CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS E FORMAÇÃO INTEGRADA ESPECIALIZAÇÃO EM FISIOTERAPIA CARDIOPULMONAR ANDREA OLIVEIRA CARDOSO INTERAÇÃO CARDIOPULMONAR DURANTE O USO DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO POSITIVA EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Cuiabá 2011 ANDREA OLIVEIRA CARDOSO INTERAÇÃO CARDIOPUMONAR DURANTE O USO DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO POSITIVA EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Artigo apresentado a Pró Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa da Universidade Pontifícia Católica de Goiás/CEAFi, para obtenção de título de Especialista em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva. Orientadora: Prof.ª Drª. Walkiria Shimoya Bittencourt Cuiabá 2011 2 RESUMO Interação cardiopulmonar durante o uso da ventilação não invasiva com pressão positiva em pacientes com insuficiência cardíaca. Justificativa e objetivos: Na maioria das formas de insuficiência cardíaca, a redução do débito cardíaco é responsável pela inapropriada perfusão tecidual, ocasionando o surgimento de limitações funcionais que repercutem desfavoravelmente sobre a capacidade produtiva e qualidade de vidas dos pacientes. O tratamento da insuficiência cardíaca possui medidas farmacológicas, não farmacológicas e cirúrgicas, dentre as medidas não farmacológicas inclui a utilização da ventilação não invasiva (VNI) com pressão positiva continua nas vias aéreas. Métodos: Foi realizada uma revisão de literatura envolvendo artigos publicados no período de 1998 a 2011 nas bases de dados MEDLINE, SCIELO e PUBMED. Conclusões: Estudos sobre o uso da pressão positiva têm demonstrado efeitos positivos por apresentar benefícios clínicos tanto hemodinâmicos e metabólicos que acarretam na capacidade funcional no cardiopata. Palavras-chave: insuficiência cardíaca, reabilitação cardíaca, respiração artificial, mecânica respiratória, interação cardiopulmonar, ventilação não invasiva. 3 1. INTRODUÇÃO Pacientes com insuficiência cardíaca (IC) apresentam alterações hemodinâmicas que envolvem resposta inadequada do débito cardíaco e elevação das pressões, pulmonar e venosa sistêmica. 1.2 Na maioria das formas de IC, a redução do débito cardíaco é responsável pela inapropriada perfusão tecidual, ocasionando o surgimento de limitações funcionais que repercutem desfavoravelmente sobre a capacidade produtiva e qualidade de vidas dos pacientes. 3 De início, este comprometimento do débito cardíaco se manifesta durante o exercício, e com a progressão da doença ele diminui no esforço até ser observado sua redução no repouso.2.3.4 Insuficiência cardíaca é definida como a síndrome clínica na qual uma alteração estrutural ou funcional do coração leva à incapacidade do coração de ejetar e/ou acomodar sangue dentro de valores pressóricos fisiológicos, causando limitação funcional e necessitando intervenção terapêutica imediata. 2.4.6 A classificação funcional da New York Heart Association (NYHA)1 proporciona um meio simples de classificar a extensão da insuficiência cardíaca. Estas classes estratificam o grau de limitação imposto pela doença para atividades cotidianas do indivíduo. As quatro classes propostas são: Classe I: Nenhuma limitação (exercícios físicos comuns não causam fadiga, dispnéia ou palpitações); Classe II: Limitação ligeira das atividades físicas (assintomático em repouso, mas atividades comuns causam fadiga, dispneia ou palpitações.); Classe III: Limitação acentuada das atividades físicas (assintomático em repouso, mas sintomático para pequenos esforços.); Classe IV: Sintomático em repouso (com agravamento dos sintomas para o mínimo esforço). O tratamento da insuficiência cardíaca possui medidas farmacológicas, não farmacológicas e cirúrgicas. Dentre as medidas não farmacológicas inclui a utilização da ventilação não invasiva (VNI) com pressão positiva contínua nas vias aéreas. 4.6.9.10 A ventilação não invasiva é definida como uma técnica de ventilação mecânica onde não é empregado qualquer tipo de prótese traqueal (tubo orotraqueal, nasotraqueal, ou cânula de traqueostomia), sendo a conexão entre o ventilador e o paciente feita através do uso de uma máscara. 3.9.10 4 Os diferentes métodos de VNI vêm evoluindo em decorrência de diversos estudos sobre os efeitos dos modos ventilatórios, tais como o CPAP (Continuous positive airway pressure) e o BiPAP (Bi-level positive airway pressure).9.11.12 O objetivo deste estudo foi descrever a utilização da ventilação não invasiva com pressão positiva em pacientes com insuficiência cardíaca e suas repercussões na interação cardiopulmonar. 