Dr. Daniel J. Curcio: Olá a todos. Sou Daniel Curcio, médico de Buenos Aires, Argentina. Fico muito grato de compartilhar esta apresentação com um grande amigo, Dr. Juan Carlos Tinoco, médico infectologista de Durango, México. Seja bem-vindo, Juan Carlos. Dr. Juan Carlos Tinoco: Obrigado, Daniel, pelo convite. Dr. Curcio: Nesta apresentação, discutiremos estratégias de vacinação e características de vacinas relacionadas à prevenção eficaz da doença pneumocócica. A infecção pneumocócica é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo todo, especialmente a doença pneumocócica invasiva (DPI), que é quando o pneumococo está isolado de locais estéreis do corpo, como o sangue, o líquido cérebro-espinhal e o líquido pleural. Como podemos ver no primeiro slide, a incidência de DPI por idade tem uma distribuição característica em forma de U, com picos nos extremos das faixas etárias, afetando muitas crianças de menos de 5 anos de idade e adultos de mais de 50. A pneumonia adquirida na comunidade é a apresentação clínica mais comum da doença pneumocócica em todos os grupos etários. Como vocês podem ver no segundo slide, a DPI mais frequente em pacientes adultos é a pneumonia bacteriana. As taxas de mortalidade em função da pneumonia adquirida na comunidade em adultos começam a aumentar após os 45 anos de idade, aumentando drasticamente após os 65 anos. Estes dados realçam a importância de se implementarem estratégias para prevenir a doença pneumocócica nesta população. Agora, gostaria de lhe fazer minha primeira pergunta, Juan Carlos. Considerando a vacinação como a principal estratégia preventiva da doença pneumocócica, quais são as opções de vacinação mais importantes em adultos? Dr. Tinoco: Atualmente, temos duas opções. Uma delas, a vacina polissacarídica pneumocócica, está disponível há muito tempo no mundo todo, mas sua eficácia tem sido limitada. Nesta vacina, os polissacarídeos pneumocócicos são apresentados às células B, levados para dentro das células do plasma produtoras de anticorpos, mas sem estimular as células de memória, e produzindo anticorpos de meia-vida curta e de baixa afinidade. Na vacina conjugada, o polissacarídeo é carregado por uma proteína. Assim, o sistema imunológico é estimulado de modo diferente, gerando uma resposta T dependente. Consequentemente, isso ativa a memória das células B e produz anticorpos de afinidade mais elevada. Dr. Curcio: Agora, tenho outra pergunta, Juan Carlos. Recentemente, foi descrita a hiporresponsividade a uma segunda dose da vacina polissacarídica. Qual é o mecanismo disso? Dr. Tinoco: A primeira dose da vacina polissacarídica provoca a redução do número de células B. Após um segundo desafio, essa resposta imune é mais baixa do que após a primeira dose. Este fenômeno é chamado de hiporresponsividade. Dr. Curcio: A próxima pergunta relacionada a este conceito é: este efeito é observado com o uso de vacinas pneumocócicas conjugadas? Dr. Tinoco: Como podemos ver neste slide, a vacina conjugada induz a uma resposta mais elevada dos anticorpos após uma dose de reforço devido ao efeito das células de memória. Dr. Curcio: Juan Carlos, como a população adulta responde ao polissacarídeo e à vacina conjugada? Dr. Tinoco: A idade é um fator muito importante na resposta às vacinas. O sistema imunológico envelhece conforme vamos ficando mais velhos, e este fenômeno é chamado de imunossenescência; assim, as respostas às vacinas [das pessoas mais idosas] não são as mesmas dos jovens. Precisamos de vacinas que estimulem mais fortemente o sistema imunológico. Provavelmente, as vacinas conjugadas poderiam fazer isso. Precisamos de mais pesquisas relacionadas à resposta dos anticorpos a estas vacinas e a qual é o efeito deste fenômeno sobre a resposta imunológica na população adulta. Dr. Curcio: Juan Carlos, com base na resposta imunológica que você descreveu para as duas vacinas, quantas doses das vacinas conjugadas são recomendadas no caso de pacientes mais velhos? Dr. Tinoco: Bem, atualmente, a recomendação é administrar apenas uma dose. É melhor administrá-la aos cinquenta e poucos anos, pois consegue-se uma resposta melhor. Dr. Curcio: Muito bom. Outro comentário é que, na prática diária, temos