TT" i! n - Pateo do Collegio

Propaganda
J.
NUNES
DE
VILHENA
m
a
p
A,
n
lãB
íM \m Im Im
ÍDÉÍ m
Buli 1
1
TI
ij
ri
r
r~'
TT" i!
IQB
tnt,
tyX/ ;
1 fTTT
y U U |TTT
PARTE JÁ EEEDIFICADA
PARTE A SER REEDIFICADA
SÃO
PAULO
19 6 1
ÍoÍLb- cio
n
.•ff-
lH
-JtÀ..: .J
1554 —
A
CABANA PRIMITIVA
1 — Em fins de 1553, o cacique TIBIRIÇÁ, construiu
uma cabana no alto da colina situada entre os rios Tamanduateí
e Anhangabaú, destinada a abrigar os missionários Jesuítas que
deviam chegar nos primeiros dias de Janeiro de 1554.
2 — Já instalados na pec|uena cabana de 10x14 passos
oferecida pelo chefe Guainás do planalto, o Padre Manuel de
Paiva acolitado por José de Anchieta e mais outros dez jesuí
tas, celebrou a Missa que em 25 de Janeiro de 1554 assinala
a fundação de São Paulo. Realizou-se a solenidade à frente
da cabana, sobre um altar de varas ao pé de um grande
cruzeiro tosco. Assistiram-na os dois grandes chefes Tibiriçá
e Caiuby com os seus numerosos índios.
3 — A partir desse dia, a cabana passou a servir de
Igreja, residência, dormitório, cosinha, dispensa, enfermaria
e escola. Nesse miserável abrigo, Anchieta iniciou e impul
sionou o ensino. Durante o dia, ao relento, lecionava êle aos
indiozinhos pela manhã e à tarde. E à noite, ensinava latirn
e humanidades aos confrades jesuítas, inclusive ao seu Padre
Superior. Os demais, trabalhavam na catequese, visitando
as
aldeias.
*
4 — Nessa cabana, enquanto todos dormiam, Anchieta
escrevia as lições de cousas que ensinaria aos alunos no dia
—
1
seguinte. Não havia livros. E dessa forma escrevia também
as suas célebres cartas quadrimestrais em latim, a gramática
tupi-guarani, e no mesmo idioma, para uso dos sacerdotes
um dicionário da língua tupi e as normas para batismo, con
fissão e assistência aos moribundos.
5 — Em Setembro desse mesmo ano, iniciaram os Pa
dres a construção da Igreja e do Colégio. Já então só resi
diam em São Paulo de Piratininga o Padre Affonso Braz, que
era a um tempo o arquiteto e principal operário; os irmãos
José de Anchieta, Gregório Serrão, João de Lucena, Manuel
de Chaves e Matheus Nogueira. Cooperavam com a mão de
obra Tibiriçá, Caiuby e seus índios.
6 — Desenvolveram-se as obras do primeiro edifício de
construção civil em São Paulo, e a 1.' de Novembro de 1556,
inauguraram êles a Igreja e o Colégio, com grandes festas e
a representação do drama da Paixão de Cristo em língua mixta, tendo como atores os jovens índios alunos de Anchieta, que
segundo êle mesmo o diz, se houveram tão bem como os
melhores.
A velha cahana, na sua humildade, certamente teria
caído. . . ou servido por algum tempo ainda como celeiro e
depósito.
A frente do colégio, alinhavam-se os casebres dos índios
e as incipientes moradias dos primeiros europeus que fixavam
residência no planalto paulista. E assim, foi-se povoando o
altiplano do atual triângulo da Cidade. Para defesa, cerca
ram a vila com um alto muro de taipa. Essa precaução garan
tiu-lhes a resistência na guerra que sofreram, quando os tamoios
confederados cercaram a vila coift intento de destruí-la; mas,
foram vencidos nos três dias de luta entre nove e onze de
Julho
2
—
de
1562.
7 — O colégio foi-se ampliando na medida das neces
sidades com o crescimento da povação. Descrevendo-o, em
1585, diz o Padre Fernão Cardim que encontrara um colégio
bem instalado, com oito cubículos para residência dos reli
giosos, uma biblioteca com cêrca de quinze mil volumes, um
poço de boa água no claustro, grande chácara com árvores
frutíferas européias e nacionais, legumes, hortaliças e muitas
flores cobrindo as cercas. E acrescenta: ..."tenho a impres
são de estar passeando numa quinta minhota".
