O barbado da Terceira : estudo comportamental

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UNIVERSIDADE DOS AÇORES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
O Barbado da Terceira: estudo
comportamental
Elisabete Nunes Azevedo
Tese de Mestrado em Engenharia Zootécnica
ANGRA DO HEROÍSMO
2013
UNIVERSIDADE DOS AÇORES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
O Barbado da Terceira: estudo
comportamental
Elisabete Nunes Azevedo
Tese de Mestrado em Engenharia Zootécnica
Orientadores:
Professor Doutor Carlos Fernando Mimoso Vouzela
Professor Doutor Henrique José Duarte Rosa
ANGRA DO HEROÍSMO
2013
“The greatness of a nation
can be judged by the way its animals are treated”
Mahatma Gandhi
Agradecimentos
A realização desta dissertação não foi possível sem a colaboração e apoio de
algumas pessoas imprescindíveis que não poderia deixar de mencionar e demonstrar
os meus mais sinceros agradecimentos.
Aos meus orientadores de Mestrado, Professor Doutor Carlos Vouzela e
Professor Doutor Henrique Rosa, por todo o apoio, compreensão, paciência e
colaboração na realização desta tese.
Ao Professor Doutor Moreira da Silva, na qualidade de coordenador do Mestrado
em Engenharia Zootécnica, por toda a compreensão e apoio.
Ao Doctor James Serpell do departamento de Estudos Clínicos da Escola de
Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia, pelos esclarecimentos,
interesse e disponibilização do inquérito C-BARQ.
À Engenheira Paula Lima, presidente da Associação Açoriana dos Criadores dos
Cães Barbados da Ilha Terceira (AACCBIT), pela disponibilidade demonstrada,
apoio e cedência de dados.
À Associação Cristã da Mocidade (ACM) da Ilha Terceira, mais propriamente à
Srª Berta Silva, na qualidade de Presidente desta instituição aquando a realização do
ensaio comportamental, pela disponibilidade do espaço.
Ao Dr. Luciano Costa por ter suscitado o interesse em trabalhar com esta raça.
A todos os donos de cães Barbados da Ilha Terceira que se prontificaram a
colaborar neste estudo, quer através do preenchimento dos questionários, quer
através da participação no ensaio comportamental, que tornou possível a obtenção de
dados.
À Associação dos Amigos dos Animais da Ilha Terceira (AAAIT) pela
disponibilização de algum material e da Olívia para realização do ensaio
comportamental.
À minha colega Ana Serpa, por todo o carinho, apoio, amizade e imprescindível
ajuda no ensaio comportamental.
iv
À Srª. Gina e ao Sr. Leodolfo Correia por todo o apoio na realização deste
estudo, pela disponibilização do Danny e do Bebé e por toda a amizade e carinho.
Aos meus colegas e amigos que fizeram parte do meu percurso académico e de
vida, por todo o apoio.
Ao meu namorado, Pedro Correia, pela sua compreensão, lealdade, paciência,
apoio moral, carinho e auxílio no trabalho experimental.
Por último, mas não menos importante, à minha família, especialmente à minha
mãe pelo carinho, apoio incondicional, por estar sempre presente e ao meu Pai, pelos
ensinamentos que permanecerão para sempre comigo.
v
Resumo
O cão Barbado da Terceira constitui uma população canina autóctone dos
Açores, mais particularmente, da ilha Terceira, especialmente utilizado na condução
de gado bovino existente na ilha, com especial destaque para o gado bravo, guarda de
bens e propriedades e, mais recentemente, como cão de companhia.
Este trabalho teve como objectivo determinar alguns traços da personalidade do
cão Barbado da Terceira, nomeadamente a sociabilidade, coragem, vinculação,
comportamento de procura de atenção, focalização no treino, sensibilidade ao toque,
comportamento predatório, interesse na brincadeira, actividade e excitabilidade. Foi
também intenção deste estudo verificar a propensão destes cães para o
desenvolvimento de alguns problemas comportamentais sociais, sensoriais e neurais,
comunicativos, alimentares, eliminativos e outros.
Para avaliar os traços de personalidade e propensão para o desenvolvimento das
patologias comportamentais foram realizados dois inquéritos comportamentais a
proprietários de 67 cães Barbados (38 machos e 29 fêmeas), com mais de um ano de
idade e inscritos na Associação Açoriana dos Criadores dos Cães Barbados da Ilha
Terceira (AACCBIT). Primeiro efectuou-se o inquérito informativo sobre o canídeo,
que fornecia informações relativas à identificação dos animais, vivência, higiene e
estado sanitário e depois o Canine Behavioral Assessment and Research
Questionnaire (C-BARQ) composto por 101 questões, subdivididas em várias
secções que abordavam situações variadas. Para além dos inquéritos, realizou-se um
ensaio comportamental composto por 16 subtestes e 47 variáveis comportamentais,
em 24 cães (11 machos e 13 fêmeas), durante 10 dias nos meses de Outubro,
Novembro e Dezembro de 2011. Todos os animais foram sujeitos ao mesmo teste
comportamental, duas vezes no mesmo local, desfasados de um mês, com a mesma
ordem e com a mesma equipa de trabalho, colaboradores e avaliador, de forma a
uniformizar as condições de trabalho. Enquanto os inquéritos forneceram
informações disponibilizadas pelos donos acerca do dia-a-dia do Barbado e como
este reage em determinadas situações, o ensaio permitiu observar o seu
comportamento perante estímulos específicos.
Os resultados apontaram para uma maior propensão na aquisição do cão Barbado
como animal de companhia em detrimento da função de pastoreio, para o qual fora
vi
originalmente seleccionado. Os cães Barbados da amostra eram, no geral, animais
estáveis, sociáveis, capazes de estabelecer boas relações com pessoas estranhas e
outros animais. As excepções surgiram essencialmente quando o cão sentia o seu
território ou a sua posição hierárquica ameaçada, reagindo, por isso, de forma
agressiva. Quanto à coragem em contextos não sociais, verificou-se serem animais
pouco medrosos, no entanto, com alguma dificuldade em abordar rapidamente a
fonte do barulho sem apoio do dono. São cães que estabelecem um vínculo forte com
um determinado membro da família e não exigem constante atenção. Não
evidenciaram um comportamento predatório muito elevado nem um grande interesse
em brincar com objectos, possivelmente por os estímulos não terem sido os mais
adequados e o número de questões ser insuficiente para determinar esses traços.
Demonstraram ser cães obedientes, activos, que se deixavam manipular apesar de
sentirem algum stress e não propensos a manifestar a maior parte das patologias
comportamentais, com excepção de alguma agressividade motivada por contextos de
dominância quando se sentiam ameaçados. Não foram encontradas grandes
diferenças estatisticamente significativas, entre géneros, na maioria das variáveis
comportamentais estudadas.
Não foi identificada uma grande confiabilidade teste-repetição para a maioria das
variáveis comportamentais, nem foi possível validar estatisticamente o inquérito com
o ensaio comportamental, conforme pretendido inicialmente. No entanto, foram
detectadas algumas correlações significativas entre determinadas questões do
inquérito C-BARQ e algumas variáveis comportamentais do ensaio comportamental,
como por exemplo, entre o medo perante objectos desconhecidos perto dele e a
reacção de sobressalto aquando o surgimento das latas, quer no teste (r= 0,496, p
<0,05), quer na sua repetição (r= 0,429, p <0,05).
Palavras-chave: cão, Barbado da Terceira, comportamento, personalidade,
problemas comportamentais, estudo comportamental.
vii
Abstract
The Barbado of Terceira is an autochthonous dog of the Azores, more
particularly, of Terceira’s island, specially used for its skills in driving the cattle
existent on the island, with special emphasis on the Lidia cattle, guard of properties
and more recently as a companion dog.
This study aimed at determining some personality traits of Terceira’s Barbado
dog, like sociability, courage, attachment to the owner, attention seeking behavior,
trainability, touch sensitivity, predatory behaviour, interest in playing, activity and
excitability. Was also intent of this study to observe the tendency of these dogs to
develop some social, sensorial and neural, communicative, nourishing, eliminative
and other behavioral problems.
In order to assess the personality traits and the propensity to develop behavioral
pathologies, two behavioral surveys were performed to owners of 67 Barbado dogs
(38 males and 29 females), aged more than one year and registered in the Associação
Açoriana dos Criadores dos Cães Barbados da Ilha Terceira (AACCBIT –Azorean
Association of Terceira’s Barbados Breeders). First, an informative inquiry was
conducted, about the dog, which provided information about the animals’
identification, living, hygienic and sanitary status and then the Canine Behavioral
Assessment and Research Questionnaire (C-BARQ) composed of 101 questions,
divided into several sections that addressed various situations.
Besides the surveys, a behavioural test was performed, consisting of 16 subtests
which comprised 47 behavioral variables, in 24 dogs (11 males and 13 females),
during 10 days during October, November and December of 2011. All animals were
subjected two times to the same behavioral test, at the same location, with one
month’s interval, following the same order and under the same working team,
handlers and evaluator, in order to standardize the working conditions. While the
surveys provided information from the owner about how the Barbado behaves on his
day-by-day and how he reacts under certain situations, the test allowed the
experimenter to observe his behavior against specific stimulus, in that specific time
and place. The results showed a higher tendency in the acquisition of the Barbado as
a pet over the herding function, for which he was originally selected. The dogs in the
present study were, in general, stable and sociable animals, able to establish good
viii
relationships with strangers and other animals. The exceptions emerged mainly when
the dog felt his territory or hierarchical position threatened and so, he tended to react
aggressively. For courage in non social contexts, the animals proved to be little
fearful, with some difficulty, however, in quickly addressing the source of the noise
without support of the owner. They were dogs that established a strong bond with a
certain family member and do not seemed to demand constant attention. They did not
show a very high predatory behavior or a strong interest in playing with objects,
possibly because the stimuli were not the most appropriate and the questions were
insufficient to address these traits. The Barbado proved to be obedient, active, and
easy handled despite showing some stress and not having a tendency to manifest the
most behavioral pathologies, exception made on some aggressiveness motivated by
contexts of dominance when felt threatened. It was not find statistically significant
differences between genders, on most of the behavioral variables studied.
Weak test-retest reliability was found in the majority of the behavioral variables
evaluated and it was not possible to statistically validate the survey with the
behavioral test, as originally intended. However, some significant correlations were
found between specific questions of the C-BARQ and some behavioral variables
from the test, such as between fear towards unknown objects near him and the startle
response during the appearance of the cans, either in the test (r = 0,496; p <0.05) and
in the retest (r = 0,429; p <0.05).
Keywords: dog, Barbado of Terceira, behavior, personality, behavioral problems,
behavioral study
ix
Índice geral
Agradecimentos .......................................................................................................... iv
Resumo ....................................................................................................................... vi
Abstract ..................................................................................................................... viii
I- Introdução .............................................................................................................. 1
II- Revisão bibliográfica ............................................................................................. 3
2.1- Origem do cão doméstico ................................................................................. 3
2.2- Domesticação do cão ........................................................................................ 4
2.3- Selecção do cão: o surgimento de raças ........................................................... 6
2.4- Cães de pastoreio e cães de gado ...................................................................... 8
2.4.1-Origem e selecção do cão de pastoreio ....................................................... 9
2.5- Cão de companhia .......................................................................................... 10
2.5.1- Selecção do cão de companhia ................................................................ 10
2.6- Morfologia do cão .......................................................................................... 11
2.6.1- Morfologia do cão de pastoreio ............................................................... 11
2.6.2- Morfologia do cão de companhia ............................................................ 11
2.7- O comportamento em cães ............................................................................. 12
2.7.1- Comportamento do cão de pastoreio ....................................................... 13
2.7.2- Comportamento do cão de companhia .................................................... 15
2.8- Comportamento social canino ........................................................................ 16
2.8.1- Período pré-natal ..................................................................................... 16
2.8.2- Período neonatal ...................................................................................... 16
2.8.3- Período de transição ................................................................................ 17
2.8.4- Período de socialização ........................................................................... 17
2.8.5- Período juvenil......................................................................................... 19
2.9- Problemas comportamentais ........................................................................... 19
2.9.1- Problemas comportamentais sociais ........................................................ 20
2.9.1.1- Agressividade ................................................................................... 20
2.9.1.1.1- Agressividade por dominância .................................................. 21
2.9.1.1.2- Agressividade por medo ............................................................ 22
2.9.1.1.3- Agressividade territorial ............................................................ 23
x
2.9.1.1.4- Agressividade predatória ........................................................... 23
2.9.1.1.5- Agressividade intraespecífica .................................................... 23
2.9.1.2- Ansiedade por separação .................................................................. 24
2.9.1.3- Comportamento de procura de atenção ............................................ 24
2.9.2- Problemas comportamentais sensoriais e neurais .................................... 25
2.9.2.1- Medo e fobias ................................................................................... 25
2.9.2.2- Condutas estereotipadas ................................................................... 25
2.9.2.3- Hiperactividade................................................................................. 26
2.9.3- Problemas comportamentais comunicativos ........................................... 26
2.9.3.1- Vocalização excessiva ...................................................................... 26
2.9.3.2- Submissão excessiva ........................................................................ 27
2.9.3.3- Marcação urinária ............................................................................. 27
2.9.4- Problemas comportamentais alimentares ................................................ 27
2.9.4.1- Coprofagia ........................................................................................ 27
2.9.4.2- Destruição de objectos ...................................................................... 28
2.9.5- Problemas comportamentais eliminativos ............................................... 28
2.9.5.1- Eliminação inadequada ..................................................................... 28
2.9.6- Outros problemas comportamentais ........................................................ 29
2.9.6.1- Montar sexual inapropriado .............................................................. 29
2.9.6.2- Rolar sobre substâncias de odor desagradável ................................. 29
2.9.6.3- Fugir de casa ..................................................................................... 29
2.9.6.4- Puxar a trela excessivamente ............................................................ 29
2.10- Linguagem corporal...................................................................................... 29
2.10.1- Sinais de apaziguamento ....................................................................... 30
2.10.2- Sinais de alerta ....................................................................................... 31
2.10.3- Sinais de stress ...................................................................................... 32
2.10.4- Sinais de aumento da distância .............................................................. 33
2.10.5- Sinais de redução da distância ............................................................... 34
2.10.5.1- Submissão activa ............................................................................ 34
2.10.5.2- Submissão passiva .......................................................................... 35
2.10.5.3- Convite para brincar ....................................................................... 36
2.10.6- Sinais ambivalentes ............................................................................... 36
2.11- Personalidade ................................................................................................ 37
2.11.1- Traços de personalidade ........................................................................ 39
xi
2.11.1.1- Sociabilidade .................................................................................. 40
2.11.1.2- Agressão ......................................................................................... 40
2.11.1.3- Medo ............................................................................................... 41
2.11.1.4- Vinculação ...................................................................................... 41
2.11.1.5- Coragem ......................................................................................... 42
2.11.1.6- Nível de actividade ......................................................................... 43
2.11.1.7- Excitabilidade ................................................................................. 43
2.11.1.8- Interesse na brincadeira .................................................................. 44
2.11.1.9- Focalização no treino ...................................................................... 44
2.11.1.10- Outros traços de personalidade ..................................................... 45
2.12- Estudo da personalidade ............................................................................... 45
2.12.1- Aplicações ............................................................................................. 46
2.12.2- Abordagens ao estudo do comportamento canino/personalidade ......... 47
2.12.2.1- Avaliação de protótipos de raças por especialistas ......................... 47
2.12.2.2- Estudos observacionais ................................................................... 47
2.12.2.3-Inquéritos ......................................................................................... 48
2.12.2.4- Testes padronizados de comportamento/personalidade ................. 49
2.12.3- Medidas de testes ................................................................................... 51
2.12.3.1- Confiabilidade ................................................................................ 51
2.12.3.2.- Validade ......................................................................................... 52
2.12.3.3- Viabilidade ..................................................................................... 52
2.12.3.4- Uniformização ................................................................................ 52
2.12.3.4.1- Objectivo da experiência ......................................................... 53
2.12.3.4.2- Identificação das variáveis em estudo ..................................... 53
2.12.3.4.3-Condições da amostra ............................................................... 54
2.12.3.4.4-Escolha dos colaboradores ....................................................... 54
2.12.3.4.5- Identificação dos estímulos ..................................................... 54
2.12.3.4.6- Escolha do local de teste.......................................................... 55
2.12.3.4.7-Tempo de teste .......................................................................... 56
2.12.3.4.8- Tipos de medidas ..................................................................... 56
2.12.3.4.9- Recolha e análise de dados ...................................................... 57
2.13- O cão Barbado da Terceira ........................................................................... 57
2.13.1- Origem do Barbado da Terceira ............................................................ 58
2.13.2- Selecção do Barbado da Terceira .......................................................... 59
xii
2.13.3- Morfologia do Barbado da Terceira ...................................................... 59
2.13.4- Andamentos do Barbado da Terceira .................................................... 63
2.13.5- Comportamento do Barbado da Terceira .............................................. 63
III- Materiais e Métodos............................................................................................. 64
3.1- Caracterização da amostra .............................................................................. 64
3.2- Inquérito informativo e C-BARQ ................................................................... 66
3.2.1- Desenvolvimento e constituição dos inquéritos ...................................... 66
3.2.2- Recolha dos dados ................................................................................... 67
3.3- Ensaio comportamental .................................................................................. 68
3.3.1- Delineamento ........................................................................................... 68
3.3.2- Localização .............................................................................................. 68
3.3.3- Selecção dos colaboradores e estímulos .................................................. 69
3.3.4- Condições do ensaio ................................................................................ 70
3.3.5- Descrição do teste comportamental ......................................................... 71
3.4- Registo de dados ............................................................................................. 81
3.5- Variáveis em estudo - traços de personalidade e problemas comportamentais
do cão Barbado da ilha Terceira ............................................................................ 88
3.6-Análise estatística ............................................................................................ 90
IV- Resultados e Discussão ........................................................................................ 92
4.1 – Inquérito informativo sobre o canídeo .......................................................... 92
4.1.1- Aptidão do cão Barbado da Terceira ....................................................... 92
4.1.2-Vivência do animal ................................................................................... 93
4.1.2.1- Experiência do dono e aquisição do animal ..................................... 93
4.1.2.2- Ambiente e socialização do animal .................................................. 94
4.1.3- Higiene .................................................................................................. 100
4.1.4- Estado Sanitário ..................................................................................... 101
4.2- Canine Behavioral Assessment & Research Questionnaire (C-BARQ) ...... 101
4.2.1- Avaliação da personalidade do Barbado ............................................... 101
4.2.1.1- Sociabilidade .................................................................................. 101
4.2.1.1.1- Sociabilidade com pessoas estranhas ...................................... 101
4.2.1.1.2- Sociabilidade com animais ...................................................... 105
4.2.1.2- Coragem ......................................................................................... 109
4.2.1.3- Vinculação e comportamento de procura de atenção ..................... 112
xiii
4.2.1.4- Comportamento predatório ............................................................. 113
4.2.1.5- Focalização no treino ...................................................................... 114
4.2.1.6- Sensibilidade ao toque .................................................................... 116
4.2.1.7- Interesse na brincadeira .................................................................. 117
4.2.1.8- Actividade e excitabilidade ............................................................ 117
4.2.2- Problemas comportamentais .................................................................. 119
4.2.2.1- Problemas comportamentais sociais ............................................... 119
4.2.2.2- Problemas comportamentais sensoriais e neurais ........................... 123
4.2.2.3- Problemas comportamentais comunicativos, alimentares e
eliminativos .................................................................................................. 124
4.2.2.4- Outros problemas comportamentais ............................................... 126
4.3- Ensaio comportamental ................................................................................ 128
4.3.1- Avaliação da personalidade ................................................................... 128
4.3.1.1- Sociabilidade .................................................................................. 128
4.3.1.1.1- Sociabilidade com pessoas estranhas ...................................... 128
4.3.1.1.2- Sociabilidade com animais ...................................................... 131
4.3.1.2- Coragem ......................................................................................... 132
4.3.1.3- Vinculação e comportamento de procura de atenção ..................... 135
4.3.1.4- Comportamento predatório ............................................................. 137
4.3.1.5- Focalização no treino ...................................................................... 139
4.3.1.6- Sensibilidade ao toque .................................................................... 140
4.3.1.7- Interesse na brincadeira .................................................................. 141
4.3.2- Problemas comportamentais .................................................................. 143
4.3.2.1- Problemas comportamentais sociais ............................................... 143
4.4- Validação do inquérito C-BARQ e do ensaio comportamental ................... 145
4.4.1- Confiabilidade entre o teste e a sua repetição, no ensaio comportamental
......................................................................................................................... 145
4.4.2- Consistência entre o inquérito C-BARQ e o ensaio comportamental ... 147
V- Conclusões e Perspectivas Futuras .................................................................... 150
5.1- Sociabilidade ................................................................................................ 150
5.1.1- Sociabilidade com pessoas estranhas .................................................... 150
5.1.2- Sociabilidade com animais .................................................................... 151
5.2-Coragem ........................................................................................................ 151
xiv
5.3- Vinculação e comportamento de procura de atenção ................................... 152
5.4- Comportamento predatório ........................................................................... 152
5.5- Focalização no treino .................................................................................... 153
5.6- Sensibilidade ao toque .................................................................................. 153
5.7- Interesse na brincadeira ................................................................................ 153
5.8- Actividade e excitabilidade .......................................................................... 153
5.9- Problemas comportamentais ......................................................................... 154
5.10- Correlações ................................................................................................. 154
VI- Referências bibliográficas ................................................................................. 156
VII- Anexos
xv
I- Introdução
O cão foi o primeiro animal a ser domesticado sendo actualmente a espécie mais
espalhada pelo Mundo de todas aquelas ao cuidado do ser humano (Jensen, 2007).
