UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social JANAINA WICHMANN Comunicação nas Micro e Pequenas Empresas: uma análise das práticas e estratégias comunicacionais São Bernardo do Campo – SP, 2014 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social JANAINA WICHMANN Comunicação nas Micro e Pequenas Empresas: uma análise das práticas e estratégias comunicacionais Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno São Bernardo do Campo – SP, 2014 A dissertação de mestrado sob o título COMUNICAÇÃO NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS: uma análise das práticas e estratégias comunicacionais, elaborada por Janaina Wichmann foi apresentada e aprovada em 09 de setembro de 2014, perante banca examinadora composta por Wilson da Costa Bueno (Presidente/UMESP), Elizabeth Moraes Gonçalves (Titular/UMESP) e Martin Kuhn (Titular/UNASP). __________________________________________ Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora __________________________________________ Profa. Dra. Marli dos Santos Coordenador/a do Programa de Pós-Graduação Programa: Pós-Graduação em Comunicação Social Área de Concentração: Processos Comunicacionais Linha de Pesquisa: Comunicação Institucional e Mercadológica Ao meu namorado/marido, Davi, que me apoia e me fortalece na caminhada em busca da minha realização pessoal e profissional. Aos meus pais, Elli e Tadeu, por sempre apoiar as minhas ideias e acompanhar as minhas maiores conquistas. Quando você tem uma ideia que não consegue tirar da cabeça, ela é provavelmente a ideia boa para correr atrás. (Josh James) AGRADECIMENTOS: Certas vezes fico impressionada como, mesmo com diversas improbabilidades, consegui realizar diversos sonhos. E agora chega a hora de mais uma vez, contra as probabilidades, concluir mais um importante passo na minha vida. O universo acadêmico e a possibilidade de concluir este mestrado me aproximaram de novas pessoas, autores, caminhos, lugares e experiências que trouxeram diversas mudanças. Minha gratidão: • Aos professores e professoras do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, pelas aulas sempre esclarecedoras, pelo apoio e pela amizade. • Ao mestre, professor Dr. Wilson da Costa Bueno, meu orientador, por acreditar em mim, dando-me confiança, autonomia e estímulo para manter-se firme na conclusão da dissertação. • Ao MercadoLivre, empresa que me orgulho em trabalhar, por compreender a necessidade das minhas ausências e entender o valor da busca por conhecimento de seus funcionários. • As empresas entrevistadas, que prontamente e generosamente compartilharam conhecimentos, vivências e informações importantes. • Ao meu amado, Davi, e à minha filha de patas, Kimi, pela paciência, amor, carinho e apoio constante. • Aos meus pais, meu irmão Rodrigo, minha cunhada Patrícia e minha sobrinha Laura, por compreenderem a minha ausência e darem apoio aos meus projetos. • A todos os meus amigos e amigas, que compreenderam e respeitaram a minha ausência e torceram por mim. LISTA DE ILUSTRAÇÕES: Figura 1 - Pequeno empresário do setor de prestação de serviços 23 Figura 2 - Evolução no número de estabelecimentos por porte. Brasil 20022012 (em milhões). Figura 3 - Evolução do número de empregos por porte. Brasil 2002-2012 (em milhões). Figura 4 - Distribuição das micro e pequenas empresas por setor de atividade econômica. Brasil 2002-2012 (em milhões). Figura 5 - Distribuição dos empregadores por sexo. Brasil 2002-2012 (em %). Figura 6 - Distribuição dos empregadores por faixa etária. Brasil 20022012 (em %). Figura 7 - Distribuição dos empregadores por escolaridade. Brasil 20022012 (em %). 29 Figura 8 - Quadro de Modelo de Negócios. 45 Figura 9 -Modelo de negócios realizado com base no Quadro de Modelo de Negócios de Osterwalder e Pigneur (2011). 46 30 31 32 32 33 SUMÁRIO: RESUMO INTRODUÇÃO Importância do tema Metodologia Estrutura da dissertação CAPÍTULO I - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: MICRO E PEQUENAS EMPRESAS 1.1 O surgimento da micro e pequena empresa 1.2 O contexto atual e o perfil da micro e pequena empresa 1.2.1 Critérios de definição para micro e pequena empresa no Brasil 1.2.2 Políticas públicas para micro e pequena empresa 1.2.3 Perfil das micro e pequenas empresas 1.3. A atividade empreendedora e o empreendedorismo brasileiro 1.3.1 A valorização dos empreendedores pela mídia CAPÍTULO II - PEQUENOS NEGÓCIOS – DO PLANO DE NEGÓCIO AO PLANO DE COMUNICAÇÃO 2.1 Plano de Negócio 2.2 Comunicação no plano de negócio 2.3 Comunicação como vantagem competitiva CAPÍTULO III – COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E NOVAS TECNOLOGIAS PARA COMUNICAÇÃO: DISCUSSÕES TEÓRICAS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS 3.1 Comunicação Organizacional - Teoria e seus Conceitos 3.2 Comunicação Integrada – Consciência Comunicativa e Relacionamentos 3.3 Comunicação na Era Digital 3.3.1 Assessoria de Imprensa na Era Digital 3.3.2 Liderança de Ideias 3.3.3 Releases e Jornalistas Sociais CAPÍTULO IV – PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO NO AMBIENTE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS 4.1 O papel da comunicação no dia a dia das micro e pequenas empresas 4.1.1 Comunicação Institucional e Comunicação para o Negócio 4.1.2 Assessoria de Imprensa 4.1.3 Mídias Sociais 4.1.4 Comunicação Interna 4.1.5 O papel dos profissionais de comunicação 4.1.6 Mensurar as ações de comunicação e marketing CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS ANEXO 1 –Conteúdo completo das entrevistas 09 12 14 15 19 21 21 24 24 26 28 34 38 42 42 48 52 56 57 60 64 68 70 71 74 74 75 78 83 86 89 90 93 96 104 WICHMANN. Janaina. Comunicação nas Micro e Pequenas Empresas: uma análise das práticas e estratégias comunicacionais. 2014. 114f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo - SP. RESUMO Esta dissertação tem como objetivo analisar as práticas e estratégias de comunicação organizacional das micro e pequenas empresas brasileiras. Buscou-se investigar como as empresas se comunicam com os vários públicos e se utilizam de práticas comunicacionais para favorecer a manutenção e o crescimento dos micro e pequenos negócios. Para tanto, a pesquisa, de cunho exploratório e descritivo, se pautou em uma abordagem qualitativa, utilizando como principal instrumento entrevistas em profundidade com cinco pequenas empresas, que servirão como subsídio para entender as práticas e estratégias comunicacionais das empresas de menor porte. Com o apoio da literatura existente da área, foram averiguadas as tipologias e funções tradicionais da comunicação organizacional, dedicando atenção especial às mudanças ocorridas com o advento da web e das mídias sociais. Palavras-chave: comunicação, micro e pequenas empresas, empreendedorismo, práticas e estratégias. ABSTRACT This dissertation aims to analyze the practices and strategies of organizational communication of micro and small business in Brazil. We sought to investigate how companies communicate with different audiences and communicative practices are used to promote the retention and growth of micro and small businesses. To this end, the research, exploratory and descriptive, was based on a qualitative approach, using as the main instrument in-depth interviews with five small businesses that will serve as a resource to understand the practices and communication strategies of smaller companies. With the support of the existing literature in the field, were investigated typologies and traditional functions of organizational communication, paying particular attention to the changes with the advent of the web and social media. Keywords: communication, micro and small business, entrepreneurship, practices and strategies RESUMEN Este documento tiene como objetivo analizar las prácticas y estrategias de comunicación organizacional de las micro y pequeñas empresas de Brasil. Hemos tratado de investigar cómo las empresas se comunican con los diferentes públicos y las prácticas comunicativas se utilizan para promover la retención y el crecimiento de las micro y pequeñas empresas. Con este fin, la investigación, de carácter exploratorio y descriptivo, se basó en un enfoque cualitativo, utilizando como principal instrumento de entrevistas en profundidad con cinco pequeñas empresas que servirán como recurso para comprender las prácticas y estrategias de comunicación de las empresas más pequeñas. Con el apoyo de la literatura existente en el campo, se investigaron las tipologías y funciones tradicionales de la comunicación organizacional, prestando especial atención a los cambios con la llegada de la web y las redes sociales. Palabras clave: comunicación, micro y pequeñas empresas, iniciativa empresarial, prácticas y estrategias. 12 INTRODUÇÃO: O interesse pelo tema desta dissertação surgiu em função da experiência profissional e pela afeição ao universo das micro e pequenas empresas. Além disso, há uma estima muito grande, por parte da pesquisadora, pela comunicação organizacional enquanto elemento essencial para a ampliação e manutenção dos negócios para qualquer empresa. Há alguns anos, investir em comunicação era privilégio apenas das grandes corporações, que sempre dispuseram de verbas específicas para esse setor. Hoje, as empresas, independentemente do seu porte, que deixam de destinar parte do orçamento para desenvolver ações de comunicação que visem aumentar a visibilidade do negócio, fidelizar ou conquistar clientes estão fadadas ao fracasso. A empresa de pequeno porte contribui de forma significativa a longo prazo para o fortalecimento da economia nacional. Representa, inclusive, em alguns casos, a base da cadeia produtiva. Estes pequenos negócios se transformaram em elementos fundamentais na geração de poder e riqueza das nações. As micro e pequenas empresas possuem um importante papel social e econômico, como fonte de criação, de geração de empregos e distribuição de riqueza. Em algumas regiões do país, com pequenos números de habitantes ou de menores extensões, o pequeno empreendimento representa a única atividade econômica e garante a geração de empregos e a circulação de moedas. Mesmo com toda esta visibilidade, por parte da sociedade e dos políticos, as micro e pequenas empresas ainda carecem de informações para a manutenção do seu negócio. Segundo dados do Sebrae (2013), quatro em dez empresas fecham antes de comemorar seu segundo aniversário. Aqui é possível listar problemas relacionados com a falta de capital de giro, a falta de experiência no ramo de atividade, além da alta carga tributária cobrada dos micro e pequenos empresários É diante de todas essas dificuldades que se abre espaço para as ações de comunicação, visando buscar o fortalecimento de marca, valor, mensagens, política e organização de trabalho, que são itens essenciais para garantir a competitividade e a sobrevivência das empresas. A comunicação é essencial para as organizações independentemente do seu porte, estando ela relacionada nas pequenas empresas com o ambiente político e econômico em que se insere, fazendo parte de toda a atividade empresarial. Além disso, tem como responsabilidade estabelecer relações e adequar os discursos utilizados para o entendimento 13 de seus públicos. A comunicação é fator de grande importância para as empresas, sem comunicação o risco de desaparecimento é muito grande. As micro e pequenas empresas brasileiras, em sua grande maioria, ainda desconhecem o uso das competências de comunicação, principalmente como recurso estratégico para a sua gestão e a administração das empresas. Se aplicadas de forma estratégica, as práticas de comunicação são fundamentais para a administração de uma empresa. A comunicação desempenha um papel importante no desenvolvimento humano e na compreensão das pessoas sobre as coisas: A comunicação é um processo dinâmico e contínuo. É o processo que permite aos membros da organização trabalhar juntos, cooperar e interpretar as necessidades e as atividades sempre mutantes da organização. A comunicação humana não começa e nem termina. As pessoas estão envolvidas constantemente com a comunicação consigo mesmas e com outras, especialmente na vida da organização. A vida da organização proporciona um sistema de mensagens especialmente rico e variado. Os membros da organização devem ser capazes de reconhecer e interpretar a grande variedade de mensagens disponíveis, para que lhes permitam responder de maneira apropriada a distintas pessoas e situações. Não pode existir sem comunicar-se. A comunicação é uma realidade inevitável de pertinências a uma organização e da vida em geral (KREEPS, 1995, p. 28). A valorização contínua das ações de comunicação possibilita cada vez mais a diferenciação do negócio transferindo valor aos públicos estratégicos e percepções de credibilidade às organizações. As ações de comunicação, como forma de buscar o fortalecimento da marca, valor, mensagens, política e organização de trabalho, são itens essenciais para garantir a competitividade e a sobrevivência das empresas. Além disso, as práticas comunicacionais têm como responsabilidade estabelecer relações e adequar os discursos utilizados para o entendimento de seus públicos. A pesquisa procura entender quais são as melhores práticas e estratégias de comunicação presentes na administração de um micro ou pequeno negócio, favorecendo o crescimento e atuando, inclusive, como diferencial competitivo. A comunicação organizacional quando funciona de forma eficiente pode mudar o rumo de uma empresa, transformando-a num grande sucesso de mercado. Pesquisa realizada para o Estudo de Benchmarking em Gestão de Projetos, desenvolvido pelo Project Management Institute Brasil (2010) aponta que, em 76% das empresas pesquisadas, a comunicação não competente representa o principal motivo pelo fracasso dos projetos. 14 Devido à falta de conhecimento e orientação sobre o uso das competências de comunicação, muitos micro e pequenos empresários acabam impondo limites para o crescimento da empresa. A comunicação não está no dia a dia de muitas delas, principalmente quando se leva em conta a efetiva utilização das inúmeras atividades da área, tais como, assessoria de imprensa, comunicação digital, redes sociais, ações de propaganda e marketing e discurso do porta-voz, fundamentais para alavancar os negócios. Mesmo empresários que têm conhecimento de ações e estratégias comunicacionais não estão suficientemente convencidos de que elas estão ao alcance do seu negócio e recursos financeiros. Dentro dessa discussão, coloca-se a pergunta: Quais são as melhores práticas e estratégias comunicacionais para serem aplicadas no ambiente e realidade econômica das micro e pequenas empresas brasileiras? A importância de se pesquisar o tema: As empresas de pequeno porte são fundamentais para estimular a economia do país e possibilitar a inclusão social mediante a maior oferta de postos de trabalho. Representa, inclusive, em alguns casos, a base da cadeia produtiva de determinadas regiões. Esses pequenos negócios se transformaram em elementos fundamentais na geração de poder e riqueza das nações, possuindo importante papel social e econômico como fonte de geração de empregos e distribuição de renda. Em algumas cidades do país, com pequeno número de habitantes ou de menor extensão, o pequeno empreendimento representa a única atividade econômica e garante a sobrevivência local. Cerca de 460.000 novas empresas formais surgem a cada ano no Brasil, sendo que aproximadamente 98% delas são micro ou pequenas empresas. Apesar da sua importância, constata-se que existe no Brasil carência de estudos especialmente dedicados a compreender o fenômeno de criação de empresas de pequeno porte e, como no caso desta pesquisa, interessados em evidenciar a percepção dos empresários em relação às vantagens do uso das práticas de comunicação. Segundo levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE; 2008), 38% dessas empresas encerram as atividades com até dois anos de existência; e, dentre as dez principais razões, segundo as opiniões espontâneas dos proprietários, destaca-se (com 31% de indicações) o baixo valor da imagem, notoriedade e fidelidade. 15 Portanto, existe uma necessidade premente de aprimoramento dos fundamentos conceituais relativos à realidade dos micro e pequenos negócios, do comportamento do empreendedor e de seu entendimento quanto às práticas de comunicação. Uma das justificativas da realização deste estudo reside na possibilidade de coletar informações e sistematizá-las, visando ampliar o conhecimento para estudiosos, interessados e mesmo os empreendedores no planejamento de ações que privilegiem o uso das competências de comunicação, dos profissionais da área e para avaliar o retorno desse investimento. Por meio do levantamento teórico e da coleta de informações focados na figura do empreendedor e seus aspectos comportamentais diante do negócio e das práticas de comunicação, será possível constituir um possível material de apoio na área da comunicação para o desenvolvimento do setor. Por se tratar de uma pesquisa exploratória, não houve construção de hipóteses. Metodologia utilizada: Considerando as características e os objetivos propostos por esta dissertação, compreende-se que o procedimento metodológico adotado pode ser concebido como uma pesquisa exploratória e qualitativa. A metodologia de uma pesquisa tem a função de mostrar o caminho a se seguir, por meio de um conjunto de métodos e de técnicas para a compreensão ou construção de uma realidade (MINAYO, 2003 apud CLEMENTE, 2007). Nas Ciências Sociais, a pesquisa qualitativa trabalha com elementos não quantificáveis, como valores, símbolos, atitudes e expectativas. Nela, deverão ser observadas as seguintes características: o ambiente é considerado uma fonte direta de dados; o processo é o foco principal, e não os resultados ou a geração de produtos; a análise dos dados não necessita de métodos estatísticos, e a compreensão dos fenômenos dá-se, principalmente, a partir dos sujeitos (GODOY, 1995apud NEVES, 1996). Gil (2008) classifica as pesquisas em três grupos: estudos exploratórios, descritivos e explicativos. Os estudos exploratórios têm como característica principal colaborar no entendimento de um tema pesquisado, porém, sem terem a pretensão de serem conclusivos (GIL, 2002)e costumeiramente envolvem um estudo bibliográfico (NEVES, 1996).Pretendese, sobretudo, elevar o conhecimento e a compreensão do problema da pesquisa. Vale ressaltar, que a abordagem exploratória tem uma tônica relacionada à descoberta, busca desenvolver, aperfeiçoar ou rever conceitos: “Na pesquisa exploratória o objetivo é examinar 16 um tema ou problema de pesquisa pouco estudado, do qual se tem muitas dúvidas e não foi abordado antes” (SAMPIERI; COLLANO; LUCIO, 2006, p. 40). O estudo bibliográfico procura conhecer as contribuições científicas relacionadas a determinado tema e objetiva levantar, distinguir, observar, refletir e interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre determinado assunto (MARTINS, 2000 apud BEUREN; SCHLINDWEIN; PASQUAL, 2007). O estudo bibliográfico desta dissertação contempla, especialmente, as publicações relacionadas à Comunicação Organizacional e a Empreendedorismo, como livros, artigos, teses, dissertações e textos diversos. Devido à pouca produção bibliográfica da comunicação organizacional no ambiente das micro e pequenas empresas, foi necessário recorrer às revistas especializadas no tema e organizações que trabalham em prol do desenvolvimento dos micros e pequenos negócios. Para uma pesquisa em que o conhecimento sobre o problema é quase inexistente, são indicados alguns procedimentos, como a revisão bibliográfica e entrevistas com especialistas com experiência sobre o tema (SELLTIZ et al., 1974 apud BEUREN; SCHLINDWERIN; PASQUAL, 2007). Nas entrevistas com especialistas sobre o tema da pesquisa (SELLTIZ et al., 1974, apud BEUREN; SCHLINDWERIN; PASQUAL, 2007),foram feitas entrevistas semiestruturadas com fundadores e diretores de micro e pequenas empresas. A entrevista oportunizou conhecer a visão do tema na perspectiva dos entrevistados e possibilitou o compartilhamento de informações importantes para a análise das práticas e estratégias de comunicação no ambiente dessas empresas. Buscou-se acrescentar para este trabalho a visão de profissionais já reconhecidos e com práticas destacadas em comunicação organizacional. As entrevistas foram feitas de forma presencial ou por meio do telefone, ficando sempre a decisão pelo formato a critério do entrevistado. Apenas um entrevistado optou por enviar as respostas via correio eletrônico e isso foi considerado. A entrevista é uma técnica que consente a busca de informações por meio de um processo direto entre pesquisador e entrevistado, fazendo uso de questões previamente elaboradas em função do que se pretende estudar (TORRES, 2006, tradução nossa).Segundo Gil (1999), é uma das técnicas mais utilizadas em pesquisas da área das Ciências Sociais e possibilita não somente a coleta de dados, mas também a realização de diagnósticos e outras orientações. 17 Quando utilizada para a coleta de dados, a entrevista deverá buscar a objetividade, tentando captar o que é real, sem interferências indesejáveis de nenhuma das partes ou fatores envolvidos(HAGUETTE, 2005). Procurou-se atentar ao máximo estas questões e o registro fiel, completo e literal das respostas de todos os entrevistados. Em entrevistas semiestruturadas, o entrevistador dirige a entrevista, mas dá total liberdade para o entrevistado. Uma relação de nove questões foi elaborada e apresentada, contudo, não houve restrições para outras abordagens de interesse do entrevistado. Todas as questões foram deixadas abertas para que o entrevistado dispusesse de liberdade para complementar a entrevista com informações e dados que considerasse relevante para o tema pesquisado. Duarte (2011)orienta que o entrevistador deverá preparar um roteiro com perguntas abertas e deverá esgotar ao máximo o conteúdo de cada uma delas e abordar também outras questões que possivelmente surgirão. Somente depois é que o entrevistador deverá partir para a pergunta seguinte. “Cada questão é aprofundada a partir da resposta do entrevistado, como um funil, no qual perguntas gerais vão dando origem a específicas” (DUARTE, 2011, p. 66). Nessa pesquisa, houve um respeito máximo às condições, disponibilidades, preferências e sugestões dos entrevistados. Na definição da amostra para a pesquisa procurou-se uma representatividade dos sujeitos sem se preocupar com a quantificação. Decidiu-se de forma intencional e não aleatória sobre como seria a identificação dos entrevistados. Observou-se a relação com o tema, a facilidade de acesso para as entrevistas, a disponibilidade e o interesse em participar. Dessa forma, foi realizado um levantamento nos principais veículos de imprensa, que abordam especificamente o tema empreendedorismo e pequenas empresas, como: revista Pequena Empresas Grandes Negócios, revista Exame PME, jornal Estado de S.Paulo e jornal Valor Econômico, para averiguar quais empresas estavam se destacando e ganhando espaço na mídia, principalmente, se essas empresas se destacavam por alguma característica relacionada à comunicação dentro do seu negócio. Segue um breve descrito das empresas escolhidas, assim como os motivos que as fizeram serem representativas para a resposta ao problema desta dissertação: -A empresa Veduca, é uma plataforma de aprendizado online, e oferece aos usuários gratuitamente videoaulas sobre diversos temas com profissionais de importantes universidades como Universidade Federal de São Paulo, Harvard, Berkeley, Universidade Federal de Brasília etc. O site Veduca foi fundado por Carlos Souza, filho de professores universitários, que sempre almejou contribuir mais amplamente para a distribuição de 18 conhecimento. Após ter trabalhado por quase dez anos na companhia multinacional Procter&Gamble e ter passado por um episódio em que quase perdeu a vida, resolveu se dedicar ao sonho. Lançado em março de 2012, o site já é conhecido nacionalmente e internacionalmente e, tudo isso, graças a uma única ação de comunicação e assessoria de imprensa. Em diversas entrevistas concedidas, o fundador contou que a única verba que a empresa tinha para qualquer tipo de investimento, foi alocada em assessoria de imprensa. -A empresa Meu Amigo Pet foi o primeiro site de vendas de produtos para animais de estimação. A empresa também é considerada a primeira a explorar o conceito de pet lover e está presente na internet desde 2008. Começou no mundo online e depois foi para o mundo físico. Desde 2010, quando Daniel Nepomuceno assumiu a empresa como diretor geral, a empresa ganhou notabilidade pelas suas ações nas redes sociais. Está entre as dez páginas com mais engajamento online diário no Brasil, tendo mais de dois milhões de seguidores na página oficial do Facebook. E, tudo isso, graças às suas ações e estratégias de interação com os usuários. -O GetNinjas é uma plataforma online de contratação e anúncios de serviços, focado em ajudar as pessoas que buscam por serviços com conveniência e praticidade a encontrar aqueles que estão dispostos a realizá-los. A empresa foi fundada em 2011 por Eduardo L’Hotellier, que na época tinha 26 anos, e no ano seguinte ganhou um prêmio de melhor startup brasileira. O interesse no GetNinjas se deu a partir de uma declaração realizada na imprensa em que o fundador afirma que, desde o início da empresa, uma das preocupações foi sempre manter algum profissional da área de comunicação fazendo parte da equipe de trabalho e ajudando nas ações comunicacionais. -O site Fashion.me é uma rede social focada em moda em que os usuários criam e compartilham as peças de roupas e combinações com os demais usuários da rede. Criado em 2008, com investimento zero, os empreendedores Flavio Pripas e Renato Steiberg viram o site começar a ganhar relevância e ter muitos acessos diários. Ambos decidiram sair das empresas em que trabalhavam e se dedicar ao negócio. Sendo os dois profissionais da área de computação, eles se viram obrigados a descobrir maneiras para atrair e fidelizar os usuários para um modelo de negócio totalmente inovador e único no país. -A empresa Uuulalá produz sucos detox de diversos sabores com uma proposta de trabalhar com ingredientes 100% frescos, naturais e sem conservantes, também são livres de glúten e de qualquer tipo de açúcar. Os itens são vendidos em estabelecimentos que comercializam produtos saudáveis, por telefone ou pela internet, com entrega em domicílio. A empresa foi escolhida para esta dissertação pela sua grande visibilidade de imprensa. Fundada 19 por três amigas, Bianca Franchini, Isabela Ferrantte e Juliana Henrique, a Uuulalá, que explora um tema muito atual sobre cuidados com a saúde, começou a ganhar espaço na mídia, sendo convidada para programas de televisão e matérias da imprensa de uma forma muito rápida, sem estar preparada e, tampouco, ter conhecimento de como fazer. Visando facilitar o compartilhamento das informações e explorar o detalhamento das práticas, foram definidas nove perguntas para nortear o objetivo principal desta pesquisa: 1) Sua empresa faz uso das práticas de comunicação?; 2) Sua empresa tem um plano de comunicação?; 3) Sua empresa tem área de comunicação?; 4) Existe algum profissional de comunicação atuando nessa área?; 5) Caso não exista esse profissional, quem executa as ações de comunicação? 6) De quais práticas de comunicação sua empresa faz uso? 7) Qual foi sua principal motivação para investir em comunicação? 8) Você mede os resultados de comunicação?; 9) Está satisfeito com os resultados e o trabalho de comunicação de sua empresa? Estrutura da dissertação: O primeiro capítulo aborda o surgimento das micro e pequenas empresas e sobre o papel desempenhado por elas para o crescimento de todo o nosso país. Também irá contextualizar o empreendedorismo trazendo características e políticas nacionais de incentivo aos novos negócios. O capítulo destaca um estudo que aponta o perfil das micro e pequenas empresas brasileiras e quem são os empreendedores à frente desses negócios. E, por fim, uma análise do espaço que os empreendedores estão ganhando na mídia. O segundo capítulo traz uma abordagem sobre a importância do plano de negócios para uma micro e pequena empresa e como esse tema vem ganhando espaço nas discussões sobre empreendedorismo no país. O capítulo também destaca a importância de ampliar a discussão sobre marketing, dentro do plano de negócios, focando em estratégias mais amplas e com um mix de comunicação diversificado. E, também, aborda uma visão da comunicação com uma estratégia para obter vantagem competitiva. O terceiro capítulo faz uma contextualização teórica sobre comunicação organizacional e sobre as novas tecnologias para a comunicação. O capítulo procura trazer de forma mais detalhada um referencial teórico sobre as práticas de comunicação e a aplicabilidade nas empresas. Também há uma forte referência às novas tecnologias para a prática de comunicação e como elas podem se fazer presentes num plano de comunicação organizacional. 20 O quarto e último capítulo traz a apresentação dos dados coletados nas entrevistas semiestruturadas com cinco fundadores e diretores de micro e pequenas empresas, como forma de um recorte das práticas que trazem mais resultados para o dia a dia das empresas, intercalando com discussões teóricas com o objetivo de apontar a validade dessas práticas para a realidade de qualquer micro e pequena empresa. 