UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO IGEO CCMN Departamento de Geografia E CARTOGRAFIA NA OGEONIMIA ESTADO DA ARTE DA PESQUISA HIDROGRAFIA GEONÍMICAFLUMINENSE NA UFRJ Prof. Dr. Paulo Márcio Leal de Menezes GeoCart – Laboratório de Cartografia RESUMO 1 – Introdução 2 – Nomes Geográficos, Topônimos e Geônimos 3 – Taxionomia dos Topônimos 4 – A Importância do Estudo Geonímico 5 – Geonímia do Rio de Janeiro 6 – Geonímia Hidrográfica do Rio e Janeiro 7 - Conclusões 1 - INTRODUÇÃO Nomes geográficos: nomeiam ou identificam um determinado espaço geográfico. Um lugar que possua um nome que o identifique, certamente garante tanto a sua existência, como também o conhecimento de sua posição e localização no espaço. A ação de nominar ou nomear um lugar é essencialmente humana, estabelecendo, inicialmente, uma relação cultural, diretamente ligada à ocupação, posse e conhecimento do local ou área nomeada. Estudo bastante desenvolvido, por volta do fim do século XIX e meados do século XX (1830 a 1970). Hoje desenvolvido apenas em algumas áreas da lingüística. Voltando a ser objeto de estudo, devido às inúmeras relações que podem ser estabelecidas. Fortes relacionamentos diretos com diversas ciências: a História, Geografia, Cartografia, Lingüística, Antropologia, Economia, Gestão Territorial, entre outras. Indispensáveis para diversos níveis da comunicação humana: aspecto político aspecto cultural Em alguns casos a própria pronúncia ou sotaque do nome, pode ter uma importância fundamental para a identificação do local de onde é oriunda. Arroix e Arroz – Bidê (RS) e Bidê (RJ) – Terno - Sopa Arroio – cochipó – furo – riacho – ribeirão - igarapé Grafia, pode alterar substancialmente o seu significado, Computacionalmente qualquer alteração por mínima que seja, pode gerar um nome diferente em uma base de dados. Justificativa para padronização, seja na grafia dos nomes existentes, como também em uma orientação para a criação de novos nomes geográficos, notadamente na esfera executiva, através de nomes administrativos. A análise evolutiva de uma área, de uma feição geográfica ou de um lugar, mostrará também aspectos culturais, locais, políticos e outros, que podem recair sobre o lugar. Desenvolvimento de uma base de dados georreferenciada, permite que se mostre a evolução espaço-temporal de uma área, levando-se em conta o aspecto e a observação dos nomes geográficos a ela associados, desde suas características no aspecto lingüístico, alterações de grafia, de nomes, permitindo que se estabeleçam ligações e articulações diversas sobre o espaço-tempo. PROPOSTA DO TRABALHO da UFRJ Apresentar conceitos sobre nomes geográficos, Definir a Importância para a pesquisa histórica-geográfica-cartográfica. Estudo geonímico da Hidrografia do Estado do Rio de Janeiro 2 – NOMES GEOGRÁFICOS, TOPÔNIMOS E GEÔNIMOS Estudo dos nomes geográficos faz parte da Onomatologia, também Onomástica parte da Glotologia que estuda os nomes próprios em geral. Toponímia, vocábulo formado pelos radicais, topo e onyma significado estudo dos nomes de países, sítios, povoações, nações, assim como rios, lagos, mares, montes, montanhas, nomes de lugares ou nomes geográficos. Antroponímia estuda os nomes próprios individuais. Toponímia e Antroponímia estão contidas no sistema onomástico Toponímia pode ser considerada como um termo semanticamente rico, sua definição pode variar dependendo do aspecto que venha a ser abordado Toponímia: ciência que se propõe a estudar a origem e transformações dos nomes de lugares. (Rostaing, 1948) Estudo dos nomes de lugares, caracterizando portanto os nomes geográficos. (Furtado, 1957) Conceituação dentro de um contexto espacial: nomeia um lugar, uma feição, seja ela natural ou artificial. Compõe-se de uma parte genérica e outra especifica. Exemplos: Rio Amazonas, Rio Paraná, Serra Geral, Serra do Mar, Lagoa dos Patos, Lagoa