Baixar este arquivo PDF

Propaganda
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS DECORRENTES AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES HIV POSITIVOS
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS
DECORRENTES AO TRATAMENTO
ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES
HIV POSITIVOS
LABORATORY CHANGES DUE TO ANTIRETROVIRAL
TREATMENT IN HIV POSITIVE PATIENTS
Carla Camila de Lemos Medeiros1
Miriani Amália Ferreira Wyzykowski2
Matias Nunes Frizzo3
Carine Zimermann4
Bruna Comparsi5
RESUMO
Desde sua descoberta na década de 80 a epidemia de HIV/AIDS ainda continua sendo um desafio para a saúde
pública. Com o surgimento da terapia antirretroviral houve um aumento significativo na sobrevida dos pacientes.
No entanto, os pacientes têm apresentado alterações clínicas decorrentes ao uso desses medicamentos. O objetivo
deste trabalho é expor as principais alterações clínicas relacionadas ao uso da terapia antirretroviral. Assim, para
tal, recorreu-se a consultas bibliográficas em artigos científicos. Foram observadas as principais repercussões
hematológicas, bem como os principais distúrbios metabólicos associados ao uso de antirretrovirais. Em nosso
estudo, foi possível observar uma alta prevalência de dislipidemias associadas ao aumento das cardiopatias e as
repercussões hematológicas como principais alterações clínicas. Também foi possível observar uma importante
relação entre as reações adversas provocadas pelos antirretrovirais com a não adesão ao tratamento.
Palavras-chave: HIV/AIDS. Antirretrovirais. Dislipidemias. Reações adversas. Adesão.
ABSTRACT
Since its discovery in the 80s the HIV / AIDS still a public health challenge. With the advent of antiretroviral therapy
there was a significant increase in patient survival. However, patients have shown clinical anormalities resulting
from the use of these drugs. The objective of this work is to expose the main clinical changes related to the use
of antiretroviral therapy. So for this, we used the bibliographic consults in scientific articles. The main effects were
observed hematologic, and major metabolic disorders associated with the use of antiretrovirals. In our study, we
observed a high prevalence of dyslipidemia associated with increased cardiac and hematological effects as clinical
findings. It was also possible to observe a significant relationship between the adverse reactions caused by nonadherence to antiretroviral treatment.
Keywords: HIV/AIDS. Antiretroviral. Dyslipidemias. Adverse reactions. Accession.
1
2
3
4
5
Acadêmica do Curso de Biomedicina - 8º semestre. Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo. lemos.cc@hotmail.
com.
Acadêmica do Curso de Biomedicina - 8º semestre. Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo. mirianiredel@
hotmail.com.
Doutor em Biologia Celular e Molecular - PUCRS. Orientador. Professor do Curso de Biomedicina. [email protected]
Mestre em Farmacologia (UFSM). Especialista em Gestão de Organização Pública em Saúde (UFSM). Biomédica. Professora do
Curso de Biomedicina. Email: [email protected]
Mestre em Ciências Biológicas: Bioquímica toxicológica. Orientadora. Professora do Curso de Biomedicina. brunacomparsi@
hotmail.com.
161
CARLA CAMILA DE LEMOS MEDEIROS - MIRIANI AMÁLIA FERREIRA WYZYKOWSKI - MATIAS NUNES FRIZZO - CARINE ZIMERMANN - BRUNA COMPARSI
1. INTRODUÇÃO
A Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS) compreende o
grupo das imunodeficiências secundárias ou adquiridas causada
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). A principal característica desta família de retrovírus é a sua estratégia replicativa,
que inclui a transcrição reversa do RNA viral em DNA e a posterior integração deste DNA no genoma da célula hospedeira.
Na infecção, o vírus do HIV infecta células T auxiliares (CD4+).
Os estágios clínicos da infecção empregam uma combinação de
condições clinicas com a contagem de células CD4+. Na maioria
dos pacientes a infecção pelo HIV ocorre em três fases: infecção
primaria, período de latência e doença clinica ou AIDS/SIDA (BALESTIERI, 2006; BRASIL, 2002; BRASIL, 2010).
45
40
35
1.
30
2.
25
3.
7
20
10
5
0
5.
5
15
1
2
3
4
4.
6
6.
7.
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Rio Grande do
Sul
Ano de 2011
Figura 1: Casos de HIV para cada 100.000 habitantes no ano de 2011.
