casamento de 35 anos. Tenho certeza de que o professor Machado e o professor Sílio estariam sorrindo, satisfeitos com a geração de jovens (agora não tão jovens) que encaminharam e que deixaram com um profundo amor pela Astronomia e carinho pelo Observatório do Valongo (com demonstrações que verificamos sempre que encontramos ex-alunos em reuniões). Muito obrigado. 66 Homenagem ao professor Machado - Observatório do Valongo - 50 anos Marco Fernandes A extensão Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos A Extensão em Astronomia Encarnacion Amelia Martinez Machado Rundsthen Vasques de Nader O artigo 207 da Constituição Federal dispõe que as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa, de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão, funções básicas da universidade, as quais devem ser equivalentes e merecer igualdade em tratamento por parte das Instituições de Ensino Superior, pois, ao contrário, estarão violando esse preceito constitucional. Dentre os objetivos do Plano Nacional de Extensão, lançado em 1999 pelo Fórum de Pró-reitores de Extensão das universidades públicas brasileiras e pela Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação, destaca-se o de “reafirmar a Extensão Universitária como processo acadêmico definido e efetivado em função das exigências da realidade, indispensável na formação do aluno, na qualificação do professor e no intercâmbio com a sociedade”. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 69 Uma boa definição do conceito do que é Extensão Universitária seria a de que essa é um processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade. A Extensão Universitária é, na realidade, uma forma de interação que deve existir entre a academia e a comunidade na qual está inserida. É uma espécie de ponte permanente entre a universidade e os diversos setores da sociedade e funciona como uma via de mão dupla. As atividades de Extensão bem planejadas, bem estruturadas e bem executadas permitem socializar e democratizar o conhecimento, adquirir subsídio para a pesquisa e preparar seus profissionais. Discorreremos aqui acerca de algumas atividades de Extensão pontuais organizadas por distintos grupos no Observatório do Valongo (OV) até 1998 quando se formou um grupo que atua até hoje e cujo trabalho está bem documentado e pode ser apresentado com mais detalhes. Cursos extra-curriculares No Relatório Institucional do Valongo de 1974, podemos encontrar algumas informações sobre as atividades de Extensão realizadas durante aquele período, que reproduzimos abaixo. “O Observatório do Valongo, além das suas atividades indissociáveis de Ensino e Pesquisa, presta serviços à comunidade, não apenas por informações atualizadas, por meio de press-release para a imprensa, mas, igualmente, pela realização de cursos de Aperfeiçoamento, Especialização e de Extensão Universitária, como os cursos de Aperfeiçoamento em Técnica Fotográfica, de Extensão Universitária em Astronomia e pela realização de palestras e conferências em escolas de 1o e 2o grau e em nível superior, tanto no Rio de Janeiro, como em outros estados.” De fato, as atividades de Extensão iniciaram-se ainda em 1960, dois anos após a criação do curso de graduação, quando professores 70 A extensão Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos do curso de Astronomia ministravam palestras em escolas de ensinos Médio e Fundamental. Os temas abordados nesse período foram: satélites artificiais, conquista do espaço e também fenômenos solares e perturbações terrestres. Além das palestras, o Valongo também produziu e continua a produzir cursos extra-curriculares e cursos de Extensão. Tais cursos são oferecidos a alunos de graduação em Astronomia e áreas correlatas objetivando atualizar o tema apresentado, colocando os participantes em contato com os avanços realizados nessa área de pesquisa. O primeiro a que se tem registro data de 1961. Ministrado pelo Dr. Jean Delhaye, diretor do Observatório Astronômico de Besançon à época, teve como tema Estrutura Galática e Evolução Estelar e durou um semestre. O convite partiu da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) e resultou em uma colaboração técnico-científica entre observatórios franceses e o Observatório do Valongo. Entretanto, o primeiro curso de Extensão oficialmente registrado no OV aconteceu em 2/12/1974. Com 42 horas/aula, o curso de Extensão Universitária em Astronomia contou com 98 inscritos e tinha a parceria da Secretaria de Ciência e Tecnologia do então estado da Guanabara. Segundo consta no Relatório de Atividades do OV de 1974: “De acordo com o ofício n0 2687/74, de 8.11.74, do Ilustre deputado Levy Neves, a Assembléia Legislativa do Estado da Guanabara aprovou, por unanimidade, o voto de Louvor, requerido pelo deputado José Maria Duarte, pela realização do 1o Curso de Extensão Universitária”. Há também registro de um curso sobre Astrofísica Solar oferecido em 1994. O curso Formação em Técnicas Modernas de Observação e Redução de Dados em Astronomia e Astrofísica foi desenvolvido em parceria com o Observatório Nacional-MCT, em 1997, no Programa de Apoio a Integração Graduação e Pós-graduação, PROIN-CAPES. A coordenação do projeto foi dividida entre a professora Heloísa Maria Boechat-Roberty do OV e o Dr. Roberto Martins do Obser- Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 71 vatório Nacional (ON-MCT). O objetivo foi apresentar aos estudantes, técnicas atuais de observação e redução de dados em Astronomia Moderna, motivando-os para a prática da Astronomia e Astrofísica Observacional. O curso teve um caráter eminentemente prático e os alunos aprenderam com astrônomos experientes, em cada uma das atividades ligadas a observação e redução de dados astronômicos, as técnicas específicas. O curso, que teve a duração de 36 horas/aula, foi ministrado no OV e contou com 50 inscritos. Nos últimos anos outros cursos de Extensão foram oferecidos pelo OV. Para citar alguns deles: Formação Estelar em Galáxias, em 2005, Eletromagnetismo em Espaços Curvos, em 2006, Nosso Sistema Solar: O que você sabe? O que você gostaria de saber?, em 2007. Sala da Hora 72 Relógio atômico e a hora no Rio de Janeiro Na prestação de serviços à comunidade, o OV deu sua grande contribuição, nos anos 70, hospedando um relógio atômico. A Central Horária e os Relógios Atômico e Falante do Observatório do Valongo foram inaugurados em 11 de novembro de 1972 pelo então ministro da Educação e Cultura, Jarbas Gonçalves Passarinho. Esse serviço de utilidade pública entrou em funcionamento, em colaboração com a Companhia Telefônica Brasileira, com um sistema preciso e moderno controlado atomicamente 24 horas por dia. O Relógio Atômico forneceu a hora no Rio, Niterói e São Gonçalo. A média diária de chamadas na época foi de 30 mil. A extensão Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Visitas ao Valongo e os cometas Um primeiro levantamento das atividades de Extensão do OV também está registrado no relatório institucional de 1974. Na tabela abaixo são computados os números referentes ao público total que visitou o OV entre 1960 e 1974. Ano 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 Nº total de visitantes 95 129 60 57 15 90 95 32 131 170 199 100 140 689 705 Numa rápida análise da tabela acima, constata-se o crescimento da prática da extensão a partir de 1973, o que é confirmado no Boletim de Ensino, Pesquisa e Cultura de setembro de 1975. Um fenômeno interessante pode ser notado nos anos de 1974 e 1975. Qual teria sido o motivo de um acréscimo tão grande no número de visitas ao OV? Se observarmos as efemérides astronômicas destes anos, veremos que um fenômeno marcou fortemente a todos os interessados por astronomia: o cometa Kohoutek. Na verdade, Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 73 esse cometa foi de difícil visualização a olho nu, todavia a extrema exposição na mídia o tornou um grande catalisador da curiosidade popular pela Astronomia, fazendo com que o público procurasse o OV para obter informações não apenas sobre o cometa, mas sobre a Astronomia em geral. Em suma, os cometas sempre despertaram interesses na população em geral. As aparições súbitas e imprevisíveis desses pequenos corpos e suas configurações já causaram pânico e terror ao homem primitivo. Obviamente, em 1985-1986, devido aos preparativos para as observações do Halley, os quais incluíram até pacotes turísticos anunciando melhores pontos de observação e o alarde