Mirim Rio, serra e lagoa, constituem o gênero geográfico, ao qual corresponde o termo geográfico. Amazonas, Paraná, Geral, do Mar, dos Patos e Mirim, a parte específica, que precisa a espécie do lugar ou acidente nomeado. O gênero, determina o elemento geográfico; a espécie, qualifica unicamente. A Cartografia considera, impositivamente, esses dois elementos, a parte genérica de um topônimo, indica a que tipo de acidente se refere este nome, se a um curso dágua ou se a uma forma orográfica, por exemplo, enquanto a específica particulariza, identifica e qualifica com precisão o acidente, ao mesmo tempo em que, no aspecto geral, exprime um atributo característico do lugar. Topônimos e nomes geográficos são claramente sinônimos. Em uma abordagem histórica, nomes geográficos são testemunhas da ocupação antrópica de um espaço geográfico. Ficam registradas, a passagem temporal de gerações, de culturas, povos e grupos lingüísticos, indicando claramente a ocupação e o domínio de um território. Geonímia foi definido por Houaiss (1999) ATLAS MIRADOR. Todos os Atlas nos glossários geográficos, apresentam a relação dos nomes geográficos através de um código, definido por letras e números, que identificam páginas e quadrângulo das coordenadas geográficas que caracterizam a localização do nome Houaiss (1999), o código poderia ser substituído pelas coordenadas geográficas, identificando diretamente o quadrângulo de inclusão do topônimo. Extensão do conceito de topônimos e topomínia, entendendo-se a geonímia como os nomes próprios de lugares e acidentes geográficos. Pode ser verificado que o conceito expandiu-se possibilitando a associação de coordenadas geográficas aos nomes geográficos. Nomes geográficos, considerados como informação geográfica ou um exemplo de geoinformação, Ampla e irrestrita possibilidade de ter coordenadas geográficas associadas, em qualquer nível de escala de observação, levando-se portanto, para a representação cartográfica, a conseqüente associação ao sistema de coordenadas da representação. Geonômio: nomes geográficos identificadores de quaisquer feições geográficas naturais ou antrópicas, recorrentes sobre a superfície da Terra e, portanto, passíveis de serem georreferenciadas. Menezes e Santos (2006) 3 – TAXIONOMIA DOS TOPÔNIMOS O estudo lingüístico da Toponímia permite classificar, segundo o conteúdo léxico-semântico, em diversas taxionomias toponímicas de natureza física e de natureza antropoculturais. (DICK. 1992) O estudo das vertentes taxionômicas permite estabelecer conclusões sobre a ocupação antrópica Define tendências das diversas antropológicos, épocas políticas etc. denominações, aspectos culturais, A determinação da época ou o aspecto temporal da atribuição do nome é um dos aspectos de maior importância no estudo topo-geonímico Rio de Janeiro – Mapa Comemorativo da Independência - 1922 Taxionomia de Natureza Física Taxionomia Astrotopônimos: Significado topônimos relativos aos corpos celestes em geral topônimos relativos às Cardinotopônimos: posições geográficas em geral topônimos relativos à escala Cromotopônimos: cromática relativos às Dimensiotopônimos: topônimos características dimensionais dos acidentes geográficos, como extensão, comprimento, largura, grossura, espessura, altura, profundidade topônimos de índole vegetal, Fitotopônimos: espontânea, em sua individualidade Geomorfotopônimos: topônimos relativos às formas topográficas: elevações de terrenos topônimos resultantes de Hidrotopônimos: acidentes hidrológicos em geral. topônimos de índole mineral, Litotopônimos: relativos também à constituição do solo, representados por indivíduos topônimos relativos a Meteorotopônimos: fenômenos atmosféricos topônimos que refletem o Morfotopônimos: sentido de forma geométrica topônimos de índole animal, Zootopônimos: representados por indivíduos domésticos ou não Exemplos