Resumo da Tese de Doutorado de José Renato

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Resumo da Tese de Doutorado de José Renato Ferraz da Silveira
Cap I – Elisabeth (1558-1603)
Em síntese: a) na ascensão ao trono inglês: Elisabeth tivera uma infância difícil e uma
adolescência acidentada. A educação recebida na infância é determinante para a formação da
personalidade da futura rainha. Diante das dificuldades, aprendeu quando se conservar em
silêncio, como contemporizar e administrar seus recursos. Afastou-se completamente de
qualquer ato conspiratório contra sua irmã, a rainha católica Maria Tudor. E quando sob
rígida vigilância, manteve-se serena e humilde. Elisabeth mostrou-se uma princesa inteligente
e reservada. Utilizava bem a astúcia e arte dos subterfúgios; b) escolha dos ministros:
escolheu conselheiros que se distinguiam mais pela inteligência e talento do que por riqueza
econômica e poder político. O Conselho Privado, o círculo mais interno do governo, foi
reduzido de 39 para 19 membros. A rainha exigia de seus assessores dois sentimentos novos –
patriotismo e a consciência da razão de Estado – e deixava claro que quem comandaria o
barco do Estado seria ela e mais ninguém. O Conselho se reunia em longas sessões, e na
ausência da rainha, ela exigia relatório detalhado das discussões; c) ao se casar com a
Inglaterra: uma das armas diplomáticas mais poderosas de Elisabeth era oferecer sua mão em
casamento. Em vão reis e príncipes a cortejaram. Com todos usava o jogo de galanteios e
requebros para no fim não aceitar o pedido de casamento. Foi muito cuidadosa no
relacionamento com o Conde de Leicester, segundo alguns autores, o amor de sua vida, para
não provocar “conflitos” internos. E ao mesmo tempo, não casou com nenhum rei ou príncipe
estrangeiro para não envolver-se na política continental e ter que enfrentar no futuro a
hostilidade dos adversários de seu esposo. Para a bem sucedida política de equilíbrio de poder
da Inglaterra, utilizou-se do seu próprio valor potencial para dividir a Europa numa eventual
combinação contra ela. Além de que pode criar uma imagem pública de “Rainha Virgem”,
eternamente jovem, santa, pura, casta e que dedicaria sua vida para o povo inglês. d)
confronto com a rainha escocesa Mary Stuart: a rainha Elisabeth evitou a todo momento criar
uma inimizade ou conflito com a prima e rainha católica Mary Stuart. Temia que o norte da
Inglaterra, de maioria católica, visse Mary como uma alternativa ao poder e pegasse em armas
contra sua própria rainha. Outro temor foi a bula de excomunhão expedida pelo papa Pio V e
as ameaças espanholas que se tornavam cada vez mais frequentes. Depois de duas rebeliões
mal sucedidas e a tentativa malograda de assassinar a rainha Elisabeth, Walsingham tramava
armadilhas para testar a lealdade de Mary Stuart e provar a cumplicidade dela com as
conspirações contra a rainha Elisabeth. Ingenuamente, a rainha escocesa Mary Stuart caiu
numa dessas armadilhas. Com apoio do Parlamento e pressão dos ministros, a rainha viu-se
obrigada a mandar executar Mary Stuart. Elisabeth responsabilizava seus conselheiros
masculinos pela morte da prima e companheira de nobreza; e) guerra contra a Invencível
Armada: depois da morte de Mary Stuart e a Bula de excomunhão do Papa Pio V, a guerra
contra a Espanha era inevitável. Todos os preparativos para defender-se da invasão da
Armada espanhola foram executados. Viagens ao redor do mundo, saques e pilhagens ao ouro
e prata espanhol trazidos da América, modernização da frota inglesa, novas estratégias de
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combate navais, inexperiência do comandante espanhol e as tempestades foram alguns dos
fatores que condicionaram a vitória inglesa contra a Invencível Armada espanhola. f) duelo
mortal com o ambicioso e carismático conde de Essex: a rainha Elisabeth tinha um novo
favorito, o conde de Essex. Este desejava uma política exterior mais arrojada. Essex
comandou uma expedição para Cádiz que permitiu aos ingleses dominarem, quinze dias, a
cidade. Essa vitória em território espanhol aumentou a popularidade de Essex entre os
membros mais jovens da Corte e em todo o país. Logo, o conflito entre Essex e a rainha
Elisabeth tornou-se evidente. Após uma malsucedida invasão no Açores, Elisabeth não
tornaria a mandar a esquadra para fora do Canal da Mancha. Essex tentou recuperar o
prestígio com a rainha, buscando dominar a Irlanda. Fracassou e desesperado, pediu ao seu
grupo que encomendasse a exibição da peça Ricardo II junto à companhia do Carmelengo. A
peça que trata sobre o rei destronado. A companhia relutava, argumentando que se tratava de
uma peça velha e que não atrairia público. Quando lhes foram oferecidos 40 shillings, no
entanto, concordaram e, no dia 7 de fevereiro de 1601, interpretaram a tragédia da deposição e
morte do rei Ricardo II ante uma platéia de aprendizes, estudantes de direito, soldados e
fidalgos. No dia 8 de fevereiro, pela manhã, trezentos homens armados avançaram por
Londres para libertar a rainha de seus maus conselheiros. Ninguém juntou-se a eles. Essex e
outros líderes entregaram-se. Na Torre de Londres, Essex foi executado. A rainha, em seu
último ato de poder, revelou, de fato, quem mandava no barco do Estado, era ela e nenhum
senhor. Demonstrou que era uma governante realista diferente do rei Ricardo II, com uma
sabedoria e perspicácia política capaz de se adequar a cada situação tendo em vista o êxito da
conquista ou manutenção do poder. A rainha Elisabeth possuiu a virtù, a virtude, o mérito, a
capacidade de imprimir mudanças no curso da história e realizou grandes obras. Ela foi capaz
de promover a estabilidade no reino da Inglaterra, dominou as situações e inseriu sua ação no
tempo.