As raças de cães reconhecidas por Clubes de raça por todo o Mundo variam imenso
no seu tamanho, forma, cor e predisposições comportamentais, tendo sido
considerado que esta enorme variação morfológica tenha sido uma consequência
indirecta da selecção para diversas e especializadas funções (Serpell, 1995), o que
fez com que as mesmas tenham sido agrupadas em várias classes em função da sua
aptidão. As raças de cães domésticos são ideais para o estudo da base genética da
morfologia, susceptibilidade a doenças e comportamento (Spady & Ostrander, 2008).
Pelo mundo fora verificam-se grandes variações nas atitudes das pessoas em relação
aos cães. Sociedades menos industrializadas ou agrárias dão ênfase ao valor utilitário
do cão como guarda, pastoreio ou caça, contrariamente ao que acontece em países
mais industrializados, como a Europa Ocidental e o Norte da América, em que o cão
tem uma função predominante de companhia (Mugford, 2007). Na Europa, desde o
séc. XVII, tem-se verificado uma redução da utilização de cães de pastoreio e
condução de gado, evidenciando assim um desinteresse pela pastorícia. Este torna-se
ainda mais acentuado pela maior procura de raças caninas nacionais para a
funcionalidade de companhia, como tem sido evidente em diferentes países
(Coppinger & Schneider, 1995). Segundo Cruz (2007), esta situação é
particularmente preocupante, dado que a selecção exercida sobre animais destinados
ao pastoreio é diferente da pressão imposta em animais destinados à companhia de
pessoas. O facto de os critérios de selecção serem, por vezes, antagónicos poderá
levar ao desaparecimento de alguns comportamentos necessários ao desempenho da
função original e que uma vez desaparecidos do reportório comportamental de uma
raça, não poderão ser recuperados. Para isso, torna-se fundamental conhecer bem que
tipo de personalidade é desejada numa determinada raça e se esta é coerente com as
funções que se espera que o cão venha a desempenhar. A personalidade em cães é de
grande importância para todos aqueles que os têm na sua vida. É importante
determinar as características do cão para o criador que se importa com uma selecção
adequada de animais, para o treinador de cães, que se interessa em seleccionar
1
indivíduos com potencial e correspondê-los a um treino adequado e para os donos de
cães que querem evitar problemas comportamentais (Svartberg, 2007).
O cão Barbado da Terceira, nome que surgiu devido à sua pelagem e pêlos na
mandíbula e queixo, que se assemelham a “barbas”, constitui uma população canina
autóctone dos Açores, mais particularmente, da ilha Terceira. Foi seleccionado
inicialmente para condução de gado bovino existente na ilha, com especial destaque
para o gado bravo, mas actualmente já desempenha outras funções, como guarda de
bens e propriedades e companhia (AACCBIT, 2007).
Este trabalho teve como objectivos identificar alguns traços da personalidade do
cão Barbado da Terceira, tais como a sociabilidade, coragem, vinculação,
comportamento de procura de atenção, focalização no treino, sensibilidade ao toque,
comportamento predatório, interesse na brincadeira, actividade e excitabilidade, bem
como a sua propensão para determinados problemas comportamentais sociais,
sensoriais e neurais, comunicativos, alimentares, eliminativos e outros. Isto foi feito
tendo em conta o comportamento do dia-a-dia do Barbado descrito pelos donos
através de inquéritos e aquele manifestado no ensaio comportamental realizado. Este
conhecimento é útil para melhor caracterizar esta raça que embora recente aparenta
evidenciar muitas outras potencialidades.
2
II-Revisão bibliográfica
2.1- Origem do cão doméstico
A origem do cão doméstico é um tema muito controverso, essencialmente devido
à grande diversidade morfológica e comportamental que a espécie apresenta, superior
à de qualquer outro canídeo, tendo por isso, sido abordada por diversos autores
(Wayne, 1986; Hart, 1995) ao longo dos tempos.
Têm sido utilizados dois métodos para a sua determinação: procura de evidência
arqueológica de domesticação (e.g. fósseis), com posterior correlação com as
espécies selvagens existentes actualmente, à procura de semelhanças fenotípicas, ou
comparação das espécies domésticas com as espécies selvagens atuais (Bökönyi,
1969; Price, 1984). No entanto, lacunas no registo fóssil e falhas de formas
transicionais assumidas dificultaram o processo de estabelecimento de relações
filogenéticas precisas (Coppinger & Schneider, 1995). Diversos estudos realizados
levaram ao aparecimento de várias hipóteses para a origem do cão doméstico.
Coppinger & Schneider (1995) consideraram o lobo como ancestral parcial, mas com
algum grau de hibridização com outros membros do género Canis, particularmente,
chacais e coiotes. No entanto, Koler-Matznick (2002) pensa que não há evidência
directa que suporte esta hipótese. Por sua vez, Coppinger & Schneider (1995)
acreditaram que o cão doméstico adviria de um tipo selvagem Canis familiaris
semelhante às formas modernas, consideradas primitivas como o dingo australiano.
Contudo, a visão mais dispersa e aceite considera o lobo, Canis lupus, como o
ancestral selvagem do cão doméstico. Esta hipótese tem sido evidenciada por vários
estudos, na segunda metade do séc. XX, abordando o comportamento, vocalizações,
morfologia e biologia molecular (Cruz, 2007), bem como, através de dados
arqueológicos (King et al., 2012).
Segundo Vilá et al. (1997) as populações de lobos antigas teriam sido
domesticadas entre 50 000 e 100 000 anos atrás, período que corresponderia ao início
da colonização no sul da Ásia pelo Homo sapiens, e a lacuna de fósseis explicar-se-ia
assumindo que os cães não seriam morfologicamente distintos dos lobos. Tal facto
dever-se-ia, em parte, à hibridização entre lobos e cães durante muito tempo, antes da
separação das formas selvagens e domésticas (Miklósi, 2007), acelerada pela
3
transição do homem de caçadores nómadas para agricultores mais sedentários,
através da imposição de novos regimes selectivos nos cães (Cruz, 2007).
A evidência arqueológica mais antiga de um cão doméstico data de há 14 000
anos e consiste numa mandíbula encontrada numa sepultura, na Alemanha (Nobis,
1979 citado por Clutton-Brock, 1999). No entanto, a maioria dos restos de cães foi
encontrada na Ásia Ocidental e Médio Oriente, tendo sido datada de há 12000 anos
(Clutton-Brock, 1995).
Segundo Barceló et al. (1998), a presença do cão na Península Ibérica, está
documentada, com certeza, desde há 7000 anos embora seja provável a sua
existência em períodos anteriores.
2.2- Domesticação do cão
Rindos (1980) definiu a domesticação como uma relação mutualista em
desenvolvimento entre os humanos e as espécies domésticas objectivando o mútuo
benefício. Price (1984) descreveu a domesticação como um processo evolutivo pelo
qual uma população de animais se torna adaptada ao homem e ao ambiente em
cativeiro através de mudanças genéticas, segundo Price (1999), com controlo e
domínio humano. Zeuner (1963) definiu cinco fases no processo da domesticação,
afirmando que o cão as cumpriu:
 1ª fase- vasto contacto da espécie doméstica com os coespecíficos que se
reproduzem em liberdade, mantendo-se a similaridade entre a forma
doméstica e a silvestre;
 2ª fase- reprodução controlada pelos humanos, impedindo o contacto da
forma doméstica com a silvestre;
 3ª fase- controlo da reprodução pelos humanos, podendo ocorrer cruzamentos
pontuais com a forma silvestre, por decisão dos mesmos e posterior selecção;
 4ª fase- surgimento de raças devido à reprodução selectiva, orientada por
considerações de ordem económica e
 5ª fase- perseguição e exterminação das formas silvestres, opondo-se à
hibridização.
Clutton-Brock (1999) considera existirem duas componentes no processo de
domesticação: a componente biológica e a componente cultural. A primeira ocorre
quando um grupo de animais, ao serem separados da espécie silvestre, se habitua à
4
presença humana, e ao fim de várias gerações de selecção, quer natural, quer
artificial, modifica-se. A componente cultural diz respeito à incorporação dos
animais na estrutura social humana, tornando-se objectos de posse, com a finalidade
da domesticação.
A exactidão da origem do processo de domesticação do cão, bem como o seu
desenvolvimento é disputado (King et al., 2012). No entanto, parece ser consensual
que o cão foi a primeira espécie a ser domesticada pelo Homem e que a história entre
estes está estreitamente interligada (Miklósi, 2007). A domesticação do cão, segundo
Coppinger et al. (1987), teve início com a aproximação do lobo aos acampamentos
humanos em busca de alimento, que se auto domesticou como forma de lidar com o
stress inerente. Assim, foi constituída de forma relativamente rápida uma população
de lobos mais pequenos e menos receosos, os cães primitivos, sobre os quais a
interacção humana deliberada poderia actuar. Coppinger & Smith (1983) e Price
(1984) sugeriram a hipótese da neotenia nos primeiros animais a serem
domesticados, em que estes, em adultos, detinham características juvenis,
assemelhando-se assim ao estádio juvenil do ancestral, correspondendo isto a uma
redução no desenvolvimento. Esta hipótese facilitaria a manutenção e maneio, pelo
homem, dos animais em cativeiro através da redução da distância de fuga ao homem
que permitia o manter de comportamentos sociais.
O processo de domesticação, que poderá ter ocorrido em um único ou múltiplos
centros primários (Gonçalves, 2002), ao longo da História, levou a uma
diversificação da funcionalidade dos cães, nomeadamente, no auxílio nas caçadas, no
Mesolítico, e na condução e guarda de rebanhos, aquando o estabelecimento e
difusão da agricultura e pecuária (Cruz, 2007).
Durante o processo de domesticação os ancestrais do cão passaram por uma série
de modificações morfológicas, fisiológicas, comportamentais e genéticas, sugerindo,
assim, uma relação entre estas características. Na segunda metade do séc. XX, Dmitri
Belyaev realizou experiências de domesticação de raposas, seleccionando com base
nos traços comportamentais, reproduzindo as raposas mais calmas e domesticadas.
Após algumas gerações, mais rapidamente do que seria esperado, conseguiram obter
raposas domesticadas, e verificaram uma alteração morfológica, a mudança na
coloração da pelagem, podendo esta explicar a diversidade fenotípica existente nas
diversas raças de cães existentes actualmente (King et al., 2012).
5
De acordo com Svartberg (2006), a domesticação do cão ainda ocorre
actualmente e as dimensões básicas do comportamento do cão podem ser alteradas
quando as pressões de selecção mudam, ou vice-versa. Para Jensen (2007) os cães
estão estritamente relacionados com a história e evolução humana, pelo que conhecer
quando, onde e como se desenvolveram e dispersaram ajuda a entender o passado
humano.
2.3- Selecção do cão: o surgimento de raças
O cão apresenta populações distintas fenotipicamente, designadas por raças
(Ribeiro, 2001). Raça é uma escolha artificial de caracteres, morfológicos e
comportamentais, não necessariamente restritos a uma área geográfica e a uma
estratégia de sobrevivência, nos quais há um grande envolvimento humano (CluttonBrock, 1999), ocorrendo transmissão de caracteres à descendência devido à dinâmica
genética (Sierra Alfranca, 2001). Raça não é uma categoria taxonómica e como tal
não significa o mesmo que subespécie (Gonçalves, 2002) e variedade de uma raça,
foi descrita pela Federação Cinológica Internacional (FCI), como um grupo
específico com uma ou mais características determinadas, em comum, não sendo
estas obrigatórias para todos os indivíduos pertencentes à raça (Monteiro, 2010).
Actualmente, de acordo com a FCI, existem entre 400-500 raças de cães
registadas, nas quais algumas são geneticamente idênticas, enquanto outras diferem
mais (Miklósi, 2007).