Estrela, Serra da Estrela, Passa Três, Ponta Negra, Vermelha, Ilha Grande, Serra Coqueiros, Laranjeiras, Serra do Morro, Serra do Mar, Rio Turvo Itaorna Terra Fria, Cabo Frio, Volta Redonda, Serra das Araras, Quatis, Toca da Onça Os locais foram batizados com nomes dados devido às características existentes na época do local, na época de sua designação. Cova da Onça: Maricá, RJ, foi dado devido as onças que habitavam o lugar. Cala a Boca: Maricá, RJ, tem este nome devido a um bandido chamado Cunha Marujo, que berrava “Cala Boca, desgraçado, se não morre”. Por sua vez os tropeiros e viajantes eram aconselhados a “Cala a boca e não faça ruído, pois os bandidos podem ouvi-lo”. Pão de Açúcar, pela semelhança com o produto obtido no processamento de cana de açucar. Nos dias de hoje muitas das qualidades ou características relativas aos nomes podem não mais existir ou fazer parte das características locais atuais, mas na época era algo bastante marcante. Taxionomia de Natureza Antropo-cultural Os nomes geográficos de natureza antropo-cultural podem apresentar as tendências de domínio, poder, políticas, homenagens religiosas e políticas entre outros. Através do estudo da época da denominação pode estabelecer os períodos de influências diversas: políticas, culturais e outras. Taxionomia Animotopônimos: Antropotopônimos: Axiotopônimos: Corotopônimos: Cronotopônimos: Significado topônimos relativos à vida psíquica, à cultura espiritual, abrangendo todos os produtos do psiquismo humano, cuja matéria prima fundamental, e em seu aspecto mais importante como fato cultural, não pertence à cultura física Topônimos relativos aos nomes próprios individuais: topônimos relativos aos títulos e dignidades de que se fazem acompanhar os nomes próprios individuais topônimos relativos aos nomes de cidades, regiões, estados, países, continentes. topônimos que encerram indicadores cronológicos representados, em Toponímia, pelos adjetivos novo/nova, velho/velha Exemplos Serra das Almas, Dores do Macabu Rio Candinho, Praia do Abraão Comendador Levy Gasparian Friburgo, Rio da Aldeia Nova Friburgo, Córrego Velho Dirrematotopônimos: topônimos constituídos por frases ou enunciados lingüísticos. topônimos relativos às Ecotopônimos: habitações de um modo geral topônimos relativos aos Ergotopônimos: elementos da cultura material topônimos referentes aos Etnotopônimos: elementos étnicos, isolados ou não (povos, tribos, castas) topônimos relativos aos Hierotopônimos: nomes sagrados de diferentes crenças: cristã, hebraica, maometana, etc; às efemérides religiosas; às associações religiosas; aos locais de culto topônimos relativos aos Hagiotopônimos: santos e santas do hagiológio romano topônimos relativos às Mitotopônimos: entidades mitológicas topônimos relativos aos Historiotopônimos: movimentos de cunho histórico-social e aos seus membros, assim como às datas correspondentes topônimos relativos às vias de Hodotopônimos: comunicação rural ou urbana topônimos relativos aos Numerotopônimos: adjetivos numerais topônimos constituídos pelos Poliotopônimos: vocábulos vila, aldeia, cidade, povoado, arraial topônimos relativos às Sociotopõnimos: atividades profissionais, aos locais de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade (largo, páteo, praça) topônimos empregados em Somatotopônimos: relação metafórica a partes do corpo humano ou do animal Serra do Deus Me Livre Serra da Carioca Rio do Esmeril Campos dos Goytacazes Rio Canaã, São João do Meriti, Saco do Inferno Córrego Bandeira, Canal da Passagem Passa Vinte, Três Barras Aldeia Velha, Arraial do Cabo Serra do Sapateiro Ribeirão do Pescoço do Cavalo 4 – A IMPORTÂNCA DO ESTUDO GEONÍMICO Nomes geográficos: testemunhos históricos do povoamento, descobrimento, conhecimento, presença, permanência entre outros, sobre e do espaço geográfico. Passagem de gerações, raças, povos e grupos lingüísticos, na