O último grau da sabedoria

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VI Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
20 a 24 de setembro de 2010
O Último Grau da Sabedoria
Lílian Cantelle
Universidade São Judas Tadeu/Mestrado em Filosofia
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo discutir a definição de “moral” dada por Descartes no
prefácio à edição francesa aos Princípios da Filosofia. A moral “é o último grau da
sabedoria” e pressupõe “um conhecimento pleno das outras ciências”. No entanto, a
moral, descrita por Descartes como algo que exige um conhecimento perfeito e como o
último nível da sabedoria é precisamente um campo no qual a precisão e a certeza, que
caracterizam a filosofia cartesiana, são praticamente impossíveis. Sabemos que no plano
da união substancial as ideias são naturalmente confusas, fato que não ocorre no âmbito
epistemológico. Acreditamos que Descartes descobriu que não poderia pautar todas as
suas ações em um conhecimento claro e distinto, dado que as decisões morais estão
fundamentadas sobre as ideias confusas. Essa descoberta é muito importante para a
moral cartesiana a ponto de dominar toda a concepção da moral, porque é a partir dela
que ele apresenta a noção de virtude. O conhecimento metafísico e a moral não possuem
o mesmo padrão de certeza. Não podemos esperar a certeza absoluta nos problemas da
conduta. O empreendimento filosófico cartesiano é como um processo orgânico: em um
organismo vivo, como em uma árvore, todas as partes estão conectadas e crescem
simultaneamente, uma dependendo da outra. Então, mesmo na estrutura mais básica de
uma árvore, os galhos e todas as outras partes estariam se desenvolvendo. De maneira
similar, mesmo nas conclusões mais primárias da metafísica e da física poderíamos
formar a estrutura da moral. Logicamente, os galhos se modificarão à medida que as
raízes e o tronco se tornem mais complexos e fortes. Assim, a filosofia nunca
encontraria uma solução definitiva, pois esta sempre em desenvolvimento. O
melhoramento da moral acontece por meio da aquisição de novos conhecimentos. Com
isso, podemos cogitar a possibilidade de que a perfeita sabedoria sempre será um ideal
para os seres humanos.
Palavras-chave: Descartes. Sabedoria. Moral.
Apesar dos inúmeros estudos realizados sobre a filosofia de Descartes e de todo o
progresso e do esforço sempre renovado de interpretação do seu pensamento, ainda
assim, como não poderia deixar de ser, muitos aspectos da filosofia cartesiana
continuam passíveis de polêmica e pedem por um melhor esclarecimento. Talvez, um
dos temas mais polêmico e (relativamente) menos abordado é a moral. O objetivo deste
trabalho é discutir, em poucas páginas, pontos relevantes sobre a moral cartesiana e a
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sua ligação com a sabedoria. Sabe-se que a sabedoria abrange todas as áreas da
investigação filosófica e, portanto, Descartes não afirma que ela deva se limitar apenas a
ação virtuosa.
Na carta que serve de prefácio à edição francesa aos Princípios (1647), pode-se ler
que a moral é o coroamento da conquista do sistema cartesiano:
Toda Filosofia é como uma árvore, de que a Metafísica é a raiz,
a Física o tronco, e todas as outras ciências, os ramos que
crescem desse tronco, que se reduzem a três principais: a
Medicina, a Mecânica e a Ética. Pela ciência dos costumes,
entendo a mais elevada e perfeita que, pressupondo um
conhecimento pleno das outras ciências, é o último grau da
sabedoria (DESCARTES, 2007, p. 17. Grifo nosso).
Se admitirmos que a moral é o melhor conhecimento que podemos ter e esse
conhecimento pressupõe o completo conhecimento das outras ciências, como devemos
nos direcionar nos problemas do cotidiano na falta de um sistema perfeito da moral, que
só pode ser formado depois da certeza na metafísica e da física? Deve-se considerar
que, para Descartes, é necessário evitarmos a irresolução nos assuntos práticos, ou seja,
a inação frente às escolhas.