2. MÉTODO Foi realizado um estudo de revisão bibliográfica com busca de artigos nas bases de dados MEDLINE e PUBMED e na biblioteca online SCIELO, no período de 1998 a 2011. As palavras-chave utilizadas na pesquisa foram: heart failure, cardiac rehabilitation, artificial respiration, respiratory function, cardiopulmonary interaction, non-invasive ventilation e as similares em português. Foram selecionados os artigos de interesse para o estudo, ou seja, aqueles que faziam referência, em seus dados, a aspectos fisiológicos ou técnicos relacionados ao uso da ventilação não invasiva com pressão positiva em pacientes com insuficiência cardíaca. 3. FISIOPATOLOGIA DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA A insuficiência cardíaca é uma síndrome complexa definida pela falência do coração em proporcionar suprimento adequado de sangue às necessidades metabólicas tissulares, ou fazê-lo por meio de elevadas pressões de enchimento. Geralmente, resulta de disfunção estrutural ou funcional do coração que compromete a sua capacidade de comportar o volume de enchimento diastólico de sangue ou de realizar sua ejeção. 1.2.8.10 Durante a diástole o retorno venoso (RV), principal componente da précarga, determina a distensão longitudinal das fibras miocárdicas e produz a tensão diastólica.8 Pela curva de Frank-Starling quanto maior a distensão do ventrículo maior será a força e contração. A pós-carga caracteriza-se pela força que se opõe à contração ventricular durante o esvaziamento do coração e está relacionada 5 diretamente a resistência vascular sistêmica. Pela lei de LaPlace a tensão gerada na parede do ventrículo é diretamente proporcional à pressão sistólica e ao raio intraventricular, e inversamente proporcional à espessura da parede do ventrículo. A tensão sistólica é um dos principais determinantes da hipertrofia e dilatação ventricular, produzindo o remodelamento miocárdico. 10.18 A fisiopatologia da IC marca seu início a partir de um dano miocárdico primário que gera disfunção ventricular. Esta disfunção ventricular deflagra mecanismos adaptativos associados à ativação neuro-humoral, gerando alterações na forma e eficiência mecânica do coração (remodelamento ventricular) e alterações periféricas circulatórias, havendo também danos secundários devido a aumento do estresse oxidativo, inflamação e morte celular (apoptose).1.8 Segundo a I Diretriz Latino-americana para avaliação e conduta na Insuficiência cardíaca descompensada, 2 dois tipos de distúrbios dividem os mecanismos fisiopatológicos mais importantes na disfunção diastólica: Alteração no relaxamento ou complacência ventricular. Disfunção diastólica por diminuição da fase de relaxamento diastólico ocorre quando há assincronia ventricular, aumento de pós-carga, atraso do processo de término da contração. Já a disfunção ventricular diastólica secundária à redução da complacência ocorre através de três mecanismos básicos que contribuem para reduzir a complacência ventricular, alterando as propriedades diastólicas dos ventrículos: 1) aumento das pressões de enchimento (sobrecarga de volume – insuficiência aórtica ou mitral); 2) aumento da rigidez miocárdica propriamente dita (processos infiltrativo – amiloidose, endomiocardiofibrose, ou isquemia miocárdica); 3) compressão extrínseca do ventrículo (tamponamento pericárdico, pericardite constritiva). Tais disfunções causam sinais e sintomas cardíaco e extra cardíaco. Os sinais cardíacos incluem alterações no ritmo cardíaco, baixo débito cardíaco, hiperfonese da segunda bulha, sopro sistólico, cardiomegalia e convergências sistólicas, e dentre os sintomas e sinais extra cardíacos, encontra-se a dispnéia devido à congestão vascular pulmonar e intolerância a esforços devido ao baixo débito cardíaco e consequente hipoperfusão tecidual. 2 6 4. EFEITOS FISIOLÓGICOS DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO POSITIVA Os efeitos fisiológicos da ventilação não invasiva (VNI) com pressão positiva são a expansão de áreas pulmonares colapsadas através do aumento da pressão de distensão pulmonar (pressão transpulmonar) com consequente mellhora da oxigenação sanguínea. 3.12 A aplicação da pressão positiva na via aérea não invasivamente produz aumento da pressão intratorácica que pode ter repercuções hemodinâmicas, principalmente no débito cardíaco (DC). Com a aplicação de pressão positiva expiratória final (PEEP), a pressão no mediastino aumenta paralelamente. A partir desse mecanismo, com o pulmão distendido, o aumento da pressão externa justacardíaca resulta no aumento das pressões. 4.6.7.10.12 Sabe-se que a pressão intratorácica é capaz de interferir no desempenho cardíaco através da alteração da pressão transmural do ventrículo esquerdo. 