sucessão da ocupação de um território, assinaladas pelo conhecimento humano e a expansão do espaço terrestre conhecido e habitado. Individualização e humanização do espaço geográfico, diferenciado de qualquer outro local: assinatura e o seu batismo. Constituem a linguagem geográfica essencial, atribuindo ao local a sua alma, caracterizada por um grupo de palavras, que por sua vez possuem um significado, acepção ou sentido, expressando muito, tanto do terreno nomeado, quanto do povoamento que foi estabelecido no local. Através desta abordagem pode-se facilmente caracterizar a sua importância tanto para a Cartografia como para a Geografia. Identificar o vocábulo indicativo do nome geográfico - restaurar o seu termo, significado e correta expressão, - associar o aspecto histórico-temporal, - associar as coordenadas geográfica, Caracteriza a evolução não só do geônimo, mas também informações de uma riqueza sem par relacionado ao espaço geográfico e demais características associadas à este mesmo espaço geográfico. Associado a um estudo lingüístico de um vocábulo, o nome geográfico pode refletir a estrutura vertical ou dialetológica ou ainda a geologia lingüística (histórica), bem como a estrutura horizontal ou geográfica do idioma. Nomes geográficos retratam as vicissitudes da História, vida de um povo, mentalidade da época e do próprio povo, e as suas características fisionômicas. A ligação espaço-tempo é indissociável e implícita, por ser marcante e determinante, as influências históricas, sociológicas, econômicas, antropológicas e geográficas. (Souza 1930) Topônimos, que são ou serão fósseis lingüisticos, caracterizam e refletem línguas, dialetos e estratos lingüísticos das línguas faladas pelos povos que antecederam, com influência nas que serão sucedidas. Tôponimos, cientificamente estudados e traduzidos, podem revelar detalhes importantíssimos sobre o aspecto histórico–cultural e geográfico do local. No estado do Rio de Janeiro existe uma grande quantidade de nomes que são oriundos do Tupi: Niterói (mar morto ou escondido), Carioca, Jacarépagua, Jacuecanga, Parati, Pedra do Açu (Grande) Se os engenheiros que projetaram as Usinas de Angra dos Reis, soubessem que o significado de Itaorna é terra podre, talvez tivessem escolhido outro local. Um outro estrato lingüístico também bastante presente no Brasil, e no Estado do Rio de Janeiro, em uma escala um pouco menor, deve-se aos vocábulos de origem africana. Não há Geografia sem nomes geográficos. Há algum tempo atrás, a própria Geografia chegou mesmo a constituir-se na sustentação da ciência Geográfica, através da Geografia Descritiva. Em termos de Cartografia não existe a figura de um mapa ou uma carta muda que não possua nomes geográficos. Sem esses componentes o mapa passa a representar um mero cartograma. A diacronia dos nomes geográficos, associados como geônimos, permite estabelecer o estudo espaço-temporal (histórico–geográfico), tendo no mapa (visão cartográfica), uma das suas principais fontes de informação. Em qualquer pesquisa histórica, ao surgir um nome, existe a necessidade primeira de localizá-lo no espaço, caracterizando então a interface História, Geografia e Cartografia. o -44 -21 o -43 o -42 o -41 o UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO IGEO Departamento de Geografia Laboratório de Cartografia -21 o ESTADO DO RIO DE JANEIRO Projeção Cilindrica de Espaçamento Regular Atualizado até -22 / / 199 o -22 o N -23 o -23 Escala Gráfica -45 o 10 km 5 0 10 20 30 40Km -42 o -41 o o 5 – GEONÍMIA DO RIO DE JANEIRO Desenvolve-se por setores: - Cidades, Distritos, povoados - Elementos hidrográficos - Elementos orográficos Levantamento em mapas e documentos e alimentação de uma base de dados espaço-temporal Objetivos: -Levantamento do geônimo no contexto espaço-tempo -Caracterização etmológica, linguística, sócio-cultural do nome