JV – Antes de prestar Medicina, você entrou em outros cursos em duas universidades, Unicamp e Unifesp. Por que Medicina foi uma escolha tardia? João – Até o 2º ano do Ensino Médio, eu falava que queria Medicina. No 3º ano, eu afrouxei: “Medicina é muito difícil, vou prestar um mais fácil primeiro.” Na verdade, quando terminei o 3º ano, em 2006, no Colégio Militar de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, eu não sabia o que queria da vida. Mas estava tranquilo e já sabia que ia estudar em São Paulo. Só que eu olhava meus livros, via lá Mackenzie, Unicamp, Fuvest e não sabia qual era a diferença. Tanto é que eu falava que ia prestar Fuvest e USP. Eu não sabia que a Fuvest é da USP, fui descobrir depois. Em 2007, você foi aprovado para o curso de Engenharia da Unicamp. O que o levou a desistir depois? Eu adorava a faculdade, adorava as pessoas, gostava da vida que levava na Unicamp, via todos os meus amigos vibrando com o curso, achando o máximo conhecer a Bayer, ver como o engenheiro químico trabalha na indústria. Mas eu não queria aquilo. Queria trabalhar com pessoas, queria ajudar de uma forma mais direta. Acabei cancelando a matrícula em Campinas e entrei na Unifesp, no curso de Biomedicina [Ciências Biológicas – Modalidade Médica]. O que o levou a essa escolha? No final de 2007, minha mãe adoeceu e, em janeiro de 2008, ela ia fazer um transplante no Unicor. Eu teria de vir para São Paulo, não dava para ficar indo e voltando de Campinas todo dia. Na época eu tinha duas opções: prestar Fuvest para seguir na Engenharia Química na Poli ou mudar de curso. Prestei Unifesp e Fuvest, passei nos dois, mas realmente eu não queria Engenharia Química e me matriculei na Unifesp. Ainda não era Medicina. Por quê? Eu queria prestar Medicina, mas não ia dar certo. Por que você achava que em Medicina não ia dar certo? Eu não tinha estudado para prestar Medicina. Com as notas que eu tirei na Unifesp e na Fuvest não dava para disputar Medicina. Na Unifesp, dos 15 testes de História, acertei 5. Em Geografia, acertei 8 dos 15. Na Fuvest, em História, eu acertei 4 de 10, e, em Geografia, 5 de 10. Uma coisa meio imperdoável para um candidato de Medicina. Eu sabia que precisava melhorar. Decidi me matricular no cursinho e ir fazendo a Biomedicina na Unifesp, para ter esse contato primeiro, antes de prestar Medicina. Quanto tempo você ficou na Unifesp? Quase o primeiro semestre inteiro do ano passado, só criando mais certeza de Medicina. Eu estava adorando as partes de Medicina que tem na Bio. Quando era aula de Anatomia, dava um jeito de não perder. Quando você veio para o cursinho? Nas Turmas de Maio. Em fevereiro, antes de começar o curso de Biomedicina, eu tinha feito minha matrícula aqui, porque já sabia que queria Medicina. Um dos dias mais felizes da minha vida foi quando eu falei: “Pai, vou prestar Medicina.” Como estava na Unifesp, entrei no cursinho à noite. Mas, antes do fim do semestre, eu vi que não ia dar para levar os dois e deixei a Biomedicina. Como você conheceu o Etapa? Quando fiz os vestibulares de 2007 e entrei na Unicamp, conheci a famosa prévia do Etapa sobre as notas de corte e perguntei: “Que cursinho é esse?” Comecei a olhar o Etapa Resolve. Depois fiquei amigo de Juliana, uma menina que estudou aqui e está na Poli, passou em 9º lugar na época. Ela falou daqui e quando precisei fazer cursinho já estava escolhido. Como foi o início no cursinho? Você estava animado? Muito animado. Entrei em ritmo acelerado, consciente de que tinha de melhorar em História, Geografia e Biologia. O início é uma época de muita responsabilidade, porque ali é dado todo o substrato do ano. Na verdade, as apostilas 1, 2 e 3 são fundamentais. Aquelas que você tem de saber inteiras. Você entrou também no Reforço Medicina Total, já iniciado quando veio para cá. Teve dificuldades para acompanhar? No início, eu consegui acompanhar mais ou menos, mas depois entrei no ritmo. Eu já tinha uma certa base, adquirida principalmente na Unicamp, de raciocínio matemático, um pouco de lógica. Isso me ajudou. Como era seu método de estudos? Em Exatas, eu prestava atenção nas aulas, mas nem sempre lia a apostila. Eu consultava. Em