Medicina

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Medicina
É preciso ir atrás do conhecimento prático
A profissão não é fácil, e a formação, demorada. Depois da graduação, que dura seis
anos, o formando precisa ser aprovado e classificado no exame público e de âmbito
nacional para fazer residência em um hospital-escola. Começa aí a fase que lhe permitirá colocar em prática os conhecimentos teóricos adquiridos no curso, sob a orientação de experientes profissionais. A residência pode durar de dois a quatro anos,
com uma carga média de trabalho de 60 horas semanais, remunerada com bolsa-auxílio. Luis Antonio Torezan, formado pela Universidade de São Paulo (USP) e com
especialização em Dermatologia, afirma que o início da carreira é realmente difícil e
exemplifica com o seu caso. “A residência é puxada, convive-se com todas as 1,5 mil
doenças dermatológicas catalogadas, mas aprende-se, pois não adianta só decorar a
síndrome, é preciso ir atrás do conhecimento prático.” Sua formação levou 11 anos e
incluiu a preceptoria no Hospital das Clínicas de São Paulo, onde se encarregou da
grade dos residentes. “Entrei na faculdade aos 17, me formei em 1991, e estava pronto
para o mercado aos 28 anos. Depois de tanto tempo, sair do hospital é como cortar o
cordão umbilical”, conta.
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Com mestrado em terapia a laser para o tratamento do câncer de pele e agora no
doutorado na mesma especialização, Torezan chegou a ter quatro empregos em bairros distantes uns dos outros, no começo de carreira. Hoje, é sócio do consultório do
médico Nuno Osório, seu primeiro empregador. A maior dificuldade da profissão, em
sua opinião? O médico tem de estar sempre insatisfeito com o que sabe e se aprofundar cada vez mais nos estudos, que é a única forma de conhecer o que há de novo em
tecnologia e produtos. “Medicina não se estuda por vaidade ou status, mas por amor,
independentemente da remuneração e do local de trabalho”, ensina.
Dedicação, solidariedade, paciência, relacionamento pessoal, gestão de tempo, empreendedorismo (no caso de consultório particular) são alguns dos requisitos que
devem ser aliados a uma formação humanística, crítica e reflexiva; a princípios éticos; ao senso de responsabilidade social; e ao compromisso com a cidadania e com
a promoção da saúde integral do ser humano, diz o médico Joaquim Edson Vieira,
secretário do Centro de Desenvolvimento de Educação Médica da USP e diretor científico adjunto da Associação Paulista de Medicina (APM). Além disso, é preciso saber
ouvir e estar preparado para atuar e tomar decisões em situações-limite, o que exige
autocontrole desenvolvido. Nos dois primeiros anos do curso, as disciplinas são básicas, como Anatomia, Fisiologia e Bioquímica, e a prática é intensificada a partir do
terceiro ano. Nos últimos anos, há o internato hospitalar, quando o estudante passa
por diversas áreas e tem a oportunidade de testar sua escolha de especialização.
É raro o desemprego, especialmente para os que estão
dispostos a ir para o interior, onde podem encontrar
remuneração atraente.
Segundo o Conselho Federal de Medicina, existem 331 mil médicos ativos no Brasil
– a inscrição é obrigatória nos Conselhos Regionais. A categoria tem piso salarial recomendado pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam) para jornada de 20 a 40 horas semanais de trabalho, mas nem sempre ele é cumprido, informa Roberto d´Avila,
primeiro vice-presidente do Conselho Federal de Medicina. É raro o desemprego,
especialmente para os que estão dispostos a ir para o interior, onde podem encontrar
remuneração atraente. Nas capitais, grandes cidades e faixas litorâneas, devido à alta
concentração de profissionais, e consequente forte concorrência entre eles, existe o
subemprego, isto é, plantões mal remunerados nas periferias.
As opções de carreira são diversificadas, abrangendo desde pesquisa até super-especialização em um novo campo. Não é difícil identificar alguns ramos bem promissores. Por exemplo, a maior expectativa de vida da população trará oportunidades para
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especialistas em Geriatria, e o aumento da renda e a facilidade de crédito certamente
impulsionarão as cirurgias plásticas. Novas especialidades vão surgir, pois a Biologia
Molecular e a Genética gerarão aplicações clínicas. “De modo geral, são considerados
novos campos exploratórios na Medicina: a Robótica, a Farmacologia, a Imunologia,
a Biologia Molecular e a Genética, com o manejo específico de algumas alterações que
evitariam doenças”, completa Joaquim Edson Vieira.
Consultório particular, corpo clínico de hospitais, magistério no ensino superior, convênios médicos, laboratórios clínicos, ambulatórios de empresas, indústria farmacêutica e perícia médica são algumas possibilidades de emprego na iniciativa privada. Há,
ainda, a opção de atuar nos serviços de saúde pública, oferecidos nas esferas federal,
estadual e municipal, tanto no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), quanto nos
das secretarias, com suas redes de hospitais públicos, centros e postos de saúde, ambulatórios e equipes de saúde da família, que devem contar com um médico entre
seus integrantes. A assistência governamental à saúde deixa a desejar, mas já há sinais
de que ela poderá avançar, com a formulação e implementação efetiva de políticas públicas, tanto na área da medicina preventiva quanto na terapêutica, sendo várias delas
direcionadas a públicos específicos, como crianças, mulheres e terceira idade.
Pequena história da Medicina
Hipócrates é considerado o pai da Medicina. Considera-se que tenha vivido entre
460 e 377 a.C. e deixou um legado ético e moral válido até hoje. Precursor do
pensamento científico, procurava detalhes nas doenças de seus pacientes para
chegar a um diagnóstico. No primeiro século da Era Cristã, Cláudio Galeno, outro
médico grego, deu contribuições substanciais (baseadas em dissecções de animais) para o desenvolvimento da Medicina. Na Idade Média, os religiosos assumiram o controle da arte de curar por meio de medicamentos. Mas só em 1865
Louis Pasteur teorizou que as infecções eram causadas por seres vivos. Foi ele o
inventor do processo de pasteurização. Lister, em 1865, aplicou pela primeira
vez uma solução antisséptica em um paciente com fraturas complexas, com efeito
profilático na infecção. Em 1928, Alexander Fleming descobriu a penicilina, ao
observar que as colônias de bactérias não cresciam perto do mofo de algumas placas de cultura. Surge uma nova era: a dos antibióticos, que permitiu aos médicos
curarem infecções consideradas mortais.
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