geográfico atribuído ao local -Verificação das alterações ocorridas nos nomes e determinação do(s) motivo(s) da(s) mudança(s). -Estudo e definição da motivação original e das alterações (se houver) Municípios, Distritos e Povoados 92 Municípios, 178 Distritos e 478 (aprox) povoados Extintos (7) Vila da Rainha, Santo Antonio de Sá, São José d’El Rei, Vila Iguaçu, São Francisco de Paula, São João Marcos, Vila de Estrela Fatores de Influência na Geonímia Fluminense - 5 fatores (Santos, 2008) - Implantação do sistema de sesmarias. - Existência da rede hidrográfica localizada no entorno do recôncavo da baía de Guanabara. - Presença marcante da Igreja Católica nas terras brasileiras, desde os dois primeiros séculos de colonização, de forma particular no território fluminense. - Corrida às pedras preciosa e ao ouro na região das Gerais, evidenciado a partir de 1695. - Chegada da família real em 1808. Sesmarias -Os direitos adquiridos na ocasião da doação das capitanias eram hereditários, mas cabia aos donatários apenas vinte por cento do total das terras. O restante deveria ser concedido a terceiros: as sesmarias. -Doadas a homens que provassem ser de muita posse e família, e cada indivíduo só poderia receber uma sesmaria. -As sesmarias eram doadas sob condições resolutivas, que previam ao concessionário: medir e demarcar as terras; torná-las agricultáveis; e confirmá-las em tempo hábil, depois de cumpridos os dois primeiros estágios. -Sesmarias e Capitanias Hereditárias: marca o início efetivo da ocupação da Colônia, com a instalação dos primeiros engenhos de açúcar e a fundação das primeiras vilas e fortes na orla litorânea. -Identificação com aquelas terras novas pelos recém-chegados europeus. -As sesmarias atuaram como lastro exploratório e expansionista dos lugares em conjunto com a Igreja, pois em cada uma delas a demonstração de cristandade e fé do sesmeiro, o responsável pela sesmaria, ocorria através do levantamento ao culto do santo de sua devoção, que na quase totalidade dos casos, transformava-se no primeiro nome geográfico do lugar. Alguns Exemplos Cachoeira de Macacú 1644- Santo Antonio do Casserebu ou Casseribu. Origem étnica híbrida português - povos originários. Motivação composta hagio-animotopônimo.. 1697 – Santo Antônio de Sá – composto hagio-antropotopônimo, origem híbrida portuguesa e povos originários do Brasil. 1868 – Santíssima Trindade de Santana de Macacu – motivação híbrida hagiozôotopônimo, origem etnológica composta portuguesa e povos originários. 1898 – Santa’Ana de Japuíba – motivação híbrida hagio-fito topônimo. Origem etnológica composta portuguesa e povos originários. Japuíba – corruptela de yapú-yba, a árvore dos japús. 1923 – Cachoeiras, hidrotopônimo, origem portuguesa. 1943 – Cachoeiras de Macacu – Motivação hidro-zôotopônimo. Origem étnica composta: portuguesa e povos originários. Gentílico: cachoeirense. São João da Barra 1622 – Atafona – Do árabe attãhuna, moinho. 1630 – São João da Praia do Paraíba – composto hagio-morfo-hidro topônimo, origem híbrida portuguesa e povos originários do Brasil. Paraíba – Do tupi corruptela de pará-ahyba : rio ruim, imprestável para a navegação. 1667 – São João da Barra – composto hagio-geomorfo topônimo, origem portuguesa. Barra – Do latim barra, travessa. Origem obscura. Outra versão latim origem celta (cimbrico bar, ramo, que se acha no inglês). Motivação: hagiotopônimo Origem étnica: portuguesa. Gentílico: sanjuanense Rede Hidrográfica -Facilitou em muito, a comunicação entre o litoral e o interior. -permitiu o transporte de víveres e abastecimento das áreas que se desenvolviam inicialmente à sombra da monocultura do açúcar. -No século XVIII serviu de suporte aos que iam em busca dos metais preciosos nas Minas Gerais, povoando o interior do Estado. As terras relativamente baixas, de Mangaratiba até o Espírito Santo tanto facilitaram, quanto