RN 13 SUPLEMENTO - Revista Neurociências

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Neurociências
Volume 13 – no 3 – suplemento - 2005
www.unifesp.br/dneuro
1
ISSN – 0104-3579
versão eletrônica exclusiva
Anais do V Simpósio Brasileiro
de Hipertermia Maligna
2005
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
2
Editorial
Hipertermia Maligna
Mais que risco adicional, a anestesia representa proteção face à agressão representada pela
doença e intervenção cirúrgicas. Procedimentos cada vez mais extensos beneficiam pacientes
cada vez mais graves. Entretanto, à medida que os obstáculos de ontem são removidos,
surgem novos desafios. Entre eles a Hipertemia Maligna. Assunto relevante, doença
conhecida há pouco, cerca de 40 anos, a Hipertermia Maligna tem sido objeto de grande
atenção e profundas mudanças.
Em nosso País, o esforço da comunidade, representada na Associação Sempre Viva, das
corporações médicas, como a Associação Paulista de Medicina e Associação Médica
Brasileira, Conselho Federal de Medicina e Conselho Regional de Medicina de São Paulo,
Sociedade Brasileira de Anestesiologia e Sociedade de Anestesiologia de São Paulo, lograram
ao mesmo tempo sensibilizar anestesiologistas, médicos de outras especialidades e
parlamentares, na difusão da informação e elaboração de uma legislação com o potencial de
garantir o controle desta grave condição clínica. Nesse sentido, amplia-se a participação dos
neurologistas, representados pela Academia Brasileira de Neurologia, na tarefa de proteger os
portadores de doenças neuromusuclares, grupo particularmente vitimizado pela Hipertermia
Maligna.
As Universidades Federais de São Paulo e do Rio de Janeiro hoje disponibilizam, nestas
instituições de excelência, centros de diagnóstico que permitem confirmar casos suspeitos,
conduzir pesquisa e avançar no conhecimento da Hipertermia Maligna.
Resta, todavia, ainda muito a fazer. A legislação ora disponível abrange apenas o Estado de
São Paulo, deixando à margem o restante do Brasil. A maioria das instituições hospitalares
não mantém tratamento específico (dantroleno sódico) e a capnografia ainda não faz parte da
rotina da monitoração anestésica dos pacientes tratados com agentes desencadeantes.
Entre todas as ações, não haverá outra que substitua ou que traga maior impacto no controle
desta doença que a informação. E, neste contexto, vem este Simpósio atualizar os interessados
neste assunto, aparelhando-nos para continuarmos a progredir.
Bem vindos ao V Simpósio Brasileiro de Hipertermia Maligna.
José Luiz Gomes do Amaral
Helga Cristina Almeida da Silva
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
Índice
3
Anestesia em Doenças Neuromusculares – Vincenzo Tegazzin.............................................
10
Fisiologia da termorregulação normal - José Reinaldo Cerqueira Braz................................
13
Modelos animais ajudando a decifrar doenças neuromusculares humanas – Mariz Vainzof.
18
Hipertermia e Drogas no Brasil, Ceatox - Anthony Wong.....................................................
21
Hipertermia Maligna, Legislação no Estado de São Paulo – Paulo Teixeira........................
21
Doenças do neurônio motor - Marco Antonio Troccoli Chieia.............................................
26
Neuropatia Periférica (S-M e autonômica) - Wilson Marques Júnior....................................
31
Miastenia Grave - Anamarli Nucci.........................................................................................
31
Miopatias - Alzira Alves de Siqueira Carvalho......................................................................
35
Hipertermia Maligna Anestésica - José Luiz Gomes do Amaral............................................
39
Síndrome Neuroléptica Maligna - Paulo E. Marchiori..........................................................
47
Fisiologia do Exercício - Antonio Carlos da Silva.................................................................
49
Hipertermia e exercício físico - Acary Souza Bulle Oliveira.................................................. 50
Formas Atípicas de Hipertermia Maligna Anestésica - Maria Anita Spindola......................
58
Fisiologia da Contração Muscular - Alice Teixeira Ferreira.................................................
60
Biópsia e Teste de Contratura Muscular - Helga Cristina Almeida da Silva.........................
63
Estudos genéticos na Hipertermia Maligna – Patrícia Mayumi Kossugue............................
65
Anestesia para Distrofia, Canalopatia e Miopatia Metabólica – Vincenzo Tegazzin.............. 68
Anestesia para Insuficiência Respiratória Restritiva – Cláudia Lutke...................................
71
Anestesia para Miastenia Gravis – José Luiz Gomes do Amaral...........................................
74
Anestesia para Suscetíveis à Hipertermia Maligna - Luiz Bomfim Pereira da Cunha...........
79
Aspectos farmacológicos do Dantrolene Sódico – Oscar César Pires.................................
79
Prevenção e Tratamento de Hipertermia no Esporte – Antonio Carlos da Silva....................
88
Sociedade Civil e Hipertermia Maligna – Sempre Viva – Rogério Firme da Silva...…........
89
Sessão de Posters....................................................................................................................
90
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
Editor Chefe / Editor in chief
Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo,
SP
Editora Executiva / Executive Editor
Luciane Bizari Coin de Carvalho, PhD, São
Paulo, SP
Co-editor / Co-editor
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Editores Associados / Associate Editors
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Desordens do Movimento / Movement Disorders
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Francisco Cardoso, MD, PhD, Belo Horizonte,
MG
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São Paulo, SP
Egberto Reis Barbosa, MD, PhD, São Paulo, SP
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Paulo, SP
Vanderci Borges, MD, PhD, São Paulo, SP
Roberto César Pereira do Prado, MD, PhD,
Aracajú, SE
Epilepsia / Epilepsy
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Paulo, SP
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Américo Ceike Sakamoto, MD, PhD, São Paulo,
SP
Carlos José Reis de Campos, MD, PhD, São
Paulo, SP
Luiz Otávio Caboclo, MD, PhD, São Paulo, SP
Alexandre Valotta da Silva, MD, PhD, São Paulo,
SP
Margareth Rose Priel, MD, PhD, São Paulo, SP
Henrique Carrete Jr, MD, PhD, São Paulo, SP
Neurofisilogia/Neurophysiology
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João Antonio Maciel Nóbrega, MD, PhD, São
Paulo, SP
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Nádia Iandoli Oliveira Braga, MD, PhD, São
Paulo, SP
José Fábio Leopoldino, MD, Aracajú, SE
José Maurício Golfetto Yacozzill, MD, Ribeirão
Preto, SP
Francisco José Carcchedi Luccas, MD, São Paulo,
SP
Gilberto Mastrocola Manzano, MD, PhD, São
Paulo, SP
Carmelinda Correia de Campos, MD, PhD, São
Paulo, SP
Reabilitação / Rehabilitation
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Sissy Veloso Fontes, PhD, São Paulo, SP
Membros / Members
Jefferson Rosa Cardoso, PhD, Londrina, PR.
Márcia Cristina Bauer Cunha, PhD, São Paulo, SP
Ana Lúcia Chiappetta, PhD, São Paulo, São
Paulo, SP
Carla Gentile Matas, PhD, São Paulo, SP
Fátima Abrantes Shelton, MD, PhD, Edmond,
OK, USA
Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São
Paulo, SP
Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, PhD, Belo
Horizonte, MG
Fátima Valéria Rodrigues de Paula Goulart, PhD,
Belo Horizonte, MG
Patricia Driusso, PhD, São Paulo, SP
4
Distúrbios do Sono / Sleep Disorders
Chefe / Head
Lucila Bizari Fernandes do Prado, MD, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Flávio Aloe, MD, São Paulo, SP
Stela Tavares, MD, São Paulo, SP
Dalva Poyares MD, PhD, São Paulo, SP
Ademir Baptista Silva, MD, PhD, São Paulo, SP
Alice Hatsue Masuko, MD, São Paulo, SP
Luciane B. Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP
Maria Carmen Viana, MD, PhD, Vitória, ES
Virna Teixeira, MD, PhD, São Paulo, SP
Geraldo Rizzo, MD, Porto Alegre, RS
Rosana Cardoso Alves, MD, PhD, São Paulo, SP
Robert Skomro, MD, FRPC, Saskatoon, SK,
Canadá
Sílvio Francisco, MD, São Paulo, SP
Doenças Cerebrovasculares /
Cerebrovascular Disease
Chefe / Head
Ayrton Massaro, MD, PhD, São Paulo, SP.
Membros / Members
Aroldo Bacelar, MD, PhD, Salvador, BA
Alexandre Longo, MD, PhD, Joinvile, SC
Carla Moro, MD, PhD, Joinvile, SC
Cesar Raffin, MD, PhD, São Paulo, SP
Charles Andre, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ
Gabriel de Freitas, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ
Jamary de Oliveira Filho, MD, PhD, Salvador,
BA
Jefferson G. Fernandes, MD, PhD, Porto Alegre,
RS
Jorge Al Kadum Noujain, MD, PhD, Rio de
Janeiro, RJ
Márcia Maiumi Fukujima, MD, PhD, São Paulo,
SP
Mauricio Friedirish, MD, PhD, Porto Alegre, RS
Rubens J. Gagliardi, MD, PhD, São Paulo, SP
Soraia Ramos Cabette Fabio, MD, PhD, São
Paulo, SP
Viviane de Hiroki Flumignan Zétola, MD, PhD,
Curitiba, PR
Oncologia / Oncology
Chefe / Head
Suzana Maria Fleury Mallheiros, MD, PhD, São
Paulo, SP.
Membros / Members
Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, São Paulo, SP
Fernando A. P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP
Guilherme C. Ribas, MD, PhD, São Paulo, SP
João N. Stavale, MD, PhD, São Paulo, SP
Doenças Neuromusculares / Neuromuscular
disease
Chefe / Head
Acary de Souza Bulle de Oliveira, MD, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Edimar Zanoteli, MD, PhD, São Paulo, SP
Helga Cristina Almeida e Silva, MD, PhD, São
Paulo, SP
Leandro Cortoni Calia, MD, PhD, São Paulo, SP
Luciana de Souza Moura, MD, PhD, São Paulo,
SP
Laboratório e Neurociência Básica /
Laboratory and Basic Neuroscience
Chefe / Head
Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Beatriz Hitomi Kyomoto, MD, PhD, São Paulo,
SP
Célia Harumi Tengan, MD, PhD, São Paulo, SP
Maria José S. Fernandes, PhD, São Paulo, SP
Mariz Vainzof, PhD, São Paulo, SP
Iscia Lopes Cendes, PhD, Campinas, SP
Débora Amado Scerni, PhD, São Paulo, SP
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João Pereira Leite, MD, PhD, Ribeirão Preto, SP
Luiz Eugênio A. M. Mello, MD, PhD, São Paulo,
SP
Líquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal Fluid
Chefe / Head
João Baptista dos Reis Filho, MD, PhD, São
Paulo, SP.
Membros / Members
Leopoldo Antonio Pires, MD, PhD, Juiz de Fora,
MG
Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD,
SãoPaulo, SP
José Edson Paz da Silva, PhD, Santa Maria, RS
Ana Maria de Souza, PhD, Ribeirão Preto, SP
Neurologia do Comportamento / Behavioral
Neurology
Chefe / Head
Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, MD, PhD,São
Paulo, SP.
Membros / Members
Ivan Okamoto, MD, PhD, São Paulo, SP
Thais Minetti, MD, PhD, São Paulo, SP
Rodrigo Schultz, MD, PhD, São Paulo, SP
Sônia Dozzi Brucki, MD, PhD, São Paulo, SP
Neurocirurgia / Neurosurgery
Chefe / Head
Mirto Nelso Prandini, MD, PhD, São Paulo, SP
Membros / Members
Fernando Antonio P. Ferraz, MD, PhD, São
Paulo, SP
Antonio de Pádua F. Bonatelli, MD, PhD,
São Paulo, SP
Sérgio Cavalheiro, MD, PhD, São Paulo, SP
Oswaldo Inácio de Tella Júnior, MD, PhD,
São Paulo, SP
Orestes Paulo Lanzoni, MD, São Paulo, SP
Ítalo Capraro Suriano, MD, São Paulo, SP
Samuel Tau Zymberg, MD, São Paulo, SP
Neuroimunologia / Neuroimmunology
Chefe / Head
Enedina Maria Lobato, MD, PhD, São
Paulo, SP.
Membros / Members
Nilton Amorin de Souza, MD, São Paulo, SP
Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain,
Headache and Autonomic Function
Chefe / Head
Deusvenir de Souza Carvalho, MD, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Angelo de Paola, MD, PhD, São Paulo, SP
Fátima Dumas Cintra, MD, São Paulo, SP
Paulo Hélio Monzillo, MD, São Paulo, SP
José Cláudio Marino, MD, São Paulo, SP
Marcelo Ken-It Hisatugo, MD, São Paulo, SP
Interdisciplinaridade e história da
Neurociência / Interdisciplinarity and
History of Neuroscience
Chefe / Head
Afonso Carlos Neves, MD, PhD, São Paulo, SP
Membros / Members
João Eduardo Coin de Carvalho, PhD, São
Paulo, SP
Flávio Rocha Brito Marques, MD, São Paulo, SP
Vinícius Fontanesi Blum, MD, São Paulo, SP
Rubens Baptista Júnior, MD, São Paulo, SP
Márcia Regina Barros da Silva, PhD, São Paulo,
SP
Eleida Pereira de Camargo, São Paulo, SP
Dante Marcello Claramonte Gallian, PhD, São
Paulo, SP
Neuropediatria / Neuropediatrics
Chefe / Head
Luiz Celso Pereira Vilanova, MD, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Marcelo Gomes, São Paulo, SP
Neurociências
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V SIMPÓSIO BRASILEIRO DE HIPERTERMIA MALIGNA 2005
(5TH MALIGNANT HYPERTEMIA BRAZILIAN SYMPOSIUM)
07 e 08 de outubro de 2005
(October 07-08, 2005)
(São Paulo, Brazil)
Associação Paulista de Medicina
(Place: Medical Association of São Paulo)
07/10/05 – 19:30 às 22:00hs
08/10/05 – 08:00 às19:00hs
COORDENAÇÃO:
(Organizers:)
Profa. Dra. Helga Cristina Almeida da Silva
Prof. Dr. José Luiz Gomes do Amaral
CONVIDADO ESTRANGEIRO:
(International speaker:)
Dr. Vincenzo Tegazzin (Itália)
(Grupo Italiano de Hipertermia Maligna)
* Não haverá Tradução Simultânea
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Neurociências
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07/10/05 – sexta-feira – 19:30hs
(10/07/05 – Friday – 7:30pm)
19:30hs – Abertura
(Opening)
20:00 – 20:40hs - Anestesia em Doenças Neuromusculares – Vincenzo Tegazzin (Itália)
(Anesthesia in neuromuscular disorders)
Módulo 1 – Introdução
(Session 1 – Introduction)
20:40 – 21:00hs - Fisiologia da Regulação da Temperatura - José Reinaldo Cerqueira Braz
(Thermoregulation)
21:00 – 21:20hs - Modelos Animais de Doenças Neuromusculares – Mariz Vainzof
(Animal models of neuromuscular disorders)
21:20 – 21:40hs - Hipertermia e Drogas no Brasil - Ceatox - Anthony Wong
(Drug induced hyperthemia in Brasil - Ceatox)
21:40 – 22:00hs - Regulamentação do Atendimento à Hipertermia Maligna no Brasil –
Vereador Paulo Teixeira
(Brazilian laws on MH in Brazil. São Paulo City Office)
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Neurociências
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08/10/05 – Sábado – 8:00h
(10/08/05 – Saturday – 8:00am)
Módulo 2 – Doenças Neuromusculares
(Session 2 – Neuromusculares Disorders)
8:00 – 8:30hs - Neurônio Motor (AMEP, ELA, SPP) – Marco Antonio Troccoli Chieia
(Motor neuron disease)
8:30 – 9:00hs - Neuropatia Periférica (S-M e autonômica) - Wilson Marques Júnior
(Peripheral neuropathies)
9:00 – 9:30hs - Placa Mioneural (Miastenia) - Anamarli Nucci
(Myasthenia gravis)
9:30 – 10:00hs - Miopatias - Alzira Alves de Siqueira Carvalho
(Myopathies)
10:00 – 10:15hs - Intervalo
(Coffee break)
Módulo 3 - Rabdomiólise
Session 3 - Rhabdomyolysis
10:15 – 10:45hs - Hipertermia Maligna Anestésica - José Luiz Gomes do Amaral
(Anesthetic Malignant Hyperthemia)
10:45 – 11:15hs - Síndrome Neuroléptica Maligna - Paulo E. Marchiori
(Neuroleptic Malignant Syndrome)
11:15 – 11:45hs - Fisiologia do Exercício - Antonio Carlos da Silva
(Physiology of Exercise)
11:45 – 12:15hs - Hipertermia de Esforço - Acary Souza Bulle Oliveira
(Exercise Heatstroke)
12:15 – 13:45hs - Sessão Poster
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12:15 – 14:00hs – Intervalo para Almoço
(Lunch and poster session)
Módulo 4 – Diagnóstico
Session 4 – Diagnosis
14:00 –14:30hs - Formas Atípicas de Hipertermia Maligna Anestésica - Maria Anita Spindola
(Atypical forms of anaesthetic malignant hyperthemia)
14:30 – 15:00hs - Fisiologia da Contração Muscular - Alice Teixeira Ferreira
(Physiology of muscular contraction)
15:00 – 15:20hs - Biópsia e Teste de Contratura Muscular - Helga Cristina Almeida da Silva
(In vitro contracture test)
15:20 – 15:40hs - Genética – Patrícia Mayumi Kossugue
(Malignant hyperthermia genetics)
15:40 – Intervalo
(Coffee Break)
Módulo 5 - Anestesia em Doenças Neuromusculares
Session 5 – Safe Anaesthesia in Neuromuscular Disease
16:00 – 16:20hs - Anestesia para Distrofia, Canalopatia e Miopatia Metabólica –
Vincenzo Tegazzin
(Anaesthesia in myopathies, metabolic, canalopathies, and dystrophies).
16:20 – 16:40hs - Anestesia para Insuficiência Respiratória Restritiva – Cláudia Lutke
(Anaesthesia in restricitive respiratory insufficiency)
16:40 – 17:00hs - Anestesia para Miastenia Gravis – José Luiz Gomes do Amaral
(Anaesthesia in Miastenia gravis)
17:00 – 17:20hs - Anestesia para Suscetíveis à Hipertermia Maligna –
Luiz Bomfim Pereira da Cunha
(Anaesthesia in MH susceptible patients)
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Módulo 6 - Tratamento e Prevenção
Session 6 – Treatment and Prevention
17:20 – 17:40hs - Dantrolene – Oscar César Pires
(Dantrolene)
17:40 – 18:00h - Prevenção e Tratamento de Hipertermia no Esporte –
Antonio Carlos da Silva
(Treatment and prevention of exercise hyperthermia)
18:00 – 18:20hs - Sociedade Civil e Hipertermia Maligna – Sempre Viva –
Rogério Firme da Silva
(Non – Governamental Groups and MH – Sempre Viva Group)
ENCERRAMENTO
Closing session
REALIZAÇÃO:
Associação Paulista de Medicina e UNIFESP/EPM
APOIO:
Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo
Associação Brasileira de Combate a Hipertermia Maligna – Sempre Viva
Academia Brasileira de Neurologia
UNIFESP: Departamento de Anestesiologia, Dor e Medicina Intensiva; Disciplina de
Neurologia
Centro de Estudos do Genoma Humano
Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
10
Anesthesia in patients with neuromuscular disorders
Anestesia em Doenças Neuromusculares
Vincenzo Tegazzin
Head of MH Laboratory, Department of Anesthesia and ICU, S.Antonio University-Hospital, Padua, Italy.
The scientific progress in molecular medicine, genetic and physiopathology of skeletal
muscle junction make over the knowledge on the cause of muscle disorders (NMD) and on
molecular action of anaesthetic drugs.
To obtain general anaesthesia (narcosis, muscle relaxation, analgesia) more drugs are
required, which act, trough specific receptors, on the brain and on the neuromuscular junction.
Therefore, the knowledge of the patho-physiology of the muscle plays an important rule in the
anaesthesiological practice.
However, the complications of anesthesia in patients affected with muscle diseases
could be divided in two groups: those derived from triggering agents and attributed to
depolarizing muscle relaxants and volatile anesthetics (type I complications-rhabdomyolisis,
hyperpotassiemia, cardiac arrest and malignant hyperthermia) and those derived from the well
known general side effects of the anesthetics, namely respiratory and cardiac depression (type
II complications)1.
Therefore, the aim of anaesthesia is to be “safe anaesthesia-avoiding trigger agents-”
and this is an appropriate condition particularly for the patients with NMD that can suffer
from cardiomyopathy, restrictive lung disease, altered metabolism, skeletal dismorphism with
difficulty in airway management, altered pharmacodynamics and pharmacokinetic effects of
the anaesthetic drugs.
From the literature, in the anesthetized patients with NMD the multimodal approach
seems to be the more satisfactory both in adult and in the children1. Another condition that
must be controlled particularly during general anesthesia is the titration of anesthetic agents,
taking in mind that more than 250 drugs have an effect on neuromuscular transmission and
hence interfere pharmacodynamically with muscle relaxant2.
For this reason, an accurate monitoring of PA, ECG, ETCO2, SaO2, and temperature, and
the availability of a trolley with specific drugs and equipment for airway management and of
an experienced anesthetist is needed.
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
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Another important issue concerns patients that are “suspected myopathic or malignant
hyperthermic” so that, if not in emergency situations, a good examination before anesthesia
should include:
1) deep anamnesis,
2) well documented reports, serum enzymes tests, specialists consulting (neurology,
cardiology, respiratory),
In case of emergency situation, a general anesthesia without depolarizing muscle relaxant
and halogenated is recommended, followed by proper monitoring.
References
1. Melloni C. Effects of intravenous anaesthetics on patients with muscle disease Proceedings of
“Neuromuscular Diseases and Anaesthesia meeting”, 2004, (in press).