por parte da mídia, isso não ocorreu. O que houve foi uma grande procura de pontos de observação motivada pela enorme expectativa do público, devido à 29a Passagem Registrada do Cometa Halley. No Valongo, alunos e professores do curso de Astronomia conceberam e realizaram um projeto, que classificaram de divulgação científica, para observação do cometa. O Projeto Halley, como se chamou, foi realizado no período de 1º a 19 de abril de 1986 e atendeu um grande número de pessoas. Além de telescópios para observar o cometa e outros astros havia uma exposição fotográfica sobre o Halley. As inscrições eram agendadas por telefone, com uma média de 250 pessoas por noite. Vários detalhes curiosos estão reproduzidos em painel exposto no OV, como por exemplo, que as cabines de fibra de vidro que abrigavam os telescópios de campo foram confundidas com banheiros químicos. As visitas institucionalizadas iniciaram-se em 1974 no Valongo, todas as sextas-feiras, no horário das 19 às 21h. Tais visitas eram abertas ao público em geral, às escolas e aos centros culturais, e contavam com a utilização de quatro telescópios especialmente instalados para esse programa didático-cultural. Estas atividades continuaram ocorrendo durante algum tempo. Embora nunca tenham cessado completamente, sua periodicidade 74 A extensão Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos foi se tornando cada vez mais irregular, devido talvez ao fato de poucos profissionais estarem efetivamente envolvidos nestes programas. Em 1984, quando a UFRJ encontrava-se em séria crise financeira e decidiu-se pela adesão à greve, aconteceu um evento muito expressivo. Os alunos do curso organizaram várias atividades nas dependências do OV com o objetivo de divulgar e mostrar as condições precárias em que se encontrava a universidade. Quem viveu aquele movimento sabe a importância que o mesmo teve não somente motivando alunos, como também professores. Alguns dos alunos que participaram desta atividade acabaram tornando-se professores e dirigentes desta instituição. Encontro de alunos, ex-alunos e professores do curso de Astronomia (ENEAS) O Primeiro Encontro de Alunos, Ex-Alunos e Professores do Curso de Astronomia (I ENEAS), ocorreu 1993. A iniciativa partiu de ex-alunos que, em 1992, sugeriram a criação de um evento que reunisse antigas turmas de graduação. Nesse mesmo ano, a chefe do Departamento de Astronomia, instituiu uma comissão formada por alunos da graduação e ex-alunos do Valongo que atuavam no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE/MCT), no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Espaciais (IAG/USP), no ON/MCT. Aproveitando a conclusão da graduação do centésimo formando, cento e dez participantes se reuniram em três dias com o objetivo de levantar a contribuição do curso na formação de professores, pesquisadores e divulgadores na área de Astronomia, avaliar as expectativas profissionais dos graduandos e apreciar as perspectivas futuras. Palestras, mesas-redondas e apresentações de painéis fizeram parte da programação. Paralelamente, realizou-se o EstrelArte, mostra de trabalhos artísticos produzidos por alunos e ex-alunos, em sua maioria com motivação astronômica. O II ENEAS, ocorreu em 2006, teve também Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 75 grande repercussăo, reunindo 115 participantes e manteve a mesma estrutura do anterior e aconteceu em 2006. O nome ENEAS surgiu de uma brincadeira dos calouros de 1989. Era uma alusão dupla aos encontros de estudantes de áreas universitárias, como ENEF (Encontro Nacional de Estudantes de Física), ENEA (Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura), etc, e uma alusão ao então candidato à presidência ENEAS Carneiro. Quando, em 1992, começou-se a discutir a realização de um encontro entre alunos, ex-alunos e professores, os mesmos alunos da época o apelidaram de ENEAS, uma vez que um encontro de ex-alunos e alunos do OV/UFRJ pareceu-lhes o único e legítimo Encontro Nacional de Estudantes de Astronomia. O apelido enfrentou resistência por parte de alguns professores, mas acabou sendo adotado por todos devido a sua simplicidade (o nome oficial do encontro não teria uma sigla pronunciável) e da impressão de que se tratava de uma sigla para Encontro de Ex-Alunos. A Revitalização da Extensão no Valongo Em 1998, a pedido da coordenadora do Grupo Agentes do Futuro do Serviço Social Voluntário/Cidade de Deus do Projeto Viva Rio, foi preparada uma programação para recebê-los. O sucesso alcançado nessa visita motivou alunos, professores e técnicos do OV a reativarem a Extensão. Assim, foi criado o Projeto de Visitação Pública: Descobrindo a Astronomia. O projeto contava com a participação de docentes, astrônomos e discentes que recepcionavam grupos de estudantes em visitas noturnas com uma programação que incluía, além da observação do céu, palestras e simulações computacionais de fenômenos astronômicos. Assim, formou-se um grupo de Extensão que hoje é composto por dois docentes (Encarnacion A. Martinez Gonzalez e José Adolfo S. de Campos), um astrônomo (Rundsthen Vasques de Nader), qua- 76 A extensão Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos tro bolsistas do Programa de Bolsas de Extensão da UFRJ (PIBEX/ UFRJ) e alguns voluntários. Em 1999 criou-se o Astronomia na Saúde que tinha como objetivo interagir com a comunidade do Morro da Conceição, na Saúde. Desta forma, abrimos espaço para falar de astronomia e interagir com os moradores da região onde fica localizado o OV. Com a experiência adquirida e objetivando criar visitas diurnas, encaminhou-se em 2000 um projeto à Fundação VITAE que concedeu verba para a compra de um planetário inflável (modelo Starlab) e para a confecção de dois relógios solares (um inclinado declinado e outro dodecaédrico). A partir daí, a programação foi incrementada com sessões de planetário inflável. Nessa época também foi implementada a Visita de escola pública ao Observatório Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 77 visitação diurna quando explanações sobre o funcionamento do relógio solar eram apresentadas. Mas, isso apenas despertava a curiosidade de uns poucos, enquanto outros se satisfaziam observando o grande telescópio Cooke e passeando pelo agradável campus onde está localizado o OV. Era premente investir em práticas que pudessem motivar, ainda mais, os estudantes nas visitas. Assim, passou-se a receber estudantes durante o dia com uma programação que, ainda hoje, compreende uma oficina com atividades lúdicas, visita às dependências do OV (mini-museu, relógios solares e telescópio Cooke - onde é feito um breve histórico do telescópio e do OV), observação de manchas solares no telescópio Coudé, no qual os visitantes têm a oportunidade de perceber o movimento da Terra, e sessão de planetário inflável. Uma conversa informal com o professor explicando como motivar os alunos e a presença do grupo de Extensão na escola, tornou-se etapa obrigatória antes da visita. O roteiro e as atividades previstas são previamente discutidos com o professor, e o grupo do OV fica à disposição da turma para uma posterior visita à escola, caso necessitem de discussões adicionais para sistematizar os conhecimentos adquiridos. Por sua característica multidisciplinar, a Astronomia é uma excelente ferramenta motivadora na introdução de conceitos da física, matemática e biologia, motivo pelo qual o projeto recebeu o nome de Astros a Serviço das Ciências. Em 2000 participamos da homenagem pelos 80 anos da criação da UFRJ promovendo oficinas e tirando dúvidas, sobre Astronomia, em um grande evento realizado na Ilha do Fundão. Em 2001, a convite da Pró-reitoria de Extensão (PR-5), passamos a integrar o Programa Federal de Alfabetização Solidária. O OV passou a ser um local de visita obrigatória para os alfabetizadores oriundos de outros estados. Durante a visita eram oferecidas oficinas de astronomia, sessões de planetário inflável e observação do céu. Em 2003, iniciou-se o projeto Astronomia na Vila, integrando o Programa de Revitalização da Vila Residencial da UFRJ, sob responsabilidade 78 A extensão Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos da Pró-reitoria de Extensão da universidade. De início, pretendia-se constituir um grupo, composto por crianças do local, que atuaria em todas as fases da construção de um relógio solar a ser instalado, após a urbanização da Vila, na sua praça principal. O objetivo era formar um grupo