21 Capítulo I – EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: MICRO E PEQUENAS EMPRESAS As micro e pequenas empresas vêm ganhando notabilidade no contexto econômico e o momento nunca foi tão propício para os empreendedores desse porte. No Brasil, o início desse modelo de negócio data-se no período colonial. E, portanto, acompanha o Brasil desde os primórdios de sua história. Com o passar dos anos e a participação econômica no cenário nacional, as empresas começaram a ganhar a atenção do poder público. A partir daí, começaram a ser criadas leis e estatutos para esses micro e pequenos empreendimentos e aos poucos estão ganhando cada dia mais espaço no mercado nacional. Além da criação de um Estatuto da Micro e Pequena Empresa, recentemente, em maio de 2013, foi criada uma Secretaria da Micro e Pequena Empresa, diretamente ligada ao Governo Federal. A empresa de pequeno porte contribui de forma significativa a longo prazo para o fortalecimento da economia nacional. Representa, inclusive, em alguns casos, a base da cadeia produtiva de muitas localidades espalhadas pelo país. Esses pequenos negócios se transformaram em elementos fundamentais na geração de poder e riqueza. As micro e pequenas empresas possuem um importante papel social e econômico como fonte de criação, de geração de empregos e distribuição de riqueza. Em algumas regiões do país, com pequenos números de habitantes ou de menores extensões, o pequeno empreendimento representa a única atividade econômica e garante a geração de empregos e a circulação de moedas. 1.1. O surgimento da micro e pequena empresa Os fatos históricos que contam o início da colonização no Brasil indicam que a pequena empresa brasileira surgiu no setor agrícola. Suas origens étnicas prováveis seriam os índios brasileiros que se dedicavam à agricultura de subsistência e que teriam se convertido em pequenos fornecedores de alimentos para os centros urbanos. Porém, relatos históricos mais recentes (PALÁCIOS, 2002) têm demonstrado que a pequena empresa daquela época não se dedicava apenas às atividades secundárias e de suporte. A importância da pequena empresa agrícola brasileira, na verdade, era muito maior do que aparece. 22 Segundo Souza; Machado; Oliveira (2007), após o descobrimento do Brasil, os portugueses estavam muito mais preocupados em explorar as especiarias do que propriamente estabelecer negócios e investir na colônia, já que a população que não passava de milhões de habitantes não parecia suficientemente bastante para ocupar, colonizar e defender a imensa área que tinha o país. Entretanto, para manter o controle sobre o “Novo Mundo” e evitar que holandeses, franceses e ingleses ocupassem o recém-descoberto território, Portugal se viu obrigado a construir um sistema produtivo que gerasse lucro e, assim, mantivesse a população e atraísse empreendedores para a nova colônia. Na busca por uma atividade rentável e capaz de gerar recursos suficientes para atrair investidores e suportar os gastos com a defesa do território, a escolha de investimentos foi pelo produto agrícola, neste caso, o açúcar. O açúcar era uma especiaria muito valiosa, considerado artigo de luxo e consumido apenas por senhores feudais e comerciantes. Em Portugal, mais precisamente na Ilha da Madeira, já se produzia açúcar e já se tinha conhecimento sobre os equipamentos necessários para a produção, o que também pode ter favorecido a escolha pela cultura da cana-de-açúcar em terras brasileiras. O local escolhido para a plantação da nova cultura foi o litoral paulista, em São Vicente, logo depois se espalhando pelas localidades vizinhas. Porém, o clima e as condições do solo fizeram com que a zona produtora realmente estabelecida pelos portugueses fosse mais ao norte do país, uma faixa litorânea do atual estado da Bahia até a Paraíba. Além das condições produtoras serem melhores, a proximidade com os portos para facilitar o escoamento da produção ajudou na escolha. A partir deste momento, a produção se intensificou e antes de começar a se espalhar para pequenas propriedades, já que na época era inviável, os portugueses trataram logo de operar em sistema de grandes fazendas com a mão de obra escrava. A plantation, ou engenho como era conhecida no Brasil, representava um desafio em termos tecnológicos e de planejamento, elaboração estratégica e capacidade gerencial. Os empresários portugueses precisaram montar um organismo produtivo integrado, caro e complexo (SOUZA; MACHADO; OLIVEIRA, 2007, p. 57). Além de produzir açúcar, toda uma cadeia produtiva foi criada para ajudar no crescimento do entorno dessas grandes fábricas. Pois era preciso construir casas dos senhores e dos escravos, capelas, escolas, além de fabricar todos os itens em serralheria necessários como, itens do engenho, móveis e embarcações. 23 Desta forma, estabelecer um sistema agrícola brasileiro no século XVI foi um grande avanço econômico para o país. A indústria do açúcar oportunizou a geração de renda, emprego, negócios e deu início ao processo de globalização no Brasil. A produção agrícola para o mercado interno ou ligada à exportação como algodão, cana-de-açúcar e tabaco, atraiu muitos brasileiros que acabaram se tornando pequenos empresários agrícolas, empreendedores, sobretudo, índios que mais tarde foram o início de uma classe média entre os grandes donos de terras e os escravos. Desse modo, a economia brasileira colonial não se resumia à produção açucareira e muito menos à grande empresa voltada para a exportação. A variedade de produtos extraídos, cultivados e manufaturados no Brasil colonial era imensa. A produção de alimentos, frutas, flores, especiarias e ervas voltada para o mercado interno teve grande impacto econômico no Brasil colonial e abriu oportunidade para o estabelecimento de uma gama enorme de pequenos negócios. Muitas vezes, para conseguir oportunidades de investimento, os pequenos empresários desafiavam abertamente as proibições impostas pela coroa portuguesa (SOUZA; MACHADO; OLIVEIRA, 2007, p. 57). Os primeiros pequenos empresários brasileiros atuavam na agricultura, transporte, manufatura, serviços e comércio. Os pequenos produtores não dependiam apenas da indústria açucareira. Muito menos dedicava a sua produção apenas às atividades secundárias e de suporte à grande empresa colonial. Os pequenos empreendedores participavam diretamente da atividade econômica principal, o que lhe dava uma importância econômica enorme desde seus primeiros passos dentro da sua comunidade. Um exemplo desses primeiros empreendedores foi retratado por Jean Baptiste Debret, em 1824, no livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Na figura abaixo, o autor retrata brasileiros descendentes de africanos que deixaram sua condição de escravo para se tornar proprietário do seu pequeno negócio. Figura 1: pequeno empresário do setor de prestação de serviços 24 Fonte: DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. (s/d). 1.2 O contexto atual e o perfil da micro e pequena empresa A importância da atividade empreendedora e das micro e pequenas empresas cresceu consideravelmente, tanto no contexto econômico como no social. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), publicados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), atualmente, no Brasil, existem cerca de 6,3 milhões de micro e pequenas empresas (RAIS/MTE, 2012). Dessa forma, é possível notar que a atividade empreendedora contribui significativamente para a economia do Brasil. Em muitos casos, sua contribuição econômica se equipara à de empresas de grande porte, sendo fontes geradoras de emprego, renda, bens e serviços. Baron e Shane (2007) afirmam que as atividades dos empreendedores provocam um grande impacto nas economias de suas comunidades. Para esses autores, alguns fatores contribuem para tal cenário: (1) a mídia apresenta constantemente relatos entusiasmados de empreendedores de sucesso – exaltando, assim, o papel do empreendedorismo como algo atraente; (2) houve uma alteração nas configurações do trabalho e emprego - há uma reestruturação da relação entre empregadores e empregados; (3) a mudança de valores básicos - há a substituição de valores como segurança e estabilidade por independência e flexibilidade de escolha. Esses fatores, conforme Rimoli (2004) podem exercer influência sobre os estudos relacionados com o empreendedorismo de tal forma que todo estudo sobre essa temática, seja ele caracterizado como conceitual ou aplicado, em essência, direciona para fatores, condições e variáveis que possam viabilizar o sucesso dos empreendimentos. 1.2.1 Critérios de definição para micro e pequena empresa no Brasil A adoção de critérios para a definição de tamanho de empresa constitui importante fator de apoio às micro e pequenas empresas, permitindo que as firmas classificadas dentro dos limites estabelecidos possam usufruir os benefícios e incentivos previstos que dispõem tratamento diferenciado ao segmento, buscando alcançar objetivos prioritários de política, como o aumento das exportações, a geração de emprego e renda, a diminuição da informalidade dos pequenos negócios, visando o desenvolvimento econômico e social. O critério escolhido e suas medidas dependem efetivamente dos fins que se tem em vista, dependendo do porte da empresa. Sendo assim, os critérios de classificação para 25 pequenas empresas podem ser quantitativos, qualitativos ou mistos. No entanto, quando se deseja realizar análises comparativas e estatísticas, a autora recomenda a utilização de apenas um critério como base. Os critérios qualitativos de natureza social usados para definir o porte de uma empresa tocam, essencialmente, na estrutura interna, na organização e nos estilos de gestão. Os critérios quantitativos são critérios econômicos, oferecem subsídios estáticos, enquanto os qualitativos apresentam uma visão dinâmica da organização e ainda pode-se estabelecer um conceito da pequena empresa pelo critério misto, isto é, adotando-se mais de um critério (LEONE, 1991, p.51). No Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (1999), estabelece: [...] O critério adotado para conceituar micro e pequenas empresas é a receita bruta anual cujos valores foram atualizados pelo Decreto n°. 5.028/2004, de 31 de março de 2004, que corrigiu os limites originalmente estabelecidos de R$ 244.000,00 e R$ 1.200.000,00, para os limites atuais: Microempresa: receita bruta anual igualou inferior a R$ 433.755,14 (quatrocentos e trinta e três mil, setecentos e cinquenta e cinco reais e quatorze centavos) e Empresa de Pequeno Porte: receita bruta anual superior a R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$ 2.133.222,00 (dois milhões, cento e trinta e três mil, duzentos e vinte e dois reais)1. Atualmente, os critérios acima vêm sendo adotados em diversos programas de crédito do governo federal em apoio às micro e pequenas empresas. O regime simplificado de tributação simples também adota o critério do Estatuto para enquadrar pequena empresa. Em diversos regimes simplificados de tributação dos Estados também são utilizados os limites de valor do Estatuto, enquanto outros Estados utilizam limites próprios, adaptados à situação econômica e fiscal própria. O Sebrae Nacional utiliza o conceito de pessoas ocupadas nas empresas, principalmente nos estudos e levantamentos sobre a presença das micro e pequenas empresas na economia brasileira, para as microempresas do ramo industrial e construção até 19 pessoas ocupadas, no comércio e serviços até 09 pessoas ocupadas, para as empresas de pequeno porte 1 Os critérios apontados pelo Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte serão usados como parâmetro para definição do porte das empresas que serão citadas no capítulo 3 deste trabalho. 26 do ramo industrial e construção 20 a 99 pessoas ocupadas, no comércio e serviços de 10 a 49 pessoas ocupadas (SEBRAE, 2005). 1.2.2 Políticas públicas para micro e pequena empresa A falta de políticas públicas e processos menos burocráticos para abertura de pequenos negócios fez com que as empresas passassem anos na informalidade. Alguns movimentos políticos pela valorização dos pequenos empreendedores, a partir dos anos 1970, passaram a oferecer um pouco mais de condições para formalizar os negócios e oportunidades aos empreendedores brasileiros. Apenas para contextualizar, as micro e pequenas empresas precisam e necessitam de políticas públicas para que a atividade se desenvolva. Com base na literatura (OECD, 2010; Henrekson e Stenkula, 2009; Hall e Sobel, 2006; Murdock; 2009; Stevenson e Lundstrom, 2001; Storey, 2008) vemos que os principais condicionantes que afetam a atividade empreendedora são: -Mudanças demográficas: movimentos migratórios, idade etc. -Mudanças sociais: consciência ambiental, nível de educação etc. -Mudanças econômicas: estabilidade macroeconômica, relações comerciais com outros países etc. -Mudanças regulatórias: oportunidades advindas em mudanças de regulação em setores específicos incluindo regulações definidas em contextos multilaterais. -Mudanças tecnológicas: emergência de novas tecnologias. Ainda segundo os autores, esses condicionantes influenciam o desenvolvimento de políticas públicas para as MPEs2. Essas políticas podem ser classificadas de duas formas: políticas regulatórias e políticas de estímulo. Pode-se definir políticas regulatórias que afetam as MPEs: -Regras de entrada e saída de negócios, regras trabalhistas e sociais. -Regras de propriedade. -Regras tributárias. -Regras de propriedade intelectual, regras de falência. 2 Ao longo do trabalho será usada a sigla MPEs como uma representação e forma de abreviatura para a expressão: micro e pequenas empresas. 27 -Regras que afetem a liquidez e disponibilidade de capital (incluindo taxas de juro e acesso a financiamento). Já as políticas de estímulo estão relacionadas às ações que diretamente promovem a atividade do empreendedor. Essas atividades podem ser classificadas em: -Promoção da cultura e educação empreendedora. -Desenvolvimento de indústria de incubadoras e venture capital. -Programas de promoção à inovação (pesquisa e desenvolvimento). -Programas de fomento à internacionalização. Conforme descrito acima, as políticas regulatórias tendem a afetar de forma direta as MPEs no que se refere ao início do negócio até a manutenção da empresa, enquanto que as políticas de estímulo tendem a fomentar o surgimento de novos empreendedores. Considerando as práticas brasileiras, historicamente as políticas públicas não priorizam as micro e pequenas empresas. Desde meados de 1950 até os primeiros anos da década de 1990, muito pouco se fez pelos pequenos empreendedores. A principal iniciativa daquele período, e ainda muito importante até hoje, foi a criação do Sebrae 3 - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Nascida como uma entidade privada de interesse público, o Sebrae conta em seu conselho superior com instituições governamentais e não governamentais. Ou seja, mesmo não sendo parte do governo, este tem um enorme peso na condução estratégica da entidade. Hoje, o Sebrae está presente nos 27 estados da federação com 336 postos de atendimento próprio e 452 via parceiros com mais de 4,5 mil funcionários e doze mil consultores externos capacitados e orientados pela entidade para prestar atendimento às micro e pequenas empresas. A entidade dá apoio aos empreendedores com cursos, palestras, treinamento, publicações e consultorias. Segundo um artigo publicado por Sarfati (2013), a partir da segunda metade da década de 1990, duas grandes mudanças ocorreram quanto às políticas públicas relacionadas às micro e pequenas empresas. O primeiro, ao nível regulatório, foi a Lei 9.317/96 conhecida como Lei Federal da Simples que organiza e atribui diferenciação tributária para as micro e pequenas empresas e a Lei 9.841/99 conhecida como estatuto da Micro e Pequena Empresa, ajudando na regulamentação das relações trabalhistas, linhas de créditos e criando o Fórum Permanente das Micro e Pequenas Empresas dentro da estrutura do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Ambas as leis foram revogadas 3 A entidade nasceu em 1972 como CEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena Empresa). Em 9 de outubro de 1990, o Cebrae foi transformado em Sebrae pelo decreto nº 99.570, que complementa a Lei nº 8029, de 12 de abril. 28 pela Lei Complementar 123/06 estendendo o tratamento diferenciado às MPEs no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Outro ponto importante nas políticas públicas brasileiras é a instituição da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), em 2003. Dentro dessa política, as MPEs passaram a ser prioridade das ações de política pública através dos Arranjos Produtivos Locais (APLs). Conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior4, os APLs são “aglomerações de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa”. Isso abriu caminho para a participação de agências governamentais como: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (APEX), Ministério da Ciência e Tecnologia, e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Essas entidades também são responsáveis por diversos programas de financiamentos em níveis federal, estadual e municipal. Alguns exemplos são: Cartão BNDES, utilizado para a compra de produtos e serviços; e FINEP Inova Brasil, que auxilia nos custos relacionados à realização de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação nas empresas. E, por fim, uma das últimas iniciativas a favor das políticas públicas para micro e pequenas empresas foi a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, com status de ministério. A Lei 12.792/2013 que criou a Secretaria foi publicada no Diário Oficial da União, no dia 1° de abril de 2013. Vinculada à Presidência da República, a nova pasta tem entre suas funções desenvolver políticas de apoio à microempresa, empresa de pequeno porte e de artesanato. A secretaria absorveu parte das competências do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, cuidando especificamente de incentivo, qualificação e promoção da competitividade e da inovação em empresas menores. Entre os objetivos de trabalho, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa é responsável por incentivar a criação de fóruns nacionais e regionais para promover a participação de entidades que representam o setor. 1.2.3 Perfil das micro e pequenas empresas 4 http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=2&menu=300. Acesso em 15 abril de2014. 29 A criação de novas políticas públicas, as transformações tecnológicas, o acesso à informação por parte dos empreendedores, aliados ao aumento da demanda de bens de consumo e serviços ocasionados pelas mudanças progressivas na distribuição da renda, têm contribuído para que os micro e pequenos empreendimentos assumam papel ainda mais significativo na geração de postos de trabalho. E para entender o perfil do micro e pequeno empreendedor brasileiro, tomaremos como base o Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa 2013, produzido pelo Sebrae e pelo Dieese - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, que analisa um período de dez anos, iniciado em 2002 até 2012. Segundo a pesquisa, mesmo a atividade econômica brasileira crescendo de forma moderada, as micro e pequenas empresas ainda se expandem no Brasil, e a causa está atrelada ao crescimento da renda e do crédito. Em 2002 eram 4,8 milhões de empresas, em 2012 foram registrados 6,3 milhões de empresas em todo o território nacional, registrando um crescimento de 2,7% ao ano. Entre os anos de 2002 e 2007, o crescimento médio anual foi de 2,9%, já o ritmo de crescimento entre 2007 e 2012 foi um pouco menor, registrando 2,5% ao ano. Portanto, em todo o período, houve a criação de aproximadamente 1,5 milhão de novos estabelecimentos, uma expansão de 30,9% no total de MPEs. Figura 2: Evolução no número de estabelecimentos por porte. Brasil 2002-2012 (em milhões). Fonte: MTE. Rais. Elaboração: Dieese. O gráfico compara a evolução da MPE – Micro e Pequena Empresa a MGE – Média e Grande Empresa. 30 As micro e pequenas empresas foram responsáveis pela criação de 6,6 milhões de empregos com carteira assinada, aumentando os postos de trabalho de 9,5 milhões em 2002 para 16,2 milhões em 2012. Diferentemente do número de criação de novas empresas, que teve uma leve queda ao longo dos anos, o número de empregos criados vem se intensificando. De 2002 a 2007, foram criados 2,7 milhões de novos empregos, um crescimento médio anual de 5,2%. Já entre os períodos de 2007 e 2012, esse crescimento foi de 5,7% ao ano, resultado da criação de 3,9 milhões de novos postos de trabalho. Figura 3: Evolução do número de empregos por porte. Brasil 2002-2012 (em milhões). Fonte: MTE. Rais. Elaboração: Dieese. O gráfico compara a evolução da MPE – Micro e Pequena Empresa a MGE – Média e Grande Empresa. O estudo também apresenta o setor econômico que concentra as micro e pequenas empresa. As empresas estão classificadas nos setores: indústria, construção, comércio e serviços. Segundo a pesquisa, ao longo dos dez anos os setores de comércio e indústria apresentaram uma leve queda na participação das MPEs. Já os setores de serviços e construção apresentaram crescimento ao longo dos anos. Uma das razões atribuídas pelo estudo, está o maior dinamismo do setor de serviços que está diretamente ligado ao aumento 31 da renda da população e ao consumo das famílias brasileiras. E o aumento do setor da construção está diretamente ligado ao aquecimento do setor imobiliário em todo o Brasil. Figura 4: Distribuição das micros e pequenas empresas por setor de atividade econômica. Brasil 20022012 (em milhões). Fonte: MTE. Rais. Elaboração: Dieese. Os empreendedores brasileiros são, na sua grande maioria, homens. Ao longo dos anos a participação dos homens teve uma leva queda, tendo uma participação de 74% em 2002 contra os 71,2% em 2012. Já a participação das mulheres à frente das micro e pequenas empresas vem tendo um modesto crescimento entre os anos de 2002 e 2012. Antes elas representavam 26% das PMEs e agora são 28,8%. Conforme figura 4: Figura 5: Distribuição dos empregadores por sexo. Brasil 2002-2012 (em %). 32 Fonte: IBGE. Pnad. Elaboração: Dieese. Ao longo dos anos os micro e pequenos empresários com mais idade representaram o maior crescimento. A parcela de proprietários com 35 anos ou mais idade cresce 2,1% ao longo de dez anos. Em 2002 eram 74% do total de pessoas donas de empresas, e em 2012 passou a ser 76,1%, conforme figura 5. Esses números apontam uma realidade no país que envolve, entre tantos outros fatores, o aumento da expectativa de vida que faz com que as pessoas comecem a olhar para esta etapa de outra forma. Hoje, o período após a aposentadoria se torna cada vez mais longo, sendo assim, existe a necessidade de garantir o seu próprio sustento e, algumas vezes, o sustento de toda a família. A partir disso, criar um novo negócio cumpre um importante papel nessa fase da vida, estimulando e incentivando a visão para oportunidades. Em uma entrevista concedida em 2012, o gerente de inovação do Sebrae, Enio Pinto, afirmou que a maturidade pode ser um primeiro passo para empreender, já que é um período em que as pessoas estão se aposentando e, normalmente, seus filhos são independentes. Os negócios nessa fase da vida são abertos muito mais para a realização pessoal do que acúmulo de riquezas. Figura 6: Distribuição dos empregadores por faixa etária. Brasil 2002-2012 (em %). 33 Fonte: IBGE. Pnad. Elaboração: Dieese. Outro dado que aponta o perfil das micro e pequenas empresas no Brasil, são números relacionados ao nível educacional dos micro e pequenos empresários. Os dados apontam um aumento significativo da escolaridade dos empreendedores no período analisado. Em 2002, 54,7% dos empresários possuíam ao menos o ensino médio completo ou escolaridade mais elevada. Em 2012, o número subiu para 65,2% dos empregadores, ou seja, um aumento de 10,5 pontos percentuais, conforme figura 6. Figura 7: Distribuição dos empregadores por escolaridade. Brasil 2002-2012 (em %). 34 Fonte: IBGE. Pnad. Elaboração: Dieese. 1.3. A atividade empreendedora e o empreendedorismo brasileiro Empreender está diretamente ligado à busca de oportunidades, superar obstáculos, conquistar espaços etc. Mesmo não sendo características apenas ligadas à criação de novos negócios, o verbo, já usado ao longo deste capítulo e que acompanhará a dissertação até o final, faz parte da realidade das micro e pequenas empresas e merece ser explorado e contextualizado. A palavra empreendedor tem cerca de 800 anos e origina-se do verbo francês entreprendre, que significa “fazer algo”. Uma das primeiras definições da palavra “empreendedor” foi elaborada no início do século XIX pelo economista francês J.B. Say, como aquele que “transfere recursos econômicos de um setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento”. O termo entrepreneur foi incorporado à língua inglesa no início do século XIX. Segundo uma análise histórica realizada por Hisrish (1986), uma das primeiras pessoas a ganhar o título de empreendedor foi Marco Polo. Responsável por tentar estabelecer uma rota comercial da Europa para o Oriente, Marco Polo assinou um contrato com um capitalista para que vendesse as mercadorias trazidas em suas viagens, um aventureiro empreendedor que assumia os riscos. Com o passar dos anos, a partir do século XVII, essa diferenciação entre o empreendedor – que assumia os riscos do capitalista – que fornecia o capital -, acabou se tornando mais evidente e o termo empreendedor começou a adquirir mais forma e significado. No final do século XIX e início do século XX, o termo começou a ganhar popularidade, porém, como acontece ainda hoje, os empreendedores foram constantemente confundidos com gerentes ou administradores de empresas, passando a ser analisados como as pessoas que organizam o dia a dia da empresa. Mesmo havendo uma ligação entre administradores e empreendedores, já que o empreendedor precisar ser um bom administrador para dar continuidade e obter sucesso nos seus negócios, porém, no entanto, nem todo o bom administrador é necessariamente um empreendedor na sua essência. Por isso, cabe aqui fazer uma diferenciação dos termos até mesmo para focar no principal objeto deste estudo, os empreendedores de micro e pequenas empresas. 35 Para Hampton (1991), o trabalho do administrador ou a arte de administrar tem foco nos atos de planejar, organizar, dirigir e controlar. Ainda, segundo o autor, os administradores podem ser diferenciados pelo nível de hierarquia que ocupam e o conhecimento que detém. Para Kotter (1982), os administradores são responsáveis pelas agendas da organização, incluem metas e planos para a sua organização e desenvolvem relacionamentos para aplicálos na instituição. De forma geral, os administradores e empreendedores têm muitas coisas em comum, sendo as principais diferenças o olhar visionário e a liderança informal com muito relacionamento pessoal dos empreendedores e o planejamento de longo prazo, e respeito às hierarquias dos administradores, segundo Hisrich (1986). Para o termo empreendedor existem diferentes definições. Para Schumpeter (1949), talvez uma das mais antigas, o empreendedor derruba a ordem já existem, introduzindo novos produtos e serviços, através da criação de novos negócios, novas formas de condução ou, mesmo, pela exploração de novas possibilidades para exploração de diferentes materiais e recursos. Para Kizner (1973), o empreendedor cria equilíbrio e consegue colocar ordem no caos identificando oportunidades. Ambos afirmam que o empreendedor é um ser curioso e sempre atento às oportunidades e informações. Então, o empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre ela, assumindo riscos calculados. Em qualquer definição de empreendedorismo encontram-se, pelo menos, os seguintes aspectos referentes ao empreendedor: 1. Tem iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz. 2 . Utiliza os recursos disponíveis de forma criativa, transformando o ambiente social e econômico onde vive. 3. Aceita assumir os riscos calculados e a possibilidade de fracassar. (DORNELAS, 2008, p. 29). O empreendedorismo passa por um momento de explosão global. Diversas instituições públicas e privadas têm investido tempo e recursos para pesquisar e incentivar iniciativas sobre o tema. Há uma clara relação entre o empreendedorismo e o crescimento econômico. A ascensão do empreendedorismo teve seu início nos Estados Unidos, há cerca de 40 anos, e aos poucos foi se espalhando pelo mundo. Os governos democráticos deram espaço aos empreendedores para uma atuação em mercados livres e abertos. Para Friedmann (2014), existe uma revolução empreendedora que já transformou o mundo e que continuará atual. Outro ponto destacado pelo autor é o impacto do tema no campo acadêmico, ganhando admiração e sendo desejado por jovens de todo o mundo. A ligação do empreendedorismo com o crescimento econômico está diretamente ligada às novas oportunidades geradas por esses empreendedores. Tanto na geração de 36 empregos, quanto os impactos nas comunidades locais influenciados por esses novos negócios. Os autores Dornelas, Spinelli e Adams (2014) afirmam que “ao longo das últimas décadas pequenas empresas criaram 60% a 80% da quantidade líquida de novos empregos” ao redor do mundo. Ainda segundo Dornelas, Spinelli e Adams (2014), a revolução empreendedora global passa por importantes iniciativas em alguns setores como: Educação, investimento em projetos e inserção do tema na grade curricular; Política, incentivo dos governos à criação de legislações e políticas de apoio aos novos negócios; Mulheres, crescente entrada de mulheres empreendedoras no mundo dos negócios. Segundo um relatório da Babson College/MassMutual, empresas com mulheres no comando costumam ser duas vezes mais produtivas; Grupos Minoritários, em todo o mundo há um esforço em promover o empreendedorismo em comunidade de baixa renda, isso ajudou na inserção dessas minorias no mercado de trabalho e a expandir a importância em suas comunidades; Empreendedorismo Jovem, o ensino do empreendedorismo está começando a fazer parte do ensino primário e fundamental. Nos EUA, em pelo menos 30 estados já existem iniciativas dentro das escolas. No Brasil, há anos existe o projeto Junior Achievement (associação educativa sem fins lucrativos, mantida pela iniciativa privada) que visa despertar o espírito empreendedor nos jovens, ainda na escola, estimulando o seu desenvolvimento pessoal e dando a eles uma visão global do mundo dos negócios. Segundo o site da entidade, já foram atendidos 3,3 milhões de alunos em todo o país. No Brasil, os últimos anos têm sido muito promissores para os empreendedores. Para Dornelas (2008), a globalização das economias e a estabilização econômica no país tornou o Brasil um celeiro de oportunidades para os investidores. Esses mesmos capitalistas preferiam aplicar suas divisas no mercado financeiro, que lhes proporcionava retornos imbatíveis. Começa a ser comum encontrar a figura do capitalista de risco no país e, principalmente, do angel, ou anjo — investidor pessoa física —, que prefere arriscar em novos negócios a deixar todo seu dinheiro aplicado nos bancos. Isso vem ocorrendo nos setores onde as empresas podem crescer rapidamente, como o de empresas de tecnologia, e já está mudando todo um paradigma de investimentos no Brasil, o que é saudável para o país e para os novos empreendedores que estão surgindo (DORNELAS, 2008, p.36). Para entender um pouco sobre o perfil dos empreendedores brasileiros, serão levados em conta os resultados da Pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor) Brasil de 2013, pesquisa iniciada em 1999 por meio de uma parceria entre a London Business School e o BabsonCollege, abrangendo no primeiro ano 10 países. O Brasil participa dessa pesquisa 37 desde o ano 2000, onde a pesquisa é conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP) e conta com o apoio técnico e financeiro do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O estudo aponta os seguintes resultados: - Os brasileiros são empreendedores por oportunidade. O resultado aponta que 71,3% empreendem por oportunidade, isto é, as pessoas identificam uma oportunidade de negócio e correm atrás para realizar; - A maior parte dos empreendedores iniciais brasileiros (50,9%) apresenta níveis de escolaridade menor que segundo grau completo. A região Nordeste se destaca nos números, sendo 42,1% dos empreendedores iniciais possuem segundo grau completo; - As mulheres brasileiras são bastante empreendedoras. Elas são a maioria (52,2%) na grande parte do país, apenas na região Nordeste os homens estão em maior número; - As políticas governamentais aparecem de duas formas na pesquisa: tanto como fator favorável quanto limitador. Os fatores apontados como favoráveis são: leis e estrutura criada para as micro e pequenas empresas. E como fatores limitadores: impostos, burocracia e complexidade dos processos; - A maior parte dos empreendimentos no Brasil não possui empregados (66,1%), 17,8% tem um empregado e 8,9% dois empregados. Quanto ao faturamento, 67,1% dos empreendimentos brasileiros estão concentrados na faixa de faturamento de até R$60.000, percentual que atinge 87,7% na região Centro-Oeste. Uma parcela expressiva desses empreendimentos, ainda da fase inicial, afirmaram que ainda não obtiveram faturamento; - Para o brasileiro, as condições positivas que afetam o empreendedorismo são a percepção de oportunidades existentes, valorização do papel do empreendedor e a valorização da inovação. Já como pontos negativos, a falta de educação e capacitação na escola, burocracia e impostos, e o apoio ao desenvolvimento de tecnologia; - A grande maioria dos empreendedores brasileiros não procura ajuda de órgãos de apoio como o Sebrae, Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) ou Sesi (Serviço Social da Indústria). A pesquisa mostra que 84,6% não se interessam em buscar apoio. E dentre os que buscam, a entidade mais procurada é o Sebrae; - O empreendedor brasileiro, 52,1% deles, afirma possuir conhecimento, habilidade e experiência necessários para começar um novo negócio, e 57,3% mencionaram que o medo do fracasso não os impediria de ir em frente; - Com relação aos desejos e expectativas da população adulta brasileira, o estudo mostra que ter seu próprio negócio aparece em terceiro lugar na lista de sonhos dos brasileiros, 38 depois da compra da casa própria e de viajar pelo Brasil. Nas regiões Norte e Nordeste esse desejo está em segundo lugar, aparece em quarto nas regiões Sudeste e CentroOeste, e em quinto na região Sul. No entanto, existe uma supremacia do sonho “ter seu próprio negócio” sobre “fazer carreira numa empresa”. De forma geral, o empreendedorismo no Brasil vive um momento favorável. Estima-se que cerca de 40 milhões de brasileiros, entre dezoito e 64 anos, tenham algum envolvimento com a atividade empreendedora. Outro dado apontado pelo estudo, e que reflete o amadurecimento dos empreendedores, é o aumento dos empreendimentos por oportunidade, que reflete que os brasileiros começam um negócio de forma planejada. E por fim, o termo empreendedorismo tem um grande prestígio entre os brasileiros, já que 80% o consideram como uma oportunidade de carreira. 