2. Argov Z, Mastaglia FL. Disorders of neuromuscular transmission caused by drugs. N Engl J Med
1979; 301:409-413.
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Neurociências
12
Fisiologia da termorregulação normal
Thermoregulation
José Reinaldo Cerqueira Braz
Professor Titular do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade
Estadual de São Paulo- UNESP.
1. Fisiologia da Termorregulação Normal
O homem necessita que a temperatura interna seja constante e o seu sistema
termorregulador mantém a temperatura central próxima de 37ºC, para conservação das
funções metabólicas1.
A manutenção da normotermia nos animais homeotermos, como o homem, é uma
função muito importante do sistema nervoso autônomo. Já com pequenas alterações da
temperatura central, podem ocorrer alterações metabólicas e enzimáticas2-4.
A termorregulação é realizada por um sistema de controle fisiológico, que consiste em
termorreceptores centrais e periféricos, um sistema de condução aferente, o controle central
de integração dos impulsos térmicos e um sistema de respostas eferentes levando a respostas
compensatórias2 (Figura 1).
No hipotálamo situa-se o sistema de controle central, que regula a temperatura do
corpo ao integrar os impulsos térmicos provenientes de quase todos os tecidos do organismo,
e não apenas em relação à temperatura central do organismo, o que tem sido considerado
como temperatura corporal média. Quando o impulso integrado excede ou fica abaixo da
faixa limiar de temperatura, ocorrem respostas termorreguladoras autonômicas, que mantêm a
temperatura do corpo em valor adequado3.
Os impulsos termais aferentes provêm de receptores anatomicamente distintos ao frio
e ao calor, os quais podem ser periféricos ou centrais4. Também existem receptores
termossensíveis localizados na pele e nas membranas mucosas, que medeiam a sensação
térmica e contribuem para a ocorrência dos reflexos termorregulatórios. Esses receptores
também respondem à sensação mecânica.
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Respostas ao calor
Hipotálamo
Outras partes do cérebro
Pele
Medula espinhal
Tecidos centrais profundos
Hipotálamo
Sem
resposta
Vasodilatação
Sudorese
Comportamental
Vasoconstrição
Termogênese
sem tremores
Tremores
Comportamental
Respostas ao frio
Figura 1 - O modelo de termorregulação. Os impulsos térmicos recebidos dos tecidos periféricos são integrados
no hipotálamo, o qual determina a temperatura corporal média. A faixa interlimiar é a temperatura corporal
média durante a qual não são deflagradas respostas efetoras. Adaptado de Sessler (1994)6.
Os receptores para frio têm descargas de impulsos a temperaturas entre 25º-30ºC e são
inervados por fibras Aδ. Os receptores para calor têm descargas de impulsos a temperaturas
entre 45º-50ºC e são inervados por fibras desmielinizadas C3.
No hipotálamo anterior é feita a integração das informações aferentes térmicas,
enquanto no hipotálamo posterior iniciam-se as respostas efetoras. Na área pré-óptica do
hipotálamo existem neurônios sensíveis e não sensíveis à temperatura, sendo que os primeiros
podem ser classificados em neurônios sensíveis ao calor e neurônios sensíveis ao frio, estes
últimos predominantes. Ressalte-se ainda a presença de neurônios sensíveis à estimulação
térmica local no hipotálamo posterior, na formação reticular e na região medular5.
Existe uma faixa interlimiar de temperatura, definida geralmente entre 36,7º a 37,1ºC,
na qual não há resposta efetora. Temperaturas abaixo ou acima desses limiares desencadeiam
respostas efetoras (Figura 2). Em pacientes anestesiados a faixa interlimiar pode chegar a 3º4ºC de diferença, quando o normal é de 0,4ºC de diferença6. Essa faixa é mais ampla no
estado hipotérmico do que no hipertérmico, especialmente no paciente sob anestesia (Figura
3).
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Neurociências
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Paciente em vigília
Vasoconstrição
Termogênese sem
tremor
33
Vasodilatação ativa
35
37
39
temperatura corporal (oC)
41
Figura 2 - Limiares termorreguladores em lactentes e crianças em estado de vigília. O eixo das ordenadas
representa a intensidade máxima das respostas efetoras. Adaptado de Bissonette (1993)7.
O controle termorregulatório é semelhante no homem e na mulher8, mas diminui no
idoso9 e em pacientes gravemente enfermos.
A resposta comportamental é a resposta termorregulatória quantitativamente mais
eficaz, porém vários outros mecanismos, também eficazes, são importantes, como a resposta
vasomotora, que se caracteriza pela vasodilatação em resposta ao calor e pela vasoconstrição
e piloereção em resposta ao frio; o tremor, que aumenta o consumo de oxigênio e a taxa
metabólica em resposta ao frio; e a sudorese em resposta ao calor (Figuras 1 e 2).
Quando no termostato hipotalâmico há indicação de temperatura corporal fria,
impulsos do hipotálamo se dirigem para o córtex cerebral, dando ao indivíduo a sensação de
frio. O resultado é uma modificação comportamental, com aumento da atividade motora,
colocação de agasalhos e movimentação para aumento do aquecimento. O controle das
respostas comportamentais depende fundamentalmente da temperatura da pele.
Em relação ao calor, a primeira defesa autonômica é a vasodilatação cutânea. Já a
sudorese, mediada por inervação colinérgica pós-ganglionar nas terminações glandulares, é
considerada a mais importante. O suor é um ultrafiltrado do plasma e sua composição
depende da intensidade da sudorese, do estado de hidratação e de outros fatores. Em situação
máxima, o adulto produz mais de 0,5 L/h de suor, principalmente o atleta bem treinado. A
sudorese é um processo muito efetivo de perda de calor por causa do elevado calor latente de
evaporação da água. Cada grama de suor que se evapora absorve 584 calorias.
Conseqüentemente, a sudorese pode dissipar facilmente o calor especialmente se o ambiente
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estiver seco. A eficiência da sudorese é aumentada pela vasodilatação pré-capilar
termorreguladora, resposta característica do homem, que é regulada por fatores como a
bradicinina e o óxido nítrico. Ela aumenta, em muito, o fluxo sanguíneo cutâneo para facilitar
a transferência do calor central para a pele.
Paciente sob anestesia
Vasoconstrição
Crianças
recém-nascidos
Vasodilatação ativa
Termogênese
sem tremor
Sudorese
Tremor
> 6 anos
33
35
37
39
Temperatura corporal (oC)
41
Figura 3 - Limiares termorreguladores em lactentes e crianças sob anestesia. O eixo das ordenadas representa a
intensidade máxima das respostas efetoras. Adaptado de Bissonette (1993)7.
No caso de ocorrência de hipotermia, a resposta vasoconstritora é a primeira a ser
deflagrada e é considerada a mais importante.
O fluxo sangüíneo da pele das extremidades pode ser dividido em dois
compartimentos: o nutricional, representado pelos capilares, e o termorregulador, pelos curtocircuitos arteriovenosos situados principalmente nos dedos das mãos e dos pés, nas orelhas e
no nariz10. Assim, na hipotermia, o fluxo sangüíneo pode ser diminuído em até 100 vezes por
meio desses curto-circuitos. O fluxo dos curto-circuitos é mediado primariamente pela
noradrenalina liberada nas terminações adrenérgicas pré-sinápticas que, ao ligar-se aos
receptores α1-adrenérgicos, determina vasoconstrição10. Embora ocorra diminuição da
perfusão cutânea pela vasoconstrição termorreguladora, a redução da perda de calor pelo
organismo é pequena, ao redor de 25%. As perdas pelas mãos e pelos pés diminuem ao redor
de 50%, mas somente 17% pelo tronco.
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2. Locais de Monitorização da Temperatura Central
Os locais mais utilizados para monitorização da temperatura corporal durante a
anestesia são: nasofaringe, membrana timpânica, reto e esôfago. Outros locais também são
utilizados, como bexiga, axila e artéria pulmonar, esta última quando o paciente apresenta
monitorização hemodinâmica por meio de cateter de Swan Ganz colocado na artéria
pulmonar.
A escolha do local para medição de temperatura corporal depende da sua finalidade,
podendo estar relacionada à medição da temperatura de órgãos específicos ou da temperatura
central. Assim, medições da temperatura na membrana timpânica ou nasofaringe estimam a
temperatura cerebral. Já a temperatura esofagiana e a da artéria pulmonar aproximam-se da
temperatura do miocárdio. Segundo os autores11, a maior precisão e acurácia são dadas pela
temperatura timpânica, seguida pela temperatura da bexiga, nasofaringe e esôfago.
Temperaturas da axila têm menor acurácia do que a de outros locais11.
A temperatura central é muito próxima a do hipotálamo, região do cérebro na qual
ocorre o controle central de impulsos termorreguladores provenientes de todo o organismo. O
hipotálamo recebe irrigação sangüínea por meio da artéria cerebral anterior, que é ramo da
artéria carótida interna, enquanto a membrana timpânica é irrigada por ramo da artéria
carótida externa. Assim, acredita-se que a temperatura timpânica no homem estima, de forma
fidedigna, a temperatura central.
Em pacientes submetidos à anestesia geral, ao se compararem as temperaturas retal,
esofágica e timpânica, obteve-se boa correlação entre as temperaturas esofágica e timpânica.
Porém, a temperatura retal apresentou sempre valores mais elevados do que os dos demais,
durante a ocorrência de leve hipotermia no intra-operatório12. No entanto, outros autores13
demonstraram que a temperatura retal correlaciona-se muito bem com a temperatura
timpânica, durante a anestesia geral e a anestesia subaracnóidea.
Referências
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1994; 12: 425-456.
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
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of Medical Physiology. 9o ed. Philadelphia: WB Saunders, 1996; 911-922.
4. Buggy DJ, Crossley AWA. Thermoregulation, mild perioperative hypothermia and postanesthetic
shivering. Br J Anaesth 2000; 84: 615-628.
5. Dikenson AH. Specific responses of rat raphe neurones to skin temperature. J Physiol (Lond) 1977;
273: 277-293.
6. Sessler DI. Temperature monitoring. In: Miller RD - Anesthesia. New York: Churchill Livingstone,
1994; 1363-1382.
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8. Lopez M, Sessler DI, Walter K, et al. Rate and gender dependence of the sweating vasoconstriction
and shivering thresholds in humans. Anesthesiology 1994; 80: 780-788.
9. Khan F, Spence VA, Belch JJF. Cutaneous vascular responses and termoregulation in relation to
age. Clin Science 1992; 82: 521-528.
10. Camus Y, Delva AE, Bossard M, et al. Prevention of hypothermia by cutaneous warming with
new eletric blankets during abdominal surgery. Br J Anaesth 1997; 79: 796-797.
11. Cork RC, Vaughan RW, Humphey LS. Precision and accuracy of intraoperative temperature
monitoring. Anesth Analg 1983; 62: 211-214.
12. Benzinger M. Tympanic thermometry surgery and anesthesia. JAMA 1969; 209: 1207-1211.
13. Cattaneo CG, Frank SM, Hesel TW, et al. The accuracy and precision of body temperature
monitoring methods during regional and general anesthesia. Anesth Analg 2000; 90: 938-945.
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Modelos animais ajudando a decifrar doenças
neuromusculares humanas
Animal models of neuromuscular disorders
Mariz Vainzof1, Lydia U Yamamoto1, Patrícia M Kossugue1, Luciana LQ
Fogaça1, Fernando Z Velloso1, Danielle Ayub1, Viviane P Muniz1, Mayana
Zatz1, Helga CA Silva1, Silvia MG Massironi2, Maria Angélica Miglino3,
Carlos Eduardo Ambrosio3, Ligia G Miyazato4, Julieta RE Moraes4,
Fernando HF D’Angeles4, Joaquim C Lacerda Neto4, Ana Carolina
Mortari5, Alexandre S Borges5, Luiz antonio L Rezende5, Sheila C Rahal5
1-) Centro de Estudos do Genoma Humano, IBUSP, 2) ICB, USP, 3-) FMVZ, USP; 4) FCAV-UNESP,
Jaboticabal; 5-) FMVZ e FM-UNESP, Botucatu, SP.
As afecções neuromusculares humanas constituem um grupo heterogêneo de doenças
genéticas caracterizadas por degeneração muscular progressiva, levando ao desenvolvimento
de fraqueza muscular e perda de capacidade motora. Na última década, foram identificadas
mutações em vários genes, resultando na deficiência ou perda de função de diversas proteínas
musculares de importância significativa para o bom funcionamento do músculo. Estudos
bioquímicos e imunohistológicos têm localizado estas proteínas nos diversos compartimentos
da fibra muscular. Associadas à membrana sarcolemal, encontram-se a distrofina, as 4
sarcoglicanas, disferlina e caveolina 3; na matriz extracelular, a α2-laminina e colágeno VI;
nos sarcômeros, a teletonina, miotilina, titina, actina e tropomiosina; no citosol muscular,
canal de Cálcio (receptor de rianodina), a calpaina 3, FRPR, TRIM32, miotubularina; e nos
núcleos, a emerina, lamina A/C, proteína SMN. Algumas das doenças associadas a alterações
nestas proteínas são as distrofias musculares progressivas e as miopatias congênitas.
Estudos clínicos e neurológicos em animais com fraqueza muscular têm ajudado a
identificar alguns modelos animais tais como camundongos, cães e gatos, deficientes para
diferentes proteínas musculares.
Os estudos realizados nestes animais são cruciais para
aumentar nossos conhecimentos a respeito de doenças genéticas humanas e para a
investigação de terapias experimentais. A facilidade com que o genoma murino pode ser
manipulado faz do camundongo uma ferramenta bastante utilizada em testes moleculares e na
avaliação de complexos protéicos musculares. Dentre os modelos murinos, o camundongo
mdx, apresenta uma mutação de ponto no gene da distrofina, e uma ausência total da proteína
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
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no músculo, constituindo um modelo molecular e protéico para a distrofia muscular de
Duchenne humana (DMD). Diversos camundongos transgênicos e knockout para as proteínas
sarcoglicanas, caveolina e disferlina já foram gerados, e estão ajudando no estudo dos
mecanismos de composição e funcionamento destes complexos protéicos nos animais
afetados.
Devido à deficiência da proteína distrofina, como em pacientes com DMD, o músculo
de camundongos mdx é afetado por degeneração e necrose. Entretanto, o camundongo mdx
exibe um curso clínico mais brando. Além disso, a fraqueza muscular não é característica e o
tempo de vida não é reduzido. Esse camundongo também apresenta um grande número de
fibras revertentes (2-3%), que passam a sintetizar novamente de forma espontânea a
distrofina. Como a presença natural destas fibras dificulta a análise de terapias que visam a
expressão de distrofias, outros modelos murinos de DMD foram experimentalmente
induzidos. Embora o camundongo mdx seja um bom modelo molecular, não é um bom
modelo clínico, por não apresentar fraqueza muscular significativa, dificultando o seu uso na
avaliação clínica da eficácia de triagens terapêuticas . Neste sentido, a identificação do
modelo canino da raça Golden Retriever com deficiência de distrofina trouxe novas
perspectivas, uma vez que apresenta fraqueza muscular significativa, simulando a distrofia
humana. A patogênese do GRMD tem manifestação in utero com o desenvolvimento de
lesões musculares linguais. Extensas necroses dos músculos dos membros, tronco e pescoço
podem ser identificadas já ao nascimento. Assim como na doença humana e no modelo mdx,
as concentrações da enzima creatino quinase sérica estão também extremamente elevadas
desde o nascimento. Em seis meses, desenvolvem-se fibrose muscular e contraturas nas
junções. Além disso, cães jovens com GRMD podem também morrer por falha cardíaca ou
respiratória, embora alguns sobrevivam e alcancem muitos anos de vida. Diversos estudos de
terapia gênica e celular estão em andamento no modelo canino da distrofia de Duchenne.
Estudos moleculares em modelo porcino
contribuíram significativamente na
descoberta do principal gene envolvido na hipertermia maligna humana. A partir da
identificação de uma mutação neste mesmo gene em porcos com crises semelhantes à HM
humana, desencadeadas por estresse, denominada Síndrome do estresse suíno (PSS – Porcine
Stress Syndrome), foi possível localizar o gene RYR1 humano no cromossomo 19. Para
melhor investigar o efeito de alterações neste importante canal de cálcio, foram gerados em
1998 camundongos mutantes, onde dois genes, RYR1 e RYR3 foram inativados. Verificouse que o músculo esquelético de animais duplo mutantes não se contraía em resposta à cafeína
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ou rianodina e também apresentava diversas alterações histológicas, sugerindo degeneração
miofibrilar. Isto foi confirmado por análises bioquímicas das proteínas contráteis, e o estudo
ultraestrutural confirmou a presença de miofibrilas reduzidas com completa ausência de
receptores de rianodina nas junções do retículo sarcoplasmático.
Para o estudo do mecanismo de funcionamento das diversas outras proteínas
envolvidas nas doenças neuromusculares humanas, faz-se necessário identificar novos
modelos animais com fraqueza muscular, triados em diversos Centros Veterinários. Para tal,
estão sendo feitos estudos histológicos, histoquímicos, imunohistoquímicos e de western blot
em biópsias musculares de animais com fraqueza muscular. A identificação e caracterização
de modelos animais com deficiências musculares semelhantes às descritas nas doenças
humanas constituem importante ferramenta para a avaliação fisiopatológica do respectivo
defeito molecular primário. Além disso, podem ter um papel significativo como modelo
bioquímico e clínico para ensaios terapêuticos.
Referências
1. Allamand V, Campbell KP. Animal models for muscular dystrophy: valuable tools for the
development of therapies. Human Mol Genet 2000; 9: 2459-2467.
2. Barone V, Bertocchini F, Bottinelli R, et al. Contractile impairment and structural alterations of
skeletal muscles from knockout mice lacking type 1 and type 3 ryanodine receptors. FEBS Lett 1998;
422:160-164.
3. Cooper BJ, Winand NJ, Stedman H, et al. The homologue of the Duchenne locus is defective in Xlinked muscular dystrophy of dogs. Nature 1988; 334: 154-156.
4. Fujii J, Otsu K, Zorzato F, et al. Identification of a mutation in porcine ryanodine receptor
associated with malignant hyperthermia. Science 1991; 253: 448-451.
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cell transplantation. Nature 1999; 401: 390-394.
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7. Vainzof M, Yamamoto LU, Gouveia TLF, Zatz M. The contribution of protein analysis in the
diagnosis of neuromuscular diseases. In: Burgess VN, Trends in Muscular Dystrophy Research. USA:
Nova Publisher, 2005.
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Hipertermia e Drogas no Brasil – Ceatox
Drug induced hyperthemia in Brasil - Ceatox
Anthony Wong
CEATOX do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – USP.
___________________________________________________________
Hipertermia Maligna – Legislação no Estado de São
Paulo
Brazilian laws on MH in Brazil. São Paulo City Office
Vereador Paulo Teixeira
O movimento que levou à promulgação da lei nº 10.781, de 9 de março de 2001, se
originou na Sempre Viva e contou com o apoio da Associação Paulista de Medicina, através
do Dr. José Luiz Gomes do Amaral, e dos familiares de portadores.
Com eles, aprendemos que a Hipertermia Maligna é uma síndrome, ligada à uma
herança genética, sem sinais clínicos aparentes, desencadeada por anestésicos gerais
halogenados, bem como por relaxantes musculares despolarizantes. As dificuldades para a
detecção da suscetibilidade nos levou a crer que a conduta mais adequada seria a preventiva.
Percebemos a urgência em obrigar o Poder Público a se preparar para o diagnóstico,
tratamento e registro das ocorrências desta síndrome no Estado.
O desconhecimento da síndrome, a falta de diagnóstico correto e o consequente
tratamento inadequado leva pessoas à morte, e diante deste quadro elaboramos o projeto de
lei 867/99, que tinha como objetivo instituir uma política de prevenção, diagnóstico e
tratamento da hipertermia maligna.
Nosso fundamento foi a determinação constitucional quanto à assistência universal e
integral à saúde, de competência do Estado, bem como a Lei 8.080/90 e a lei estadual 10.083,
de 23 de setembro de 1998 (Código Sanitário).
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O Governador do Estado vetou parcialmente a lei, retirando as disposições constantes
do inciso II do artigo 2º e as do artigo 3º e 4º – respectivamente, a garantia de que todos os
hospitais públicos e particulares, bem como as demais empresas que prestem assistência
médico-hospitalar, no Estado, diretamente ou por intermediação, possuam medicamentos
apropriados para o combate à doença em questão, especialmente, o Dantroleno Sódico; a
obrigação de tais estabelecimentos terem, em seus estoques, os mencionados medicamentos; e
a sanção caso não cumpram a lei.
O argumento dado pelo Executivo foi: “essa imposição, importando em incalculável
dispêndio, dada a inexistência de estatísticas nacionais de morbi-mortalidade, relativas à
Hipertermia Maligna - HM, que permitam adequado levantamento de dados para que os
estabelecimentos de assistência à saúde possam fazer previsão para estoque inicial e de
manutenção desses medicamentos, revela-se impraticável, daí decorrendo a impossibilidade
da subsistência das disposições ora impugnadas, vetando-se, em decorrência, o artigo 4º, por
desnecessárias as sanções aí previstas, ante a inocorrência de infrações, dado o não
prevalecimento da norma inscrita no artigo 3º do texto. Afinal, (..) o estabelecimento de
medidas de controle da síndrome dependem da constituição de Comissão Técnica para Estudo
e Prevenção da Hipertermia Maligna, composta por membros de diversas instâncias da Pasta,
das Universidades e entidades representativas das categorias médicas envolvidas, o qual
deverá, dentre outras atribuições, realizar estudos epidemiológicos sobre esse agravo à saúde,
conforme determina o artigo 7º, inciso VII, do Código Nacional de Saúde (Lei federal nº
8080/90), tendo em vista as diretrizes do artigo 198 da Constituição da República.”