apto a explicar o funcionamento do relógio e a valorizar a preservação de monumentos e de obras públicas, tornando seus membros agentes multiplicadores dessa prática. Assim, além de despertar o interesse pela Ciência, a partir da observação e do entendimento de fenômenos astronômicos, seriam desenvolvidos conceitos de valores, atitudes e posturas éticas. Aproveitando o interesse de um grupo de crianças do local, introduzimos conceitos de Astronomia, matemática e física através de atividades lúdicas e desafiantes. Notouse que a curiosidade científica do grupo cresceu com a freqüência nas reuniões. Com o objetivo de aumentar ainda mais o interesse dos participantes foram criados jogos educativos que se mostraram fundamentais para a manutenção do grupo e tornaram os encontros bem mais instigantes. Os jogos e atividades citados, e outros criados posteriormente, são utilizados até hoje nos eventos que participamos fora do OV e compõe o material de aulas na disciplina oferecida pelo Departamento de Astronomia aos licenciandos de Física, Biologia e Geografia da UFRJ (Ensino das Ciências: Oficinas de Astronomia – IGA 501). Oferecida no turno diurno (no primeiro semestre) e noturno (no segundo semestre), é um dos resultados do trabalho de Extensão do OV. Ao preparar o programa da citada disciplina pretendeu-se contribuir para a formação dos futuros professores de Ciências não apenas levando para a sala de aula um conteúdo astronômico, mas, principalmente, levando incentivo, capacidade e segurança para que possam, em um futuro bem próximo, migrar do papel de transmissores de conhecimento de terceiros para os de produtores de conhecimento e autores de seu próprio material de apoio e de novas propostas pedagógicas. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 79 A participação ininterrupta em eventos tais como: Paixão de Ler, desde 2000, promovido pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Mostra de Extensão: Projetos da UFRJ nas Escolas, 2001, pelos Municípios de Cabo Frio e Armação de Búzios, Feira do Conhecimento Integrado, 2000-2004, pelo Município de Arraial do Cabo, Festival UFRJMar, desde 2005, pela PR-5 e vários municípios, Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, pelo MEC e PR-5, Inverno Cultural, 2007, pela Universidade Federal de São João Del Rey (MG) e Astronomia nas Escolas, desde 2004, pelo OV e escolas de municípios do estado do Rio de Janeiro, resultou no atendimento de mais de 20 mil estudantes nos dois últimos anos (2006 e 2007). Nessas oportunidades a Astronomia é usada de forma lúdica e objetiva como ferramenta motivadora da curiosidade. Jogos, atividades envolvendo Astronomia e oficinas que exploram conteúdos curriculares são utilizadas sempre com enfoque na interdisciplinaridade. Nessa empreitada conta-se com o auxílio do planetário inflável que, em local coberto, permite a contemplação do céu noturno a qualquer hora do dia e sob quaisquer condições meteorológicas. Em janeiro de 2007, procurando criar novas oportunidades para difusão de Ciência usando a Astronomia como motivação, criou-se uma Colônia de férias para crianças do Morro da Conceição, com duração de uma semana, onde noções sobre o Sistema Solar e Astronomia, de um modo geral, foram passados aos participantes. No encerramento da colônia houve a encenação de uma peça teatral pelas crianças tendo como tema o Sistema Solar. Esta oferta de atividade também teve como objetivo aproximar a comunidade do Morro da Conceição e o OV, o que foi plenamente alcançado. Projetos Atuais Outros projetos de Extensão foram implementados e encontramse devidamente cadastrados na PR-5. Alguns são citados abaixo. 80 A extensão Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos O Projeto Telescópios nas Escolas (http://telescopiosnaescola.pro. br) ampliou a oferta de atividades para professores da rede pública de Ensino. Destinado a instituições de Ensino Fundamental, Médio e Superior, permite que equipamentos localizados no OV sejam utilizados para observações remotas, ou seja, o usuário não precisa estar presente no local em que se encontra o telescópio. O observador direciona o telescópio a partir de um sítio na Internet para que as imagens dos astros sejam observadas na tela do seu computador. O programa estimula as investigações científicas em Astronomia e em outras áreas do conhecimento como física, geografia, informática e matemática. Os alunos podem, por exemplo, analisar a dinâmica das estrelas, planetas, asteróides, cometas e galáxias. A observação virtual permite o registro de fenômenos astronômicos em tempo real. Para participar, as escolas precisam se cadastrar gratuitamente e agendar uma observação remota. Astronomia para Poetas foi um ciclo de 10 palestras que aconteceu no período de 24 de setembro a 3 de dezembro de 2002. Ele foi realizado como uma parceria entre a Casa da Ciência da UFRJ e o Grupo de Estudos em Astronomia do Observatório do Valongo da UFRJ. Finalmente, o projeto Vida no Universo, que visa a criação de uma história digital da trajetória da evolução da Vida Complexa no planeta Terra, no formato de uma mini-enciclopédia virtual interativa. Esta história será contada a partir de resultados científicos recentes em Astrofísica de Sistemas Planetários, de Evolução Estelar e Galáctica, Paleontologia e Exobiologia. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 81 Glossário: Dr. Jean Delhaye: diretor do Observatório Astronômico de Besançon em 1960 Kohoutek: cometa que foi visível no final do ano de 1973 e início de 1974, descoberto pelo astrônomo tcheco Lubos Kohoutek; é um cometa de longo período orbital (aproximadamente 75.000 anos) Relógio solar dodecaédrico: relógio com 12 faces (somente 11 delas mostram o horário, já que uma serve como base para o mesmo) telescópio Cooke: telescópio refrator com 5,5 m de distância focal e 30 cm de abertura, construído em 1910 pela Cooke and Sons, Inglaterra telescópio Coudé: telescópio refrator/refletor com 2,25 m de distância focal e 15 cm de diâmetros construído nos anos 1960 pela Carl Zeiss Jena Encarnacion Amelia Martinez Machado é especialista pela UFF Rundsthen Vasques de Nader é astrônomo e Mestre pelo Observatório Nacional/MCT 82 A extensão Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Mesa de atividades no evento UFRJMAR, em Cabo Frio Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 83 Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos Mesa redonda com os entrevistados Evandro Paiva, Cintia Quireza, José Adolfo S. de Campos e Órmis Rossi realizada no dia 30 de novembro de 2007 no Observatório do Valongo. Observações sobre o infinito “Capaz de ouvir e de entender estrelas”, o verso de Olavo Bilac, afora sua beleza lírica, sintetiza a premissa da profissão que tem como missão a observação do infinito. A graduação em Astronomia, curso que, em 2008, completa seu cinqüentenário, é tema da mesa redonda que reúne quatro gerações de estudantes do Observatório do Valongo. Bem mais do que digredir sobre a consolidação da graduação de Astronomia no país, nossos entrevistados nos permitiram uma viagem a esse mundo que, por muitas vezes, soa como imaginário, abstrato, mas que deixa transparecer essa interessante condição dos estudiosos do cosmos, de olhos voltados para o universo e pés fincados na terra. C Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 85 Como foi o primeiro contato com a graduação de astronomia que faz 50 anos em 2008? CQ: Minha escolha pela Astronomia ocorreu quando eu ainda era menina. Sempre fui muito curiosa a respeito das coisas e o céu me fascinava. Uma cena que me marcou profundamente foi da minha mãe no quintal de nossa casa me explicando os planetas a partir de uma laranja, fazendo uma metáfora. Foi então o primeiro despertar, eu acho. A partir dali me interessei pelo assunto e fui pesquisar para saber qual instituição oferecia graduação em Astronomia. E assim fiz vestibular e passei a estudar no Observatório do Valongo. Ingressei em 1992 e logo segui a carreira acadêmica. Ainda sinto um profundo carinho por este espaço no qual estamos hoje. EP: Vim estudar Astronomia por acaso. Como eu morava no interior e todos os meus irmãos estudavam Engenharia ou Direito, eu saí de casa também para estudar e escolhi Astronomia. É curioso como as coisas acontecem. Assim entrei, na graduação e, quase ao me formar, fui trabalhar na antiga Embratel, agora Star One. É engraçado porque não segui carreira acadêmica e consegui um emprego