Segundo Ribeiro (2001), a origem das raças é discutida por vários autores, no
entanto, é comum a afirmação de que esteve intimamente ligada à sua função, sendo
possível agrupar as raças em diferentes grupos, consoante a sua aptidão (e.g. guarda,
caça, pastoreio, companhia, reprodução). Miklósi (2007) sugere que a origem das
raças de cães ocorreu há cerca de 5000-7000 anos, quando os humanos alteraram os
seus estilos de vida de caçadores nómadas para agricultores sedentários, iniciando-se,
assim, uma selecção dos cães para trabalho. Por sua vez, Clutton-Brock (1999)
defende que esta surgiu há 3000-4000 anos e que foram os Romanos que definiram
de forma precisa a maioria das raças conhecidas hoje, na Europa.
Na Idade Média, surgiram raças de cães especializadas na caça, como
simbolismo de poder e estatuto social devido ao estabelecimento da aristocracia e
apenas no início do séc. XIX o cão passou a ser apreciado pelo seu valor como
6
animal de estimação. Acerca de 200-400 anos atrás começou um novo processo de
selecção, submetendo as raças a um isolamento reprodutivo (Miklósi, 2007).
Segundo Helmer (1992), os caracteres de uma raça estão fixados ao fim de 30
gerações, o que indica um rápido surgimento de diferenças fenotípicas num curto
período de tempo.
A selecção de raças é explicada por três hipóteses diferentes: selecção directa de
caracter por caracter; neotenia e hibridização. A primeira hipótese justifica a
diferença entre raças, como resultado de uma selecção específica de caracter por
caracter de forma semelhante à selecção natural (Løvtrup, 1987), e em que a
alteração de um pode modificar muitos outros no processo (Geist, 1971). A neotenia
põe em causa a procura actual do ancestral do cão em populações adultas, uma vez
que os cães adultos exibem morfologia e comportamentos semelhantes aos
encontrados nos estádios juvenis dos seus coespecíficos silvestres (Zeuner, 1963;
Gould, 1977). A hibridização imita, muitas vezes, os efeitos da neotenia no
comportamento e explicará melhor a rapidez de alterações sofridas na selecção do
cão. Isto porque, teoricamente, os híbridos seriam diferentes dos pais devido às novas
combinações filogenéticas de sequências de padrões motores (Fox, 1978; Coppinger
et al., 1985).
A FCI, em 1983, adoptou em Assembleia Geral uma proposta de
regulamentação que considera que uma população, grupo de cães, é uma raça
quando: todos os animais pertencentes a essa população apresentam um número de
características comuns, e essas são constantes nas gerações sucessivas, podendo
apenas estes, que reúnem essas duas condições serem cruzados originando assim
uma população, grupo fechado de animais. Além destas, os caracteres comuns e
geneticamente determinados deverão ser descritos num Estalão FCI (Monteiro,
2010).
Os Estalões de raças consistem numa série de orientações, por escrito, que
descrevem, especificamente, como cada raça de cão se deveria parecer e comportar.
Os criadores da raça são incentivados a seguir estes estalões de forma a criarem cães
em conformidade, com eles, com uma correcta conformação corporal, boa saúde e
um comportamento adequado, embora a interpretação dos mesmos possa variar entre
os criadores devido a alguma subjectividade (King et al., 2012).
Beilharz (2007) afirma que uma criação de sucesso de cães requer um óptimo
conhecimento dos mesmos, dos seus comportamentos, capacidades, relações
7
estabelecidas com as pessoas e do fenótipo desejado para o melhor desempenho da
função, sendo isto mais importante do que quaisquer considerações genéticas.
O aparecimento das exposições caninas, onde é avaliada primariamente a
morfologia em detrimento do comportamento e temperamento, e os estalões de raças,
contribuíram para uma selecção baseada na morfologia e não na função, tão visível
actualmente (King et al., 2012). Svartberg (2006) refere que as diferenças fenotípicas
e de funcionalidade entre raças deveriam reflectir critérios de selecção diferentes
entre elas e que o comportamento não deveria ser negligenciado. Por sua vez,
Galibert & André (2008), alertam que a selecção pode levar a um reduzido fluxo de
genes, evidenciado por números reduzidos de reprodutores, propiciando, assim,
emparelhamentos entre indivíduos com elevado grau de parentesco entre si. Este
processo, designado por endogamia ou consanguinidade, permitiu aumentar a
susceptibilidade dos cães a doenças complexas (Galibert & André, 2008).
2.4- Cães de pastoreio e cães de gado
Segundo Cruz (2007), no panorama pastoril, o cão reveste-se de grande
relevância não apenas como fonte de rendimentos, mas também pelo seu valor
cultural, embora seja pouco evidenciada a sua importância quando se aborda o tema
da Produção Animal. Economicamente surgem duas formas de obtenção de lucro: a
forma directa, através da venda da descendência de cães de raça que, correspondam
aos critérios definidos no estalão para a mesma, e a forma indirecta, pela redução da
mortalidade no efetivo dos rebanhos (cães de gado) e pela redução de mão-de-obra
necessária na manutenção do efetivo (cães de condução).
Assim, é possível distinguir dois tipos de cães envolvidos na pastorícia com
funções diferentes: os cães de gado (cães de protecção ou cães de guarda de gado) e
os cães de condução (cães pastores ou cães de pastoreio). Os cães de gado têm como
função proteger o gado de potenciais predadores (e.g. o lobo), muitas vezes,
recorrendo a confrontos agressivos. Os cães de condução ajudam o pastor a deslocar
o gado de um local para o outro, interferindo com o comportamento dos animais
(gado), pela indução de reacções de fuga e agrupamento (Coppinger & Coppinger,
1998). É possível subdividir os cães de condução em dois grupos: os heelers que
perseguem e mordem na zona da quartela, do gado de grande porte (e.g.vacas), e os
8
headers que contornam os animais do rebanho e conduzem-no (Coppinger &
Schneider, 1995).
Em Portugal, estes dois tipos de cães constituem parte integrante do sistema
tradicional de maneio de gado, existindo sete raças reconhecidas: o Cão de Castro
Laboreiro, o Cão da Serra da Estrela, nas variedades de pêlo curto e de pêlo
comprido, o Rafeiro do Alentejo e o Cão de Gado Transmontano, como cães de
gado; o Cão da Serra de Aires, o Cão de Fila de S. Miguel e o Barbado da Terceira,
como cães pastores (Cruz, 2007).
2.4.1-Origem e selecção do cão de pastoreio
A origem dos cães de pastoreio é ainda desconhecida. No entanto, pensa-se que
proveio de fluxos genéticos entre diferentes populações ou raças, propiciados pelo
encontro de gados, devido aos movimentos transumantes (Cruz, 2007). Duas teorias
tentam explicar esta origem: a Europeia e a Asiática.
A Teoria Europeia, apresentada por Laurans (1975), diz que as primeiras
evidências de cães de condução de rebanhos ocorreram no séc. XII, na Islândia e
ilhas Faroé. Posteriormente, estes cães passaram para o País de Gales, onde eram
utilizados no séc. XV, surgiram no norte de França, no séc. XVII e chegariam aos
Pirinéus no séc. XIX, alcançando a Península Ibérica em poucos anos e difundindose, posteriormente, pela Europa.
A Teoria Asiática, apresentada por Coly (1994), diz que os cães de pastoreio de
pêlo lanoso só poderiam ter um ascendente comum, o Pastor da Rússia Meridional,
com uma distribuição histórica vasta. Segundo este autor, estes cães teriam, a partir
do séc. VI, a.C., acompanhado os movimentos dos povos indo-europeus para Oeste,
chegando ao Mar Negro e daí avançado pelo Norte de África, atingindo a Península
Ibérica e difundindo-se pela Europa. Esta hipótese adequa-se na explicação da
semelhança morfológica entre muitas raças de cães pastores da Europa e Norte de
África (Cruz, 2007). No entanto, segundo Fogle (2000), os cães de pastoreio
espanhóis que acompanhavam os rebanhos, nos finais do séc. XVIII para a Rússia,
teriam estado na origem do Pastor da Rússia Meridional. Estas duas teorias parecem
contradizer-se, no entanto, existem dois subgrupos de cães de pastoreio,
morfologicamente distintos na Europa, o que poderia validar as duas teorias,
considerando que teriam origens e difusão diferentes (Cruz, 2007).
9
Os cães de pastoreio surgiram quando os grandes predadores, que ameaçavam o
gado, começaram a desaparecer e a necessidade de protecção deste diminuiu. Em vez
disso, surgiu a necessidade de condução do mesmo, dando origem a esta nova
actividade para os cães (Laurans,1975).
Actualmente, as raças existentes de cães de pastoreio estão distribuídas ao longo
de toda a Eurásia, sendo relativamente recentes devido aos cruzamentos efectuados
para melhoria das mesmas. De acordo com Coppinger & Coppinger (1998), na
Austrália e Nova Zelândia, regiões onde a pecuária está mais desenvolvida, estão a
ser criadas novas raças (e.g. New Zealand Huntaway; Australian Kelpie).
2.5- Cão de companhia
O cão de companhia é todo o cão, independentemente da raça ou variedade desta,
cuja principal função seja a de fornecer companhia ao ser humano (King et al.,
2012), proporcionando benefícios psicológicos a este (Hart, 1995).
2.5.1- Selecção do cão de companhia
Os cães de trabalho, com várias funcionalidades, estabeleciam com os humanos
uma relação próxima, proporcionando companhia. Os cães de companhia, sendo
criados e adquiridos especificamente para esse fim, continuam a ganhar popularidade
pelo Mundo (Miklósi, 2007). A preferência destes, em detrimento dos cães de
trabalho e a consideração de que todos os cães seriam igualmente capazes de
preencher o papel de companhia, levou a que ocorresse uma selecção mais
direccionada para a morfologia do que para o comportamento. No entanto, apesar de
ser largamente aceite de que algumas raças de cães desenvolvem certas funções com
mais sucesso do que outras raças, desconhece-se se o mesmo acontece com a função
de companhia (King et al., 2012).
Segundo Svartberg (2007), a criação de cães de companhia deveria ser orientada
no sentido de uma selecção com base no comportamento e personalidade mais
adequados ao desempenho da função, em detrimento de uma selecção direccionada
apenas à morfologia, para satisfazer exigências de mercado e participar em
concursos.
10
Muitos criadores, por desconhecimento ou outros motivos, limitam-se a cruzar os
melhores
animais
que possuem, independentemente, de quaisquer outras
considerações morfológicas ou comportamentais (Coppinger & Coppinger, 1998).
Poderia ser argumentado de que raças desenvolvidas, primariamente, com o
objectivo de fornecer companhia seriam mais eficazes nesta função do que aquelas
seleccionadas para guarda ou pastoreio. Contudo, apesar de poder ser o caso ainda
não há uma forma objectiva de aceder à sua adequabilidade (King et al., 2012).
Cruz (2007) afirma que os animais de companhia são seleccionados com base em
padrões morfológicos e comportamentais, por vezes, diferentes daqueles desejados
em animais de trabalho. Este facto pode ser acentuado pela inexistência de
cruzamentos entre animais provenientes de ambas as populações.
2.6- Morfologia do cão
2.6.1- Morfologia do cão de pastoreio
A morfologia do cão de pastoreio assemelha-se à de um predador (e.g. o lobo),
facto este que é acentuado pela coloração da pelagem que, embora variada, é
geralmente escura. A sua estatura varia, no entanto, são geralmente de pequeno ou
médio porte, com altura média ao garrote inferior a 65 cm e com menos de 35 kg de
peso. São animais compactos, com focinhos compridos e estreitos e, frequentemente,
de orelhas erectas ou amputadas de forma a atingirem essa posição (Charoy et al.,
1985).
A funcionalidade destes cães exige que sejam animais com uma elevada
resistência física e capacidade de suportar condições ambientais adversas. Segundo
Coppinger & Coppinger (1998), o tamanho e a capacidade de armazenamento do
calor são factores importantes a ter em conta na selecção porque podem determinar a
performance do animal.
2.6.2- Morfologia do cão de companhia
A morfologia das raças de cães utilizadas, principal ou exclusivamente, como
cães de companhia é muito variada. Não existe uma evidência que sugira que esta é
crítica na determinação do sucesso do cão, como cão de companhia (King et al.,
11
2012). Por esta razão, maioritariamente, os criadores de raças com esta aptidão,
seleccionam as morfologias que mais agradam aos humanos, em detrimento da boa
capacidade ou não que estes tenham em desempenhar a função desejada (Coppinger
& Coppinger, 1998).
2.7- O comportamento em cães
O comportamento é composto por acções e reacções de um indivíduo como
resposta a um determinado estímulo ou situação, sendo incluídas neste, actividades
como, locomoção, reprodução, comunicação, entre outras (Grier, 1984; Jensen,
2007). Por sua vez, um traço comportamental alberga um conjunto de reacções
comportamentais, por vezes, simultâneas (Svartberg, 2007). Um comportamento
estável será aquele que nunca muda, mas um comportamento consistente poderá sêlo ao longo do tempo ou ao longo de situações, não implicando, necessariamente,
estabilidade (Budaev, 2000 citado por Gosling, 2001).
O comportamento é afectado por um grande número de factores, nomeadamente,
a genética do indivíduo, o ambiente onde está inserido e as experiências a que foi
exposto (Jensen, 2007; Miklósi, 2007; Galibert et al., 2011; Udell & Wynne, 2011).
É comum pensar que o ambiente modifica o comportamento durante o
desenvolvimento do animal, enquanto as bases genéticas tornam-no estável.
Contudo, o contrário também é possível se for tido em conta a maturidade sexual que
causa mudanças no comportamento e é influenciada geneticamente (Svartberg,
2007). Os cães apresentam uma plasticidade de comportamento muito elevada, sendo
capazes de progredir e lidar em ambientes físicos e sociais diferentes (Mugford,
2007).
Vários autores (Budaev, 2000 citado por Gosling, 2001; Takeuchi & Houpt,
2004; Svartberg, 2006; Spady & Ostrander, 2008) afirmam a existência de muitas
diferenças comportamentais entre as diversas raças de cães e variações entre
indivíduos, dentro da mesma raça. Os etologistas abandonaram o conceito de que as
características comportamentais poderiam ser generalizadas a todos os membros de
uma espécie, ou mesmo àqueles da mesma idade e género (Martin & Bateson, 2007).
As grandes diferenças comportamentais resultam não do surgimento de novos
padrões comportamentais, mas sim da supressão ou do aumento de características
comportamentais já existentes nos canídeos (Scott & Fuller, 1965).
12
Os criadores têm como função seleccionar os cães que melhor apresentam os
comportamentos típicos da raça. Por sua vez, os treinadores pretendem direccionar a
manifestação dos comportamentos inatos, através do treino do animal sobre quando e
onde exibi-los (Coppinger & Coppinger, 1996). Contudo, nem todos os criadores têm
esse cuidado, assumindo que os comportamentos indesejáveis nos cães são resultado
de experiências inapropriadas aprendidas e, que por isso, não passam para as
gerações futuras. A informação de que o comportamento é altamente hereditário
deverá ser fornecida aos criadores (King et al., 2012).
A compreensão do comportamento canino, como é controlado e executado é
considerada por diversos autores (Dreschel & Granger, 2005; Jensen, 2007; Udell &
Wynne, 2008; King et al., 2012) como essencial para o bom entendimento da
vivência dos cães e do motivo pelo qual alguns indivíduos desenvolvem problemas
comportamentais indesejados, para que possam ser tratados e prevenidos, com
eventual treino. Assim, a caracterização comportamental torna-se cada vez mais uma
necessidade premente para assegurar a continuidade das raças a longo prazo (Cruz,
2007).
2.7.1- Comportamento do cão de pastoreio
O comportamento do cão de pastoreio é essencialmente predatório, sendo
considerado neoténico, devido aos padrões homólogos aos exibidos pelo seu
ancestral silvestre, o lobo, na fase juvenil do seu desenvolvimento (Coppinger et al.,
1987). Isto faz com que algumas das componentes predatórias (fixar, aproximar e
perseguir) estejam presentes, enquanto outras (morder), características da fase adulta
do ancestral, estejam ausentes ou menos desenvolvidas (Coppinger & Coppinger,
1998). Esta componente predatória é mais evidente a partir da maturidade sexual,
tendo sido isto observado num estudo de Coppinger et al. (1987), onde os cães de
pastoreio começaram a exibir comportamentos de fixação por um objecto, vivo ou
inanimado, que anteriormente a essa fase não possuíam. Esta componente é
determinante no bom desempenho da função destes cães, sendo dividida em três
etapas: fixação, aproximação e perseguição. Por sua vez, o lobo, continua a
sequência predatória até às fases de captura e consumo (Figura 1). O motivo da não
prossecução da acção predatória, pelo cão de pastoreio, tal como acontece com o seu
ancestral, deve-se à inibição desta pelo pastor (dono) através do treino imposto. Este
13
facto leva à reversão da sequência às etapas anteriores, aproximação ou fixação, e é
esta repetição o motivo da condução eficiente do gado por este tipo de cães
(Coppinger & Schneider, 1995), que provocam nele reacções de medo que originam
a fuga, levando-o a afastar-se deles (Coppinger & Coppinger, 1998).