Este veto foi analisado pela Assembléia Legislativa, que decidiu derrubá-lo em
parte, resgatando o artigo 2º, inciso II do projeto original e o artigo 4º (mas sem a multa) e
mantendo os vetos aos artigos 3º e 5º. A lei ficou assim:
Lei nº 10.781, de 9 de março de 2001
Dispõe sobre a Política Estadual de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da
Hipertermia Maligna - HM no Estado de São Paulo, e dá providências correlatas.
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
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Art. 1º Fica instituída no Estado a Política para Prevenção, Diagnóstico e Tratamento
da Hipertermia Maligna - HM, que será desenvolvida nos termos desta lei pelo Poder
Executivo em parceria com a sociedade civil.
Art. 2º A Política para Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Hipertermia Maligna HM tem como objetivos:
I - prevenir, diagnosticar, tratar e orientar adequadamente os pacientes suscetíveis de
hipertermia maligna e seus familiares;
II - garantir que todos os hospitais públicos e particulares, as empresas de medicina de
grupo, cooperativas de trabalho médico, ou outras que atuem sob a forma de prestação direta
ou intermediação dos serviços médico-hospitalares e operem no Estado,
possuam
medicamentos apropriados para o combate da doença, em especial o Dantroleno Sódico;
III - erradicar o número de mortes decorrentes desta síndrome no Estado;
IV - produzir materiais de divulgação para os profissionais do setor da saúde no
Estado contendo as principais informações sobre a hipertermia maligna e as formas de se
evitar os seus efeitos mortais nos pacientes;
V - realizar palestras informativas sobre a hipertermia maligna para médicos e
paramédicos em hospitais de referências no Estado;
VI - implantar um sistema de coleta de dados sobre os portadores da síndrome
visando:
a) manter um Cadastro Estadual com informações sobre a incidência da doença na
população paulista e o número de mortes dela decorrentes;
b) obter elementos informadores sobre a população atingida pela moléstia;
c) contribuir para o aprimoramento das pesquisas científicas sobre a hipertermia
maligna;
d) firmar convênios com os serviços funerários existentes no Estado para que
informem toda vez que houver vítimas da síndrome.
Art. 3º Vetado.
Art. 4º A inobservância dos preceitos desta lei sujeitará os infratores a (vetado)
sanções penais e civis cabíveis em espécie.
Art. 5º O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de 30 (trinta) dias, a contar
da data de sua publicação.
Art. 6º As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta de dotações
orçamentárias próprias, suplementadas se necessário.
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Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.
Portanto, a diferença central entre a lei e o projeto original está no artigo 3º, que
estabelecia que “os Hospitais e Postos de Saúde, públicos e particulares, as empresas de
Medicina de Grupo, cooperativas de trabalho médico, ou outras que atuem sob a forma de
prestação direta ou intermediação dos serviços médico-hospitalares e operem no Estado de
São Paulo, estão obrigadas a dispor, em seus estoques, dos medicamentos necessários para o
tratamento da Hipertermia Maligna”.
Esta lei serviu como modelo para a apresentção de projetos em outros locais e em
nível federal.
Cerca de um ano após a sanção, foi publicado o Decreto 46.601, de 12 de março de
2002, que regulamentou a lei, estabelecendo que o Programa Estadual de Prevenção,
Diagnóstico e Tratamento da Hipertermia Maligna (PROPREV – HM) insere-se na Política de
Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Hipertermia Maligna (HM) do Estado de São Paulo,
sob a Coordenação da Secretaria da Saúde, e abrange, além da Administração Direta, as
Autarquias, as Fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público, bem como as demais
instituições direta ou indiretamente vinculadas ao Estado, ou com ele conveniadas ou
contratadas para execução de ações e atividades de saúde no âmbito do Sistema Único de
Saúde – SUS/SP.
Caberia à Secretaria da Saúde constituir Grupo Técnico Permanente com as seguintes
atribuições: instituir, organizar e inserir informações/dados no Cadastro Estadual de
Informações sobre a incidência, prevalência e óbitos decorrentes da HM; elaborar no prazo de
120 (cento e vinte) dias, Norma Técnica visando disciplinar os aspectos múltiplos referentes à
prevenção, diagnóstico e tratamento da HM e, no mesmo prazo, protocolo específico para a
investigação clínico-epidemiológico dos casos de HM; promover levantamentos, estudos
epidemiológicos/estatísticos e pesquisas sistemáticas na literatura científica e por meio de
rastreamento na população, com o objetivo de obter informes a respeito da incidência e
prevalência de HM em nosso meio; e divulgar, periodicamente, informações atualizadas sobre
a Síndrome da HM e formas para evitar seus efeitos, visando subsidiar as ações de
profissionais e entidades ligadas à saúde.
O decreto estabelece ainda que as entidades de assistência à saúde do Estado,
integrantes ou não do Sistema Único de Saúde - SUS/SP, que realizam procedimentos
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médico-cirúrgicos deverão notificar, ao Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde,
imediatamente após a adoção das condutas terapêuticas indicadas, o diagnóstico de quadros
clínicos de HM, o mesmo se aplicando aos Serviços de Verificação de Óbito - SVO e Instituto
Médico Legal - IML, relativamente aos casos suspeitos de HM verificados nos respectivos
âmbitos de atuação.
Por fim, as entidades de assistência à saúde, integradas ou não ao SUS/SP que
realizam procedimentos com o uso de medicamentos que possam desencadear Hipertermia
Maligna deverão garantir o tratamento específico imediato dos pacientes que vierem a
apresentar quadro clínico de HM, responsabilizando-se civil e criminalmente pela eventual
omissão.
Perguntamos: esta lei tem sido aplicada? Como anda a prevenção, o diagnóstico e o
tratamento da Hipertermia Maligna no Estado de São Paulo? Os médicos, profissionais da
saúde, familiares e portadores aqui presentes podem, melhor do que ninguém, nos dar esta
resposta.
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Doenças do neurônio motor
Motor neuron disease
Marco Antonio Troccoli Chieia
Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
O neurônio motor caracteriza-se pela distribuição na região anterior da medula e
tronco cerebral desempenhando papel de integração de impulsos de origem do sistema
nervoso central e atividade muscular. Para estabelecer determinada função, torna-se
necessário uma estrutura aprimorada, de alta atividade metabólica, constituída de um corpo
celular, axônio extenso com ramificações dendriticas freqüentes sustentadas por um
citoesqueleto e porção terminal integrado a junção neuromuscular e músculo esquelético.
O corpo celular apresenta alta atividade oxidativa mitocondrial necessárias para a
produção de enzimas e outras proteínas responsáveis pela manutenção da integridade
funcional, eliminando resíduos tóxicos a célula, estruturando o citoesqueleto para garantia de
um transporte axonal adequado, garantindo a neuroproteção diante do stress metabólico. O
axônio constitui-se de fibras grossas mielinizadas, de rápida condução, transmitindo um
impulso originado por input excitatório glutamatérgico.
As patologias que afetam o neurônio motor caracterizam-se por causarem apoptose
neuronal, isto é dano na estrutura funcional celular, seja por alterações do DNA ou por stress
funcional, ou necrose com agressão direta ao neurônio motor como na poliomielite, além
disto, nota-se que as patologias diferem-se na variabilidade de acometimento anatômico, com
seletividade por locais e organelas especificas, reforçando as várias possibilidades etiológicas.
A doença do neurônio motor é um termo que se aplica a síndromes clínicas com
características próprias como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Atrofia Muscular
Progressiva (AMP), Esclerose Lateral Primária (ELP), Paralisia Bulbar Progressiva(PBP).
A Esclerose Lateral Amiotrófica, caracteriza-se por uma doença degenerativa, que
afeta o corno anterior da medula, tronco cerebral e células de Betz do córtex motor, causando
morte no corpo celular do neurônio motor de maneira crônica e rapidamente progressiva com
óbito em torno de 03 a 05 anos após o inicio da sintomatologia .
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A incidência é de 1 a 2 casos/100000 pessoas ou 2500 casos por ano, com
predominância em no sexo masculino em relação ao feminino na proporção de 2:1, com idade
média de início em torno dos 50 anos. Os fatores de risco relacionados a doença são traumas
elétricos, mecânicos ou cirúrgicos.
Em 90% dos casos apresenta-se como forma esporádica e 5 a 10% dos casos sob
forma familiar caracterizada por herança autossômica dominante. A etiologia da ELA é
multifatorial sendo a excitoxicidade mediada pelo glutamato e o stress oxidativo como teorias
mais prováveis, sendo a morte do neurônio motor caracterizada por um desequilíbrio entre o
stress celular e seus mecanismos protetores.A forma familiar carrea mutações no gene que
codifica a enzima SOD 1 (superóxido desmutase) , que é responsável pela dismutação do
radical livre superóxido, cujo acúmulo é altamente lesivo, levando a peroxidação das
proteinas celulares e morte.
O quadro clínico da ELA caracteriza-se pela presença de sinais de acometimento do
neurônio superior e inferior, associando o quadro de paresia, atrofia e fasciculações ao de
hiperreflexia, espasticidade, cãibras e sinal de Babinsky. O acometimento bulbar caracterizase por disfonia, disfagia, com paresia da musculatura de língua com atrofia e fasciculações,
associados a sintomas como labilidade emocional e depressão, provenientes do acometimento
do neurônio motor superior; com a progressão da doença há envolvimento da musculatura
respiratória cursando com distúrbio ventilatório restritivo grave.
A paralisia bulbar progressiva tem predomínio no sexo feminino com envolvimento
predominante dos neurônios motores bulbares, labilidade emocional e evolução mais precoce
da musculatura respiratória com evolução a óbito em torno de 06 meses a 03 anos.
Por outro lado a ELP apresenta evolução mais arrastada com presença de sinais de
acometimento do neurônio motor superior exclusivos, em pelo menos três anos antes de
envolvimento do neurônio motor inferior.
O diagnóstico é estabelecido pela história clinica, associada a confirmação com dados
eletrofisiológicos através da eletroneuromiografia, utilizando exames de imagem como
ressonância nuclear magnética e laboratoriais para exclusão de patologias como possíveis
diagnósticos diferenciais. Para facilitar a classificação foram estabelecidas síndromes clínicas
caraterizando a doença como suspeita, possível, provável e definida de acordo com número de
regiões espinhais e bulbares acometidas com envolvimento do neurônio motor inferior e ou
superior. Os diagnósticos diferenciais principais são a Neuropatia Motora Multifocal, um
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distúrbio imunomediado,
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e a doença de Kennedy, que apesar do caráter degenerativo,
apresenta o curso mais arrastado.
Os avanços terapêuticos se baseiam no uso de drogas que previnam a apoptose
neuronal inibindo o acúmulo de glutamato e a conseqüente excitotoxicidade, além de drogas
antioxidantes.
A Atrofia Muscular Espinhal caracteriza-se pelo envolvimento puro do motoneurônio
inferior, sem envolvimento sensitivo e do tracto piramidal com evolução progressiva
determinada geneticamente por várias mutações, podendo envolver a musculatura bulbar e
sendo assim também denominada neuropatia motora hereditária. O envolvimento de outros
sítios patológicos não são infrequentes, principalmente nas formas recessivas, em decorrência
das alterações moleculares.
A principal síndrome apresenta-se como atrofia muscular proximal autossômica
recessiva, também chamada como amiotrofia muscular espinhal progressiva (AMEP), que
representa formas graves com óbitos infantis, hipotonia neonatal caracterizando a AMEP tipo
I ou doença de Wernicke-Hoffman, formas intermediárias ou AMEP tipo II com declínio
progressivo e complicações respiratórias na adolescência e o tipo III, também chamada de
Kugelberg-Willander com início na adolescência ou inicio da vida adulta e evolução
lentamente progressiva.O defeito genético encontra-se no cromossomo 5, porção telomérica,
no Exon 6 e 7, local codificador da proteína SMN (Survivor Motor Neuron) responsável pela
sobrevida da população neuronal.Outras formas de acometimento motor proximal são
descritas codificadas por alterações cromossômicas como as formas de envolvimento motor
distal com padrão de herança autossômico dominante como a atrofia muscular da musculatura
peroneira, com envolvimento das cordas vocais, com acometimento exclusivo de membros
superiores e a forma escapuloumeral.
Com relação à síndrome pós pólio, tem uma patologia adquirida, secundária a uma
lesão prévia do corpo celular do neurônio motor inferior pelo vírus da poliomielite, um
enterovírus e após um período de estabilidade clínica que varia entre 15 a 20 anos, começam
aparecer novos sinais e sintomas motores novos, mais exuberantes nos territórios afetados
previamente na medula. Apesar de adquirida a doença parece afetar indivíduos predisponentes
a infecção sendo realizados estudos com gêmeos idênticos para esta comprovação.
A presença de SPP nos indivíduos afetados previamente por poliomielite gira em torno
de 20 a 35% dos indivíduos, sendo os sintomas mais comuns a fadiga, dores articulares, nova
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Neurociências
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fraqueza, associados a atrofia e perda funcional. Novas alterações no estudo eletromiográfico
são comuns em uma pequena parte dos pacientes como fibrilações e fasciculações.
Existem duas prováveis etiologias para SPP sendo aceitas para explicar o novo dano
neuronal. A primeira, proposta por Dalakas em 1995, refere-se ao stress a que são submetidas
as unidades motoras íntegras após a infecção, sendo estes neurônios condicionados ao
trabalho compensatório sem correspondente capacidade metabólica, propiciando a perda
precoce. A outra teoria baseia-se na presença de uma memória imunológica alterada pela
exposição ao vírus e continuadamente mediando agressão celular aos motoneurônios.O
tratamento baseia-se na reabilitação e condicionamento funcional das unidades motoras com
preservação de energia.
Referências
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Neurociências
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Neuropatia Periférica (S-M e autonômica)
Peripheral neuropathies
Wilson Marques Junior
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, São Paulo.
___________________________________________________________
Miastenia Grave
Myasthenia gravis
Anamarli Nucci
Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas – UNICAMP, São Paulo.
A junção neuromuscular (JMN) em mamíferos é uma sinapse química que usa a acetilcolina (ACo) como neurotransmissor. Anormalidades físico-químicas pré-sinápticas,
sinápticas e pós-sinápticas influenciam negativamente a eficiência da JMN:
Afecções pré-sinápticas: Congênitas ou genéticas // Adquiridas [autoimune: síndrome
de Eaton-Lambert; toxinas: botulismo; drogas].
Afecções sinápticas: Congênitas ou genéticas // Adquiridas.
Afecções pós-sinápticas: Congênitas ou genéticas // Adquiridas [autoimune:
miastenia grave; toxinas; drogas].
Miastenia Grave
A MG preenche os requisitos para sua identificação como uma doença autoimune: o
alvo antigênico é o receptor nicotínico de ACo, localizado na porção pós-sináptica da JNM,
onde se deposita a imunoglobulina G; o anticorpo é conhecido e está presente em cerca de 80
a 90% das formas generalizadas da doença; há reprodução da doença em modelo animal
experimental, através do soro do doente miastênico; a redução terapêutica dos anticorpos
melhora os sintomas da doença.
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Neurociências
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A incidência anual de MG tem sido estimada entre 2 a 6 casos em um milhão de
habitantes. A prevalência da doença tem aumentado, sendo quatro vezes mais elevada em
1990 que em relação aos anos 50. Fatores decorrentes da melhoria tanto em diagnóstico,
quanto em tratamentos são responsáveis pelo fato.
O diagnóstico fundamenta-se na história característica de fraqueza flutuante e de
periodicidade curta (24 horas), localizada ou generalizada, reversível parcial ou totalmente
com o repouso ou drogas anticolinesterásicas. O exame neuromuscular costuma colocar em
evidências a fraqueza. Escores, Protocolo quantificando o déficit motor e escalas funcionais
têm sido recomendadas como instrumentos de avaliação, as quais tanto objetivam a
intensidade da doença em dado momento, quanto são úteis para seguir evoluções e analisar a
eficácia de terapias empregadas, seja na prática clínica ou em pesquisas.
Diagnóstico complementar: 1.) Farmacológico: teste da prostigmina e do edrofônio. A
prostigmina é droga inibidora da acetil-colinesterase (ACe) e em conseqüência aumenta a
probabilidade de interação entre o neurotransmissor e seu receptor, melhorando a força
muscular e revertendo, parcial ou totalmente, o déficit motor. Efeitos colaterais colinérgicos,
muscarínicos, são revertidos pela atropina. Teste da prostigmina falso-positivo e falsonegativo podem ocorrer.
2.) Eletrofisiológico: estimulação nervosa repetitiva e a eletromiografia de fibra única
(EMG-FU). A estimulação repetitiva (3 Hz) de nervos distais e proximais dos membros, com
decréscimo de amplitude no 4º ou 5º potencial de ação muscular composto, acima de 10 %,
indica teste positivo. Resultados falso-negativo e falso-positivo devem ser conhecidos. EMGFU: o teste tem sido relatado como positivo em cerca de 98% dos casos de MG generalizada.
3.) Sorológico: dosagens de anticorpos contra o receptor de ACo (ligador, modulador e
bloqueador). Anti-receptor de ACo ligador: 90% de positividade na MG generalizada e 50 %
na forma ocular. Cerca de 15 a 20 % dos pacientes com MG generalizada não tem anticorpos
anti-receptor de ACo detectáveis, após análise de várias amostragens ⇒ MG soronegativa.
Cerca de 30 a 40 % dos pacientes MG soronegativos possuem anticorpos anti-tirosinaquinase
músculo específica e outros fatores humorais. O sub-grupo de pacientes MuSK positivos
mostra fraqueza localizada predominante (bulbar, facial, língua, faringe) e resposta limitada
ao tratamento imunossupressor convencional, podendo ocorrer atrofia dos músculos
identificados como fracos.
4.) Imagem: a tomografia computadorizada (TC) de mediastino é fundamental na
investigação da MG, considerando-se que a classificação da MG em timomatosa e não
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timomatosa tem implicações terapêuticas diversas e prognósticos diferentes. A sensibilidade
da TC é de 85 %, a especificidade de 98,7 % e sua acurácia de 95,8 %, no diagnóstico préoperatório de timoma.
A avaliação de doenças associadas à MG, principalmente aquelas também autoimunes,
tem interesse prático e prognóstico.
Uma vez definido o diagnóstico de MG, a classificação da MG em não timomatosa ou
timomatosa indica a terapia mais adequada.
Na MG timomatosa tem sido consenso a timectomia, com a retirada mais ampla
possível de tecido tímico e da gordura mediastinal. A cirurgia permite a definição histológica
da neoplasia e seu estadiamento. Pacientes em estágios III e IV da classificação de Masaoka
tiveram sobrevida mínima de 5 anos em 88%, 50% e 70%, respectivamente nos graus III, IVA
e IVB, como resposta a abordagem terapêutica multimodal e agressiva (timectomia, quimio e
radioterapia). Os pacientes com estadiamento I beneficiam-se da timectomia. Naqueles em
estágio II o acréscimo da radioterapia tem sido a conduta padrão em vários serviços, embora
autores sugiram a necessidade de estudos melhor controlados, para definição consensual de
condutas.
O tratamento da MG não timomatosa baseia-se em sintomáticos (anticolinesterásicos)
e imunossupressores. Entre eles, a primeira escolha tem sido a prednisona, com vantagens
(rapidamente eficaz em muitos pacientes, droga de manuseio comum entre os médicos, de
baixo custo, pode ser usada em associação com outros imunossupressores) e também
desvantagens (exige monitoramento clínico-laboratorial constante, tem efeitos colaterais
significativos, principalmente se prescrita em longo prazo). Considerar outras medicações:
azatioprina, micofenolato de mofetil, ciclofosfamida, ciclosporina e novas opções terapêuticas
emergentes. A timectomia na MG não timomatosa, segundo estudo meta-analítico recente,
patrocinado pela Academia Americana de Neurologia, foi demonstrada como eficaz, no
sentido de aumentar a probabilidade de remissão ou melhora (nível de evidências qualificadas
em classe II).
Intervenções terapêuticas de efeitos mais rápidos são, por vezes, necessárias, como
ocorre na crise miastênica ou nas exacerbações da MG que colocam em risco a vida do
paciente. Nessas circunstâncias, a plasmaferese e a imunoglobulina intravenosa (400
mg/kg/dia, durante 5 dias) devem ser consideradas. Ambas são terapias de alto custo e tem
efeito de duração limitada, entretanto podem ser repetidas. O acesso venoso central,
instabilidade hemodinâmica e infecção são fatores limitantes na indicação de plasmaferese. A
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agamaglobulinemia A restringe ao uso da imunoglobulina intravenosa. Em nossa experiência
a plasmaferese foi considerada eficaz e segura na MG do adulto.
Referências
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Neurociências
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Miopatias
Myopathies
Alzira Alves de Siqueira Carvalho
Hospital Santa Marcelina – São Paulo.
As desordens musculares podem ser subdivididas em miopatia, quando a patologia é
confinada ao músculo sem nenhuma anormalidade estrutural no nervo periférico, e neuropatia
ou desordem neurogênica na qual a fraqueza muscular é secundária a alteração do nervo
periférico, isto é, da ponta anterior da medula até a junção neuromuscular. Ambas podem ser
subdivididas em hereditária ou adquirida, aguda ou crônica.
Embora os sintomas relacionados ao músculo como fadiga, mialgia e cãibras sejam
extremamente comuns, a maior parte das miopatias tem baixa prevalência. Assim, torna-se
difícil para o clínico, embora com uma boa prática, adquirir experiência no reconhecimento de
diferentes doenças musculares. Cabe lembrar que o paciente com miopatia interessa também a
outros
especialistas
como
neurologistas,
reumatologistas,
pediatras
e
ortopedistas
necessitando certa habilidade no manuseio e diagnóstico desses pacientes.
Cada uma dessas desordens tem uma característica que a define: o termo distrofia
muscular é usado para as miopatias geneticamente determinadas, progressivas e degenerativas
sendo subdivididas com base na distribuição clínica , intensidade da fraqueza e no modo de
herança.