8 — Já bem mais ampliado, em 1681 todo edifíco re
cebeu consideráveis reparos e melhoramentos, custeados por
duas ricas senhoras paulistas — Donas Leonor de Góís e An
gela de Siqueira casada esta com o historiador Pedro Taques
de Almeida. Nessa reforma, a torre foi totalmente reedifica-
da, e desta vez com sólida alvenaria. No século seguinte, em
1727, concluia-se o considerável aumento do colégio com gran
de ala perpendicular que fazia quadra na frente da praça,
prolongando-se até próximo à atual Rua Quinze. E nos seguin
tes trinta e dois anos a população do colégio elevava-se a mil
pessoas que trabalhavam no ensino, na catequese, nas oficinas
de ferreiro, caldereiro, carpíntaria, marceneria, sapataria, ce
râmica e outras, além de tecelagem de algodão e lã.
DECADÊNCIA
9 — Expulsos os jesuítas de todo o Brasil em fins de
1759, os seus bens foram confiscados pelo Governo Português.
O Colégio de São Paulo, como os demais estabelecimentos
congêneres do Brasil que pertenceram aos jesuítas, pela sua
importância passou a servir de residência dos governadores
militares do tempo colonial; a seguir, no Império e na Repú—
3
blica, sob a denominação de palácio do Governo de S. Paulo;
finalmente, depois de 1924, com a mudança da sede para
os Campos Elíseos, instalou-se aí a Secretaria da Educação do
Estado até a sua transferência para o Largo do Arouche em
meados de 1953. Desocupado, o edifício foi entregue a um
demolidor em fins de Setembro do mesmo ano, recebendo
êste por pagamento de seus serviços o acervo do material usado.
Em Dezembro, só permaneciam de pé as paredes de taipa e
o primeiro e segundo pavimentos da torre. Todo êsse imenso
tesouro arquiológico desapareceu, com exceção das relíquias
mais preciosas em madeiras e tijolos adquiridos por um idea
lista, que os devolveu para integrar a obra de reedificação atual.
10 — Anteriormente, em 1881, por ordem do governa
dor Florêncio de Abreu, a ala perpendicular que se estendia
pela praça fronteira, foi totalmente demolida e o terreno ane
xado ao jardim do palácio. Seguiu-se em 1886, no governo
de João Alfredo, a remodelação exterior, modificando-se total
mente a fachada, da qual desapareceram os últimos vestígios
da obra dos jesuítas. A igreja ainda permaneceu de pé até
1896^ Cinco anos antes, pretendendo o governador Jorge Tibiriçá transformá-la em edifício da Assembléia Constituinte,
teve que enfrentar fortíssima reação por parte do clero a do
povo que se opuseram à essa profanação. Disto originou-se
uma demanda entre a Cúria e o Estado.
Em Fevereiro de
1896, a Cúria teve a seu favor a decisão do Supremo Tribunal
em memorável sentença. Mas, na noite de 13 de Março do
mesmo ano, o velho templo ruiu vindo abaixo a ala da frente,
vítima, segundo dizem, de um atentado criminoso. Não sendo
possível, ou não o querendo os interessados, nenhuma tentativa
se fez para a sua reedificação. Efetivou-se a demolição total,
menos dois lanços da torre e os fundamentos que ainda per
manecem
4 —
intactos.
A
REEDIFICAÇÃO
11 — Quarenta e cinco anos decorridos desde o desapa
recimento da Igreja histórica, uns após outros surgem os mo
vimentos sociais de 1941, 1942 e 1944, no propósito de se
restituir a São Paulo os edifícios que assinalavam a sua fun
dação. Mas, nada conseguiram.
Finalmente, ergue-se o último movimento em meados de
1951, em combate persistente e vigoroso, que em 30 de De
zembro de 1953 proclama a vitória. Nessa data, a Assembléia
Legislativa do Estado aprovou o projeto de lei que doava à
Sociedade Brasileira de Educação a área de terreno onde exis
tiram os primitivos edifícios, para que esta os reedificasse
sobre os antigos fundamentos. Aos 21 de Janeiro de 1954, o
Governador Lucas Nogueira Garcez sancionava a referida lei.
12 — A pedra fundamental foi lançada no dia 25 de
Janeiro de 1954 solenemente. A obra de restauração deveria
lembrar o primitivo conjunto — Colégio e Igreja — acrescentando-se-lbe um novo edifício, Museu Colonial, denominado,
"Casa de Ancbieta".
Em comemoração do QUARTO CENTENÁRIO DA CI
DADE, construiu-se o fac-simile da CABANA de 1554, com
o respectivo cruzeiro-tôsco à frente. O povo, compreendeu o
sentido objetivo da primeira página de nossa história, e a
acolheu com sincera veneração. A freqüência de visitantes foi
considerável durante dois anos em que a "CABANA DOS
FUNDADORES" esteve exposta à visitação.