numa empresa de grande porte. Lembro-me que, na época, um dos diretores disse que eu estava trilhando um caminho novo, e que era importante for- Cíntia Quireza – graduada em Astronomia pela UFRJ (1996), possui mestrado em Astronomia pela USP (1999) e doutorado em Astronomia pela mesma universidade (2005). Atualmente é pesquisadora do Observatório Nacional. Marco Fernandes 86 Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos Evandro Paiva – astrônomo formado pela UFRJ, trabalhava com Mecânica Celeste na antiga Embratel, hoje intitulada Star One. Marco Fernandes mar astrônomos para trabalhar não somente na carreira acadêmica, fazendo pesquisa. Era fundamental preparar profissionais para trabalhar nos centros, institutos de ciências e, porque não, em empresas também. Estudar no Observatório do Valongo foi, portanto, uma escolha muito feliz que fiz no passado e que me rende, atualmente, muitos frutos. OR: Embora eu, também quando criança, fosse deslumbrado pelas coisas do universo, minha primeira escolha profissional não foi a Astronomia. Foi curioso, pois eu já era adulto e estava dirigindo meu automóvel quando ouvi pela rádio que haveria concurso para graduação em Astronomia. Interessei-me de imediato e larguei o meu trabalho anterior para fazer o concurso. Passei e vim estudar no Rio de Janeiro, mais precisamente aqui onde estamos reunidos: no Observatório do Valongo. Passei algumas dificuldades, mas conheci pessoas maravilhosas e tive uma formação incrível. Hoje trabalho com divulgação científica no Planetário e estou realizado. Aquela decisão repentina dirigindo meu carro foi uma revolução. E teve início na graduação no Valongo. JAC: Ingressei numa época de mudanças na graduação do Valongo. O observatório tinha acabado de se instalar como unidade isolada do Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 87 Órmis Durval Rossi – graduado em Astronomia pela UFRJ (1977) e mestre pela UFRJ (1984). Atualmente é diretor de Astronomia na Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro. Marco Fernandes CCMN e ainda havia muita resistência em relação ao estabelecimento do Curso de Astronomia. Lembro-me da figura do professor Machado atuante na consolidação do curso e fui seguindo, interessando-me cada vez mais pela academia e pela questão de aplicação e Ensino. Formei-me e continuei me especializando sempre com a orientação acadêmica. Acho até que o Observatório do Valongo é uma espécie de segunda casa, é um espaço muito querido por mim, onde eu fiz grandes amigos. A graduação em Astronomia sofreu grande resistência da Academia e seu grande incentivador foi o professor Machado. Vocês têm alguma referência do trabalho desse professor para a consolidação do Curso de Astronomia? CQ: Para mim foi uma grande alegria ter sido uma das últimas alunas do professor Machado. E minha lembrança dele era de uma pessoa doce até certo ponto, sempre entusiasmado em ministrar aula, ter contato com os estudantes. É notória sua disposição para ensinar; ele dedicou toda sua vida ao Valongo e ao curso de graduação. Sem dúvida uma pessoa maravilhosa da qual me orgulho muito ter sido aluna. 88 Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos EP: O professor Machado, quando fui trabalhar na Embratel, me deu um conselho que não me esqueço até hoje. Ele disse que eu estava trilhando um caminho novo, porque era difícil um astrônomo ser contratado pelo mercado. Foi uma iniciativa interessante e houve um burburinho, isso porque aqui é pequeno, todos se conhecem, ainda mais naquela época. O professor Machado era um homem muito dedicado ao Valongo, sem dúvida. E isso ficou marcado na história do Observatório. JAC: Posso falar com tranqüilidade sobre o professor Machado, porque talvez eu seja uma pessoa que teve um contato longo com ele. Lembro-me que em 1968, se não me falha a memória, tive aulas com o professor Machado e fiquei impressionado com o seu fervor em ministrar aula, característica que mostrava o amor que tinha pelo estudo astronômico. Além de professor, sua liderança foi ímpar para a consolidação e manutenção do curso de Astronomia. Machado sempre possuiu uma visão otimista e motivadora do futuro, mesmo em momentos de desânimo de alguns com os acontecimentos. Era um grande companheiro e amigo do qual sempre vou lembrar com muito carinho. José Adolfo Snajdauf de Campos – graduado em Astronomia pela UFRJ (1971), possui mestrado em Informática pelo Instituto de Matemática da mesma universidade (2004). Atua principalmente em Ensino, Ambientes Virtuais, VRML, Realidade Virtual, Ambientes em 3D e Informática na Educação. Marco Fernandes Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 89 Marco Fernandes OR: Fui aluno e participei de pesquisas com o professor Machado, cuja capacidade intelectual e dedicação para com o curso eram inquestionáveis. Sempre tive muito respeito e boa relação com o professor Machado, ele era uma figura representativa do Observatório do Valongo e por quem os estudantes tinham verdadeira estima. Para vocês qual seria o currículo mais próximo do ideal levando em consideração nossas estruturas de ensino e a melhor formação possível do profissional em Astronomia? CQ: Pela minha formação aqui do Valongo e minha apreensão do curso, acho que a graduação é completa. Ainda não tive acesso às reformas propostas pelo professor José Adolfo, mas acredito que a graduação tem o seu valor e é bem completa, não tenho muito acrescentar e não saberia dizer em quê ela poderia melhorar. EP: Através da minha experiência percebi que a graduação em astronomia é muito voltada para a academia ou a docência. É evidente que nossa formação tem essa tendência para a pesquisa, mas acho que a graduação deveria tem um escopo muito mais amplo, uma formação mais geral para o aluno que queira fazer pesquisa ou não. Foi uma 90 Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos Marco Fernandes sorte eu conseguir trabalho dentro do mercado privado, pois não é muito comum no Brasil, um astrônomo trabalhando em empresas. Mas acredito que essa reforma venha propor essa abertura de possibilidades. OR: Acredito que o currículo tem que valorizar as diversas áreas da astronomia. A divulgação, o Ensino e Pesquisa, o mercado e a docência. Hoje trabalhando com a divulgação científica vejo que muitos astrônomos capacitados em relação a sua formação não conseguem atingir o grande público, não têm a capacidade de divulgar sua ciência e essa é uma tendência grande desde a graduação. Acho que um currículo mais amplo em que o estudante possa desenvolver diversas áreas da astronomia não vai somente ajudar aquele profissional no futuro, mas vai facilitar que a ciência seja mais bem divulgada e mais valorizada pelo público em geral. JAC: Formulamos o novo currículo justamente tentado atender a essa demanda de uma formação mais ampla do astrônomo. Até mesmo na questão do curso, estamos flexibilizando essa nova ênfase, que é a possibilidade dos alunos terem a chamada dupla titulação, quer dizer, o aluno ingressa no curso e fazendo mais uma ou duas disciplinas, por exemplo, vai obter o diploma de física. Ou então a dupla titulação de Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 91 físico e licenciatura em Física, porque o astrônomo não pode dar aula. Aliás, esse é um problema da nossa profissão, pois apesar de sermos doutores em alguns casos e podermos dar aula na pós-graduação, é vedado ao astrônomo ministrar aulas para o Ensino Médio ou Fundamental. Esse é um dos absurdos da lei brasileira. É a questão da reserva de mercado, pode-se ter todos os títulos do mundo, mas não se pode dar aula para o Ensino Fundamental, para o Ensino Médio, apesar da necessidade desesperada de professores. Essa titulação dupla vai permitir também que o estudante de astronomia retire o certificado de astrônomo estatístico; todas são coisas que têm muita aplicação. O astrônomo tem base matemática muito superior a muitas profissões. Existem casos de ex-alunos que trabalharam na área de computação, área superior de guerra, desenvolvendo sistemas, coisa que à primeira vista não teria relação com Astronomia; mas há capacitação para trabalhar. Temos muita Matemática e Física em nosso currículo e, a princípio, somos capazes de realizar várias tarefas em diferentes áreas. De maneira geral, o número de astrônomos formados por ano que entram no mercado de trabalho, seja com graduação ou com na pós-graduação, não é tão grande assim. O mercado é bastante atrofiado. Qual o papel da divulgação científica, no campo da Astronomia, para a transmissão do saber científico? CQ: Considero a divulgação científica ainda um problema no Brasil, existem poucos meios, e em geral as matérias são muito superficiais, com muitos erros. Acho que é um setor que deveria ter um cuidado maior, pois tem uma importância em distribuir conhecimento para nossa população tão carente de saber. Ainda temos muito a caminhar no que diz respeito à divulgação científica. 