1.3.1 A valorização dos empreendedores pela mídia Dentre os resultados apresentados no estudo GEM Brasil 2013, é importante destacar alguns pontos relacionados ao grau de disposição dos indivíduos em relação ao tema empreendedorismo e o seu potencial para empreender e que, também, está diretamente ligado ao tema da dissertação. Mais de 80% das pessoas entrevistadas consideram que: abrir um negócio é uma opção desejável de carreira; os empreendedores bem sucedidos obtêm status e respeito perante a sociedade; e a mídia noticia com frequência histórias sobre novos negócios bem sucedidos. Esses conceitos mostram o prestígio que o empreendedorismo vem alcançando junto à opinião pública e que há uma valorização do empreendedor, e ao termo empreendedorismo, por parte da mídia nacional já muito latente e visível à população brasileira. Se antes as pessoas buscavam seus minutos de fama em algum reality show ou um vídeo viral no YouTube, agora muitos estão em busca para se tornar o novo Steve Jobs – fundador da Apple, ou mesmo Bill Gates, fundador da Microsoft. A grande mídia, aqui podemos entender como jornais, revistas, televisão e internet de alcance nacional, também está sempre buscando contar essas histórias. Diante disso, vemos há anos o surgimento de novos espaços nos veículos de imprensa que valorizam o empreendedorismo, filmes que contam histórias de pessoas inovadoras e que montaram novos negócios e, também, mais recentemente no Brasil, tem o surgimento de uma telenovela que aborda o sucesso, fama e dinheiro de um empreendedor brasileiro da área de tecnologia. Para Valadares (2012), do blog 39 Mulheres Empreendedoras, o mundo vive um momento mágico quando o assunto é empreender e grande parte disso está relacionada à ampla cobertura da mídia. Lembro a época em que startup se chamava microempresa, empreendedor era mascate e investidor anjo era o banco oferecendo microcrédito a juros altos. Tudo isso mudou, e hoje estamos entrando no mundo encantado de Nárnia quando o assunto é empreender no Brasil. Acredite em mim, herói. Nunca houve um momento mais propício. Estamos chegando ao ápice, quando a mídia incorpora o tema nas discussões de pauta, as celebridades se tornam investidores e o governo, em suas diversas esferas, cria comitês estratégicos para discutir infinitamente e elaborar programas de incentivo. Os jovens, em busca de fama, glória e dinheiro, decidem abrir uma startup em vez de se arriscar no velho rock and roll (VALADARES, 2012). De um assunto mais restrito às editorias de negócios, as notícias sobre empreendedorismo ganharam capas de jornais e passaram a contar histórias com cases inspiradores e que apontam para onde caminham as pequenas empresas em termos de inovação e perspectivas. Nesse contexto, cabe entender o conceito de valores-notícias utilizados pelos jornalistas, para tentar compreender porque as temáticas envolvendo empreendedorismo ganharam mais espaços na mídia. Segundo Wolf (1992), os valoresnotícias são um conjunto de critérios tomados como referência no meio jornalístico para elaboração dos noticiários. Os valores-notícias são complementares ao longo de todo o processo de produção e são dinâmicos, não permanecem sempre os mesmos, mudam ao longo do tempo. Wolf (1992) identifica cinco critérios ou categorias de valores-notícias: a primeira refere-se aos critérios substantivos relacionados à importância e ao interesse da notícia; a segunda refere-se às características específicas do produto informativo; a terceira relaciona-se a adequação ao meio de comunicação; a quarta categoria refere-se ao público e a imagem que o jornalista tem dele; e a quinta refere-se à concorrência entre os meios de comunicação em busca da melhor notícia ou exclusiva. Além disso, para os jornalistas, um ponto prioritário para definir notícia é o que é novo, uma novidade. Para Wolf, o produto informativo pode ser entendido como desconhecido (novidade) ou como recente (atualidade). A conotação de “desconhecido”, novo é o não usual, o que rompe a rotina. Tudo aquilo que irrompe na superfície lisa da história, dentre uma diversidade aleatória de fatos virtuais. Pela sua natureza, o acontecimento situa-se, portanto, algures na escala das probabilidades de ocorrência, sendo tanto mais imprevisível quanto menos provável for a sua realização. É por isso, em função da maior ou menor previsibilidade, que um fato adquire o 40 estatuto de acontecimento pertinente do ponto de vista jornalístico: quanto menos previsível for, mais probabilidades têm de se tornar notícia e de integrar o discurso jornalístico (RODRIGUES, 1990, p.98). Essa é também a perspectiva de Wolf (1992, p.83): novos são os acontecimentos que “constituem e representam um infração, um desvio, uma ruptura do uso normal das coisas (...) que alteram a rotina, as aparências normais”. Por isso, é possível entender como a história de Mark Zuckerberg, um jovem nerd 5 que aos 20 anos criou o Facebook, rede social mais acessada em todo o mundo, e hoje, aos 30 anos, se tornou uma das pessoas mais ricas do mundo, ganham espaço na imprensa, despertam o interesse do público e, inclusive, inspiram produções de cinema. No Brasil, a exposição dessas histórias fica por conta do crescente número de veículos de imprensa ao longo dos últimos anos. O veículo pioneiro no tema é a revista impressa mensal e o programa de televisão semanal Pequenas Empresas Grandes Negócios. Ambos foram fundados há 25 anos, com o principal objetivo de apresentar ao público reportagens feitas em todas as regiões do Brasil, que mostram os desafios de quem monta uma empresa, as oportunidades e as dicas para o sucesso de um negócio. São exemplos de brasileiros idealistas, que venceram desafios e usaram a criatividade para criar pequenas e médias empresas. Além disso, o programa apresenta histórias de sucesso de empresas, que, graças a ideias inovadoras de seus proprietários ou colaboradores, ganharam destaque no mercado em que competem. No expediente da revista consta a missão da publicação, que é ajudar pessoas inovadoras a transformar ideias em grandes realizações, e os valores da publicação como: acreditamos que é possível fazer aquilo que se gosta e lucrar mais com isso; acreditamos no empreendedorismo como pilar essencial para uma economia equilibrada e para uma melhor distribuição de riquezas, entre outros. Após anos sendo o único veículo a dar destaque ao tema e o primeiro a identificar o potencial das histórias dos empreendedores e seu poder de influenciar outras pessoas, muitos outros veículos foram nascendo. Hoje, praticamente todos os grandes veículos de imprensa no Brasil como, por exemplo, os jornais impressos Valor Econômico (SP), Estado de S.Paulo (SP), Folha de S.Paulo (SP), O Globo (RJ) etc, mantém editorias dedicadas a cobertura do tema empreendedorismo, assim como outras revistas de circulação nacional. Alguns veículos 5 O termo nerd surgiu pela primeira vez na literatura em 1950. O escritor Theodor Geissel publicou o livro “If I Ran The Zoo”, em que nerd era um personagem desengonçado e estranho. Hoje, o nerd é visto como uma pessoa visionária, inventiva e empreendedora. (PEREZ, 2014) 41 dedicam espaços no formato de cadernos especiais, alguns com espaços dentro das editorias de economia e empresas, outros abrem espaços dentro de editorias chamadas de oportunidades, enfim, todos identificaram o potencial de audiência de um tema que traz atualidade, novidade e que inspira muitas pessoas. Outra mídia que está aproveitando o movimento da valorização dos empreendedores é a telenovela. Inspirada na trajetória bemsucedida do fundador da marca Apple, Steve Jobs, a Rede Globo lançou, em maio de 2014, a novela Geração Brasil, que aborda o mundo da tecnologia. A trama gira em torno da história de sucesso de um jovem que desenvolve um computador pessoal de baixo custo. Na década de 1990, o personagem viaja aos Estados Unidos e, tempos depois torna-se CEO (Chief Executive Officer) de uma das maiores empresas de tecnologia e ídolo de milhares de jovens que gostam do mundo da tecnologia. Com toda essa exposição e o grande espaço conquistado na mídia pelas micro e pequenas empresa os empreendedores também têm sido criticados por alguns especialistas. No blog da Aceleradora, empresa criada em 2008 e responsável por ajudar na criação e capacitação de startups 6 , o fundador da empresa Yuri Gitahy (2012) fala que faltam boas inspirações na imprensa. No post publicado por Gitahy ele afirma que: “O problema é que a mídia não está preocupada em diferenciar referências boas das ruins, ela quer contar histórias que dão audiência”. Na opinião do especialista, o empreendedor não precisa dar audiência para a mídia, eles precisam fazer o seu negócio dar certo. Ele também critica a imprensa por passar conceitos errados sobre as startups e os empreendedores, já que alguns afirmam que para se tornar um novo empreendedor de sucesso basta ter uma ideia e sair batendo na porta dos investidores em busca de financiamento para tornar a sua inovação em um negócio multibilionário. 6 É uma pequena empresa em seu período inicial com custos de manutenção muito baixos, mas que consegue crescer rapidamente e gerar lucros cada vez maiores. 42 Capítulo II – PEQUENOS NEGÓCIOS – DO PLANO DE NEGÓCIO AO PLANO DE COMUNICAÇÃO Para iniciar um empreendimento, não basta ter uma boa ideia. É necessário que essa ideia se transforme em algo real e concreto. E para que isso aconteça, uma das ferramentas mais importantes, principalmente para as micro e pequenas empresas, será organizar e estruturar um plano de negócio. Para Krumer apud Barbosa e Pereira (2003. P.2), “O Plano de Negócio é uma necessidade. Se uma pessoa quer começar um pequeno empreendimento e não tiver um Bussines Plan, então essa pessoa tem um problema”. Elaborar um bom modelo de negócios e, posteriormente, um plano de negócio será de fundamental importância para qualquer empreendedor, não apenas para iniciar uma busca por investidores7 e captar recursos financeiros, mas prioritariamente como forma de sistematizar suas ideias e planejar o dia a dia da empresa que está nascendo, que, com certeza, já entrará em mundo extremamente competitivo. O plano de negócio também será fundamental para estruturar as ações de comunicação. 2.1 Plano de Negócio O plano de negócio, na sua essência, é um documento que descreve (por escrito) quais os objetivos de um negócio e quais passos devem ser dados para que esses objetivos sejam alcançados, diminuindo os riscos e as incertezas. Um plano de negócio permite identificar e restringir erros no papel, ao invés de cometê-los no mercado. E ainda, o plano de negócios é o ápice de todo o longo, árduo e criativo processo da criação de um novo negócio. Isto é, tornar concreta a ideia bruta de um empreendedor em uma empresa. Para Baron e Shane (2007, p. 186), o plano de negócio é um guia detalhado para conversão de ideias e da visão do empreendedor em um negócio real e em funcionamento. De forma mais específica, um plano de negócio bem preparado explicará o que o novo empreendimento está tentando realizar e como alcançará as metas propostas. Esse é o tipo de informação que procuram os capitalistas de risco e outros que podem apoiar um novo empreendimento. Quanto mais claros forem os vínculos entre as metas almejadas e os meios para alcançálas, mais impressionante (e persuasivo) será o plano de negócio. (BARON e SHANE, 2007, p. 186). 7 Investidores compram cotas de empresas emergentes, injetando capital para que os projetos ganhem força. Em troca, o investidor torna-se sócio minoritário, lucrando quando o negócio faz sucesso. 43 Planejar e ter um plano de negócios para as MPEs, em sua maioria, é praticamente um pré-requisito para obtenção de investimentos e financiamentos juntos aos órgãos de fomento ao empreendedorismo e à consolidação do negócio no mercado. O plano de negócios deve existir a partir do momento em que uma oportunidade aparece, no entanto, essa não é uma prática comum. Muitos empreendedores iniciam seus negócios sem ao menos definir seu produto ou serviço, o nicho de mercado em que atuará, seu público-alvo, o que poderá trazer para o negócio uma dificuldade inicial de gestão e do desenvolvimento de qualquer empresa. O Plano de Negócios (PN) é uma linguagem para descrever de forma completa o que é ou o que pretende ser uma empresa. A mesma pergunta: ‘o que é sua empresa?’, induzia a diferentes respostas, dependendo de para quem era dada: banco, fornecedor, cliente, distribuidor, sócio potencial, investidor, etc.[...] Mas o principal usuário do Plano de Negócios é o próprio empreendedor, pois ele é uma ferramenta que o faz mergulhar profundamente na análise de seu negócio, diminuindo sua taxa de risco e subsidiando suas decisões, que podem até ser de não abrir uma empresa ou de não lançar um novo produto. (DOLABELA, 2006, p.77) Outra questão importante, é que o plano de negócio deve ser algo mutável e vivo. Deve ser um documento aberto a mudanças e que sofrerá mudanças. Para Baron e Shane (2007) será muito difícil para o empreendedor prever como o plano irá evoluir, por isso, evitar planos longos, altamente complexos e com “linda encadernação” ajudará no processo evolutivo do negócio. Os autores Dornelas, Spinelli e Adams (2014) também consideram que as mudanças constantes do ambiente de negócios exigem mente aberta e flexibilidade para se manter vivo e seguir em frente com o negócio. O plano de negócio deve ser considerado um trabalho em andamento. Embora deva ser completo, no caso de você estar tentando levantar capital no exterior, atrair importantes conselheiros, diretores, membros de equipe ou algo parecido, ele nunca pode ser considerado terminado. Assim como um plano de voo para atravessar o país, muitas mudanças inesperadas podem ocorrer ao longo do caminho: uma tempestade, visibilidade prejudicada por fumaça, neblina ou fortes ventos podem se desenvolver. Você tem de estar preparado para ajustar continuamente o curso para minimizar os riscos e garantir a conclusão bem-sucedida da jornada. Essa administração de riscos e recompensas é inerente ao processo de planejamento de negócios. (DORNELAS, SPINELLI e ADAMS, 2014, p. 181-182). Para facilitar a descrição de um plano de negócios, os novos empreendedores precisam ter muito claro qual será o seu modelo de negócios, que depois evoluirá para um plano mais 44 detalhado. Uma das técnicas mais utilizadas e difundidas é o modelo de negócios Canvas8, desenvolvido pelos autores Osterwalder e Pigneur (2011). A ideia desse conceito é que seja simples e intuitivamente compreensível, sem trazer muita complexidade. Segundo os autores, o conceito permite que os novos empreendedores descrevam e pensam “sobre o Modelo de Negócios da sua organização, seus concorrentes ou qualquer outra empresa” (OSTERWALDER E PIGNEUR, 2011, p.15). O modelo de negócios está baseado na descrição de nove componentes que mostrará como a empresa pretende gerar valor. Sendo eles baseados em quatro principais áreas de um negócio: clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade financeira. Os nove componentes do modelo de negócios Canvas e suas principais características, conforme Osterwalder e Pigneur (2011) são: - Segmento de Clientes: os clientes são a parte mais importante de uma empresa. Sem clientes, será muito difícil uma empresa sobreviver. Nesse componente a empresa irá discutir quais segmentos de clientes irá servir e quais não. Também será preciso agrupálos em segmentos para entender necessidades, atributos e comportamentos. - Proposta de Valor: esse componente é importante porque é a motivação que faz com o que o cliente escolha determinada empresa. A proposta de valor irá descrever o pacote de produtos e serviços que criam um valor para o Segmento de Clientes. - Canais: aqui acontece a descrição dos canais de comunicação que a empresa irá utilizar para alcançar os clientes para que haja a entrega da proposta de valor, ou seja, dos produtos e serviços. - Relacionamento com Clientes: será descrito os tipos de relação que a empresa irá estabelecer com o segmento de cliente. Como, por exemplo, irá acontecer a conquista pelo cliente, a retenção do cliente e como ampliar as vendas. - Fontes de Receitas: o componente representa o dinheiro que uma empresa gera a partir dos clientes. Será toda a receita vinda dos produtos e serviços oferecidos pela empresa aos diferentes segmentos de clientes. - Recursos Principais: será a descrição dos recursos mais importantes para fazer o plano de negócios funcionar. Esses recursos podem ser físicos, financeiros, intelectuais ou humanos. 8 Canvas é uma palavra em inglês que traduzida para o português significa tela/quadro. Foi dado esse nome ao tipo de modelo de negócio, desenvolvido por Osterwalder e Pigneur (2011), devido ao seu formato de apresentação. 45 - Atividades-Chave: esse componente descreve as ações mais importantes que a empresa deve ter para poder operar. Assim como os Recursos Principais, as Atividades-Chave serão responsáveis por grande parte dos demais componentes do modelo de negócios. - Parcerias Principais: será a descrição da rede de fornecedores, alianças estratégicas, parcerias estratégicas entre concorrentes etc. - Estrutura de Custo: esse último componente descreve todos os custos envolvidos na operação da empresa. Quais recursos são mais caros, quais Atividades-Chave terão o maior custo, quanto custa o relacionamento com clientes, enfim, todos os custos para a implementação da empresa. Para desenvolver esse modelo de negócio, os autores Osterwalder e Pigneur (2011) sugerem uma prática, já bastante disseminada no Brasil e utilizada em treinamentos de micro e pequenas empresas, inclusive pelo Sebrae em diversas regiões, que é chamada de “Quadro de Modelo de Negócios” ou, também, o Canvas9. Figura 8: Quadro de Modelo de Negócios. Fonte: www.businessmodelgeneration.com 9 Uma das possíveis traduções da palavra inglesa Canvas, para o português, é quadro. 46 A ideia do quadro é tornar o desenvolvimento do modelo de negócios algo colaborativo, e estimular a participação do envolvidos na criação do negócio. Por isso, os autores sugerem que o quadro seja impresso para que todos possam participar. Esta ferramenta lembra uma tela de pintura – mas pré-formatada com nove blocos – que permite criar imagens de Modelos de Negócios novos ou já existentes. O Quadro funciona melhor quando impresso em uma grande superfície, para que vários grupos de pessoas possam rascunhar e discutir juntos os seus elementos, com anotações em adesivos (Post-It®) ou marcadores. É uma ferramenta prática e útil que promove entendimento, discussão, criatividade e análise (OSTERWALDER E PIGNEUR, 2011, p. 42). Online ou impresso, a ideia é que ao longo do tempo as descrições possam ser modificadas, pois tudo não passa de uma série de hipóteses que precisam ainda ser testadas. O modelo tem atraído muita atenção e despertado interesse em todo o mundo por ser uma possibilidade de pensar e praticar ao mesmo tempo, ou seja, com base nos componentes e no estímulo o empreendedor pode riscar, rabiscar, voltar atrás e fazer novamente o seu modelo de negócios. Apenas para exemplificar como seria um modelo de negócios na prática, abaixo uma imagem compartilhada pelo blogueiro Rafael Buzon, no blog Kuddos: Figura 9: modelo de negócios realizado com base no Quadro de Modelo de Negócios de Osterwalder e Pigneur (2011). 47 Fonte: www.blogkudoos.com.br Definido o Modelo de Negócios, ele será a base para um plano de negócio mais completo e estruturado. A partir desta fase, o plano de negócio deverá seguir alguns princípios como: ser organizado e preparado no formato comercial adequado, ser sucinto e persuasivo, já que ajudará muitas empresas na busca por investidores. E a redação do plano deverá seguir algumas seções básicas, sem uma ordem específica, porém com itens que devem estar presentes da descrição do plano. Para Baron e Shane (2007), o plano deve contém as seguintes seções: - Histórico e finalidade: a ideia e a situação atual do negócio; - Concorrência: informações gerais sobre os concorrentes, principalmente, no que tange prática de preços, estratégias comerciais e, também, como podem ser vencidas; - Desenvolvimento, produção e localização: descreve em que ponto de desenvolvimento está o negócio e como pretende atingir o ponto de produção ou o fornecimento do serviço. Também será descrito a localização do negócio e detalhes sobre a operação, se fizer sentido para compreender o potencial do negócio; - Administração: essa seção explica as habilidades administrativas dos empreendedores à frente do novo negócio; - Seção financeira: aponta a situação financeira atual do negócio. Também irá incluir informações sobre financiamentos e como os recursos obtidos serão usados; - Fatores de risco: descreve os vários riscos que o negócio pode enfrentar e quais serão as medidas tomadas para proteger o empreendimento; - Colheita ou saída: os novos empreendimentos sempre buscam investidores. Nessa seção, será descrito como investidores lucrarão se ou assim que a empresa atingir o sucesso. - Programação das etapas e marcos: deverá ser descrito cada etapa percorrida pelo novo negócio. Quando iniciar a produção, momento das primeiras vendas, projeção de lucros, além de outros pontos, será importante para que os futuros investidores possam acompanhar quando as tarefas-chave serão concluídas. - Anexos: serão apresentados os resumos detalhados das pessoas que compõe o núcleo administrativo da empresa e informações financeiras. - Marketing: descreve o mercado do produto ou serviço, quem vai querer usar ou comprar, por que as pessoas vão querer o produto e como saberão que ele existe. 48 O Marketing e/ou Comunicação, no caso deste trabalho, são tanto ou mais importantes como qualquer outro ponto a ser descrito no Modelo de Negócios, primeiramente, e depois no Plano de Negócio do novo empreendimento. Segundo Baron e Shane (2007), o empreendedor não deve concentrar todas as suas ações de marketing na venda pessoal, será necessário entender sobre publicidade e sobre como trabalhar a reputação da empresa “do mesmo modo que fazem as empresas já estabelecidas” (BARON e SHANE, p. 242, 2007). 2.2 Comunicação no plano de negócios Toda nova caminhada no mundo dos negócios precisará muito mais do que uma ideia de um novo empreendimento, precisará dar alguns passos para trás para colocar de fato esse negócio no papel. A ação de construir uma empresa física em que haverá a produção de produtos ou a prestação de serviços, se dá muito antes do que, de fato, ter um prédio pronto para começar a atuar. Uma empresa pronta deverá ser resultado de uma análise prévia da realidade em que ela esteja disposta a intervir, sendo assim, a consequência aos estímulos da avaliação de fatores sociopolíticos, econômicos e ambientais locais em que estará inserida. Essa fase inicial da empresa, estruturada conforme os roteiros discutidos no tópico acima, permite ao empreendedor aumentar o conhecimento sobre o negócio e averiguar sua sustentabilidade e lucratividade. Na busca por quebrar as barreiras para a implantação da nova empresa, o micro e pequeno empresário deve levar em consideração e entender os planos enquanto suportes de especificidades técnicas, administrativas e operacionais para a empresa, enxergando nas oportunidades que são abertas na prévia análise do ambiente mercadológico, alguns incentivos para a formulação de ações e estratégias. Todas as fases da descrição de um plano de negócios serão importantes e merecerão atenção antes de tirar o negócio no papel. Porém, um dos tópicos que mais geram discussão dentro do plano de negócios é a descrição da seção de marketing. Será importante o empreendedor entender que, antes de comunicar o seu novo produto ou serviço, deverá levar em conta as análises anteriormente realizadas sobre o ambiente em que estará inserido, a fim de elaborar um planejamento o mais assertivo possível, com características que possam ser transformadoras de uma realidade econômica, política e socioambiental, não deixando de lado também, a participação e influência dos públicos que serão estratégicos na construção e concretização da comunicação da empresa. Segundo Ciro Marcondes Filho (2007), a comunicação conceitua-se como um elemento catalisador de transformações. 