7.10 De fato, a pressão transmural do ventrículo esquerdo pode ser traduzida na fórmula pressão transmural (PTM) = pressão do ventrículo esquerdo (PVE) - pressão pleural (PPL). Por meio dessa fórmula podemos perceber que a pós-carga do ventrículo esquerdo depende não apenas da pressão da raiz da aorta, como também das variações da pressão pleural. 7.10.12 A PEEP além de produzir um incremento da pressão pleural também causa compressão física do coração. 12.14.17 Os efeitos no desempenho cardíaco podem ser traduzidos como redução da pré-carga, por meio da redução do retorno venoso, e de redução da pós-carga, por meio de redução da pressão transmural do ventrículo esquerdo. 3.4.5.9.10.12.14.15.16 O débito cardíaco trata-se do volume de sangue que o coração é capaz de impulsionar pela unidade de tempo, ou seja, trata-se de um fluxo (L/min). É o resultado do produto do volume sistólico pela frequência cardíaca. A porcentagem de sangue bombeado pelo coração a cada batimento denomina-se fração de ejeção ventricular (FEV). O valor normal da fração de ejeção e cerca de 60%. 19 7 5. INTERACÃO CARDIOPULMONAR DURANTE O USO DA VENTILACÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO POSITIVA EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA A aplicação da pressão positiva no tratamento de pacientes que apresentam insuficiência cardíaca esta evidenciada nos benefícios clínicos que a mesma proporciona. Há diferença entre a aplicação adequada de pressão positiva no paciente cardiopata com relação aos pacientes com função do ventrículo esquerdo (VE) normal, nos quais a pós-carga apresenta alterações insignificantes se comparada à dos pacientes cardiopatas, que apresentam dilatação do VE, sendo, portanto, sensíveis às mudanças da pós-carga. 10.11.16.17 Em 2003, Yasuyuki e colaboradores, 7 realizaram um estudo randomizado para avaliar os efeitos cardiovasculares da pressão positiva contínua das vias aéreas em pacientes com insuficiência cardíaca e apnéia obstrutiva do sono. Foram avaliados 24 pacientes com fração de ejeção que 45% e com apnéia obstrutiva do sono, separados em grupo controle que recebiam tratamento medicamentoso e grupo experimental que recebeu VNI com pressão positiva em média de 8 cmH2O durante o sono (em média 6 horas diárias de sono) durante um mês. Os autores supracitados observaram que durante um mês de terapia os pacientes do grupo que receberam VNI noturna, além da melhora da apnéia, também apresentaram melhora significativa da fração de ejeção, frequência cardíaca e pressão arterial sistêmica, sendo que a fração de ejeção apresentou alterações mais significativas que os demais parâmetros, com aumento de 35%. Em contrapartida os pacientes do grupo controle não apresentaram alterações estatisticamente significantes. Acredita-se que os esforços inspiratórios, durante a apnéia obstrutiva do sono, gera pressão negativa torácica exagerada, o que leva a um aumento tanto em pós-carga do ventrículo esquerdo e uma diminuição da pré-carga ventricular, por sua vez, causar uma redução no volume de ejeção. A hipóxia intermitente durante apnéia obstrutiva pode prejudicar a contratilidade cardíaca direta ou indiretamente e reduzir o débito cardíaco por aumento na pressão da artéria pulmonar. Também pode induzir a um descompasso entre o suprimento de oxigênio e da demanda, provocando isquemia do miocárdio naqueles com doença coronariana. 57 8 Em outro estudo, realizado em 2007 com aplicação da ventilação mecânica não invasiva com dois níveis de pressão em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, Barros e colaboradores, 9 observaram que a técnica beneficia os pacientes com insuficiência cardíaca congestiva por meio da melhora da oxigenação e diminuição do trabalho respiratório. No entanto, os autores não observaram alterações estatisticamente significantes nos dados hemodinâmicos devido ao pequeno número de pacientes e à presença de outras doenças cardíacas associadas. Neste mesmo ano, Steiner e colaboradores, 5 publicaram um estudo sobre a pressão positiva contínua nas vias aéreas na capacidade de exercício de pacientes com insuficiência cardíaca crônica sem apnéia do sono. Participaram do estudo 12 pacientes com fração de ejeção ventricular menor que 40%, com classe funcional II e III (NYHA), sendo excluídos do estudo pacientes com diagnóstico de apnéia do sono e/ou contra indicações para o uso da VNI. A técnica foi utilizada durante o sono dos pacientes, em media 6 horas diárias durante 8 (oito) meses de tratamento. Antes e após o tratamento, foi realizado o teste de esforço cardiopulmonar, em