compensação, fazia todos os exercícios, escritos e testes. Eu acho que Exatas você aprende fazendo exercícios e ouvindo as dicas do professor. Biologia, História e Geografia, eu tinha um pacto comigo mesmo de jamais deixar atrasar. Podia chegar em casa com sono, cansado, quebrado, que eu ia abrir as apostilas de Biologia, Geografia e História. Em Português, como era? Eu não sou tão bom em Português escrito. É uma coisa que eu não sabia como melhorar. Então, fiz mais os testes, treinei interpretação de textos, um pouco de gramática e me dediquei muito às leituras obrigatórias da Fuvest e Unicamp. Você treinava redação? Só fazia as dos simulados, uma ou duas por mês. Eu não tive tempo de fazer redações por fora. O que compensou foi treinar respostas escritas de História e Geografia. Acho que tirei notas boas em Redação por causa desse treino. Quantas horas por dia você estudava, em média? Não sei esse número. Estudava muito, muito mesmo, às vezes até 11 horas, meia-noite. Você fez muitos simulados? Muitos, muitos. Lembro que, olhando o boletim do Etapa, eu tinha mais de 70 notas cadastradas. Só no Medicina Total, eu fiz quase 20 simulados. Qual era seu desempenho nos simulados? A, B e C mais. De vez em quando, C menos. Uma vez tirei E em Redação. Acontece. Todo mundo toma alguns tombos ao longo do ano. No Medicina Total, eu tirava C menos. Como você avaliava esses resultados? Eu não olhava os simulados como um ranking. Eu via o que tinha errado e onde tinha de melhorar. Importante é aprender com os erros e até mesmo com os acertos – se você acertou da melhor forma, se a sua resolução é a mais eficiente, mais rápida. No vestibular, rapidez conta muito. Por isso eu treinava fazendo provas antigas com cronômetro. Eu tinha a meta de terminar pelo menos uma hora antes para ter tempo de conferir. Você resolveu muitas provas de anos anteriores? Eu resolvi as provas anteriores da Fuvest e da Unicamp desde 1998, todas. Só a 2ª fase. É muito importante saber como é a prova que você vai prestar. Os testes eu treinava aqui no cursinho. Também fiquei muito preocupado no ano passado em ler jornal e acompanhar as notícias que poderiam ser temas de questões no vestibular. Qual a importância de ler as obras de literatura obrigatórias e assistir às palestras? São complementares. A palestra muda sua visão sobre a obra. No final do ano, meus pais desceram para Praia Grande e me levaram junto. Fiquei no apartamento lendo A cidade e as serras, de Eça de Queirós. Fazia três anos que eu tentava ler e não conseguia passar da página 30. Tinha um bloqueio. Depois da palestra, falei: “Vou ler.” E gostei do livro. O melhor foi isso: “Nossa, este livro é bom.” E ainda por cima caiu uma questão na Fuvest. Tinha acabado de ler, lembrava tudo do livro. Você prestou quatro vestibulares. Em qual você achava que tinha mais chance de passar? legal e, principalmente, poder ficar perto da minha família. Sonhos são adaptáveis. Eu amo hoje a Pinheiros de paixão, tenho a maior alegria de estudar lá. Qual foi sua pontuação na 1ª fase da Fuvest? Fiz 86 pontos. Com o Enem subiu para 86,8. O corte de Medicina foi 77. Você ficou 10 pontos acima. O que achou desse resultado? Fiquei muito feliz. Mas eu sabia que tinha muita gente com nota igual ou melhor do que a minha. Para a 2ª fase, você mudou seu esquema de estudo? Continuei estudando um pouco de tudo e fazendo as provas antigas. Uma coisa legal nessa época é que eu ajudei bastante meus amigos que estavam aqui. Com isso aprendi muito, porque às vezes eu tinha de estudar para tirar as dúvidas. Quando você ensina, aprende muito mais. Seus amigos também entraram? Tem muita gente na Pinheiros, na USP Ribeirão, outros foram para a Unicamp, tem gente na UFSCar e na Unifesp. Já falei que é uma rede de contatos. Amigos em cada faculdade. Quais foram suas notas na 2ª fase da Fuvest? Fiz 39,5 pontos em Química, 39 em Física, 35 em Biologia e 28 em Português. Na escala de zero a 1 000, a quanto chegou sua pontuação? 