49 Comunicação é antes um processo, um acontecimento, um encontro feliz, o momento mágico entre duas intencionalidades [...] ela vem da criação de um ambiente comum em que os dois lados participam e extraem de sua participação algo novo, inesperado, que não estava em nenhum deles, e que altera o estatuto anterior de ambos, apesar de as diferenças individuais se manterem (MARCONDES FILHO, 2007, p.15). A iniciativa em elaborar um plano de comunicação na nova empresa partirá do empreendedor, sua visão crítica e assertiva no que diz respeito aos recursos e utilização das práticas e ferramentas necessárias para atingir os objetivos de seu negócio, pois a relação custo\benefício vivenciada nos processos empresariais é responsável, muitas vezes, pela continuidade dos negócios recém-lançados no mercado. No micro e pequeno negócio, a adequação dos usos técnicos e operacionais das atividades de comunicação aos demais pontos do plano de negócios como, setores de finanças, produção e distribuição, podem garantir maior efetividade nos processos administrativos, além do reconhecimento e satisfação dos consumidores para com os serviços prestados pela empresa. Porém, atualmente, não existem moldes ou critérios únicos e rigorosos a serem seguidos que garantam o sucesso da administração do negócio nesses aspectos. Visto a valorização de cada item de um plano de negócios, especialmente de comunicação, depende de como a criatividade e inovação aparecem como um diferencial de competitividade. Nesse contexto de micro e pequenas empresas em busca da formulação de um plano que atenda o seu negócio, ainda há uma certa confusão no momento de descrever o plano de marketing, sendo comum encontrar até dúvidas de para que ele serve, sendo comum encontrar definições de marketing como propaganda. O fato é que, propaganda é uma das práticas de um plano de marketing, assim como podem ser, relacionamento com o cliente, definição do ponto de venda etc. Para Kotler e Keller (2007), o marketing pode ser considerado um processo de troca que abrange criação, comunicação e entrega de valor ao cliente. Podemos estabelecer definições diferentes de marketing sob as perspectivas social e gerencial. Uma definição social mostra o papel do marketing na sociedade. Certo empresário disse que o papel do marketing é “fornecer um padrão de vida mais alto”. Eis uma definição social que atende ao nosso objetivo: marketing é um processo social pelo qual o indivíduo e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e serviços de valor com outros. Como definição gerencial, o marketing muitas vezes é descrito como “a arte de vender produtos”. De fato, as pessoas se surpreendem quando ouvem que a parte mais importante do marketing não é vender! Vendas são a ponta do iceberg do marketing. (KOTLER e KELLER, p. 04, 2007) 50 O marketing deverá entrar na vida do novo negócio logo quando a ideia surge na cabeça do empreendedor. Ele será responsável por descobrir o que as pessoas precisam, o que a empresa deve oferecer e como deve comunicar. O marketing determina como lançar, precificar, distribuir e promover a oferta desse novo produto ou serviço. Gerenciar uma empresa nos dias de hoje é saber que as informações partem de muitos lugares e os consumidores são diariamente impactados. A sobrevivência de um negócio irá depender, sim, de um bom plano de marketing, assim como de um plano de comunicação bem estruturado. Os primeiros teóricos do marketing desenhavam planos a partir do que chamaram de “4 Ps” – produto, praça, preço e promoção. Os desenhos modernos de planos similares mostram que estabelecer um negócio apenas com esses pilares já não basta. Um dos principais motivos disso é que os negócios são cada vez mais pressionados por um consumidor extremamente fortalecido pela violenta concorrência entre empresas que lhe oferecem um extenso leque de produtos com preços, qualidade e outras vantagens similares. [...] é claro que, encontrando o seu estilo, os empresários, principalmente os micro e pequenos, precisam ter diferenciais muito além dos 4 Ps. Um desses pode estar na Comunicação Empresarial. O planejamento de Comunicação passa a ser para o pequeno negócio tão importante quanto o plano de voo é para o piloto do avião (GOMES e NASSAR, p.24, 1997). Para que a empresa atinja seu público-alvo, além de acertar na criação de um bom produto ou serviço, o empreendedor precisará tornar o seu negócio conhecido e desejado pelos clientes. Será necessário manter-se competitivo e estar atento às mudanças de interesse e necessidades de seu público-alvo. Nesse caso, o plano de negócios deve ser competitivo com a realidade do mercado, caso contrário, poderá resultar em gastos não planejados. Fomentar investimentos, seja em marketing, comunicação ou mesmo financeiro, sem que antes tenham sido estabelecidos metas, prazos e recursos, impossibilitará o empreendedor de alcançar o sucesso. Para Gomes e Nassar (1997), o planejamento da empresa deverá ser pautado a partir de um olhar para o macroambiente em que a empresa estará inserida. Para os autores, dar início a uma empresa sem nenhum tipo de análise desse cenário em torno da organização, poderá significar o suicídio desse negócio. O olhar estratégico do pequeno empresário deve analisar o ambiente social e econômico, suas influências sobre o negócio e segmento de atuação. O ambiente social e econômico determina, por exemplo, tendências que nortearão o comportamento do consumidor; novas tecnologias que darão origem a alguns produtos e provocarão a morte de outros; ou ainda, a possibilidade de produzir a custos menores. Num mundo globalizado, as fronteiras nacionais já não são obstáculos para a entrada de novos produtos nos mercados locais ou regionais, até então protegidos por barreiras tarifárias ou políticas. [...] Iniciar um negócio sem analisar o ambiente socioeconômico 51 no seu entorno é quase, em curto e médio prazo, um haraquiri. Já que sobre essa análise se sustentarão todos os outros aspectos dos planos de ação, principalmente no que concerne ao marketing e à comunicação da pequena empresa (GOMES e NASSAR, p. 33, 1997). Diante desse cenário mercadológico, no qual as micro e pequenas empresas estão inseridas, planejar de forma mais consistente a comunicação desse novo empreendimento com vistas os benefícios internos e externos, poderá gerar bons resultados logo no início do negócio. A ideia será tornar o plano de comunicação algo mais amplo, atuando ao lado, ou como complemento, do plano de marketing. As micro e pequenas empresas têm a possibilidade de fazer bom uso da comunicação, seja na forma operacional, estratégica ou tática que, aliadas a um planejamento bem elaborado, poderão adquirir vantagens competitivas para o negócio. A comunicação poderá ser construída desde a base da empresa, como parte imprescindível a qualquer empreendimento, capaz de gerar um desenvolvimento econômico sustentável. Para Gomes e Nassar (1997), diante de tantos fatores cruciais para o sucesso de uma pequena empresa, com certeza, comunicação é algo que trará grande diferencial estratégico para o negócio, mas que requer planejamento. A Comunicação, diante de tantas situações e itens apresentados, não é um remédio milagroso. É apenas um dos itens mais importantes que, atualmente, devem fazer parte de qualquer produto ou serviço. É um item que não se compra e se adiciona instantaneamente no dia-a-dia de uma empresa, mas que pode ser implantado já no primeiro dia em que o novo negócio foi sonhado (GOMES e NASSAR, p.85, 1997). Um planejamento de comunicação cabe em qualquer tipo e tamanho de empresa, já que não está atrelada ao seu porte, sendo de grande utilidade tanto às micro, quanto pequenas, médias e grandes empresas. O plano de comunicação poderá, também, assumir um papel mais estratégico. O primeiro passo em direção ao planejamento estratégico em comunicação é o reconhecimento da importância desse processo. Para Albuquerque (1981, p.65), “independentemente da filosofia da comunicação de uma empresa – preventiva, ofensiva ou defensiva – a elaboração de planos é indispensável para a solução de problemas ou para a exploração de oportunidades de comunicação”. A grande vantagem que uma empresa poderá obter com um processo de planejamento estratégico em comunicação será o importante auxílio na busca dos objetivos da empresa, traçando caminhos que permitam uma interação com todos os públicos estratégicos e um 52 estímulo que ajude a atingir as metas desejadas por cada participante do processo e pela empresa como um todo. Para essa questão, Corrado (1994) faz a seguinte exposição: A estratégia de comunicação consiste no plano da empresa para transmitir as notícias para seus públicos. A estratégia define quem são esses públicos, por que é importante comunicar-se com eles, quando e onde a comunicação deve acontecer, quem é responsável pelas comunicações, o que deve ser dito e qual é o vínculo com as metas comerciais. Porém, a parte mais importante da estratégia de comunicação é o ambiente de comunicações que a administração superior cria. Para ser eficiente, a administração superior precisa liderar o planejamento das comunicações. (CORRADO, 1994, p.34) Independentemente do processo a ser seguido, todo planejamento, sendo ele estratégico ou não, em comunicação deve ter como premissa estabelecer grandes diretrizes, orientações e estratégias para a prática da comunicação de forma integrada. Além disso, o importante será ter muito bem definido e descrito dentro do plano de negócios como será esse plano estratégico de comunicação, e como serão otimizadas as práticas e ferramentas de comunicação com foco em tornar o negócio mais eficaz. O plano deverá acompanhar a empresa desde a base, isto é, desde os primeiros rascunhos do plano de negócios que ajudará a empresa a tornar o negócio uma realidade. 2.3 Comunicação como vantagem competitiva O termo vantagem competitiva está relacionada à possibilidade que uma empresa tem de se destacar em relação aos seus concorrentes e, assim, ultrapassá-los no mercado, conquistando clientes e, claro, aumentando o seu faturamento. Barney (1991, p. 102) afirma que uma empresa “possui vantagem competitiva quando ela implementa uma estratégia de criação de valor que não pode ser simultaneamente implementada por qualquer outro competidor corrente ou potencial” e para Porter (1990, p.3), “a vantagem competitiva surge fundamentalmente do valor que uma empresa consegue criar para seus compradores e que ultrapassa o custo de fabricação pela empresa”, sendo valor “aquilo que os compradores estão dispostos a pagar pelo que a empresa lhe oferece, ou seja, cada indivíduo estabelece o valor do produto ou serviço”. Criar vantagem competitiva também está atrelado a excelência na execução das atividades e processos da empresa. Para Boar (2002), um dos maiores desafios da empresa está em fazer dessa vantagem competitiva algo que se sustente a longo prazo. Segundo o autor, para que uma empresa construa vantagens competitivas que se tornem sustentáveis, 53 será necessário disponibilizar aos clientes algo que a diferencie dos concorrentes, de forma que seja uma vantagem indiscutivelmente única e exímia. Com relação a essa discussão, Barney (1991) analisa que a empresa deve possuir atributos completamente distintos e únicos tanto para os clientes, como para os concorrentes. A vantagem competitiva será algo que não seja óbvio ou facilmente copiado pela concorrência. Sendo essa vantagem competitiva, ainda segundo Barney (1991), podendo ser atingida por recursos de qualquer espécie, sejam eles financeiros, materiais, humanos etc., e já que a comunicação compõe ao lado desses elementos uma atividade fundamental para a administração de uma empresa, ela poderá compor um elemento muito importante para a obtenção de vantagem competitiva nas micro e pequenas empresas. A principal contribuição da comunicação será com relação à diferenciação que ela poderá trazer para o negócio, será na construção de uma imagem favorável perante os concorrentes. O Sebrae (2011) realizou uma pesquisa em que apontou que os primeiros dois anos de uma pequena empresa são os mais críticos. O número de empresas que sobrevivem a esse período era de 71,9% em 2010 e 73,1% em 2011. Dentre os motivos apresentados como os principais fatores para a mortalidade das empresas está a severa concorrência, falta de conhecimento com questões relativas às estratégias empresariais e a queda nas vendas. Se levarmos em conta esses fatores, é possível perceber que a comunicação conseguiria atuar de forma a reverter o quadro, atuando junto aos consumidores para tornar a marca da empresa mais conhecida e, consequentemente, disputar a atenção com os concorrentes. O micro e pequeno empreendedor precisa tornar o seu negócio conhecido. Quanto mais conhecida for a marca, maior será a sua chance de ser escolhida entre os milhares de concorrentes. E só será possível construir uma imagem favorável na cabeça do consumidor a partir do momento que o empreendedor divulgar a sua marca. Para Porter (1999, p.84), a informação é um dos fatores que atribuem vantagem competitiva, e a tecnologia da informação “está reformulando o próprio produto: a totalidade do pacote de bens físicos, de serviços e de informação oferecidos pelas empresas, de modo a criar valor para os compradores”. Além disso, a percepção desenvolvida por cada cliente com referência ao valor será de extrema importância, como aponta Porter (1999, p.129) “os compradores não pagarão por valor que não percebam, não importa quão real ele possa ser”. Isso reforça a necessidade que a organização tem de se comunicar com seu público sobre seus produtos e serviços, criando uma boa percepção por parte dos consumidores sobre sua marca. Mesmo sendo ainda primário, já existe uma consciência entre os micro e pequenos empreendedores sobre a necessidade de utilizar a comunicação com seus públicos de forma 54 estratégica. A comunicação, nesse caso, será utilizada para passar as mensagens estratégicas para o negócio como forma de assegurar as demais etapas para o crescimento do negócio. Para Gomes e Nassar (1997), as empresas estão sendo avaliadas pelos seus consumidores nos mais diversos canais de comunicação, devido a isso, trabalhar um “mix de comunicação” acabou se tornando a melhorar opção para os empreendedores. Para entender esse mix, basta examinar o espaço de gôndolas de um supermercado destinado aos produtos de higiene e limpeza, detendo-se especificamente na área reservada aos sabões em pó. Lá, vamos encontrar uma verdadeira guerra pelo olhar do consumidor. Um produto pobremente embalado tem poucas condições de sobreviver junto a outros que se sobressaem a partir de suas embalagens, postadas nas prateleiras armadas de cores das donas de casa. [...] Tudo isso somado a ações promocionais alavancadas pelo preço oportuno, ou, ainda à distribuição de amostras do produto feita por demonstradores sorridentes e “embaladas” com as cores da embalagem. O mix de Comunicação que vemos ali, no ponto-de-venda, muitas vezes se espalha por anúncios em outdoors, jingles nas rádios e anúncios em revistas, jornais e televisão (GOMES e NASSAR, 1997, p.5455). Alguns termos como comunicação organizacional, assessoria de imprensa, publicidade, marketing, propaganda e relações públicas, ainda são desconhecidos para muitos empreendedores. Inclusive, para alguns também é obstante que cada uma dessas matérias tenham diferentes aplicações e técnicas sendo, ao mesmo tempo, complementares dentro de um plano estratégico de atuação e, claro, que possa ser um investimento importante para a empresa. A gestão da comunicação no ambiente empresarial acontece de forma muito similar numa grande ou micro empresa. A parte técnica da comunicação tem aplicabilidade indiferentemente do porte da organização, assim como a qualidade que deverá ser apresentada também indefere do tamanho. Assim como qualquer outra prática administrativa do dia a dia da empresa, fazer uso da comunicação exigirá planejamento estratégico e busca de informação por parte dos empreendedores. Na I Sondagem Balcão de 1996, o Sebrae tinha entre seus objetivos “identificar algumas variáveis associadas ao problema de financiamento enfrentado pelas micro e pequenas empresas”. Na pesquisa nacional foram entrevistadas 1.463 empresas de pequeno porte [...]. Uma das perguntas da Sondagem era sobre a finalidade dos empréstimos obtidos pelas micro e pequenas empresas junto a várias fontes. Entre inúmeras respostas, os recursos destinados à Comunicação (divulgação e marketing) atingiram o índice de apenas 0,3% do capital conseguido. [...] O que nos leva a deduzir que o uso da Comunicação de forma elaborada, obedecendo a um 55 planejamento e feito com um mínimo de técnica, dentro das operações das micro e pequenas empresas, praticamente não existe. (GOMES e NASSAR, 1997, p. 22 e 23). Há várias mudanças ocorrendo no contexto social, político, econômico, cultural e tecnológico fazendo surgir empreendedores mais críticos, conscientes e exigentes, principalmente com a consolidação do seu negócio. Na atualidade, vivemos uma era da globalização e da tecnologia, o que faz com que as organizações, especialmente as micro e pequenas, percebam a necessidade constante do melhoramento dos processos produtivos, na busca pautada pela qualidade, o que demanda também a inclusão de novas formas de gerenciamento. E, nesse ponto, a comunicação surge como um elemento primordial à gestão empresarial. As empresas perceberam e admitiram que comunicar é preciso, e que para atender e satisfazer às necessidades de seus públicos e obter deles uma opinião favorável, elas devem construir uma ponte de ligação até eles. Basta observar os esforços pelas organizações em criar Serviços de Atendimentos aos Clientes (SACs), pós-venda, políticas de responsabilidade social, entre outras coisas que visam conquistar a confiança da sociedade. É nesse momento que a cultura da comunicação começa a fazer parte, de forma estratégica, do contexto organizacional que, hoje, se faz presente, configurando como uma ferramenta fundamental para a sobrevivência dos negócios, tanto das grandes como das micro e pequenas empresas. 56 Capítulo III – COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E NOVAS TECNOLOGIAS PARA COMUNICAÇÃO: DISCUSSÕES TEÓRICAS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS Conforme já vimos no capítulo anterior, comunicação é parte primordial para o dia a dia das empresas, especialmente das micro e pequenas empresas, foco deste trabalho. Segundo Duarte e Graça (2009, p.334), a comunicação dá sentido à existência das organizações e consistência a todas as ações na construção de uma identidade organizacional. Qualquer empresa, a partir do momento em que se constitui, precisa aprender tudo sobre os produtos com que deve lidar diariamente e deve dominar a complexidade do mercado em que está inserida, assim como, também, deverá aprender a se comunicar. Isto é, comunicação deve transformar-se em tema de aprendizagem diária, compreendendo como ela acontece, como pode ser melhorada, como pode ajudar a empresa a se adaptar às mudanças de mercado para ser competitiva. Enfim, deve tornar a comunicação parte da aprendizagem organizacional, como todos os demais processos: Fazer fluir essa consciência sobre o que a comunicação significa para a organização e saber como transformar experiências isoladas em algo que toda a organização possa usar é tarefa que envolve diferentes atores sociais e mudanças nas estruturas de poder. Deixa-se de pensar a comunicação como uma estratégia focada prioritariamente na obtenção de visibilidade pública dos dirigentes para entendê-la como uma atividade mais orgânica e participativa em que os atores são múltiplos e o resultado final é bem mais resiliente (DUARTE e GRAÇA, 2009, p. 354). Nesse sentido, Duarte e Graça (2009) ressaltam que a comunicação não é mais um produto, mas um processo contínuo e em constante mudança durante os mais diversos momentos da vida da empresa. A troca de informações, proporcionada pela comunicação, cria interações e influências mútuas entre vários elementos, estruturando o modo de funcionamento do conjunto. Compreender essas interações nos mais diversos níveis é reconhecer de que modo a comunicação funciona. 3.1 Comunicação Organizacional - Teoria e seus Conceitos Os estudos da comunicação são originados da práxis, e foi a partir da prática que os estudiosos iniciaram suas investigações científicas. Matos (2006) afirma que o campo acadêmico da comunicação foi constituído no país após a inserção da mão de obra técnica no 57 mercado de trabalho e que por isso a pesquisa e o ensino em comunicação cresceram sobre bases instrumentais e pragmáticas. Como o modelo de ensino da comunicação no Brasil seguiu os padrões estadunidenses, o modelo de gestão e prática comunicacional das organizações também se fundamentou dessa maneira. Compreende-se que a trajetória teórico-conceitual da comunicação nas organizações teve como base principal a Teoria Funcionalista. A Teoria Funcionalista foi fundamentada no pensamento norte-americano. Ela surgiu na era do positivismo e trata a comunicação como uma ferramenta para transmissão de informação. Apresenta o modelo clássico: emissor, mensagem e receptor. A proposta era, entre outras questões, identificar os fatores que interferem na eficiência da comunicação. Na Teoria Funcionalista, a comunicação precisa ser compreendida dentro das questões: quem; diz o que; em que canal; para quem e com que efeito (LASSWELL, 1987). Essas questões podem aumentar a eficiência da comunicação nas organizações, mas são restritas a partir do momento que o emissor e o receptor são pensados de maneiras distintas. Há um emissor que controla a emissão da mensagem para um receptor passivo, que aguarda e só participa quando lhe é permitido. Restrita também porque ignora a amplitude da comunicação e o quanto ela está imbricada na vida da organização (BALDISSERA, 2009). Ainda dentro da visão funcionalista, porém já com os olhos mais voltados para o receptor, a Teoria dos Usos e Gratificações representou o começo de envolvimento do receptor na produção da mensagem. Foi uma teoria construída para avaliar a opinião das audiências. Segundo Silva (2006): A perspectiva do Usos e Gratificações rompe o paradigma de o receptor sempre ser analisado no final do processo de comunicação; no modelo tradicional há um meio, um conteúdo exposto e um receptor que recebe o conteúdo. Neste modelo convencional o receptor é passivo. Na teoria dos usos e gratificações este paradigma é quebrado já que a teoria parte do pressuposto de que a audiência é ativa, podendo escolher os meios e conteúdos que melhor condizem com seus anseios, propósitos e gostos (SILVA, 2006, p. 9). Outro importante estudo que traz uma visão para as funções do receptor é o pensamento latino-americano, fortemente influenciado pelos estudos do professor Jesús Martín-Barbero, que procurou compreender o processo comunicacional a partir dos dispositivos socioculturais relacionados à emissão e à recepção das mensagens a partir da sua teoria das mediações. Na redefinição da cultura, é fundamental a compreensão de sua natureza comunicativa. Isto é, seu caráter de processo produtor de significações e não de mera circulação de informações, no qual o receptor, portanto, não é um 58 simples decodificador daquilo que o emissor depositou na mensagem, mas também um produtor. O desafio apresentado pela indústria cultural aparece com toda a sua densidade no cruzamento dessas duas linhas de renovação que inscrevem a questão cultural no interior do político e a comunicação, na cultura. (MARTÍN-BARBERO, 1997, p.287) Os processos de mediações, os novos obstáculos produzidos pelo cotidiano, os hibridismos culturais, as atividades de recepção diante da indústria cultural e a realidade de consumo marcaram um conjunto de ações dos pesquisadores latino-americanos. Todas essas mudanças terão um importante significado na compreensão da produção social mediada pelos meios de comunicação. Sendo o grande salto identificado pelo entendimento do leitor como produtor de sentido e não apenas um “objeto” dominado pelos efeitos de uma ação externa de comunicação. Mesmo não sendo o foco desta dissertação tratar as correntes teóricas da comunicação, elas se fazem necessárias para compreender as transformações sociais e as demais correntes de pensamentos que se seguem a essas teorias, assim como entender a participação dos sujeitos nos processos comunicacionais e nas organizações. Os conceitos de organização e comunicação são bastante próximos, sendo, talvez, quase indissociáveis em muitos aspectos. A organização é: Um fenômeno social e, portanto, um processo humano no qual as questões hoje se concentram em comunicar e se relacionar; organização, por conseguinte, não significa mais simples recipientes nos quais as atividades de comunicação ocorrem. Comunicação está diretamente relacionada com o desenvolvimento de uma organização (MARCHIORI, 2008, p. 249). Para Nassar (2009, p. 62), a organização é um “[...] sistema social e histórico, formal, que obrigatoriamente se comunica e se relaciona, de forma endógena, com seus integrantes e, de forma exógena, com outros sistemas sociais e com a sociedade”. O autor afirma que entre as características comuns a todas as organizações está o relacionamento entre pessoas, a divisão interna de trabalho, memória, história e identidade própria, a necessidade de enfrentar o desafio das mudanças e a busca por resultados. Além da necessidade de adaptação aos clientes/consumidores e o enfrentamento da responsabilidade social e ambiental. A partir do conceito de organização, busca-se referência em Kunsch (2009) para entender a comunicação nas organizações, sendo aqui neste trabalho descrita como Comunicação Organizacional10. Para a autora, a comunicação é “um fenômeno inerente à 10 As demais expressões referentes à Comunicação Organizacional, como Comunicação Empresarial, Comunicação Corporativa e Comunicação Institucional, serão reconhecidas como sinônimos. Os diferentes 59 natureza das organizações e que acontece em diferentes dimensões, como a humana, instrumental e estratégica, e sob fortes influências conjunturais e dos contextos econômicos, sociais, políticos, culturais e tecnológicos” (KUNSCH, 2009, p. 112). Para Baldissera (2009), dentro da organização acontece um fluxo de sentidos, quase natural, que “encontra/(re)cria” os próprios lugares. Boatos, fofocas e as mais diversas manifestações (tanto positivas como negativas) fazem parte do fluxo de sentidos que acontece dentro da organização. Segundo o autor: “[...] a comunicação organizacional, em sentido complexo, compreende os mais diversos fluxos de sentidos que se atualizam quando das relações organizacionais, ultrapassando os lugares do planejado, do oficial, do formalizado” (BALDISSERA, 2009, p. 162). O conceito de Comunicação Organizacional também pode ser compartilhado a partir de outros pontos de vista. Oliveira e Paula (2007) afirmam que a Comunicação Organizacional leva em conta as práticas de três subcampos: relações públicas, jornalismo e publicidade/propaganda. Para as autoras, outros campos devem ser considerados no momento do planejamento e definição das práticas comunicacionais como: sociologia, política, administração e filosofia. Denominam os públicos de interesse/stakeholders de atores sociais e dividem a interação entre organização e público em dois fluxos: informacionais (ações e instrumentos usados para disseminação de informações) e relacionais (oportunidade de encontros e interações entre organização e atores sociais). A partir desse posicionamento, a organização deixa de ser o núcleo dos processos comunicacionais com os públicos de interesse ao redor e passa a perceber a organização e seus públicos/atores sociais no mesmo plano, isto é, lado a lado em uma caminhada conjunta da definição dos processos comunicacionais. As autoras entendem que a Comunicação Organizacional “engloba políticas e estratégias de comunicação elaboradas a partir dos valores e objetivos da organização, numa dimensão articulada à gestão organizacional, bem como às expectativas e demandas dos atores sociais com os quais interage” (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 21). A Comunicação Organizacional tem se aproximado muito dos conceitos de estratégia ao englobar os processos comunicacionais no fluxo de interação entre emissor e receptor. Para Bueno (2009, p. 3-4), a Comunicação Organizacional é em “conjunto integrado de ações, termos usados pelos autores serão mantidos conforme o original, porém, sempre com o entendimento da nomenclatura Comunicação Organizacional. 60 estratégias, planos, políticas e produtos planejados e desenvolvidos por uma organização para estabelecer a relação permanente e sistemática com todos os seus públicos”. Mesmo tendo as ações e práticas/instrumentos com um ponto necessário para as organizações estabelecerem comunicação com seus públicos, Kunsch (2009, p. 70) lembra que “[...] como fontes emissoras de informações para seus mais diversos públicos, não devem ter a ilusão de que todos os seus atos comunicativos causam os efeitos positivos desejados ou que são automaticamente respondidos e aceitos na forma em que foram intencionados.” Pensamento este compartilhado por Mainieri e Ribeiro (2011), que destacam uma visão muito mais estratégica do que instrumental, ultrapassando a simples ação de fazer e executar, aproveitando ao máximo a complexidade que oferece o fazer comunicacional. Destacam assim o fato de que “numa perspectiva dialógica, a comunicação organizacional extrapola a amarra de um processo de informação de deveres e condicionamentos e passa a incorporar relações participativas, onde o dialogismo traz a discussão e o confronto de ideias” (MAINIERI e RIBEIRO, 2011, p. 5). 