Uma solução coerente é oferecida por Vance G. Morgan em seu livro
Foundations of Cartesian Ethics. Ele defende que Descartes entende o seu
empreendimento filosófico como um processo orgânico. Em um organismo vivo, como
em uma árvore, todas as partes estão conectadas e crescem simultaneamente, uma
dependendo da outra. Logo, mesmo na estrutura mais básica de uma árvore, os galhos e
todas as outras partes estariam se desenvolvendo. De maneira similar, mesmo nas
conclusões mais primárias da metafísica e da física poderíamos formar a estrutura da
moral (cf. MORGAN, 1994, p. 25). Logicamente, os galhos se modificarão à medida
que as raízes e o tronco se tornam mais fortes e complexos. Por esse motivo, não
podemos concluir que as regras da moral provisória são completamente diferentes de
um sistema mais desenvolvido da moral. Assim, como uma árvore, enquanto viva,
nunca para de crescer e se modificar, a Filosofia nunca encontraria uma conclusão
definitiva, pois está sempre se desenvolvendo.
Seguindo a analogia da árvore da Filosofia, a natureza orgânica da Filosofia
requer que alguém comece com as raízes (metafísica) para traçar o desenvolvimento do
sistema moral que será o último fruto do empreendimento (cf. MORGAN, 1994, p. 65).
Nas Meditações Metafísicas, as verdades da metafísica foram estabelecidas e todo o
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desenvolvimento posterior do sistema filosófico é dependente dessas verdades, que dão
direção à moral cartesiana. E, é a partir dessas verdades que o entendimento da união
substancial começa. Contudo, os conhecimentos metafísicos e a moral não possuem o
mesmo padrão de certeza. Não podemos esperar a certeza absoluta nos problemas da
conduta, uma vez que essa certeza é impossível, pois a moral acontece no plano da
união substancial, local onde só podemos ter ideias confusas. A união substancial dita à
estrutura da moral cartesiana mais do que qualquer outro princípio metafísico.
Voltemos, novamente, para o prefácio aos Princípios. Descartes define a Filosofia
como o estudo da sabedoria e por sabedoria ele entende “um conhecimento perfeito de
tudo o que o homem pode saber, tanto para a condução da sua vida como para a
conservação da saúde e o descobrimento de todas as artes” (DESCARTES, 2007, p. 9.
Grifo nosso). E “(...) esse estudo [Filosofia] é um requisito muito mais imperativo para
regrar nossas maneiras e conduzir-nos ao longo da vida do que o uso dos olhos para
direcionar nossos passos” (DESCARTES, 2007, p. 10). A Filosofia se ocupa da
sabedoria, que nada mais é do que um conhecimento perfeito do qual podemos tirar
bons frutos, como a moral (condução da vida), a medicina (conservação da saúde) e a
mecânica (descobrimento de todas as artes). Contudo, esse conhecimento perfeito não
significa um conhecimento pleno, mas refere-se ao conhecimento que o homem pode
ter, uma vez que o entendimento é limitado. A sabedoria é considerada, pela razão,
como o bem supremo que todos os homens aspiram e, é a Filosofia que se ocupa desse
bem.
É interessante notar que Descartes não estendeu a dúvida à moral. Esta deve ser
estabelecida antes do desmoronamento do edifício da ciência, para guiar as nossas
ações. Isso é necessário, pois, não podemos ser irresolutos
nesse aspecto e devemos
sempre nos preocupar em viver bem. Podemos notar isso, na passagem que segue:
Primeiramente, um homem que possui meramente o
conhecimento vulgar e imperfeito que pode ser obtido pelos
A irresolução é quando a alma indecisa entre várias ações hesita na sua escolha. Se a irresolução não
durar muito, ela é boa, pois garante que não tomemos nenhuma escolha antes de refletirmos sobre ela.