162
Adaptado de: Boletim Epidemiológico
AIDS/DST, 2012.
Número de casos/100.000 habitantes
A epidemia de HIV/AIDS continua sendo um dos mais sérios
problemas de saúde pública. De acordo com o último Boletim epidemiológico, de 1980 a junho de 2011, no Brasil, foram notificados 608.230 casos de AIDS. Em 2010, foram notificados 34.218
novos casos. O Rio Grande do Sul está em primeiro lugar entre os
estados com maior número de casos de HIV, nos anos de 2000 a
2011, para cada 100.000 habitantes foram registrados 40 novos
casos (Figura 1). Na cidade de Santo Ângelo, localizada na região
noroeste do estado, foi registrado o aumento de 85% do número
de portadores do vírus HIV em pouco mais de cinco anos (A TRIBUNA, 2013; BRASIL, 2013).
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS DECORRENTES AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES HIV POSITIVOS
A dosagem da carga viral e a contagem de linfócitos CD4+
têm implicações prognósticas na evolução da infecção e nos estágios clínicos, sendo também utilizados como base para indicar
a terapia antirretroviral. O tratamento é indicado para indivíduos
sintomáticos e assintomáticos com contagem de linfócitos CD4+
abaixo de 200 células/µl (BRASIL, 2010; BONOLO, GOMES, GUIMARÃES, 2007 COURA, 2005; PEÇANHA, ANTUNES, 2002).
A adesão ao esquema terapêutico antirretroviral propiciou
grandes avanços no tratamento da AIDS, com redução da morbidade e da mortalidade associadas à doença e eventual melhora
na sobrevida do paciente. O estudo dos marcadores precoces da
evolução para AIDS, contagem de linfócitos CD4+ e dosagem da
carga viral são critérios utilizados como base para indicar as doses dos medicamentos. (BONOLO, GOMES, GUIMARÃES, 2007;
CARVALHO et al., 2003; COURA, 2005; OLIVEIRA, OLIVEIRA,
SOUZA, 2011; PEÇANHA, ANTUNES, 2002).
Sendo assim, o tratamento objetiva retardar a progressão da
imunodepressão suprimindo a replicação viral, alcançando níveis
de carga viral abaixo do limite de detecção, bem como estabilizar
a imunidade do paciente. No entanto, com a introdução dos antirretrovirais alterações clínicas que, em sua maioria são de leve
ou moderada intensidade, vêm sendo descritas (COURA, 2005;
OLIVEIRA, OLIVEIRA, SOUZA, 2011).
Um efeito imediato comum e decorrente é a intolerância gástrica caracterizada por náuseas, vômitos e dor abdominal. Já a astenia, cefaleia ou insônia estão entre os efeitos observados após
o uso de inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN). Os efeitos adversos têm sido um dos principais
fatores da desistência do tratamento, levando a falha terapêutica
e uma consequente ameaça à saúde publica, diante de uma possibilidade de transmissão de cepas resistentes (CECCATO et al.,
2004; OLIVEIRA, OLIVEIRA, SOUZA, 2011).
163
CARLA CAMILA DE LEMOS MEDEIROS - MIRIANI AMÁLIA FERREIRA WYZYKOWSKI - MATIAS NUNES FRIZZO - CARINE ZIMERMANN - BRUNA COMPARSI
O uso da terapia repercute em alterações principalmente hematológicas, sendo a anemia o principal achado nos pacientes
em tratamento, entre os quais a supressão da medula óssea e/
ou anemia hemolítica. Mas além das alterações nas três séries
hematopoiéticas outros achados de relevância encontrados em
pacientes durante o uso de antirretrovirais são distúrbios metabólicos caracterizados por hiperglicemia, dislipidemia e alterações
corporais (lipodistrofia) (DAMIELLI, TRITINGER, SPADA, 2010).