As miopatias hereditárias mais comuns são as distrofias musculares de Duchenne e de
Becker que resultam de uma alteração no cromossomo X. As demais distrofias musculares
são caracterizadas geralmente de acordo com o grupo muscular mais acometido, como por
exemplo: distrofia muscular facio-escápulo-umeral, distrofia óculo-faríngea, distrofia
muscular de cinturas associado a um padrão de herança mais comum a cada uma delas.
Da mesma forma, as neuropatias e atrofias musculares espinais são desordens
neurogênicas caracterizadas com base nos achados clínicos, modo de herança e alterações
estruturais.
As miopatias congênitas representam um grupo de desordens mais recentemente
reconhecidas cuja apresentação clínica pode ser semelhante às distrofias musculares ou
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atrofias neurogênicas sendo a anormalidade estrutural específica observada no músculo.
Outras miopatias genéticas incluem as miopatias congênitas tais como doença do core central,
miopatia centronuclear, miopatia nemalínica, miotonia congênita, paralisia periódica e
miopatia mitocondrial. Entretanto, elas variam quanto aos sintomas, intensidade e mutação
genética. Ambos os modos de herança, dominante e recessiva, estão presentes e certas formas
podem ter um padrão ligado ao sexo, afetando principalmente os homens, ou uma herança
materna (miopatias mitocondriais).
As miopatias metabólicas compreendem as síndromes nas quais a alteração metabólica
foi identificada ou presumida e incluem as glicogenoses, miopatias mitocondriais, desordens
do metabolismo lipídico e desordens do canal iônico.
As desordens miotônicas e miastênicas são reconhecidas através de suas características
específicas, clínicas e eletrofisiológicas. As miotonias são desordens dos canais iônicos
enquanto que as miastenias têm uma base imunológica.
As várias desordens adquiridas incluem as miopatias inflamatórias idiopáticas
(polimiosite, dermatopolimiosite e miosite por corpos de inclusão) ou secundárias às
desordens endócrinas ou tóxicas afetando o nervo periférico ou o músculo isoladamente.
A criança hipotônica representa um problema diagnóstico podendo refletir uma
desordem neuromuscular ou estar associada à alteração primária em outro sistema,
particularmente o sistema nervoso central, onde a hipotonia pode ser um sinal dentre outros.
A maioria das desordens musculares produz fraqueza e atrofia muscular especialmente
dos músculos proximais sendo que os músculos distais são menos afetados.
Algumas delas, tais como as distrofias musculares, desenvolvem-se precocemente;
outras mais tardiamente. Algumas pioram progressivamente sem boa resposta ao tratamento;
outras são tratáveis e permanecem estáveis.
As três investigações tradicionais no diagnóstico das desordens musculares são
enzimas, estudo eletrofisiológico e biopsia muscular, mas sempre precedido de um exame
neurológico específico e cuidadoso. Os dois primeiros exames são vistos como procedimentos
“screening’ e o último como definitivo, fornecendo na grande maioria, um diagnóstico mais
exato e definido. Todos têm falhas e limitações e devem ser analisados em conjunto com
quadro clínico e exames complementares. É freqüente a necessidade de um aconselhamento
genético paralelamente.
As miopatias podem ser classificadas em basicamente seis grupos:
•
DISTROFIAS MUSCULARES
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
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•
MIOPATIA CONGÊNITA
•
DISTROFIA MIOTÔNICA
•
MIOPATIAS INFLAMATÓRIAS
•
MIOPATIAS METABÓLICAS PRIMÁRIAS
•
DOENÇAS DO CANAL IÔNICO
A abordagem diagnóstica variará de acordo com o grupo de desordem suspeita:
Distrofias
musculares:
biopsia
muscular
(histoquímica,
imunohistoquímica,
(“imunoblotting”) e estudos de DNA).
Distrofias miotônicas: análise do DNA
Miopatias inflamatórias: biopsia muscular (histoquímica, imunohistoquímica,
microscopia eletrônica em casos excepcionais) e biopsia de pele.
Citopatias mitocondriais: dosagens do lactato e piruvato em repouso e após exercício
e amônia; biopsia muscular (histoquímica), estudo do DNA mitocondrial e/ou DNA do
sangue periférico e espectroscopia por ressonância magnética, este último como procedimento
complementar em alguns casos.
Doenças do canal: estudos neurofisiológicos, dosagem de potássio durante as crises
(paralisias discalêmicas), testes provocativos, teste do exercício e estudo do DNA
Miopatias por desordem dos carboidratos: teste do exercício no antebraço, biopsia
muscular (histoquímica), dosagem enzimas (músculo, sangue, fibroblastos), acúmulo de
glicogênio no leucócito, estudo do DNA e espectroscopia por ressonância magnética, este
último como procedimento complementar em alguns casos.
Miopatias por desordem dos lípides:
Análise de urina: ácidos orgânicos e acylcarnitina
Jejum prolongado: ácidos graxos, lactato, piruvato ácido urico, amônia, corpos
cetônicos; dosagem da creatinofosfoquinase(CPK).
Exercício aeróbico; dosagem de carnitina no sangue/músculo
Teste enzimático: músculo, fibroblasto, fígado; estudo do DNA
Cabe aqui um breve comentário sobre a hipertermia maligna associada a desordens
musculares. A primeira, caracterizada como uma condição freqüentemente fatal é com
aumento rápido e persistente da temperatura durante anestesia geral acompanhado de rigidez
muscular, taquicardia, taquipnéia e cianose associada à acidose metabólica e respiratória
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intensas. Ocorre necrose muscular intensa com mioglobinuria e insuficência renal com altos
níveis de CPK(acima de 50000U/L).
Existe uma provável relação entre hipertermia maligna e doença do core central.
Outras doenças possivelmente relacionadas são: a síndrome de King-Denborough e as
distrofias de Duchenne e Becker. Um grande número de publicações tem sugerido associação
da hipertermia maligna com diferentes desordens neuromusculares como: deficiência da
mioadenilato deaminase, síndrome de Scwartz-Jampel, paralisia periódica, miotonia
congênita, miopatia mitocondrial e miopatia com alteraçõe mínimas, não se confirmando se a
associação é mera coincidência ou se há uma inter-relação.
Tratamento:
São poucas as desordens neuromusculares tratáveis do ponto de vista medicamentoso.
É freqüente a opinião de que, uma vez feito o diagnóstico, nada mais poderá ser realizado. O
paciente ou familiar conhecerão o nome da doença, seu provável modo de herança, serão
informados de sua incurabilidade e que, freqüentemente piorará. A idéia de que a falha em
curar ou prolongar a sobrevida em muitas dessas doenças neuromusculares signifique que não
há nada a fazer é uma triste constatação que freqüentemente nos deparamos por falta de um
conhecimento holístico ou abordagem em termos de reabilitação.
As miopatias estão entre os grupos de desordens mais fascinantes, seja em relação ao
tratamento, seja em relação à pesquisa. Muito do trabalho que permanece por ser realizado em
termos de doenças genéticas será pioneiro através dos pacientes com miopatia.
Referências
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Hipertermia Maligna Anestésica
Anesthetic Malignant Hyperthemia
José Luiz Gomes do Amaral
Professor Titular, Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva Cirúrgica, Escola Paulista de Medicina
/ Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Definição
A hipertermia maligna (HM) é afecção hereditária e latente, caracterizada por resposta
hipermetabólica aos anestésicos voláteis (halotano, enflurano, isoflurano, sevoflurano e
desflurano) e, provavelmente, succinilcolina.
Etiologia
A HM humana é de herança autossômica dominante. Ela está associada a mais de um
gene, nem todos os susceptíveis compartilhando do mesmo padrão genético.
Fisiopatologia
Em condições normais, os níveis de Ca++ no mioplasma são controlados pelo receptor
rianodina do retículo sarcoplasmático, o receptor dihidropiridina do túbulo transverso e pelo
sistema Ca++-adenosina trifosfatase (Ca++-ATPase). Na crise de HM, em função de desarranjo
da homeostase intracelular do Ca++, é desencadeada hiperatividade contrátil, hidrólise do
ATP, hipertermia, aumento do consumo de O2, produção de CO2 e ácido lático,
desacoplamento da fosforilação oxidativa, lise celular e extravasamento do conteúdo do
citoplasma.
Incidência
Em geral, a HM incide a cada 50 000 anestesias. Em virtude da exposição aos agentes
desencadeantes (prática clínica) e da natureza genética da síndrome, a incidência de HM varia
nas diferentes populações estudadas. Ocorre em indivíduos das raças branca e amarela. A
susceptibilidade ocorre igualmente em ambos os sexos, ainda que as crises sejam mais
comuns em homens. Episódios de HM são freqüentes em crianças (1/10000 anestesias), e
raros em idosos.
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Neurociências
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Quadro clínico
A expressão clínica da HM é variável. Ela surge a qualquer momento durante a
anestesia e até 3 horas após a interrupção da exposição ao agente desencadeante.
Esta condição é expressa por rigidez muscular, aumento do consumo de oxigênio e
produção
de
CO2,
acidemia
(respiratória
e
metabólica),
taquicardia,
taquipnéia,
hiperpotassemia, rabdomiólise e mioglobinúria. Nem sempre hipertermia é manifestação
inicial ou proeminente da HM.
Hipertermia Maligna.
Manifestações clínicas iniciais.
Taquicardia
Rigidez muscular
Instabilidade hemodinâmica
Taquipnéia
Cianose
Hipertermia
96,0%
83,6%
85,5%
85,0%
71,1%
30,0%
Diagnóstico
Crise de HM
Nas crises, o diagnóstico de HM é fundamentado no quadro clínico. Os exames
complementares têm maior utilidade na avaliação das complicações e da resposta ao
tratamento.
Hipertermia Maligna.
Características fundamentais.
Resposta hipermetabólica a anestésicos voláteis ou succinilcolina.
Destruição muscular.
Hereditariedade.
A capnografia tem grande valor no diagnóstico precoce da HM e na avaliação da
resposta ao tratamento. Aumento da concentração de CO2 no gás expirado (EtCO2) acima de 5
mmHg merece investigação. De fato, elevações acentuadas do EtCO2, da concentração de
CO2 no sangue venoso (PvCO2), sangue arterial (PaCO2) e diferença veno-arterial de CO2 são
observadas precocemente nos casos fulminantes, mas podem ser atenuadas por
hiperventilação nas crises moderadas.
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Neurociências
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Destacam-se ainda aumentos da potassemia, CPK (12 a 24 horas após o início da
crise), creatininemia e distúrbios da hemostasia. Algumas crises de HM podem ser
acompanhadas de elevação dos níveis de CPK acima de 20 000 UI/L. Todavia, na maioria dos
casos, os valores de CPK não excedem este limiar. O tratamento com dantrolene não parece
afetar a elevação da CPK plasmática. Em cerca de 30% das crises de HM tratadas com
dantrolene, os picos de CPK encontram-se dentro dos níveis associados à maioria dos
procedimentos cirúrgicos. A succinilcolina está relacionada a valores mais expressivos de
CPK. Quando ela não é usada, em 50% dos pacientes com HM, os níveis de CPK
permanecem dentro do esperado para uma operação não complicada por HM.
Biópsia muscular
Teste halotano-cafeína (CHCT: cafeine halothane contracture test). Fora da crise, a
susceptibilidade é confirmada pela resposta de músculo isolado (espécime de biópsia) a
concentrações crescentes de halotano e cafeína (sensibilidade próxima a 100%, falso-positivos
entre 10 e 20%).
A biópsia muscular para realização do CHCT é realizada distante das crises (o
músculo agudamente afetado pode ser irresponsivo) e requer hospitalização (intervenção
cirúrgica, anestesia e observação).
Diagnóstico diferencial
As manifestações clínicas e laboratoriais da HM são inespecíficas e ocorrem em
incidência variável. Taquicardia, taquipnéia, hipercarbia, acidose respiratória, acidose
metabólica, rigidez de masseter, rigidez muscular generalizada, mioglobinúria, rabdomiólise,
arritmias, cianose, má perfusão cutânea, hiperpotassemia, diaforese, elevação da temperatura,
instabilidade hemodinâmica e alterações da coagulação confundem-se com diversas situações
clínicas (KAPLAN, 1991)
Além da HM, diversas situações resultam em elevação da EtCO2: aumento da
produção de CO2 (outras causas de hipermetabolismo e febre), hipoventilação (depressão
respiratória por anestesia profunda em ventilação espontânea, disfunção do ventilador ou
válvulas unidirecionais, vazamentos ou obstrução no circuito de ventilação, balonete do tubo
traqueal não insuflado, intubação endobrônquica acidental, broncoespasmo, secreções ou
sangue obstruindo a árvore respiratória, edema pulmonar, redução da expansão pulmonar por
diminuição da complacência pulmonar, coleções pleurais gasosas ou líquidas, aumento do
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tono muscular do abdomen ou compressão por afastadores). Ao longo das intervenções
laparoscópicas, a insuflação peritoneal com CO2 determina esperada elevação progressiva da
EtCO2.
A elevação da temperatura pode também resultar de calor ambiente (sistemas de
aquecimento mal ajustados), hipermetabolismo (tireotoxicose, feocromocitoma, osteogênese
imperfecta, infecção, reação pirogênica, lesão hipotalâmica; reação a drogas, como
anfetaminas, inibidores da monoamino oxidase, atropina, glicopirrolato, cocaína, anfetamina,
droperidol, metoclopramida, cetamina; síndrome neuroléptica maligna e interrupção do uso de
levodopa).
A definição clínica imprecisa de HM dificulta a estimativa de risco de
susceptibilidade (probabilidade de a exposição de determinado indivíduo a agente anestésico
desencadeante venha a provocar um crise de HM). O problema torna-se ainda mais complexo,
se considerado que nem todo o susceptível desenvolve HM quando exposto e que a
penetrância do gene é variável.
A partir da opinião de experts em HM foi construída uma Escala Clínica Graduada
(CGS-MH) de probabilidade qualitativa (variando da quase impossibilidade à certeza) de
que uma reação adversa sob anestesia corresponda a uma crise de HM, ou que determinado
paciente seja susceptível. Na CGS-HM são considerados fatores relativos a processos
fisiopatológicos distintos. Em cada processo fisiopatológico é considerado APENAS o fator
de maior peso (ou pontuação).
A aplicação da CGS-HM não prescinde de diagnóstico diferencial. Nesta escala, o
julgamento clínico é fundamental para discernir alterações compatíveis com as condições
clínicas, técnica de anestesia ou intervenção cirúrgica daquelas inapropriadas, consideradas
então atribuíveis à HM.
A classificação na CGS-HM não se destina a orientar conduta clínica frente a um
caso de HM: mesmo pontuações baixas podem ser obtidas de episódios frustros de HM e de
indivíduos realmente susceptíveis. Isto é particularmente verdadeiro quando a investigação
clínica e laboratorial é incompleta ou quando faltam antecedentes pessoais e familiares. A
maior aplicação da CGS-HM é a estratificação de populações em investigações clínicas.
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Indicadores de Hipertermia Maligna.
Processo
Rigidez
Destruição muscular
Acidose respiratória
Acidose metabólica
Acidemia
Hipertermia
Ritmo cardíaco
Dantrolene & acidose
Indicador
Generalizada (exceto shivering)
Espasmo de masseter após succinilcolina
CPK>20 000 UI com Succinilcolina
CPK>10 000 UI sem Succinilcolina
Urina cor de Coca-Cola
Mioglobinúria>60 mcg/l
Mioglobinemia>170 mcg/l
Potassemia>6 mEq/l
PETCO2>50 mmHg em Ventilação controlada
PaCO2>60 mmHg em Ventilação controlada
PETCO2>65 mmHg em Ventilação espontânea
PaCO2>60 mmHg em Ventilação espontânea
Hipercarbia (inapropriada)
Taquipnéia (inapropriada)
BEa além de - 8 mEq/l
pHa < 7,25
Elevação rápida da T (inapropriada)
T> 38,8ºC (inapropriada)
Taquicardia sinusal (inapropriada)
Taquicardia ou fibrilação ventricular
Reversão rápida (respiratória ou metabólica)
Susceptibilidade à hipertermia maligna.
Indicadores
Antecedente em familiar de primeiro grau
Antecedente em familiar outro que não de primeiro grau
Antecedente em familiar & pessoal, exceto CK elevada em repouso
CK elevada em repouso
Pontos
15 ou
15
15 ou
15 ou
10 ou
5 ou
5 ou
3
15 ou
15 ou
15 ou
15 ou
15 ou
10
10
10
15 ou
10
3 ou
3
5
Pontos
15 ou
5
10
10
Estimativa de probabilidade.
NÃO somar pontos de indicadores de um mesmo processo. Considerar a pontuação
máxima de cada processo.
Pontuação
Risco de HM
Probabilidade
0
1
Quase impossível
3a9
2
Improvável
10 a 19
3
Algo menos que provável
20 a 34
4
Algo mais que provável
35 a 49
5
Bastante provável
50 ou +
6
Quase certo
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Complicações
As principais complicações da HM vêm a ser hipertensão arterial (fase inicial),
colapso circulatório (choque), arritmias cardíacas, distúrbios da hemostasia (coagulação
intravascular disseminada), insuficiência renal aguda. Freqüentes e eventualmente
fulminantes, tais complicações contribuem para a gravidade da HM.
Tratamento
Fase aguda
1. Interrupção imediata da inalação de anestésicos voláteis e/ou succinilcolina.
2. Hiperventilação com oxigênio puro (não há necessidade de troca do circuito circular ou
sistema de absorção de CO2).
3. Dantrolene sódico: Injeções intravenosas de 2,5 mg/kg, repetidas até o completo controle
das manifestações de HM. Ainda que doses maiores sejam eventualmente necessárias, o
controle das crise de HM é obtido na maioria dos casos com dose total inferior a 10 mg/kg.
Diluir cada frasco-ampola, contendo 20 mg de dantrolene e 3 g de manitol, em 60 ml
de ÁGUA estéril.
4. Bicarbonato de sódio intravenoso, conforme o bicarbonato sérico (em geral, 1 a 2 mEq/kg);
5. Resfriamento ativo: Lavagem gástrica, vesical, retal e cavidades (peritoneal ou torácica)
eventualmente abertas com NaCl 0,9% gelado; colchão hipotérmico e aplicação de gelo na
superfície corporal. Evitar hipotermia, interrompendo o resfriamento
com temperaturas
inferiores a 38 oC..
6. Tratamento das arritmias cardíacas (geralmente controladas com o tratamento da
hiperpotassemia e acidemia). Entre os antiarrítmicos, não usar bloqueadores de canais de
Ca++, associados a hiperpotassemia e colapso circulatório.
7. Tratamento da hiperpotassemia, com hiperventilação, bicarbonato de sódio, Solução
“polarizante” (0,15 U de insulina simples/kg em 1 ml/kg de glicose 50%), cloreto de Ca ++
intravenoso - 2 a 5 mg/kg (arritmias graves).
8. Manter diurese acima de 2 ml/kg/hora: Hidratação, manitol ou furosemida.
Fase tardia
1. Face ao risco de recidiva é conveniente observação em Unidade de Tratamento Intensivo
durante pelo menos 24 horas.
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2. Dantrolene intravenoso 1 mg/kg a cada 6 horas, durante 48 horas.
3. Controles a cada 6 horas: temperatura, gasometria arterial, níveis sangüíneos de creatinofosfocinase (CPK), potássio e Ca++, coagulograma, mioglobina sérica e urinária.
4. Orientação do paciente e familiares acerca da doença.
Prevenção (cuidados com susceptíveis confirmados ou potenciais)
1. Quando possível, considerar confirmação diagnóstica (biópsia muscular) dos casos
suspeitos de HM e de rigidez de masseter.
2. Evitar exposição a agentes desencadeantes. Resíduos de anestésicos voláteis podem
desencadear crise de HM: recomenda-se evitar circuito de ventilação previamente usado para
administração de halogenados;
3. Monitorização da temperatura central e capnografia;
4. Garantir disponibilidade imediata (na sala de operação) de tratamento específico
(dantrolene sódico);
5. Observação em postanestésico durante pelo menos 3 horas.
Dada a improbabilidade de episódios graves de HM sem prévia exposição a agentes
desencadeantes e o dantrolene não seja completamente isento de efeitos colaterais, sua
administração profilática não é recomendada.
Prognóstico
A HM, já foi associada a mortalidade acima de 70%. Diagnóstico precoce e rápida
instituição de tratamento específico fazem possível reduzi-las a menos de 10%.
Relação entre o prognóstico e tempo desde a exposição ao agente desencadeante e o
início do tratamento com dantrolene.
Tempo decorrido da indução (minutos)
Mortes
Sobreviventes
0-29
0
9
30-59
0
7
60-119
0
12
120-179
2
4
>180
8
7
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46
Para obter informações sobre o tratamento de episódios agudos consulte:
_______________________
HOT LINE
Informações sobre Hipertermia Maligna
(Plantão 24 horas)
UNIFESP- EPM
011-5575 9873
__________________________________
Referência
1. Amaral JLG, Carvalho RB. Hipertermia maligna. In: Anestesiologia: Princípios e Técnicas. J
Manica e col. (Eds.). 3a. edição, Rio de Janeiro: ArtMed, 2004, 1207-1224.
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Síndrome Neuroléptica Maligna
Neuroleptic Malignant Syndrome
Paulo E Marchiori, Nise B Carvalho
Hospital das Clínicas e Universidade de São Paulo.
A síndrome maligna dos neurolépticos (SNM) é causada por um efeito adverso severo
dos neurolépticos, antidepressivos e outras drogas antipsicóticas e é caracterizada por
hipertermia, sinais extrapiramidais, alterações da consciência, pressão arterial
incontinência
esfincteriana,
dispnéia,
disfunção
autonômica,
flutuante,
elevação
de
fosfocreatinoquinase (CPK) e leucocitose. O diagnóstico e tratamento da SNM pode ser
difícil, e a síndrome complica em muito a terapêutica psiquiátrica para doenças afins.