Figura 1 - Representação esquemática da organização da sequência predatória no lobo e no cão de
condução (adaptado de Glendinning, 1986 e LGDA, 1992 citados por Cruz, 2007).
O comportamento predatório pode ser exibido sem qualquer objectivo prévio de
alcançar uma presa ou uma recompensa alimentar, podendo ocorrer em contextos
fora da sequência predatória, como parte de uma brincadeira social (Coppinger &
Coppinger, 1998).
As diferentes raças de cães de pastoreio exibem padrões comportamentais
diferentes, com frequências e intensidades distintas, sendo umas mais fáceis de
treinar do que outras para mostrar, ou não, um determinado comportamento. No que
se refere aos traços comportamentais desejados pelo pastor, há evidência de uma
componente genética (Vines, 1981). Por essa razão tem ocorrido uma selecção de
raças específicas para trabalhar com espécies de gado distintas (Coppinger &
Schneider, 1995). Existem várias formas de treinar cães para condução de rebanhos
(Holland, 1994; Longton & Sykes, 1997), no entanto, as mais comuns são comandos
gestuais e sonoros (McConnell & Baylis, 1985), devendo o cão estar sempre sob a
supervisão do pastor (Coppinger & Schneider, 1995).
Segundo Coppinger & Coppinger (1998) cada raça trabalha de forma distinta,
nomeadamente, em relação às distâncias relativamente ao pastor, às vocalizações
emitidas aquando o desempenhar da função, na forma de conduzir o gado e no
despoletar de certos padrões comportamentais (é desejado o morder nos cães de
condução de gado bovino, no entanto, este não é aceite em cães de condução de
ovelhas).
14
Os cães de pastoreio são muito activos e enérgicos, muito receptivos aos
comandos do pastor, possuem uma rápida capacidade de aprendizagem, tornando-se,
por isso, fáceis de treinar, pois o seu modo de acção é fundamentalmente aprendido.
No entanto, devido ao seu forte instinto predatório, não podem ser deixados sós com
um rebanho, pois facilmente poderão atacar e matar vários animais (Coppinger &
Coppinger, 1980). As raças portuguesas de cães de pastoreio evidenciam, à
semelhança de outras similares, um elevado potencial para a dominância, tal não
implicando necessariamente agressividade (Cruz, 2007).
2.7.2- Comportamento do cão de companhia
A relação entre os cães e os humanos têm vindo a ser alterada, de forma
profunda, ao longo dos tempos, verificando-se uma predominância na utilização de
cães para companhia, em detrimento da funcionalidade para os quais os seus
ancestrais foram seleccionados (McGreevy & Nicholas, 1999). Esta coabitação levou
ao desenvolvimento, nos cães, da capacidade de responder a gestos e pistas do
homem, bem como, exibir comportamentos considerados exclusivamente humanos,
como o reconhecimento de um estado emocional (Udell & Wynne, 2008). Os cães
tornaram-se animais cooperativos e de confiança dos humanos (Konok et al., 2011;
Pettersson et al., 2011).
Os padrões comportamentais especializados de perseguição e morder, tão
essenciais em cães de pastoreio, não são desejados em outras situações, pelos donos,
nomeadamente, na perseguição de ciclistas ou carros. Da mesma forma, que não se
desejam cães de companhia agressivos e dominantes (Coppinger & Coppinger,
1998).
King et al. (2009), no seu estudo de determinação das características do cão de
companhia ideal, revelaram que a maioria dos indivíduos desejam um cão amigável
com outras pessoas, calmo, bem-comportado e seguro com crianças.
O latido contra sons desconhecidos, nomeadamente, a aproximação de estranhos,
é uma característica desejada pelos donos de cães de guarda, tendo sido favorecido
no percurso de selecção de raças com esta aptidão (Yeon, 2007).
15
2.8- Comportamento social canino
Desde os finais do século XIX e início do século XX que a importância da
experiência precoce, na modelação de comportamentos futuros tem sido um tema
central no estudo do comportamento animal (Ribeiro, 2001). Estudos realizados por
Scott & Fuller (1965) revelaram a existência de períodos sensíveis no
desenvolvimento do cão (ontogenia) durante os quais a exposição dos animais a
determinados estímulos produzia efeitos duradouros no seu comportamento. As
primeiras experiências na vida dos cachorros poderiam, assim, influenciar de forma
marcada o comportamento do cão adulto, nomeadamente, no desenvolvimento de
problemas comportamentais, como a agressividade em cães (Appleby et al., 2002).
Os comportamentos estabelecidos durante os períodos sensíveis ou críticos são,
geralmente, mais resistentes às alterações do que aqueles não desenvolvidos da
mesma forma (Immelmann & Suomi,1981; Beaver,1999). Assim, os criadores de
cães e os donos são responsáveis por fornecer aos cachorros um óptimo ambiente de
desenvolvimento, para assegurar que estes se tornem em adultos exemplares (King et
al., 2012).
O comportamento social em cães, tendo em conta a evolução das suas
capacidades psicomotoras e do comportamento, pode ser dividido em cinco fases ou
períodos: o período pré-natal; o período neonatal; o período de transição; o período
de socialização e o período juvenil (Scott & Fuller, 1965; Braastad & Bakken, 2002).
2.8.1- Período pré-natal
O período pré-natal, geralmente ignorado na ontogenia dos canídeos pela
inexistência de estudos, foi identificado em outras espécies. O desenvolvimento
comportamental poderá ser afectado por acontecimentos que ocorrem in utero. As
fêmeas expostas a stress durante a gestação podem ter crias mais emocionais,
reactivas e medrosas durante a vida (Braastad & Bakken, 2002).
2.8.2- Período neonatal
É o período compreendido entre o nascimento e as duas semanas de idade, em
que o cachorro não é autossuficiente devido ao seu cérebro muito imaturo e às suas
16
capacidades sensoriais (os olhos e os ouvidos estão fechados, e o olfacto e o paladar
pouco desenvolvidos) e motoras limitadas (Scott & Fuller, 1965; Jensen, 2007). No
entanto, alguns estudos demonstram que nesta fase os cachorros são capazes de
aprender associações simples, embora os seus efeitos dificilmente passem para fases
posteriores do desenvolvimento (Cornwell & Fuller, 1961).
O cachorro neonatal é essencialmente um animal táctil que não consegue
controlar a sua temperatura corporal, recorrendo à proximidade da progenitora ou
dos irmãos. O seu comportamento está unicamente relacionado com a alimentação,
excreção (comportamento reflexo, estimulado pela mãe), investigação e busca de
atenção e cuidados, estando ausentes os padrões comportamentais característicos dos
adultos (Scott & Fuller, 1965). Estudos na área da ontogenia comportamental
sugerem que a estimulação física (e.g. manuseamento) pode ter efeitos marcantes e
duradoiros no desenvolvimento físico (acelerando o crescimento), e comportamental
dos cachorros, tornando-os mais confiantes e socialmente dominantes (Fox, 1978).
2.8.3- Período de transição
Corresponde ao período entre a 3ª e a 4ª semana de vida, quando os olhos e
ouvidos dos cachorros abrem e ocorre uma mudança das capacidades locomotoras do
rastejar para o andar que lhes permite iniciarem a exploração para fora do ninho. São
animais mais independentes, na regulação da temperatura corporal e na excreção,
começam a ingerir comidas semissólidas e a responder a pessoas ou outros animais
que detectam à distância (Scott & Fuller, 1965; Beaver,1999; Braastad & Bakken,
2002).
Surgem os primeiros sinais sociais (rosnar, abanar a cauda), iniciam-se as lutas
amigáveis com os irmãos e denota-se uma ligeira melhoria na aprendizagem dos
cachorros (Scott & Fuller, 1965; Braastad & Bakken, 2002).
2.8.4- Período de socialização
O período de socialização decorre da 3ª- 4ª semana à 12ª-13ª semana, havendo
um período mais sensível entre as 6-8 semanas, em que a existência de privação em
cachorros, do contacto social com humanos, poderá tornar mais difícil a relação entre
estes mais tarde (Scott & Fuller, 1965; Jensen, 2007). Este período inicia-se com o
17
desmame gradual por parte da progenitora que passa cada vez menos tempo com os
cachorros, afastando-os, não obstante ocorrer um rápido desenvolvimento dos
comportamentos sociais destes. Começam a comportar-se como um grupo, onde
surgem as lutas fingidas e os ataques, para estabelecimento de relações de
dominância, embora não completamente definidas e também surgem os primeiros
sinais de agressividade e medo, que podem, ser atenuados pela habituação (Scott &
Fuller, 1965; Jensen, 2007).
A socialização em cachorros permite-lhes formar vínculos entre os seus
coespecíficos e outros animais encontrados socialmente durante este período. Com os
humanos, Fuller (1967) diz não ser necessário contactos muito frequentes ou
prolongados para que a socialização ocorra, bastando alguns minutos por semana de
contacto social. O cachorro já possui a maioria dos padrões comportamentais do
adulto, sendo capaz de realizar associações rápidas entre estímulos, mas não de
aprender padrões motores complexos, uma vez que as suas respostas motoras não
estão completamente desenvolvidas (Scott & Fuller, 1965).
Este período é marcado pela grande influência do ambiente no comportamento
futuro. Lindsay (2000) afirma que durante o período de socialização podem ser
desenvolvidas várias características estáveis no adulto, como o medo de outros cães e
humanos, reacções de separação, nível de actividade geral e focalização no treino. A
socialização com outras espécies resulta em níveis mais baixos de agressividade
perante elas, redução do medo em situações sociais e desenvolvimento de apego
social (Braastad & Bakken, 2002; Svartberg, 2007).
Slabbert & Rasa (1993) parecem contrariar a existência de um período óptimo de
socialização, por não terem encontrado diferenças relevantes a este nível num estudo
realizado em Pastores Alemães. No entanto, segundo Serpell & Jagoe (1995), parece
ser consensual que o processo de socialização difere entre indivíduos e entre raças ao
nível dos limites e qualidade deste. Nos cães de pastoreio, durante este período de
socialização, é-lhes permitido socializar com pessoas e outros cães, mas não ter
acesso contínuo ao gado, para que possam desenvolver os padrões comportamentais
desejados, antes do treino (Coppinger & Schneider, 1995).
18
2.8.5- Período juvenil
Este período começa nas 12-14 semanas de idade dos cachorros e termina com o
início da maturação sexual, geralmente, a partir dos 6 meses, com o fim do
crescimento rápido do animal (Braastad & Bakken, 2002).
O cachorro começa a atingir uma organização estável, sendo as alterações
observadas mais quantitativas do que qualitativas, uma vez que não surgem novos
padrões comportamentais (Scott & Fuller, 1965).
Por volta dos 4 meses de idade, talvez devido à interferência da aprendizagem
prévia, denota-se uma diminuição na formação de reflexos condicionados. Apesar do
aumento das capacidades de aprendizagem, os cachorros ainda não conseguem
desempenhar as tarefas mais difíceis devido à reduzida habilidade motora, a um curto
período de concentração e a uma elevada excitabilidade emocional. Os cachorros têm
uma forte tendência em actuar cada vez mais em grupo, sendo ainda visíveis as lutas
sociais que, entretanto evoluíram para um padrão de dominância-submissão por volta
das 15 semanas (Scott & Fuller, 1965; Braastad & Bakken, 2002). Continua a
verificar-se comportamento sexual, mas realizado de uma forma juvenil e facilmente
interrompido (Houpt, 2005).
O comportamento de jogo social é considerado característico de mamíferos
neoténicos, que têm um período juvenil e de dependência prolongado. Este
comportamento é de grande importância no desenvolvimento comportamental do
indivíduo, facilitando a criação de vínculos sociais e a capacidade de distinção entre
indivíduos familiares e desconhecidos (Coppinger & Schneider, 1995)
2.9- Problemas comportamentais
A falta de interacção social com outros cães e pessoas, pode levar o cão a
desenvolver problemas comportamentais, que comprometem o seu bem-estar, uma
vez que a apresentação de um comportamento menos desejado pode levar os donos a
abandonar o animal ou, eventualmente, eutanasiar (Hiby et al., 2004; King et al.,
2012).
Por vezes, os comportamentos apresentados pelo cão não são compreendidos
pelo dono, levando-o a classificá-lo como um mau animal. Este facto pode ocorrer
19
por falta de conhecimento e experiência dos donos relativamente à natureza dos cães
(Peachey, 1993; Coppinger & Coppinger, 1998).
Segundo O’Farrell (1997), a personalidade, o comportamento e as atitudes dos
donos podem contribuir para a causa e manutenção do problema comportamental. No
entanto, Borchelt & Voith (1982) e Voith et al. (1992) não encontraram, nos seus
estudos, correlações suficientes que corroborassem essa influência.
De acordo com Clark & Boyer (1993), existe uma prevalência reduzida de
problemas comportamentais em cães que tenham recebido treino de obediência.
Contudo, Voith et al. (1992) não encontraram uma relação estatisticamente
significativa entre essas duas variáveis.
Os problemas comportamentais são variados e o seu diagnóstico nem sempre é
fácil. Por isso, acima de tudo é necessário excluir uma possível causa orgânica e só
posteriormente, já suspeitando de um problema comportamental, identificar o
motivo.
2.9.1- Problemas comportamentais sociais
2.9.1.1- Agressividade
A agressividade é um comportamento normal no cão que pode ser um
mecanismo protector quando ameaçado ou demonstrado durante o comportamento
competitivo natural para parceiros, território ou comida. Quando este comportamento
normal se torna excessivo ou incontrolável o cão pode tornar-se um perigo (Butcher
et al., 2002; De Meester et al., 2008).
A agressividade pode ocorrer em qualquer idade ou género, podendo ser
manifestada no final da maturidade sexual e tornar-se refinada durante a maturidade
social, por volta dos 12 a 36 meses de idade (Overall, 2007). Estudos realizados
sobre o efeito da castração na agressividade indicaram que machos inteiros são mais
prováveis de mostrar comportamentos agressivos, e que as fêmeas inteiras eram as
menos prováveis (Podberscek & Serpell, 1996; Roll & Unshelm, 1997). O
desenvolvimento da agressividade pode estar associado a factores genéticos e
ambientais, embora essas interacções estejam pouco estudadas (Mackenzie et al.,
1986). Bennett & Rohlf (2007) concluíram que o género, idade e experiência do
dono não tiveram uma relação relevante com a agressividade geral do cão. O estudo
20
da etologia da agressividade canina é de extrema importância para o bem-estar
humano e dos cães (Hunthausen, 1997; van den Berg et al., 2003).
2.9.1.1.1- Agressividade por dominância
A agressividade por dominância é ofensiva e direccionada a indivíduos que, no
entender do cão, constituem uma ameaça por estabelecerem um desafio de
dominância, podendo ocorrer entre cães ou entre cães e humanos (O’Farrell, 1992;
Duffy et al., 2008). A constante satisfação das exigências do cão pelos donos, sem
imposição de limites óbvios, leva o animal a comportar-se como dominante perante
eles (O’Farrell, 1997).
Este tipo de agressividade pode ocorrer na fase de cachorro. Contudo, os cães,
normalmente, começam a exibi-la perto da maturidade social, sendo mais comum em
machos (Beaver, 1999). Os animais manifestam uma postura corporal agressiva
rosnando e eventualmente mordendo os seus donos ou outras pessoas conhecidas
(Reisner, 1995a), embora possa surgir contra pessoas desconhecidas (Beaver, 1999;
Kahn & Line, 2005). A idade e o género dos humanos que vivem com eles irá
também influenciar a tendência do cão demonstrar agressividade por dominância, por
exemplo, é mais difícil para crianças e mulheres dominarem os cães (O’Farrell,
1992).
A origem da agressividade por dominância está mediada por factores genéticos,
hormonais e ambientais (García-belenguer et al., 2001) e raças com funcionalidade
de guarda são seleccionadas, até certo ponto, para demonstrarem este comportamento
(O’Farrell, 1992).
De acordo com Voith (1992), os animais que possuem agressividade por
dominância apresentam-na em várias circunstâncias:
-
Quando fisicamente manipulados (acariciados, contidos, afastados);
-
Quando lhes colocam ou retiram coleiras, ou açaimes;
-
Durante os cuidados de higiene (banho, secagem);
-
Quando são perturbados enquanto repousam ou dormem;
-
Quando alguém se aproxima da sua comida, de uma cadela em cio, de uma
pessoa favorita ou da sua área de repouso, mesmo que não se encontrem nelas;
-
Quando alguém mantém o contacto visual com eles;
-
Quando são repreendidos, disciplinados ou ameaçados e
21
-
Quando lhes retiram objectos preferidos ou comida da boca.