Nesse sentido, esse estudo visa avaliar as principais alterações clínicas em indivíduos HIV positivos em decorrência a adesão ao esquema antirretroviral.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trate-se de um estudo de revisão bibliográfica para o qual foram revisados artigos científicos indexados em bases de dados
tais como: Scielo, Pubmed, Bireme, entre outros. Disponíveis online, de forma completa e gratuita; publicados do período de 2003
a 2013, obtidos de descritores, isoladamente e agrupados: HIV,
terapia antirretroviral, alterações com o uso da terapia antirretroviral, adesão à terapêutica antirretroviral.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Infecção pelo HIV
O HIV é um retrovírus constituído por RNA e a enzima transcriptase reversa. É caracterizado pela sua estratégia replicativa,
que inclui a transcrição reversa do RNA viral em DNA e a posterior
integração deste DNA no genoma da célula hospedeira. Durante a infecção o vírus do HIV infecta preferencialmente linfócitos
TCD4+ na membrana das células. Assim, o quadro clínico da AIDS
é caracterizado em função da contagem sanguínea de linfócitos
TCD4+ e das condições clínicas relacionadas à infecção com o
HIV (BALESTIERI, 2006; PEÇANHA, ANTUNES, TANURI, 2002).
164
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS DECORRENTES AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES HIV POSITIVOS
Na infecção, o HIV infecta células T auxiliares, que expressam
em sua membrana a molécula CD4+. Essas células desempenham papel fundamental na resposta imunológica do organismo,
estimulando outras células de defesa. Sem a quantidade adequada das células T auxiliares, o sistema imune fica comprometido e
consequentemente suscetível a infecções oportunistas. Na evolução da infecção a contagem de células CD4+ em sangue periférico tem implicações prognósticas, pois é a medida de imunocompetência celular (BALESTIERI, 2006; BRASIL, 2002).
A contagem de linfócitos CD4+ e a dosagem da carga viral
estão diretamente relacionadas aos estágios clínicos da infecção,
que podem ser divididos em três estágios: fase primaria, período
de latência e AIDS. A infecção primária apresenta característica
de uma mononucleose não especifica. Os sintomas aparecem
de duas a seis semanas após a exposição ao vírus. De 14 a 21
dias após o seu inicio, os sintomas desaparecem (BRASIL, 2002;
BRASIL, 2010).
O quadro laboratorial revela uma linfopenia com diminuição
dos linfócitos CD4+ e CD8+ seguida de uma linfocitose com aumento predominante dos linfócitos CD8+ e um aumento menor
nos linfócitos CD4+. A resposta humoral e celular, que são responsáveis pelos sintomas, é induzida duas a quatro semanas após a
infecção com altas concentrações de vírus na circulação. Cerca
de uma a três semanas após o inicio dos sintomas é possível a detecção dos anticorpos anti-HIV que são inicialmente de classe IgM
e posteriormente substituídos por IgG. Dentre as repercussões
hematológicas, o quadro da infecção pelo HIV pode ser acompanhado de linfopenia, pancitopenia ou ainda uma linfocitose com
linfócitos atípicos; a manifestação hematológica mais comum é a
plaquetopenia, causada geralmente por destruição imunológica;
leucopenia com neutropenia na infecção instalada; queda dos linfócitos CD4+, inicialmente mascaradas pelo aumento das células
CD8+, resultando em uma linfopenia absoluta na fase sintomática
da infecção. O período de latência se expressa, em média, em 10
anos e na fase tardia o paciente possui AIDS e é a etapa onde
165
CARLA CAMILA DE LEMOS MEDEIROS - MIRIANI AMÁLIA FERREIRA WYZYKOWSKI - MATIAS NUNES FRIZZO - CARINE ZIMERMANN - BRUNA COMPARSI
aparecem as infecções oportunistas e neoplasmas. A contagem
de células CD4+ se apresenta entre 50 e 200 células/µl (ALVES
et al., 2011; BRASIL, 2010; LEITE, 2010; ZAGO, FALCÃO, PASQUINI, 2004).
3.2. Critérios para adesão e tratamento
O HIV apresenta um ciclo de replicação com diversos eventos
direta e exclusivamente relacionados a componentes virais, que
são utilizados como critérios para a introdução a terapêutica antirretroviral (PEÇANHA, ANTUNES, TANURI, 2002).
Sendo assim, os critérios para adesão incluem a combinação
da avaliação da dosagem da carga viral plasmática e contagem
de linfócitos CD4+ associados ou não a sintomatologia. Desta forma sendo prescrita a pacientes portadores de HIV sintomáticos ou
assintomáticos que apresentam contagem de linfócitos CD4+ inferiores a 200 células/µl. Alguns autores trazem uma contagem de
linfócitos CD4+ entre 350 e 200 células/µl como valores determinantes para indicar a terapia (BONOLO, GOMES, GUIMARÃES,
2007; COURA, 2005).