Mas, se gastamos muito tempo nela, ela se torna má, uma vez que o excesso de irresolução é causada pelo
grande desejo de sempre agir bem e pela fraqueza do entendimento, que somente possui noções confusas.
“É por isso que o remédio contra tal excesso é acostumar-se a formar julgamentos certos e determinados
com relação a todas as coisas que se apresentarem, e a acreditar que sempre cumprimos nosso dever
quando fazemos o que julgamos ser o melhor, ainda que talvez julguemos muito mal” (DESCARTES,
2005, art. 170, p. 148).
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quatro meios acima explicados, deve antes de tudo empenharse em formar para si um código de costumes suficiente para
regular as ações de sua vida, tanto em razão de que ela não
admite atraso, quanto porque cumpre que seja nosso primeiro
cuidado viver bem (DESCARTES, 2007, p. 17. Grifo nosso).
No entanto, não podemos julgar como verdadeiro esse código de costumes a
ponto de nunca mudarmos de opinião. Sabemos que na medida em que o conhecimento
aumenta, somos capazes de refletirmos melhor sobre nossas escolhas. Apenas Deus é o
único completamente sábio, pois sabe perfeitamente todas as coisas. Os homens são
mais ou menos sábios de acordo com o conhecimento das verdades mais importantes
que possuem (cf. DESCARTES, 2007, p. 10). O nosso objetivo é sempre aumentar
nosso conhecimento, dentro dos limites estabelecidos pela nossa natureza. Com isso, a
perfeita sabedoria permanecerá sempre como um ideal para os seres humanos (cf.
MORGAN, 1994, p. 206).
Na carta prefácio aos Princípios dedicada à princesa Elisabeth, Descartes
identifica sabedoria com virtude, “pois, aquele que possui a resolução firme e constante
de usar sempre sua razão o melhor possível e em todas as suas ações fazer o que julga
ser o melhor é verdadeiramente sábio, tanto quanto a sua natureza o permitir”
(DESCARTES, 2007, p. 23. Grifo nosso). Há quase dez anos antes, na segunda máxima
da moral provisória encontrada no Discurso do Método (1637), Descartes afirma que
devemos ser firmes e resolutos. Essa ideia é reforçada na carta supracitada que foi
publicada em (1644), na qual podemos ver a adição do termo sábio. Depois, novamente,
na carta a Elisabeth de 4 de agosto de 1645, a qualidade de ser firme e constante é dado
ao virtuoso. E, enfim, n’As Paixões da Alma (1649) Descartes acrescenta a informação
de que o sábio é, também, o generoso.
No artigo 152 das Paixões, lemos que uma das principais partes da sabedoria é
saber qual é a causa que cada um deve estimar-se ou desprezar a si mesmo. Para ele há
“apenas uma única coisa que pode nos dar justa razão para nos estimarmos, a saber: o
uso de nosso livre-arbítrio e o domínio que temos sobre nossas vontades”
(DESCARTES, 2005, art. 152, p. 135). Somente as ações que dependem
Anteriormente, Descartes havia tratado da ciência de sua época e quais os graus de sabedoria
alcançados por ela. O primeiro grau contém as noções claras por si mesmas que são adquiridas sem
meditação; o segundo contém todas as informações geradas pelas experiências dos sentidos; o terceiro
grau corresponde ao que pode ser aprendido por meio das conversas com outros homens e o quarto grau é
a leitura dos livros escritos por pessoas capacitadas a transmitir instruções apropriadas (cf. DESCARTES,
2007, p. 11).
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exclusivamente do nosso livre-arbítrio são passíveis de censura ou louvor. E, de certa
forma, isso nos aproxima de Deus, uma vez que nos torna senhores de nós mesmos.