foram obstáculos, para a instalação dos primeiros núcleos de povoação fluminenses no entorno da baía de Guanabara, a partir do Rio de Janeiro, em 1565. Penetraram na região seguindo o curso dos rios Meriti, Suruí, Sarapuí, Iguaçu, Magé, Inhomirim, Guapimirim, Macacu, Guaxindiba, dentre outros e efetivaram sua ocupação com a instalação dos primeiros engenhos. -O flumens, que veio caracterizar o gentílico – fluminense - foi fator preponderante e decisivo na expansão da hinterlândia fluminense. O colono do foi obrigado, por circunstâncias da própria paisagem natural do território, a vencer lagoas, alagadiços, charcos, terrenos inundados, brejos e pântanos. Exemplos Fósseis lingüísticos de origem portuguesa, até hoje existentes: Canal do Mangue; rio do Brejo, fazenda do Brejo, capela de Nossa Senhora da Conceição do Pantanal são marcas no território, da influência que esses fatores naturais tiveram na relação do colono com o ambiente. A ocorrência de brejos que se formavam ao longo de muitos rios fluminenses, não apenas eram um empecilho a ocupação efetiva do solo, ao impor-se como uma barreira natural a penetração, mas também acarretava uma série de problemas de salubridade. O Rio Meriti, um dos mais importantes, era conhecido como Rio dos Mosquitos. Epidemias que grassaram no século XIX, tiveram como causa preponderante esta insalubridade, principalmente na baixada fluminense. Presença marcante da Igreja Católica -incentivada e permitida pelo poder político da época, que tinha seus recursos totalmente comprometidos com o aparelho burocrático e com a defesa externa. -papel pioneiro na mediação entre a cultura portuguesa e a dos povos originários do Brasil, ao entrelaçar as suas inerentes funções religiosas ao poder da Coroa portuguesa, tomando para si o papel que a economia da época não conseguia exercer: agregação da população. -A partir da matriz saíam incursões de sacerdotes, que seguiam as margens dos rios, subiam as montanhas, erigiam capelas, fundavam colégios, organizavam aldeamentos dos nativos e exerciam a catequização. -As povoações surgiam em torno de capelas simples, construídas por iniciativa dos proprietários rurais. -Elevação de algumas dessas capelas a sedes paroquiais, transformando-as em curatos – povoados com a liderança espiritual de um cura ou vigário - ou freguesias, com a presença constante e diária de um sacerdote O fator eclesiástico influenciou de forma considerável a geonímia fluminense -Cultos e quermesses reuniam fregueses para o convívio social. Em torno da matriz organizava-se um arraial, local de trocas, pequenos comércios, ranchos e moradas. -A permanência do colono na freguesia de origem, facilitou a identidade do mesmo com essa freguesia, que de forma natural assumia o nome de santos do hagiológio católico romano. -A imposição dos sacerdotes católicos, jesuítas em sua esmagadora maioria, da criação e utilização de uma língua franca, a Língua Geral, que se traduzia numa mistura de palavras portuguesas, africanas e dos povos nativos que se comunicavam nas terras fluminenses em tupi. Motivação Toponímica dos Nomes Geográficos - RJ 22% 17% Hidrotopônimos 14% Litotopônimos Hagiotopônimos Zôotopônimos Antropotopônimos 22% 25% Origem Étnica Nomes Geográficos - RJ 4% 16% 27% Povos Originários Português Português-Povos Originários Outros 53% Constata-se a marcante influência da Língua Geral na denominação dos nomes geográficos fluminenses, apesar da proibição da utilização da língua tupi, e da expulsão dos jesuítas a partir de 1759. Maior influência, porém, ocorreu a partir da predominância do contato intercultural. É maciça sua presença nos litotopônimos (Itatiaia, Itaperuna, Itaocara etc), zôotopônimos (Sapucaia, Saquarema, Tanguá etc), fitotopônimos (Piraí, Miracema, Maricá etc.) e até mesmo nos nomes do hagiológio da Igreja Católica, acompanhando a nomenclatura dos santos (São