Como demonstra o estudo de Geocze e colaboradores (2010),
a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e a infecção
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) constituem um dos
mais sérios problemas de saúde publica. Com o surgimento dos
antirretrovirais, o tempo de vida do paciente aumentou significativamente, com diminuição do número de novas infecções por HIV
e aumento do número de pessoas vivendo com o vírus (diminuição
da mortalidade relacionada à AIDS). Refletindo o impacto benéfico do tratamento e consequentemente uma melhora na qualidade
de vida dos indivíduos.
A terapia antirretroviral é causa de profunda e sustentada supressão da replicação viral, objetivando retardar a progressão da
imunodepressão e reduzir a morbidade por infecções oportunistas
e, consequentemente, restaurar a integridade do sistema imune
(ILIAS, CARANDINA, MARIN, 2011).
166
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS DECORRENTES AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES HIV POSITIVOS
Segundo os estudos de Peçanha e colaboradores (2002), os
antirretrovirais atuam na inibição no sitio de ligação da enzima
transcriptase reversa, na inibição alostérica da transcriptase reversa ou na inibição “competitiva” da protease.
Dessa forma a resposta adequada ao tratamento se da pela
associação de esquemas antirretrovirais de alta potência e da
análise da combinação carga viral e contagem de linfócitos CD4+.
Para que o tratamento apresente eficácia é utilizado o uso combinado de inibidores da transcriptase reversa e da protease. Contudo, essa combinação somente é efetiva se os pacientes fizerem
uso correto da medicação. Para que a supressão da replicação
viral apresente eficácia é necessário que o paciente ingira 90 a
95% das doses de medicamentos prescritos. Em contrapartida,
os efeitos colaterais tem sido um dos importantes fatores da não
adesão ao tratamento (GEOCZE, 2010; ILIAS, CARANDINA, MARIN, 2011).
3.3. Alterações clínicas relacionadas ao
tratamento
Estudos realizados por Marques (2006) e Andrade (2009),
demonstram que a Zidovudina (AZT), devido ao seu amplo uso,
a mais de 10 anos, apresenta os maiores índices de alterações
clínicas a curto e em longo prazo. O AZT foi o primeiro análogo de nucleosídeo inibidor da transcriptase reversa a ser liberado
para uso clínico. A ação medicamentosa se inicia uma hora após
a administração. Os efeitos adversos provocados pela zidovudina
nos primeiros dias de uso podem ser cefaleia, dificuldade de concentração, náuseas e insônia. Anemia, geralmente normocítica
normocrômica, mas pode ser macrocítica, leucopenia e plaquetopenia incluem os principais efeitos adversos. Outros achados
comuns são as elevações das enzimas hepáticas em até três a
cinco vezes acima dos níveis normais. Tardiamente, podem surgir
hepatotoxocidade e miosite (Tabela 1).
167
CARLA CAMILA DE LEMOS MEDEIROS - MIRIANI AMÁLIA FERREIRA WYZYKOWSKI - MATIAS NUNES FRIZZO - CARINE ZIMERMANN - BRUNA COMPARSI
Mecanismo de ação
Nome Químico
Efeitos Adversos
Inibidores da
Transcriptase
Reversa Análogos
de Nucleosídeos
(ITRN)
Zidovudina,
Didanosina,
Zalcitabina,
Estavudina
Lamivudina
Abacavir
Tenofovir
Emtricitabina
Intolerância GI, diarreia e dor abdominal
Náuseas e vômitos
Cefaléia, Insônia, Indisposição, febre.
Sintomas respiratórios
Alergia, Rash e Hiperpigmentação.
Miopatia
Lesão de Retina e Nervo Óptico
Neuropatia Periférica
Toxicidade hepática
Estomatite, Pancreatite
Lipodistrofia e dislipidemia
Acidose Láctica
Supressão da medula óssea/anemia
Disfunção renal
Inibidores da
Transcriptase
Reversa
Não-Análogos de
Nucleosídeos
(ITRNN)
Nevirapina
Delavirdina
Efavirenz
Etravirina
Hepatotoxicidade
Reação cutânea grave, Rash.
