Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 A COMPOSIÇÃO ESPACIAL DAS RÁDIOS LIVRES: UM MOVIMENTO RIZOMÁTICO FEDEL, André de Souza1 NABOZNY, Almir2 O presente trabalho resulta do projeto de pesquisa que tem debatido a seguinte questão central: “Como ocorre a constituição recente dos espaços das rádios livres de São Paulo e Santa Catarina ?” Para essa comunicação ressaltamos o estudo de caso atinente a Rádio Muda localizada em Campinas - SP no interior do Campus da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Nesse escopo explorasse as composições das redes de relações sociais conjuntamente com os processos de composição espacial de uma Rádio Livre. Dentre nosso processo metodológico salientamos que na revisão de literatura percebe-se tratar de um estudo recente na ciência geográfica, com destaque que muitos textos são produzidos inclusive fora do campo acadêmico. Concomitante aos trabalhos de leituras destacamos nossa inserção em listas de discussão, acompanhamento em reuniões, eventos e realização de entrevistas semi estruturadas com integrantes da Rádio Muda e do Movimento Midialivrista – o qual congrega militantes e ativista em ações conjuntivas em prol das mídias livres. Ressaltando-se na composição da espacialidade geográfica do fenômeno em tela que as Rádios Livres relacionam técnica, cultura e política, instantaneamente remete-se e enuncia-se espaços que evidencia estes elementos. Saliente-se que técnica para Santos “constitui um elemento de explicação da sociedade e de cada um dos seus lugares geográficos” (1994.p.31) – acrescidos que de acordo com Serpa (2011) explicita que “as técnicas influenciam o modo como percebemos o espaço e o tempo, não só por sua existência física, mas também pela maneira como afetam nossas sensações e nosso imaginário”(SERPA, 2011. p.20). No rol da estruturação dos sentidos atrelados a cultura merece uma sútil atenção ao espectro do imaginário “expressão autêntica das visões e aspirações do público, como na música e na arte”(DOWNING, 2002. p.34). Dessa forma destacamos que no entrecruzamento da técnica, imaginário delineamos uma importante ponderação política na composição espacial do fenômeno inquirido, de um lado, o tensionamento do espaço da política da radiodifusão convencional (estratégias) de outro, as inciativas livres remetem-se a táticas (CERTEAU, 1996) de apropriação fluídas por grupos, coletivos, entre outros, que ao mesmo tempo necessitam-se pautarem nos limites político-administrativos oficiais, ou seja, na espacialidade da regulação estatal da radiodifusão. Neste sistema as Rádios Livres se inserem, pois resistem em contraposição de mídias centralizadoras e existem propondo novas formas e possibilidades de comunicação (GONÇALVES, 1 2 Graduando em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - Paraná. [email protected] Professor de Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa – Paraná. 81 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 2012). Com isso destacamos que os principais agenciamentos semânticos presentes nos discursos de nossos entrevistados referem-se ao prazer de se expressar por uma tecnologia que leva a voz além do seu próprio alcance, de comunicar ações de outros coletivos, de compartilhar músicas de artistas independentes, de discutir assuntos até então (ou ainda) censurados, perfazendo o caldo na questão da composição espacial das Rádios Livres. Estes temas que são frequentes entre os programadores são acompanhados de uma rede de relações as quais cada um se insere, assim, adaptando ao contexto, como sugere Dias (1995) “Nós das redes”. A Rádio seria então o nó da rede? Contudo, em nosso estudo de caso (Rádio Muda) percebe-se que a rede não é hierárquica, disso acompanhamos Haesbaert (2004) sugerindo da leitura de Deleuze e Guatarri a compreensão da constituição de novos espaços enlaçados as ideias de rizomas que se processam no próprio movimento de produção do espaço geográfico. Por fim destacamos que o momento é sinonimizado por mudança, pois, os programadores, principalmente de programas temáticos refere-se a uma composição de estudantes, professores, artistas, integrantes de movimentos sociais e habitantes da cidade (Campinas-SP) que invariavelmente estão atrelados a diversos temas e enfoques de inserção social em que a surgência como a permanência dos mesmos referenciam-se em uma perspectiva rizomática de constituição do movimento no/do espaço da Rádio-di-fusão livre. Referências CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. DIAS, L. C. Redes: emergência e organização. In: CASTRO, I. E. de et al.(Orgs). Geografia: Conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p.141-162. DOWNING, J. D. H. Mídia Radical: rebeldia nas comunicações e movimentos sociais. São Paulo: Editora Senac, 2002. GONÇALVES, F. R. Apropriações libertárias sobre o espectro radiofônico: as Rádios Livres. In: Revista Espaço Científico Livre. Brasil, n. 7, p. 08-19, abr.-mai. 2012. HAESBAERT, R. C. O Mito da Desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. SANTOS, M. Técnica Espaço Tempo: Globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: EDUSP, 1994. SERPA, A. Lugar e Mídia. São Paulo: Contexto, 2011. 82