3.2 Comunicação Integrada – Consciência Comunicativa e Relacionamentos A Comunicação Organizacional tem avançado muito em termos de desenvolvimento de práticas e processos comunicacionais. De forma geral, as organizações estão identificando que por meio dessas ações poderão alcançar de forma mais rápida e eficiente os objetivos ante o público de interesse, seja para incremento nas vendas, seja para melhorar o relacionamento. Dessa forma, as principais funções da Comunicação Organizacional podem ser definidas como “a criação e o desenvolvimento de conhecimento para que se possa consolidar o futuro de uma empresa, fazendo valer suas atitudes em nível interno e externo, trabalhando de maneira integrada sua identidade, imagem e reputação organizacional (MARCHIORI, 2008, p. 259). Perante tamanha importância, a Comunicação Organizacional evoluiu para um patamar em que está mais próxima das altas decisões da organização, assumindo postura mais estratégica e atuando na construção da realidade da organização. Para que a gestão da Comunicação Organizacional contribua estrategicamente para o melhor desempenho, é preciso pensá-la de forma integrada, reunindo comunicação interna, administrativa, institucional e mercadológica, ou seja, englobando a comunicação em âmbito interno e externo. De acordo com Kunsch (2003), a necessidade de analisar a comunicação organizacional integrada deve-se ao fato de que ela permite que se estabeleça uma política global, devido à maior coerência entre as diversas práticas comunicacionais, ao 61 estabelecimento de uma linguagem comum entre os setores e a um comportamento organizacional homogêneo. “Trata-se de uma gestão coordenada e sinérgica dos esforços humanos e organizacionais com vistas na eficácia” (KUNSCH, 2003, p. 180). Mesmo reconhecendo que a comunicação integrada permanece muito mais no discurso do que propriamente na prática das empresas, Bueno (2009, p. 11) reconhece a necessidade de que as empresas definam um “mix global de comunicação”: Ainda que, operacionalmente, haja uma descentralização, tendo em vista a execução das atividades específicas de comunicação (Relações Públicas, assessoria de imprensa, comunicação interna, propaganda/publicidade, marketing etc.), o planejamento deve ser centralizado. Isso acarreta economia de recursos e de esforços e contribui para a consecução do que devem ser os objetivos maiores da organização: aumentar a vantagem competitiva da empresa ou entidade ante seus concorrentes e consolidar sua imagem (ou reputação) ante a opinião pública (BUENO, 2009, p.11) Segundo Kunsch (2009, p. 113), a integração entre as diferentes áreas da comunicação busca compreender o sistema como um todo: os níveis de recepção da comunicação, os processos, o funcionamento, as práticas e todas as implicações do contexto. A comunicação integrada irá analisar as manifestações e os discursos que se dão nas diferentes modalidades comunicacionais para criar e manter o relacionamento com os públicos, sociedade e opinião pública. E, quando bem planejado, fará toda a diferença para o negócio: O planejamento constitui um processo complexo e abrangente. Possui dimensões e características próprias, implica uma filosofia e políticas definidas e é direcionado por princípios gerais e específicos. Não é algo solto e isolado de contextos. Está sempre vinculado a situações e a realidades da vida de pessoas, grupos e das mais diversas organizações e instituições da esfera pública e privada. [...] o planejamento não se restringe ao que fazer, de que modo e com que recursos [...] exige conhecimentos, criatividade, análises conjunturais e ambientais, além de aplicativos instrumentais técnicos. (BUENO, 2009, p.39 apud KUNSCH, 2003, p. 2045). A comunicação integrada e operando de forma planejada deverá estar na pauta de toda a organização, do presidente ao mais novo funcionário contratado. A Comunicação Organizacional e todas as práticas e aplicações que a integram são fatores importantes para o sucesso da empresa. Porém, o grande desafio das organizações será como, a partir das práticas e aplicações conhecidas, se pode potencializar a comunicação para que envolva aspectos essenciais à sobrevivência de negócio como: vendas, coesão interna, engajamento, gestão, visão, reputação e imagem. 62 O relacionamento com os públicos de interesse será essencial para a sobrevivência do negócio. Identificar os públicos, suas demandas e trabalhar em prol de atendê-las da melhor forma possível são práticas que aumentaram consideravelmente a importância dada pelas organizações à área de comunicação, principalmente nos últimos anos. Manter uma posição autoritária, uma comunicação de mão única já não serve para nenhum modelo de negócio, principalmente quando as empresas olham para o cenário concorrencial altamente competitivo. Para Bueno (2003, p. 52), as organizações com perfil moderno já perceberam que é mandatório saber relacionar-se e estão conscientes de que é fundamental criar condições para que isso aconteça. Uma organização tem diversos públicos de interesse/stakeholders e, assim como o público interno e os consumidores diretos, os demais públicos também têm grande importância no resultado final da empresa. [...] os públicos de interesse não se localizam apenas entre os que contribuem para a receita explícita da empresa (remunerando produtos e serviços), e que é arriscado moldar um processo de gestão e estabelecer relacionamento que se enderecem quase exclusivamente a eles (BUENO, 2009, p. 230). Para Duarte e Monteiro (2009, p. 340): Toda organização tem um conjunto de valores e crenças, atitudes e comportamentos, modos de pensar e agir partilhado pelas pessoas que a integram. A esse conjunto de elementos que conferem a identidade coletiva e o significado instituição chamamos de cultura organizacional (DUARTE; MONTEIRO, 2009, p. 340). A cultura de uma organização será fator determinante para a valorização da informação entre as pessoas envolvidas, assim como saber se estão dispostas e abertas a superar desafios pela própria circulação da informação e a adquirir novos conhecimentos: Compartilhar é trocar, interagir e dialogar, bem como se despir de barreiras políticas, emocionais e ideológicas. Só acontece em ambientes em que existe uma cultura favorável ao engajamento em práticas de comunicação natural e permanente. Em outras palavras, onde cada um sabe que o diálogo, a circulação de informações e a participação andam juntas com o desenvolvimento coletivo que viabiliza o sucesso organizacional. Para isso, é necessária uma consciência comunicativa e uma capacitação no uso dos diferentes instrumentos e mecanismos de comunicação. (DUARTE; MONTEIRO, 2009, p. 342). 63 As estratégias de comunicação não deverão ser apenas voltadas para a disseminação das informações de cima para baixo, dessa forma, nunca haverá valorização das demais opiniões ou, mesmo, incentivo para que o público interno troque informações entre si, tornando o exercício e o retorno da comunicação uma utopia. O resultado desse tipo de comportamento será a atribuição total e de responsabilidade pela comunicação da organização única e exclusivamente aos profissionais da área, sendo os demais agentes da organização apenas receptores das informações prontas. Segundo Duarte e Monteiro (2009), as práticas comunicacionais e a consciência comunicativa estão juntas e são de responsabilidade de todas as áreas da organização. Os dirigentes devem apoiar novas experiências e experimentações, reconhecer os esforços das equipes, destinar recursos e, claro, dar apoio às práticas comunicacionais. Sendo a consciência comunicativa algo muito mais de dentro da organização para fora, é importante destacar que é um processo contínuo, sistemático e permanente. A organização irá aprender gradativamente a se comunicar e a incorporar consciência comunicativa. Outro público de interesse, extremamente importante para organização, é a mídia. Segundo Argenti (2011), o interesse crescente do público pelas empresas privadas, afinal, muitas delas têm relação direta com o cotidiano das pessoas, fez com que surgisse interesse por parte da mídia. Isto é, a partir do momento que a grande mídia passou a pautar-se pelo interesse crescente do grande público pelas empresas privadas, a cobertura do setor privado sofreu uma grande mudança, e as empresas se viram obrigadas a pensar estratégias sobre o relacionamento com a mídia. Para o autor, muita empresa: [...] já se viu na posição de ser minuciosamente examinada pelo público e pela mídia, e muitas empresas aprenderam da forma mais difícil possível que ter uma relação ruim ou não se relacionar com a mídia nesses casos só piora sua situação (ARGENTI, 2011, p. 189). Na concepção de Bueno (2009), o assessor de imprensa se tornou um gestor de relacionamentos, hoje sendo muito mais do que um ex-jornalista de redação que “planta” as notícias de clientes na base da amizade. Assim como a Comunicação Organizacional trabalha de forma muito mais estratégica, o profissional à frente do relacionamento com a mídia deverá ter a mesma postura: Ele precisa estar apto a planejar e a viabilizar oportunidades de divulgação, a conhecer em profundidade o processo de produção jornalístico (que, como vimos, se tornou mais complexo com a internet e a segmentação) e a entender a dinâmica do mercado e da sociedade, para que as ações, os produtos e as estratégias que colocar em prática cumpram os objetivos da 64 empresa (que conciliam interesses comerciais e institucionais (BUENO, 2009, p. 231). Tanto Bueno (2009) quanto Argenti (2011) afirmam que são outros tempos e que a internet, juntamente com o desaparecimento de alguns veículos de mídia e o enxugamento das redações, provocou importantes mudanças, tanto no comportamento do profissional como na forma de construção desses relacionamentos. Para Bueno (2009, p. 231) o profissional responsável por elaborar a estratégia de relacionamento “precisa estar em dia com os modernos processos de gestão, dominar as novas tecnologias e realizar uma leitura sistemática do microambiente, em particular o que circunscreve o universo da comunicação [...]”. Na era digital, as velhas regras de comunicação continuam sendo válidas, veracidade, precisão e verificação da informação continuam sendo verdadeiras para aqueles que usam as mídias digitais, tanto quanto apenas as mídias tradicionais eram usadas. O que mudou foi a velocidade e o ritmo das notícias. Vive-se numa escala de informações de 24 horas por dia/sete dias por semana. É como se não houvesse um prazo final, porque todos estão sempre no deadline. 3.3 Comunicação na Era Digital Nos últimos anos foi possível ver e acompanhar uma revolução da comunicação que está diretamente ligada ao crescimento contínuo da habilidade de trocar informações de forma mais rápida e ampla. As novas tecnologias de comunicação transformaram-se num paradigma das sociedades modernas, colocando em transformação diária todas as esferas da vida social. Holtz (1999, p.21) afirma que os paradigmas que os comunicadores conhecem passaram por mudanças irrevogáveis em função das novas tecnologias de comunicação, passando de uma comunicação de “poucos para muitos” para “muitos para muitos”. Esses públicos instantâneos e dinâmicos exercem muito mais importância no papel da fiscalização e controle do que é comunicado. A partir da década de 1990, a troca de informações e a diminuição das distâncias se tornaram amplamente exploradas. As pessoas passaram a transitar com mais naturalidade sem limites geográficos, trocando informações com indivíduos do outro lado do mundo formando uma grande rede sendo, ao mesmo tempo, acessado por todos. Castells (1999) destaca o papel dessa atual sociedade em rede regida pelas novas tecnologias e pelo informacionismo. O grande trânsito de informações e a velocidade com que esses fluxos se deslocam fizeram com 65 que a atual sociedade, pós-moderna, fosse caracterizada por uma fragmentação de atuações e sentidos, em que a velocidade se faz obrigatória no desenvolvimento das trocas sociais. Fazendo-se uso do termo modernidade, Hall (1998, p.14) considera que “as sociedades modernas são, portanto, por definição, sociedades de mudança constante, rápida e permanente”. Já que nesse cenário, o homem pós-moderno torna-se descentralizado, fragmentado, sendo influenciado por diferentes realidades que auxiliam na construção de sua identidade. Baseado no pensamento de Hall é possível refletir sobre a vida social e as possibilidades de comunicação e relacionamentos que a envolvem. É um cenário de multiculturalimos em que a palavra de ordem é a convivência pacífica e harmoniosa com todos os povos. Sobre este enfoque, Wolton (2006) descreve que vivemos a terceira globalização, sendo a primeira delas sobre aspectos políticos e a segunda econômicos. A terceira globalização consiste em levar em conta as questões de cultura e de comunicação e, para administrar a diversidade cultural, que se tornou um fato importante do mundo contemporâneo, ter a vontade de construir a coabitação cultural (WOLTON, 2006, p.43). O autor também analisa que a invenção das novas tecnologias e o grande fluxo de informações não trazem mudanças e melhoras para os processos comunicacionais, visto que a simples transmissão de informação não envolve completamente os aspectos mais profundos do ato de comunicar. Segundo Wolton (2006), a comunicação envolve troca, entendimento, significação, aspectos muitas vezes não presentes nos processos comunicacionais mediados pela web. Confundir a comunicação com a performance das máquinas, a abundância de informação com a intersubjetividade é tão ingênuo ou demagógico quanto denegrir a comunicação como um processo de intercompreensão, reduzindoa, ao mesmo tempo, a um simples processo de transmissão unilateral (WOLTON, 2006, p.83). Essas novas trocas comunicacionais ocorrem no ambiente do ciberespaço, na chamada web 2.0, definida por O’Reilly, criador dessa terminologia, da seguinte forma: A web 2.0 é uma revolução nos negócios da indústria da computação gerada pela Internet vista como uma plataforma, e pelas tentativas para entender as regras para o sucesso nessa nova plataforma. A principal das regras é: construir aplicativos que aproveitam os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais eles forem usados pelas pessoas (O’REILLY, 2006, online, tradução autora). 66 Para Terra (2006, p. 13), os ambientes, antes multimidiáticos, passam a ser hipermidiáticos devido ao diálogo entre as mídias e à interferência e interação entre si, facilitando e aumentando a possibilidade da troca de informações. Levando em conta os meios de comunicação tradicionais, os fatores de diferenciação são a leitura de mensagens não-lineares ou hipertextuais, multiplicando-se os caminhos pelos quais se pode navegar. A autora ressalta que: (...) para manter uma comunicação de sucesso na web, a organização deve realizar um planejamento de relações públicas, no qual a palavra-chave é relacionamento e as linguagens de comunicação monodirecional são facilmente absorvidas pela interatividade da web (TERRA, 2006, p. 32). Outro debate importante sobre o uso de tecnologias 2.0 é sobre a maneira que se processa a comunicação dentro da organização. Para Duarte e Monteiro (2009), as novas tecnologias proporcionam uma prática comunicacional com fluxos cada vez mais otimizados, rápidos, ágeis e de grande alcance. Porém, sozinhas essas tecnologias não garantem a criação e a manutenção de fluxos de informação eficientes. Será fundamental que se adaptem ou, até, se mudem os comportamentos e as práticas de comunicação dentro das empresas. Segundo Scott (2008), a internet é quase sempre o ponto de parada durante as pesquisas sobre produtos que se deseja adquirir. Devido a isso, hoje a rede mundial de computadores passou a ser uma das mais poderosas armas na conquista dos consumidores: “Antes da internet, as empresas tinham duas opções significativas para atrair atenção: gastar uma fortuna para comprar e veicular anúncios ou conseguir publicidade gratuita na mídia. Mas a internet mudou as regras” (SCOTT, 2008, p. 5). A partir dos anos de 1990, as redes sociais transformaram-se em redes de informação potencializadas pela internet, o que tem facilitado a comunicação entre pessoas de qualquer parte do mundo e a qualquer tempo, deixando o contato presencial para trás. Segundo Castells (2003), em função da flexibilidade e do poder de comunicação da internet, a interação social online desempenha papel crescente, uma vez que as redes são montadas pelas escolhas e estratégias de atores sociais, sejam indivíduos, famílias ou grupos sociais: “Dessa forma, a grande transformação social em sociedades complexas ocorreu com a substituição de comunidades espaciais por redes como formas fundamentais de sociabilidade” (CASTELLS, 2003, p. 107). As redes sociais conquistaram o mundo e, especialmente, os brasileiros. Em reportagem no The Wall Street Journal, o Facebook, em 2013, atingiu cerca de 65 milhões de 67 usuários no Brasil, sendo o país com o segundo maior mercado da empresa em número de usuários, atrás apenas dos EUA, primeiro lugar da lista. Além disso, no final de 2012, o Brasil foi maior mercado fora dos EUA em número de visitantes no YouTube. Portanto, a popularidade das redes sociais fez com elas se tornassem um canal de mídia para atingir os públicos estratégicos das organizações. A presença das empresas nessas mídias passou de uma mera participação, para um canal estratégico de comunicação e para estabelecer relacionamentos. A preferência pelos novos canais digitais deve ser considerada no momento de estabelecer um planejamento estratégico de Comunicação Organizacional. Ferrari (2011) afirma que conhecer a cultura nacional significa identificar as concepções de vida em sociedade que marcam essa cultura. E, ainda, que para entender as organizações é preciso conhecer como são os relacionamentos e como as pessoas se comunicam mediante linguagens e atos em determinado contexto social: “Trata-se de um dos principais componentes de identidade organizacional, ou seja, de uma das suas características essenciais, que faz com que a organização seja o que é e se diferencie de todas as outras” (FERRARI, 2011, p. 146). Por tanto, entender como os públicos estratégicos se relacionam com a marca da empresa e estabelecer uma comunicação por meio das mídias sociais pode influenciar no poder de decisão desses públicos. Segundo Scott (2008), para que as empresas atinjam diretamente seus públicos com as mídias sociais e a internet, de forma ampla, destacam-se alguns pontos: • O mundo e as pessoas precisam saber o que a empresa faz e qual sua expertise – esse conhecimento pode ser passado por meio de websites, podcasts, blogs, e-books e outras novidades online que focam na necessidade do cliente; • Personalizar conteúdo e falar o que o público de interesse quer ouvir – os profissionais de comunicação devem pensar sobre nichos, assim conseguirão enxergar novas oportunidades para a divulgação da mensagem da empresa; • Conhecer os clientes que navegam no site de forma demográfica – ter um conteúdo de internet bem organizado conduzirá os clientes de forma natural ao principal objetivo: a compra; • As marcas devem tornar-se fornecedores de informação: atuando como publisher, elaborando uma estratégia editorial e de conteúdo específico para cada público; 68 • Contar a história da empresa de diferente forma – elaborar diferentes conteúdos para contar o que a empresa faz e qual a história da marca; • Alcançar os clientes por meio de conteúdo faz com que a empresa seja vista como líder no campo das ideias – o conteúdo veiculado por meio da internet tem efeito poderoso ao alcançar os públicos de interesse e contribuir diretamente para a construção da reputação online; além disso, o conteúdo tem o poder de transformar internautas em compradores ou admiradores da marca. De produtos de luxo a itens muito baratos, é possível vender qualquer produto ou serviço na internet e, inclusive, difundir qualquer mensagem ou imagem. A corrida em busca de um lugar no ciberespaço pelas empresas é crescente. Assim, a essência do trabalho de Comunicação Organizacional deve estar presente e direcionar o caminho a ser percorrido pelas empresas nas mídias sociais. Identidade organizacional, reputação, imagem, marca, missão e valores da organização devem continuar vigorando como foco do trabalho tanto online como offline. Qualquer mensagem disponibilizada na rede pode atingir milhares de pessoas quase imediatamente e causar grande impacto. Atualmente, é preciso que o ato de comunicar por meio das mídias sociais conquiste espaço e faça parte do planejamento da empresa. A área de comunicação das empresas deve ser entendida como estratégica e ter a capacidade de se atualizar a cada nova ferramenta que venha a ser criada. 3.3.1 Assessoria de Imprensa na Era Digital A sociedade digitalizada fez com que houvesse a necessidade de existir uma integração entre os novos suportes midiáticos digitais, descrito por Jenkins (2008) como convergência midiática. Segundo o autor, a convergência é mais do que uma mudança tecnológica. Ela é uma nova forma de pensar e fazer a produção, a distribuição e o consumo de conteúdos midiáticos. Por convergência refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam (JENKIS, 2008, p. 27). Esse novo modelo do mercado de comunicação e cultural apresentado por Jenkins (2008) contribuiu para a descoberta de um novo indivíduo, que transita por diferentes mídias, buscando em fontes variadas os conteúdos que deseja, e fez com que as empresas olhassem 69 com mais atenção a essa nova forma de consumo das informações, sejam elas voltadas para produtos, serviços, entretenimento ou conhecimento. E considerando esse ambiente comunicacional, a assessoria de imprensa tem e sempre terá um papel importante na troca dessas informações entre empresas, que querem atingir seus consumidores e a mídia. As mídias sociais proporcionam aos consumidores novas plataformas para compartilhar informações e expressar suas opiniões entre si e diretamente às empresas. Por meio de blogs, vídeos, Facebook, LinkedIn, Twitter e outras mídias sociais, empresas, jornalistas e consumidores estão se comunicando diretamente. Além disso, as mídias servem como uma ferramenta de monitoramento das informações, inclusive, auxiliando os jornalistas com o envio de fotos, vídeos, dicas de notícias etc. Durante algum tempo as “novas” mídias preocuparam as assessorias de imprensa, sendo criadas áreas separadas, com estratégias e planos separados. Hoje, muitas assessorias revisitaram esses conceitos e mudaram suas estratégias, integrando a assessoria de imprensa às atividades de planejar ações no Twitter/Facebook e atividades na blogosfera aos assessores de imprensa. Para Sullivan (2012), separar a mídia tradicional das “novas” mídias pode resultar em mensagens conflitantes, e, por isso, elas devem estar integradas em uma assessoria de comunicação ou de imprensa. As áreas de comunicação das organizações e suas assessorias de imprensa têm uma grande gama de ferramentas para usar e há espaço para todas serem usadas. “Uma equipe de relações públicas formadas apenas por pessoas que lidam com a imprensa escrita não tem sentido, assim como não tem sentido uma equipe de relações públicas somente com pessoas do Twitter. O segredo é perceber o que pode ser feito com cada uma dessas ferramentas e determinar qual a melhor combinação para atingir determinada meta” (SULLIVAN, 2012, p.39). Conforme Scott (2008) afirmou, as regras para se comunicar na web mudaram, mas o fato é que a comunicação através das mídias tradicionais, mídias sociais e a internet deve ter uma única mensagem, e a diversidade de alcance que essas ferramentas proporcionam deve ser usada para atingir diferentes públicos. As mídias sociais não mudam a relação com os jornalistas, porém se intensificam, já que muitos jornalistas são os primeiros usuários a seguirem as empresas. Assim como não mudaram a forma como os jornalistas escrevem e nem o comportamento dos leitores, o que mudou é forma como se consome a informação e como ela deve ser distribuída. A combinação de mídias tradicionais e novas amplia o espectro de comunicação, tanto na perspectiva do público, quanto para os jornalistas. 70 3.3.2 Liderança de Ideias A informação percorrida de boca a boca sempre foi fator importante para os negócios. Hoje, essa conversa acontece online. Porém, em vez de duas pessoas ou um pequeno grupo falar do próprio negócio, hoje milhares ou até milhões participam e acompanham o que se está falando. As novas mídias se tornaram tão grandiosas que influenciam e mobilizam grandes veículos de imprensa. Para Scott (2008), mesmo as tecnologias tendo formas diferentes de exibir o conteúdo, as empresas podem, por meio dessas mídias, se destacar pela liderança de ideias. A produção de conteúdos bem elaborados contribui para que as empresas tenham destaque no mercado e construam uma imagem positiva. Um exercício simples dessa prática é imaginar a área de Comunicação Organizacional de uma empresa de pneus. Ao invés de simplesmente mandar um press release sobre o material do qual o pneu é fabricado e a tecnologia desenvolvida, os profissionais resolvem escolher entre escrever um e-book ou fazer um vídeo sobre como dirigir com segurança, e depois enviam para jornalistas e postam nas redes sociais. A ideia desse tipo de ação é fazer com que o porta-voz se torne referência por meio das informações que produz: Empresas que usam o conteúdo online têm um objetivo claramente definido – vender produtos, gerar leads de vendas, assegurar contribuições ou atrair sócios – e colocam em ação uma estratégia de conteúdo que contribui diretamente para alcançar essas metas. [...] Essa forma de conteúdo marca uma corporação, consultoria ou entidade beneficente como uma fonte de credibilidade (SCOTT, 2008, p. 121). A forma de conteúdo utilizado pode ser: whitepapers ou artigos assinados; e-books; newsletter via e-mail, webinars; wikis; relatórios de pesquisa tecnológica ou de opinião; blogs, podcast; videocontent/vlogs, e, mesmo sendo diferentes formatos, para se tornar um líder de ideias, alguns passos devem ser seguidos: • Não escrever sobre a própria empresa; • Definir metas comunicacionais e organizacionais; • Entender o público, usando histórias da empresa, criando personagens e contando casos diferentes; • Escolher um bom título que chame atenção; 71 • Oferecer para todos os jornalistas, de forma intensa, o conteúdo, utilizando links de fácil acesso, fazendo parceria com pessoas qualificadas para ajudar no compartilhamento. A comunicação nas mídias sociais deve ser direta e interessante, portanto, criativa. Deve ser utilizada em momentos importantes da vida do consumidor e algo que agregue vantagens, tanto de informações como promoções. O foco é agregar valor para o consumidor e fidelizar o consumidor dessa informação. 3.3.3 Releases e Jornalistas Sociais Outras duas importantes mudanças ocorreram com o advento das mídias sociais: a forma de divulgação dos releases e o comportamento dos jornalistas. A distribuição de releases, que sempre sugere uma discussão um tanto polêmica, segue sendo odiada por alguns e amada por outros. O release ainda se configura como prática importante para divulgar ações na imprensa. Em pesquisa realizada pela consultoria Cristina Panella Planejamento e Pesquisa (2013) e encomendada pela empresa MercadoLivre, com cerca de sessenta jornalistas de todo o Brasil, o envio de release para as redações ocupa a terceira posição na preferência como fonte de informação, perdendo apenas para entrevistas exclusivas com fontes nacionais e internacionais. Porém, é notório que as redações brasileiras vivem um momento diferente, ficando cada vez mais enxutas, isto é, menos profissionais trabalhando e, praticamente, com o mesmo fluxo de demandas e atividades para atender. As publicações em formato jornalístico, de cunho institucional, também podem ser trabalhadas nas redes sociais. Muitas empresas de tecnologia como Google e Instagram, por exemplo, usam blogs e perfis sociais para anunciar novidades e publicar notas sobre as atividades, que se configuram pelo conteúdo jornalístico com informações factuais, formatadas para o ambiente social. O release para as redes sociais tem algumas vantagens. A primeira está relacionada com área de marketing digital. Conforme outros veículos repercutem o release e utilizam o link da publicação original, melhor a empresa será vista nos sites de busca, como o Google. O release social também terá interação direta com o público, para aquelas organizações preparadas para ouvi-los, é interessante captar a percepção das pessoas. O release difundido pelas redes sociais não anula as estratégias “tradicionais”, apenas agrega. 72 O advento da tecnologia trouxe muitos questionamentos, como o fato de que empresas de mídia até hoje, desde meados dos anos 2000, discutem como sobreviver ante toda essa troca de informações e busca por conteúdo na web pelos próprios leitores. Diante disso, a figura do jornalista acabou ganhando notoriedade para além da marca das empresas que representa. O Twitter é um bom espaço para observar esse fenômeno, em que muitos jornalistas ganham destaque com imagem descolada do veículo. Um exemplo é o jornalista André Trigueiro, profissional da Globo News, que tem mais seguidores nos perfis pessoais do que no do programa que apresenta. Segundo Scott (2008), as melhores abordagens com esses jornalistas será personalizar ao máximo o conteúdo. A empresa precisa pensar em maneiras de chegar até esse profissional, principalmente prestando atenção em todo o conteúdo por ele postado, já que muitos mantêm vida própria na geração de informações em blogs e sites. Caso a empresa possua conteúdo institucional sendo compartilhado em algum blog, também é interessante deixar que esse jornalista tome conhecimento. Para Scott (2008, p. 176-7), nesse contexto também será importante falar com blogueiros: “Uma menção em um blog de grande popularidade não apenas atingirá seus clientes, mas também repórteres e editores que o leem para se inspirar com ideias e entender as novas tendências de mercado em seu nascedouro”. Destacam-se algumas dicas importantes descritas por Scott (2008) sobre como alimentar essa nova mídia com informações: • Focar esforços em um jornalista de cada vez – entender exatamente sobre o que ele escreve e quais temas prefere abordar; oferecer as informações de forma exclusiva e dirigida; explicar qual a relação e por que suas informações podem ser de interesse dele; • Oferecer orientações para o jornalista entender o cenário em questão – algumas informações e novos cenários às vezes são difíceis de entender; buscar ajudar o jornalista a entendê-los, mesmo que necessariamente não seja uma temática diretamente relacionada ao negócio, bem como estar disponível para dar orientações, contribuirão para ser lembrado no futuro; • Explicar como o produto ou serviço funciona – deixar claro as mensagens institucionais por meio de porta-vozes da organização é extremante importante; porém, explicar e mostrar como de fato o produto ou serviço funciona contribui para a melhor compreensão do jornalista. A grande mídia ainda permanece sendo um canal muito importante para as ações de Comunicação Organizacional – é um canal vital para falar com o mercado, com os clientes e, 73 também, com os concorrentes; porém, os jornalistas têm muito trabalho a fazer, muitas empresas para cobrir e poucas horas para trabalhar. Ainda segundo Scott (2008), as organizações devem encontrar formas inteligentes de contar suas histórias para serem notadas, tanto pelos seus públicos como pelos jornalistas. 