FCHG18 - Mestrado em Filosofia - Ufba

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Departamento de Filosofia
Programa de Pós-graduação de Filosofia
Prof.: Waldomiro Jose da Silva Filho ([email protected])
Disciplina: Tópicos Especiais de Filosofia da Mente: Razões e pessoas
EMENTA
Quase sempre se considera que um indivíduo é racional não apenas porque ele tem
pensamentos e crenças e porque esses pensamentos e crenças podem influenciar ou
explicar suas ações, mas principalmente porque esse indivíduo pode entender, avaliar e
ponderar, crítica e reflexivamente, seus próprios pensamentos e crenças e orientar suas
decisões e ações à luz desse entendimento.
Uma suposição profundamente arraigada acerca da mente humana e da ação
humana é a suposição de que temos um acesso privilegiado aos nossos estados mentais,
incluindo crenças e desejos, sem apelar para evidências empíricas: se uma pessoa
acredita ou deseja algo (S acredita que p), ela não precisa recorrer à observação
empírica do entorno ou à inferências para conhecer o que ela tem esta crença e este
desejo.
Parece que a própria ideia de crença – e do lugar que a crença ocupa no quadro
explicativo das nossas ações – envolve a suposição de um conhecimento da própria
crença. Ou, como escreve Colin McGinn, “... a racionalidade, tal como a concebemos,
requer o conhecimento dos conteúdos da própria mente.” Quassim Cassam pontua que
nosso conhecimento de nossos pensamentos é entendido tanto como o conhecimento do
que estamos pensando quanto o conhecimento dos conteúdos de nossos pensamentos.
Para outros autores, a perspectiva tradicional espera que não apenas tenhamos acesso
privilegiado ao fato de que nossos pensamentos ocorrem, mas que tenhamos acesso
privilegiado aos conteúdos desses pensamentos de um modo que as outras pessoas não
têm. Alguns autores são ainda mais enfáticos ao afirmar que nossa capacidade para ter
autoconhecimento não é “um componente opcional de nossa auto-concepção comum”,
uma tese que podemos simplesmente descartar e, mesmo assim, preservar o que
pensamos sobre nossa natureza humana; o autoconhecimento, ao contrário, é “uma parte
fundamental desta concepção” de nós mesmos enquanto pessoas, seres racionais,
agentes.
Este curso analisará a relação entre racionalidade e a ideia de autoconhecimento
(enquanto conhecimento do conteúdo dos próprios estados mentais do individuo),
transparência (enquanto capacidade de reflexão crítica acerca das próprias crenças) e
autonomia (enquanto capacidade de autodeterminação do indivíduo). Nesse sentido,
serão discutidos argumentos de autores como G. Frege, L. Wittgenstein, G. E. M.
Anscombe, H. Putnam, T. Burge e R. Moran.
CONTEÚDO
I. Crença, pensamento e conteúdo
I.1. Atitudes proposicionais e o vocabulário psicológico
I.2 Atribuindo conteúdo em contextos oblíquos (S acredita que p)
I.3 Significado e conteúdo: entendimento completo e entendimento incompleto
II. Conteúdo mental e o problema do autoconhecimento
II.1 O problema da primeira pessoa e o conceito de eu
II.2 Autoridade da primeira pessoa, acesso privilegiado
II.3 Racionalidade e reflexão
IV. Autoconhecimento, transparência do conteúdo e razão prática
IV.1 O autoconhecimento como um problema epistemológico e como um problema
prático
IV.2 Conheço minhas próprias crenças? Transparência e expressão
IV.3 Entendimento incompleto, autonomia e uma concepção modesta de razão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ANSCOMBE, G.E.M. (1991). Intención. Trad. Ana I. Stellino. Barcelona : Paidós.
2. BURGE, Tyler (1979). “O individualismo e o mental”, trad. Maria Leonor Maia dos
Santos, in: LECLERC, André (org.). Externalismo e Conteúdo Mental. [no prelo].
3. CASSAN, Quassim (ed.) (1994). Self-knowledge. Oxford : Oxford University Press.
4. DAVIDSON, Donald. (1987). “Knowing One’s Oun Mind”, in: Subjective,
Intersubjective, Objective. Oxford : Oxford University Press, 2001 [há edição em
espanhol pela editora Cátedra de Madrid].
5. HACKER, P. M. S. (2010). Natureza Humana: Categorias Fundamentais. Trad.
José A. D. Guerzoni. Porto Alegre : ArtMed.
6. PENCO, Carlo (2006). Introdução à Filosofia da Linguagem, trad. E. Alves.
Petrópolis : Vozes.
7. PUTNAM, Hilary (1975). “O significado de ‘significado’”, trad. Giovanni S.
Queiroz, in: LECLERC, André (org.). Externalismo e Conteúdo Mental. [no prelo]
8. SILVA FILHO, Waldomiro J. (org.) (2010). Mente, Linguagem e Mundo. São Paulo
: Alameda.
9. WITTGENSTEIN, Ludwig (1953). “Parte II”, in: Investigações Filosóficas, trad. J.
C. Bruni. São Paulo : Abril Cultural, 1980.
10. WRIGHT, C., SMITH, B. e MACDONALD, C. (ed.) (1998). Knowing Our Own
Minds. Oxford : Clarendon.
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