Como pode ser implicada pela palavra maligna, a morte pode ocorrer como resultado
da SNM. Setenta e nove por cento dos pacientes com SNM podem ter recuperação completa
e 8%
tem recuperação não completa. Em revisão de 202 casos, ocorreu redução da
mortalidade de 25% antes de 1984 para 11,6% após 1984, provavelmente pelo melhor
reconhecimento e intervenção mais precoce. É também conhecida a relação de maior
gravidade naqueles pacientes com doença mental orgânica do que aqueles com psicoses
funcionais, ou aqueles pacientes que desenvolvem mioglobinúria e insuficiência renal aguda.
Complicações da SNM são freqüentemente conseqüência da gravidade da rigidez
muscular e a imobilização que advém desse estado. A ingestão pobre leva a desidratação que
aumenta o risco de rabdomiólise e falência renal aguda. Trombose venosa profunda
embolismo pulmonar
pode ocorrer como conseqüência
e
da rigidez, imobilização e
desidratação. Dificuldade de deglutição e estado mental alterado pode levar a pneumonia
aspirativa, com a subseqüente necessidade de entubação e suporte ventilatório. Outras causas
de falência respiratória incluem o pulmão de choque e a síndrome do desconforto respiratório
agudo.
Muitas outras complicações sérias da SNM são a coagulação intravascular
disseminada, sepsis e infarto agudo do miocárdio. A degeneração cerebelar tem sido atribuída
à hiperpirexia da SNM. Pacientes usuários de lítio, mesmo em níveis séricos não tóxicos, têm
maior risco de síndrome cerebelar e ataxia. Há persistência de sinais e sintomas neurológicos
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como déficits cognitivos e neuropsicológicos após a recuperação da SNM. Por outro lado,
muitos pacientes se recuperam da SNM sem qualquer déficit neurológico.
A medicação neuroléptica deverá ser suspensa imediatamente com
suspeita da
existência de SNM. Esta é a mais crítica e decisiva intervenção médica. A descontinuação de
lítio é recomendada. Preconiza-se a suspensão de anticolinérgicos ou sua substituição por
agonistas dopaminérgicos nos casos com resíduos de sinais extrapiramidais ou na
superposicão de síndrome parkinsoniana. Medicações dopaminérgicas agonistas como a
amantadina deverão ser mantidas, assim como sua suspensão poderá agravar a SNM.
Após o reconhecimento da SNM e descontinuação dos neurolépticos, o curso clínico
habitualmente se estende por dois a 14 dias, e as medicações e outras terapêuticas devem ser
gradualmente
retiradas
enquanto a recuperação é monitorada. Casos prolongados têm
ocorrido, principalmente naqueles pacientes que utilizam preparações neurolépticas de longa
duração, com durações de até 35 dias após a data da ultima injeção.
A maioria dos pacientes com SNM deverá ser tratada em unidades de terapia
intensiva. Casos clínicos com aspectos hemodinâmicos, respiratórios, renais normais ou com
aumento discreto a moderado de creatinofosfoquinase (CPK< 1000 UI), sem alterações
neurológicas, com ingestão espontânea e que respondem rapidamente a antipiréticos,
hidratação poderão ser tratados fora da UTI (sem internação). Os cuidados do paciente
internado deverão ser mantidos até que os sinais vitais sejam normalizados, a hidratação
adequada e o equilíbrio eletrolítico tenham sido obtidos, função cardiorrespiratória e renal
estejam normalizadas e pelo menos duas medidas de CPK sérica mostrem a tendência de
regularização. Estes critérios sugerem que um completo clearance dos neurolépticos pode ser
necessário antes que a completa recuperação ocorra.
Severa e prolongada morbidade da SNM sugere a importância do diagnóstico correto
da desordem psiquiátrica e considerações cuidadosas para o uso de medicação neuroléptica de
depósito, assim como uso de doses mínimas.
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
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Fisiologia do exercício
Physiology of Exercise
Antonio Carlos da Silva
Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Durante atividade física diferentes mecanismos de suporte energético para o
trabalho muscular são mobilizados. Dependendo do tipo, intensidade e duração do exercício o
metabolismo predominante será anaeróbio alactico, láctico ou aeróbio.
O conhecimento das respostas fisiológicas normais ao exercício permite a
identificação de padrões alterados pelas doenças e conseqüentemente o uso clínico do
exercício físico. Existem particularidades nas respostas fisiológicas ao exercício nas doenças
neuromusculares. Por exemplo, a redução da massa muscular ativa ou um déficit enzimático
especifico podem alterar respectivamente o comportamento das variáveis cardiorrespiratórias
e metabólicas (ácido láctico por exemplo) durante o exercício.
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
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Hipertermia e exercício físico
Exercise Heatstroke
Victor AF Tarini 1, LigiaVilas2, Ricardo Z Pereira3, Acary SB Oliveira4
Trabalho realizado no Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
São Paulo, SP – Brasil.
1.Professor de Educação Física, Mestre em Fisiologia do Exercício; 2.Fisioterapeuta;3.Professor de Educação
Física, Mestre em Fisiologia Humana; 4. Médico, Doutor em Neurologia, Chefe do Setor de Doenças
Neuromusculares da UNIFESP.
Epidemiologia, Etiologia, Complicações, Fatores de Risco, Intervenções e Prevenção.
Semelhante às catástrofes provocadas pela natureza como terremotos e inundações, as
ondas de calor geradas pelo aquecimento global também provocam muitas mortes. Em julho
de 1995, uma prolongada onda de calor atingiu a cidade de Chicago nos Estados Unidos,
matando mais de seiscentas pessoas. Entre os dias doze e vinte de julho, a temperatura oscilou
entre 33 e 40ºC, atingindo no dia treze um pico de 48ºC.
Entre os meses de agosto e setembro de 2003, cerca de quinze mil pessoas morreram
na França em decorrência de uma forte onda de calor sobre uma região despreparada, pois o
serviço médico estava bastante reduzido em função do período de férias. Ao longo de vinte e
um dias a temperatura atingiu picos de 40ºC.
Em novembro passado, durante a terceira etapa de uma competição de Montain Bike
dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), uma competidora sentiu-se mal após
percorrer parte do trajeto sob sol forte a uma temperatura de aproximadamente 42ºC. Tendo
sido encontrada inconsciente e com a respiração dificultada, foi levada às pressas para um
hospital local, aonde chegou em estado de coma profundo, sendo então transferida mais tarde
para um hospital em Teresina. A ciclista não resistiu e faleceu durante o trajeto. O médico do
hospital de Teresina acredita que a ciclista morreu por hipertermia.
A hipertermia pode se definida como a temperatura corporal central superior a 40ºC,
acompanhada de alterações no estado mental, bem como o comprometimento de múltiplos
órgãos. Contudo, o aumento da temperatura corporal central acima do ponto de ajuste
hipotalâmico (37ºC) já provoca sinais de desconforto.
De modo geral, a hipertermia se apresenta sob duas formas: a clássica (HC), que
geralmente atinge crianças e idosos por exposição prolongada a ambientes com temperaturas
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Neurociências
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elevadas. É caracterizada por uma falha dos mecanismos responsáveis pela regulação térmica.
Alguns fatores foram citados como possíveis causadores deste problema: nos idosos, uma
sensibilidade modificada dos termorreceptores, diminuição da capacidade das glândulas
sudoríparas por alteração da estrutura intrínseca da própria pele e da sua árvore vascular,
menor liberação do tônus vasomotor e vasodilatação menos ativa após o início da
transpiração. Já nas crianças, observa-se uma taxa de transpiração mais baixa e uma
temperatura corporal central mais alta durante a exposição ao calor intenso se comparadas a
adolescentes e adultos apesar de possuírem maior número de glândulas sudoríparas ativadas
pelo calor por unidade de área cutânea.
A outra forma de manifestação da hipertermia é a induzida por esforça (HIE), que
afeta indivíduos fisicamente ativos. Isso é devido a um aumento na temperatura interna pela
atividade prolongada da musculatura, somada a temperatura ambiente e umidade elevadas.
Em ambos os casos, os sinais e sintomas mais freqüentes são: ansiedade, confusão
mental, comportamento bizarro, perda de coordenação, alucinações, agitação, apreensão e
muitas vezes coma. A estes sinais, soma-se a disfunção de vários órgãos como insuficiência
renal aguda, insuficiência hepática, lesão cerebral, insuficiência respiratória, lesão intestinal
isquêmica, pancreatite, hemorragia gastrointestinal, trombocitopenia e coagulação.
Etiologia do estresse térmico e da hipertermia
Parece haver um provável polimorfismo genético que determina a suscetibilidade de
desenvolver a hipertermia. Este polimorfismo parece afetar os genes que regulam a atividade
das citocinas, proteínas de coagulação e uma série de outras proteínas envolvidas no processo
de adaptação ao calor.
Resposta em fase aguda
A resposta em fase aguda é uma reação coordenada que envolve células endoteliais,
leucócitos e células epiteliais que atuam na proteção dos tecidos corporais, bem como no
reparo de um dano que eventualmente ocorra. As interleucinas mediam a resposta
inflamatória sistêmica. Primeiramente, as interleucinas-1 e 6 estão envolvidas no controle do
volume de produção de citocinas em resposta ao aumento de temperatura. A interleucina-6
estimula o fígado a produzir proteínas antiinflamatórias de fase aguda que irão inibir as
espécies reativas de oxigênio além de liberarem enzimas proteolíticas. O aumento na
quantidade de citocinas semelhantes aos fatores de necrose tumoral alfa, é necessário para
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Neurociências
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mediar a febre, promover a leucocitose, sintetizar as proteínas de fase aguda e prevenir o
catablismo muscular.
A etapa seguinte, envolve a produção de proteínas de choque térmico. São proteínas
resistentes ao calor, sua produção é controlada pela transcrição do gene no DNA dos
cromossomos. As proteínas de choque térmico 72 são as primeiras que acumulam no cérebro,
promovendo um estado transitório de tolerância ao estresse térmico. Este mecanismo protege
o corpo da hipertermia, hipotensão arterial e isquemia cerebral. Este parece ser o mecanismo
principal num processo de aclimatação.
Quando a síntese das proteínas de choque térmico é bloqueada ou alterada em função
de um polimorfismo na transcrição gênica ou ainda pela ação de anticorpos, as células se
tornam extremamente sensíveis ao estresse térmico. Por esta razão, alguns indivíduos podem
ser geneticamente propensos a desenvolver síndromes de estresse térmico e até mesmo
hipertermia em função da inabilidade de seu organismo de se proteger por meio da produção
das proteínas de choque térmico.
Resposta em fase aguda exagerada
Durante o exercício extenuante ou em situação de hipertermia, o fluxo sangüíneo é
desviado da circulação mesentérica para os músculos ativos e para a pele, ocasionando uma
isquemia intestinal que por sua vez, permite um aumento da permeabilidade intestinal.
A hipotensão esplâncnica altera as funções imunológicas e de barreira do intestino.
Esta alteração permite o vazamento de endotoxinas e o aumento na produção de citocinas
inflamatórias, que induzirão a ativação de células endoteliais e a eventual liberação de fatores
endoteliais vasoativos como o óxido nítrico e a endotelina. Tanto as citocinas pirogênicas
quanto os fatores derivados do endotélio podem interferir no mecanismo de termorregulação,
pela elevação do ponto de ajuste no qual a sudorese é ativada e por alterarem o tônus
vasomotor particularmente da circulação esplâncnica, por essa razão precipitando a
hipotensão e a hipertermia.
Principais complicações clínicas: coagulação intravascular disseminada
As lesões nas células endoteliais e a trombose microvascular são características
proeminentes da hipertermia.
Insuficiência renal aguada
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A insuficiência renal aguda apresenta uma incidência de aproximadamente 30% em
indivíduos com HIE e de 50% nos casos de HC. Esta disfunção renal pode afetar o
parênquima ou os túbulos renais.
Rabdomiólise
É a lise do tecido muscular esquelético de natureza aguda, com conseqüente liberação
dos constituintes celulares (mioglobina, creatinoquinase e mediadores inflamatórios), para o
plasma. A mioglobina circulante é filtrada pelos rins e eliminada pela urina (mioglobinúria), o
que precipita uma obstrução tubular renal e portanto, insuficiência renal aguda.
Alterações cardiovasculares
Arritmias bem como hipotensão são característicos neste mal, sendo a hipotensão, o
produto da transferência do sangue da circulação central para os tecidos periféricos na
tentativa de eliminar calor.
Alterações neurológicas
As alterações neurológicas são características marcantes na hipertermia. Geralmente
podem variar em grau de comprometimento, bem como em duração. Estas alterações incluem
delírios, letargia, apreensões e coma.
Fatores de risco para o desenvolvimento das Síndromes induzidas por calor:
Desidratação
Transpiração excessiva, ingestão inadequada de líquidos, vômito, diarréia, bem como
o uso de alguns medicamentos, álcool ou cafeína podem promover a perda de fluídos.
Obesidade
Indivíduos obesos apresentam maior risco de desenvolverem síndromes induzidas por
calor, devido a maior espessura do tecido adiposo que dificulta a perda de calor.
Baixa aptidão física
Indivíduos sedentários ou sem ritmo de treinamento são mais propensos a
desenvolverem síndromes induzidas por calor do que indivíduos treinados.
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Vestimenta inadequada
O excesso de roupas ou trajes inadequados para a prática de atividades físicas no calor
intenso compromete a habilidade do sistema termorregulatório. Roupas de cores escuras
aumentam a absorção de calor do ambiente, o que promove aumento da temperatura corporal.
Falta de aclimatação ao calor
Drogas
O abuso de drogas em casas noturnas constantemente faz vítimas por todo o mundo.
Tanto que uma organização norte-americana criou uma página na Web a www.dancesafe.org,
dedicada a promover saúde e segurança entre a comunidade de frequentadores de festas Raves
e danceterias. Em um levantamento publicado neste site, mais de 100 pessoas morreram após
tomar “ecstasy” (3,4 metilenodioximetanfetamina) em festas Raves.
Algumas medicações também podem aumentar os riscos de desenvolver síndromes
induzidas por calor, quando associadas a exercícios em dias quentes são elas: betabloqueadores, diuréticos, anticolinérgicos, antidepressivos, antipsicóticos, toxinas naturais,
estricnina, agentes simpatomiméticos e anoréticos, hormônios tireóideos e ruptores da
fosforilação oxidativa.
Doenças
As doenças das vias aéreas superiores comprometem muito a eliminação do calor
podendo aumentar os riscos.
Ambiente
Quando a temperatura externa supera a temperatura da pele, o corpo começa a
absorver o calor do ambiente e passa a depender totalmente da evaporação da transpiração
para eliminar o calor. Para que a transpiração evapore, é necessário que haja um gradiente
favorável. A alta umidade relativa do ar compromete este gradiente inibindo a evaporação. Os
fatores ambientais que influenciam o risco para as síndromes induzidas por calor incluem a
temperatura ambiente, umidade relativa (quantidade de vapor d´água no ar), movimento do ar
e a quantidade de calor radiante vindo do sol e de outras fontes.
Intervenções
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A plena compreensão das alterações fisiopatológicas que ocorrem ao longo de um
continuum da síndrome hipertermia é fundamental para os cuidados imediatos e adequados,
na tentava de minimizar os danos ao organismo.
As principais medidas combinam bases ressuscitativas com resfriamento intenso,
objetivando reduzir a temperatura corporal. O monitoramento da temperatura retal e ou
esofágea deve ser constante, o que permite acompanhar a evolução do quadro.
As medidas de resfriamento devem ser interrompidas quando a temperatura corporal
atingir 38 a 38,5ºC, para evitar uma reversão hipotérmica. A redução da temperatura corporal
central abaixo de 38,9ºC nos trinta primeiros minutos, aumenta a chance de sobrevivência e
minimiza os danos aos órgãos. O ideal seria reduzir a temperatura corporal central em 0,2ºC
por minuto. Infelizmente, há indícios de que os danos aos tecidos podem continuar ocorrendo
mesmo depois de se atingir este objetivo em 25% dos casos. A tabela 3 sumariza os métodos
de resfriamento.
Uma medida farmacológica que tem sido discutida com freqüência em muitos estudos
é o uso de Dantrolene na tentativa de frear o aumento de temperatura na síndrome de HIE.
Dantrolene é um relaxante muscular que diminui a quantidade de Ca2 liberada pelo retículo
sarcolasmático para o citosol. Como resultado a atividade muscular é deprimida, diminuindo
assim o calor produzido pelo corpo. Apesar de ser bastante eficiente no tratamento da
hipertermia maligna, sua eficiência no tratamento de HIE é controversa. Até o presente
momento não há evidências suficientes para recomendar que esta droga seja usada
rotineiramente no tratamento de HIE.
Prevenção
Alguns documentos já foram elaborados por centros de pesquisas, com recomendações
para minimizar os riscos de desenvolvimento das síndromes induzidas por calor.
É possível prevenir tanto a HC quanto a forma induzida pelo exercício. No caso da
forma clássica, é fundamental que uma atenção especial seja dada a crianças recém-nascidas,
pré-adolescentes, bem como a indivíduos com idades superiores a 65 anos. Os informes
meteorológicos podem salvar vidas. Portanto, é fundamental que seus responsáveis estejam
alerta durante os períodos de calor mais frequente, com o intuito de evitar uma exposição
arriscada.
A redução dos riscos relativos a HIE requer em primeiro lugar aclimatação por parte
daqueles que pretendem participar de competições em ambientes quentes. Esta aclimatação
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Neurociências
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consiste de sessões de treinamento sob o sol forte a intensidades de esforço moderadas porém
progressivas, de modo que as adaptações fisiológicas aconteçam de forma segura. A ativação
precoce do eixo renina angiotensina aldosterona, promove maior conservação de sódio por
parte das glândulas sudoríparas e dos rins. Um aumento na conservação de sódio gera um
maior volume plasmático, um aumento na taxa de filtração glomerular e uma maior
resistência a rabdomiólise.
Em termos gerais a hidratação exerce um papel fundamental na prevenção relativa às
síndromes induzidas por calor. A reposição dos líquidos deve concentrar-se na manutenção do
volume plasmático, para que a circulação e a transpiração possam progredir em níveis ótimos.
A ingestão de uma quantidade extra de líquidos antes das atividades físicas no calor, pode
proporcionar uma pequena proteção termorreguladora.
Tabela 01. Síndromes induzidas por calor.
Síndromes
Edema por calor
Sintomas
Não há
Sinais
Edema periférico
Tratamento
Descanso, elevação
Das extremidades
aclimatação
Contraturas por
Contraturas e dores
Espasmos musculares
Alongamentos, massagem
calor
musculares
com gelo e hidratação oral
Síncope por calor Síncope
Perda de consciência
Descanso, deitar com os
pés elevados, monitorar
sinais vitais
Exaustão por calor Fadiga, incapacidade de
Hipotensão, desequilíbrio, Vias aéreas respiração e
continuar exercício,
temperatura corp. central circulação, resfriar,
tonturas, náuseas, vômitos, superior a 40,5ºC e
descanso, monitoramento
síncope, arrepios no
síncope
da temperatura, sinais
pescoço
vitais e fluidos orais
Hipertermia
Evidentes mudanças no
Temperatura corp. central Vias aéreas respiração e
estado mental, fadiga,
superior a 40,5ºC,
circulação, resfriar,
náuseas, vômitos e síncope hipotensão, taquicardia,
urgentemente, monitorar
taquipinéia, síncope,
sinais vitais, hidratação
possível ausência de
intravenosa se possível e
sudorese, coma,
encaminhar urgente à
coagulação intravascular emergência médica
disseminada, insuficiência
renal aguda
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Neurociências
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Referências
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2. Hadad E, Rav-Acha M, Heled Y, Epstein Y, Moran DS. Heat Stroke: a review of cooling methods.
Sports Med 2004; 34(8): 501-511.
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4. Lee-Chiong Jr TL, Stitt JT. Heat stroke and other heat-related illness: The maladies of summer.
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hyperthermia. Muscle and Nerve 2000; 23: 4-17.
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9. Brewster SJ, O´Connor FG, Lillegard WA. Exercise-induced heat injury diagnosis and
management. Sports Med Arthrosc Rev 1995; 3: 206-266.
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Neurociências
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Formas atípicas de Hipertermia Maligna Anestésica
Atypical forms of anaesthetic malignant hyperthemia
Maria Anita Spindola
Programa de Hipertermia Maligna do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC.
Mesmo à luz dos conhecimentos atuais não há, segundo Hopkins, “uma apresentação
clínica que seja específica para HM”. Um grande desafio da HM é a sua expressividade
variável. Não está esclarecida a razão da variabilidade clínica que determina a gravidade de
uma crise de HM. Um fator a ser destacado é a heterogeneidade genética, de locus e alelos.
Os fatores epigenéticos na modulação da resposta clínica também devem ser considerados,
incluindo a mudança de técnicas e agentes utilizados.
Diante dessa variabilidade clínica, várias propostas para classificar a HM foram
apresentadas. A apresentada
por Ranclev Twetman destaca-se pela forma didática;
apresentando a HM em quatro formas: forma fulminante, forma frustra, espasmo de masseter
e formas atípicas.
A forma frustra ou abortiva é um quadro menos óbvio; uma ou mais sinais da forma
fulminante estão ausentes ou atenuados. Como os anestesistas estão mais atentos para o
diagnóstico, o reconhecimento de um aumento
da ETCO2 e/ou outros sinais precoces
(taquicardia inexplicada, espasmo de masseter, rigidez localizada) e a retirada dos agentes
halogenados pode interromper a crise.
O espasmo de masseter pode ser considerado, potencialmente, como o primeiro
indicador de uma crise de HM mesmo na ausência de história familiar. Também denominado
rigidez de masseter, pode ser definido como o relaxamento incompleto da musculatura da
mandíbula, interferindo com a intubação, após a administração de succinilcolina,
considerando o uso de uma dose adequada (1 – 2 mg kg -1) e a tentativa de intubação após 1
minuto. Apesar dessa definição, a avaliação de espasmo de masséter é subjetiva e, como tal,
pode gerar controvérsia.