Cefaléia, fadiga
Teratogênico
Náuseas e dor Abdominal
Neuropatia periférica
Hipertensão
Inibidores de
Protease
(IP)
Saquinavir
Indinavir
Ritonavir
Nelfinavir
Lopinavir/
Ritonavir
Atazanavir
Fosamprenavir
Tipranavir
Darunavir
Cefaléia, Astenia, visão borrada
Hemólise e hemorragia intracraniana
Leucocitúria
Atrofia cortical renal
Náuseas, vômitos
Diarreia e sintomas GI
Parestesia Peri-oral
Pancreatite
Alteração da percepção do gosto
Aumento de CPK e ácido úrico
Rash, Stevens-Johnson.
Toxicidade e Insuficiência hepática
Nefrolitíase
Elevação de BI
Inibidor da Entrada
do HIV e Inibidor da
Fusão
Enfuvirtida
Maraviroque
Reação local e eritema, Rash.
Induração, nódulos/cistos
Febre e calafrios
Náuseas e vômitos
Neuropatia periférica
Insônia
Hiporexia, Mialgia
Pneumonia bacteriana
Aumento de infecções por Cândida, Herpes e Influenza.
Dor abdominal e diarreia
Edema, Rinite
Anormalidades CVS
Hepatotoxicidade
Inibidor de
Integrase
Raltegravir
Náuseas e cefaleia
Diarreia, febre
Miopatia
Rabdomiólise
168
Adaptado de: ANDRADE, 2009; DOMINGOS, 2006; FARHL, LIMA, CUNHA, 2008; OLIVEIRA, OLIVEIRA, SOUZA, 2011.
Tabela 1: Efeitos adversos relacionados ao uso de antirretrovirais.
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS DECORRENTES AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES HIV POSITIVOS
De acordo com Alves e colaboradores (2011), o uso dos medicamentos antirretrovirais, repercute principalmente em alterações hematológicas, como descreve a maioria dos estudos. Estão associadas, quase que exclusivamente, ao uso de Zidovudina
(AZT), como já descrito. Alguns inibidores da protease como o
saquinavir, indinavir e o retonavir apresentam repercussões hematológicas que incluem plaquetopenia e trombocitopenia.
O estudo de Daminelli e colaboradores (2010), afirma que a
anemia é a repercussão hematológica mais comumente encontrada. As causas de anemia são de natureza multifatorial, podendo
estar relacionadas aos efeitos da doença e ao regime terapêutico.
Essas anormalidades hematológicas podem estar associadas à
toxicidade hematológica causada pela terapêutica antirretroviral,
onde a proliferação das células sanguíneas progenitoras pode ser
inibida. Como a literatura descreve, o regime terapêutico induz a
supressão da atividade da medula óssea, o desenvolvimento de
anemia pode ser observado em um período de seis meses ou
quarenta e oito semanas em uso dos medicamentos. Períodos
maiores tornam o quadro anêmico mais severo.
Daminelli e colaboradores (2010) ainda acrescentam em seu
estudo que a infecção do HIV está associada a anormalidades
morfológicas na medula óssea e diminuição das células sanguíneas progenitoras que, além do regime terapêutico, podem estar
associadas ao mecanismo de apoptose das células, alterações
na produção de citocinas ou relacionadas a outros fatores imunológicos.
Outros achados importantes envolvendo o uso contínuo da
terapêutica antirretroviral foram descritos nos estudos de Farhl,
Lima e Cunha (2008), como distúrbios metabólicos caracterizados por hiperglicemia, dislipidemia (aumento de colesterol total,
da fração LDL e de triglicerídeos, com diminuição na fração HDL)
e alterações corporais (lipodistrofia, perda de gordura subcutânea
nos membros e na face). Há uma prevalência de dislipidemia em
portadores de HIV submetidos à tratamento. Essa prevalência
169
CARLA CAMILA DE LEMOS MEDEIROS - MIRIANI AMÁLIA FERREIRA WYZYKOWSKI - MATIAS NUNES FRIZZO - CARINE ZIMERMANN - BRUNA COMPARSI
chama a atenção dos autores, pois esse distúrbio está associado
ao aumento de doenças cardiovasculares, uma vez que ocorre o
acúmulo dos fatores associados ao aumento do risco para eventos cardíacos. A literatura aponta que o tempo de exposição aos
medicamentos é associado ao desenvolvimento de dislipidemia.