Essa estima recebe o nome de generosidade. Ela consiste em:
Somente, por uma parte, em que ele sabe que não há algo que
realmente lhe pertença a não ser essa livre disposição de suas
vontades, nem por que ele deva ser louvado ou censurado a não ser
porque faz bom ou mau uso dela; e, por outra parte, em que ele sente
em si mesmo uma firme e constante resolução de fazer bom uso dela,
isto é, de nunca deixar de ter vontade para empreender e executar
todas as coisas que julgar serem as melhores. Isso é seguir
perfeitamente a virtude (DESCARTES, 2005, art. 153, p. 136).
A primeira parte da sua definição mostra que a generosidade é conhecimento.
Conhecimento de que: i) a única coisa que realmente nos pertence é o nosso livrearbítrio e que ii) apenas podemos ser louvados (ou censurados) pelo bom ou mau uso
dele. A segunda parte da definição da generosidade mostra a sua equivalência com a
virtude. Todo generoso é virtuoso, mas o contrário não se aplica. Não podemos afirmar
que todo virtuoso é generoso. Uma vez que, dada a citação acima, ser virtuoso é sempre
ter uma firme e constante resolução de sempre escolher o que o entendimento mostra
como a melhor opção. Ser generoso implica no conhecimento e na virtude. Uma questão
ainda aberta é: uma pessoa que possui o conhecimento de que apenas pode ser louvado
pelo bom uso de sua vontade, necessariamente agiria segundo esse conhecimento?
E, no último artigo das Paixões, podemos ler que “a sabedoria é útil
principalmente no ponto em que ensina a dominá-las [paixões] tão bem e a manejá-las
com tanta habilidade que os males que causam são muito suportáveis e até mesmo se
obtém alegria de todos eles” (DESCARTES, 2005, art. 212, p. 174). As paixões da alma
são “percepções ou sentimentos ou emoções da alma, que relacionamos especificamente
com ela e que são causadas, alimentadas e fortalecidas por algum movimento dos
espíritos” (DESCARTES, art. 27, p. 47). Elas são a mediação entre o corpo e a alma,
responsáveis pela comunicação entre as duas substâncias. A natural correspondência
entre o estado do corpo e a paixão que dispõe a alma a querer o que o corpo está
disposto a fazer é essencial para o próprio funcionamento do composto humano (cf.
MORGAN, 1994, p. 166). Por serem percepções, as paixões não estão inteiramente sob
nosso domínio. Entretanto, podem ser indiretamente influenciadas para o nosso
benefício e a maturidade moral depende, basicamente, da nossa habilidade para utilizar
as paixões dessa maneira (cf. MORGAN, 1994, p. 165).
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Para os seres humanos, a principal utilidade das paixões é “que elas incitam e
dispõem sua alma para querer as coisas para as quais lhes preparam o corpo, de forma
que o sentimento do medo incita-a a querer fugir, o da ousadia a querer combater”
(DESCARTES, 2005, art. 40, p. 56). Naturalmente, nossos estados corporais estão
ligados aos estados da mente de acordo com o nosso bem-estar, mas podemos mudar
isso por meio do hábito. Apesar das paixões serem naturalmente indicadas para o bemestar corporal, sabemos que a nossa melhor parte é a alma, então não devemos apenas
tomar cuidado em ter certas paixões apropriadas para a nossa parte física, mas, também,
promover em nós aquelas paixões que são boas para nós enquanto seres pensantes. A
natureza determinou que as nossas paixões sirvam para o nosso bem-estar corporal,
mas, às vezes, essa ligação falha e, por isso, precisamos regular as nossas paixões. Para
isso, não consideramos apenas o corpo, mas a alma. O bem-estar corporal deve
promover o nosso contentamento.