uma situação comum, que é a do paciente que havia recebido a vacina polissacarídica anteriormente. Você tem algum dado relacionado à resposta imunológica neste tipo de paciente? Eles apresentam uma resposta à vacina conjugada? Dr. Tinoco: Provavelmente, a administração da vacina conjugada produzirá uma boa resposta, e eu recomendaria administrá-la depois de o paciente ter sido vacinado com a vacina polissacarídica. Porque, desta maneira, estimula-se o sistema imunológico com uma vacina conjugada e consegue-se uma resposta imunológica melhor. Dr. Curcio: A resposta imunológica mais elevada que é induzida pela vacina conjugada é observada até mesmo em pacientes que receberam as vacinas polissacarídicas anteriormente? Dr. Tinoco: Sim, em pacientes que receberam uma vacina polissacarídica anterior, os níveis de anticorpos são melhores do que se tivessem recebido uma vacina polissacarídica e outra dose da polissacarídica. Eu recomendaria a administração de uma dose de vacina conjugada, se já se recebeu uma vacina polissacarídica anteriormente. Dr. Curcio: De acordo com a resposta imunológica descrita, os pacientes acima dos 65 anos não respondem tão bem às vacinas polissacarídicas, em termos de produção de anticorpos com alta afinidade e memória imunológica. Você acha que as vacinas conjugadas oferecem uma vantagem neste grupo de pacientes? Dr. Tinoco: Sim. Elas, provavelmente, têm uma vantagem porque estimulam o sistema imunológico de uma forma diferente, criando uma classe diferente de anticorpos e também provocando o estímulo das células T. Dr. Curcio: Uma resposta T dependente. Dr. Tinoco: Uma resposta T dependente e gerando células de memória, que são muito importantes para o efeito das vacinas a longo prazo. Dr. Curcio: Juan Carlos, outro ponto importante, quais são os principais fatores de risco da doença pneumocócica em pacientes adultos? Dr. Tinoco: Há vários fatores de risco da doença pneumocócica em pacientes adultos. Os principais são: idade superior a 65 anos, pessoas imunocomprometidas, pessoas com doenças crônicas, como as cardiovasculares, renais, hepáticas, diabetes e álcool, asma e tabagismo. Estes são os principais riscos desta doença. Dr. Curcio: Considerando a vacinação como a estratégia principal para prevenir a doença pneumocócica, quais são as barreiras comuns à vacinação de adultos na América Latina, na sua opinião? Dr. Tinoco: Bem, são muitas as barreiras relacionadas às instituições, aos médicos e aos pacientes, mas acho que as mais importantes são a desinformação e incompreensão entre os médicos, que podem ter um efeito negativo sobre a atitude dos pacientes em relação à vacinação. Dr. Curcio: É um comentário muito interessante, Juan Carlos. Em relação à sua observação, eu enfatizaria que, embora a opinião do paciente seja importante em uma estratégia de vacinação de adultos, a falta de comprometimento do médico tem sido relatada como um dos principais fatores associados à perda da oportunidade de se vacinar. Como podemos ver nesta tabela, até quando o paciente tem uma atitude negativa em relação à vacinação, o conselho do médico é crucial para que os pacientes se convençam a se vacinar. Um outro comentário, levando em conta os fatores de risco que você mencionou anteriormente, há várias especialidades médicas que têm um papel importante na promoção da vacinação das populações adultas. Por exemplo, especialistas em medicina interna, cardiologistas, pneumologistas, clínicos gerais e médicos da família, entre outros. Concluindo, a doença pneumocócica é uma causa importante de morbidade e mortalidade em pacientes adultos. Como o Dr. Tinoco disse anteriormente, a vacina conjugada induz a uma resposta imunológica T dependente associada com a produção de anticorpos de afinidade mais elevada e memória imunológica. Os fatores de risco da DPI são bem estabelecidos; médicos diferentes têm pacientes com uma infinidade de casos com alta prevalência destes fatores de risco. Por fim, o comprometimento do médico é a peça fundamental para melhorar as taxas de vacinação pneumocócica. Muito obrigado, Dr. Tinoco, por sua participação tão importante neste programa. Espero revê-lo em breve. Obrigado ao público por nos assistir. FIM