TLME-2.5 —1— MÁQUINAS ELÉCTRICAS II 2004 / 2005 SE FEUP LEEC Transformador Trifásico – 1. TLME-2.5 regime desequilibrado e regime assimétrico Introdução Um transformador trifásico pode funcionar com cargas diferentes nas três fases do secundário — regime de cargas desequilibradas —, ou pode funcionar alimentado por um sistema trifásico assimétrico de tensões — funcionamento em regime assimétrico. Quando um transformador trifásico alimenta apenas uma carga monofásica, situação do maior desequilíbrio de cargas, há uma distribuição da corrente eléctrica pelas três fases que depende do tipo de ligação dos enrolamentos primários (D, Y) e dos enrolamentos secundários (d, y, z) do transformador. O comportamento diferente de cada tipo de ligação leva a uma escolha diferente do tipo de ligação a adoptar numa dada aplicação, conforme é de prever, ou não, a existência de desequilíbrio de cargas. Como o transformador trifásico é uma máquina eléctrica estática e como se supõe que existe simetria entre as diferentes fases, a impedância apresentada por este elemento de circuito é independente da ordem de sucessão de fases do sistema de tensões trifásico aplicado nos terminais do primário. Mas a impedância homopolar tem, geralmente, um valor diferente da impedância directa que tem um valor igual ao da impedância inversa. {num transformador a impedância directa é igual à impedância inversa que é igual à impedância de magnetização em vazio (Zo), e é igual à impedância de fugas no funcionamento em carga} N. B. — 2. Este trabalho necessita de uma preparação teórica prévia à sua execução no laboratório. Objectivos O objectivo deste trabalho de Laboratório é a verificação experimental da distribuição das correntes eléctricas para os diferentes tipos de ligações dos enrolamentos de um transformador trifásico alimentando uma carga monofásica. Faz uma introdução à Teoria das Componentes Simétricas. 3. Bibliografia [CCC–1] Carlos Castro Carvalho; “Transformadores”, pp. 112–118, AEFEUP 1971 [www.fe.up.pt/me1] M.I.T. Staff; “Magnetic Circuits and Transformers”, MIT Press, 1943 Manuel Vaz Guedes; “Corrente Alternada — sistema polifásicos assimétricos”, FEUP 2005 [www.fe.up.pt/me2] J. Lewis Blackburn; “Symmetrical Components for Power Systems Engineering”, Marcel Dekker 1993 [B_FEUP] 4. Trabalho a Efectuar 4.1. Material Necessário – Transformador Trifásico –– Voltímetro CA (multímetro) — Voltímetros CA © Manuel Vaz Guedes, 1994/95, 2005 – Autotransformador — Pinça Amperimétrica – Amperímetro CA — Carga Monofásica TLME-2.5 —2— Regime de Cargas Desequilibradas A .1. Modo de Proceder Para cada tipo de ligação, e atendendo à respectiva montagem, realizar as seguintes operações: ❺ Realizar a montagem, com o transformador como abaixador de tensão. ☎ Chamar o docente para verificação ▲ Ligar o auto-transformador à rede (110/190 V) ➚ Elevar a tensão primária composta até 190 V ❺ Efectuar a medida das tensões e das correntes eléctricas nas diferentes fases e nas linhas de alimentação do transformador. — colocar a carga entre coluna extrema e coluna do meio, e depois entre as colunas extremas. ✍ Tomar nota dos valores lidos, devidamente referenciados. ▲ Baixar a tensão do auto-transformador para 0 V, e depois desligá-lo. ❺ Determinar a razão de correntes entre fases {utilizar um sistema p. u. em que a corrente de base é o menor valor da intensidade de corrente medido}. P&R ?1 Quais são as grandezas físicas cujo valor condiciona a segurança desta experiência (ou a a qualidade de serviço da instalação eléctrica) ? Qual o valor limite para essas grandezas ? ?2 Qual o comportamento do valor das tensões nas diferentes ligações [CCC-1], {apresentar os valores num