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Neurociências
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As formas atípicas constituem-se num desafio diagnóstico e podem apresentar-se
relacionadas ou não à anestesia.
Algumas das formas atípicas relacionadas à anestesia são: a) rabdomiólise
perioperatória, b) início tardio do quadro com halogenado e succinilcolina, c) recorrência
tardia, d) exposição ao isoflurano e succinilcolina sem reação detectável em paciente com
biópsia positiva prévia, e) hipotensão como primeiro sinal de HM.
A febre pós-operatória isoladamente não é indicativa de HM, porém esta só poderá
ser excluída se existirem registros adequados de ETCO2, freqüência cardíaca e respiratória.
Informações adicionais importantes são a presença de imobilidade prolongada por alteração
muscular e urina escura ou avermelhada.
Algumas das formas atípicas não relacionadas à anestesia, ou doenças correlatas, são:
a) Doenças Neuromusculares (Central Core, Síndrome de King-Denborough, Miopatia de
Evans), b) Síndrome Neuroléptica Maligna, c) Choque térmico/Rabdomiólise induzida por
exercício, d) Síndrome HM-Símile em adolescentes do sexo masculino com Diabetes mellitus
e rabdomiólise.
Como quadros suspeitos de HM, com sinais clínicos e laboratoriais sugestivos, não são
posteriormente confirmados como HM, todos os pacientes que apresentarem hipercarbia
inexplicada, ou rabdomiólise, perioperatória
ou pós-exercício, são candidatos à biópsia
muscular e teste de contratura “in vitro”, ainda o “padrão-ouro” para definição fenotípica da
HM.
Por se a HM uma condição hereditária, a definição fenotípica
do paciente é
extremamente importante não só para ele mas também para seus familiares; a partir dessa
definição podem ser realizados diagnósticos pré-sintomáticos e estudos genéticos em famílias
selecionadas. Porém até o presente momento, esses estudos não podem ainda substituir o
teste de contratura “in vitro”.
Apesar de requerer uma avaliação multidisciplinar, a HM é uma síndrome
especificamente relacionada à anestesia e, por esta razão, deve ser de responsabilidade do
anestesiologista conhecer e conduzir o diagnóstico nas diversas apresentações clínicas da
mesma.
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Neurociências
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Fisiologia da Contração Muscular
Physiology of muscular contraction
Alice Teixeira Ferreira
Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
O músculo esquelético é um órgão especializado na transformação de energia química
em movimento(energia mecânica), desenvolvido para otimizar esta função utilizando um
conjunto bem ordenado de proteínas relacionadas com o movimento.
Os 600 músculos esqueléticos do corpo humano são compostos de centenas à centenas
de milhares de células alongadas, multinucleadas chamadas fibras musculares. Cada fibra
contem as proteínas contrateis Miosina e Actina, que compõe os filamentos grossos e finos
respectivamente, que estão dispostos paralelamente nas miofibrilas que compõe as fibras. As
miofibrilas estão também
paralelamente arranjadas e apresentam um padrão de bandas
escuras e claras dispostas em série, que dão o caráter de estrias às fibras de tais músculos. Esta
aparência estriada característica da miofibrila observável na microscopia de luz decorre da
birrefringência diferente das proteínas contrateis:a banda clara, chamada banda-I, é devida a
isotropia (I) da região da miofibrila dada pelos filamentos finos e a banda-A, devida a sua
anisotropia(A), constituída pelos filamentos grossos intercalados aos finos. Os limites laterais
da unidade contrátil chamada de sarcômero são dados pelos discos Z, constituídos por alfaActinina, onde se ancoram os filamentos finos , a Tinina e a Nebulina. Na microscopia de
luz o sarcômero é delimitado por duas linhas Z e contem duas banda-I e uma banda –A central
separando-as.
A contração é definida como a ativação das fibras musculares com a tendência destas
se encurtarem. Ocorre quando o cálcio citosólico ([Ca2+]i) aumenta disparando uma série de
eventos moleculares que levam à interação entre miosina e actina, ocorrendo o deslizamento
desta última sobre os filamentos grosso e o encurtamento dos sarcômeros em série.
Acoplamento Excitação-Contração
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Neurociências
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A despolarização do sarcolema da fibra muscular esquelética se propaga da superfície
para o interior da fibra através dos túbulos-T. Junto aos túbulos se encontram as cisternas do
retículo sarcoplasmático formando com o túbulo T uma estrutura denominada Tríade. Na
membrana dos túbulos se encontram proteínas integrais que a transfixam chamadas Proteínas
DHP por terem afinidade por dihidropiridina, substância inibidora da abertura de seus
canais cálcio-seletivos intrínsecos. A despolarização do túbulo T induz a alteração da
conformação das proteínas DHP. Esta modificação é transmitida aos podócitos que se
encontram em contacto com tais proteínas. Os podócitos são projeções citoplasmáticas de
proteínas integrais da membrana do retículo sarcoplasmático, chamadas Proteínas
Receptoras de Rianodina, cuja isoforma na musculatura esquelética é abreviada por RyR1.
Estas proteínas se encontram concentradas na face da cisterna em contacto com o túbulo T e
contem canais intrínsecos seletivos ao cálcio. Uma vez ativado o RyR1 pela alteração de
conformação da proteína DHP induzida pela despolarização que atingiu os túbulos T, os seus
canais são abertos efluindo cálcio do retículo para o citoplasma da fibra muscular. A mudança
de conformação de RyR1 se transmite à outra proteína ligada à este receptor, chamada
Triadina. Esta última mobiliza o cálcio ligado á Parvalbumina, Calsequestrina e
Reticulina, todas encontradas no interior do retículo sarcoplamático e em contacto entre si,
que liberam mais cálcio. Este íon
sae pelo canal de RyR1, que se encontra aberto.
contribuindo para o maior aumento do cálcio citosólico.
O filamento grosso é constituído por moléculas de miosina, dispostas ordenadamente.
Cada molécula de miosina é constituída por dupla hélices enroladas entre si e numa das
extremidades se encontram duas cabeças globulares. O seu arranjo é regular de tal maneira
que as cabeças se dispõe de maneira helicoidal, separadas por 14,5 nm. Existem 294
moléculas por filamento grosso. Como as cabeças têm atividade ATPásica existem 588 sítios
com tal propriedade. O filamento grosso se encontra no centro de um hexágono em cujos
vértices se encontram dispostos os filamentos finos.
O filamento fino é constituído por actina filamentosa (Act-F), que é formada por dois
filamentos de actina globular (Act-G) entrelaçados, por Tropomiosinas fixadas sobre Act-F
por Tropnina em intervalos de 7 Act-Gs. A Troponina é composta de três subunidades
chamadas Troponina C (que tem afinidade por Cálcio, TnC), Troponina I (TnI) e
Troponina T (TnT). A subunidade TnI está ligada a uma das Act-Gs e a subunidade TnT à
Tropomiosina e a TnC ligada a estas duas subunidades.O cálcio ao se ligar à TnC faz com que
o conjunto modifique a sua conformação desligando TnI da AcT-G/F , simultaneamente
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deslocado a Tropomiosina, expondo os sítios das Act-Gs permitindo a interação com as
projeções das cadeias de miosina, chamadas de cabeça, que constituem o filamento grosso.
Numa reação que envolve a hidrólise de ATP, tem-se o deslizamento dos filamentos finos em
relação aos filamentos grossos , com conseqüente encurtamento dos sarcômeros (aproximação
dos discos Z), com a produção de força ao longo da miofibrila.
A formação de pontes entre Act-F e miosina é reversível, na presença de ATP,
ocorrendo com a modificação da posição da cabeça da miosina de 45 à 90 graus, tendo um
deslocamento de 100 Angstrons. A energia deste processo provem da hidrólise de ATP,
liberando ADP e Pi ( processo de transdução de energia). Pouco se sabe sobre este processo,
sendo as seguintes perguntas ainda não esclarecidas:
1) quantos sítios de ligação da Act-F estão envolvidos num abalo contrátil?
2) qual parte da cabeça da miosina muda de conformação?
3). As duas cabeças da miosina comportam-se de maneira independente?
Referências
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Intricate Web of Form and Function. Ann Rev Cell Dev Biol 2002; 18: 637-706.
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Neurociências
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Biópsia e teste de contratura muscular
In vitro contracture test
Helga Cristina Almeida da Silva
CEDHIMA (Centro de Estudo, Diagnóstico e Investigação de Hipertermia Maligna). Departamento de
Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP). Rua Napoleão de Barros, 715 - 5º andar – Vila Clementino, CEP 04024-002 - São Paulo/SP,
Brasil. Telefone/FAX: 55 (11) 5571-2746 - 55 (11) 5576-4069. E-mail address: [email protected].
O principal objetivo da avaliação laboratorial nos pacientes suspeitos de hipertermia
maligna anestésica (HMA) é o de investigar a suscetibilidade dos que sobrevivem à crise,
assim como de seus familiares.
O método mais confiável para determinar a suscetibilidade à HMA é o estudo da
contratura do músculo in vitro em presença de halotano e cafeína (in vitro contracture test IVCT), havendo positividade a pelo menos uma das duas substâncias em praticamente 100%
dos sobreviventes de um episódio de hipertermia maligna anestésica. Nesse teste, um
fragmento de biópsia muscular é conectado a um transdutor que afere o grau de contração
muscular; o músculo é, então, exposto a dose única ou crescente de cafeína e/ou halotano. A
diferença entre a resposta do músculo de indivíduos normais e dos pacientes suscetíveis está
no grau de contração alcançado e na sua sensibilidade à cafeína e ao halotano. Atualmente
existem dois protocolos básicos para a interpretação do teste: o protocolo norte-americano e o
protocolo europeu, que é aquele empregado no CEDHIMA. O protocolo europeu considera
suscetíveis os pacientes com resposta anormal às duas substâncias (MHS), equívocos (MHE)
os que responderam de forma anormal só a uma delas, e negativos (MHS) os que não
responderam de forma anormal a nenhuma das duas substâncias.
O CEDHIMA investigou 70 pacientes, cujas indicações foram: HMA (42), doença
neuromuscular (10) e síndrome neuroléptica maligna (4); 14 eram controles periódicos. No
grupo teste de 56 pacientes, a média de idade foi de 43 anos (14-84); havia 27 homens e 29
mulheres. No IVCT, 23 pacientes foram negativos para hipertermia maligna (MHN) e 47
foram suscetíveis (MHE/MHS). No grupo MHS/MHE, 12% apresentavam aumento dos
níveis séricos de CPK, 4 pacientes apresentavam alterações na biópsia muscular compatíveis
com doença central core (CCD) e 2, multiminicores (MMC).
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
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Referências
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diagnosis of malignant hyperthermia following the protocol of the European MH Group: results of
testing patients surviving fulminant MH and unrelated low-risk subjects. Acta Anaesthesiol Scand
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Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
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Estudos genéticos na Hipertermia
Miopatia de Central Core
Maligna
e
Malignant hyperthermia genetics
Patrícia M Kossugue, Viviane P Muniz, Mariz Vainzof
Centro de Estudos do Genoma Humano, Depto. de Genética e Biologia Evolutiva, Instituto de Biologia da
Universidade de São Paulo - IBUSP.
A hipertermia maligna (HM) e a miopatia de Central Core (CCD), obedecem
predominantemente a padrão de herança autossômica dominante.
O principal defeito
primário em ambas doenças ocorre no gene RYR1, que codifica o canal de liberação de
cálcio do músculo esquelético, chamado também de receptor de rianodina. O gene RYR1
(19q13.1) contêm 106 exons, sendo 2 modificados por emenda (“splicing”) alternativa e
codifica uma proteína de 5037 aminoácidos, que
se organiza em elaborada estrutura
tetramérica, composta por 4 sub-unidades de cerca de 560 kDa cada, formando o canal de
liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático do músculo esquelético. Esta proteína tem
também uma função estrutural, formando um pedúnculo que promove a ligação do retículo
sarcoplasmático e dos túbulos T.
O número de mutações identificadas no gene RYR1 vem crescendo muito, com a
implantação de novas metodologias de triagens. Até a presente data, pelo menos 70 mutações
diferentes já foram descritas em pacientes com HM e mais de 40 em pacientes com CCD. Os
diversos estudos mostraram entretanto, que a freqüência de cada uma das mutações é muito
baixa, variando nas diferentes populações entre 2% e 10% dos casos, sendo algumas delas
encontradas em famílias únicas ou em uma população específica. Embora não exista uma
predominância de certas mutações, 3 regiões grandes vêm sendo consideradas como “hot
spots” para mutações: região 1 (códons 34 a 614), região 2 (códons 2163 a 2458) e a região 3
(códons 4136 a 4973). A análise da distribuição das mutações descritas no gene RYR1 mostra
que a maioria das mutações ligadas a HM estão localizadas nas regiões 1 e 2, enquanto as
ligadas a CCD estão concentradas na região 3 da proteína.
Alem do gigantesco tamanho do gene, um segundo fator que dificulta muito o estudo
molecular é a significante heterogeneidade genética que ocorre na HM. Mutações no gene
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
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RYR1 correspondem a cerca de 50% dos casos de HM. Em diversas famílias onde ligação
com o gene RYR1 foi excluída, estudos complementares têm identificado ligação com vários
outros loci, nos mais diversos cromossomos, como em: 17q11-24 (Gene candidato: SCN4A),
7q11-21 (Gene candidato: CACNLA2), 3q13.1 (Genes candidatos: IAP e MSH4ORF2),
1q31-32 (Gene candidato: CACNL1A3), 5p, 1p32 (Gene candidato: CPTII); e ainda restam
famílias cuja ligação com todos os loci citados já foi excluída, sugerindo a existência de pelo
menos mais um lócus. Heterogeneidade genética também foi descrita na miopatia CCD.
Foram identificadas mutações em um segundo gene, MYH7, que codifica a cadeia pesada da
â-miosina, localizado no cromossomo 14, em pacientes com cardiomiopatia hipertrófica e
presença de cores em biópsia muscular.
Uma grande variabilidade na manifestação clinica tem sido observada tanto na HM
com na CCD. Em grande parte das famílias estudadas, a segregação do fenótipo sugere uma
herança autossômica dominante, mas com penetrância reduzida e expressividade muito
variável. Somente 4 famílias com CCD e herança AR foram descritos ate a presente data no
mundo todo. Interessantemente, em estudo recente finalizado em 5 famílias brasileiras com
pacientes com diagnóstico de CCD, identificamos duas famílias com mutações nos dois alelos
do gene RYR1, compatíveis com padrão de herança autossômica recessiva, sugerindo que
este padrão de herança possa ser mais freqüente do que esperado.
O teste de contratura in vitro é o exame diagnóstico padrão para a HM. Entretanto, a
identificação e descrição de mutações em um número crescente de famílias tem mostrado que
uma correlação total entre os achados nos testes de contratura in vitro e dados moleculares
nem sempre ocorre. Apesar da MHS estar ligada ao gene RYR1 em cerca de 50% dos casos,
são encontradas mutações no gene RYR1 em cerca de apenas 22 a 25% dos indivíduos com
resultados positivos no IVCT. Estudos da literatura relatam em uma mesma família, casos de
indivíduos MHN portadores de mutações no gene RYR1 e diversos indivíduos MHS ou MHE
sem mutações. Heterogeneidade foi observada para a mutação R614C tanto em estudos
internacionais como em uma família brasileira, onde a mutação foi identificada em 3 dentre os
10 indivíduos com resultado positivo para o IVCT. Também para a mutação G1021A, que
corresponde a cerca de 10% das mutações encontradas na população européia, observou-se
esta variabilidade. Foi sugerido que um outro gene ou outra mutação poderia ser a causa deste
padrão discordante entre o teste de contratura in vitro e a mutação, mas esta hipótese ainda
não foi comprovada.
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
Apesar destes resultados, há
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um consenso internacional de que embora o teste
molecular seja bem mais direto e muito menos invasivo, a realização do estudo de DNA nas
famílias em risco é demorada e muito cara, por causa da grande heterogeneidade de mutações,
bem como a baixa eficiência de sua identificação molecular. Portanto, até que esta
metodologia seja aprimorada para poder ser oferecida de forma eficiente para as famílias em
risco, o teste de contratura continuará a ser o exame mais seguro para prevenir novos
episódios de HM.
Referências
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related myopathies in the C-terminal transmembrane region of the RYR1 gene. Neuromuscul Disord.
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families with malignant hyperthermia. J Molec Neurosc 2003; 21(1):35-42.
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Coding Region for Sequence Variants Associated with Malignant Hyperthermia Susceptibility in the
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Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
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Anaesthesia in myopathies, metabolic, canalopathies
and dystrophies
Anestesia para Distrofia, Canalopatia e Miopatia Metabólica
Vincenzo Tegazzin
Head of MH Laboratory, Department of Anesthesia and ICU, S.Antonio University-Hospital, Padua, Italy.
Metabolic Myopathies (MM) are a group of muscle disorders caused by biochemical
defects of the skeletal muscle energy system, affecting both substrate utilization and final
mitochondrial oxidation through the Krebs cycle and respiratory chain. The diagnosis of MM
depends mainly on combined clinical, biochemical, histopathological and genetic
investigations (1).
Disorders of fatty acid metabolism such as carnitine palmitoyltransferase II deficiency
(CPTII) produce muscle symptoms after prolonged exercise; in contrast, defects of glycogen
breakdown produce muscle symptoms after moderate exercise.
Mitochondrial disorders present a large spectrum of clinical syndromes associated
with abnormalities of the common final pathway of the mitochondrial energy metabolism and
in the oxidative phosphorylation (1).
In the MM it is important to avoid trigger anesthetic agents such as suxamethonium
and halogenated gases. In normal circumstances, suxamethonium produces a very small but
detectable shift of potassium that can became more evident in MM. Finally, also in healthy
subjects, depolarizing relaxants have been known to cause cardiac dysrhythmias,
hyperkalaemia, myalgia, myoglobinuria that are symptoms already present in MM
individuals. Intravenous anesthetics (propofol, pentotal, opiates, non depolarizing relaxant,
midazolam) must be titrated in fuction of the severity of the disease keeping in mind that
unusual sensitivity to all drugs can occur in MM, as demonstrated by in vitro experiments
where propofol and midazolam inhibit coupling between mitochondrial respiration and
oxidative phosphorilation. Locoregional Anesthesia (LA), when spontaneous breathing can be
maintained, or LA combined with soft GA, is the best choice to improve both postoperative
recovery and analgesia.
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Neurociências
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Chloride and sodium channel myotonia are characterized by hyperexitable membrane
due to nonsense and missense mutations in the specific muscle chloride and sodium channels.
Hypokalemic periodic paralysis (HypoPP) is usually caused by mutations in the L-type
calcium channel and usually neither myotonia or electrical myotonia is present. In the
HypoPP there is loss of function (no myotonia occurs) whereas in the HyperPP there is gain
of function (myotonia occurs). Glucose and insulin that cause hypokalemia can trigger
periodic paralysis. The remedy consists in the administration of potassium. In the patients
with chloride and sodium channel myotonia, depolarizing muscle relaxants, mechanical
stimuli, anticholinesterases and cold environment (shivering) should be avoided. LA can be
used without electrical stimulations. In these patients, Malignant Hyperthermia crisis has been
described only once, so that LA seems to be preferred, keeping in mind that surgical stress,
sodium chloride infusion, LA and hypothermia can induce a paralytic attack in patients with
HypoPP, by decreasing serum potassium. An ECG monitoring is needed to document a preexisting QT prolongation.
In the Andersen syndrome, defined by the clinical triad with dyskalemic periodic
paralysis, ventricular ectopy and, sometimes, minor dysmorphic features, succinylcholine,
anticholinesterases, opioids and cold environment during anesthesia must be avoided, paying
attention to potassium level and disturbance of ECG (2). LA with periferal block and mild
sedation could be the right and reasonable choice in case of surgical procedure.
The dystrophies (muscular dystrophies and myotonic dystrophies) are diseases
associated by primary degeneration of muscle tissue and now genetically well characterized.
Patients affected with myotonic dystrophy, the most common inherited muscle disease
in adults, present inability to relax skeletal muscle after stimulation. Its severity is more
related to muscle atrophy and multiple organ involvement rather than to the abnormal
contraction. Atrio-ventricular heart block and arrhythmias may suddenly complicate an
apparently normal cardiovascular condition, during general anesthesia. Patients with muscular
and myotonic dystrophies are at risk of developing malignant hyperthermia syndrome during
general anesthesia using trigger agents. Indeed, depolarizing muscle relaxants can have a
strong stimulating effect on the weak muscle, causing rupture of fibers, myoglobinuria and
rising of serum CK. Recent molecular genetic findings are giving now futher evidence that
anaesthetics act by binding directly to sensitive proteins. It is intriguing that a single amino
acid change in a receptor or channel may cause dramatic changes of the interection between
the drug and the receptor or the channel(4). Furthermore, halogenated gases on cardiac muscle
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Neurociências
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can enhance the arrhythmias by depression of cardiac function reducing amplitude and
prolonging duration of the calcium transient.
Goals of anesthetic management is to preserve the homeostatic status, particularly in
the patients with muscular dystrophies; experimental data and clinical experience suggest that
when practicable, LA is both suitable and safer than general anesthesia. Of course, a
monitoring during anesthesia and in postoperative recovery is imperative. The use of shortacting sedative to reduce anxiety must be careful.
References
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Neuromuscular Diseases and Anaesthesia” meeting, 2004, (in press).
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receptors? Nature 1984; 310: 599-601
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
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Anestesia para insuficiência respiratória restritiva
Anaesthesia in restricitive respiratory insufficiency
Cláudia Lütke
Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Sendo a respiração – em definição simplista – a adequada captação de oxigênio e a
correta eliminação de dióxido de carbono, entende-se por insuficiência respiratória falha(s)
neste processo.