74 Capítulo IV – PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO NO AMBIENTE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Este capítulo trata do tema principal desta dissertação e apresenta a visão de alguns autores sobre a comunicação no ambiente de negócios das micro e pequenas empresas. Foram consultados livros, revistas especializadas, capítulos, artigos de trabalhos científicos, teses e dissertações que discutem as práticas da comunicação. O capítulo terá como base as discussões realizadas com cinco micro e pequenas empresas de vários setores que têm se destacado no cenário nacional. Buscou-se organizar as informações dos entrevistados, visando integrar à experiência de cada empresa a teoria existente em busca das melhores práticas em comunicação. A ideia deste capítulo será analisar à luz dessas práticas como elas funcionam no dia a dia das empresas, discutindo pontos de vista favoráveis ou mesmo contrários a partir da teoria existente. Mas reforça-se a disponibilização de todo o conteúdo das entrevistas no Anexo 1 desta dissertação. 4.1 O papel da comunicação no dia a dia das micro e pequenas empresas As micros e pequenas empresas estão entre os negócios que mais crescem no Brasil e no mundo, gerando empregos e movimentando a economia. Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae (2006), as micro e pequenas empresas representam 98% das empresas brasileiras. Porém, muitas quebram antes mesmo de completar um ano. Entre os principais fatores estão a falta de planejamento, gestão empresarial, marketing e comunicação. Ainda de acordo com a pesquisa, esses dois últimos são os recursos menos utilizados pela maioria das MPEs, porque o retorno é considerado intangível. Além da dificuldade de mensuração, o desconhecimento das práticas de comunicação também afeta diretamente a não aplicação no dia a dia da empresa. A comunicação faz parte da empresa e está ligada ao plano de negócios, não podendo ser deixada de lado, nem trabalhada de forma separada: ela precisa ser entendida e estar em sintonia com as outras esferas do negócio. O planejamento de comunicação é indispensável para diminuir a margem de erros das empresas, além de ser uma metodologia de trabalho que permite estabelecer orientações amplas de atuação, com objetivos definidos. Para Gomes e Nassar (1997), planejar é responsabilidade do proprietário da empresa e cabe a ele o “peso” das decisões estratégicas. 75 Com um olhar tático, esse empresário desenhará planos, riscará esquemas com as ações de curto e médio prazos para viabilizar os grandes objetivos estratégicos. Mais do que isso, determinará as ferramentas, os recursos humanos e os orçamentos necessários para chegar às grandes metas empresariais. (GOMES e NASSAR, p. 32-33, 1997). São várias as alternativas e práticas de comunicação que possibilitam às micro e pequenas empresas mostrarem seus serviços ou produtos e seu potencial de negócio. As empresas de pequeno porte têm possibilidades de fazer bom uso da comunicação, desde que pensada de forma estratégica, com as ferramentas e práticas comunicacionais adequadas e, claro, condizente com a realidade do seu mercado e recursos. A partir deste ponto do capítulo, serão destacados trechos das entrevistas que demonstrem quais práticas e ferramentas comunicacionais se fazem presente no dia a dia das micro e pequenas empresas e, também, qual o entendimento sobre essas práticas e o papel da comunicação para o crescimento do negócio. 4.1.1 Comunicação Institucional e Comunicação para o Negócio Para alguns dos empreendedores entrevistados o trabalho de comunicação da sua marca pode ser dividida como: Comunicação Institucional e Comunicação para o Negócio. Um exemplo é o empreendedor Flávio Pripas, Fundador e CEO do site Fashion.me, que ressalta que o trabalho de assessoria de imprensa traz para a empresa um reconhecimento institucional da marca, isto é, trabalha o reconhecimento da empresa entre investidores e potenciais parceiros no mercado. Por outro lado, o empreendedor entende que existe um outro trabalho a ser feito de reconhecimento de negócio, pois os principais clientes da rede social Fashion.me não são impactados pelo trabalho de assessoria de imprensa. No caso da empresa, o trabalho de relacionamento com a mídia não traz resultados que estão relacionados diretamente com o negócio. Esse ponto também foi levantado pelo fundador do site GetNinjas, Eduardo L'Hotellier, que ressaltou que o trabalho de comunicação da empresa é divido em duas frentes, institucional e para o negócio, sendo descrito da mesma forma pelo empreendedor, que identifica que o trabalho institucional não traz clientes, o que impacta diretamente na receita da empresa, porém torna a marca conhecida. Por isso, a necessidade de trabalhar nessas duas frentes. Vásquez (2007) afirma que existem duas formas de trabalhar a divulgação da identidade da marca. Uma Comunicação Institucional ou Corporativa, voltada à difusão do portfólio da empresa e aos aspectos corporativos da marca. E uma Comunicação Comercial 76 ou de Produtos, voltada à conquista dos clientes e que está diretamente ligada a aquisição dos produtos e serviços oferecidos pelas mesmas. Para que esse tipo de estratégia funcione, as ações deverão fazer parte de um mix de comunicação para que haja uma sinergia entre todas as práticas de comunicação. Cada vez que o consumidor estiver exposto à marca, seja qual for o veículo usado, deverá percebê-la com um único significado. A sinergia no mix de comunicação traz como consequência coerência na mensagem e pode produzir impacto nas vendas; relaciona a imagem de marca da empresa com seus produtos; cria uma imagem de marca forte e unificada; integra as diferentes atividades da empresa (corporativa e comercial) entre si e com o consumidor. Quando transmitida ao público certo, no momento oportuno, a mensagem otimiza recursos e melhora a capacidade da empresa de atingir seus objetivos. (VASQUÉZ, p. 208-209, 2007) Tanto a Fashion.me como a GetNinjas não têm uma estrutura de área para comunicação ou de marketing para trabalhar as ações de forma estratégica. A decisão estratégica de quais ferramentas e práticas, dentro de um mix de comunicação, serão usadas e quais serão as demandas necessárias para o momento da empresa, ficam por conta dos próprios empreendedores, que com a experiência do negócio já adquiriram conhecimento sobre o que funciona ou não em termos de resultado para o negócio ou institucional. De forma geral, existe um trabalho de relacionamento com a mídia, para o reforço institucional, e um trabalho de marketing que impacta diretamente no negócio, no caso das duas empresas, ações de marketing online com links patrocinados11 e parcerias com outros sites. Este trabalho de diferenciar as estratégias de comunicação entre institucional e para o negócio, também é compartilhado pela empresa Meu Amigo Pet. Para o diretor da empresa, Daniel Nepomuceno, todas as decisões estratégicas envolvendo a comunicação da marca partem da área de marketing. O diretor mantém uma estratégia de comunicação pautada na teoria da administração de marketing, que parte de uma visão do marketing para definir o mix de comunicação a ser utilizado. Para o diretor do Meu Amigo Pet, “O marketing é a interface com redes sociais e assessoria de imprensa. Faço reunião com as equipes de marketing e a partir do que decidimos fazer é que são acionadas a assessoria de imprensa e agência de mídias sociais”. Para Kotler e Keller (2006, p.532), a comunicação de marketing “é o meio pelo qual as empresas buscam informar, persuadir e lembrar os consumidores – direta ou indiretamente 11 Os links patrocinados dos buscadores de internet, por exemplo Google, são os anúncios que costumam ficar ao lado ou acima do resultado das pesquisas depois que os internautas digitam determinadas palavras em sites na internet. Tornaram-se populares entre os empreendedores que investem em publicidade online para divulgar seu negócio. 77 – sobre os produtos e marcas que comercializam.” Para os autores, é a forma de estabelecer uma conexão e construir relacionamentos com os consumidores. A comunicação de marketing colabora de diversas formas com os consumidores. Eles podem conhecer ou ver como e por que um produto é usado, por qual tipo de pessoa, quando e onde; podem receber informações sobre quem o fabrica e o que a empresa e a marca representam e, ainda, podem receber um incentivo ou recompensa pela experimentação ou uso. A comunicação de marketing permite às empresas conectar sua marca a outras pessoas, lugares, eventos, marcas, experiências, sensações e objetos (KOTLER; KELLER, p.532-533, 2006). Na definição das práticas que compõem o mix de comunicação de marketing, mais voltado à comunicação para o negócio, Kotler e Keller destacam seis itens que fazem parte dessa estratégia: Propaganda – qualquer forma de propaganda paga se caracteriza pela grande penetração e propagação em larga escala. Promoção de vendas – incentivos de curto prazo para estimular a experimentação ou compra do produto ou serviço. Os principais benefícios desse tipo de ação é chamar atenção do consumidor e aumentar a venda de produtos ou serviços. Eventos e experiências – eventos patrocinados ou criados pela própria empresa para criar interações em determinadas ocasiões. As vantagens atribuídas a essas ações são a relevância e o envolvimento do público, assim como a possibilidade de promover a marca de uma forma indireta. Relações públicas e assessoria de imprensa – ações voltadas para proteger a imagem da marca. São ações que trazem credibilidade e atinge aqueles consumidores que evitam vendedores e anúncios, mas leem jornais e revistas. Marketing direto – atividades que se comunicam diretamente com clientes específicos ou potenciais. Tem características de uma comunicação pessoal, sempre atualizado e interativo. Vendas pessoais – interações para promover vendas pessoais e apresentar os produtos e serviços. Caracteriza-se pela interação social, aprofundamento das relações entre empresa e o consumidor e tornam as vendas mais assertivas. Para definir a comunicação institucional, podemos citar os conceitos de Kunsh (1995), para a Comunicação Institucional que é a área responsável por apresentar a organização, divulgar seus valores, políticas, filosofias e atuação, se mostrando de maneira clara, objetiva, focando em estabelecer credibilidade e simpatia junto aos stakeholders. É responsável por definir a identidade da organização e conta com um mix próprio envolvendo as Relações 78 Públicas, Jornalismo Empresarial, Marketing Cultural, Marketing Social, Assessoria de Imprensa, Publicidade Institucional, Imagem Corporativa e Editoração Multimídia. Assim como acontece com a empresa Meu Amigo Pet, uma característica muito comum entre as pequenas empresas brasileiras é ter suas ações de comunicação baseadas nos princípios da administração de marketing. A disseminação e popularização, através de cursos específicos ou graduações para futuros administradores, e da necessidade de montar um plano de negócios, no qual um dos itens é marketing, é sempre o primeiro passo para os empreendedores e muitas vezes o mais assertivo num primeiro momento. Mesmo com características profissionais diferentes, pois não uma área de marketing coordenando as ações, o mesmo acontece com as empresas GetNinjas e Fashion.me, como já descrito acima. A empresa Uuulalá, de sucos detox, mantém estratégias também orientadas pelo mix de comunicação de marketing, porém com um trabalho muito prematuro, ainda em fase de desenvolvimento. As fundadoras, Isabela Ferrantte, Bianca Franchini e Juliana Henrique, ainda estão em processo de amadurecimento do negócio, para então definir se foco de comunicação. Já a empresa Veduca, devido ao perfil do seu público-alvo, mantém um trabalho em que há uma correlação do que é comunicação institucional e para o negócio. Mesmo fazendo uso das práticas de marketing, existe um trabalho mais focado em determinados itens do mix de comunicação. 4.1.2 Assessoria de Imprensa Muitas micro e pequenas empresas brasileiras são fundadas por ex-funcionários de grandes corporações, o que acaba influenciando diretamente nas estratégias a serem seguidas pela nova empresa, devido às suas experiências anteriores. Reforço aqui alguns dados já apontados no primeiro capítulo desta dissertação sobre o perfil do empreendedor brasileiro apontado pelo estudo GEM (Global Entrepreneurship Monitor) Brasil de 2013, em que destaca que: entre as prioridades de desejos e sonhos da população adulta brasileira está ter o seu próprio negócio. Dos entrevistados entre dezoito e 64 anos, 34,5% dizem sonhar em abrir o seu próprio negócio, e apenas 18,8% dizem desejar fazer carreira em alguma empresa. Outro dado interessante, é que desses empreendedores participantes da pesquisa, 52,1% deles afirmam possuir conhecimento, habilidade e experiência necessários para iniciar um novo negócio. A Veduca, plataforma de aprendizado online, idealizada e fundada por Carlos Souza, é um desses casos em que a experiência como um ex-funcionário da empresa Procter&Gamble 79 influenciou diretamente as decisões estratégicas de comunicação do negócio. Com uma experiência de nove anos na área de marketing da multinacional, Carlos administrava orçamentos mensais milionários para toda a estratégia de comunicação de algumas marcas da companhia. Priorizando os investimentos de grande parte da verba em publicidade e, depois, nos demais componentes do mix de comunicação. Ao fundar a Veduca sem a verba de grandes empresas e com um produto voltado para o público final, a única estratégia de comunicação que coube à empresa fazer e que seria mais coerente para o seu modelo de negócio, foi focar investimentos em assessoria de imprensa. O trabalho de assessoria de imprensa está com a empresa desde o primeiro dia do negócio. O primeiro recurso financeiro levantado pelo empreendedor foi investido em um contrato de três meses com uma agência de assessoria de imprensa. Para o modelo de negócio e o público a ser atingido, o empreendedor define o trabalho de assessoria de imprensa como sendo uma estratégia de comunicação para o negócio e institucional. Como seus clientes são estudantes universitários dos mais diversos níveis, a informação passada através da imprensa impacta diretamente os consumidores. A empresa Veduca segue uma linha muito atual de trabalho com a assessoria de imprensa e a utiliza como principal ferramenta profissional de administração do fluxo de informação que media o relacionamento entre fontes para os veículos de comunicação e viceversa, também sendo responsável pela edição de materiais impressos e eletrônicos para os públicos de interesse (DUARTE, 2011, p. 68; FERRARETTO e KOPPLIN, 2001, p. 13). Para Bueno (2003), a assessoria de imprensa: Estabelece pontes entre as diversas vertentes da entidade, sintetiza e consolida oportunidades de divulgação, que atendem a objetivos estratégicos da organização. Ela se estrutura valendo-se de banco de dados inteligentes (de veículos, editorias e colunas; de profissionais de imprensa, ou seja, repórteres especializados, colunistas etc.) para planejar, de maneira sistemática, a exposição de produtos, serviços, marcas e a própria missão/visão da organização (BUENO, 2003, p. 88). Além da assessoria de imprensa contratada para o relacionamento com a mídia, a Veduca conta com mais duas funcionárias internas, profissionais de jornalismo, que ajudam no fluxo das informações com a assessoria. Essas profissionais também têm um papel de colaboração com as práticas de comunicação, pois, ficam responsáveis pelo conteúdo do site e das redes sociais. Todas as atividades de comunicação com os públicos estratégicos, da assessoria de imprensa juntamente com a equipe interna de comunicação, estão voltadas para a formação da opinião pública e com o negócio. Portanto, o profissional de assessoria, assim 80 como toda a comunicação que deixou seu aspecto de investimento secundário, passou a ser prioritário na Veduca. O assessor tem o papel de transitar por todos os setores das organizações e conhecer a sua história e os seus planejamentos para atuar estrategicamente nas definições a serem realizadas, garantindo a coerência das mensagens. O fundador e diretor da empresa, Carlos Souza, tem uma atuação muito presente nas rotinas das ações de comunicação. Como não há um gestor de comunicação, a função é assumida por ele, tanto por gostar do tema como pelas suas experiências profissionais anteriores. Por isso, existe um trabalho muito próximo entre o assessorado e a assessoria de imprensa. Esse apoio do assessorado é serviço diário em uma boa assessoria, pois ela e suas fontes devem estar “munidas com informações relevantes que serão levantadas pelos jornalistas quando solicitados” (BUENO, 2003 p. 79), e essa é a razão pela qual o relacionamento entre assessor e assessorado se estabelece num nível extremamente profissional, sempre respeitando a capacidade e áreas de conhecimento de cada um (FERRARETTO e KOPPLIN, 2001, p. 50). Capacitar fontes e porta-vozes para compreender a dinâmica da imprensa e interagir com jornalistas. Assim, cria-se ou fortalece uma cultura de comunicação. Isso amplia a atuação e a boa visibilidade quando solicitados e minimizam os riscos e enfrentam crises mais preparados. Essa preparação ajuda na transmissão à sociedade quanto às precisões informativas e garante uma correta percepção (DUARTE e FARIA, 2011, p. 356). Outra questão muito trabalhada pela Veduca e, talvez, um dos grandes desafios para um bom trabalho de assessoria de imprensa, é a coerência e a relevância das informações. E tudo começou com a definição da principal mensagem da empresa que é: “Democratizar o acesso à educação de alta qualidade no Brasil e em países emergentes”. Para Carlos Souza, é fator fundamental para o negócio quando uma empresa fala do que ela realmente acredita. Na minha formação de “marqueteiro” acredito que quando a empresa fala no que acredita ela atraia pessoas/consumidor que acreditam na mesma coisa. Na comunicação de uma marca é fundamental que as pessoas entendam o que a empresa é e no que a empresa acredita. Se as pessoas acreditarem nos mesmos princípios e nos mesmos valores, elas vão te seguir, vão atrás da empresa, vão falar da empresa. Esse talvez tenha sido o principal fator de sucesso do início da Veduca. Essa estratégia de comunicação de falar o que somos, dar destaque e enfatizar no que a empresa acredita, e ir à imprensa para falar disto, foi o que mais deu certo e foi um fator importantíssimo para a empresa (Carlos Souza, em entrevista cedida para esta dissertação). Depois de definida a mensagem da empresa, coube à comunicação ser o canal de assimilação e adaptação para o público e a assessoria de imprensa ser o instrumento 81 profissional capaz de conduzir e formar os processos comunicacionais para que a organização conversasse com os seus públicos. Por isso, a relação entre quem é a organização e a percepção de seus grupos de relacionamentos significa a construção de sentidos para que interna e externamente os resultados sejam consistentes com a cultura, os valores, as ações e as premissas institucionais (ALMEIDA, 2008, p. 44). Definidas as mensagens, foi preciso que a empresa entendesse a dinâmica da imprensa para os temas gerados pelo seu negócio para montar uma estratégia de atuação. Além das mensagens definidas e o discurso alinhado, empresa e assessoria entenderam que manter um ritmo de novidades e lançamentos sempre atrai a atenção da imprensa e gera o interesse para falar sobre o tema. Quando a empresa consegue manter um ritmo de lançamentos e isso é bem coordenado com a assessoria de imprensa, a empresa está sempre saindo na imprensa e sempre tem pauta. Há alguns meses fizemos um estudo para ver qual era a nossa exposição em grandes veículos de imprensa. Descobrimos, através de um estudo interno, que devido a essa nossa estratégia de sempre ter novidade, um ritmo de lançamentos e coordenar bem com a assessoria de imprensa, conseguimos estar em grandes veículos uma vez por semana. Desde que obviamente você crie uma notícia relevante, crie algo inovador que tenha um valor para a população e que você execute bem com a assessoria de imprensa. As duas atividades precisam estar atreladas. Não adianta você criar coisas importantes e não ter alguém para comunicar e chegar aos grandes veículos (Carlos Souza, em entrevista cedida para esta dissertação). E para que tudo isso esteja alinhado, a empresa mantém um ritmo de reuniões semanais com a equipe de assessoria de imprensa e acompanha de perto todos os resultados. O empreendedor ainda ressalta que “A empresa tem o trabalho de assessoria de imprensa que merece. Precisa saber o que a empresa quer. Às vezes, a assessoria vem com uma estratégia, mas precisa estar alinhada ao que a empresa tem como objetivo”. Para Scott (2008), a empresa é o que ela publica, por isso, além de ter de forma clara e concisa todas as mensagens que a empresa quer passar, será necessário conhecer o seu público e a própria imprensa. Quais são suas metas e aspirações? Quais são seus problemas? Que mídia eles usam para responder a seus problemas? Como podemos atingi-los? Nós queremos conhecer em detalhes as coisas que são importantes para cada uma das personas do cliente. Que palavras e frases os consumidores usam? Que tipo de imagens e de multimídia os atrai? As frases curtas ligeiras são melhores que as longas e verborrágicas? [...] Você também deve ler as publicações e os sites que seus consumidores leem para ter um entendimento do jeito que eles pensam (SCOTT, 2008, p.108). 82 Sullivan (2012) também concorda que manter um monitoramento constante do público e da mídia, e, principalmente, entender o que é uma notícia relevante ajuda a compreender quais informações podem ser trabalhadas com a imprensa e como será possível manter uma estratégia eficiente de relacionamento com a mídia. Uma notícia não é interessante somente porque você diz que é. Muitas vezes os assessores de imprensa criticam a mídia por não dar as matérias que eles querem que ela dê. No entanto, quando você pergunta aos jornalistas porque não publicaram ou veicularam a matéria, normalmente respondem que a “história” não era interessante, oportuna ou importante. Entender o que vale a pena noticiar ajuda a conseguir cobertura jornalística (SULLIVAN, p. 49, 2012). O próprio fundador admite que até tentou fazer o trabalho de assessoria de imprensa internamente, sem um profissional específico ou mesmo sem precisar contratar uma empresa. Porém, enfatizou que é preciso saber conversar com a imprensa e entender o que ela precisa. Importante frisar que o assessor é o profissional que constrói e amplia a ponte comunicativa entre a organização e a comunidade por meio de ferramentas da assessoria; quer sejam elas releases, entrevistas, materiais impressos ou eletrônicos, ou parcerias. É função do assessor colaborar para reduzir as incompreensões e incoerência, e aperfeiçoar o diálogo, as atividades e o planejamento das organizações, auxiliando, assim, a relevância das instituições no ambiente em que se encontram inseridas. Nas empresas GetNinjas, Fashion.me e Meu Amigo Pet o trabalho de assessoria de imprensa é importante, sempre estará presente na estratégia da empresa e é considerado um trabalho institucional para as marcas. Todas as três empresas mantém contratos com prestadoras de serviço para o trabalho de assessoria de imprensa. O trabalho de relacionamento com a mídia, ainda está alguns passos atrás em comparação ao trabalho realizado pela Veduca, tendo principal justificativa o fato de que “não é a principal estratégia da empresa, mas é um trabalho que dá frutos”, conforme dito pelo fundador da empresa GetNinjas, Eduardo L'Hotellier. Mesmo não sendo a prioridade para essas empresas, durante as entrevistas, todos afirmaram que é uma ação fundamental para os pequenos negócios e que precisa estar presente desde a fundação da empresa e acompanhá-la ao longo do seu crescimento. A Uuulalá, que acabou se tornando um case para esta dissertação justamente por sua exposição na mídia, é a única empresa que se detectou não contar com apoio de um profissional de comunicação para o trabalho de imprensa. Segundo as fundadores, é realizado um trabalho reativo e executado pelas proprietárias. Mesmo sendo um trabalho ainda 83 incipiente, é possível analisar que a empresa aproveita o momento de grande exposição do segmento em que atuam, de sucos detox, para aparecer na grande mídia. E para isso, seguem princípios básicos de relacionamento com a mídia, mantendo uma postura profissional com os jornalistas e sempre estão disponíveis para entrevistas. O que acabou gerando uma grande exposição para a marca, mesmo sem o trabalho proativo de assessores de imprensa com os jornalistas. 4.1.3 Mídias Sociais As mídias sociais são um fenômeno em expansão e local de encontro dos mais diversos tipos de pessoas. E as empresas têm procurado as mídias sociais como um espaço de interação com seus consumidores, fazendo parte de toda a sua estratégia de comunicação. Assim como todas as demais práticas de comunicação, falar com os clientes pelas mídias sociais exige um plano e uma coerência das mensagens. Uma das principais estratégias de comunicação com os clientes da empresa Meu Amigo Pet está centrada nas ações com as mídias sociais. Recentemente a empresa foi eleita pela Socialbakers, empresa responsável por análise e métricas mundiais de redes sociais, a página do Facebook do Meu Amigo Pet como a sétima empresa entre as dez marcas com maior média de engajamento online diário no Brasil. Tendo conquistado esse resultado com uma estratégia ainda pouco aplicada pelos empreendedores brasileiros: criar conteúdo para o público-alvo ao invés de ficar falando da marca. O trabalho realizado pelo empreendedor Daniel Nepomuceno começou a partir da análise e acompanhamento da experiência de outras empresas do mesmo segmento, “uma vez fui para a França fazer um benchmarking para pet shops, inclusive o trabalho que era feito em redes sociais. Então pude ver que os consumidores gostam mais de conteúdo do que propriamente da marca. Cheguei à conclusão que os consumidores querem ouvir sobre seus cães, querem ouvir sobre as raças que gostam etc. Não querem ficar ouvindo sobre a empresa”. A empresa deu início a um trabalho inovador e ainda em expansão no Brasil, chamando a atenção para uma ação focada em conteúdos não somente sobre seus produtos. Com isso, as organizações ganham credibilidade e clientes fiéis, também, por meio de conteúdo. As redes sociais, leia-se aqui internet de forma mais ampla como blogs, podcasts etc., permitem que as empresas ajam e pensem formas de criar e interagir com seu público a partir de conteúdo direcionado, como forma de transmissão das mensagens. 84 Precisamos refletir sobre as mensagens que nosso público de nicho deseja ouvir. Por que não criar conteúdo específico para esse público de nicho e contar-lhes uma história on-line sobre o seu produto, uma história elaborada especialmente para eles? A partir do momento em que os profissionais de marketing e RP ajustarem sua cabeça para pensar sobre nichos, começarão a enxergar oportunidades de ser eficazes na divulgação da mensagem de suas organizações (SCOTT, 2008, p.29). Um exemplo desse trabalho para se tornar uma referência na geração de conteúdos e atrair a atenção do público, é a parceria com o profissional Alexandre Rossi para a divulgação de conteúdos exclusivos nas mídias sociais e no e-commerce da empresa. Apenas para contextualizar a importância do profissional para o segmento, Alexandre é formado em Zootecnia e mestre em Psicologia pela USP, com especialização em Comportamento Animal pela Universidade de Queensland, na Austrália, se tornou muito conhecido no Brasil fazendo matérias para várias emissoras e escrevendo livros sobre o comportamento dos animais. Um dos seus quadros mais famosos foi o Dr. Pet, na Rede Record, que o fez ganhar o reconhecimento nacional. Devido a todo o seu currículo e experiência, se tornou uma unanimidade entre os donos de animais de estimação, e por onde passa atrai muito público. As mídias sociais, assim como outros recursos da internet, permitiram que as empresas conseguissem construir audiência própria, estabelecendo um canal de relacionamento direto com o cliente, sem necessariamente ter outros investimentos em marketing e comunicação. Inclusive, se tornando uma possível barreira contra a entrada de novos competidores. Conquistar uma audiência fiel pode demorar algum tempo e concorrentes podem não conseguir criar algo semelhante do dia para a noite. Saber escolher os canais mais adequados para a empresa poderá variar de acordo com o público que a empresa pretende impactar. O importante será ter uma estratégia bem definida e estar onde há mais presença do públicoalvo. Algumas características das principais mídias sociais: - FACEBOOK: É a rede social com maior número de usuários ativos no Brasil e no mundo, além de ter mais usuários, esses internautas também permanecem mais tempo conectados à página. Por isso, é uma opção indicada para qualquer tipo de negócio. -TWITTER: Considerada uma das principais fontes de tráfego, é um canal simplificado de interação com os públicos e atendimento ao consumidor. O compartilhamento de links também acontece com maior frequência. Uma outra característica é que seu público é um grande consumidor de conteúdo, ávido por novidades. - INSTAGRAM: É um aplicativo e uma rede social simultaneamente. O usuário pode, através do aplicativo, tirar fotos e, se quiser, aplicar diversos efeitos para depois publicar em 85 outras redes sociais. O Instagram é muito popular entre os brasileiros e reúne duas características que chamam muito atenção das pessoas, mobile e imagens. A mídia social escolhida para um trabalho mais ativo pela empresa Meu Amigo Pet para a interação com os clientes, foi o Facebook que hoje12 tem mais de 2 milhões de seguidores e uma média de 1.200 interações em cada no novo post. O trabalho hoje nas redes sociais, para a pet shop é realizado com a ajuda de uma empresa especializada em mídias sociais, que seguem uma estratégia coordenada pela área de marketing. Rêgo (2012), alerta sobre a estratégia que as empresas devem seguir: É impossível fugir das mídias sociais, pelo menos nesse momento, já que constituem, na contemporaneidade, uma segunda biosfera, na qual podemos encontrar fiéis e potenciais clientes. Essa premissa traz em si uma inquietação intrínseca ao ambiente empresarial e que se resume em o que fazer e como para conseguir atuar nas redes de forma adequada e sem correr riscos reputacionais. É bem possível que as empresas coloquem essa e outras inquietações em um único pacote e criem seus perfis sem uma meta delineada e, portanto, sem estratégias de abordagens definidas. Vale lembrar que as estratégias comunicativas fazem ou pelo menos devem compor o Planejamento Estratégico da Empresa e devem estar concatenadas tanto com a missão da Organização, como, e, principalmente, com sua visão, em aspecto mais flexível (RÊGO, p. 40, 2012). A empresa Meu Amigo Pet enxergou nas mídias sociais uma oportunidade que cabe a qualquer micro e pequeno empreendedor, que as mídias sociais podem configurar um passo importante para a divulgação do negócio e para estabelecer contato com consumidores. Em uma matéria publicada na revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios (2013), especialistas afirmam que usar a internet como meio para divulgar um novo negócio e dialogar com o público é, sobretudo, uma opção mais barata, fácil de usar, que agiliza o contato com os clientes e que, por fim, otimiza o tempo. A internet não exige um alto investimento para um retorno satisfatório, e também expõem a marca a uma audiência global, possibilitando a construção de uma imagem mais consistente e de se estabelecer no mercado. A matéria ainda traz algumas dicas importantes para os micro e pequenos empreendedores para conquistar espaço na internet: - Evitar modismos. Antes de entrar nas redes sociais, pensar por que está fazendo isso. As melhores estratégias digitais começam com planos de metas e prazos bem definidos. Isso também ajudará a avaliar quais recursos serão necessários para atingir 12 A página do Meu Amigo Pet foi acessada no dia 01 de junho de 2014. 