ESTUDOS SOBRE CINEMA E PINTURA: AS IMAGENS DO TEATRO DE AUGUST STRINDBERG Camylla Galante (PIBIC/CNPq-UNIOESTE), Acir Dias da Silva (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Centro de Educação, Comunicação e Artes. Lingüística, Letras e Artes – Literatura Comparada Palavras-chave: dramaturgia, literatura comparada, August Strindberg. Resumo O dramaturgo sueco August Strindberg, apesar de ser considerado como um dos precursores do teatro moderno e ter influenciado outros escritores, pintores e cineastas, possui poucos estudos dedicados à sua produção dramática, principalmente no Brasil, onde poucas obras do autor foram traduzidas para a língua portuguesa. Sentindo a necessidade de estudos sobre este autor, nosso trabalho consistiu, num primeiro momento, no levantamento das peças e outros trabalhos do autor traduzidos para o português, tendo sido localizadas aproximadamente doze textos dramáticos e três obras em prosa, dos quais escolhemos Rumo a Damasco (1898) e O sonho (1901) para o desenvolvimento do estudo comparado entre dramaturgia e imagens. Para embasamento teórico, partimos das preposições de Szondi (2001), Bentley (1991), Gombrich (1986 e 1999) e Rosenfeld (2005) para compreender a materialidade dos sentidos da obra do dramaturgo sueco. Introdução Josef August Strindberg (1848-1912), tido como um dos precursores do teatro moderno, foi, além de dramaturgo, poeta, romancista, pintor e fotógrafo, e teve suas obras aclamadas por autores como Ibsen, Nietzsche e Kafka. Apesar de ser reconhecido tanto por filósofos como por outros escritores, sua obra foi pouco estudada até hoje, principalmente no Brasil, onde encontram-se apenas 23 peças traduzidas das aproximadamente 63 criadas pelo autor, sendo que dessas 23, encontramos apenas doze, entre as quais escolhemos Rumo a Damasco e O sonho para o desenvolvimento do estudo comparado entre dramaturgia e imagens. Nos poucos teóricos nos quais encontramos informações e análises sobre a obra do dramaturgo, percebemos a importância da biografia de Strindberg em suas obras, já que o autor utilizou-se de elementos de sua vida na escritura de suas peças e de seus romances, considerados como autobiográficos. Tendo isto em vista, percebemos que tanto a leitura das peças como das imagens que se fazem presentes nelas deveriam ser Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. “guiadas” por aspectos autobiográficos, e lá buscar a sua significação e a intenção do autor ao escrever suas obras. Foi por este viés que esta pesquisa se realizou, com embasamento em autores como Szondi (2001), Bentley (1991), Gombrich (1986 e 1999) e Rosenfeld (2005), no intuito de perceber a relação entre as imagens e os dados biográficos do autor. Materiais e métodos Num primeiro momento fizemos um levantamento das peças do autor e quais delas haviam sido traduzidas para o português. Ao localizarmos as obras, fizemos a seleção de duas, Rumo a Damasco e O Sonho, das quais fizemos a leitura e análise da estrutura, das personagens e das imagens mais relevantes e significativas para a compreensão dos textos. Num outro momento foi realizada a leitura de textos teóricos que embasaram a pesquisa e que também direcionaram a análise feita da obra. A seguir iniciamos a pesquisa da significação das imagens presentes e como elas se relacionam tanto com a obra quanto com a vida do autor para, assim, traçarmos um paralelo entre o texto dramático e a vida do autor. Para esta pesquisa utilizamos, além dos textos selecionados, o romance autobiográfico de Strindberg, Inferno, de 1897, o Dicionário de Símbolos de Chevalier e Gheerbrant, a obra de Peter Szondi, Teoria do drama moderno (1880-1950) e de Eric Bentley, O dramaturgo como pensador, que deram embasamento tanto teórico quanto na questão autobiográfica do autor em estudo. Resultados e Discussão Selecionamos as peças Rumo a Damasco, de 1898 e O Sonho, de 1901 por serem ambas peças da segunda fase do autor, caracterizada como expressionista, que é também sua fase menos estudada, e por partilharem, por assim dizer, a mesma estrutura, chamada de onírica, na qual o autor procurou reproduzir a forma incoerente, mas aparentemente lógica, do sonho. Estas peças são também denominadas “dramas de estação”, ou seja, se desenvolvem a partir do protagonista e as outras personagens só “existem” a partir dele. A partir desse estudo de Strindberg percebemos a importância de se conhecer os aspectos biográficos do autor e que a autobiografia pode ser desenvolvida de diversas formas, como até por meio de imagens, como constatamos nas obras estudadas nesta pesquisa. Conclusões Percebemos, ao estudar a obra de Strindberg, que a chave da interpretação de suas obras está na própria vida do autor e em outras obras suas, já que ele mantém, como na peça O Sonho, um intenso diálogo com suas produções anteriores. Percebemos também que, pelo fato do autor se dedicar à outras formas de expressão como a fotografia e a pintura, as Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. imagens presentes em suas obras são de fundamental importância na compreensão de suas obras dramáticas. Estes estudos nos levaram a perceber que os aspectos biográficos do autor às vezes são desconsiderados no momento da leitura e da análise de textos literários, mas que, algumas vezes, constituem em uma importante fonte de informações para uma análise mais rica e completa da literatura. Agradecimentos Agradeço ao meu orientador Acir Dias da Silva pela paciência e pelas esclarecedoras orientações, e ao CNPq pela bolsa consentida para o desenvolvimento deste estudo. Referências ALMEIDA, Milton José de. Aproximações em forma escrita sobre as imagens da pintura e do cinema em representações do espaço. Campinas: Autores Associados, 1996. ------. Cinema, Arte da Memória. 1999: Campinas, Editora Autores Associados. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Maria E. G. G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2000 BENTLEY, Eric. O Dramaturgo como pensador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 16. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001. GIZBURG, Carlo. Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. GOMBRICH, E.H. Arte e Ilusão. Trad. Raul de Sá Barbora. São Paulo: Martins Fontes, 1986. ------. A história da arte. Trad. 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São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi, 2006. (texto não publicado) Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.