João do Meriti, São Francisco de Itabapoana, São José de Ubá etc). Corrida às pedras preciosas e ao ouro na região das Gerais - 1705 a 1750, 80.000 pessoas passaram-se de Portugal para a Colônia. Praticamente a metade da população do reino. - Necessidade de caminhos a partir da baixada e recôncavo da baía, escoassem a produção oriunda das Minas Gerais. -A transferência da capital da colônia para o Rio de Janeiro em 1763 prova do deslocamento do eixo econômico do Nordeste para o Centro-Sul e a centralização da política empreendida pelo Estado Português. Caminho Velho: ia de São Paulo, de Piratininga até Taubaté, subia a Serra da Mantiqueira, passava por São João del Rey e ia para Vila Rica, Caetés, Sabará. Dali havia extensões para Tijuco (Diamantina), Jaguará, até a região da Fazenda Meia Ponte, hoje Pirenópolis, Goiás. “Caminho dos Guaianás”. Os viajantes tinham de ir a uma embarcação até Paraty, subir e descer a Serra do Mar, no trecho em que essa se chamava Serra do Cunha, em seguida ir até Taubaté -Caminho aberto por Garcia Rodrigues Paes Leme, entre 1699 e 1704, estabeleceu uma ligação mais rápida e direta com a Capitania de Minas Gerais, tornando-se a principal via de escoamento. Ficou conhecido como “Caminho Novo”. “Caminho Novo do Pilar” ou do “Guaguassú”. Foi construído do interior para o litoral, a partir das cidades onde se extraíam o ouro, passava em Barbacena e Juiz de Fora, atingindo o vale do Paraíba. -Variante do Caminho Novo conhecido como “Caminho do Inhomirim”, aberto pelo sargento-mór Bernardo Soares Proença, iniciado em 1721 e concluído em 1724. “Caminho Novo do Tinguá” conhecida como “Caminho de Terra Firme”. Ia pela Serra do Tinguá, e após a Serra do Mar ia encontrar-se com o caminho de Garcia Paes e o caminho de Bernardo Proença, no lugar hoje denominado Stº Antônio da Encruzilhada, reunindo-se em um só caminho em direção à margem direita do rio Paraíba. Observa-se que pelo menos dois dos nomes geográficos fluminenses, cuja motivação na denominação ocorreram a partir de expressões, ou frases populares, os dirrematotopônimos, surgiram a partir da busca do ouro nas minas. Varre-Sai, que surgiu a partir de uma parada para os tropeiros, Cantagalo, a partir de um foragido do Estado Português, mais conhecido como Mão-de-Luva, que garimpava sem pagar os impostos. Vinda da família real em 1808 -modificou de forma considerável os rumos não só da cidade do Rio de Janeiro, mas também do Estado fluminense e do próprio país. -A população aumentou consideravelmente nesse período, havendo a necessidade de abastecê-la, fato esse que estimulou a produção de gêneros alimentícios. -Áreas do Recôncavo da Guanabara como São Gonçalo, Praia Grande e Magé, tiveram a produção de gêneros alimentícios incrementada de forma significativa, sendo que os produtos lá produzidos, atingiam o porto do Rio de Janeiro por caminhos terrestres e fluviais. -A melhoria dos antigos caminhos, a abertura de novas estradas e o incentivo a formação de novos núcleos populacionais com imigrantes, ajudaram na expansão do ecúmeno fluminense,. 6 – GEONÍMIA DO RIO DE JANEIRO Processo de extração da toponímia das cartas topográficas -Juntada das folhas em dgn, em programa AutoCad Map -Salva em arquivo pdf -Transformação em texto (ASCII) -Limpeza -Incorporação à base toponímica -Associação geográfica – coordenadas geográficas Elementos Hidrográficos -Rede hidrográfica, composta de: rios, córregos e ribeirões; canais; lagos e lagoas; brejos, pântanos e manguezais Costeira e interiorana -Praias, enseadas, baías, pontas e cabos; ilhas, lajes, recifes e baixios Costeira A motivação toponímica é semelhante a estabelecida para os nomes das povoações, com algumas variações, levando-se mais em conta a motivação católica, indígena e apresentando já nomes de origem africana, raro nas demais áreas Trabalho em fase de coleta e catalogação de nomes