Tais falhas podem ocorrer tanto na ventilação propriamente dita como no controle
neural da mesma. Podem ainda envolver a difusão e/ou perfusão. Não raro, mais de uma etapa
encontra-se comprometida.
Classicamente, a insuficiência respiratória divide-se em síndromes obstrutivas e
restritivas. As síndromes restritivas, por sua vez, subdividem-se em intrínsecas e extrínsecas.
As doenças neuromusculares são exemplos raros de insuficiência respiratória restritiva
extrínseca, isto é, os pulmões são primariamente normais. A limitação é dada pela
incapacidade de os músculos respiratórios exercerem sua adequada função de “fole torácico”.
A insuficiência respiratória gerada por esta classe de doenças é, portanto, do tipo ventilatório.
As doenças neuromusculares diferem enormemente entre si, tanto no início do
comprometimento respiratório, quanto na intensidade e evolução (1, 2, 3).
As distrofias musculares têm caráter progressivo e a idade de início do
comprometimento da musculatura varia largamente entre os diferentes tipos de distrofias
musculares e miopatias – por volta dos 20 anos na Distrofia de Duchenne e 40 na distrofia
escapulo-umeral. Como agravante à disfunção das fibras musculares, até 80% dos pacientes
podem apresentar cifoescoliose associada, o que diminui a complacência da parede torácica.
A instalação da insuficiência respiratória nos casos de Esclerose Lateral Amiotrófica
caracteriza fase avançada da doença e a progressão é geralmente rápida a partir de então.
A Miastenia Gravis tem caráter auto-imune, com a presença de anticorpos contra
receptores de acetilcolina na junção neuro muscular. Especial atenção deve ser dada ao
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emprego de bloqueadores neuromusculares durante anestesia geral em pacientes portadores da
doença.
Este tópico será abordado em detalhes em outra exposição.
A Esclerose Múltipla, neuropatia desmielinizante, caracteriza-se por alternância de
surtos de atividade e remissão. Desta forma, o suporte ventilatório mecânico pode fazer parte
do tratamento de suporte durante a evolução natural da doença mais precocemente que na
ELA.
A Síndrome de Guillain-Barré constitui quadro de poliradiculoneurite aguda,
geralmente em caráter ascendente – com envolvimento da musculatura respiratória. Em
cinqüenta por cento dos casos há relato de quadro infeccioso respiratório ou gastointestinal
precedente às manifestações neurológicas.
Na Doença de Parkinson, a depleção dopaminérgica desencadeia movimentos
involuntários, tremor de repouso, perda .da mímica facial e rigidez de extremidades (tipo roda
denteada). O surgimento de franca insuficiência respiratória é raro. Todavia existe grande
tendência a aspiração e, conseqüentemente, surgimento de pneumonias. A apnéia obstrutiva
do sono é outro evento bastante comum nestes pacientes.
O comprometimento respiratório no Acidente Vascular Encefálico depende do local
acometido. No entanto, o mal-funcionamento da musculatura de vias aéreas superiores é
freqüente, levando também a episódios de aspiração. Envolvimento do tronco encefálico
geralmente necessita ventilação mecânica controlada precoce, em razão do acometimento do
centro respiratório.
De forma análoga, o nível da lesão no traumatismo raqui-medular determina o grau de
insuficiência respiratória. Tais pacientes mantêm a competência do centro respiratório e
normalidade – ou quase normalidade - de complacências pulmonar, de parede torácica e
abdominal.
Tendo em vista o maior risco de aspiração e necessidade de VM pós-operatória, a
técnica de anestesia regional deve ser preferida sempre que possível (4). Bloqueios espinhais
todavia não devem envolver níveis acima de T10, com o objetivo de não impor redução
adicional à função da musculatura respiratória.
As técnicas infra-claviculares são melhor opção que as vias interescalênica e
perivascular subclávia para bloqueios do plexo braquial, por não determinarem bloqueio
frênico.
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A ventilação mecânica controlada deve ser empregada nos casos de anestesia geral,
objetivando a otimização das trocas gasosas. A redução da capacidade residual funcional e
tendência ao desenvolvimento de atelectasias, complicações próprias da anestesia, podem ter
seu impacto minimizado com o emprego de pressão positiva ao final da expiração (PEEP) e
frações inspiradas baixas de oxigênio.
O comprometimento da expansibilidade torácica e a limitada capacidade de tosse são
os principais determinantes da necessidade de suporte ventilatório mecânico no período pósoperatório.
Referências
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Med 1994; 15(4): 765-81.
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Disease, 4th. Ed., Philadelphia: Churchill Livingstone, 2002.
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Anestesia para Miastenia Gravis
Anaesthesia in Miastenia gravis
José Luiz Gomes do Amaral
Professor Titular, Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva Cirúrgica, Escola Paulista de Medicina /
Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Definição
A miastenia gravis (MG) é doença auto-imune determinada pela ligação de autoanticorpos às sub-unidades alfa dos receptores de acetilcolina (nAchRs) na junção
neuromuscular.
Patologia
Observa-se nos portadores de MG redução (a aproximadamente 30% do normal) da
densidade de nAchRs na placa mioneural secundária à ligação com auto-anticorpos e perda
das dobras (lise focal) das membranas celulares devida a fixação de complemento.
Cerca de 80% dos pacientes com MG têm anticorpos circulantes contra acetilcolina
(soropositivos). Em 70% dos soronegativos encontram-se anticorpos contra o receptor
tirosina-cinase (MuSK) específico do músculo esquelético.
Em 70% dos casos de MG observa-se hiperplasia folicular linfóide do timo, cujos
centros germinativos produzem anticorpos contra nAchRs. Observa-se timoma entre 10% e
15% dos casos e hiperplasia tímica na maioria dos pacientes mais jovens. Dos pacientes com
timoma 30 a 50% são igualmente acometidos de MG.
Os pacientes com timoma geralmente não melhoram após a operação, enquanto 68%
dos que não o apresentam o fazem entre 6 e 24 meses. Aceita-se que os anticorpos antinAchRs sejam produzidos em outros locais além do timo, visto que a timectomia não cura,
nem previne MG.
Cerca de 12% dos portadores de MG têm outra doença autoimune associada.
Estresse, gravidez e infecções são apontados como fatores desencadeantes, enquanto
que a anestesia parece não contribuir para o surgimento de MG.
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Incidência
A prevalência de MG varia de 0,25 a 2 casos por 100 mil indivíduos A MG é mais
comum em mulheres jovens (abaixo de 30 anos) e homens em meia-idade, (acima de 50
anos).
Quadro clínico
A fadiga (fraqueza muscular que piora com o exercício) é a principal característica da
doença. Ela surge, na maioria dos casos, nos músculos oculares (diplopia, visão borrada, ptose
palpebral), estendendo-se a outros grupamentos musculares, eventualmente comprometendo a
deglutição (disfagia) e fonação (disartria) (manifestações denominadas “bulbares”) e a
ventilação.
A crise miastênica é definida como rápida instalação de fraqueza muscular
culminando em insuficiência respiratória aguda. Ela pode levar ao diagnóstico de MG ou
decorrer de posologia inadequada de anticolinesterásicos.
O diagnóstico é confirmado pela resposta ao cloreto de edrofônio (teste do
Tensilon®). Após a injeção de dose teste (1 a 2 mg), a administração de 10 mg de edrofônio
segue-se de rápida (entre 1 e 5 minutos) melhora da ptose ou da capacidade vital.
Tratamento
O tratamento com anticolinesterásicos constitui a base do tratamento da MG.
Piridostigmina (Mestinon) é administrada até 120 mg, a cada 3 horas (30 mg de
piridostigmina oral equivalem a 1 mg intravenoso).
Além dos anticolinesterásicos (neostigmina ou piridostigmina), o tratamento de MG
inclui timectomia, imunossupressão inespecífica com corticosteróides, imunoglobulina (IVIg,
rituximab [anticorpo monoclonal contra o antígeno CD20 das células B] e outros agentes,
como azatioprina [2,5 a 3,5 mg/kg] ou ciclosporina). A
plasmaferese é indicada nas
manifestações bulbares graves, nas crises miastênicas ou no preparo pré-operatório dos
pacientes não controlados com as medidas anteriormente descritas.
Prognóstico
Registra-se sobrevida acima de 5 anos de 85 a 90% tanto em pacientes jovens, como
idosos, tratados de crises miastênicas ou portadores de timoma submetidos a timectomia.
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Anestesia e miastenia gravis
O anestesiologista assume a atenção de pacientes portadores de MG em diferentes
circunstâncias. Nos cuidados pré-, intra e pós-anestésicos (em timectomias ou outras
intervenções) e no tratamento da insuficiência respiratória aguda (para assistência ventilatória
em crises miastênicas ou colinérgicas).
O pré-operatório do paciente com MG envolve consulta ao neurologista assistente,
avaliação da medicação em uso, do impacto do tratamento com imunossupressores, eventual
otimização da posologia de anticolinesterásicos (mantidos até o dia da intervenção) ou
realização de plasmaferese.
Os testes de função pulmonar fornecem parâmetros úteis para o planejamento do pósoperatório. A ventilação prolongada (acima de 3 horas) é mais provável quando a capacidade
vital forçada encontra-se aquém de 40 ml/kg ou 2,9 litros. A escala de Osserman, destinada a
avaliar a intensidade das manifestações clínicas de MG, não guarda correlação consistente
com a probabilidade de ventilação artificial prolongada no pós-operatório. Pacientes tratados
com 750 mg ou mais de piridostigmina também têm maior risco de dificuldades à
desintubação. Aos tratados com corticosteróides adiciona-se o risco de fraqueza muscular
induzida por destes agentes.
Estimuladores da motilidade gástrica, como a metoclopramida, e inibidores da
secreção ácida, como a ranitidina, são recomendados no pré-operatório, enquanto geralmente
os opióides e os diazepínicos são evitados. O uso de bloqueadores neuromusculares no
miastênico requer consideração de diversos fatores:
A redução do número de nAchRs traz relativa resistência à ação dos agentes
despolarizantes, como a succinilcolina e o mivacúrio. A dose de succinilcolina recomendada
para intubação em seqüência rápida em portadores de MG chega a 1,5 a 2 mg/kg. Por outro
lado, o uso crônico de anticolinesterásicos e a plasmaferese diminuem a atividade da
butirilcolinesterase, o que prolonga o efeito da succinilcolina e do mivacúrio. O bloqueio tipo
fase 2 é mais comum nestes casos.
Com relação ao bloqueio não despolarizante, observa-se na MG acentuada
potencialização da atividade dos agentes desta classe, intensificação de seu efeito, acelerando
o início da ação e prolongando sua duração. A ED95 do vecurônio reduz-se a 40-55% do
observado em indivíduos normais e a do atracúrio, 58%. A monitoração com estimulador
neuromuscular (train of four) permite titular com segurança os bloqueadores. Em razão da
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ampla variabilidade entre indivíduos, a dose inicial do bloqueadores neuromusculares
adespolarizantes é habitualmente reduzida a 1/5 a 1/10 da ED95.
Na condução do bloqueio neuromuscular dá-se preferência ao atracúrio visto dispensar
antagonismo com anticolinesterásicos.
O efeito relaxante muscular induzido pelos anestésicos voláteis é acentuado nos
portadores de MG, enquanto o comportamento dos barbitúricos, cetamina, propofol e
etomidado não é afetado. A depressão respiratória induzida pelos opióides merece atenção
particular no paciente miastênico. A anestesia regional pode agravar a fraqueza muscular e
deprimir a ventilação em razão do bloqueio motor (sobretudo quando alcança os primeiros
segmentos torácicos) e da redução da sensibilidade da membrana pós-juncional determinada
pelo anestésico local. Nesse contexto, para intervenções pélvicas ou em extremidades
inferiores, a raquianestesia “baixa” reúne as vantagens de mínimo comprometimento dos
músculos acessório das ventilação e limitada absorção sistêmica de anestésico local. A
anestesia (e analgesia pós-operatória) peridural torácica, combinada com anestesia geral é
recomendada em timectomia e outras intervenções realizadas nos segmentos torácicos e
abdômen superior.
Antibióticos como os aminoglicosídeos e a polimixinas, mas também as penicilinas,
sulfonamidas e tetraciclinas; os antiarrítmicos, como lidocaína, procaína e fenitoína;
betabloqueadores e bloqueadores de canais de cálcio podem acentuar a fraqueza muscular da
MG e são evitados no peri-operatório.
Alguns aspectos particulares da MG exigem especial atenção no pós-operatório:
Ainda que alguns portadores de MG possam exigir entre 24 e 48 horas de ventilação artificial
pós-operatória, na maioria dos casos a desintubação é possível ao final das intervenções.
Evita-se antagonizar o bloqueio neuromuscular, aguardando-se a recuperação
espontânea. Sugere-se interromper a administração de anticolinesterásicos nas 24 horas
seguintes à anestesia, visto este fármaco poder aumentar a produção de secreção nas vias
aéreas e dificultar a desintubação, bem como aumentar o risco de fístulas após anastomoses
intestinais.
A recuperação da CV (capacidade vital), aferida por sucessivas espirometrias, auxilia
na condução da interrupção progressiva da ventilação artificial.
Os acometidos da forma “bulbar” de MG têm elevada probabilidade de aspiração
pulmonar durante as crises miastênicas, evidenciada pela incidência de pneumonia em 25 a
33%.
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
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78
Referências
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Neurociências
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Anestesia para suscetíveis à Hipertermia Maligna
Anaesthesia in MH susceptible patients
Luiz Bomfim Pereira da Cunha
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
______________________________
Aspectos farmacológicos do Dantrolene Sódico
Dantrolene
Oscar Pires
Universidade de Taubaté – UNITAU, São Paulo.
1. Introdução
A redução dos índices de mortalidade pela hipertermia malígna (HM) é conseqüência
do emprego de dantrolene sódico, 1-[[[5-(4-nitrofenil)-2-furanil]-metileno]amino]-2-4imidazolidinodiona, um derivado hidantoínico lipossolúvel, sintetizado em 1967 graças a
estudos de Snyder no laboratório Norwich-Eaton-Pharmaceuticals administrado por via oral
ou intravenosa1.
O dantrolene sódico é um relaxante muscular que inibe a liberação de Ca++ do retículo
sarcoplasmático durante o acoplamento excitação-contração2 causando redução dose
dependente das concentrações de cálcio intracelular em suínos3 e em humanos susceptíveis4.
A formulação para uso intravenoso é apresentada em frascos-ampola de 70 ml,
contendo 20 mg de dantrolene, 3,0g de manitol e hidróxido de sódio. O conteúdo de cada
frasco ampola deve se rdiluído em 60 mlde água estéril.
2. Farmacodinâmica
2.1. Músculo esquelético
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Estudos experimentais sugerem que o dantrolene atua intracelularmente nas fibras
musculares esqueléticas inibindo a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, induzida
por cálcio, e consequentemente a contração muscular, sem afetar o potencial de ação5.
Mutação em um ponto do canal de liberação do cálcio do retículo sarcoplasmático no músculo
esquelético, também chamado de receptor de ryanodine (RYR1) predispõe a HM6,7,8 .
2.2. Músculo liso vascular e cardíaco
Estudos realizados com diferentes isoformas de ryanodine sugerem ação seletiva sobre
receptores específicos do músculo esquelético (RYR1) e de diversos outros tecidos incluindo
cérebro (RYR3), porém sem ação sobre receptores do músculo liso vascular e cardíaco
(RYR2)2,9,10,11, outros estudos mais recentes in vitro revelaram alterações latentes, no
miocárdio de suínos susceptíveis, manifestas durante exposição ao halotano12. Não obstante,
têm se registrado arritmias cardíacas tipo fenômeno de Wenckebach13 e bloqueio átrioventricular total e, parada cardíaca quando em interação com verapamil e diltiazem14.
Foi relatado bloqueio de canais de cálcio do músculo liso da artéria mesentérica
superior de ratos antagonizando o tromboxane A215. A inibição por dantrolene de
Anthopleurin-A, um potente peptídeo cardioestimulante, em ratos e coelhos foi relatada por
Bayley16 e a redução da força de contração de átrio esquerdo de coelhos sem alterar o período
refratário efetivo, sugere que o efeito inibitório do dantrolene sobre o músculo cardíaco
decorre de ação sobre o retículo sarcoplasmático e não sobre a excitabilidade do sarcolema17.
Salata demonstrou efeito seletivo de dantrolene sobre a fibra de Purkinje de cães,
prolongando a duração do potencial de ação em 90% na repolarização e no período refratário
da fibra normal com depressão do plateau e da força de contração18.
Embora o dantrolene não apresente efeito significativo sobre o potencial
transmembrana em repouso, altera a velocidade de condução nas fibras de Purkinje da fase
zero interferindo com a corrente lenta para o interior celular19.
2.3. Outros sistemas e órgãos
Em neurônios o dantrolene atua prevenindo a injúria mediada por excesso de
estimulação por glutamato, atuando por longo período, o que sugere processo de depressão de
estoques de cálcio intracelular7.
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Sobre a função respiratória, gatos e ratos anestesiados que receberam dantrolene
apresentaram depressão da resposta ao twitch em vários grupos musculares, mas apresentaram
pouco efeito sobre a respiração20,21.
A liberação de insulina estimulada por glicose foi inibida por dantrolene em ilhotas
pancreáticas isoladas de ratos, não obstante o estímulo por leucina, arginina, ouabaína e
potássio não sofreu inibição. Estes resultados sugerem que dantrolene interfere com a
mobilização de estoques de cálcio das células β22. Contudo em outro estudo in-vitro
dantrolene apresentou efeito oposto potencializando o estímulo à liberação de insulina por
glicose23.
Dantrolene intraperitoneal em ratos, na dose de 25 a 50 mg.kg-1, causou significativo
aumento da adrenal, reduzindo os níveis séricos de glicocorticóides e as isoenzimas do
citocromo P-450 após 5 dias24.
Hepatotoxicidade atribuída ao dantrolene atinge aproximadamente 1,0% dos usuários
e é observada com o uso oral25.
Fêmeas de ratos Sprague-Dawley tratadas com dantrolene sódico durante 18 meses na
dosagem de 15, 30 e 60 mg.dia-1 apresentaram aumento da incidência de tumores mamários
benignos e malignos comparadas com controles paralelos, além de, na dose mais elevada
haver aumento na incidência de linfangiomas e angiosarcomas hepáticos26. Contraria esses
dados, outros estudos com tratamento por 30 meses em 344 ratos Sprague-Dawley ou Fischer
ou em camundongos da cepa HaM/ICR26.
A segurança para utilização na gravidez não foi estabelecida, sendo classificado pela
FDA (Food and Drug Aministration) como fármaco de categoria C, cuja segurança na
gestação em humanos não foi determinada e em estudos animais foram positivos para risco
fetal ou não foram realizados e o fármaco não deve ser administrado, a não ser em condições
onde os benefícios compensem os potenciais riscos26. No pós-parto determina atonia uterina27.
Outros efeitos adversos do dantrolene incluem náuseas, vômitos, mal estar, tonturas e
irritação local devido ao elevado pH da solução após preparo (9,5)28.
3. Farmacocinética
A baixa solubilidade do dantrolene e de seus metabólitos em muitos solventes,
incluindo água e sua degradação pela luz são fatores que alteram a análise farmacocinética29.
Como resultado o pré-tratamento com dantrolene por via oral não é freqüentemente
recomendado e não provisiona o mesmo resultado que dantrolene por via intravenosa30.
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3.1. Absorção e Concentração plasmática
Estudos em animais demonstram que o intestino delgado é o maior sítio de
absorção do dantrolene. Baseado em dados de excreção urinária e biliar, aproximadamente
70%, da dose administrada, é absorvida31.
Após administração oral de 100 a 125 mg de dantrolene em 24 voluntários sadios, o
pico de concentração plasmática foi de 0,7 a 1,7mg.L-1 em período de 3 a 6 horas após
administração32,33. Entretanto, estas concentrações são falsamente elevadas devido a não
separação seu metabólito, 5-hydroxy34. Estudos mais recentes, após administração oral de
50mg a voluntários sadios, as concentrações plasmáticas máximas de dantrolene e de 5hydroxidantrolene variaram de 0,5 a 0,95 mg.L-1 e 0,11 a 0,3 mg.L-1 entre 4 a 8 horas e 6 a 8
horas respectivamente35. Tratamento profilático com 2,5 mg.kg-1 de dantrolene em seis
pacientes com suspeita ou comprovação da síndrome de hipertermia maligna demonstrou
concentração plasmática máxima de 4,3 a 6,5 mg.L-1
36
. Concentrações plasmáticas
proporcionalmente semelhantes de dantrolene e 5-hydroxy-dantrolene foram relatadas por
Meyler37 e Wuis38 após 100 mg de dantrolene por via oral em voluntários sadios.
A administração de dantrolene nas doses de 50, 100, 200 ou 400 mg.dia-1 e a medida
de sua concentração sangüínea e de 5-hydroxydantrolene não se elevou após 2 semanas de
tratamento39. Em contraste foi relatado que a concentração plasmática de metabólitos de
dantrolene (5-hydroxydantrolene e dantrolene acetilado reduzido) elevou-se após tratamento
prolongado por mais de dois meses40. Ambos os estudos demonstraram elevação da
concentração plasmática de dantrolene após tratamento por longo período e a não elevação
quando o tratamento foi com administração de dose única39,40.
Em gestantes susceptíveis à hipertermia maligna, a administração oral de dantrolene
resultou em relação plasmática fetal-materna de 0,4 mg.dl-1, indicando transferência
placentária, o que é explicado pelas características lipofílicas do fármaco41. A secreção de
dantrolene no leite materno após administração de doses terapêuticas com bolus de 160mg
repetidos totalizando 760mg em episódio suspeito durante cesariana foi confirmada com pico
(1,2 mg.ml-1) 36 h após administração, com meia vida (T1/2) no leite materno de 9,02 h
sugerindo segurança para o recém nascido na amamentação após 2 dias do término da
administração do dantrolene intravenoso42.