quadro e justificar as conclusões} ?2.1 Justificar a forma de efectuar a apresentação em valores por unidade (p.u.) ?3 Qual o comportamento do valor da intensidade da corrente nas diferentes ligações [CCC-1], {apresentar os valores num quadro e justificar as conclusões} A .1. A .1.1. Ligações Ligação Yy, Yyn, YNy, YNyn Montagem a Realizar R S T V M N A .1.2. Ligação Dy, Dyn Montagem a Realizar R S T N © Manuel Vaz Guedes, 1994/95, 2005 V M TLME-2.5 A .1.3. —3— Ligação Dd Montagem a Realizar R S T V M N P&R ?4 Escrever, justificando completamente, que tipos de ligações utilizaria num transformador trifásico para: — um posto de transformação (PT) <300 kVA; — uma subestação; — uma grande subestação de distribuição. Justificar, devidamente, a pouca utilização da ligação YNyn. Justificar a distribuição de correntes eléctricas durante o curto-circuito à terra numa fase do primário de um transformador YNd. {apresentar as figuras e a explicação detalhada} ?5 ?6 Funcionamento em Regime Assimétrico No estudo de um transformador funcionando em regime assimétrico é importante o conhecimento do valor da impedância homopolar. B .1. Medida da Impedância Homopolar As componentes homopolares de um sistema trifásico de grandezas têm a mesma amplitude e estão em fase: IoR = IoS = IoT = Io = (1/3)·(IR + IS + IT). A impedância homopolar é medida à frequência nominal entre os terminais de linha de um enrolamento ligado em estrela ou em ziguezague e o terminal do neutro. É expressa em Ohm por fase [Ω/fase] e é dada por Zo = 3·(U/I), em que U é a tensão de ensaio e I a intensidade de corrente eléctrica de ensaio. Deve ser declarada a intensidade de corrente eléctrica por fase I/3. Deve ser verificado que o valor da intensidade de corrente que irá passar no neutro durante o ensaio é compatível com o dimensionamento desse circuito A V N Modo de Proceder – Efectuar a montagem (ligar os enrolamentos do transformador em Yd) ☎ ➚ Chamar o docente para verificação Efectuar o ensaio ) Elevar L E N T A & C U I D A D O S A M E N T E a tensão através do autotransformador até circular a corrente de ensaio no circuito primário © Manuel Vaz Guedes, 1994/95, 2005 TLME-2.5 ✍ —4— Tomar nota dos valores e de todos os pormenores relevantes ➷ Reduzir LEN TA MEN T E a tensão através do auto-transformador e desligar o auto-transformador da rede Com os valores lidos determinar: o valor da impedância homopolar vista do lado primário. Justificar o valor da impedância homopolar vista do lado secundário. {ver Carlos C. Carvalho; “Transformadores”, AEFEUP 1983, pp. 115–116} P&R ?7 Justificar a importância do conhecimento do valor da impedância homopolar no projecto e no estudo de um sistema eléctrico. ?8 Justificar como se determina a impedância homopolar de um transformador de três enrolamentos {ver Carlos C. Carvalho; “Transformadores”, AEFEUP 1983} ?9 Apresentar uma construção gráfica didáctica mostrando a possibilidade de decomposição de um sistema trifásico assimétrico de tensões em três sistemas de tensões simétricos. Realçar a vantagem da utilização da Teoria das Componentes Simétricas no estudo de uma máquina eléctrica em regime assimétrico. {ver Manuel Vaz Guedes; “Corrente Alternada — sistemas polifásicos assimétricos”, FEUP 2005, www.fe.up.pt/me2} — TLME-2. 