todos os pacientes participantes, o qual avaliou a duração do exercício (min); carga de trabalho (Watts); consumo de oxigênio (VO2) (ml/min); frequência cardíaca máxima (batimento/min); poder circulatório (mmHg/min) e saturação periférica de oxigênio (SpO2). Foi demonstrado, segundo os autores citados acima, que houve uma melhora significativa na duração do exercício, carga de trabalho, VO2 e poder circulatório. O uso em longo prazo da VNI foi associado com uma melhoria da capacidade de exercício cardiopulmonar. Defendendo a idéia de que particularmente o ventrículo esquerdo alargado responde a VNI com um aumento de volume de ejeção. Portanto, a técnica pode ser usada como uma terapia adjuvante nesses pacientes. Meyer e col.10 1998, já defendiam que o uso crônico noturno de pressão positiva contínua tem papel importante em pacientes com concomitância de insuficiência cardíaca congestiva. A pressão positiva contínua reduz a pressão transmural do ventrículo esquerdo, sugerindo melhora do desempenho cardíaco. Os efeitos da utilização da pressão positiva contínua noturna em cardiopatas crônicos parecem promissores no tratamento do cardiopata estável, principalmente se este apresentar distúrbio do sono concomitante. 9 Carratala e Masip,13 no estudo em sobre uso da ventilação não invasiva no departamento de emergência em pacientes com insuficiência cardíaca aguda, concluíram que devido à técnica apresentar fácil aplicabilidade, boa adaptação e baixo custo, a VNI é um recurso que beneficia os pacientes com insuficiência cardíaca aguda com exacerbação dos sinais clínicos. Seu uso precoce reduz o numero de intubações e complicações, melhora os sinais clínicos e gasométricos, e as taxas de sobrevida hospitalar. Além disso, o principal benefício da VNI é evitar a intubação orotraqueal (IOT). Azevedo e colaboradores, 6 realizaram um estudo em 2010 analisando os efeitos do CPAP (10 cmH2O) por 30 (trinta) dias. A técnica foi aplicada durante o período diurno por 60 minutos, cinco vezes por semana, em pacientes com insuficiência cardíaca crônica. Foram analisados ecocardiograma e ergoespirometria antes e após 30 dias de terapia. Observaram que a CPAP provocou aumento significativo na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (cerca de 19%), no tempo de exercício, diminuiu o consumo de oxigênio e a produção de dióxido de carbono em repouso. Recentemente, Lima e col. 16 publicam um estudo randomizado sobre suporte ventilatório na capacidade funcional de pacientes com insuficiência cardíaca. Nesse estudo participaram 12 indivíduos com IC congestiva classe funcional II e III NYHA, com média de fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE%) de 35%. Os pacientes foram divididos em dois grupos; um grupo realizou VNI com pressão de 10 cmH2O por 30 min antes do teste de caminhada de 6 min (TC6) de acordo com os critérios estabelecidos pela American Toracic Society (ATS) e coletada uma amostra de sangue capilar após 10 minutos de repouso na posição sentada antes do TC6 (para o grupo CPAP, antes da realização da CPAP) e no final do 6º minuto do TC6, e dosado sua concentração de lactato. Os pacientes foram monitorados quanto à frequência cardíaca (FC - bpm), pressão arterial (mmHg), saturação periférica de oxigênio (SpO2%), sensação subjetiva de dispnéia (escala de Borg). Na análise comparativa entre o grupo controle e o grupo que realizou a VNI previamente ao teste observaram que os pacientes submetidos à VNI obtiveram melhores resultados, foi observada ainda uma diferença nos dados hemodinâmicos, no entanto, sem significância estatística, porem com efeitos benéficos na SpO2, no índice de dispnéia, na concentração de lactato, no duplo-produto e na distância 10 percorrida de pacientes com ICC na realização do TC6, ressaltando consequente melhor capacidade funcional. A realização de exercício físico como a caminhada é limitada nos pacientes portadores de IC por diversos fatores clínicos, como por exemplo, perda de fibras tipo I na musculatura esquelética, hipotrofia muscular, condição hemodinâmica prévia e anormalidades metabólicas. A concentração de lactato e um indicador do metabolismo anaeróbico normalmente encontram-se aumentado nos pacientes com IC, isso ocorre porque não há oxigênio (O2) suficiente para que ocorra o sistema de metabolismo aeróbico. Evidências científicas atuais demonstram a relação entre o metabolismo anaeróbico e a capacidade funcional como importante preditor de mortalidade. Costa e col. 17 anteriormente a esse estudo observaram que o uso da VNI associada à reabilitação cardíaca mostrou-se de grande valia para a melhora do desempenho físico, função cardíaca