Dantrolene foi quantificado em 1,39 µg.ml-1 no sangue venoso do cordão umbilical de
recém nascidos sem demonstrar efeitos colaterais (Morison, 1983). Concentração sérica
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neonatal de 0,72 ± 0.36 µg.ml-1 e meia vida (T1/2) de aproximadamente 20 h não implicaram
em efeitos adversos25.
3.2. Níveis terapêuticos
Estudos farmacológicos demonstraram relação inversa entre a concentração plasmática
de dantrolene e a contratura muscular ao twitch32,43.
Em seis de sete pacientes com espasticidade, houve melhora dos sintomas após
administração do dantrolene, mas não houve correlação entre a concentração plasmática e os
efeitos, contudo concentrações menores que 0,3 mg.L-1 foram associadas a efeitos
semelhantes a placebo, porém efeitos de sedação e vertigens foram relacionados com o pico
de concentração plasmática37.
Pacientes sadios recebendo dantrolene, por via oral e endovenosa, apresentaram
correlação entre o aumento da concentração plasmática e depressão do twitch37 e da
porcentagem da depressão da força de contração13.
A dose limiar efetiva administrada ou a concentração plasmática para controle da
hipertermia maligna é difícil de ser determinada em suínos e eticamente impossível em
humanos13. Não obstante, estudos em suínos mostraram que 3,5 mg.kg-1 de dantrolene via
intravenosa promoveu 95% da depressão máxima da força muscular, sendo profilática e
terapêutica para o uso de halotano e suxametônio44.
Estudo multicentrico demonstrou no homem, a dose de dantrolene utilizada com
sucesso para o tratamento de hipertermia maligna foi de 2,5 mg.kg-1 45 versus 2,4 mg.kg-1 em
suínos13. Esses dados são importantes para a recomendação da dose profilática de dantrolene
de 1,0 a 2,0 mg.kg-1 4 vezes ao dia por um a dois dias no pré-operatório46.
3.3. Distribuição
Estudos em animais mostram que o dantrolene possui alto volume de distribuição com
altas concentrações nos intestinos e fígado. Ocorre interação entre dantrolene e albumina
humana in vitro em pelo menos dois sítios da proteína40.
Similar às proteínas plasmáticas, o retículo sarcoplasmático do músculo esquelético de
suínos possui duas classes de sítios de ligação ao dantrolene, uma com o dobro de afinidade
que a outra47.
3.4. Metabolismo e excreção
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O dantrolene, no homem é metabolizado pelo sistema microssomial hepático,
principalmente por hidroxilação na posição 5 do anel da hidantoína, por redução do grupo
nitro e acetilação do grupo amino48,49.
O metabólito 5-hidroxidantrolene (5-OHD) apresentou aproximadamente metade da
potência do dantrolene na inibição da contração do músculo gastrocnêmio em ratos48.
Em crianças a concentração plasmática de 5-hidroxidantrolene após tratamento com
múltiplas doses de dantrolene foi 30 a 50% da concentração do dantrolene49 e 15 a 20% da
dose administrada por via oral é excretada por via renal38,49,50. Aproximadamente 79% da
droga é excretada pela urina na forma de 5-hidroxidantrolene, 18% na forma acetamido e 4%
na forma dantrolene inalterado49.
O clearance renal do 5-OHD foi estimado entre 1,8 a 7,8 L/h em voluntários sadios
após administração da dose oral de 100 mg, enquanto a eliminação fecal da droga e de seus
metabólitos foi insignificante38.
A excreção biliar de dantrolene em pacientes submetidos à colecistectomias após
administração de 100 mg de dantrolene por via oral foi menor que 1% da dose administrada50.
A meia vida de eliminação (T1/2β) do dantrolene apresentou variação entre 6 e 9 horas
com extremos em 3 e 22 horas31,37,38,49, enquanto que a de seu metabólito (5-OHD) foi de 15,5
h com extremos em 8,1 e 29,4 horas37. Grande variedade individual na meia vida de
eliminação do dantrolene ocorre, não pela diferença na eliminação do 5-OHD, mas
provavelmente dos metabólitos não detectáveis ou pela lenta eliminação final38. Estudo
farmacocinético de pacientes com hipertermia maligna a meia vida de eliminação após
administração de 2,5 mg.kg-1 em período de 10 a 30 min foi de 12 horas36.
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Neurociências
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Prevenção e tratamento de Hipertermia no Esporte
Treatment and prevention of exercise hyperthermia
Antonio Carlos da Silva
Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP.
A prevenção da Hipertermia em atletas portadores de deficiência pode ser um
problema importante na preparação destes atletas. A utilização dos padrões gerais de
prevenção contra a desidratação e o excesso de calor, com as devidas adaptações, gerou
resultados satisfatórios na Equipe Paraolímpica Brasileira.
Os atletas realizaram um período de aclimatização de 12-14 dias na fase pré –
competição, com ajustes nas cargas de treinamento e monitoração rigorosa da FC e do peso
corporal diário.
Nenhum caso de hipertermia ou desidratação aguda foi observado na competição
paraolímpica.
Os mesmos princípios podem ser usados para prevenção da hipertermia em indivíduos
de riscos, não atletas.
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
89
Sociedade Civil e Hipertermia Maligna – Sempre
Viva
Non – Governamental Groups and MH – Sempre Viva Group
Rogerio Firme
Tópicos abordados:
1.
O que é a Sempreviva?
2.
Por que Sempreviva?
3.
Como foi constituída?
4.
Em que consiste seu trabalho?
5.
Ações políticas da Sempreviva
6.
Conquistas da Sempreviva
7.
Ações atuais da Sempreviva
8.
Precisamos de parcerias para poder continuar nosso trabalho.
SEMPREVIVA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COMBATE A HIPERTERMIA MALIGNA
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
90
Correlações clínicas, morfológicas e funcionais do músculo estriado
esquelético de pacientes que se submeteram ao teste de contratura muscular
in vitro para o diagnóstico de hipertermia maligna.
Helga CA Silva1,2, Débora R Ramadan1, Ana MC Tsanaclis2, José LG Amaral1.
1. Dept. Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da UNIFESP; 2. Dept. Patologia da Faculdade de Medicina da
USP.
Introdução. A hipertermia maligna (HM) é uma síndrome hipermetabólica desencadeada por
anestésicos voláteis halogenados e succinilcolina, em indivíduos predispostos geneticamente,
com herança autossômica dominante. A HM está relacionada principalmente ao gene RYR1
(cromossomo 19), que codifica o canal rianodina ou liberador de cálcio do retículo
sarcoplasmático do músculo esquelético. Portanto, a HM está associada a uma falência na
homeostase do cálcio nas fibras musculares, sendo caracterizada por elevação sustentada do
cálcio mioplasmático que leva à hipercontratura muscular, ao hipermetabolismo e à
hipertermia. O teste-padrão para a detecção de suscetibilidade à HM é o teste de contratura
muscular in vitro (IVCT). Nesse teste, um fragmento de biópsia muscular é conectado a um
transdutor que afere o grau de contração muscular; o músculo é, então, exposto a doses
crescentes de cafeína (C) ou halotano (H). A diferença entre a resposta do músculo de
indivíduos normais e de pessoas suscetíveis está no grau de contração alcançado e na sua
sensibilidade às drogas. O principal objetivo do presente trabalho foi analisar se as
características clínicas de um grupo de pacientes que realizou o IVCT para o diagnóstico de
HM, bem como as características morfológicas e funcionais dos seus músculos, estão
influenciando nos resultados do IVCT e, conseqüentemente, se estão ligadas à suscetibilidade
à HM.
Casuística e metodologia. Foi realizada análise retrospectiva da amostra de indivíduos
investigada no CEDHIMA (Centro de Estudo, Diagnóstico e Investigação de Hipertermia
Maligna) no período 1997-2001. Foram analisados os dados demográficos (idade, sexo) e
clínicos (antecedentes pessoais -AP- e familiares - AF, doenças associadas, exame físico e
neurológico). A seguir foram analisados os seguintes parâmetros do IVCT: área transversa,
tétano físico e químico, contração máxima nos primeiros 10 minutos e durante o teste,
concentração limiar (CL) e específica, resultado parcial de cada teste - H ou C, e resultado
global. Finalmente analisou-se o estudo anatomopatológico do músculo esquelético quanto à
percentagem de fibras I e II, alterações e diagnóstico. Os dados foram analisados quanto à
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
Neurociências
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normalidade, comparados por meio dos testes do qui-quadrado e teste t, e correlacionados
com os testes de Pearson e Spearman.
Resultados. Da amostra de 63 indivíduos (14: controles, 5: dados suficientes), foram
analisados 44 pacientes (22 masculinos/22 femininos; média de idade 37+16 anos (14 a 84).
A investigação foi motivada por AP (2%) ou AF (71%) de HM anestésica, doença
neuromuscular (20%) e síndrome neuroléptica maligna (7%). Houve positividade no IVCT a
pelo menos uma das duas substâncias em 89% deles (positivos: 65%H/35%C). Alteração
mitocondrial foi o achado mais freqüente nas biópsias (38%). Houve diferença significante
entre os resultados do teste de cafeína (positivo ou negativo) e a percentagem de tipo de
fibras. Correlações significantes: idade e CL-H (p 0,0372).
Conclusões. No atual estudo, o diagnóstico de HM foi influenciado pela idade dos pacientes e
pela porcentagem do tipo de fibras musculares presentes nos fragmentos de músculo usados
para a realização do IVCT, mostrando assim a importância de se levar em conta uma idade
mínima para indicação do teste e a necessidade de padronização de um tipo de músculo para a
sua realização.
Teste de esforço cardiopulmonar na avaliação da resposta ao exercício na
hipertermia maligna.
Helga CA Silva1, João J Leite2
1. Dept. Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da UNIFESP; Dept. Patologia da Faculdade de Medicina da
USP. 2.Serviço de Pneumologia do Instituto do Coração do HC/FMUSP.
Introdução. Hipertermia maligna anestésica, ou hipertermia maligna (HM) propriamente
dita, é uma reação hipermetabólica grave que ocorre, em pacientes geneticamente suscetíveis,
após a administração de anestésicos inalatórios halogenados e relaxantes musculares
despolarizantes tipo succinilcolina. Clinicamente, a HM caracteriza-se por hipertermia,
rigidez muscular, rabdomiólise, acidose e evolução rápida para o óbito. Pacientes suscetíveis à
HM podem raramente apresentar outras complicações, como hipertermia desencadeada por
esforço físico. Pacientes suscetíveis à HM, mesmo assintomáticos, geralmente apresentam
algum grau de doença neuromuscular, detectável por meio do exame clínico, do nível sérico
de enzimas musculares, dos estudos eletrofisiológicos, do estudo anatomopatológico, da
espectroscopia e dos testes metabólicos. Entre esses últimos estão testes dinâmicos, como o
teste de esforço cardiopulmonar (TECP), que analisa as modificações cardiovasculares,
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respiratórias e metabólicas que ocorrem durante esforço físico padronizado. O objetivo deste
estudo foi: avaliar a resposta ao TECP em uma amostra de pacientes suscetíveis à HM.
Casuística e metodologia. Após consentimento informado, foram avaliados dois grupos,
controle (GC) e teste (GT). O GC foi formado por 12 indivíduos sem antecedentes de HM,
sem doenças pré-existentes, assintomáticos, com exame clínico e força muscular normais,
investigados durante avaliação de rotina anual. O GT constou de 11 pacientes com
diagnóstico de suscetibilidade à HM, estabelecido pelo teste de contratura muscular in vitro
em resposta ao halotano e à cafeína, segundo o protocolo europeu. No TECP foi utilizado o
protocolo do tipo rampa, com bicicleta como ergômetro, e carga de 7,5/10/15 w.min-1, a
depender das condições de cada indivíduo estudado. As variáveis analisadas foram potência
do trabalho desenvolvido - PT (watts), freqüência cardíaca de pico do exercício - FC
(batimentos/minuto), freqüência respiratória (incursões/minuto), ventilação minuto -VE
(litros/minuto), consumo oxigênio -VO2 (ml/min), gás carbônico expirado - VCO2 (ml/min),
quociente respiratório - QR (CO2/O2). Os dados entre os dois grupos foram comparados,
após o teste de normalidade, por meio do teste do qui-quadrado e do teste t não pareado.
Resultados. Não houve diferenças entre os grupos quanto à idade (GC: 40+12; GT 31+12,5
anos) e gênero (GC: 7femininos/5 masculinos; GT: 7/4). Da mesma forma, não houve
diferenças quanto à PT (GC:82+18%; GT: 82+21% do previsto), FC (GC:86,5+11%; GT:
83+9%), VO2 de pico de exercício (GC:89+15%; GT: 81+17%), VO2 no limiar ventilatório
(GC:57,7+9,7%; GT: 57,7+12,2%) e QR pré-teste (GC:0,86+0,06; GT: 0,86+0,15). Houve
diferença significativa entre os grupos no valor do QR de pico de exercício (GC:1,18+0,08;
GT: 1,09+0,07; p<0,01).
Conclusões. A presença de diminuição do QR de pico do exercício, em pacientes com HM,
pode resultar de vários fatores, tais como: diminuição da massa muscular, exercício
fragmentado, maior custo energético do trabalho (maior VO2 para mesma PT), utilização de
músculos habitualmente inativos e mesmo utilização preferencial de lípides pela fibra
muscular. É necessário estudar maior número de pacientes com HM por meio de outros
protocolos metabólicos e dinâmicos que possam levar a melhor discriminação das alterações
encontradas.
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Triagem de mutações na região C-terminal do gene RYR1 identifica alta
freqüência de formas autossômicas recessivas de Miopatia de Central Core
(CCD) no Brasil.
Patrícia M Kossugue1, Viviane P Muniz1, Rita CM Pavanello1, Mayana Zatz1, Helga C
Silva2, Juliana G Giannetti3, Júlia FO Paim 4, Mariz Vainzof1.
1) Centro de Estudos do Genoma Humano, IBUSP; 2-) Depto. de Patologia, FMUSP; Depto de Anestesiologia,
UNIFESP; 3) UFMG, Belo Horizonte, MG; 4) RSHAL, Belo Horizonte, MG.
A miopatia de Central Core (CCD) é associada à hipotonia neonatal, fraqueza muscular
lentamente progressiva, possíveis deformidades ósseas e susceptibilidade à Hipertermia
Maligna (HM). O achado histológico predominante na biópsia muscular é a presença de
“cores”, lesões dos sarcômeros localizadas centralmente, ou não no interior da fibra
muscular. O primeiro gene responsável identificado, RYR1 (19q13), codifica o canal de
liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático. O gene é muito grande, composto por mais
de 160 kb, contendo 106 exons, o que dificulta significativamente o seu estudo.
Recentemente, verificou-se que a região terminal do gene agrega grande parte das mutações
já descritas em pacientes com CCD. Na grande maioria das famílias descritas, o padrão de
herança é autossômico dominante. Apenas quatro famílias com herança autossômica
recessiva (AR) foram descritas, sendo que duas delas apresentam quadro clínico muito grave.
Estamos realizando uma triagem de mutações no gene RYR1 em pacientes com CCD
pertencentes a 9 famílias brasileiras. O estudo molecular está sendo realizado em DNA
genômico. Os exons 94 a 106 são amplificados por PCR, a detecção das mutações está sendo
feita por técnica de SSCP, e a confirmação das alterações encontradas, por sequenciamento
automático das amostras.
Até a presente data, a análise de 3 exons (94, 101 e 102) foi finalizada. Identificamos 6
mutações (3 descritas e 3 novas) em 5 das famílias estudadas. Além disso, identificamos 2
famílias com 3 pacientes moderadamente afetados portadores de mutações em ambos alelos
do gene RYR1, indicando um padrão de herança autossômico recessivo. Constatamos em um
dos pacientes a mutação V4849I em homozigose. Os pais são consangüíneos e ambos
portadores assintomáticos da mutação. Os 2 pacientes da segunda família são heterozigotos
compostos para duas mutações novas (R4558Q/A4846V) transmitidas por cada um dos pais
assintomáticos. As 2 mutações recém descritas não foram encontradas em 100 cromossomos
normais; além disso, estão localizadas em regiões evolutivamente conservadas. Estes dados
favorecem a possibilidade dessas mutações serem patogênicas.
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A identificação de 2/5 famílias com herança autossômica recessiva, sugere que este padrão
de herança possa ser mais freqüente do que esperado, e poderia explicar a falta de
penetrância e a expressividade muito variável observada em portadores de mutações neste
gene em algumas famílias. Assim, mutações descritas em indivíduos assintomáticos e
consideradas como não-patogênicas podem ser potencialmente responsáveis por um quadro
de miopatia quando presente em ambos alelos, em homozigose ou hetorozigose composta.
Além disso, deve-se considerar o risco de susceptibilidade à Hipertermia Maligna nos pais
heterozigotos assintomáticos.
O estudo de mutações no gene RYR1 é muito importante para o diagnóstico de pacientes,
para o aconselhamento genético e melhor caracterização da Miopatia de Central Core. O
presente estudo irá permitir estimar a proporção de mutações no gene RYR1 na população
estudada.
Além disso, a identificação destas mutações irá permitir uma análise mais
detalhada de seu efeito, relacionando-as com os padrões de “cores” observados nas biópsias
musculares dos respectivos pacientes. A correlação genótipo/fenótipo é de fundamental
importância para a compreensão do mecanismo fisiopatológico da miopatia CCD.
FAPESP-CEPID, CNPq, PRONEX.
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Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o
Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte
descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br).
Texto: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente:
introdução, material (casuística) e método, resultados,
comentários (discussão e conclusões), referências bibliográficas,
eventualmente agradecimentos, suporte financeiro. Não repetir
no texto dados que constem em tabelas e ilustrações.
Quadros, Gráficos e Tabelas: até cinco, apresentadas em
páginas separadas e no final do texto. Em cada uma, devem
constar seu número de ordem, título e legenda.
Figuras: até duas ilustrações com tamanho não superior a 6 cm
x 9 cm cada uma. Fotos em preto e branco bem contrastadas;
eventuais detalhes com setas, números ou letras. Identificar cada
ilustração com seu número de ordem, nome do autor e do artigo,
com etiqueta colada no verso e nela marcada na parte superior.
Não grampear e nem colar as ilustrações, embalar cada uma em
separado. Encaminhar separadamente as respectivas legendas.
Ilustrações reproduzidas de textos já publicados devem ser
acompanhadas de autorização de reprodução, tanto do autor
como da publicadora. Ilustrações em cores podem ser
publicadas; dado seu custo elevado, será de responsabilidade dos
autores, assim como o custo por número de tabelas e ilustrações
acima dos mencionados e desde que sua publicação seja
autorizada pela editora. O material recebido não será devolvido
aos autores. Manter os negativos destas.
Referências: Até cerca de 30 (para artigos originais ou de
atualização), restritas á bibliografia essencial ao conteúdo do
artigo. Para artigos de revisão, até 100 referências. Todos os
95
autores e trabalhos citados no texto devem constar na listagem
de referências bibliográficas. No texto, as citações devem seguir
o sistema numérico, isto é, são numerados por ordem de sua
citação
no
texto,
utilizando-se
números
arábicos
sobrescritossegundo o estilo Vancouver(www.icmje.org). Por
exemplo: “....o horário de ir para a cama e a duração do sono na
infância e adolescência6-12,14,15.” As referências devem ser
ordenadas consecutivamente na ordem na qual os autores são
mencionados no texto. Listar todos os autores no máximo de 6,
quando forem 7 ou mais, listar os 3 primeiros seguidos de “et
al.”.
a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico
(abreviados de acordo com o Index Medicus) ano; volume:
página inicial – final. Ex.: Wagner ML, Walters AS, Fisher BC.
Symptoms of attention-deficit/hyperactivity disorder in adults
with restless legs syndrome. Sleep 2004; 27: 1499-504.
b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se
não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de
publicação: editora, ano, total de páginas. Ex.: Ferber R, Kriger
M. Principles and practice of sleep medicine in the child.
Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1995, 253p.
c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo.
In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição, se não for a
primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação:
editora, ano, página inicial e página final. Ex.: Stepanski EJ.
Behavioral Therapy for Insomnia. In: Kryger MH; Roth T,
Dement WC (eds). Principles and practice of sleep medicine. 3rd
ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 2000, p.647-56.
d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico ano; volume
(suplemento e seu número, se for o caso): página(s). Quando não
publicado em periódico: Título da publicação. Cidade em que foi
publicada: editora, ano, página(s). Ex.: Carvalho LBC, Silva L,
Almeida MM, et al. Cognitive dysfunction in sleep breathing
disorders children. Sleep 2003; 26(Suppl):A135.
e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto
entre parênteses.
f) Tese: Autor. Título da obra, seguido por (tese) ou
(dissertação). Cidade: instituição, ano, número de páginas. Ex.:
Fontes SV. Impacto da fisioterapia em grupo na qualidade de
vida de pacientes por AVCi (Tese). São Paulo: UNIFESP, 2004,
75p.
g) Documento eletrônico: Título do documento. Endereço na
Internet, data e hora do acesso. Ex.: Agentes dopaminérgicos no
tratamento da Síndrome das Pernas Inquietas. Diponível no site:
http:// www.sindromedaspernasinquietas.com.br, acessado em
10/05/2005, às 14h.
Categoria: O próprio autor deve indicar a qual categoria
pertence seu texto.
a) artigo original
b) artigo de revisão
c) artigo de atualização
d) relato de caso
Endereço para submissão de artigos para revista Neurociências:
Prof.Dr. Gilmar Fernandes do Prado – Editor Chefe
R: Cláudio Rossi, 394 – Jardim da Glória
São Paulo - SP - Brasil
CEP: 01547-000
Telefone/fax: 5081-6629
E-mail: [email protected]
[email protected]
http://www.unifesp.br/dneuro
Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
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