Cap II – Contexto histórico (1564-1616)
Contexto de Renascimento – ideias, valores, questões políticas, econômicas, culturais,
detalhes da vida de Shakespeare. Transição entre fundamentos políticos da idade média e
idade
moderna.
Cap III – Ricardo II (1377-1399)
Fica evidente, nesse cenário histórico, marcado pelo policentrismo do poder, que a
legalidade é um princípio mutável, conforme quem ocupa o poder e explora as manobras
parlamentares e legais para assegurá-lo. Elisabeth e o próprio Henrique IV foram capazes de
se sustentar, mantendo os dois postulados jurídicos em perfeita simetria, enquanto Ricardo II
travou quatro duelos mortais com a sociedade aristocrática feudal: em 1386 foi derrotado, em
1389 foi vitorioso, em 1398 foi supremo e, em 1399, foi destruído.
Cap IV – Ricardo II (1595-1596)
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Ricardo II faz parte das chamadas peças históricas da Dramaturgia shakesperiana: a
segunda tetralogia sobre a História da Inglaterra, em torno da figura de Henrique de
Bolingbroke (Henrique IV, Partes 1 e 2), a qual também inclui Henrique V.
Para muitos críticos, a peça Ricardo II é a mais formal e cerimonial das peças shakesperianas,
onde os conflitos de natureza política e bélica que geram a ação permanecem sempre nos
bastidores das evocações, são cenas de violência, traição e vingança, de profunda carga
emotiva, como a da célebre deposição do rei. Para os leitores e espectadores hoje em dia, a
excentricidade em Ricardo II é a formalidade que tem um efeito maravilhoso e que provoca
um certo estranhamento.
Dotado de uma natureza lírica, esse drama histórico forma uma tríade, ao lado de
Romeu e Julieta, uma tragédia lírica, e Sonho de uma Noite de Verão, a mais lírica das
comédias shakesperianas. Embora seja a menos famosa das três e contenha altos e baixos,
Ricardo II é uma peça esplêndida; trata-se do melhor drama histórico escrito por Shakespeare,
excetuando-se as peças de Falstaff, isto é, as duas parte de Henrique IV (BLOOM, 1998, p.
317).
Shakespeare cria nesse Drama histórico uma verdadeira tragédia lírica, não apenas nos
aspectos formais e temáticos que a estruturam, mas também na função profundamente
catártica que ela exerce. Entenda-se uma catarse de espectro amplamente político, social e
moral, dentro e fora do teatro, numa esfera de valores que transcende o indivíduo da platéia
nos seus contornos psicológicos e o remete para a rua, para a cidade e para o mundo de todas
as vivências, as mais simples e as mais complexas, desde o homem comum à proeminência
dos altos dignitários da nobreza e do clero, à soberania do monarca. Através da criação do
pathos, numa mistura de sentimentos de piedade, indignação e horror, a linguagem poética do
drama. Age primordialmente como instrumento de provocação, enquanto se afirma como
meio tradicional de excelência para obter do público uma resposta social e politicamente
compreendida.
Ricardo II não é uma peça caracterizada pelo relato e pela representação dos fatos em
si, mas pelo seu desdobramento em sequências de momentos quase sempre de espera em que
a situação sobranceira auto-confiante do rei e de todos os que o acompanham, estejam do seu
lado ou em oposição, se vai dissipando em presságios funestos até alçar a mais profunda
trágica desesperança. As falas mais pungentes são proferidas pelo próprio protagonista
Ricardo II. É interessante observar que na opinião do crítico Harold Bloom, Ricardo II não
passa
de
um
ensaio
para
a
criação
do
personagem
Hamlet.
Ricardo II não é uma das peças shakesperianas mais conhecidas do público. Uma breve
retrospectiva pela sua recepção na Inglaterra dá conta de oscilações significativas na
apreciação e avaliação que as diferentes épocas lhe atribuem. Junte-se a isso a reação política
que despertou junto ao público elizabetano, por razões que oportunamente falaremos daqui
em diante. De certa forma, mesmo após algum interesse crítico suscitado nos meios culturais
augustanos, particularmente em Dryden e Samuel Johnson, a peça é relegada comumente para
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alguma penumbra da memória das platéias e dos críticos. Será no século XIX romântico, pela
voz crítica de Coleridge e, algumas décadas mais tarde por Pater, Montague, Yeats e
Swinburne, que a obra recupera enquanto retrato do homem na sua dimensão de
masculinidade e não na simbologia política que, ao tempo de Shakespeare, lhe valera a
reputação de peça subversiva e revolucionária. O período entre as duas guerras mundiais
fizeram de Ricardo II uma das peças mais conhecidas do público teatral.
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