92 Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos OR: Cabe a mim discordar da nossa querida Cíntia, pois eu acho que o Brasil andou bem nos últimos anos na questão da divulgação científica. Eu trabalho no Planetário do Rio de Janeiro, lido com a questão da divulgação científica e tenho certeza que atualmente o número de revistas que têm a ciência como foco aumentou, assim como aumentaram também os programas de divulgação científica na televisão. Os profissionais do Planetário são muito requisitados para entrevistas e esclarecimentos dos fenômenos celestes ou de várias questões que concernem à Astronomia. Certamente não chegamos a um patamar ideal, mas estamos progredindo, principalmente em relação ao público infantil. A própria Casa da Ciência é um exemplo dessa iniciativa, o Planetário tem visitações e uma programação voltada para isso. E temos que observar a questão com muito senso, pois é uma área estratégica que necessita de pessoas preparadas para trabalhar. Tanto jornalistas e profissionais de Comunicação quanto cientistas preocupados com sua função na sociedade. Marco Fernandes Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 93 EP: Eu percebo esse processo de divulgação quando acontece algo e alguns profissionais de comunicação nos procuram para respondermos questões de temas variados relacionadas à ciência. Certamente a divulgação científica é fundamental para trazer nosso trabalho para o grande público. É óbvio, também, que isso está ligado ao processo de educação do povo, que com mais informação pode julgar e valorizar os feitos científicos. Eu considero que essa demanda é crescente e há de ser ter muito cuidado na apuração desse tipo de informação. Pois é necessária uma interpretação dos dados científicos para posteriormente divulgá-los para a grande massa. Sem dúvida, um trabalho importantíssimo. JAC: Existe uma questão por trás da divulgação científica que não podemos deixar de ressaltar. Por um lado existe a necessidade de profissionais de Comunicação preparados para lidar com informações às vezes densas e transformá-las, quase que transcrevê-las para uma linguagem mais popular e isso requer formação específica. Por outro lado existem também cientistas distantes e temerosos dessa divulgação, pois ainda existem veículos que deturpam as informações ou que não são muito éticos em suas reportagens. Contudo, concordo com o Ormis sobre a qualidade da divulgação científica no Brasil. Ainda temos que trilhar um longo caminho, mas acredito que tem melhorado; a ciência, e quando digo “ciência” estou me referindo a todas as áreas, também é assunto de jornal, televisão, revista e Internet. Quais são os horizontes para a pesquisa astronômica no Brasil? EP: Existe um potencial de pesquisa inexplorado, por causa das restrições de uma empresa privada. Um bom exemplo é o tempo de vida do satélite, associado à previsão de atividade solar para o próximo ciclo, ou seja, questões que dizem respeito aos satélites e que estão 94 Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos Marco Fernandes muito além da mecânica celeste, que tem sido o meu principal foco de trabalho. E como trabalhamos em ritmo de produção, a pesquisa vem sempre a reboque. As questões chegam, procuram o astrônomo e eu preciso respondê-las. Nossas pesquisas são muito curtas, são estudos, na verdade. Então eu imagino que exista um potencial de colaboração entre a empresa privada e a universidade. E que é uma possibilidade de pesquisa futura. CQ: No caso específico do Valongo, o aluno começa a fazer pesquisa dentro da própria graduação. Inclusive é norma que o aluno faça uma monografia de final de curso, que desenvolva algo nos rigores acadêmicos. Alguns alunos vão para o Observatório Nacional, O IAG, ou fazem pós-graduação no exterior, muitos astrônomos estão saindo do país, atualmente, e isso é importante porque pesquisadores jovens interagem muito, eles trazem informações de grupos diferentes, grupos que trabalham de forma diferente, técnicas de tratamento de da- Marco Fernandes 96 Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos dos, observações etc. Em geral, a dificuldade é o financiamento para a continuidade do estudo, pois os órgãos de fomento exigem dedicação exclusiva. Então, cientistas acabam não conseguindo um emprego fixo. Essas bolsas são temporárias, uma vez que acaba o período de um ano ou dois, você reza para que ela seja renovada. Então você vive fazendo relatórios, uma das condições esperadas é que você consiga publicar em revistas com referência, seus resultados científicos essa é, realmente, uma dificuldade, porque existe um prazo em que você consegue viver de bolsa e depois acaba. E nesse prazo você tenta arranjar um emprego, fazer concursos ou sair do país para estudar. Essa saída na verdade é um perigo, porque o estudante se torna um profissional superqualificado e, como o mercado ainda é muito pequeno, não se tem recompensa por esse aperfeiçoamento. OR: Os órgãos de divulgação científica são sempre importantes, mas não têm a missão primeira de realizarem pesquisas, o que não exclui Marco Fernandes Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 97 Marco Fernandes 98 um acompanhamento detalhado dos resultados de estudos de outros cientistas. Nós temos como objetivo a transmissão de uma informação correta, pois a imprensa necessita de uma linguagem clara e direta. Temos sorte, pois no Planetário contamos com um quadro de doze ou treze astrônomos com um perfil para cada especialidade. No momento em que se seleciona ou precisa de alguma opinião sobre um determinado tema, já tenho um profissional que pode aprofundar essa informação. Mas, de certa maneira, nós que estamos ligados à difusão científica, essa é a missão de um planetário, faz-se necessário um treinamento ligado à Pesquisa que é fundamental para nosso trabalho. Temos que pesquisar o que está sendo feito na Astronomia como um todo, em todas as áreas da Astronomia, pois é constrangedor, muito desagradável, você ser questionado e não estar sabendo a respeito do tema. Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos JAC: O problema geral do país, especificamente da ciência, é o mercado de trabalho. O curso de Astronomia forma de cinco a seis astrônomos por ano. Esses astrônomos que se dirigem especificamente à área acadêmica precisam fazer mestrado ou doutorado. A não ser na área do curso de difusão, que não possui essa necessidade, embora quem o tenha como titulação, num concurso sempre leva muito mais vantagem. Muitos formandos estão entrando no mercado de trabalho pela via de pós-graduações. A comunidade astrônoma no Brasil ligada à sociedade astronômica é, mais ou menos, composta por uns quatrocentos ou quinhentos astrônomos; quero dizer, não é um número grande, e os empregos são na área do governo. Principalmente através do governo federal, das universidades e institutos de pesquisa. Os municípios também trabalham nessa área com os planetários, que tendem mais para a difusão, entretanto, a oferta não é muito grande. Por essa dificuldade o pesquisador é levado a viver de bolsa como Cíntia levantou, só que o problema de viver de bolsa é o limite, pois não se pode viver ad eternum financiando pelo fomento, mesmo que você seja a pessoa mais capacitada do mundo. Existe um limite, esses órgãos financiadores têm um limite para isso. Esse é um problema, acho que não só da Astronomia, mas principalmente da ciência mais direta. As ciências aplicadas possuem outros obstáculos; quem fizer algo ligado à área química ou ao petróleo terá um mercado de trabalho maravilhoso. Quais os campos da Astronomia importantes ou estratégicos e que países seriam interessantes para fazer convênios com o Brasil? CQ: Dou valor a todos os campos. Dou valor à divulgação, dou valor à Pesquisa e dou muito valor ao ensino. Então, estratégico no sentido de dinheiro, não saberia dizer, pois acho que está difícil em todas as áreas. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 99 EP: Não sou ingênuo de achar que ciência só se faz com aplicação. De forma nenhuma; ciência se justifica pela própria atividade humana de gerar o conhecimento e possibilitar futuros avanços. Não se pode achar que o cientista tem que ir onde o dinheiro está. Porém é inegável que existem filões aonde o dinheiro chega. Por exemplo, acabo de regressar da França, onde ocorreu o lançamento do novo satélite STAR ONE C1, e cuja discussão estava em torno do veredito sobre o projeto da constelação Galileu da Europa. Toulouse é um centro de referência da França e havia perdido várias partes do programa. Nesse momento percebemos que existe uma decisão política também porque foi a comunidade que decidiu a destinação das verbas de pesquisa e Toulouse perdeu uma participação importante desse programa da constelação Galileu. O que considero estratégico, portanto, é a influência das decisões políticas. Mas eu acredito que é uma luta em várias frentes e, certamente, aqueles candidatos que vão para a frente da aplicação, onde o retorno é mais imediato, conseguem mais espaço. OR: Parece-me que o aspecto da pergunta se refere à melhor orientação para parcerias com nações estrangeiras. Entretanto considero que dependemos muito da nossa nação, de nosso país sair desse marasmo. Lembro-me que se falava muito do nosso atraso em astronomia na área de equipamentos; o Brasil não tinha observatórios, embora hoje o desenvolvimento da informática mostre outros rumos, pois é possível acessar instrumentos distantes através da Internet. O Brasil precisa parar com esse quadro temeroso que vivemos. Necessitamos evoluir para termos possibilidade de fazer boas parcerias. Essa situação retrata o quadro geral da nação. Necessitamos de crescimento permanente para melhorarmos a relação de pesquisas, e não digo na astronomia somente; em todas as áreas, só lamento quando vemos notícias como a que o Brasil está em 52º lugar num ranking educacional com 57 países. Isso é vergonhoso e a nação precisa dar esse 100 Observações sobre o infinito - Observatório do Valongo - 50 anos impulso para melhorar essas relações. A Pesquisa, a difusão e todos os segmentos. JAC: Concordo com o Órmis. O problema é a educação em geral, quero dizer, a valorização da ciência passa pela educação do povo. O povo só vai dar valor aos conhecimentos científicos e à ciência, quando tiver educação. Quando as pessoas não têm educação fica muito difícil questionar, dar um valor mais apurado e, por isso, esse reconhecimento implica em ação, um tipo de pressão educacional por uma melhor educação e consequentemente uma melhor distribuição de verbas para pesquisa. Se o povo não valoriza a essas questões, é difícil um governante dar valor, e um problema político que temos é a dificuldade de valorizar a educação. Um candidato que tinha como mote principal a educação acima de tudo teve 2,5% dos votos, independente das qualidades políticas ou não, é pouco. O nosso povo é um povo de educação rudimentar, de má qualidade. Houve uma inversão, quer dizer, antes a gente tinha poucas pessoas estudando, mas havia uma educação de qualidade. A escola pública era uma coisa importante, hoje em dia, quem vai para escola pública é o coitado que não tem dinheiro para pagar uma escola particular. O nível é o mais baixo possível. Geralmente, a colaboração de outros países é realizada através dos convênios que nós temos com a França, com países mais desenvolvidos etc. O principal realmente passa por valorizarmos a educação e, por subseqüente, teremos melhores condições para brigar por verbas. Cabe ao governante fazer essa distribuição e existe aí um jogo político de interesses que, às vezes, não é muito claro e por termos menos conhecimento é mais árduo defendermos a ciência. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 101 O coração da Galáxia de Whirlpool Fonte: Hubble Pós-Graduação em Astronomia Hélio Rocha-Pinto Histórico A implantação e consolidação da pós-graduação em Astronomia na UFRJ foi um processo árduo e demorado, para o qual concorreram diversas pessoas, em diferentes momentos. A primeira iniciativa de criar um Programa de Pós-graduação no Observatório foi feita pelo professor Luís E. S. Machado, no início da década de 80. Tratava-se de um mestrado, reconhecido pelo Conselho de Ensino para Graduados (CEPG) da UFRJ em 27/5/1981. Essa iniciativa não vingou por ser prematura: já nessa época, as pósgraduações existentes no país necessitavam de um corpo docente qualificado e de financiamento externo. Não havia, tampouco, recursos humanos no Observatório que permitisse o gerenciamento dessa pós-graduação, pois eram poucos os docentes que possuíam o título de doutorado. Ademais, a área de concentração desse mestrado era Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 103 extremamente limitada, demonstrando o isolamento das linhas de pesquisa desenvolvidas no Observatório em comparação àquelas desenvolvidas em outros institutos de Astronomia no país e no exterior. Uma segunda tentativa foi empreendida em 1987, motivada pela transferência do professor Rubens Pinto Mondaini do Instituto de Física para o Observatório do Valongo, com o propósito de ampliar as linhas de atuação da pós-graduação ainda existente, dando-lhe um perfil mais astrofísico. Mondaini tinha planos ambiciosos para a pós-graduação, mas diversos fatores emperraram a execução do programa. Já a partir dos meados da década passada, o corpo docente do OV encontrava-se qualificado, mais maduro e diversos egressos do curso de graduação em Astronomia ganhavam reconhecimento por sua atuação em cursos de pós-graduação externos, aumentando a credibilidade do Observatório entre a comunidade acadêmica. A necessidade de uma pós-graduação fazia-se cada vez mais premente. A iniciativa da implantação de um novo programa de pós-graduação, desta vez, partiu de Heloísa M. Boechat-Roberty, que havia desativado o programa anterior no começo dos anos 90. Há muito, pesquisadores do Observatório Nacional vinham interagindo e apoiando o OV, por orientação de alunos de iniciação científica, trabalhos de final de curso, mestrado e doutorado, coordenação de programas de pós-doutoramento e trabalhos de colaboração científica. Essa colaboração foi lentamente convertendo-se, ao longo do fim dos anos 90, numa proposta de acordo, através da qual, docentes do Observatório Nacional poderiam ministrar aulas na graduação do OV e vice-versa. Esse acordo não chegou a ser firmado, mas a colaboração entre os institutos foi alargando-se e algumas dissertações de mestrado vieram a ser orientadas no Observatório Nacional por docentes do Observatório do Valongo. Finalmente, em 2001, alguns pesquisadores interessados em abrir uma nova pós-graduação 104 Pós-graduação em Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos em astronomia propuseram sua transferência para o Valongo. Sua realocação teve de ser costurada durante vários meses, em acordos adicionais entre o ON - MCT e a UFRJ, que culminaram na assinatura do termo de convênio de cooperação, segundo o qual a UFRJ e o Observatório Nacional formalmente comprometeram-se a promover ações para o “intercâmbio de conhecimentos técnicos, científicos e culturais; atividades de Ensino e Pesquisa; cessão mútua de uso de recursos laboratoriais; desenvolvimento de projetos específicos (...), e parcerias para o desenvolvimento de projetos”, entre outros (UFRJ, 2003). O acordo permitiu, na prática, que cinco pesquisadores do ON - CT fossem temporariamente transferidos ao OV - UFRJ, com vistas à implantação de um programa de pós-graduação no Valongo. No Observatório do Valongo, esses pesquisadores formaram o GEA (Grupo de Estudos em astronomia), que serviu como núcleo para a formação do atual programa de pós-graduação em Astronomia. Entretanto o caminho não foi simples. Embora o programa tenha sido aprovado pelo CEP - UFRJ em 23/8/2002, através do processo nº 23079.003403/02-29, para a área de Astronomia em níveis de mestrado e doutorado, a Capes relutou a recomendá-lo, sob a argumentação de que o programa dependia demasiadamente de docentes externos, e só o fez após interposição de recurso à avaliação. A comissão de avaliação do recurso, composta pelos professores Antônio S. Teixeira Pires (UFMG), na qualidade de representante de área na CAPES, Zulema Abraham (IAG - SP) e Gabriel A. P. Franco (UFMG), formou uma consultoria científica externa encarregada de visitar o Observatório do Valongo e emitir um parecer consubstanciado sobre a capacidade do