O diagnóstico desta patologia requer que aconteçam três ou mais situações das
referidas acima e não apenas um único evento (Beaver, 1999). O envolvimento
antropomórfico do dono (Svartberg, 2007), o grau de vinculação deste (O’Farrell,
1997) e a sua permissividade (Rooney & Bradshaw, 2002) estavam associados à
agressão por dominância nos animais.
2.9.1.1.2- Agressividade por medo
A agressividade induzida por medo, oposta à de dominância, é defensiva e mais
frequente em animais com uma maior sensibilidade a tipos de estimulação sensorialsons, movimento e toques (Overall, 1997). Pode ser observada em cães de qualquer
idade, género ou raça, sendo algumas mais predispostas geneticamente, tal como o
Border Collie (Reisner, 1995b).
Há duas razões principais para a agressividade por defesa ocorrer: problemas de
socialização e experiências traumáticas. Um cão bem socializado pode tornar-se
medroso ou agressivo se teve pouco contacto com outros cães e com humanos para
além do período de socialização e uma única experiência traumática é suficiente para
tornar um cão estável num cão medroso ou agressivo (Fatjó & Manteca, 2003).
Os estímulos que desencadeiam medo num cão podem ser muito diversos, mas
muitos estão relacionados com encontros sociais. Um cão ou uma pessoa mais
dominante, e uma criança que se aproxima rapidamente, mantendo o contacto visual,
podem desencadear uma resposta de medo no animal (Beaver, 1999).
A agressividade por medo pode ser generalizada a todos os cães ou específica a
um determinado cão com um tamanho particular, cor ou raça. É mais provável ser
dirigida a estranhos do que a pessoas conhecidas, e pode ser vista numa variedade de
situações como clínicas veterinárias, exposições caninas e durante passeios (Fatjó &
Manteca, 2003). Geralmente, os cães só mordem quando alguém ou algo se dirigem
na sua direcção (Voith, 1992). Um importante diagnóstico diferencial é a
agressividade por dominância: cães medrosos não irão exibir agressão em contextos
de dominância, como recursos críticos, comida e cama (Reisner, 1995b).
22
2.9.1.1.3- Agressividade territorial
A agressividade territorial surge em cães que possuem um forte instinto de
protecção, dirigindo-se a qualquer pessoa (e.g. visitantes, carteiro) ou animal que
invada o seu território, sendo este, o carro, a casa ou jardim da família (Alvarez,
1993). Este tipo de agressividade também pode ser manifestado pelo cão na
protecção do dono, crianças e outros animais, quer estejam ou não no seu território, e
na guarda de objectos (O’Farrell, 1992).
A agressividade territorial pode ser hereditária mas aumenta através da
aprendizagem. Por esse motivo é que algumas raças de cães são melhores do que
outras para a função de guarda, apresentando vocalização excessiva e podendo,
eventualmente, morder. Pode iniciar-se a partir dos 7-8 meses, mas é mais
pronunciada na maturidade social do cão, depois da qual tende a estabilizar. Pode ter
uma componente de dominância e uma componente de medo sendo os machos mais
prováveis a exibir comportamento territorial do que as fêmeas (Reisner, 1995a).
2.9.1.1.4- Agressividade predatória
A agressividade predatória ocorre devido ao comportamento predatório que os
cães possuem, sendo mais evidente em algumas raças, como os cães de pastoreio.
Para alguns cães o movimento de um objecto ou animal, como um gato a correr,
desencadeia a perseguição da presa, e na eventualidade desta ser apanhada poderá
haver progressão para o ataque (Beaver, 1999).
Este tipo de agressividade é mais frequente contra animais, de outras espécies
(e.g. gatos, ovelhas) e pessoas (e.g. crianças e idosos) com as quais o cão não está
socializado, mas também em situações como perseguição de carros, ciclistas e
corredores (O’Farrell, 1992).
2.9.1.1.5- Agressividade intraespecífica
A agressividade entre cães pode ocorrer entre animais dentro da mesma casa ou
entre animais desconhecidos (Voith, 1992). Cães que coabitam e demonstram
agressividade será provavelmente um problema de dominância, motivados por
conflitos hierárquicos, tipicamente entre animais do mesmo género e acesso
prioritário a recursos, como: comida, lugar de descanso e dormida, atenção por parte
23
do dono, jogos e fêmeas, principalmente se estiverem em cio, sendo mais comum em
machos (Beaver, 1999).
2.9.1.2- Ansiedade por separação
Actualmente o estilo de vida das pessoas leva-as a dedicar menos tempo aos seus
animais e, por isso, muitas vezes há falhas de consistência na atenção dada, sendo
estes muitas vezes deixados sozinhos em casa por longos períodos de tempo
(Mugford, 2007). O cão, por ser um animal muito social, e por estabelecer um
vínculo muito forte com os seus donos, tende a ficar ansioso com a separação,
desenvolvendo uma síndrome patológica denominada ansiedade por separação
(Beaver, 1999; King et al., 2000). Pode ser vista em cães de qualquer género, raça ou
idade mas, em adultos coincide com a maturidade social (Reisner, 1995b), tendo sido
verificada mais em machos do que fêmeas (Bradshaw et al., 2002).
Os comportamentos exibidos têm por objectivo retomar ou manter o contacto
social, como as vocalizações, maioritariamente excessivas, e as tentativas para seguir
a figura de vinculação. Na incapacidade de o fazer desenvolvem comportamentos
relacionados com a frustração, nomeadamente, comportamentos destrutivos e
eliminação inadequada. Estes terminam com o regresso da figura de vinculação ou
quando o cão a atinge (Borchelt & Voith, 1982).
Alguns cães são mais sensíveis ao isolamento social, possivelmente, pelo
desenvolvimento de um vínculo exagerado e por não terem aprendido antes a lidar
com a separação, como é feito, naturalmente, pelas mães no período de socialização
(Alvarez, 1993; Beaver,1999). A ansiedade por separação ocorre com mais
frequência em lares com apenas um cão (Voith, 1992).
2.9.1.3- Comportamento de procura de atenção
Os cães, devido à sua natureza social, procuram interacções sociais. Alguns
animais aprendem que se demonstrarem comportamentos específicos terão uma
maior atenção por parte dos donos (Beaver, 1999). Assim, vocalizam ou exibem
comportamentos físicos para obterem a atenção das pessoas, interrompendo a sua
actividade, quando estas estão a realizar algo que não os inclui directamente. Este
comportamento é comum, podendo ser uma variante do normal, e apesar de
24
indesejável existem donos que o reforçam inconscientemente. Alguns animais
quando são proibidos de o realizar poderão exibir sinais de ansiedade (Kahn & Line,
2005).
2.9.2- Problemas comportamentais sensoriais e neurais
2.9.2.1- Medo e fobias
O medo é uma resposta adaptativa do indivíduo perante uma experiência
desagradável intensa, sendo proporcional à intensidade do estímulo (O’Farrell,
1992). A novidade e falta de controlo ou previsão de uma situação, nomeadamente,
sons intensos, pessoas estranhas e situações não familiares, são exemplos de
estímulos que abalam a confiança do animal (Braastad & Bakken, 2002).
Uma fobia é uma resposta de medo intensa que é desproporcionada - excessiva
para o grau de medo numa determinada situação. As fobias podem desenvolver-se
após uma única exposição, são normalmente dirigidas a um estímulo específico, e
frequentemente tornam-se piores com exposições repetidas. Apesar dos medos e
fobias poderem ser causados unicamente por eventos ambientais, existe evidência de
um componente genético para alguns medos (Beaver,1999). Manifestam-se em cães
de qualquer idade e desenvolvem-se, normalmente, durante a maturidade social
(Overall, 2007). A ansiedade dos donos não parece ser um factor responsável por
causar ou manter o medo nos cães (O’Farrell, 1997). A fobia a tempestades é uma
resposta de medo excessiva e desproporcionada ao perigo apresentado e, geralmente,
aumenta com o agravamento da intensidade da tempestade. É frequentemente
associada a outras desordens de ansiedade, nomeadamente, ansiedade por separação,
sendo a sintomatologia comum a esta e a outros tipos de medo (Overall et al., 2001;
Dreschel & Granger, 2005).
2.9.2.2- Condutas estereotipadas
As condutas estereotipadas são padrões de comportamento anormais, porque
acontecem fora do contexto, e exagerados, que o animal repete constantemente. São
geralmente associados a situações de conflito, frustração e stress, em que o animal
25
pretende realizar algo mas é impedido de o fazer, desenvolvendo a estereotipia como
forma de lidar com a situação (Beaver, 1999; Rooney et al., 2009).
São vários os comportamentos associados a estereotipias, podendo ser:
perseguição da cauda, de reflexos, pontos de luz e moscas; imobilidade; ladrar de
forma persistente e ritmicamente; lamber-se persistentemente ou a pessoas e
objectos; encarar coisas invisíveis; raspar no chão, entre outras. O acto de caçar
moscas, também, poderá estar associado a um comportamento aprendido ou de
procura de atenção (Beaver, 1999; Houpt, 2005).
2.9.2.3- Hiperactividade
A hiperactividade designa um excesso de actividade, uma forma incontrolável de
excitação, levando por vezes a inabilidade para aprender e difícil habituação a
ambientes novos (Heath, 2003). O desenvolvimento da hiperactividade ocorre por
dois motivos: aprendizagem ou frustração. Os cães podem aprender, por
condicionamento clássico, que um determinado estímulo está associado a algo
positivo, desejável, nomeadamente, a chegada de pessoas a casa que implica receber
atenção, ou o andar de carro estar associado a um possível passeio (O’Farrell, 1992).
A aprendizagem, também, poderá ocorrer por condicionamento operante, em que
o cão é recompensado pelo comportamento que apresenta, como por exemplo, a
atenção do dono. No entanto, as mesmas situações agradáveis para um cão poderão
não o ser para outro, e a hiperactividade estar associada a uma frustração/conflito
inerente, nomeadamente, a chegada de pessoas, vistas como estranhos e o andar de
carro estar associado a uma ida ao veterinário (O’Farrell, 1992; Voith, 1992).
2.9.3- Problemas comportamentais comunicativos
2.9.3.1- Vocalização excessiva
A vocalização excessiva é um dos problemas comportamentais mais comuns, de
que muitos donos se queixam (Yeon, 2007). No entanto, por vezes, ocorre numa
frequência normal, mas que para alguns donos é inaceitável (Overall, 2007).
O desenvolvimento desta patologia é propiciado pelo desmame precoce dos
cachorros ou criação destes de forma isolada (Heath, 2003), situações que geram
frustração ou excitação, muito ou pouco estímulo ambiental nos animais, e o reforço
26
do comportamento pelos donos, através de um aumento de atenção ou elogio
(Beaver, 1999).
Esta pode estar associada, ou na base de outros problemas comportamentais,
como a procura de atenção, hiperactividade, ansiedade (incluindo ansiedade por
separação) e condutas estereotipadas (Beaver,1999). Cães que vivem numa casa com
outros da mesma espécie podem experimentar a facilitação social, em que os
comportamentos de um indivíduo num grupo encorajam comportamentos
semelhantes nos outros (Overall, 2007).
2.9.3.2- Submissão excessiva
Cães tímidos, especialmente os mais jovens, na presença de um cão ou pessoa
que identificam como dominante, tendem a demonstrar comportamentos submissos
mais excessivos do que a situação exige, nomeadamente, micção submissa
(O’Farrell, 1992).
2.9.3.3- Marcação urinária
A marcação urinária é um comportamento comunicativo normal em cães, de
ambos os géneros, sendo uma resposta instintiva de marcação, pouco desejada entre
os donos. É utilizada na marcação de objectos no seu território e limites deste,
podendo ser despoletada por uma visita de uma pessoa a casa, a alteração de um
horário ou a introdução de um novo animal no ambiente familiar, pois são vistas pelo
animal como invasões no seu território e interferências com as interacções do seu
dono (O’Farrell, 1992). Ocorre mais frequentemente em machos dominantes, com 12 anos de idade e os animais que iniciam esta conduta anormalmente manifestam
uma aparente necessidade psicológica de a fazer. Também pode ser agrupado nos
problemas comportamentais eliminativos (Beaver, 1999).
2.9.4- Problemas comportamentais alimentares
2.9.4.1- Coprofagia
A coprofagia é um comportamento normal em algumas espécies, não o sendo
considerado em cães. No entanto, estes podem demonstrá-lo, relativamente às suas
27
próprias fezes ou de outros animais, sendo mais comuns em idades entre os 4 e 9
meses (Beaver, 1999). A ingestão de fezes é um comportamento recompensador para
os cães podendo estar associado a um desequilíbrio nutricional ou a um treino de
eliminação rigoroso pelos donos, em que os animais com medo de serem punidos
ingerem as fezes (Rooney et al., 2009).
2.9.4.2- Destruição de objectos
Este comportamento é muito comum em cachorros, como forma de gastarem
energia, se forem impedidos de o fazer de outra forma, e também ocorre em cães
adultos independentemente de o terem manifestado no estado juvenil. Está,
geralmente, associado a situações que causam frustração ao animal, nomeadamente,
barreiras físicas, pouco exercício, alteração de horários, ansiedade por separação,
introdução de um indivíduo no ambiente familiar e falta de estímulo ambiental
(Beaver, 1999; Houpt, 2005).
2.9.5- Problemas comportamentais eliminativos
2.9.5.1- Eliminação inadequada
A eliminação inadequada ocorre quando o animal urina ou defeca em locais
inapropriados, independentemente de estar ou não sozinho. Pode afectar cães de
qualquer idade e género (Overall, 2007). No entanto, há uma maior tendência em
machos inteiros do que em machos e fêmeas esterilizadas, podendo também existir
uma predisposição racial (O’Farrell, 1992). Este problema comportamental pode
dever-se a vários motivos, entre eles, o confinamento (quando os animais estão
fisicamente impossibilitados de sair de casa); a falta de treino ou treino de eliminação
inadequado e a excitação ou ansiedade, como quando o cão é deixado sozinho, sendo
por isso este um dos sintomas da ansiedade por separação (Beaver,1999).
28
2.9.6- Outros problemas comportamentais
2.9.6.1- Montar sexual inapropriado
Este comportamento consiste na monta de objectos, outros animais e pessoas de
uma forma não considerada normal pelo dono, sendo classificado como um problema
comportamental sexual (Hart, 1985). Pode estar associado a uma pobre socialização
do cão em relação à sua própria espécie, à aproximação da puberdade, a um
comportamento
social
dominante,
brincadeira,
investigação
e
curiosidade
(Beaver,1999).
2.9.6.2- Rolar sobre substâncias de odor desagradável
Este comportamento é normal em cães, desconhecendo-se os reais motivos para a
sua ocorrência, supondo-se dever-se a uma forma de marcação territorial ou
aquisição de cheiros. A acção do cão passa por retirar o cheiro de outros animais (se
for o caso) e impor o seu, rolando-se em animais mortos, lixo e fezes (Beaver, 1999).
2.9.6.3- Fugir de casa
O comportamento de fugir poderá estar associado a um comportamento normal
ainda realizado pelo ancestral do cão, o lobo. As causas mais comuns são: procura de
fêmeas em cio (em machos inteiros), alimento e socialização, sendo propiciados pelo
confinamento excessivo e a falta de exercício (Houpt, 2005).
2.9.6.4- Puxar a trela excessivamente
Este comportamento ocorre em alguns cães que passeiam de trela com os seus
donos. Poderá estar associado a um comportamento excitável que é recompensado
pela continuação do passeio e surgimento de novos sinais e odores (O’Farrell, 1992).
2.10- Linguagem corporal
Comunicação, no sentido lato, é a troca de ideias, pensamentos, sentimentos ou
intenções utilizando o discurso, sinais ou escrita. A comunicação nos cães é realizada
29
maioritariamente pela linguagem corporal, seguindo-se as vocalizações. A linguagem
corporal pode ser um reflexo do estado interno do animal, como a taquipneia e/ou
uma intenção deliberada de comunicar, como o desvio do olhar, em situações de
stress (Aloff, 2005).
Os cães utilizam uma ampla variedade de posturas corporais geneticamente
programadas (Feddersen-Petersen, 1994), em que todas as partes do corpo estão
envolvidas na comunicação, desde a posição das orelhas, olhos e cauda à exposição
dos dentes (Mugford, 2007). Eles têm capacidades observacionais extraordinárias
(Feddersen-Petersen, 1994) não acompanhadas pela capacidade dos humanos em ler
e entender a linguagem corporal canina, pois muitos gestos são susceptíveis de serem
mal compreendidos pelos donos (Mugford, 2007).