86 os objetivos. Também será importante respeitar as regras de cada ação e deixar isso muito claro para o público. - É melhor ter ótimas ações em um ambiente do que ser irrelevante em vários deles. A interação com audiências segmentadas também será importante. Para a empresa poderá ser interessante participar de conversas com os públicos do seu setor. Será uma forma de ganhar relevância com um público específico com assuntos que sejam do interesse deles. Isso poderá gerar engajamento da comunidade e mídia espontânea. - Antes de definir uma estratégia nas mídias sociais, analise o que os consumidores já estão falando sobre a empresa. Os dados devem ser usados para alinhar as ações de comunicação nas mídias sociais com as mensagens da empresa e os interesses do público. Isso poderá ajudar a conquistar o respeito entre os usuários e poderá revelar novas oportunidades. - Instigar a curiosidade da audiência é fundamental. É importante estar em todas as mídias relevantes para o público-alvo e manter as páginas sempre atualizadas pelo menos três vezes por dia. Para ampliar o alcance das publicações, vale a pena investir em modelos pagos de publicidade. O resultado combinado, ações espontâneas e pagas, costuma ser bastante eficiente. - As plataformas digitais oferecem ferramentas simples para acompanhar os movimentos dos clientes e dos concorrentes. Será sempre importante acompanhar essas movimentações para manter-se atual e relevante nas mídias sociais. Todas as empresas entrevistadas para esta dissertação mantém contato com o seu público através das mídias sociais, porém, com atuação ainda em amadurecimento e em definição das melhores estratégias a serem seguidas, tendo uma interação do público ainda muito menor do que o Meu Amigo Pet. Um exemplo é a empresa de sucos Uuulalá, que tem nas mídias sociais uma das poucas ações de comunicação realizadas pela empresa, e ainda sendo executada de forma muito insipiente, já que conta apenas com o conhecimento prático de suas fundadoras, sem um plano de comunicação definido e sem o auxílio de profissionais da área. As empresas Fashion.me, Veduca e GetNinjas têm cerca de 55 mil pessoas curtindo suas páginas e seus posts, mesmo que sempre atualizados, mantém uma interação média de 50 pessoas em cada novo post, um número ainda com pouca relevância considerando o número de acesso aos sites das empresas. Mesmo tendo profissionais envolvidos com a produção do conteúdo para as mídias sociais, o trabalho realizado pelas empresas é muito mais institucional, como forma de manter um contato com os consumidores. 87 4.1.4 Comunicação Interna Para uma micro e pequena empresa manter um trabalho de comunicação com seu público interno, talvez não deveria ser a prioridade, devido à estrutura com poucos colaboradores, já que algumas das empresas entrevistadas para esta dissertação têm uma média de 20 funcionários. Porém, todas as empresas entrevistadas deixam muito claro que uma das prioridades para os fundadores e diretores é manter uma equipe forte, satisfeita com o trabalho e convicto da mensagem que a empresa quer passar para seus consumidores. Essa prática permeia o trabalho de todas as empresas entrevistadas - Meu Amigo Pet, GetNinjas, Fashion.me, Veduca e Uuulalá -, em que há uma preocupação de manter todos muitos informados e alinhados com a mensagem da empresa. Para a Endeavor, organização da cultura empreendedora no mundo, gente é o que faz toda a diferença para o sucesso de uma pequena empresa. Nos pequenos negócios, como no caso das empresas entrevistadas, a estrutura com poucos funcionários se tornará estratégica para o sucesso do empreendimento, já que os responsáveis pelo negócio podem se favorecer de uma ferramenta muito importante: o diálogo. Alguns conflitos entre as pessoas são provocados por pequenas falhas no processo de transmissão das mensagens que se estabelece entre emissor e receptor. Como defende Matos (2006, p.3) ao afirmar que os desentendimentos empresariais têm suas origens na falta de comunicação e dificuldade de diálogo, sendo estes ruídos comunicacionais causados pela dificuldade de “saber ouvir”. Saber ouvir transcende o ato de escutar, é compreender a pessoa que se expressa; é entender a mensagem que ela transmite; é assimilar o que é dito por palavras, atitudes, gestos de silêncio; é perceber a grandeza da essência da comunicação e do diálogo; é alcançar a plenitude do relacionamento humano. É dar e receber informações e emoções. Ouvir é a qualidade essencial para aperfeiçoar qualquer tipo de relacionamento (MATOS, 2006, p. 18). O ato de ouvir deve ser algo intrínseco ao ambiente empresarial. A interação com vários públicos exige das organizações um posicionamento favorável à atitude de ouvir para conseguir estabelecer boas relações. Nas MPEs, essa atitude pode ser a sua maior arma, a maior vantagem competitiva na conquista de clientes. Será importante que a cultura do diálogo, ou seja, de falar e ouvir com atenção, deve, primeiramente, ser incorporada à cultura da organização, ao modelo de gestão e ser praticada 88 por todos os seus membros. Se todos os que fazem parte do ambiente interno da empresa adotam essa prática, o reflexo para os demais públicos, em especial, os consumidores, será de um negócio unido e consciente da missão da empresa. Na pequena empresa, em que os investimentos são extremamente controlados, o diálogo se configura com uma das estratégias mais assertivas e econômicas. E não é muito difícil seguir pelo caminho do diálogo, já que se trata de espaços menores e com um número reduzido de colaboradores, pode até ser algo simples. Se uma empresa cultiva o hábito de dialogar no seu início, à medida que ela for crescendo, essa cultura se manterá arraigada aos seus princípios, podendo transformar essa pequena empresa em uma das líderes de mercado, com clientes satisfeitos e fidelizados. Segundo informações da Endeavor (2014), existem pelo menos duas razões para um empreendedor priorizar as pessoas: Primeiro: a empresa acaba criando um diferencial muito bom, porque vantagens competitivas baseadas em gente são difíceis de copiar, são difíceis de transferir e não podem ser compradas. Portanto elas se transformam em vantagens competitivas sustentáveis e colocam a empresa numa posição de destaque no seu mercado. Segundo: a empresa que investe em gente produz vantagem competitiva de modo constante, permanente. O que contribui para a empresa se revitalizar e se arejar, condição fundamental na arena competitiva do mercado (BRAGA, p.5, 2014) Além de priorizar o diálogo, a empresa Meu Amigo Pet, por já ter um número maior de funcionários, cerca de 40 pessoas, e já trabalhar em sistema de franquias, sendo mais 60 funcionários nas lojas físicas, o trabalho de comunicação interna foi ampliado. As práticas adotadas pela empresa são: murais informativos no escritório da administração e lojas físicas, Café da Manhã com o Presidente e ainda reuniões semanais com as equipes de trabalho. E para as lojas franqueadas, são realizadas as seguintes ações: reuniões mensais, intercalando entre workshop e Café da Manhã com o Presidente. No workshop são apresentados aos franqueados as melhores práticas das lojas da rede para eles melhorarem sua gestão e novidades para a loja. Nas edições do Café da Manhã, são discutidas as principais dificuldades dos franqueados. É fator estratégico que os funcionários sejam os primeiros a conhecer novas posturas, produtos e informações da empresa. Isso faz com que eles se sintam parte importante do negócio, bem como contribui para uma imagem e um clima de trabalho positivos. Portanto, antes de fazer a comunicação externa – para imprensa, clientes, fornecedores – pense em privilegiar o público interno com a divulgação das notícias em primeira mão. Afinal, não custa lembrar que são eles os responsáveis por produzir aquele item ou prestar aquele serviço de que trata a notícia. Enfim, os colaboradores costumam ser o primeiro público afetado pelas decisões das organizações. Nada mais justo e inteligente, portanto, informá-los em primeira mão (ZANUZO e REIS, p.29, 2008). 89 As micro e pequenas empresas precisam pensar além do que apenas usar a comunicação interna como forma de manter os colaboradores informados sobre o negócio da companhia. As informações dentro das organizações têm o papel de mobilizar, envolver, vender e conquistar, tanto o público interno como o externo. Esse é o novo papel que a comunicação interna assume: constrói engajamento e desperta no público interno o orgulho de pertencer à empresa. 4.1.5 O papel dos profissionais de comunicação A atração que a mídia exerce sobre as micro e pequenas empresas e, especialmente, sobre o tema empreendedorismo abriu as portas desses negócios para a necessidade de um trabalho de comunicação. Abrindo espaço para os jornalistas, com sua habilidade e a competência para lidar com a mídia, cuidar desses relacionamentos, e pela visão editorial e jornalística desses profissionais. Espaço para o Relações Públicas, pela habilidade e competência para lidar com estratégias de relacionamentos com os públicos de interesse para a organização. E o mesmo acontece com o publicitário, ou o profissional de marketing, que transita com desenvoltura nas demais áreas que integram o “mix” da comunicação organizacional. Vivemos numa sociedade “midiática”, que dissemina muita informação. A mídia é considerada o “quarto poder”, e é respeitada, ambicionada e, muitas vezes, temida pelas empresas. Isso significa que as empresas valorizam muito o poder da mídia, e como consequência, também os profissionais que possam administrar melhor esse relacionamento. Segundo Alberola (2006, p. 42 a 44), o perfil profissional desejado nas grandes agências de comunicação e, provavelmente para atuar nas organizações, deve ser dinâmico, criativo, curioso, saber trabalhar em equipe, ter perfil de consultor que conheça o mercado de seu cliente, antecipar necessidades, estar atento a pontos críticos e saber orientar a empresa “em todos os sentidos”, ser “uma mistura de um bom jornalista com um excelente Relações Públicas”, ter visão estratégica, ser flexível “para entender que o papel da comunicação, atualmente, é mais amplo”, fundamental ter conhecimentos de áreas como planejamento, marketing, administração, informática e línguas, deter cultura “diversificada”, atender as competências básicas, as quais seriam ter foco no cliente e no desenvolvimento de negócios, facilidade de relacionamento, atitude de liderança, bom texto, capacidade de gerenciar projetos, dinamismo, articulação, interesse em atualização constante e atenção a novidades 90 tecnológicas como blogs, podcasts, SMS, MMS e webcasts, “pensamento tático e estratégico”. Assim como as grandes empresas, as micro e pequenas também querem ser atendidas por profissionais desse porte e com a capacidade de fazerem seus negócios se tornar reconhecidos e conhecidos. Devido à falta de recurso para manter um profissional com todas essas características, porém reconhecer que é um trabalho muito importante, que as PMEs buscam nas assessorias de imprensa os recursos necessários para esse trabalho, ao invés da contratação de um profissional. Das cinco empresas entrevistas, quatro delas mantêm contratos com empresas prestadores de serviço para as atividades de assessoria de imprensa. Quanto a ter um profissional interno dedicado ao desenvolvimento das atividades de comunicação, apenas duas delas, GetNinjas e Veduca, contam com funcionários internos dando suporte à assessoria de imprensa para as atividades de relacionamento com a mídia, porém não dedicadas integralmente, ocupando outras funções na empresa. Porém, as duas empresas são unânimes em afirmar que o profissional interno tem maior conhecimento sobre o negócio e tem uma visão mais apurada sobre os acontecimentos internos. A empresa Uuulalá, devido à sua recente fundação ainda não conta com nenhum profissional especializado, nem tampouco, alguma empresa contrata para as ações de relacionamento com mídia. As fundadoras concordam que há uma ação sendo realizada de forma “intuitiva”, tornando o trabalho muito desafiador. Para a entrevistada Bianca Franchini, incorporar as ações de comunicação no dia a dia da empresa tem sido um dos maiores desafios, justamente pela falta de um profissional capacitado: “Não temos ninguém com formação em jornalismo ou relações públicas, temos apenas um escritório de design que nos atende e que, na medida do possível, faz de uma maneira bastante intuitiva todo o trabalho de divulgar a Uuulalá”. A empresa ainda está em busca de ter uma estratégia e um plano mais consistente de comunicação. 4.1.6 Mensurar as ações de comunicação e marketing Mensurar as ações de comunicação e avaliar os resultados, mesmo sendo uma prática que esteja se popularizando, ainda é algo executado com maior preocupação nas grandes empresas e mais amadurecidas. Nesse caso, as melhores práticas são aplicadas pelas empresas Veduca, com métricas para as ações de imprensa, e Meu Amigo Pet, na avaliação dos resultados de marketing, mostrando que se a empresa, independentemente do tamanho, 91 entende a importância estratégia da comunicação para o seu negócio, mensurar o trabalho realizado é muito importante. A empresa Veduca foca todo o seu esforço de comunicação em relacionamento com a mídia, sendo uma estratégia de comunicação institucional e para o negócio. Por isso, medir todas as ações realizadas é de extrema importância e desenha a estratégia para as futuras ações. A partir da mensuração realizada pela empresa, foi possível analisar quais eram as notícias que tinham maior impacto na mídia e acabavam repercutindo em mais veículos de grande circulação, o que acabou refletindo na forma do trabalho e seleção das informações. A Veduca também usa o número de novos cadastrados no site para medir o impacto das notícias na mídia. Como a empresa fala diretamente com seu consumidor final e, tão somente, através do trabalho realizado na mídia, esses números também são extremamente importantes para o negócio e para avaliar o trabalho de comunicação. Metodologias qualitativas e quantitativas podem ser complementares e poderão ser utilizadas a partir de diversas técnicas. O ideal será primeiro montar um plano de avaliação e monitoramento. Para Sullivan (2012, p.36), será importante ter definido “Que medidas usará para determinar se está alcançando as metas? O que determinará o sucesso ou o fracasso?”. Depois, fazer as avaliações necessárias. Avalie mensalmente como está indo e altere o cronograma, a mensagem e o calendário, conforme necessário.Você pode classificar todas as reportagens sobre o objetivo: quais mensagens principais foram incluídas, quais foram omitidas e qual, se for o caso, foram imprecisas? Verifique também que ferramentas de mídia funcionaram melhor, quais jornalistas, blogueiros ou outros criadores importantes de mídia social deram a cobertura mais favorável, que porta-vozes da mensagem predominaram, que importância deram à mensagem e que aliados — ou adversários — disseram sobre o assunto. Você pode mapear isso numericamente, classificando mensagens favoráveis, desfavoráveis e neutras. Se necessário, mude os planos e faça melhor no próximo mês (SULLIVAN, p.36, 2012). A ação realizada pela Veduca deixa evidente que o clipping ainda é uma forma de mensurar as ações, porém, é necessário abandonar o uso de valores publicitários para quantificar o espaço através da centimetragem das notícias, dado que, “a quantidade de tinta que uma empresa consegue não indica se ela está alcançando seus objetivos de comunicação” (ARGENTI, 2006, p. 149). Conceito também defendido por diversos outros autores, como Duarte, que critica o método, dizendo que o “melhor critério de análise seria o da solidez do relacionamento” (2006, p. 243) e não “a quantificação do espaço ocupado na mídia, como demonstração da eficiência da própria assessoria” (idem). 92 As justificativas e argumentos podem ser diferentes entre os autores, porém, compartilham o fundamento de que a centimetragem sozinha não tem mais sentido como método de mensuração e avaliação de resultados frente aos novos desafios da mídia e seus diferentes canais. Quanto às métricas de marketing, o diretor da empresa Meu Amigo Pet foi muito claro sobre como funciona esse trabalho para o negócio: “Na empresa não se faz campanha sem medir. A ideia é investir recurso e tempo no que realmente traz resultado”. Como a empresa tem grande parte do seu negócio no mundo online, medir as ações já é algo muito mais evoluído, amadurecido e concreto para a realidade desses negócios. De forma geral, existem alguns itens básicos para a mensuração das ações de marketing, segundo a Endeavour, também usados pela empresa: - Retorno sobre o gasto com publicidade ou ROI (Return on Investmen) Entender se a publicidade de sites e blogs traz algum retorno e em que período ou ocasião é mais efetiva. Ter sempre em mãos esses números e saber compará-los é um dos segredos mais importantes diante da concorrência. - Ticket médio É a média gasta por usuário em cada compra no seu site. Conhecer esse valor determina o quanto investir e em que tipo de publicidade. - Tempo de consumo Esse quesito é importante para vender um serviço. Ao escolher onde investir, o empreendedor deverá considerar o histórico de retorno desta ou daquela publicidade. - Taxa de conversão Por exemplo, a publicidade em que o empreendedor investiu trouxe muitos visitantes, porém, apenas 5% deles realmente compraram algo. Nesse caso, a taxa de conversão efetiva foi muito baixa, ou seja, a publicidade até despertou a curiosidade de um público grande, mas não trouxe quem realmente compra seus produtos. Saber analisar a taxa de conversão efetiva com relação à publicidade fará a empresa economizar muitos reais. Não existem fórmulas prontas e metodologias mais adequadas para mensurar a comunicação. Para que os resultados sejam medidos, será importante experimentar, testar, aprender e melhorar. Independentemente do tamanho da empresa, a avaliação deverá ser incorporada à rotina da empresa. 93 CONSIDERAÇÕES FINAIS: Esta dissertação teve como objetivo discutir as práticas de comunicação no ambiente das micro e pequenas empresas. Buscou-se também identificar as principais dificuldades e oportunidades na gestão dos pequenos negócios, além de traçar um perfil das empresas e dos empreendedores. A partir do entendimento do papel dos empreendedores brasileiros, foi possível compreender que há, ainda hoje, um movimento de amadurecimento dos micro e pequenos empresários, o que acaba refletindo diretamente nas decisões estratégicas para a condução de uma nova empresa. Impactando no modelo de negócio a ser seguido e tendo, como um forte guia de condução, as experiências profissionais anteriores, muitas vezes em grandes corporações. Ao longo do trabalho busca-se entender o papel da comunicação organizacional que é entendido como um elemento estratégico para a gestão e a administração das empresas de forma geral. Sendo ela um importante canal de troca de informações e relacionamento externo e interno principalmente com relação a seus públicos estratégicos, o mercado em que está inserida e a sociedade em geral. A função da comunicação organizacional, através de todas as suas práticas e ferramentas, é formar uma opinião pública que tenha conhecimento sobre a marca da empresa, sobre a comercialização dos seus produtos e serviços, colaborando para estabelecer um posicionamento da marca e a construção de uma imagem positiva. Sendo assim, é possível afirmar que a comunicação pensada de forma estratégica será fundamental para que qualquer negócio se estabeleça. Assim como a área financeira, de produção e de recursos humanos, a comunicação tem um papel importante para a sobrevivência das empresas. Observou-se que existe uma preferência, entre os fundadores e diretores de micro e pequenos negócios, de utilização da comunicação como um fator estratégico de competição entre os concorrentes. A comunicação, na sua forma mais ampla de entendimento, muitas vezes passa a ser vista como uma vantagem competitiva para os negócios, tendo a função de atuar na construção de imagem e relacionamento com os públicos estratégicos. Mesmo que, do ponto de vista técnico, a gestão da comunicação organizacional pouca muda de uma grande empresa para uma pequena. A parte prática desta dissertação, as entrevistas realizadas com proprietários de pequenos negócios, para entender na prática em que estágio estão os pequenos negócios, demonstrou que a realidade está um pouco distante da teoria, porém com resultados positivos e práticas muito assertivas. 94 Há um consenso entre as empresas de que a comunicação se divide em: institucional e para o negócio. A partir dessa definição é que serão decididas quais as estratégias e quais serão os investimentos necessários para o desenvolvimento do trabalho. O fato é que se prioriza o que afeta diretamente o negócio em um primeiro momento. Para algumas empresas, as práticas de comunicação institucional estão ligadas a uma estratégia que traz resultado para os negócios. Em outros casos, as ações institucionais estão apenas ligadas a construção de uma imagem na cabeça dos consumidores, e deverá existir alguma outra ação relacionada à comunicação para o negócio, que impacte diretamente na receita na empresa. De forma geral, as empresas de pequeno porte não aplicam um mix de comunicação completo, existe sempre o reforço em alguma prática que está diretamente ligada ao resultado financeiro da empresa. Pode-se constatar que todas as práticas estão presentes no dia a dia das empresas, porém, cada uma delas será inserida na rotina da empresa ao longo do seu amadurecimento. A resposta para a discussão central desta dissertação, é que marketing, marketing online, mídias sociais, comunicação interna e assessoria de imprensa fazem parte das melhores práticas apontadas pelos empreendedores. Sendo cada uma delas aplicadas de forma muito coerente, demonstrando serem excelentes e com bons resultados para o ambiente de qualquer micro e pequeno negócio, porém se destaca a opção por uma prática ou outra, com maior intensidade, justamente por uma decisão estratégica do que pode ser mais eficiente e eficaz para o modelo de negócio. As micro e pequenas empresas têm possibilidade de fazer bom uso da comunicação, seja na forma tática, operacional, estratégica ou, como vimos, através de combinações de práticas e, muitas vezes criativas e inovadoras, que mais se adequem à necessidade de seu negócio, porém será necessário ter um planejamento bem elaborado e um acompanhamento constante dos resultados das ações. Aqui, talvez, esteja a chave para o sucesso das empresas abordadas para esta dissertação, entender exatamente o que querem para os negócios e saber onde querem chegar. Este será o momento em que a Comunicação Organizacional entrará na vida desta empresa colocando à disposição seu acervo de práticas que mais se adequem os objetivos da empresa. O trabalho não tem a pretensão de sugerir que qualquer micro e pequena empresa ou qualquer pessoa possa colocar em prática as ações de comunicação ou, mesmo, realizar de forma amadora apenas para fazer algo. Porém, é importante destacar que o tema comunicação deve ser entendido por estes empreendedores e estar presente no plano de negócios, desta nova empresa, desde seu primeiro dia de vida. A aplicação destas ações, desenhadas no plano 95 de negócios, serão colocadas em prática ao longo do amadurecimento desta empresa e da necessidade estratégica do próprio modelo de negócio. Constatou-se, também, que existem diversas oportunidades de melhorias para as micro e pequenas empresas, principalmente para a ampliação da visão para outras práticas comunicacionais que possam ajudar numa melhor distribuição e comunicação das mensagens da empresa. E parte dessa ampliação e disseminação do entendimento sobre comunicação está atrelada aos profissionais da área, que podem colaborar tanto na produção de conteúdo focado para a realidade dos pequenos negócios, como na prestação de serviços para essas empresas. É correto afirmar que há uma oportunidade para os profissionais de comunicação e que ainda é pouco explorado. Pode-se considerar alcançado o objetivo proposto para a discussão desta dissertação. Existem ótimas práticas de comunicação sendo trabalhadas e trazendo excelentes resultados para as micro e pequenas empresas. Existe um conhecimento, mesmo que ainda em construção pelos empreendedores, de que comunicação pode e dever ser explorada para atingir os consumidores. Porém, isso é um processo gradual e vem junto com o amadurecimento da empresa e dos próprios empreendedores. De forma alguma, pretende-se esgotar o assunto ou muito menos torná-lo conclusivo ou dedutivo, nem mesmo considerar uma única realidade. Espera-se que as informações trazidas possam contribuir de alguma maneira para a compreensão sobre as práticas de comunicação nas micro e pequenas empresas, ampliando a visão do empreendedor para incluir essas ações no planejamento estratégico do empreendimento. Espera-se também que novos estudos sobre o tema sejam desenvolvidos, principalmente considerando a importância das micro e pequenas empresas para o cenário econômico nacional. 96 REFERÊNCIAS: ALBEROLA, Amanda S. Por dentro das grandes agências de comunicação: um perfil de grandes assessorias de imprensa e seus profissionais. 2006. Monografia (Especialização em Gestão Estratégica da Comunicação Organizacional) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo. 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Flávio já trabalhou nas empresas Bergen, como Gerente de Desenvolvimento; Vastera e JP Morgan, como Head de Tecnologia para a América Latina; CreditSuisseHedging-Griffo, também na área de tecnologia, até fundar a empresa Fashion.me, em 2009. Disponível em: http://br.linkedin.com/in/flaviopripas , acesso em 20 de maio de 2014 Sobre a empresa: É uma Fashion Social Discovery Platform, ou seja uma plataforma para você interagir com outras pessoas que gostam de moda e, além disso, garimpar e descobrir produtos que fazem a sua cabeça. Produtos que vão ganhar lugar de destaque no seu closet, sejam eles virtuais ou reais. Gostamos de pensar em nós como encurtadores de distância entre aquele look dos seus sonhos – que pode estar por aí em várias lojas virtuais – e o seu guarda-roupa. A Fashion.me é considerada micro empresa e opera com 12 funcionários. Como nasceu a empresa? Flávio Pripas: A Fashion.me tem este nome desde 2011. A empresa é uma starpup. Não somos uma empresa tradicional, somos uma empresa que está sempre mudando em busca de um sistema sustentável. Eu e Renato, meu sócio, trabalhávamos no mercado financeiro e nossas esposas se conheceram e queriam abrir uma loja de roupa. Como o investimento seria muito alto, resolveram começar algo na internet. No final de 2008, estavam todos falando de redes sociais e no começo de 2009 resolvemos colocar o projeto no ar. Logo no começo, com investimento zero, já estava atraindo 25 visitas por dia. Logo que a empresa nasceu, como foi o trabalho para começar a aparecer para as pessoas? Houve algum investimento em comunicação? Flávio Pripas: Logo no começo da empresa nem passou pela nossa cabeça investir em comunicação. Não tínhamos nem ideia de como fazer e nem pensamos em fazer algo de comunicação. Somos programadores e não tínhamos nenhum conhecimento sobre a área de comunicação. Nem sabíamos ainda como ganhar dinheiro com o site, como poderia divulgar o site. Foi tudo sendo aprendido com o tempo. No final de 2009, fomos em busca de um investimento do governo para pequenas empresas inovadoras que dava para as empresas 120 mil reais para ser investido em consultoria para a gestão do negócio, consultoria de mercado e uma consultoria técnica. No investimento consultoria de mercado, contratamos uma assessoria de comunicação, a NBPress, no começo de 2010, e está com a empresa até hoje. A assessoria ajudou muito a empresa a se tornar conhecida. A única iniciativa de comunicação foi a contratação da assessoria de imprensa e as suas ações. A assessoria faz um trabalho de reconhecimento da marca institucional, isto é, trabalha o reconhecimento da empresa entre investidores, potenciais clientes no mercado. Por outro lado, temos que realizar um trabalho de reconhecimento de negócio. Isto é, como o negócio é uma rede social, e esse é o business, poucas vezes a assessoria trouxe clientes que interessam para o negócio. O trabalho de assessoria não traz resultados que estão relacionados diretamente com o negócio. 