Estudos de Domingos (2006) afirmam que os antirretrovirais
que representam a classe dos inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN’s) incluem as dislipidemias
como repercussões metabólicas. Aumento de triglicerídeos e de
lipase, além de alterações de glicemia. Outros achados laboratoriais como elevação assintomática de ácido úrico e acidose lática
também fazem parte das alterações. Os potentes antirretrovirais
da classe dos inibidores da transcriptase reversa não-análagos
de nucleosídeos (ITRNN’s) apresentam, além das dislipidemias,
aumento das enzimas hepáticas e elevação das transaminases.
Farhl, Lima e Cunha (2008) e Andrade (2009) concordam que,
os inibidores da protease (IP) incluem a classe com maior prevalência de dislipidemias. Elevação significativa dos níveis séricos
de colesterol e de triglicerídeos, aumento das transaminases e
creatinofosfoquinase, lipodistrofia, hiperglicemia, aumento assintomático da bilirrubina indireta, elevação de ácido úrico, hiperbilirrubinemia indireta. O desenvolvimento de resistência à insulina
não é raro, levando a hiperglicemia e diabetes, como demonstra
a Tabela 1. Esses achados laboratoriais constituem as alterações
envolvendo os IP.
No uso combinado de antirretrovirais algumas repercussões
aumentam ou não aumentam significativamente. Como no caso
do Atazanavir associado ao ritonavir onde não há aumento significativo de colesterol total, do LDH e de triglicerídeos. E no caso do
Lopinavir que associado à outra droga aumenta as transaminases
e causa lipodistrofia (ANDRADE, 2009)
Como é descrito na literatura, além das repercussões hematológicas e metabólicas outros efeitos adversos são observados
em curto prazo. Eventos imediatos comuns a todos as classes de
170
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS DECORRENTES AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES HIV POSITIVOS
antirretrovirais são os decorrentes de intolerância gástrica caracterizada por náuseas, vômitos e dor abdominal. Cefaléia, febre,
diarreia, icterícia, exantema, hepatite, rash, sintomas neuropsiquiátricos (como insônia, depressão e dificuldade de concentração),
síndrome de Stevens-Johnson, gosto metálico na boca, mucosas secas (principalmente lábios), fadiga, xerodermia, unha “encravada” ou displasia ectodérmica (principalmente nos primeiros
pododáctilos), sonolência, alteração visual, parestesia em torno
da boca e também periférica, também constituem efeitos adversos comuns a todas as classes, também representados na tabela
1. Alguns com aparecimento mais regular outros mais raros de
apresentarem (ANDRADE, 2009; OLIVEIRA, OLIVEIRA, SOUZA,
2011).
É possível notar que os estudos, como o de Daminelli
e colaboradores (2010) e Oliveira e colaboradores (2011),
descrevem que o uso dos antirretrovirais repercute principalmente
em alterações hematológicas. Contudo, o estudo de Farhl
e colaboradores (2008) acrescenta que há prevalência de
dislipidemias associada ao uso desses medicamentos e essas,
estão relacionadas ao aumento de doenças cardiovasculares.
Outros achados de relevância incluem os efeitos adversos comum
a todas as classes, imediatos e regulares ou com uma frequência
baixa de aparecimento.
4. CONCLUSÃO
A introdução da terapêutica antirretroviral objetiva retardar a
progressão da imunodepressão suprimindo a replicação viral e,
com isso, diminuir a morbidade e a mortalidade associadas a infecção e consequentemente melhorar a qualidade de vida do paciente. Porém, sua utilização está associada a efeitos adversos
que repercutem em alterações hematológicas que induzem a supressão da atividade da medula óssea e a distúrbios metabólicos,
como as dislipidemias associadas ao aumento de doenças cardiovasculares. As recomendações quanto ao uso de antirretrovirais indicam uma tomada completa dos medicamentos prescritos
171
CARLA CAMILA DE LEMOS MEDEIROS - MIRIANI AMÁLIA FERREIRA WYZYKOWSKI - MATIAS NUNES FRIZZO - CARINE ZIMERMANN - BRUNA COMPARSI
para que os mesmos apresentem eficácia. Quanto às alterações,
estas estão relacionadas à adesão, é de suma importância o seu
conhecimento para a escolha do esquema terapêutico e para uma
melhor qualidade de vida do paciente, uma vez que as alterações
podem ser facilitadoras para uma adesão incompleta ou desistência do tratamento. Como demonstra esse estudo, há um numero
limitado de estudos relacionando as alterações clínicas com o uso
da terapêutica antirretroviral. Desta forma seria de grande valia
que novas pesquisas surgissem, principalmente buscando uma
melhor compreensão sobre a importância do tratamento e os efeitos causados por este.