A leitura da linguagem corporal deve ter sempre em conta o contexto em que
determinados sinais ocorrem bem como a raça em questão, pois alguns cães
dependerão mais de certos sinais do que de outros (Aloff, 2005). Algumas
características anatómicas poderão dificultar a leitura, nomeadamente, os pêlos que
tapam os olhos dificultando a observação, e os variadíssimos tamanhos de cauda
(Beaver, 1999). Conhecer a linguagem corporal canina torna-se útil para determinar
o estado interno do animal e assim resolver problemas comportamentais ou modificar
o comportamento através de treino, tal como a interrupção precoce de uma sequência
predatória indesejada (Aloff, 2005).
Os sinais evidenciados na linguagem corporal canina podem ser classificados
como: sinais de apaziguamento, alerta, stress, de aumento e redução da distância e
sinais ambivalentes (Kalnajs, 2006). Geralmente começam como sinais subtis e
tornam-se progressivamente mais óbvios (Beaver,1999).
2.10.1- Sinais de apaziguamento
Os sinais de apaziguamento surgem em situações de cumprimentos, sendo
utilizados para suprimir um potencial comportamento agressivo manifestado por
outros indivíduos, evitando assim possíveis conflitos ou hostilidade. Não indicam um
desejo de diminuição da distância social, pois muitas vezes são utilizados para
facilitar a fuga (Kalnajs, 2006). A utilização destes sinais também ocorre em
situações de negociação, como o espaço onde ambos os indivíduos se encontram
(Aloff, 2005) e para acalmarem-se a si próprios (Rugaas, 2006).
30
Manifestam-se através dos seguintes comportamentos: desvio do olhar, piscar os
olhos, cheirar o espaço envolvente, espirrar, sacudir, coçar, bocejar, levantar a pata,
sentar, deitar e lamber o nariz e os lábios (Aloff, 2005; Kalnajs, 2006). Nos cães
ignorar é uma forma de demonstrar neutralidade (Figura 2), amizade e aceitação das
acções de outro animal (Aloff, 2005).
Os cães relaxados ou em estado neutro estão confortáveis e amigáveis, podendo
ser abordados. Apresentam uma expressão facial sem tensão, lábios soltos, orelhas
erectas, olhar suave e cauda suspensa em posição média, de uma forma relaxada
(Aloff, 2005; Dowling-Guyer et al., 2011).
Figura
2
–
Postura
corporal
neutra
ou
relaxada
(adaptado
de
http://www.moderndogmagazine.com/articles/how-read-your-dogs-body-language/415).
2.10.2- Sinais de alerta
O cão após explorar o ambiente envolvente e visualizar algo de interesse fica em
estado de alerta (Figura 3). Este é indicador de um estado reactivo, podendo ser
percursor de agressão. Os cães apresentam uma orientação do corpo para a frente,
orelhas e olhos direccionados para o alvo, nariz e fronte lisos, cauda horizontal com
ligeiro movimento lateral e boca fechada (Aloff, 2005).
31
Figura
3
–
Postura
corporal
do
estado
de
alerta
(adaptado
de
http://www.moderndogmagazine.com/articles/how-read-your-dogs-body-language/415).
2.10.3- Sinais de stress
O stress em cães não é igual para todos nem em todas as circunstâncias podendo,
quando em excesso, levar ao desenvolvimento de estereotipias (O’Farrel, 1992), bem
como, comportamentos de substituição, que os fazem sentir seguros (Kalnajs, 2006).
A manifestação destes ocorre através da marcação de território, desvio do olhar,
espreguiçar, cheirar o meio e abanar.
Os sinais de stress pronunciam-se através dos seguintes comportamentos e
reacções fisiológicas: lamber os lábios, bocejar (quando algo está a invadir o seu
espaço), urinar, tremer, não comer, ganir, uivar, excessiva queda de pêlo, taquipneia
e salivação excessiva (Kalnajs, 2006). Além destes, De Meester et al. (2008) referem
outros, como fugir, piscar os olhos, agachar, recuar e procurar apoio ou um
esconderijo.
Um cão em stress (Figura 4) apresenta o corpo baixo, as orelhas em tensão para
trás, as pupilas dilatadas, os cantos da boca para trás, a língua exteriorizada e
ligeiramente espatulada e uma cauda baixa, entre as pernas. Apresentam pouco
movimento ou este é lento, transpiração através das almofadas plantares e arfam
(Aloff, 2005; Kalnajs, 2006).
32
Figura
4
–
Postura
corporal
de
um
cão
em
stress
(adaptado
de
http://www.moderndogmagazine.com/articles/how-read-your-dogs-body-language/415).
2.10.4- Sinais de aumento da distância
Os sinais de aumento da distância destinam-se a transmitir uma mensagem de
afastamento, aumento da distância social (Beaver,1999), havendo sempre hostilidade
presente (Kalnajs, 2006).
Manifestam-se em comportamentos como a marcação do território, o ladrar
excessivo, o arranhar o chão e o desvio breve do olhar (Kalnajs, 2006). A postura
corporal deste tipo de sinalização parece aumentar o tamanho do cão por ilusão
óptica, uma vez que o peso é transferido para a frente para indicar uma posição forte,
a piloereção dá a sensação de mais altura e a cauda é mantida na vertical ou arqueada
sobre a parte posterior do corpo (Beaver,1999).
Os cães agressivos (Figura 5) apresentam o corpo tenso, estático, a boca aberta
em forma de C com os cantos desta para a frente, as orelhas para a frente e os dentes
arreganhados (Aloff, 2005). Em fases iniciais da comunicação de aumento da
distância, a cabeça, pescoço e orelhas estão elevadas mas poderão baixar à medida
que a ameaça se torna intensa, podendo esta desencadear um verdadeiro ataque
(Beaver,1999).
33
Figura
5
–
Postura
corporal
dominante
e
agressiva
(adaptado
de
http://www.moderndogmagazine.com/articles/how-read-your-dogs-body-language/415).
2.10.5- Sinais de redução da distância
São sinais afiliativos utilizados em situações de contacto e abordagem nos quais
não são percebidos hostilidade ou agressão, nomeadamente, comportamentos de
chamada de atenção onde é evidente um desejo de interacção com humanos ou com
os coespecíficos (Kalnajs, 2006).
Representa um esforço por parte de um animal de status social mais baixo para
atingir uma integração social harmónica, assumindo que o indivíduo de status social
mais elevado irá responder apropriadamente. São constatados nas posturas corporais
de submissão activa, passiva e convite para brincar (Beaver, 1999).
2.10.5.1- Submissão activa
Os cães utilizam a submissão activa mais frequentemente do que a passiva. A
abordagem a uma pessoa ou outro cão é acompanhada inicialmente por uma postura
corporal de submissão activa (Figura 6), seguindo-se alguns sinais de submissão
passiva. O cão agacha-se assumindo uma posição cada vez mais baixa, evita o
contacto visual e pode até levantar uma pata anterior (Beaver,1999). Evidenciam a
cabeça baixa, o corpo encurvado, orelhas e cantos da boca para trás, cauda baixa,
transpiração e lambem o focinho de cães com status social superior (Aloff, 2005).
34
Figura
6
–
Postura
corporal
de
submissão
activa
(adaptado
de
http://www.moderndogmagazine.com/articles/how-read-your-dogs-body-language/415).
2.10.5.2- Submissão passiva
Na submissão passiva, o cão deita-se e rola-se expondo o abdómen, evidenciando
fragilidade e se for tocado permanecerá completamente quieto. Apresenta uma
postura corporal (Figura 7) com a cauda enrolada entre as pernas, as orelhas
achatadas e para trás, os olhos parcialmente fechados e os cantos da boca para trás. O
animal evita o contacto visual e poderá urinar (Beaver,1999).
Figura
7
–
Postura
corporal
de
submissão
passiva
(adaptado
de
http://www.moderndogmagazine.com/articles/how-read-your-dogs-body-language/415).
35
Os cães com medo poderão evidenciar também submissão, pelo que as posturas
corporais, dependendo do grau de medo, serão iguais às referidas anteriormente.
Além disso, o medo é manifestado nos cães através das seguintes reacções
comportamentais: procurar os donos (Dreschel & Granger, 2005), fugir, evitar o
contacto visual, tremer, salivar, ganir (Svartberg, 2007), agachar-se, esconder-se e
lamber os lábios (Rooney et al., 2009).
2.10.5.3- Convite para brincar
A brincadeira é utilizada em interacções amigáveis e não confrontacionais pelos
cães. Na postura corporal de um cão que convida para brincar (Figura 8) a parte
posterior do corpo está levantada, a direcção do olhar segue a orientação do nariz,
geralmente para com quem está a comunicar, as orelhas estão erectas e para a frente,
a cauda está levantada e abana, os lábios estão relaxados e a boca está parcialmente
aberta. Um cão brincalhão apresenta ausência de contacto visual, falta de tensão e
proximidade (Aloff, 2005).
Figura
8
–
Postura
corporal
do
convite
a
brincar
(adaptado
de
http://www.moderndogmagazine.com/articles/how-read-your-dogs-body-language/415).
2.10.6- Sinais ambivalentes
Os cães podem estar em conflito e mostrar sinais ambivalentes, sendo estes o
clássico indicador de cães medrosos que mordem. Um cão com agressão por medo
(Figura 9) fixa o olhar como um sinal dominante mas o corpo está baixo, encurvado,
36
como um sinal submisso. Ocasionalmente irá desviar o contacto visual mas elevar a
cauda, e o pêlo da zona lombar irá eriçar-se (Beaver,1999).
Normalmente move-se para a frente e para trás, mostrando um estado de conflito
motivacional (Fatjó & Manteca, 2003), treme, rosna, ladra enquanto recua, agachase, poderá morder e fugir (Overall 2007).
Figura
9
–
Postura
corporal
de
agressividade
por
medo
(adaptado
de
http://www.moderndogmagazine.com/articles/how-read-your-dogs-body-language/415).
2.11- Personalidade
Actualmente é comum aceitar a existência de traços de personalidade em cães
(Svartberg & Forkman, 2002; Ley et al., 2008), bem como outros animais, devido a
vários estudos existentes na área (Gosling et al., 2003; Lloyd et al., 2008; David et
al., 2011; King et al., 2012). No entanto, esse termo é frequentemente evitado, pelos
investigadores, com receio de antropomorfismo (Jones & Gosling, 2005).
Personalidade é definida como as características de um indivíduo que descrevem
e motivam padrões consistentes de pensamentos, sentimentos e comportamentos que
persistem ao longo do tempo e situações, sendo relativamente estáveis e duradouras
(Svartberg, 2007). Estão inerentes aos indivíduos desde o início do seu
desenvolvimento, moldando a expressão de actividade, reactividade, emotividade e
sociabilidade (Goldsmith et al., 1987). Termos como carácter (Ruefenacht et al.,
2002), predisposições emocionais (Sheppard & Mills, 2002) e temperamento têm
sido utilizados no mesmo contexto (Taylor & Mills, 2006).
A personalidade é uma combinação de factores genéticos, cognitivos e
ambientais (Saetre et al., 2006) que controlam o comportamento dos indivíduos e as
37
diferenças entre eles (King et al., 2012). Foi constatado a existência de semelhanças
impressionantes entre a estrutura da personalidade de humanos e outros animais,
especialmente em traços mais abrangentes representados pela extroversão e neurose.
Por mais surpreendente que isto possa parecer devido à grande divergência ecológica
e comportamental entre espécies, a evolução é um processo histórico e seria de
esperar que mecanismos afectivos e cognitivos fundamentais subjacentes à variação
da personalidade fossem conservados durante este percurso, em parte pelas pressões
selectivas semelhantes (Budaev, 2000 citado por Gosling, 2001).
Da mesma forma, os cães dentro da mesma raça partilham, frequentemente,
traços de personalidade comuns, podendo a expressão destes variar entre indivíduos,
originando características individuais geralmente consistentes a estímulos futuros
(King et al., 2012). Esta expressão depende da intensidade (baixa ou elevada)
frequência (pouco ou muito) e forma de surgimento (fácil ou difícil). A variação da
personalidade do cão pode ser influenciada por um grande número de factores tais
como a presença de outros cães, o número de membros familiares e a sua idade, o
ambiente em que o cachorro cresce (campo ou cidade) e o seu período de
sociabilidade (Svartberg, 2007).
Pensa-se que os efeitos ambientais e a contribuição genética na personalidade
tenham maior impacto nos estádios iniciais do desenvolvimento, em particular antes
da maturidade social do indivíduo (Miklósi, 2007), sendo esperado uma estabilidade
destes posteriormente (King et al., 2012). Esta estabilidade torna a possibilidade de
seleccionar um cão mais cedo para uma determinada função, sendo esta uma ideia
atractiva para os criadores e treinadores (Diederich & Giffroy, 2006). Quando se fala
em estabilidade em personalidade refere-se as duas condições, estabilidade ao longo
do tempo e ao longo de situações, sendo esperado que o animal apresente o mesmo
comportamento de cada vez que é submetido àquela situação, independentemente do
período de vida em que ela ocorre (Svartberg, 2007).
Em estudos de personalidade em humanos foi constatado de que a estabilidade na
infância é baixa, aumenta na fase adulta e atinge um patamar entre os 50 e 70 anos de
idade. No entanto, apesar disso, a personalidade continua a mudar com o avançar da
idade (Roberts & DelVecchio, 2000). Não existem estudos semelhantes em cães que
comprovem o mesmo, tendo sido apenas verificada grande estabilidade de traços em
cães adultos durante curtos períodos de tempo (1 a 2 meses). Por isso, a estabilidade
a curto prazo é um critério básico para traços de personalidade e não nos diz
38
necessariamente algo acerca da estabilidade ao longo do tempo de vida. Também,
existem indicadores de estabilidade durante períodos mais longos de tempo para
traços de personalidade, mas desconhece-se se alteram em magnitude ao longo do
tempo de vida e de que forma (Svartberg, 2005).
Apesar da grande capacidade de os cães adaptarem-se a novos ambientes e
apresentarem diferentes reacções em certas situações, o comportamento do cão pode
ter uma plasticidade limitada. Reacções que possam ser facilmente alteradas através
de treino não deveriam ser vistas como uma expressão da personalidade geral do
animal, mas como parte dela- focalização no treino (Svartberg, 2005). Segundo
Svartberg (2007), a personalidade pode ser inferida a partir da observação do
comportamento, com base na interacção entre o cão e o ambiente e acedido no
contexto “se isto acontecer, ou neste tipo de situação, o cão geralmente comporta-se
desta forma”, pois esperar que o cão seja estável ao ponto de responder sempre da
mesma forma é enganoso.
2.11.1- Traços de personalidade
Os estudos sobre a personalidade em animais são diversos, bem como os
componentes dela que têm sido descobertos. Segundo Svartberg (2007) parecem
haver traços de personalidade mais abrangentes que englobam outros, que descrevem
o comportamento típico do cão de forma mais específica. Alguns dos componentes
da personalidade de animais identificados são: sociabilidade, agressividade (Hart &
Hart, 1985; Jones & Gosling, 2005; Svartberg, 2005, 2006), exploração, interesse na
brincadeira, curiosidade, coragem (Svartberg, 2005, 2006), motivação (Ley et al.,
2008), medo, submissão (Jones & Gosling, 2005), nível de actividade (Gosling &
John, 1999; Gosling, 2001), excitabilidade e focalização no treino (Hart & Hart,
1985).
Gosling & John (1999) identificaram três dos cinco grandes traços da
personalidade humana (extroversão, motivação, focalização no treino, cordialidade e
neurose) num grande número de espécies: neurose (medo, ansiedade); extroversão
(sociabilidade, actividade) e cordialidade (cooperação, ausência de agressividade).
No entanto, Sheppard & Mills (2002) revelam a existência de dois grandes traços da
personalidade humana em cães, a extroversão (responsável por emoções positivas,
39
tais como interesse na brincadeira, excitabilidade e exploração) e a neurose
(responsável por acções negativas, tais como medo, fobias e ansiedade).
Para Spady & Ostrander (2008) é de grande interesse determinar os traços de
personalidade que definem raças específicas com funcionalidades importantes, como
a caça e o pastoreio.
2.11.1.1- Sociabilidade
A sociabilidade é definida como a tendência de um indivíduo em ser amigável
para com outros desconhecidos, tendo sido descrita em cães. A elevada sociabilidade
relaciona-se com uma abordagem activa e amigável em relação a estranhos,
demonstrando interesse e amizade. A baixa sociabilidade, atitude de reserva ou
hostilidade a estranhos, parece correlacionar-se com medo social e agressividade
(Svartberg, 2003).
Svartberg (2007) encontrou uma correlação positiva entre a sociabilidade do cão
perante pessoas estranhas com a mesma atitude em relação a cães desconhecidos,
indicando assim um factor de sociabilidade comum.