instituto em gerir um programa de pósgraduação. A consultoria externa, constituída pelos professores Luiz Paulo R. Vaz (UFMG) e Sueli M. M. Viegas (IAG - USP), realizou a visita in loco no dia 19 de dezembro de 2002, quando pôde esclarecer diversos dos pontos negativos da primeira avaliação, baseada na solicitação de implantação da pós. Finalmente, no dia 24 de fevereiro Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 105 de 2003, a comissão de avaliação do recurso considerou o parecer consubstanciado da consultoria externa e recomendou ao Conselho Técnico Científico da Capes que reconhecesse a especialização em Astronomia da UFRJ para o nível de mestrado. A recomendação do curso ocorreu no dia 8 de abril de 2003, e o primeiro semestre letivo começou em agosto do mesmo ano. O credenciamento definitivo do curso pelo MEC, com a respectiva permissão para emissão de diplomas, só veio no dia 3 de junho de 2004, através da Portaria nº 1.651 (MEC, 2004), assinada pelo então ministro interino da Educação, Paulo Haddad. Esse credenciamento foi feito por solicitação da Capes, sem que qualquer pessoa da UFRJ tivesse sido informada. Só se tomou conhecimento quando a Divisão de Diplomas da UFRJ negou-se a emitir o diploma do primeiro formando do curso, em 2005, porque a portaria de credenciamento era desconhecida. Coube à professora Heloísa localizar a portaria de credenciamento do curso. Como mencionado acima, o CEPG credenciou um curso de mestrado e outro de doutorado, pois esse era o propósito inicial da solicitação a Capes. Todavia, após o longo embate para o credenciamento da pós-graduação, apenas o curso de mestrado foi aprovado pela Capes. Os motivos foram explicitados no parecer da comissão de avaliação do recurso: “é política da área de astronomia e física só analisar o pedido de implementação de um programa de doutorado em instituições em que o mestrado já está consolidado. (Capes, 2003). Este é atualmente o sonho do Observatório, que pretendemos realizar em breve, desta vez, com menos dificuldades do que aquelas enfrentadas pelos pioneiros. Desde sua implantação, a pós-graduação em Astronomia sofreu algumas modificações. O GEA desfez-se um ano após sua criação, com o retorno de seus membros ao Observatório Nacional. Três de seus componentes, entretanto, continuam associados à pós-graduação, no convênio ON - UFRJ, e um novo docente do Observatório 106 Pós-graduação em Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Nacional foi credenciado na pós-graduação em março de 2007. A colaboração com o Instituto de Física fortaleceu-se, com o ingresso de quatro de seus pesquisadores ao corpo docente da especialização em astronomia. Sua participação ampliou a interdisciplinaridade da pós-graduação, possibilitando a incorporação de temas de fronteira entre a Física e Astronomia no elenco de áreas de pesquisa cobertas. Duas novas contratações de docente, no Observatório do Valongo, ampliaram a participação dos docentes internos, contribuindo para a consolidação de um sentimento institucional de que a pós está funcionando com todo o vigor característico das especializações de outros institutos. As metas para o futuro são ambiciosas e mesclam-se com as diretrizes institucionais do Observatório do Valongo. Além da busca pelo credenciamento de curso do doutorado, a pós-graduação em Astronomia pretende ser o núcleo agregador da atividade científica do Observatório, servindo como fonte de estímulo à continuidade das iniciações científicas e dos projetos de fim de curso desenvolvidos pelos alunos da graduação e embasando os pleitos institucionais para novas contratações de docentes. Paralelamente, o montante financeiro repassado à pós-graduação pela Capes, através do Programa de Apoio à Pós-graduação (Proap), não só tem viabilizado suas atividades, como produzem efeitos sobre todo o Observatório, possibilitando a reutilização de espaços do campus Valongo e a manutenção de um ciclo de seminários de excelência. A especialização em Astronomia esmera-se por manter esse papel motriz na vida acadêmica de nossa instituição. Características da pós-graduação em Astronomia da UFRJ Pesquisa e pós-graduação na Astronomia moderna requerem a possibilidade de uma formação que, ao mesmo tempo, tenha uma base sólida e a possibilidade de algum grau de liberdade quanto à interdisciplinaridade, devido à diversidade de atividades que esta área Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 107 apresenta atualmente. Buscamos ter essa interdisciplinaridade em uma composição mista do quadro docente, mesclando as áreas da Física, Matemática e Química. Atualmente, o programa está estruturado para formar profissionais nas sub-áreas da Astronomia usualmente denominadas: • • • • • • • • Astrobiologia Astrofísica Estelar Astrofísica Extragaláctica e Cosmologia Astrofísica de Altas Energias Astrofísica Galáctica e Meio Interestelar Astrometria Astroquímica Sistemas Planetários Os docentes são divididos em três núcleos institucionais principais: OV - UFRJ, IF - UFRJ e ON - MCT. Os cursos tendem a ser ministrados no respectivo instituto onde o docente está alocado. Os alunos do programa, contudo, podem escolher se pretendem desenvolver sua dissertação em um dos dois laboratórios de pós-graduação do campus Valongo ou junto de seu orientador, no respectivo instituto. Desde sua implantação, a pós-graduação tomou para si a tarefa de coordenar o ciclo de seminários semanais do Observatório do Valongo. Graças às verbas do Proap, pesquisadores de renome de outras instituições nacionais podem ser convidados para apresentar seminários. Desde 2004, além de palestrantes internos, o Observatório recebeu palestrantes externos dos seguintes institutos: Observatório Nacional, Instituto de Física - UFRJ, COPPE - UFRJ, IGEO - UFRJ, CBPF, Universidade do Arizona, IBBC - UFRJ, INPE - MCT (2), University College (1), Unicsul, IF-UFRGS, UFSC. 108 Pós-graduação em Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Pretendemos que o profissional formado com a titulação de mestre ou doutor, neste programa, já se tenha envolvido durante sua formação com algum projeto de pesquisa produtivo e relevante, tendo participado de publicação de artigos em periódicos de circulação internacional com arbitragem e que esteja capacitado para ingressar imediatamente em programas de pós-doutoramento nos melhores centros de pesquisa nacionais e no exterior e concorrer, logo após, a posições de trabalho em instituições acadêmicas de Ensino e Pesquisa. Áreas de pesquisa Astrobiologia. Estudo da vida no contexto cósmico. Sobrevivência de complexos químicos e microorganismos à intempéries espaciais. Distribuição de elementos químicos essenciais à vida na galáxia. Estrelas semelhantes ao Sol. Busca por planetas terrestres extrasolares. Projetos de pesquisa: a) Ionização e fragmentação de moléculas interestelares nas regiões do UV e Raios – X; b) Evolução química de biomoléculas no meio interestelar; c) Estrelas astrobiologicamente interessantes. Astrofísica Estelar. Estudo de propriedades físicas de estrelas. Estrelas similares ao Sol. Cromosferas estelares. Envoltórios estelares. Reações nucleares no interior de estrelas. Transporte radiativo em estrelas. Projetos de pesquisa: a) Análise detalhada de abundâncias de estrelas gigantes e anãs de bário; b) Busca de estrelas gêmeas e análogas solares; c) Estrelas C: estágio evolutivo e contribuição ao enriquecimento do meio interestelar; d) Evolução estelar: estágios tardios; e) Idades e abundâncias estelares; f) Variações do diâmetro solar. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 109 Astrofísica Galáctica e do Meio Interestelar. Estudo das propriedades físicas e químicas dos diversos componentes da galáxia e suas interrelações. Projetos de pesquisa: a) Estrutura e evolução química da galáxia; b) Evolução galáctica; c) Excitação de átomos e moléculas de atmosferas planetárias e meio interestelar por impacto de elétrons. Astrofísica Extragaláctica e Cosmologia. Estudo de propriedades físicas de galáxias e suas relações com o meio ambiente; de aglomerados e superaglomerados de galáxias; exame de previsões observacionais de modelos cosmológicos. Estudos teóricos de modelos cosmológicos. Projetos de pesquisa: a) Anisotropia dos raios cósmicos; b). Astrofísica nuclear; c) Cosmologia; d) Cosmologia e teoria de campos; e) Dark energy survey; f). Estruturas e movimentos em grande escala do Universo; g) Estudo de formação e evolução de galáxias e estruturas em grande escala; h) Aglomerados de galáxias; i) Influência de parâmetros cosmológicos sobre a anisotropia da radiação cósmica de fundo; j) Mapeamento da energia escura; k) Propriedades individuais de galáxias; l) Teste de modelos cosmológicos com a função de luminosidade; m) Galáxias H II. Astroquímica. Estudo de formação e destruição de moléculas no meio interestelar. Projetos de pesquisa: a) Dados atômicos e moleculares para a Astrofísica (DAMA); b) Estudo da fotodissociação iônica através da técnica de tempo-de-vôo. Astrometria. Estudo do Sistema Internacional de Referência Celeste e os catálogos que o representam, incluindo as futuras missões espaciais astrométricas. Estudo do Sol como objeto astronômico de interesse especial. 