5 — Resenha Histórica Opinião de Charles P. Steinmetz: “Trabalhando no cálculo ou na investigação de sistemas polifásicos, ou, como é normalmente o caso, com sistemas trifásicos as dificuldades que encontramos não são tanto dificuldades matemáticas, mas são aquilo que eu poderia chamar dificuldades mecânicas. As equações, enquanto matematicamente não são complicadas, levam a expressões que são complicadas e extensas de tal forma que tornam qualquer cálculo extremamente difícil. Trabalhando com sistemas polifásicos simétricos, esta dificuldade foi ultrapassada pela introdução do sistema equivalente monofásico, considerando o sistema polifásico resolvido num número de sistemas monofásicos, cada um compreendendo o circuito eléctrico entre os condutores de uma fase e o ponto neutro do sistema. Este método, contudo, falha nos sistemas polifásicos assimétricos — e naturalmente, praticamente todos os sistemas comerciais polifásicos existentes são mais ou menos assimétricos — e a teoria do método vectorial {fasorial}, que hoje nos foi apresentada numa mais extensiva descrição pelo Sr Fortescue, dá a solução mostrando-nos no caso do sistema trifásico geral que ele pode ser resolvido em dois sistemas trifásicos simétricos com rotação de fase opostas. Pode-se aplicar o mesmo plano a outros sistemas polifásicos.” Atlantic City, USA; 28 de Junho de 1918 – MVG – a a d b c d b c sistema assimétrico © Manuel Vaz Guedes, 1994/95, 2005 ai sistema directo d bi sistema inverso ci ao b o c o sistema homopolar Máquinas Eléctricas 2 Resenha Histórica I m p o r t â n c i a do T r a n s f o r m a do r Transformador Trifásico (1891) A primeira transmissão de energia a grande distância sob a forma de corrente trifásica e m alta tensão (14,8 kV) realizou-se em 1891 entre Lauffen e Frankfort (175 km), durante a Exposição Electrotécnica Internacional desta cidade. Já tinham sido feitas experiências n a transmissão de energia em corrente alternada monofásica (1884, 1886). Nessa transmissão era utilizado um alternador que alimentava directamente a linha de transporte com uma tensão elevada, e somente junto da carga a tensão era baixada para o valor necessário à alimentação das lâmpadas de incandescência. Tal sistema estava limitado pelo valor da tensão do alternador, que, devido a problemas de isolamento, chegava aos 3 kV ou 4,4 kV, mas que não podia ultrapassar os 10 kV. No entanto, em todas estas experiências, impressionava o valor do rendimento d a transmissão de energia: 70% a 80%. Porque em 1891 estavam criadas as condições — conhecimento do funcionamento em paralelo de transformadores (1885), existência de um motor de corrente alternada (1887; 1889), vantagem prática do sistema trifásico — desenvolveu-se um sistema de transmissão de energia em corrente trifásica com transformador estático em cada uma das extremidades da linha. © Manuel Vaz Guedes, 1995 O transformador trifásico (150 kVA) era constituído por um núcleo magnético triplo (ou em templo) formada por três colunas verticais, de 900 mm de altura e 270 cm 2 de secção recta, localizadas nos vértices de um triângulo equilátero, com as extremidades reunidas por culassas formadas pelo enrolamento de uma banda de chapa de ferro com 76 mm de largura. A chapa de ferro tinha 0,5 mm de espessura e era isolada com papel de 0,08 m m de espessura. Os enrolamentos, mergulhados em óleo para um melhor isolamento, estavam ligados em estrela nos dois lados do transformador, e tinham os pontos neutros ligados à terra. Os isoladores de travessia de alta tensão eram em tubo de vidro, e posteriormente, em tubo de porcelana. A razão de transformação era de 95/14 750 V, e a frequência 40 Hz. Estes transformadores apresentavam as seguintes vantagens construtivas: desmontagem fácil; enrolamentos com fabrico fácil; grande segurança na exploração; baixo custo; boa protecção mecânica contra contactos acidentais. Depois do retumbante êxito desta aplicação do transformador trifásico começou-se a vislumbrar a possibilidade de industrialização das cidades afastadas da tradicional fonte de energia mecânica: os rios. •