e qualidade de vida, ao realizarem um estudo de caso sobre o impacto do CPAP na reabilitação cardíaca com uma paciente com insuficiência cardíaca de origem chagásica, apresentando classe funcional III NYHA. O protocolo de treinamento foi composto de quatro sessões semanais durante um período de seis semanas, sendo aplicada uma pressão positiva contínua de 10 cmH2O nas vias aéreas durante todo o tempo da sessão. Antes do inicio do treinamento a paciente foi submetida à ecocardiograma (ECG), questionário de qualidade de vida, teste de caminhada de seis minutos (TC6). Na primeira avaliação a paciente apresentou ao ecocardiograma uma fração de ejeção de 33%, sendo elevada para 36% após o protocolo de treinamento; melhora no questionário de qualidade de vida e aumento significativo na distancia percorrida no TC6, onde, inicialmente a paciente percorreu uma distância de 152,5 m, sendo aumentada para 520,44 m após treinamento. Os sistemas cardiovascular e respiratório trabalham paralelamente com diferentes regimes de pressões no tórax, além de seus efeitos relacionados com a pressão intratorácica, a ventilação não invasiva exerce efeitos benéficos sobre a oxigenação periférica através da redução do trabalho de respiração e demanda de oxigênio,5 o que corrobora com a melhora na capacidade funcional do individuo cardiopata. 11 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do entendimento dos seus mecanismos fisiológicos, a utilização da VNI está indicada para auxiliar a reabilitação cardíaca de pacientes com IC devido melhora na interação cardiopulmonar. Estudos sobre o uso da pressão positiva têm demonstrado efeitos positivos por apresentar benefícios clínicos tanto hemodinâmicos e metabólicos que acarretam na capacidade funcional no cardiopata. O uso de pressão positiva parece vantajoso nessa população. O tratamento através de pressão positiva na via aérea pode melhorar a função cardíaca e aliviar os sintomas da IC. A VNI com pressão positiva aumenta a pressão transpulmonar, aumentando a pressão intratorácica, que reduz a pré e pós-carga do ventrículo esquerdo como a pressão transmural, culminando com um aumento do volume de curso e de saída. Assim, pode-se dizer que o CPAP melhora a mecânica do coração insuficiente. Nosso trabalho apresentou alguns estudos mostrando que a aplicação da técnica de aplicação de pressão positiva contínua nas vias aéreas de indivíduos com IC apresentou algum tipo de benefício quanto à capacidade funcional e em nenhum houve complicação relacionada à tecnica. Mesmo assim, existem limitações quanto ao número de participantes, desistências nos tratamento e métodos tecnológicos para avaliar com exatidão os valores e parâmetros envolvidos na interação cardiopumonar, por isso, novos estudos devem ser realizados para comparar diferentes sinais e parâmetros na utilização da VNI com pressão positiva na interação cardiopaulmonar. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. II Diretrizes para o diagnóstico e tratamento da insuficiência cardíaca. Arq. Bras Cardiol. 2002; 79 (4): 1-30. 2. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz latino-americana para avaliação e conduta na insuficiência cardíaca descompensada. Arq Bras Cardiol. 2005; 85 (3): 148. 3. 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Arq. Brasil. de Cardiologia. 2005; 84 (2) 152-155. ABSTRACT Cardiopulmonary interaction during the use of noninvasive ventilation with positive pressure in patients with heart failure. Background and objectives: In most forms of hert failure, the reduction in cardiac output is responsible for inadequate tissue perfusion, leading to the emergence of functional limitations that impact adversely on the capacityand quality of life of patients. Treatment of heart failure has measures pharmacological, nonpharmacological and surgical, among the non-pharmacological treatment includes the use of noninvasive ventilation (NIV) with continuous positive pressure airway. Methods: We performed aliterature review involving articles published between 1998 to 2011 in MEDLINE, PUBMED and SCIELO. Conclusions: Studies on the use of positive pressure have shown positive effects have clinical benefits for bothhemodynamic and metabolic disorders in functional capacity in heart disease. Keywords: heart failure, cardiac rehabilitation, artificial respiration,respiratory function, cardiopulmonary interaction, non-invasive ventilation. Autor: Andrea Oliveira Cardoso Fisioterapeuta Endereço para correspondência: Rua Caracas, 269 Bairro: Jardim das Américas CEP: 78060-597 – Cuiabá-MT Telefone: (0xx65) 362-1786 Celular: (0xx65) 9913-9183 E-mail: [email protected]