5. REFERÊNCIAS
ALVES, Lincoln Arystótheles Gewehr Babo; SILVEIRA, Mariângela Freitas da; PINHEIRO, Cezar Arthur Tavares; STOFFEL,
Priscila Cella; PIENIZ, Carine; ROZENTHAL, Renata Müller. Prevalência de alterações hematológicas em mulheres com HIV/AIDS
assistidas em serviço especializado: relato de série de casos. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, v. 55, n. 4, p. 324-326, out/dez
2011.
ANDRADE, Beatriz Amélia Monteiro. Anormalidades Laboratoriais em Gestantes Infectadas pelo HIV e em uso de antirretrovirais. Universidade Federal de Minas Gerais, 2009.
BALESTIERI, Filomena Maria Perella. Imunologia, v. 1, cap.
22, p. 631-658. São Paulo: Manole, 2006.
BONOLO, Palmira de Fátima; GOMES, Raquel Regina de
Freitas Magalhães; GUIMARÃES, Mark Drew Crosland. Adesão
à terapia anti-retroviral (HIV/AIDS): fatores associados e medidas
da adesão. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 16,
n. 4, p. 261-278, out/dez 2007.
BRASIL. Ministério da Saúde. AIDS: etiologia, clínica, diagnóstico e tratamento. Brasília: 2002. Unidade de assistência.
Disponível em: www.aids.gov.br. Acesso em: 05 set. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico - Aids
e DST. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: 2011. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Disponível em: www.
aids.gov.br. Acesso em: 05 set. 2013.
172
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS DECORRENTES AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES HIV POSITIVOS
BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Infecciosas e Parasitárias. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: 2010. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Disponível em: www.
bvsms.gov.br. Acesso em: 05 set. 2013.
CARVALHO, Cláudio Viveiros; DUARTE, Diva Barnabé; MERCHÁN-HAMANN, Edgar; BICUDO, Eliana; LAGUARDIA, Josué.
Determinantes da aderência à terapia anti-retroviral combinada
em Brasília, Distrito Federal, Brasil, 1999-2000. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 593-604, mar/abr
2003.
CECCATO, Maria das Graças Braga; ACURCIO, Francisco A.;
BONOLO, Palmira de Fátima; ROCHA, Gustavo M.; GUIMARÃES,
Mark D. C. Compreensão de informações relativas ao tratamento
anti-retroviral entre indivíduos infectados pelo HIV. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 5, p. 1388-1397, set/out
2004.
COURA, José Rodrigues. Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias, v. 2, cap. 61, p. 1877-1890. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2005.
CUNICO, Wilson; GOMES, Claudia R. B.; JUNIOR, Walcimar
T. Vellasco. HIV: Recentes Avanços na Pesquisa de Fármacos.
Quimica Nova, v. 31, n. 8, p. 2111-2117, 2008.
DAMINELLI, Elaine N.; TRITINGER, Arício; SPADA, Celso.
Alterações hematológicas em pacientes infectados pelo vírus da
imunodeficiência humana submetidos à terapia antirretroviral com
e sem inibidor de protease. Revista Brasileira de Hematologia e
Hemoterapia, São Paulo, v. 32, n. 1, fev/mar 2010.
DOMINGOS, Hamilton. Efeitos metabólicos associados à
terapia anti-retroviral potente em pacientes com AIDS. xii. 87p.
Dissertação de Mestrado – Programa Multinstitucional de PósGraduação em Ciências da Saúde – Convênio Rede Centro-Oeste UnB/UFG/UFMS. 2006.
DONAHUE, Daniel A.; WAINBERG, Mark A. Cellular and molecular mechanisms involved in the establishment of HIV-1 latency.
Retrovirology, feb, 2013.
FARHI, Lidia; LIMA, Dirce Bonfim; CUNHA, Cynthia B. Dislipidemia em pacientes HIV/AIDS em uso de ati-retrovirais num
hospital universitário, Rio de Janeiro, Brasil. Jornal Brasileiro de
Patologia e Medicina Laboratorial, v. 44, n. 3, p. 175-184, junho
2008.