924,4 pontos. Com o bônus, fui para 1 007. Na Unicamp, quais foram suas notas? Na Unicamp, é de zero a 48 pontos. Eu tirei 37 em Português, 39 em Geografia, 41 em Biologia, 43 em História, 46 em Matemática, 46 em Química, 46,5 em Inglês e 48 em Física. Na Unifesp? No primeiro dia, eu fiz 88 pontos de 90 possíveis. No segundo dia, nas questões, 44 de 45; na Redação, 45 de 50. No terceiro dia, tirei 98,75 de 100. A média, com o Enem, deu 96,923. E na Universidade Federal do Triângulo Mineiro? Na UFTM, a 1ª fase tem 86 questões, acertei 81 e com o Enem minha nota deu 94,418. Na prova específica da 2ª fase, Biologia valia 32, tirei 30; Física valia 24, tirei 24; em Química acertei 22 de 24; e na Redação fiz 18 pontos de 20. Fiquei com 94 pontos de 100. Você foi o 1º colocado em todos os vestibulares? Sim. E minhas notas em Geografia e História na Unicamp são meu orgulho. Foram as duas maiores; maiores que as de Matemática, Física e Química, maiores que todas. Como ficou sabendo das suas aprovações? A primeira foi a da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Eu estava no Incor com minha mãe e com o laptop. Vi meu nome, todo mundo veio me dar parabéns, foi a maior alegria. Estava pronto para ir para Uberaba. E a da Fuvest? Eu estudei focado na Unicamp. Mas, quando fiz a 1ª fase, achei que não ia passar porque dei uma fugida do tema da Redação. Só saí confiante mesmo da prova da Unifesp. A sua preferida era a Pinheiros, onde se matriculou, ou você decidiu depois das aprovações? Eu estava ainda no Incor, vi o resultado, meus pais e minha irmã zoaram com meu cabelo, cortaram de um jeito malcortado. Conferi várias vezes a lista e depois corri para cá. Comemorei bastante. Tinha bastante gente. Quando você soube que tinha passado em 1º lugar, qual foi sua reação? Quando entrei aqui, o meu sonho era a Unicamp. O que pesou para que eu escolhesse a USP foi ter conhecido a Pinheiros, achado bem Não acreditei, fiquei tremendo. Foi um colega que me ligou. Na Unifesp, depois que conferi as provas, vi que tinha ido bem pra caramba. Mas, 2 na Fuvest, eu estava na dúvida se ia passar ou não. Foi surpreendente. O 1º lugar é uma coisa que ninguém espera. Mas a minha alegria de ter passado foi maior que a alegria das colocações. A colocação foi bacana, meu pai ficou com o ego do tamanho do mundo, conta para todo mundo. Quando caiu a ficha que você fazia parte da Pinheiros? Acho que na primeira semana de aula, quando fui comprar o jaleco e tinha o símbolo do Hospital das Clínicas costurado. Isso foi marcante tanto para mim quanto para meu pai. Que matérias você tem neste semestre? São sete matérias: Bioquímica, Biologia Molecular, Atenção Primária à Saúde, Introdução à Medicina, Fisiologia de Membranas, Biologia Celular e Anatomia do Aparelho Locomotor. De qual você está gostando mais? Eu gosto mais de Bioquímica. O que está achando das aulas? Tem aulas muito marcantes. Uma delas foi em Atenção Primária à Saúde, quando a gente vai a uma comunidade carente e acompanha o trabalho dos agentes comunitários de saúde. Eu não vou esquecer nunca, a agente comunitária me disse que tinha marcado um exame para um senhor e que dessa vez tinha sido rapidinho. Quando ela mostrou o rapidinho, eram três meses de espera. E aquelas pessoas dependendo daquilo. É um choque de realidade tremendo. Você vê que tem muita coisa para fazer ainda, para melhorar. Na faculdade, do que você mais gostou? Não sei nem falar, eu gostei de tudo. Estou participando da EMA [Extensão Médica Acadêmica]. Dá vontade de fazer tudo. Mais para frente, pretendo fazer uma Liga. São 60 Ligas diferentes, você fica até meio perdido. Tem vontade de fazer tudo. Precisaria de 30 horas no dia. O que foi marcante para você no Etapa? Caramba, eu conheci minha namorada aqui, na Revisão Final, ela está na minha turma na Pinheiros. Vou levar daqui os amigos e tenho um carinho muito grande pelos professores. Um carinho muito grande mesmo. O que você tira de lição de seu tempo de preparação no cursinho? Eu acho que aprendi a estabelecer metas e a lutar por elas, mesmo quando parecem muito distantes. E, por mais obstáculos que apareçam, a ter força para superar. Você tem de lutar por seus sonhos. Eu tinha um sonho, demorasse o tempo que fosse eu ia conseguir vaga em Medicina, podia ser em qualquer uma. Meu sonho era fazer Medicina, não era fazer Medicina em tal faculdade. E consegui.