2.11.1.2- Agressão
A agressão constitui uma dimensão geral na personalidade, englobando a
agressividade em relação a cães e pessoas (Svartberg, 2007).
Alguns estudos evidenciaram comportamentos agressivos em direcção a
membros da família, a estranhos, a cães desconhecidos (Goodloe & Borchelt, 1998) e
a cães conhecidos (Hsu & Serpell, 2003). Svartberg (2007) sugere dois tipos de
comportamento agressivo que parecem ser estáveis: a agressão relacionada com
defesa de recursos (comida, objectos e brinquedos) e com o território.
A dominância social é geralmente associada não apenas à agressividade por si só
mas a uma combinação desta com a estabilidade emocional (Archer, 1988). Se um
cão não demonstrar agressividade num teste não pode ser classificado como isento de
agressão, porque estava numa determinada situação, e num determinado momento,
pois pode comportar-se de forma diferente em outro ambiente, nomeadamente em
casa (Paroz et al., 2008).
40
2.11.1.3- Medo
O medo é provavelmente o traço de personalidade mais estudado em animais
(Svartberg, 2007) e que mostra uma maior heritabilidade (Fatjó & Manteca, 2003),
podendo, provavelmente, ser previsto numa idade precoce (Svartberg, 2007).
Goddard & Beilharz (1984) encontraram uma dimensão geral de medo para além
das mais específicas. O medo pode ser subdividido em medo social e medo não
social. O primeiro está relacionado com estímulos sociais, podendo subdividir-se em
medo de pessoas e medo de animais desconhecidos, enquanto o segundo está
relacionado com os estímulos não sociais, tais como sons fortes, objectos
desconhecidos e tempestades. Svartberg (2007) encontrou correlações positivas, no
seu estudo, entre estes dois tipos de medo, bem como entre diferentes estímulos no
medo social, tal como o medo de pessoas estranhas estar correlacionado com o medo
de cães desconhecidos. Da mesma forma King et al. (2003) evidenciaram a
existência de alguns traços de medo específicos a determinados estímulos, no medo
não social. Hsu & Serpell (2003) revelaram correlações positivas entre quatro
medidas de medo: medo direccionado a estranhos, medo não social, agressão/medo
direccionado a cães e sensibilidade à dor, concordando assim com a existência de
uma dimensão geral de medo que influencia o comportamento dos cães em diferentes
situações.
Parece haver diferentes estratégias nos animais para lidar com a situação de
medo, mais especificamente a estratégia activa (luta ou fuga) e a passiva
(imobilidade), estando estas relacionadas com a propensão que um animal tem a
reagir perante aquele determinado estímulo (Svartberg, 2007). Experiências de
selecção em canídeos demonstraram que o medo social e não social poderá ser
alterado de forma rápida em algumas gerações sob uma selecção intensa (Murphree,
1973; Trut et al., 2004), podendo este facto explicar a razão de raças seleccionadas
para caça de ratos e luta se mostrarem menos medrosas, do que raças seleccionadas
para caça de pássaros e pastoreio (Mahut, 1958).
2.11.1.4- Vinculação
Vinculação é uma relação afectiva de dependência desenvolvida entre dois
indivíduos, evidente através da preferência comportamental que estes demonstram na
41
proximidade e contacto que mantêm (Cohen, 1974). É uma relação especial e
específica que permanece ao longo do tempo (Wickler, 1976). Segundo Bowlby
(1969), a função desta relação poderá relacionar-se com a defesa contra predadores
ou a obtenção de recursos provenientes da figura de vínculo. No entanto, Gubernick
(1981) refere que poderá não existir nenhuma função subjacente, tendo apenas
evoluído como consequência de uma relação próxima entre dois indivíduos.
Um estudo realizado por Topál et al. (1998) evidenciou que os cães adultos
demonstram padrões de comportamento de vinculação em relação ao dono, sendo
esta relação variável entre indivíduos. No entanto, os resultados não evidenciaram
nenhum efeito de género, idade, condições de vida ou raça, na maioria das variáveis
comportamentais.
2.11.1.5- Coragem
Um cão pode ser considerado corajoso quando executa uma acção ou demonstra
um comportamento arriscado numa determinada situação. Por sua vez, um tímido é
aquele que evita o risco (Budaev, 2000 citado por Gosling, 2001). A coragem
implica a existência de confiança e esta geralmente está presente quando não há
medo (Goddard & Beilharz, 1985). Svartberg & Forkman (2002) detectaram num
teste comportamental padronizado uma dimensão geral que incluía a timidez e a
coragem. Esta relacionava-se com o dia-a-dia do animal relativamente à brincadeira,
exploração e destemor, em todas as situações sociais e não sociais (Figura 10).
Atitude em relação a
pessoas desconhecidas
Comportamento típico em
situações não sociais
Probabilidade de sucesso
na função de trabalho
Tímido
Corajoso
Pouco interesse ou evitação
e comportamento inibido
Interesse positivo elevado,
brincalhão e irrequieto
Ansioso e medroso,
baixa exploração
Confiante, destemido e
explorador
Baixo
Elevado
Figura 10- Consequências da personalidade do cão em diferentes situações (Adaptado de Svartberg,
2007).
42
2.11.1.6- Nível de actividade
O nível geral de actividade é, usualmente, considerado um traço de personalidade
estável em animais. Pressupõe-se que um comportamento activo numa situação está
correlacionado com actividade em várias outras situações (Svartberg, 2007), e que
esta muda drasticamente com a idade, e pode moderar a expressão de outros traços
da personalidade (Jones & Gosling, 2005).
2.11.1.7- Excitabilidade
A excitabilidade ou reactividade relaciona-se com o nível de actividade
(Svartberg, 2007) e procura de afecto (Hart & Hart,1985). Svartberg (2007) afirma
existir uma diferença entre ser activo, em situações não estimulantes, e ser reactivo
ou excitável quando estimulado.
O grau de excitabilidade varia pois existem cães que manifestam reacções
relativamente pequenas em situações repentinas ou eventos potencialmente
excitantes e mostram-se perturbados nesses ambientes, enquanto outros mostram-se
bastante excitados com a menor novidade. A excitabilidade discreta é caracterizada
pelo aumento no estado de alerta, movimentos direccionados à origem da novidade e
breves episódios de latidos. Por sua vez, a excitabilidade extrema é caracterizada
pela tendência em exagerar, pois os cães latem ou choram histericamente ao mínimo
ruído (para eventos aparentemente nada estimulantes), correm impetuosamente na
direcção ou em volta da razão da excitação e são difíceis de acalmar (Hsu & Serpell,
2003).
Foi descoberto que a excitabilidade conseguia prever o desempenho em cães de
guarda, parecendo relacionar-se com sucesso de uma forma não linear, pois os cães
com o nível mais elevado de desempenho eram aqueles com um nível intermédio de
excitabilidade, enquanto os de baixo desempenho possuíam um nível mais elevado
desta. Isto foi explicado pela possibilidade de ter havido uma taxa elevada de
habituação nos cães moderadamente excitados (Martínek et al., 1975).
Hsu & Serpell (2003) encontraram uma relação entre a excitabilidade do cão e
diversas situações, nomeadamente, quando o dono regressa a casa, quando o cão
brinca com um membro da família e quando é levado num passeio de carro.
43
2.11.1.8- Interesse na brincadeira
Uma categoria de comportamento bastante típica no cão é o interesse na
brincadeira. Há resultados que apoiam a existência de diferenças estáveis entre cães a
este respeito, sugerindo, assim, a classificação deste como um traço de personalidade
(Svartberg & Forkman, 2002). Este traço é descrito como a tendência do cão em
correr atrás de um brinquedo e a vontade em fazê-lo com pessoas conhecidas e
desconhecidas, tendo-se revelado consistente ao longo da repetição dos testes e
correlacionando-se com os testemunhos dos donos (Svartberg, 2005).
Num estudo de Paroz et al. (2008) a acção de brincar com o dono correlacionouse negativamente com os traços agressão para com estranhos, dono, medo
direccionado a estranhos e problemas de separação, indicando assim, que cães que
brincavam mais com os donos durante o teste eram menos prováveis a demonstrar
agressividade a pessoas, medo de estranhos e ter ansiedade por separação. Uma
redução no comportamento de brincadeira pode ser indicativa de um bem-estar
comprometido (Boissy & LeNeindre, 1997; Fraser & Duncan, 1998; Yeates & Main,
2008). No entanto, segundo Aloff (2005) é um erro assumir que todos os cães gostam
de brincar e que os que gostam têm o mesmo estilo de brincadeira, pois esta varia
dentro da espécie e consoante o indivíduo.
À medida que os cães passam por diferentes períodos de vida a brincadeira serve
diferentes funções. Quando são cachorros é utilizada no desenvolvimento social e
quando passam à adolescência serve como prática para o status social. No estado
adulto, uns cães brincam pela alegria da interacção social, uns agem como se
tivessem de provar que o seu status não parou e outros estão meramente a utilizar os
outros animais como uma presa ou objecto de pastoreio. Isto inclui comportamentos
predatórios típicos, como perseguição e mordida, mas também comportamentos de
condução e ajuntamento (Aloff, 2005).
2.11.1.9- Focalização no treino
O sucesso geral dos cães em situações de treino é designado de focalização no
treino, e até ao momento não tem havido êxito na sua medição. Factores como o
medo, interesse na brincadeira e excitabilidade não são provavelmente iguais a um
factor de focalização no treino geral. Poderão não ter correlação com a habilidade de
44
aprender, se esta existir, como a formação de hábito e retenção da memória, mas
poderão prever sucesso em situações de treino (Svartberg, 2007).
O medo pode inibir a capacidade de aprender e o interesse na brincadeira e,
provavelmente, define o valor do jogo como reforço, o que indica que cães
brincalhões são mais fáceis de recompensar (Svartberg, 2003).
2.11.1.10- Outros traços de personalidade
Além destes traços outros foram descritos, embora menos investigados,
nomeadamente, tendência a dominar ou agir submissamente, comportamento
predatório, tendência a ladrar e sensibilidade ao toque (Svartberg, 2007).
2.12- Estudo da personalidade
O estudo da personalidade é estritamente relacionado com o acesso a
sentimentos, pensamentos e crenças, assuntos que por tradição têm sido dirigidos a
humanos exclusivamente (Matthews & Deary, 1998). Além dos sentimentos e
pensamentos, a personalidade, também, inclui um assunto possível de ser estudado
em animais, o comportamento. Medidas repetidas do comportamento ao longo do
tempo ou em diferentes situações podem fornecer introspecção da construção da
personalidade subjacente, e aí determinar as possíveis reacções a outras situações a
que o animal é sujeito (King et al., 2012).
Os investigadores tentaram explicar o comportamento animal de forma simples
evitando a utilização de emoções e intenções humanas como explicações
comportamentais (Martin & Bateson, 2007). Dentro do estudo do comportamento
animal, os processos internos, como sentimentos e pensamentos, foram considerados
inobserváveis (Dawkins, 1986; Jensen, 2007), ou mesmo cientificamente irrelevantes
(Skinner, 1938). No entanto, durante as últimas décadas tem havido um interesse
aumentado na cognição animal e o estudo de processos internos em animais tem-se
tornado cientificamente respeitável (Griffin, 1992; Shettleworth, 1998). O estudo da
personalidade em cães domésticos, uma área nova de pesquisa, está a tornar-se muito
popular (Jones & Gosling, 2005).
45
2.12.1- Aplicações
Os estudos da personalidade em cães têm vindo a ser desenvolvidos tendo em
conta vários objectivos e possíveis aplicações, nomeadamente, previsão do
comportamento futuro do animal ainda durante o desenvolvimento do mesmo (na
fase de cachorros) e descrição de traços de personalidade em animais adultos, com
base no comportamento apresentado (Jensen, 2007). A determinação do futuro
comportamento do animal, com base em sinais que os cachorros evidenciem, é
importante essencialmente para os criadores poderem correspondê-los com os donos
adequados, evitando assim possíveis problemas futuros de incompatibilidades (King
et al., 2012).
Da mesma forma esta informação torna-se útil na selecção de raças, pois
conhecendo os traços de personalidade desde cedo, o criador poderá fornecer a
estimulação ambiental apropriada na fase de desenvolvimento que lhe permita obter
um exemplar que se adeque à realização das funções para o qual foi seleccionado,
trabalho ou companhia, podendo, também servir como ferramenta de marketing
(King et al., 2012). Sem conhecimento científico, objectividade e ferramentas
apropriadas a selecção correcta torna-se difícil. O conhecimento do comportamento
do cão e dos seus traços de personalidade em diferentes situações, é importante na
selecção de potenciais cães de trabalho, como cães-guia, cães de guarda, cães de caça
e cães de pastoreio (Miklósi, 2007), permitindo às organizações investir recursos em
animais que têm o potencial de se tornarem excelentes (Jensen, 2007; King et al.,
2012). Da mesma forma, é importante na previsão do sucesso de um cão antes de ser
treinado, ou nas fases iniciais do período de treino, poupando-se tempo e dinheiro
(Svartberg, 2007).
O acesso ao comportamento típico do cão em determinadas situações, como por
exemplo, cães em canis de Associações ou Câmaras Municipais, podem aumentar a
probabilidade de uma boa correspondência entre o cão e a nova casa (Svartberg,
2007). Torna-se, também, útil na prevenção e no tratamento de vários problemas
comportamentais que podem pôr em causa o bem-estar animal e humano, podendo
ser evitada a eutanásia e o abandono (Jensen, 2007; Paroz et al., 2008).
46
2.12.2- Abordagens ao estudo do comportamento canino/personalidade
Ao longo do tempo, têm sido utilizadas várias abordagens no estudo do
comportamento canino, sendo estas: avaliações de protótipos de raças por peritos,
estudos
observacionais,
inquéritos
e
testes
padronizados
de
comportamento/personalidade (Jones & Gosling, 2005; Spady & Ostrander, 2008). A
abordagem mais comum tem sido a realização de testes padronizados que,
teoricamente fornecem mais dados objectivos do que a informação proveniente do
dono, em questionários (Svartberg, 2006).
Alguns autores não atribuem especial importância à raça a ser testada, porque
estão a tentar obter reacções gerais na espécie canina, e os cães testados destinam-se
a ser representativos dos cães domésticos. Por outro lado, outros dão especial
relevância à escolha da raça, porque querem descrever ou explorar as características
específicas do seu comportamento, personalidade ou tentar seleccionar indivíduos
com capacidades comportamentais particulares (Diederich & Giffroy, 2006).
2.12.2.1- Avaliação de protótipos de raças por especialistas
Outro método utilizado nos estudos do comportamento característico de uma raça
é a avaliação por técnicos habilitados (juízes de obediência), de acordo com traços
pré-determinados. Este demonstrou ser útil no estudo de diferenças entre raças (Hart
& Miller, 1985; Draper, 1995; Bradshaw & Goodwin, 1998). No entanto, o
conhecimento dos especialistas em como as raças são commumente categorizadas,
pode levar a uma subjectividade deste método (Svartberg, 2006).
2.12.2.2- Estudos observacionais
Os estudos observacionais são baseados em técnicas etológicas através da
observação do cão no seu ambiente natural (Dowling-Guyer et al., 2011). É
vantajoso porque o comportamento é autêntico. No entanto, demora muito tempo e é
difícil de uniformizar (Svartberg, 2007).
47
2.12.2.3-Inquéritos
Durante os últimos anos têm sido utilizados questionários para avaliar a
personalidade do cão (Goodloe & Borchelt, 1998; Serpell & Hsu, 2001), descrever a
relação entre este e o humano (Topal et al., 1997; Rooney et al., 2000), avaliar
métodos de treino (Hiby et al., 2004) e investigar problemas comportamentais
(Overall et al., 2001; Kobelt et al., 2003). Na identificação da personalidade em cães
são entregues inquéritos a pessoas que estejam bem familiarizadas com eles, sendo
geralmente os donos (Martin & Bateson, 2007). Muitos estudos demonstraram que os
donos têm prazer em preencher questionários acerca do comportamento dos seus
cães, o que torna mais fácil a obtenção de dados (O’Farrell, 1997; Topal et al., 1997;
Sallander et al., 2001; Fuchs et al., 2005). O pressuposto é de que ao conviverem
com eles conhecem bem o seu comportamento, podendo obter-se dados confiáveis e
válidos do comportamento típico do cão no seu ambiente familiar (Hsu & Serpell,
2003; Diederich & Giffroy, 2006; Svartberg, 2007). No entanto, George et al. (2003)
e Vas et al. (2007) contradizem a teoria acima descrita.
Apesar de haver algumas dúvidas sobre os donos serem imparciais em responder
a esses inquéritos (Sheppard & Mills 2002), a boa construção dos mesmos e uma
grande amostragem podem, parcialmente, corrigir essa tendência (Svartberg, 2007).