110 Pós-graduação em Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Projetos de pesquisa: a). Astrometria de radiofontes extragalácticas do ICRS nos telescópios do LNA; b). Missão satélite GAIA; c) Posições ópticas de radiofontes galácticas e extragalácticas do hemisfério Sul, d) Representações do ICRS. Sistemas planetários. Estudo da origem e evolução dinâmica e física do Sistema Solar. Estudo da dinâmica de formação e estabilidade de sistemas planetários. Projetos de pesquisa: a) Astronomia dinâmica e Astrometria.; b) Estudo da origem e evolução dinâmica e física do Sistema Solar. c) Estudo da dinâmica de formação e estabilidade de sistemas planetários; d) Propriedades astrofísicas de exoplanetas; e) Órbitas de satélites naturais. Coordenação Comissão de Pós-graduação • Hélio Jaques Rocha Pinto (OV - UFRJ), coordenador da Pósgraduação. • Heloísa M. Boechat-Roberty (OV - UFRJ), vice-coordenadora da Pós-graduação. • Gustavo F. Porto de Mello (OV - UFRJ), representante docente titular. • Sérgio E. C. E. Jorás (IF - UFRJ), representante docente titular.Roberto V. Martins (ON - MCT), representante docente titular. • François Ch. Cuisinier (OV - UFRJ), representante docente titular. • Denise R. Gonçalves (OV - UFRJ), representante docente suplente. Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 111 • Marcelo Assafin (OV - UFRJ), representante docente suplente. • Gustavo H. Dopcke, representante discente titular. • Marcelo de L. Leal Ferreira, representante discente suplente. Corpo técnico-administrativo • Rosa Carvalho (Secretaria Acadêmica) • Altair Gomes (Assessoria à Coordenação) • Mônica Erthal de Souza (Gerenciamento do PROAP) Coordenadores da Pós-graduação, incluindo o período de 19811990. • Hélio Jaques Rocha-Pinto (a partir de 2006) • Heloísa Maria Boechat-Roberty (2003-2006) • Heloísa Maria Boechat-Roberty (1990) • Rubens Pinto Mondaini (1987-1989) • Luís Eduardo da Silva Machado (1981-1987) Corpo docente Docentes da Pós-Graduação em 2007 • Alexandre Humberto Andrei, Ph.D. Cambridge (1988). • Denise Rocha Gonçalves, Ph.D. USP (1997). • François Christophe Cuisinier, Ph.D. Strasbourg (1994). • Gerardo Gérson Bezerra de Souza, Ph.D. USP (1977). • Gustavo Frederico Porto de Mello, Ph.D. ON/MCT (1996). • Helio Jaques Rocha-Pinto, Ph.D. USP (2000). • Heloisa Maria Boechat-Roberty, Ph.D. CBPF (1990). • Ioav Waga, Ph.D. IF - UFRJ (1990). • João Ramos Torres de Mello Neto, Ph.D. CBPF (1992). • Luis Alberto Nicolaci da Costa, Ph.D. Harvard (1979). • Marcelo Assafin, Ph.D. ON - MCT (1996). 112 Pós-graduação em Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos • Marcelo Byrro Ribeiro, Ph.D. Queen Mary and Westfield (1992). • Maurício Ortiz Calvão, Ph.D. CBPF (1985). • Paulo Sérgio de Souza Pellegrini, Ph.D. ON - MCT (1988). • Roberto Vieira Martins, Ph.D. Paris (1982). • Sérgio Eduardo de Carvalho Eyer Jorás, Ph.D. IF - UFRJ (1998). • Silvia Lorenz Martins, Ph.D. Nice (1995). • Teresinha de Jesus Stuchi, Ph.D. ITA (1991). Docentes da Pós-graduação em períodos anteriores • Márcio A. Geimba Maia (ON - MCT), entre 2003-2005 • Rodney da Silva Gomes (ON - MCT), entre 2003-2006 Docentes da antiga Pós-graduação do OV - UFRJ (1981-1990) • Luiz Eduardo da Silva Machado • Teodoro Vives • Henri Debehogne • Walter Pollis • Jorge Albuquerque Vieira • Fernando A. Prado • José Felipe C. Caldeira • Jair Koiller • José Augusto Buarque de Nazareth • Anníbal Parracho Sant´Anna • Paulo Roberto Oliveira • Wilson John P. Mendonça • Rubens Mondaini Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 113 Corpo Discente Discentes da Pós-graduação em 2007 • Alberto Alves de Mesquita (ingresso 2007/1) • Álvaro Iribarrem (ingresso 2007/2) • Eduardo Monfardini Penteado (ingresso 2007/1) • Felipe Braga Ribas (ingresso 2007/1) • Marcelo de Lima Leal Ferreira (ingresso 2007/1) • Nilo Serpa (ingresso 2007/1) • Gustavo Henrique Dopcke (ingresso 2007/1) • Leandro Lage dos Santos Guedes (ingresso 2005/2) • Mauro Argenta (ingresso 2005/2) • Carlos Augusto Molina Velásquez (ingresso 2005/2) Discentes da Pós-Graduação em períodos anteriores • Rosicler da Silva Neves (2005-2007, mestre em 4/4/2007). • Valdir Antunes Filho (2005-2007, abandonou). • Luís Juracy Rangel Lemos (2004-2006, mestre em 16/10/2006). • Gustavo de Barros (2004-2006, mestre em 8/5/2006). • Leandro Di Bartolo (2003-2005, mestre em 6/9/2005). • Sérgio Calderari Boscardin (2003-2005, mestre em 15/12/2005) Estrutura curricular As cargas horárias mínimas de atividades pedagógicas para obtenção do título de mestre em Astronomia e de doutor em Astronomia serão respectivamente de 300 (trezentas) e 450 (quatrocentas e cinqüenta) horas de aula. O curso de mestrado exige que o aluno curse pelo menos três disciplinas de um elenco de onze consideradas básicas. Entre as dis- 114 Pós-graduação em Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos ciplinas básicas, três são oferecidas pelo Instituto de Física, através de convênio com o Observatório do Valongo - UFRJ. Disciplinas básicas: Astrometria (OVL700); Astrofísica extragaláctica (OVL702); Astronomia fundamental (OVL701); Eletrodinâmica clássica (FIW704); Estrutura e dinâmica da galáxia (OVL706); Evolução estelar (OVL705); Introdução à mecânica celeste (OVL704); Mecânica estatística (FIW701); Mecânica quântica (FIW702); Processos radiativos em astrofísica (OVL703); Teoria de perturbação (OVL707) Disciplinas eletivas: Astrofísica molecular (OVL712); Cosmologia (OVL714); Dinâmica conservativa do sistema solar (OVL716); Dinâmica não conservativa do sistemasolar (OVL709); Evolução colisional no sistema solar (OVL710); Formação de galáxias (OVL713); Meio interestelar (OVL711); Disciplina de tópicos (OVL715) Disciplinas da antiga pós-graduação do OV/UFRJ (19811990): Constantes fundamentais da astronomia (VAM701); Tratamento de dados astronômicos (VAM702); Metodologia da pesquisa em Astronomia (VAM703); Estudo de Problemas Brasileiros (CMB701); Teoria das probabilidades (MAD790); Análise numérica I (MAB721); Mecânica racional clássica (MAC794); Astrometria fotográfica (VAM711); Instrumentação Astrométrica Extrameridiana (VAM712); Métodos Matemáticos em Astrometria Extrameridiana (VAM713); Métodos de Mecânica Celeste em Astrometria (VAM714); Tópicos especiais em Astrometria Extrameridiana (VAM715); Instrumentação Meridiana (VAM721); Astrometria zenital (VAM722); Métodos matemáticos em astrometria meridiana (VAM723); Métodos astrométricos de observação meridiana (VAM724); Tópicos especiais em astrometria meridiana (VAM725) Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 115 Dissertações defendidas: 1. Análise de observações do diâmetro no contexto da atividade solar — Sérgio Calderari Boscardin. Orientador: Alexandre H. Andrei. 2. Análise espectroscópica detalhada de estrelas candidatas a gêmeas solares — Leandro di Bartolo. Orientador: Gustavo F. Porto de Mello. 3. Perturbações das equações de Einstein-Boltzmann e suas aplicações à radiação cósmica de fundo — Gustavo de Barros. Orientador: Maurício Ortiz Calvão. 4. Homogeneidades espacial e observacional da distribuição de galáxias — Luís Juracy Rangel Lemos. Orientador: Marcelo Byrro Ribeiro. 5. Fotodestruição do benzeno em ambientes interestelares — Rosicler da Silva Neves. Orientadora: Heloísa Maria BoechatRoberty. Professor Hélio Rocha-Pinto, Doutor pelo IAG/USP 116 Pós-graduação em Astronomia - Observatório do Valongo - 50 anos Foto da fachada da Biblioteca do Valongo Série Memorabilia - Universidade Federal do Rio de Janeiro 117 Esta publicação foi composta em Adobe Garamond e Optima. O miolo foi impresso sobre papel offset 120 g/m2 e a capa em papel duo design 250 g/m2 pela gráfica Sol Gráfica, no Rio de Janeiro, em maio de 2008.