173
CARLA CAMILA DE LEMOS MEDEIROS - MIRIANI AMÁLIA FERREIRA WYZYKOWSKI - MATIAS NUNES FRIZZO - CARINE ZIMERMANN - BRUNA COMPARSI
GEOCZE, Luciana; MUCCI, Samantha; DE MARCO, Mario
Alfredo; NOGUEIRA-MARTINS, Luiz Antonio; CITERO, Vanessa
de Albuquerque. Qualidade de vida e adesão ao tratamento anti-retroviral de pacientes portadores de HIV. Revista de Saúde
Pública, v. 44, n. 4, p. 743-749, 2010.
GOULART, Suelen. Adesão ao regime terapêutico antirretroviral por pessoas com HIV/Aids em um serviço de referência. 2011. 133p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Programa de Pós- Graduação em Enfermagem, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2011.
ILIAS, Mércia; CARANDINA, Luana; MARIN, Maria José Sanches. Adesão à terapia antirretroviral de portadores do vírus da
imunodeficiência humana atendidos em um ambulatório da cidade
de Marília, São Paulo. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 35,
n. 2, p. 471-484, abr/jun, 2011.
A TRIBUNA. Aumenta em 85% o número de casos de AIDS
em pouco mais de cinco anos. Disponível em: < http://www.atribunars.com.br/index.php?origem=noticia&id=30938>. Acesso em:
27 ago. 2013.
LAZZARETTI, Rosmeri K. et al. Genetic Markers Associated
to Dyslipidemia in HIV-Infected Individuals on HAART. Scientific
World Journal, v. 2013, sep., 2013.
LEITE, Olavo H. M. Alterações hematológicas associadas a
infecção pelo HIV, ainda um problema?. Revista Brasileira de
Hematologia e Hemoterapia, v. 32, n. 1, p. 3-4, 2010.
DE LUCA, Andrea; HAMERS, Raphael L.; SCHAPIRO, Jonathan M. Antiretroviral treatment sequencing strategies to overcome
HIV type 1 drug resistance in adolescents and adults in low-middle-income countries. Journal of Infectious Diseases, v. 207, p. 6469, jun., 2013.
MARQUES, Heloisa Helena de Souza. Avaliação crítica dos
efeitos adversos do tratamento anti-retroviral no feto, recém-nascido e lactante. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia,
v. 28, n. 7, p. 424-430, 2006.
OLIVEIRA, Odete Correia Antunes; OLIVEIRA, Ramon Antunes; SOUZA, Lenice do Rosário. Impacto do tratamento antirretroviral na ocorrência de macrocitose em pacientes com HIV/AIDS
do município de Maringá, Estado do Paraná. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 44, n. 1, p. 35-39, jan/
fev 2011.
174
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS DECORRENTES AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES HIV POSITIVOS
PAREDES, Roger; MARCONI, Vincent C.; LOCKMAN, Shahin; ABRAMS, Elaine J.; KUHN, Louise. Impact of Antiretroviral
Drugs in Pregnant Women and Their Children in Africa: HIV Resistance and Treatment Outcomes. J Infect Dis, v. 15, n. 207, p.
93-100, jun, 2013.
PEÇANHA, Emerson Poley; ANTUNES, Octavio A. C.; TANURI, Amilcar. Estratégias farmacológicas para a terapia anti
-AIDS. Química Nova, v. 25, n. 6B, p. 1108-1116, 2002.
SANTOS, Karen Freitas; VIEIRA, Taíse Biscaglia; BECK, Sandra Trevisan; LEAL, Daniela Bitencourt Rosa. Alterações laboratoriais encontradas em indivíduos co-infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e pelo Vírus da Hepatite C (HCV).
RBAC – Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 42, n.1, p.
21-24, 2010.
SILVA, Maria Clara A., BURGOS, Maria Goretti P. A., SILVA,
Rafaella A. Alterações Nutricionais e Metabólicas em Pacientes
com AIDS em Uso de Terapia Antirretroviral. DST – Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, v. 22, n. 3, p.
118-122, 2010.
TEMEREANÇA, Aura; ENE, Luminita; MEHTA, Sanjay; MANOLESCU, Loredana; DUICULESCU, Dan; RUTA, Simona.
Transmitted HIV Drug Resistance inTreatment-Naive Romanian
Patient. Journal of Medical Virology, v. 85, p.1139–1147, 2013.
ZAGO, Marco Antonio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Hematologia: Fundamentos e Pratica, v.1, cap. 6062, p. 691-716. São Paulo: Atheneu, 2004.
175
Download