Fastfoo-Design - Banco de Publicações do Corpo Docente da ESPM

Propaganda
FastFoo Des i n g
por Rogério Abreu
N
uma realidade em que os avanços tecnoló-
seu nome ou a marca de sua empresa, nos remetendo
segmento do mercado, não no diferencial exclusivo
gicos surgem numa velocidade espantosa,
às famosas redes de fastfood. O cliente paga, e tem seu
de personalidade marcante de determinada empresa,
impressiona a multiplicidade de informa-
design de pronta-entrega ou após alguns minutos, caso
adquirido após pesquisas e avaliações de mercado,
ções e estímulos visuais que presenciamos diariamente
se trate de uma demanda mais elaborada. Podemos nos
ou seja, o já famoso branding. Dois escritórios con-
em nosso cotidiano. Com a Internet essas informações
perguntar até onde isso pode ser um investimento para
correntes poderiam estar usando o mesmo modelo de
chegam aos pacotes de todas as partes do planeta. A
uma empresa e não um gasto desnecessário.
fastfood-design.
humanidade e a sociedade caminham cada vez mais
Designers são especialistas e, como tal, devem tra-
Não quero dizer com isso que todos os designers
apressados, a otimização do tempo se faz necessária
tar sua profissão. Nenhum proprietário de laboratório
devam disponibilizar tempo absurdo para a criação de
. Vivemos uma realidade diretamente associada à
bioquímico de empresa criadora de fórmulas farmacêu-
seus projetos, mas apenas que pesquisem e avaliem com
velocidade, em que a paciência é mínima e a pesquisa
ticas precisa ser conhecedor de design, pois, se todos os
atenção a solução para os problemas de seus clientes.
inexistente. Tal situação não poderia ser diferente na
profissionais tivessem conhecimento e aperfeiçoamen-
O desenvolvimento rápido e medíocre nunca vai ter a
grande maioria dos escritórios de design, determinan-
to nessa área, os designers não precisariam existir.
eficácia desejada. O estudo do briefing e várias reuniões
do e contratando seus projetos por hora.
Na contramão da banalização, é importante que
com o cliente são necessários para que o designer co-
Essa imposição da atualidade afeta todos os
se esclareça o que é design. Seria um desenho bonitinho
nheça bem a empresa que está contratando seu serviço
segmentos. O chefe determina que o projeto seja con-
para a publicidade, para o marketing e para os meios
e criar um projeto de sucesso, exclusivo para ela. Design
cluído em menos tempo do que as horas estabelecidas
de divulgação? Não! Design é solução, no sentido real
é algo único, e não pode ser vendido no atacado.
pelo cliente para aumentar seu lucro. O cliente estipula
da palavra. Já vi muitos projetos de web, no passado
Muitos empresários de agências de propaganda e,
prazos mínimos (para ontem) para que o projeto esteja
e ainda hoje, criações maravilhosas, efeitos geniais e
alguns deles com formação acadêmica muito distinta
acabado, sempre diante de uma data importante na
surpreendentes com uma super composição criativa
do design, também são seguidores da prática do fas-
qual ele vai ser apresentado. O designer, obrigado a
que, equivocadamente, deixa o usuário sem saber onde
tfood design como conceito e solução de trabalho. Isso
estar em constante atualização, deve manter-se atuali-
navegar ou aguardando horas para visualizar a página
acontece principalmente em agências digitais, onde o
zado em livros e na evolução de softwares que mudam
que procura.
conhecimento é mais voltado para a área tecnológica.
de versão pelo menos uma vez por ano. As empresas
Para se identificar a solução é necessário estar
Aí não importa como se obtém um resultado, ele deve
estão sempre buscando a atualização de logomarcas,
ciente do problema. Se o site está direcionado, a um
ser digerido de forma rápida, podendo ser plagiado,
sites, identidades, embalagens...
público-alvo de conexão discada, trabalhadores e
copiado de arquivo de código livre ou fazendo algo
Como conseqüência surgem os fastfood-de-
estudantes que não podem dispor de horas do seu dia
de qualidade inferior. Agências que têm essa filosofia
signers: um conceito de profissional que nos remete
na Internet ou ainda leigos no assunto. A solução é um
profissional estão longe de realizar um trabalho de
à coisa pronta, por atacado, sem se preocupar com
design mais intuitivo, mais leve e que, certamente, não
qualidade e de resultados para os seus clientes.
singularidade do objeto ou com a individualidade do
seja tomado de imagens imensas, pesadas (a maioria
cliente. Surgem sites comercializando logomarcas que
sugada de uma biblioteca já pronta).
Aproveitando-se da crise que bafe à porta de
todas as áreas do mercado de trabalho, sobretudo para
propõem a mesma técnica de escolha de legumes e
Então, precisamos encontrar a solução. É por isso
o design, muitos escritórios e empresas da área faturam,
frutas em supermercado, empresas que comercializam
que design pronto, por mais prático que seja, não resol-
em seus processos seletivos, à custa de designers desem-
templates de sites e logomarcas, em alguns casos, con-
ve o problema. Quando o fastfood-designer cria uma
pregados e recém-formados. Conheço profissionais que
siderando apenas o espaço para que o cliente preencha
logo, ele imagina algo genérico para um determinado
participaram de entrevistas em que se fazia indispen-
O conceito remete
à coisa pronta,
que ignora a
singularidade
do projeto ou a
individualidade
de cada cliente
sável à realização de um "teste de aptidão". Nesse teste
apenas de uma desculpa para se obter projetos e idéias
o candidato é normalmente requisitado a criar uma
sem custo? Existem testes para qualificar ilustrador em
mascote para a empresa, desenvolver um logotipo ou
que o pedido é de alguns desenhos para avaliação do
diagramação de anúncio, jornal ou revista - e isso em
traço, sem briefing.
um prazo absurdo de poucas horas. É ridículo, pois o
Numa realidade de constante transformação, que
que está sendo testado na realidade é o domínio tecno-
se mude essa imagem tão errônea do fastfood-design e
lógico desse candidato e não sua bagagem profissional.
acreditem que os profissionais sérios, qualificados, pes-
Como um médico pode operar um paciente em
quisadores e criativos estão no mercado para contribuir
uma hora numa cirurgia que levaria doze horas sem
na evolução dos novos tempos.
ter analisado sequer os exames desse paciente? Qual
é a garantia desse designer de que sua idéia não estará
Rogério Abreu é designer da TV Globo
sendo furtada e que tal processo seletivo não se trate
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ABREU, Rogério. Fast FooDesign. Design Gráfico, São Paulo, ano 10, n. 88, p. 44-45, 2005.
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