UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Departamento de Filosofia Programa de Pós-graduação de Filosofia Prof.: Waldomiro Jose da Silva Filho ([email protected]) Disciplina: Tópicos Especiais de Filosofia da Mente: Razões e pessoas EMENTA Quase sempre se considera que um indivíduo é racional não apenas porque ele tem pensamentos e crenças e porque esses pensamentos e crenças podem influenciar ou explicar suas ações, mas principalmente porque esse indivíduo pode entender, avaliar e ponderar, crítica e reflexivamente, seus próprios pensamentos e crenças e orientar suas decisões e ações à luz desse entendimento. Uma suposição profundamente arraigada acerca da mente humana e da ação humana é a suposição de que temos um acesso privilegiado aos nossos estados mentais, incluindo crenças e desejos, sem apelar para evidências empíricas: se uma pessoa acredita ou deseja algo (S acredita que p), ela não precisa recorrer à observação empírica do entorno ou à inferências para conhecer o que ela tem esta crença e este desejo. Parece que a própria ideia de crença – e do lugar que a crença ocupa no quadro explicativo das nossas ações – envolve a suposição de um conhecimento da própria crença. Ou, como escreve Colin McGinn, “... a racionalidade, tal como a concebemos, requer o conhecimento dos conteúdos da própria mente.” Quassim Cassam pontua que nosso conhecimento de nossos pensamentos é entendido tanto como o conhecimento do que estamos pensando quanto o conhecimento dos conteúdos de nossos pensamentos. Para outros autores, a perspectiva tradicional espera que não apenas tenhamos acesso privilegiado ao fato de que nossos pensamentos ocorrem, mas que tenhamos acesso privilegiado aos conteúdos desses pensamentos de um modo que as outras pessoas não têm. Alguns autores são ainda mais enfáticos ao afirmar que nossa capacidade para ter autoconhecimento não é “um componente opcional de nossa auto-concepção comum”, uma tese que podemos simplesmente descartar e, mesmo assim, preservar o que pensamos sobre nossa natureza humana; o autoconhecimento, ao contrário, é “uma parte fundamental desta concepção” de nós mesmos enquanto pessoas, seres racionais, agentes. Este curso analisará a relação entre racionalidade e a ideia de autoconhecimento (enquanto conhecimento do conteúdo dos próprios estados mentais do individuo), transparência (enquanto capacidade de reflexão crítica acerca das próprias crenças) e autonomia (enquanto capacidade de autodeterminação do indivíduo). Nesse sentido, serão discutidos argumentos de autores como G. Frege, L. Wittgenstein, G. E. M. Anscombe, H. Putnam, T. Burge e R. Moran. CONTEÚDO I. Crença, pensamento e conteúdo I.1. Atitudes proposicionais e o vocabulário psicológico I.2 Atribuindo conteúdo em contextos oblíquos (S acredita que p) I.3 Significado e conteúdo: entendimento completo e entendimento incompleto II. Conteúdo mental e o problema do autoconhecimento II.1 O problema da primeira pessoa e o conceito de eu II.2 Autoridade da primeira pessoa, acesso privilegiado II.3 Racionalidade e reflexão IV. Autoconhecimento, transparência do conteúdo e razão prática IV.1 O autoconhecimento como um problema epistemológico e como um problema prático IV.2 Conheço minhas próprias crenças? Transparência e expressão IV.3 Entendimento incompleto, autonomia e uma concepção modesta de razão REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ANSCOMBE, G.E.M. (1991). Intención. Trad. Ana I. Stellino. Barcelona : Paidós. 2. BURGE, Tyler (1979). “O individualismo e o mental”, trad. Maria Leonor Maia dos Santos, in: LECLERC, André (org.). Externalismo e Conteúdo Mental. [no prelo]. 3. CASSAN, Quassim (ed.) (1994). Self-knowledge. Oxford : Oxford University Press. 4. DAVIDSON, Donald. (1987). “Knowing One’s Oun Mind”, in: Subjective, Intersubjective, Objective. Oxford : Oxford University Press, 2001 [há edição em espanhol pela editora Cátedra de Madrid]. 5. HACKER, P. M. S. (2010). Natureza Humana: Categorias Fundamentais. Trad. José A. D. Guerzoni. Porto Alegre : ArtMed. 6. PENCO, Carlo (2006). Introdução à Filosofia da Linguagem, trad. E. Alves. Petrópolis : Vozes. 7. PUTNAM, Hilary (1975). “O significado de ‘significado’”, trad. Giovanni S. Queiroz, in: LECLERC, André (org.). Externalismo e Conteúdo Mental. [no prelo] 8. SILVA FILHO, Waldomiro J. (org.) (2010). Mente, Linguagem e Mundo. São Paulo : Alameda. 9. WITTGENSTEIN, Ludwig (1953). “Parte II”, in: Investigações Filosóficas, trad. J. C. Bruni. São Paulo : Abril Cultural, 1980. 10. WRIGHT, C., SMITH, B. e MACDONALD, C. (ed.) (1998). Knowing Our Own Minds. Oxford : Clarendon.