105 E como foi estruturar uma estratégia para o trabalho da assessoria de imprensa para que conseguissem um resultado para a marca? Flávio Pripas: O começo com a assessoria de imprensa foi desestruturado. O trabalho com a assessoria de imprensa apenas começou devido ao incentivo do governo porque no momento em que tínhamos que decidir onde aplicar o dinheiro, era o que mais parecia fazer sentido e, claro, se mantém até hoje porque continua sendo importante institucionalmente. O trabalho da assessoria de imprensa se tornou muito importante e tornou a empresa tão reconhecida que o assédio da imprensa era muito grande. Hoje, a assessoria se tornou um filtro para a imprensa. Como é o seu envolvimento com o trabalho da assessoria de imprensa. E como são decididas as pautas a serem trabalhadas? Flávio Pripas: Me envolvo diretamente com o trabalho da assessoria de imprensa e tentamos manter uma dinâmica de trabalho muito simples. Hoje, a assessoria faz um trabalho 70% reativo e 30% proativo. O trabalho da assessoria é filtrar e ajudar nas pautas. Com o tempo já aprendi que tipo de matérias fazem sentido para o negócio e quais não fazem. Um exemplo do que não funciona é uma pauta que participamos que foi capa da Exame falando dos novos milionários na internet. Os empresários, inclusive eu, não estão milionários. O porteiro do meu prédio tinha a revista e, além, de não ter agregado nada para o negócio, ainda tem o problema da segurança. Hoje, o foco são as pautas que falam do negócio. Quanto você investe em comunicação? Flávio Pripas: Colocamos o trabalho da assessoria de imprensa dentro dos investimentos em comunicação e marketing. Já foram feitas várias parcerias comerciais com veículos de comunicação, que também são consideradas iniciativas de comunicação. Acabam fazendo parte de uma estratégia de comunicação. Algumas ações deram um resultado institucional, algumas deram resultados de negócios. A empresa não faz campanha de marketing – na internet, publicidade em veículos etc. Achamos que não dá certo. Fizemos algumas tentativas muito pequenas, mas deu para ver que não funciona. O investimento em assessoria de imprensa é de 2% a 4% do faturamento da empresa. Existe alguma forma de mensurar os investimentos em assessoria de imprensa? Como a empresa faz essa mensuração? Flávio Pripas: O retorno dado pela assessoria de imprensa não é medido de forma prática. Na verdade, temos um sentimento do retorno, mas não medimos. A empresa se tornou uma das conhecidas no mercado e usamos isso para o negócio. A assessoria de imprensa manda um relatório de centimetragem todos os meses, mas o material acaba virando “lixo”. É muito difícil de quantificar o resultado da assessoria de comunicação. Existe algum profissional internamente que faz esta interface com a assessoria de imprensa ou mesmo que execute alguma ação de comunicação? Flávio Pripas: Não temos nenhum profissional para fazer a interface com a assessoria de imprensa. Já houve, em 2012, quando contratamos uma diretora de marketing, mas o resultado não foi bom. Todas as iniciativas que a profissional tentou aplicar não funcionaram e queimaram dinheiro. O negócio do Fashion.me não tem nenhum trabalho parecido no Brasil. Nos EUA foram criadas empresas como: Twitter, Facebook, Google Plus etc., que são similares ao nosso modelo de negócio. Acho que a falta de conhecimento fez com que as várias iniciativas não trouxessem resultados. Gastamos alguns milhares de reais, mas deu tudo errado. Para a comunicação do site, com os usuários, tem uma profissional de jornalismo, com experiência em moda. Que apenas trabalha com o conteúdo do site, sem envolvimento com a comunicação mais 106 estratégica com os públicos-alvo. Essa profissional trabalha na geração de conteúdo para manter os usuários da rede ativos e informados, fazendo um trabalho diretamente para o negócio. Como é a sua rotina de trabalho com a assessoria de imprensa? Flávio Pripas: A dinâmica é muito por telefone, a hora que surgem as demandas, nos falamos para decidir o que fazer. Hoje, existe uma preocupação nossa pelo qualitativo, não tanto quantitativo. Existe algum plano de expansão das atividades de comunicação para os próximos anos? Flávio Pripas: Para os próximos anos, as iniciativas serão para marketing de negócio. Para ajudar no plano de vendas. Será para gerar vendas e não para aumentar usuários. As parcerias com outras empresas são estratégias de negócios. Entrevista com o Co-fundador e CEO da empresa Veduca, Carlos Souza Dia: 17 de janeiro de 2014 Local: escritório da empresa - SP. Sobre o entrevistado: Possui graduação em Engenharia Aeronáutica, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. Trabalhou no CreditSuisse e permaneceu por quase 10 anos na Procter&Gamble, onde teve passagem na área de marketing em diversas funções de várias marcas do grupo, até chegar a gerente de marketing das marcas Gillette, Shavecre e Pringles. Fundou a Veduca em 2011. Disponível em: http://www.linkedin.com/in/calsouza , acesso em 20 de maio de 2014 Sobre a empresa: A Veduca é uma empresa brasileira de tecnologia cujo propósito é levar o ensino superior de qualidade a qualquer pessoa que se disponha a aprender. Acreditamos que você é o maior responsável pelo seu próprio desenvolvimento. Nosso trabalho é disponibilizar as melhores ferramentas para que você possa trilhar seu caminho de sucesso. A Veduca é considerada uma pequena empresa e opera com 20 funcionários. Você vem do mundo corporativo e sua experiência está muito relacionado a um marketing mais voltado para produtos e com grandes verbas, é isso? Como é fazer comunicação numa startup? Carlos Souza: Trabalhei nove anos em marketing na Procter&Gamble. Cada marca da P&G é administrada como se fosse uma pequena empresa. Tem profissionais designados para área estratégica de crescimento das marcas. Uma das minhas responsabilidades era desenhar toda a estratégia de comunicação para essa marca. Então, falava com grandes agências de publicidade que prestavam serviço para a marca. Quando criei a Veduca, sem os mesmos recursos de uma grande empresa, a primeira escolha feita foi construir um produto, uma marca B2C (Business to Consumer), para o consumidor. Acredito no poder de uma marca se comunicar direto ao consumidor. Diferente de construir uma empresa para o B2B (Business to Business). Ter uma empresa B2B é ter contratos com grandes empresas e com poucas empresas, se uma empresa sai, você acaba perdendo bastante dinheiro. Agora, quando você tem uma base ativa de consumidores - a Veduca tem 253 mil estudantes ativos - se cai um ou dois, o negócio não se desestabiliza e logo se recupera. Logo no começo da estruturação da empresa, nossa preocupação foi deixar bem claro qual era o objetivo da empresa. A Veduca acredita como empresa, que o conhecimento deve ser distribuído a qualquer pessoa que deseja aprender. É nisso que a marca acredita. Uma vez que tínhamos essa missão, também de cunho social, considerando a carência que o Brasil tem neste setor, vimos que era algo que ganharia espaço para ser falado e que as pessoas gostariam de saber. Por isso, nossa primeira estratégia foi optar por fazer assessoria de imprensa. Assim, logo chegamos aos principais veículos de imprensa. O começo não foi muito fácil, na busca por uma assessoria de imprensa. Quando começamos a conversar como a assessoria de imprensa, primeiro a assessoria de imprensa precisou acreditar no produto, depois eles foram para a imprensa contar a história. 107 Nós não tínhamos dinheiro. Tínhamos dez mil reais para investir em assessoria de imprensa. A empresa Misasi Comunicação topou fazer um projeto de três meses com a Veduca pelo valor proposto. Depois procurei alguns profissionais de publicidade, grandes comunicadores, para discutir como transmitir essa mensagem no site. Os comunicadores falaram que a frase que falava a missão da empresa, e aparecia na principal área do site, estava ocupando a área mais premium do site, mas poderia ser ocupada para outras coisas. Porém, insisti que o que a empresa acreditava deveria estar em destaque no site, mesmo que ocupasse uma área premium. Na minha formação de “marqueteiro” acredito que quando a empresa fala no que acredita ela atraia pessoas/consumidores que acreditam na mesma coisa. Na comunicação de uma marca é fundamental que as pessoas entendam o que a empresa é e no que a empresa acredita. Se as pessoas acreditarem nos mesmos princípios e nos mesmos valores, elas vão te seguir, vão atrás da empresa, vão falar da empresa. Esse talvez tenha sido o principal fator de sucesso do início da Veduca. Essa estratégia de comunicação de falar o que somos, dar destaque e enfatizar no que a empresa acredita, e ir à imprensa para falar disso, foi o que mais deu certo e foi um fator importantíssimo para a empresa. O investimento em assessoria de imprensa foi a partir do ponto zero da empresa? Carlos Souza: O site Veduca era praticamente um protótipo. Tinham zero de acesso. Tinham quatro mil videoaulas no ar, tinha quase nada. O início do trabalho da assessoria de imprensa foi junto com a empresa. O resultado de assessoria de imprensa é um resultado institucional ou um resultado de negócio? Carlos Souza: Para a Veduca é um investimento de negócio. Hoje, temos um time dedicado para nos atender, fizemos reuniões mensais de pautas, definimos onde e como queremos comunicar. Se faremos um press release para comunicar algo, então discutimos, qual será a estratégia? Quando a empresa consegue manter um ritmo de lançamentos, e isso é bem coordenado com a assessoria de imprensa, a empresa está sempre saindo na imprensa e sempre tem pauta. Há alguns meses fizemos um estudo para ver qual era a nossa exposição em grandes veículos de imprensa. Descobrimos, através de um estudo interno, que devido a essa nossa estratégia de sempre ter novidade, um ritmo de lançamentos e coordenar bem com a assessoria de imprensa, conseguimos estar em grandes veículos uma vez por semana. Desde que obviamente você crie uma notícia relevante, crie algo inovador que tenha um valor para a população e que você execute bem com a assessoria de imprensa. As duas atividades precisam estar atreladas. Não adianta você criar coisas importantes e não ter alguém para comunicar para chegar aos grandes veículos. É preciso mudar e trazer novidades para público e para a imprensa? Carlos Souza: Não trazer novidades e ficar repetindo ações faz com que o público perca o interesse, assim como a imprensa. Tem muita coisa a ser feita. Sempre trazer novidades. E reforço, é preciso ter o trabalho de uma assessoria que sabia chegar até a imprensa. A Veduca já tentou fazer sozinha, mas não deu certo. Um outro ponto importante para ressaltar: cada empresa tem o trabalho de assessoria de imprensa que merece. Precisa saber o que a empresa quer. Às vezes a assessoria vem com uma estratégia, mas precisa estar alinhado ao que a empresa tem como objetivo. Um exemplo de última ação foi que lançamos um MBA internacional, o primeiro do mundo, e para isso fizemos um evento e um press release em português e um inglês, já que o curso era internacional. O resultado foi ótimo. Soltamos o press release através da PR Newswire e o nível que reverberação da notícia foi muito maior do que quando qualquer outra empresa brasileira faz alguma divulgação. Após o sucesso da reverberação desse press release, acabamos chamando a atenção de outras pessoas, fora do Brasil. Inclusive, fomos até à ONU, nos EUA, após essa divulgação. Como funciona a interface da Veduca com a assessoria de imprensa? 108 Carlos Souza: A empresa tem duas jornalistas internas que ajudam nesse contato com assessoria de imprensa. As profissionais têm outras atividades relacionadas aos conteúdos do site, mas também ajudam na interface com a assessoria de imprensa. Também gosto de acompanhar e sempre ver o press release, qual a pauta, as novidades. Gosto de ver e de controlar o ritmo de como estamos construindo a nossa marca na imprensa. Gosto de acompanhar e ajudar nessa construção da marca Veduca na cabeça das pessoas. Sempre reforçando que somos uma empresa de educação universitária. Tentamos manter um ritmo de um lançamento por semana. Os grandes lançamentos fazemos uma vez por mês. Você mede os resultados de comunicação? Como você mede os esses resultados? Carlos Souza: Sim, meço os resultados em comunicação. Nosso principal objetivo para o negócio são os alunos cadastrados e conhecimento dos nossos conteúdos. Então, quando minha base cresce faz parte das métricas de comunicação. Não fizemos a compra de mídia no Google, por exemplo, porque para a empresa vale mais a pena usar esse recurso para criar um novo curso e investir nas ações de imprensa. É o que mais traz alunos para a nossa base. Quais são as atividades das profissionais de comunicação que trabalham na Veduca? Carlos Souza: Elas fazem a curadoria dos cursos, do acervo desses cursos. O site Veduca é como se fosse uma grande biblioteca de conteúdos. Isso tudo precisa estar organizado. Outra atividade delas é o contato com os alunos cadastrados. O que eles querem ver, se os alunos estão tendo alguma dificuldade, enfim, todos os pontos de contatos (e-mail, página, redes socais etc.) são administrados por elas. Agora as profissionais terão outra atividade sob sua responsabilidade. Como estamos sendo muito convidados para escrever sobre educação e empreendedorismo, elas irão escrever esses artigos. Os canais de comunicação com o público são, principalmente, o site, assessoria, newsletter, redes sociais e, brevemente, call center. Queremos entender como o aluno se sente e quanto mais pontos de contato melhor, pois nos sentimos responsáveis por esses alunos. O foco de utilizar assessoria de imprensa está relacionado com a busca por investidores? Carlos Souza: O foco do nosso trabalho sempre foi e é, até hoje, construir uma marca na cabeça do consumidor. Já fizemos uma ou outra pauta de negócios, mas a principal estratégia foi buscar o aluno, o público da Veduca. A visibilidade entre os investidores se dá de forma natural. Nosso trabalho é orientado para o nosso “chefe” o estudante, o aluno. Todo o resto vem depois. As redes sociais têm alguma estratégia, assim como a assessoria de imprensa? Carlos Souza: Temos uma estratégia, assim como a assessoria de imprensa, porém com menos detalhes. Por exemplo, estamos sempre falando de grandes novidades com a imprensa, nas redes sociais damos atenção a pequenas novidades que muitas vezes não são pautas para a imprensa. Aproveitamos para atualizar sobre cada novo módulo etc. Nas redes sociais falamos muito e ouvimos muito também. É um canal de duas mãos. Os alunos nos ajudam. Já conseguimos corrigir coisas através da ajuda dos alunos. Vocês fazem marketing online? Carlos Souza: Ainda não. Usamos bem pouco, mas não é o foco. Não usamos também porque não foi necessário. As ações com assessoria de imprensa têm sido suficiente. Talvez com o tempo, considerando onde queremos chegar, tenha que investir em outros canais e em outras ferramentas. Mas hoje a assessoria de imprensa está nos ajudando e serve perfeitamente. Qual o investimento em comunicação? Carlos Souza: Grande parte do nosso investimento vai para as pessoas, os funcionários. Cerca de 20% vai para comunicação. Nosso foco é atrair e manter ótimos profissionais. A melhor forma para 109 continuar democratizando a educação de alta qualidade e passando nossa mensagem é investir em construir um novo conteúdo, disponibilizar gratuitamente para as pessoas e comunicar isso na imprensa. Entrevista com o fundador e CEO da empresa GetNinjas, Eduardo L'Hotellier Dia: 17 de janeiro de 2014 Local: escritório da empresa - SP. Sobre o entrevistado: Possui graduação em Engenharia da Computação, pelo Instituto Militar de Engenharia do RJ, também é graduado em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-graduado em Economia pela Coppead/UFRJ. Trabalhou nas empresas Milestone, Accenture, Bain&Company, McKinsey&Company, na área de tecnologia e na empresa Angra Partners, como analista financeiro. Disponível em: http://br.linkedin.com/in/eduardolhotellier , acesso em 20 de maio de 2014 Sobre a empresa: Fundado em setembro de 2011, o GetNinjas.com.br é uma plataforma online de contratação e anúncios de serviços. O site oferece oportunidades de trabalhos rápidos com retorno financeiro imediato e ajuda as pessoas que buscam por serviços com conveniência e praticidade a encontrarem aqueles que estão dispostos a realizá-lo. A empresa recebeu aportes de capital da Kaszek Ventures e da Monashees Capital. O GetNinjas é considerado uma micro empresa e opera com 25 funcionários. O produto ainda é gratuito, como já foram grandes sites. Tem custo e estrutura de pequena empresa, mas a receita de micro empresa? Eduardo L'Hotellier: Há alguns anos o empreendedor comprou a ideia e lançou um protótipo de lançar um marketplace de micro serviços. Quando começou a ganhar investimentos, mudou o nome do site, mudou o negócio e passou a ser um site de serviços. Tenho uma formação acadêmica na área de computação, mas profissional é de área de negócios. Você usa alguma estratégia de comunicação? Eduardo L'Hotellier: Logo no início do protótipo, mandamos e-mail através da Abracom para diversas assessorias de imprensa e conseguimos um parceiro para trabalhar conosco de graça. Nós precisamos do serviço e a assessoria precisa criar um portfólio, foi bom para os dois lados. A partir desse trabalho os investidores nos localizaram. Já com a GetNinjas, contratamos a NR7 para apenas trabalhar a marca. E em termos de atração de usuários investe em Google. Quem cuida do Facebook da empresa? Eduardo L'Hotellier: São profissionais internos. Pois não é a principal estratégia de comunicação de com seu público-alvo. Para o meu tipo de negócio precisa fazer uma estratégia de intenção, por isso o melhor é a busca. Como o nosso produto tem uso estimulado pela intenção e não pelo desejo, nosso foco não são as ações em Facebook. Por que você começou o trabalho com assessoria de imprensa? Eduardo L'Hotellier: Contratamos a assessoria de imprensa porque é o melhor jeito de falar com a imprensa. É o melhor caminho, principalmente pela expertise e pelos recursos. No começo eu mesmo fazia os releases com ajuda da assessoria de imprensa. Hoje, tenho uma jornalista trabalhando internamente e ela ajuda a assessoria de imprensa. Essa profissional já trabalha há dois anos na empresa. A assessoria faz a parte operacional do contato com a imprensa. É um trabalho mais de posicionamento. 110 A assessoria de imprensa é estratégica para a empresa? Eduardo L'Hotellier: Não é a principal estratégia da empresa, mas é uma estratégia que se paga. É um trabalho que dá frutos. Para nós a assessoria de imprensa não traz clientes. As ações de imprensa são mais institucionais. Os empreendedores devem contratar assessoria de imprensa para divulgar seu negócio, mas é importante ter alguém interno que conheça bem a empresa. Continuo participando das ações, das reuniões e da aprovação dos releases. É uma forma de estimular que outras pessoas falem de você. Vocês têm um plano de ação de assessoria de imprensa? Eduardo L'Hotellier: Temos um plano, mas sempre passível de mudanças. Fizemos um plano com meta básica do que comunicar, mas pode mudar. Dependendo do conteúdo do release eu mesmo escrevo, se for algo mais relacionado ao dia a dia, a assessoria de imprensa escreve o press release. Qual o investimento em comunicação? Eduardo L'Hotellier: Apenas 2% da receita da empresa são dedicados à assessoria de imprensa. Você mede o retorno em comunicação? Eduardo L'Hotellier: Se for medir o retorno, considerando o investimento, ele será negativo. Não traz usuários. A assessoria traz parceiros, posiciona entre os investidores, coloca a empresa na cabeça das pessoas, mas é um retorno muito difícil de mensurar porque não é um retorno direto. Se não fosse a assessoria de imprensa, o primeiro investidor não teria visto a empresa. Quanto vale isso? Não sei, é muito difícil de mensurar. Não abro mão de ter o trabalho de uma assessoria de imprensa. Mesmo com pouco dinheiro, vale a pena investir. É um trabalho que faz diferença a longo prazo. A assessoria ajuda a atrair talentos para trabalhar na empresa. Você faz outro trabalho com os usuários? Eduardo L'Hotellier: Muito Google AdWords, maior investimento mensal. Newsletters algumas vezes, mas não muito. O que você indica quando se fala em comunicação para novas empresas? Eduardo L'Hotellier: Indico assessoria de imprensa. Sugiro ao empreendedor contratar um profissional interno para ajudar a criar uma história da sua empresa para divulgar. O jornalista quer uma história para que os leitores cliquem. Jornalismo é um business de notícia, o resultado deles são os cliques. A empresa precisa saber o que o leitor quer. Quais pautas funcionam para a imprensa? Eduardo L'Hotellier: A gente entrega um valor ao leitor, levando uma informação importante ao leitor e ajudando o jornalista a criar um conteúdo relevante e clicável. Funcionam quais são os serviços mais buscados e mais anunciados em cada cidade. Dicas de profissionais para casamento, dicas de construções. São informações mais fáceis de trabalhar ao longo do ano, pois são pautas mais frias. Próximos passos da empresa? Eduardo L'Hotellier: Colocar o sistema de receita para funcionar. Investir nos aplicativos mobile. Principal mensagem da empresa? 111 Eduardo L'Hotellier: É um local onde as pessoas podem encontrar qualquer serviço. Entrevista com o CEO da empresa Meu Amigo Pet, Daniel Nepomuceno Dia: 14 de março de 2014 Local: por telefone. Sobre o entrevistado: Possui graduação em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP. Tem longa experiência em e-business, e-commerce e CRM, tendo passagem pelas empresas Vivo, TIM, Positivo e Renner. Mesmo não sendo o fundador da empresa, estruturou a empresa praticamente do zero, criando uma estratégia de marca e toda operação de e-commerce, estruturando toda a logística, RH, compras, jurídico, contábil, financeiro, marketing, comercial etc. Disponível em: https://www.linkedin.com/in/danielnepomuceno, acesso em 20 de maio de 2014 Sobre a empresa: O Meu Amigo Pet é o principal site de venda de produtos para animais de estimação. É o primeiro no conceito de "pet lover" e está presente na internet desde 2008. Tem enraizado em seus valores a preocupação com os animais e é referência pela qualidade de seus produtos e serviços, sempre com foco no bem-estar de donos e animais de estimação. O Meu Amigo Pet é considerado uma pequena empresa, quase média, e opera com 150 funcionários. Quais são as práticas de comunicação que fazem do dia a dia da empresa? Daniel Nepomuceno: Comunicação para gerar venda online: Google, Buscapé, parceiros. As redes sociais, a ideia foi atrair fãs. Tem a comunicação para as lojas físicas, como panfletos etc. Tenho uma equipe de marketing online e uma trade marketing, mais assessoria de imprensa. As ações em redes sociais são feitas por uma agência de mídias sociais. Fazem um trabalho de post, conteúdo, e análises de conteúdos, assim como as parcerias estratégicas de conteúdo como com o Dr. Pet, Alexandre Rossi. Você faz assessoria de imprensa? Daniel Nepomuceno: Fazemos assessoria de imprensa. Temos uma agência que opera junto como marketing. Quando são informações das lojas físicas opera junto com o pessoal de trade marketing e quando o assunto é a loja online, atua junta com o pessoal de marketing online. O marketing é a interface com redes sociais e assessoria de imprensa. Faço reunião com as equipes de marketing e a partir do que decidimos fazer, é que são acionadas a assessoria de imprensa e agência de mídias sociais. As equipes são lideradas por gerentes, mas fico à frente das aprovações finais. Temos a assessoria de imprensa Profissionais do Texto. Você mede os resultados? Como são medidos? Daniel Nepomuceno: O que cria marca é a assessoria de imprensa. O que gera resultado de curto prazo, que interfere diretamente no lucro são as campanhas de marketing direto. A empresa não faz campanha sem medir. A ideia é investir recurso e tempo no que realmente traz resultado. Nas redes sociais medimos o alcance, com os resultados vindos das ferramentas das redes socais. A gente tem trabalho para sempre conseguir gerar métricas para medir todas as ações. O mundo online é mais fácil de ter métricas, mas estamos nos esforçando para levar isso para mundo offline. A gente tem investindo em tecnologia de câmeras que monitoram as lojas para ver o comportamento do usuário. Investimento em comunicação? Daniel Nepomuceno: Investimos 12% em comunicação. O que me faria investir mais seria via parcerias e fornecedores. Caso tire na própria, pode comprometer a lucratividade da empresa. Você está satisfeito com o trabalho com comunicação? 112 Daniel Nepomuceno: Sempre queremos mais. Mas estou muito satisfeito com o que temos feito e conquistamos. Nossa página no Facebook é considera a segunda página mais importante do segmento. Nosso site é considerado a maior página pet da América Latina. Chegamos bem longe com pouco tempo, mas temos a consciência que temos muito o que fazer para melhor ainda mais. Principalmente os investimentos para mensurar. O que atribui o sucesso do Facebook? Daniel Nepomuceno: Uma vez fui para a França fazer um benchmarking para pet shops, inclusive o trabalho que era feito em redes sociais. Então pude ver é que os consumidores gostam mais de conteúdo do que propriamente a marca. Cheguei à conclusão que os consumidores querem ouvir dos seus cães, querem ouvir sobre as raças que gostam. Não querem ficar ouvindo sobre a empresa. A página tem dois anos e meio. Quantos funcionários você tem na empresa? Daniel Nepomuceno: São 40 no administrativo, 106 no total, incluindo lojas. Você realiza alguma ação de comunicação interna com eles, tanto os funcionários do e-commerce como das lojas físicas? Daniel Nepomuceno: Sim, tanto no escritório como nas lojas possuímos mural, café da manhã com o presidente e no caso do escritório, mais especificamente, tenho reunião de resultados semanal. E como funciona a comunicação com os franqueados? Daniel Nepomuceno: No workshop apresentamos benchmarkings da rede para os franqueados melhorarem sua gestão e novidades da rede. No café da manhã discutimos as principais dificuldades dos franqueados. Entrevista com a Co-fundadora da Uuulalá, Bianca Franchini Dia: 20 de maio de 2014 Local: por e-mail. Sobre o entrevistado: Possui formação acadêmica de Desenho Industrial com habilitação em Designer, pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Fundou em 2004 a empresa Designeria, sendo responsável por projetos de designer, gestão, pesquisa, desenvolvimento e inovação e atendimento ao cliente. Também teve passagem pela área acadêmica como palestra e professora auxiliar em algumas universidades. Em 2012, fundou a Uuulalá e atuam paralelamente nas duas empresas. Informações enviadas pela própria entrevistada. Sobre a empresa: A Uuulalá é uma empresa jovem, criada por três grandes amigas e uma nobre intenção: a de trazer muitas novidades gostosas para acrescentar mais saúde e energia para o dia a dia das pessoas. A empresa faz sucos detox e de diversos sabores e para várias necessidades. A empresa trabalha com ingredientes 100% frescos, naturais e sem conservantes. Eles também são livres de glúten e de qualquer tipo de açúcar. Os produtos são vendidos em estabelecimentos que comercializam produtos saudáveis, por telefone ou pela internet. Como você divulga a sua empresa e seus serviços? Bianca Franchini: Redes sociais (Instagram e Facebook), Website (que ainda não está concluído), revistas e jornais, rádio e televisão, blogs, eventos e parcerias. Sua empresa faz uso das práticas de comunicação? Como começou? 113 Bianca Franchini: Tentamos fazer uso da maior quantidade de canais de comunicação sim, mas buscamos fazê-lo de maneira bastante espontânea. Basicamente, fomos procuradas por uma revista, a Harper'sBaazar, e na sequência, muitas outras vieram. Depois veio o jornal, o rádio, a TV etc. Como foi incorporar as práticas de comunicação no dia a dia da empresa? Bianca Franchini: Podemos dizer que é ao mesmo tempo tranquilo, mas também um desafio. Não temos ninguém com formação em jornalismo ou relações públicas, temos apenas um escritório de design que nos atende e que, na medida do possível, faz de uma maneira bastante intuitiva todo o trabalho de divulgar a Uuulalá. Sua empresa tem um plano de comunicação? Bianca Franchini: Não temos um plano concreto de comunicação, infelizmente. Sua empresa tem área de comunicação? Bianca Franchini: Não possuímos uma área específica voltada par isso. Apenas a house de design, que cuida de tudo. Existe algum profissional de comunicação atuando nessa área? Bianca Franchini: Yes, eu que sou designer, e meu escritório de design. Qual é foco do seu trabalho de comunicação, mais institucional (para reforço da marca) ou mais comercial (para atrair clientes)? Bianca Franchini: Nosso foco é mais voltado para as vendas, mas ainda assim, sempre que podemos, procuramos ações que tragam visibilidade para a marca. Como os clientes chegam até a sua empresa? Bianca Franchini. Basicamente por e-mail, telefone, whatsapp. Como a imprensa chega até a sua empresa? Bianca Franchini. Eles nos enviam e-mails ou nos telefonam. Qual foi sua principal motivação para investir em comunicação? Bianca Franchini. Sabemos da importância de se comunicar corretamente, pois duas das três sócias são designers. Você mede os resultados de comunicação? Bianca Franchini: Mais uma vez, fazemos isso de forma intuitiva. Não temos relatórios específicos, infelizmente. Buscamos coletar informações das próprias clientes, que nos dão feedback de nossas ações, produtos e serviços. Está satisfeito com os resultados e o trabalho de comunicação de sua empresa? Bianca Franchini: Confesso que somos perfeccionistas. Estamos sempre com aquela ideia fixa de que podemos mais. Podemos nos comunicar melhor, podemos ter mais seguidores no Instagram, 114 podemos ser mais conhecidas. Enfim, queremos sempre nos superar, então eu diria sinceramente que se fosse para avaliar o quanto estamos satisfeitas com a nossa comunicação, eu daria uma nota 6.