Segundo Williston, comentadores têm negligenciado a análise sistemática da
figura do sábio como uma tentativa de Descartes de especificar um tipo ideal da moral
(cf. WILLISTON, 2003, p. 301). Se a generosidade consiste no conhecimento de que a
única coisa que está completamente sob nosso domínio é a vontade unida ao sentimento
de uma firme resolução de usá-la bem. Então, parece que é possível usá-la de maneira
boa ou má. Williston defende que na própria definição de generosidade que Descartes
oferece, não há uma explicação sobre o que é agir de maneira boa ou má. Mas,
discordamos dessa posição, uma vez que o filósofo afirma: “(...) uma firme e constante
resolução de fazer bom uso dela [vontade], isto é, de nunca deixar de ter vontade para
empreender e executar todas as coisas que julgar serem as melhores” (DESCARTES,
2005, art. 153, p. 136). O que notamos é que agir de maneira boa é sempre executar
tudo o que o entendimento nos aconselha como sendo o melhor. Ora, sempre executar o
que o entendimento nos aconselha como sendo o melhor é ser virtuoso.
Há três elementos da sabedoria: i) a habilidade de seguir as fontes causais das
paixões e separar os objetos que dependem de nós dos que não dependem; ii) a firme
resolução de unir a vontade somente às coisas que estão sob nosso controle; e iii) a
habilidade de refletir sobre a providência divina quando for necessário. O primeiro
elemento especifica o objetivo da atividade moral, o segundo mostra a virtude do sábio
e o terceiro dá um consolo sobre a incerteza dos eventos.
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O terceiro ponto da sabedoria é a habilidade de refletirmos sobre a providência
divina. Às vezes, pensamos que algo impossível é possível. E é inevitável que nos
frustremos quando os nossos desejos não são alcançados. A nossa frustração é baseada
somente na nossa ignorância sobre todas as causas necessárias para cada efeito. Quando
refletimos sobre a providência divina, sabemos que tudo o que aconteceu, aconteceu por
necessidade e por ser a melhor coisa a acontecer.
Mas, voltemos, mais uma vez, para a carta prefácio aos Princípios dedicada à
princesa Elisabeth. Pode-se perceber que a sabedoria não possui uma conexão
necessária com o entendimento perspicaz, pois, “embora aqueles que têm um
entendimento inferior podem ser tão perfeitamente sábios quanto sua natureza permite”
(DESCARTES, 2007, p. 23). Basta, para isso, sempre esforçar-se em aumentar o
conhecimento para que a vontade possa julgar melhor e, assim, evitar o remorso e o
arrependimento.52
Com isso, observamos que a mais alta manifestação da sabedoria, ou seja,
a maior realização da virtude não se define exclusivamente em
termos de inteligência e de ideias claras, mas também pela
presença do corpo. O homem ideal não é o que vive só pelas
ideias, só pelo conhecimento ou pela ciência, o que seria um
processo exterior de integrar-se no universo; é pelo corpo que
ele verdadeiramente se integra nas coisas; é a presença do corpo
que cria os problemas morais e ao mesmo tempo os estabelece
em um plano que é verdadeiramente humano (TEIXEIRA, 1955,
p. 197).
Uma detalhada exposição da moral cartesiana requer uma análise de como o corpo
humano, afetado pelos eventos externos, causam as paixões da alma, assim como a alma
é capaz de direcionar as paixões de tal modo a beneficiar o composto humano. Quem
quer ter uma vida moral e boa deve aprender a usar as paixões. Se alguém deseja uma
moral que ofereça uma direção para as ações, deve entender as paixões como um
resultado da união entre o corpo e a alma. O sistema moral deve ser derivado e ser
dependente das verdades descobertas nos primeiros estágios do sistema cartesiano. E, a
teoria moral desenvolvida na Correspondência com Elisabeth e nas Paixões satisfaz
esse requisito. Alguém pode querer que as verdades da metafísica e da física orientem
de maneira inviolável as ações humanas, mas isso não é possível na moral cartesiana.
Conferir os artigos 177 e 191 d’As Paixões da Alma.
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Uma moral composta por máximas imutáveis é impossível dada a natureza do ser
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