Hidrografia do Estado do Rio de Janeiro e Estados Limítrofes Espírito Santo M SG A N I AIS R E Text l At SÃO PAULO tic ân o ² Oceano 0 30 60 120 180 240 Quilometros Caracterização da Hidrografia Fluminense -Desenvolvida entre as Serras do Mar e Mantiqueira; -Não existem rios navegáveis, à embarcações de maior porte, apenas pequenas embarcações; -Rios de serra, com corredeiras e pequenas cachoeiras; -Apenas um rio de maior porte, atravessando todo o Estado, limítrofe com Minas Gerais e parte de São Paulo: Rio Paraíba do Sul; -Áreas de brejo, a partir do Rio de Janeiro até a divisa com Espírto Santo; Rio Acarí, Rio Alcântara, Rio Barra Mansa, Rio Botas, Rio Carioca, Rio Carukango, Rio Capivari, Rio Comprido, Rio Dois Rios, Rio Faria, Rio Guandu, Rio Guandu-Mirim, Rio Guaxindiba, Rio Iguaçu, Rio Itabapoana, Rio Macabu, Rio Macabuzinho, Rio Mazomba, Rio Meriti, Rio Muriaé, Rio Majé, Rio Macaé, Rio Maracanã, Rio Paraíba do Sul, Rio Paraibuna, Rio Pati, Rio Pendotiba, Rio Piabinha, Rio Piraí, Rio Pomba, Rio Santa Catarina, Rio São João, Rio Sarapuí, Rio Tinguá Trabalho em fase de coleta Hidrografia do Estado do Rio de Janeiro e Estados Limítrofes Principais Rios Text ² 0 25 50 100 150 200 Quilometros Levantamento atual -Topônimos existentes nas folhas de mapeamento topográfico sistemático (1:25000 à 1:1000000) – Números aproximados – pesquisa não concluída Rios: 757 Córregos: 1163 Ribeirões: 854 Lagoas: 134 Canais: 74 Brejos: 231 Pântanos: 14 Manguezais: 7 Foi verificada a ocorrência de diversos nomes iguais atribuídos a acidentes diferentes Levantamento ainda não terminado Levantamento histórico -Topônimos existentes nas folhas de mapeamento topográfico sistemático (1:25000 à 1:1000000) – Números aproximados – pesquisa não concluída Estão sendo consultados os mapas históricos existentes sobre a Capitania e Província do Rio de Janeiro e áreas contidas. -Mapa da Nova Luzitânea -Aparências e Demostrações (Albernas) -Mapas da Colônia e do Império -Documentos diversos (Dicionário Geográphico do Império do Brazil) João Teixeira Albernas 1666 Sirapuy Aguassú Macacu Guaximdiua Província do Rio de Janeiro - 1830 Carta Topográfica da Capitania do Rio de Janeiro – (Cópia) Mapa de 1767 Rio Parahiba Hidrografia extraída do mapa de 1767 Rio Piabanha Margem Direita Ribeirão do Barreiro Rio do Bananal Rio Piray Rio Piabanha Rio Muriaé Margem Esquerda Ribeirão do Pascoal F Rio Perepetinga Ribeirão do Licenciad Ribeirão da Pedra Rio Preto Rio Preto Rio das Ararars Rio da Cidade Rio Rio Rio Rio Seco Tamarari Morto Magé Arrio Fagundes, Arrio das Pedras Rio Pereilinga (cabeceira do Paraiba) Rio Jacuy Rio Parati guaçu Rio Tapacú Rio Pesinguaba Rio Parati mirim Rio dos Meros Rio Patetib Rio Guarauna Rio Guaitacá mirim Rio Guaitacá guaçu Corr Morto Rio S Roque Rio Taquaral R Sgosalo? Rio Mambucaba Batuba Luis Moreno Rio Baracuy? Rio Arino Rio Japuiba Rio Ingaiba Rio do Saco Rio Iriri 7 – CONCLUSÕES -A pesquisa ainda encontra-se em fase de coleta de informações. -Espera-se ao final dos trabalhos, a coleta de cerca de 15000 geônimos. -Paralelamente ao estudo hidrográfico, desenvolve-se com outras duas equipes, o estudo da costa e o estudo dos nomes de povoamentos (exceto municípios, que já se encerrou com uma tese de doutorado. -A corografia está sendo extraída, porém não tem ainda um estudo previsto específico, sendo incorporado ao estudo das povoações. -Em outubro, durante a III Reunião de Consulta sobre Cartografia, serão divulgados os resultados, ainda que parciais sobre a pesquisa. - Um resultado parcial sobre os nomes geográficos da hidrografia do Rio de Janeiro mostra o seguinte quadro: Motivação Toponímica -Hidrotopônimos: 29% -Dimensiotopônimos: 27% -Morfotopônimos: 13% -Hagiotopônimos: 10% -Hierotopônimos: 5% -Outros: 16 Origem Étnica -Português: 29% -Povos originários: 38% -Afro: 18% -Português e originários: 12% - Outros: 3%