13 — Não havia dinheiro algum. A obra era dispen
diosa. Promoveu-se, então, em Setembro de 1956 a "CAMPA
NHA DA GRATIDÃO".
O resultado foi modesto — Cr$
7.100.000,00. Insuficiente. Obra de tamanho vulto requeria
muitas vezes mais essa quantia.
14 — Concluídos os planos, as plantas foram aprovadas
pela Prefeitura nos primeiros meses de 1957, e em Maio, iniciaram-se as obras. Escavados e descobertos os primitivos ali
cerces, fez-se o rigoroso documentário, levantamento e planta,
filmagem geral, e fotografias dos diversos ângulos.
Dependendo da cessão por parte do Governo de uma fra
ção da área anexa à rua em que se deve assentar a Igreja pri
mitiva, não seria possível reedificá-la conjuntamente com o
colégio; reedificou-se êste e mais 'a torre a qual como todos
sabem — é parte da Igreja a reconstruir-se.
15 — Os alicerces do edifício — na medida do possível
— foram preservados e reconsolidados com fortes reforços
de concreto armado. Procedeu-se nêles a diversos cortes trans
versais necessários às novas estruturas de base, mas, as pedras
daí retiradas foram aproveitadas na construção do SÓCO (roda
pés externos) e nas calçadas onde ostentam o seu valor histórico.
Na reedificação obedeceu-se rigorosamente a técnica an
tiga. Os batentes, tanto das portas como das janelas, são de
madeira quadricentenária, provenientes do vigamento de uma
ala do velho edifício que se apoiava sobre as paredes de taipa.
As folhas das portas e janelas, forro e escadas, são de madei
ra nova (canela preta e jacarandá de Mato Grosso), imprimindo-se-lhes característica antiga. A ferragem, semelhante à
usada nos primeiros séculos, foi tôda feita à mão de ferreiro
na bigórna.
16
Voltaram para o alto da torre reedificada, o catavento e as quatro esferas que encimam as colunas angulares,
pertencentes à Igreja veneranda e desaparecida em 1896.
o edifício, reedificaclo em parte, é um MONUMENTO
HISTÓRICO, mas, monumento-colégio, que funcionará recor
dando as nossas origens com as suas sagradas tradições, qual
marco fundamental de nossa civilização. Ao apontá-lo dirão
todos: Aqui nasceu São Paulo e êste edifício é o seu marco
inicial,
Logo que estejam concluídos os remates do acabamento
interno, e feita as instalações com mobiliário condizente com
o edifício, serão instaladas aulas para alfabetizaçao de adul
tos e um curso técnico noturno para jovens que trabalhem du
rante o dia.
Estuda-se também a instalação de outros cursos
diurnos.
17 — Para concretizar esse importante empreendimento
muito há ainda que se trabalhar; muito a requerer dos cora
ções; muito a exigir do amor e do patriotismo dos cidadãos
de
São
Paulo.
A Igreja, relíquia do passado, deve ser reedificada. Para
tanto é necessário que o Governo libere o terreno que lhe per
tence, e que os paulistas, unidos numa só voz, hão de exigir.
E não é só por essa razão de transcendental importância
social-histórica e cultural que se impõe o dever de reedifica-
ção da venerável Igreja. Outra há, de caráter nacional, sen
sivelmente manifesta na patriótica gratidão dos brasileiros de
Norte a Sul, que, filialmente, reverenciam o Venerável Pe.
José de Anchieta; o anciosamente esperado: "Santo do Brasil .
Através de três séculos, os paulistas de todas as gerações
coetâneas da Igreja, desaparecida em 1896, aguardaram com
afeto o dia em que deverão erigir ali mais um altar desti
nado a Anchieta após a sua canonização.
Vítima de um acidente irreparável, ao cair a Igreja pri
meira de São Paulo, destruiu-se uma das mais comoventes
páginas da história das sagradas tradições do povo paulopolitano. Sim, caiu, mas a atual e brava gente paulista não per-
deu o brio da raça. Ergueu-se ela, e agora combate com ve
emência em defesa da recuperação do solo sagrado no qual
há de reedificar a sua Igreja histórica, sobre os seus primi
tivos
fundamentos.
E reedifica-la-á reservando espaço vago para aquêle altar
que os seus antepassados desejaram erguer, na certeza de que
em futuro próximo Anchieta será canonizado, tão logo se
comprove a realização de mais um milagre seu.
i
r i
Download