Os dados resultantes dos questionários podem ser cruzados com dados de testes
comportamentais e atingir conclusões confiáveis, tal como Svartberg (2005)
evidenciou entre os dados do Canine Behavioral Assessment and Research
Questionnaire (C-BARQ) e o comportamento observado no teste Dog Mentality
Assessment (DMA) realizado 1 a 2 anos antes. O C-BARQ é um questionário
desenvolvido por Hsu & Serpell (2003), designado para medir o comportamento e
personalidade em cães domésticos. Hsu & Serpell (2003) obtiveram resultados
indicativos deste ser um método válido no acesso aos traços de personalidade,
podendo, também, ser útil em identificar cães com problemas comportamentais e os
vários efeitos de tratamento nestes.
Na avaliação de problemas comportamentais há a preocupação de os donos
poderem não reportar bem por não estarem a par do comportamento, ou não o
reconhecerem como um problema. As avaliações com base em inquéritos podem ser
realizadas através de relatos comportamentais, descrevendo o comportamento actual,
frequência e intensidade (Hsu & Serpell, 2003) ou descrição por adjectivos do
48
comportamento apresentado pelo animal, permitindo a identificação de possíveis
diferenças comportamentais dependentes da idade e género (Gosling et al., 2003;
Ley et al., 2008).
2.12.2.4- Testes padronizados de comportamento/personalidade
Na tentativa de identificar a personalidade do cão e obter uma boa previsão sobre
a capacidade deste em realizar as suas funções, como cão de trabalho ou companhia
(Mornement
et
al.,
2009),
vários
investigadores
desenvolveram
testes
comportamentais, com diversos objectivos: aceder a traços comportamentais
específicos, como medo (King et al., 2003), ou agressão (Netto & Planta, 1997;
Bräm et al., 2008; De Meester et al., 2011), medição do grau de vinculação às
pessoas (Topal et al., 1998), acesso a traços comportamentais em cães de trabalho
(Wilsson & Sundgren, 1998) e avaliação comportamental anteriormente ao
realojamento dos animais, aplicados em muitos abrigos de cães de Associações
(Netto & Planta, 1997; Mornement et al., 2010). No entanto, dentro destes, os mais
utilizados actualmente são os que verificam a adequabilidade dos cães nas várias
funções de trabalho, tais como: cães polícia (Slabbert & Odendaal, 1999), cães-guia
(Goddard & Beilharz, 1986; Serpell & Hsu, 2001; Tomkins et al., 2011) e cães de
detecção de drogas (Rooney et al., 2007). Cada um destes testes comportamentais
possui componentes que determinaram com sucesso a adequabilidade de alguns cães
de trabalho (Miklósi, 2007; King et al., 2012). Por isso, alguns clubes de raças
exigem um teste comportamental bem-sucedido como pré-requisito para o registo do
animal como pertencente à raça (Ruefenacht et al., 2002; Fuchs et al., 2005). O
“Schweizerische Hovawartclub” (SHC) é exemplo disso, sendo, provavelmente, o
único clube de raça na Suíça em que cada cão é avaliado por seis juízes,
simultaneamente, que decidem quais os cães que são autorizados a procriar,
influenciando, assim, o futuro da raça (Paroz et al., 2008). Em Portugal são
realizadas provas para cães de pastoreio pelo Clube Português de Canicultura (CPC),
cujo objectivo é "o de preservar e desenvolver as aptidões naturais de pastoreio das
raças de cães pastores, e para demonstrar que estes conseguem realizar as funções
para as quais originalmente foram criadas. Embora as provas sejam simulações
artificiais de situações de pastorícia, são testes padronizados para avaliar e
49
desenvolver as características das raças de cães pastores” (Regulamento Nacional de
provas para cães pastores, 2009).
São exemplos de testes comportamentais: o DMA, o Socially Acceptable
Behavior (SAB), o Ethotest, o Sue Sternberg’s Assess-a-pet e o teste da Royal
Society for the Protection of Cruelty to Animals (RSPCA).
O teste DMA pode ser uma ferramenta útil para criadores de cães e clubes de
raça, permitindo ser utilizado na criação e selecção de cães de trabalho e previsão de
problemas comportamentais (relacionados com medo social e não social). É um teste
padronizado, possui elevada confiabilidade teste-repetição, inter-observador e podem
ser comparadas as reacções comportamentais dos cães, e mais tarde, da sua
descendência (Svartberg, 2003). É utilizado na Suécia por vários clubes de raças e
organizações de cães de trabalho (Svartberg & Forkman, 2002; Svartberg, 2003).
O teste SAB foi inicialmente desenvolvido para determinar a tendência
individual para a agressão numa grande população de cães. No entanto, actualmente
fornece informação interessante do comportamento destes quer a nível individual ou
geral. Para determinar a validade e confiabilidade deste teste devem ser realizadas
pesquisas adicionais (De Meester et al., 2008)
O Ethotest (Lucidi et al., 2005), Sue Sternberg’s Assess-a-pet (Sternberg, 2004) e
o teste da RSPCA (Poulsen et al., 2010) são alguns exemplos de avaliações
comportamentais realizadas por alguns abrigos de cães.
Actualmente existem muitas limitações nos testes comportamentais. Estes não
podem ser prorrogados por tempo indeterminado, porque não se pode esperar que os
cães reajam da mesma forma durante um período de tempo alargado. Assim, ficam
circunscritas o número de situações (subtestes) que podem ser incluídas no teste
comportamental, limitando o número de comportamentos exibidos. Além disso, não
se pode excluir a possibilidade de o estado interno do indivíduo se alterar ao longo
do teste comportamental, o que poderia influenciar o comportamento (King et al.,
2012). A maioria dos testes comportamentais existentes falha na evidência de
confiabilidade e validade, porque poucos utilizam uma abordagem científica e
sistemática (Taylor & Mills, 2006) devendo haver um bom design e preparação do
teste comportamental para que se torne uma ferramenta de medição adequada
(Diederich & Giffroy, 2006).
Apesar das constantes críticas aos testes comportamentais, estes foram
introduzidos no século passado e são muito aceites na pesquisa da personalidade
50
animal (Slabbert & Odendaal, 1999; Taylor & Mills, 2006) sendo vantajosos no
estudo de respostas dos animais perante desafios ambientais, de forma controlada
(Manteca & Deag, 1993).
Os testes comportamentais, também, podem ser uma experiência positiva para o
cão, particularmente se contiverem elementos de brincadeira e contacto social,
podendo assim contribuir para a socialização ou treino do animal (Taylor & Mills,
2006).
2.12.3- Medidas de testes
Martin & Bateson (2007) identificaram três medidas específicas (confiabilidade,
validade e viabilidade) que determinam a qualidade do teste comportamental, se é
uma medida boa, certa e útil (Taylor & Mills, 2006). Além disso, os testes
comportamentais deverão ser uniformizados, fáceis de executar e quando publicados
estarem acompanhados de evidência estatística apropriada que suporte as suas
afirmações específicas (Diederich & Giffroy, 2006).
2.12.3.1- Confiabilidade
A confiabilidade é o parâmetro que permite determinar que uma medida que é
repetida é consistente, ou seja, livre de erros aleatórios. É extremamente importante
para a determinação da validade de um teste, pois sem confiabilidade não há
validade. Divide-se em três parâmetros: confiabilidade intra-observador, interobservador e teste-repetição (Martin & Bateson, 2007). Os observadores podem ser
considerados como instrumentos para medição do comportamento e tal como eles
podem ser parciais ou imprecisos, bem como as avaliações que fazem (Martin &
Bateson, 2007).
A confiabilidade intra-observador (ou consistência do observador) descreve a
probabilidade de um único observador obter resultados consistentes quando mede o
mesmo parâmetro em diferentes ocasiões. Para aceder à confiabilidade intraobservador o observador mede exactamente a mesma amostra de comportamento em
duas ou mais ocasiões separadas, geralmente através da gravação por vídeo e
posterior análise (Martin & Bateson, 2007).
51
A confiabilidade inter-observador permite descrever se dois ou mais
observadores obtém resultados semelhantes quando medem o mesmo parâmetro
simultaneamente. Existem diversos factores que podem afectar a confiabilidade,
nomeadamente, a prática e experiência do observador, a frequência de ocorrência do
comportamento (se for rápido será mais difícil registar) a fadiga do observador e a
adequação da definição dos parâmetros a medir (Martin & Bateson, 2007).
A confiabilidade teste-repetição avalia a probabilidade de o cão se comportar da
mesma forma quando o mesmo teste é conduzido em outra ocasião, para identificar
comportamentos estáveis ao longo do tempo (Martin & Bateson, 2007). Isto deve ser
feito através da repetição dos ensaios, mesmo sendo logisticamente mais complexo,
em cães dentro de curtos períodos de tempo, durante o qual as mudanças na
personalidade não são esperadas. Tem de se ter em conta os possíveis efeitos de
habituação ou sensibilização no animal que podem afectar o comportamento (King et
al., 2012)
2.12.3.2.- Validade
A validade indica a probabilidade de uma medida realmente medir o que o
investigador deseja medir e fornece informação que é relevante para as questões
colocadas (Martin & Bateson, 2007). As avaliações de validade para testes de
temperamento são carregadas de dificuldade porque é improvável que qualquer teste
seja totalmente preditivo da reacção comportamental do cão em qualquer
circunstância (Mornement et al., 2009).
2.12.3.3- Viabilidade
A viabilidade determina se o procedimento de medição proposto é possível,
praticável e se vale a pena (Martin & Bateson, 2007).
2.12.3.4- Uniformização
A uniformização da metodologia é vantajosa no estudo do comportamento do
cão, pois facilita a realização dos testes, a pontuação dos comportamentos, a
interpretação e discussão dos resultados, a oportunidade de enfatizar os efeitos de
52
parâmetros, tal como o género, idade e raça no comportamento e poupa tempo
(Diederich & Giffroy, 2006).
Para uma melhor uniformização dos testes comportamentais, estes devem incluir
de acordo com Taylor & Mills (2006):
 Objectivo da experiência;
 Identificação das variáveis em estudo;
 Condições da amostra (espécie, raça, género, idade);
 Escolha dos colaboradores;
 Identificação dos estímulos (tamanho e tipo de objectos, estímulos
vivos);
 Escolha do local de teste (exterior, interior, local familiar ou não);
 Tempo de teste (período do dia, tempo entre testes);
 Tipos de medidas e
 Recolha e análise de dados.
2.12.3.4.1- Objectivo da experiência
Aquando o desenvolvimento de um teste comportamental deve estabelecer-se
qual o objectivo da experiência, qual a variável independente e medir o efeito em
uma ou mais variáveis dependentes, enquanto se mantém todas as outras condições
constantes. Deve ser estabelecido quais os comportamentos de interesse a medir e
qual a função do teste para posteriormente através da literatura seleccionar quais os
testes úteis para a determinação desses objectivos (Taylor & Mills, 2006).
2.12.3.4.2- Identificação das variáveis em estudo
É recomendável incluir uma classificação descritiva, em cada protocolo de
avaliação, das categorias comportamentais a serem medidas, de forma a permitir uma
avaliação imparcial do comportamento e um nível constante de objectividade (Jacobs
et al., 2003). Estas categorias devem ser claras, compreensíveis e não ambíguas
(Martin & Bateson, 2007).
53
2.12.3.4.3-Condições da amostra
Os animais a participar no teste deverão ser escolhidos ao acaso mas tendo em
conta o género e idade, pois animais da mesma espécie podem comportar-se de
formas diferentes (Martin & Bateson, 2007). Na literatura a maioria dos autores
concorda em testar animais a partir de um ano de idade, uma vez que a maturidade
social do animal é necessária para melhorar a viabilidade e confiabilidade do
comportamento demonstrado no teste (Goddard & Beilharz, 1986; Wilsson &
Sundgren, 1998; Love & Overall, 2001), porque animais muito jovens, que ainda não
atingiram a maturidade sexual, são muito flexíveis no seu temperamento (Paroz et
al., 2008), podendo corresponder pouco a reacções observadas numa situação
semelhante, mais tarde (De Meester et al., 2008).
A escolha da amostra pode passar pela preferência ou não de animais da mesma
ninhada, dependendo do objectivo do estudo. Deverá haver conhecimento de que
animais da mesma ninhada ou grupo podem ser mais (ou menos) semelhantes uns
aos outros do que são a indivíduos em outras ninhadas ou grupos. Em estudos de
comportamento social, interacções entre membros do mesmo grupo podem levar a
problemas de independência, através de efeitos a curto prazo no seu comportamento
(Martin & Bateson, 2007). O estado fisiológico do animal é outro factor a ter em
conta, nomeadamente no que se refere ao cio e gestação em cadelas (Taylor & Mills,
2006).
2.12.3.4.4-Escolha dos colaboradores
Alguns estudos indicaram que os animais reagem de forma diferente com base no
género da pessoa que lida com eles (Wickens et al., 1995; McPherson & Bradshaw,
1998), pelo que esta deverá ser a mesma ao longo de todo o teste (Taylor & Mills,
2006). Esta situação poderá dever-se ao facto de os animais serem muito sensíveis a
pistas subtis, inconscientemente dadas pelos humanos, influenciadas pelo
comportamento ou linguagem corporal (Hennessy et al., 1998).
2.12.3.4.5- Identificação dos estímulos
Num teste comportamental, tendo em conta os objectivos, devem ser definidos os
estímulos necessários, podendo estes ser de vários tipos. Os estímulos sociais são
54
utilizados para medir a capacidade dos cães em aceitar a proximidade e
relacionarem-se com conspecíficos-socialização intra-específica ou com outras
espécies vivas- socialização interespecífica (Beaver, 1994).
A utilização de gravações vídeo, ou animais artificializados, têm muitas das
vantagens da utilização de um animal vivo, não sendo influenciados pelo animal
testado. No entanto, podem reduzir as respostas deste. Animais vivos são o estímulo
mais rico e natural, mas têm alguns potenciais inconvenientes. Primeiro, os animais
estimuladores são susceptíveis de interagir com o indivíduo do teste, tornando-se
difícil saber, precisamente quais as características do estímulo que influenciaram a
escolha do indivíduo (Martin & Bateson, 2007). Esses animais deverão permanecer
afastados do local da realização do teste, de forma a evitar perturbar o animal a ser
testado, por este se aperceber da sua presença. Em casos particulares são utilizados
animais de outras espécies como estímulo social para despoletar o comportamento
predatório (Diederich & Giffroy, 2006). Algumas críticas são feitas à utilização de
alguns objectos nos testes como não pertencentes à vida normal dos cães (Taylor &
Mills, 2006). Contudo, alguns já foram testados e considerados ferramentas válidas,
há que ter em conta também que todos os dias os cães são confrontados com
estímulos estranhos de todos os tipos (De Meester, et al., 2008).
2.12.3.4.6- Escolha do local de teste
O problema de estudar o comportamento num ambiente natural significa que o
trabalhador de campo tem de se focar especialmente nos compromissos que são
inevitáveis em toda a pesquisa entre o que é ideal e o que é praticável. Transferir um
animal do seu ambiente doméstico para um ambiente estranho de forma a observá-lo
poderá romper o seu comportamento consideravelmente, devendo estes estarem
habituados à situação do teste antes de os dados serem recolhidos (Martin & Bateson,
2007).
O estudo do comportamento animal em ambientes exteriores pode ser
influenciado por diversos factores, nomeadamente as condições meteorológicas
(temperatura, vento, chuva) e barulhos altos, que podem influenciar o
comportamento individual do teste, podendo estes ser dificilmente evitados (Martin
& Bateson, 2007).
55
O estudo num espaço fechado, num interior de um edifício, ajuda a minimizar a
variação dos estímulos ambientais, embora induza outras condições como as
variações da temperatura do ar ou sons provenientes do exterior, podendo, também,
influenciar o comportamento (van den Berg et al., 2003; De Meester et al., 2008). No
Regulamento Nacional de Provas para Cães Pastores (2009), as provas poderão
efectuar-se em quaisquer condições climatéricas, desde que haja o consentimento dos
Juízes, podendo pressupor-se que partem do princípio que estes animais não serão
afectados pelas condições atmosféricas para o bom desempenho das suas funções.
2.12.3.4.7-Tempo de teste
Os animais não são igualmente activos durante o período de 24 horas, por isso a
quantidade de actividade vista irá depender do período do dia no qual os
comportamentos são observados. Se houver necessidade em testar animais em
diferentes alturas do dia e pretender-se eliminar a possibilidade de o tempo de
testagem causar, o que pode ser revelado como diferenças entre grupos
experimentais e de controlo, deverá ser assegurado que iguais números de indivíduos
de ambos os grupos são testados de manhã e à tarde (Martin & Bateson, 2007). É
difícil fazer recomendações acerca do período de tempo que deverá decorrer entre
testes, devido à falta de literatura enunciando esta medida. Claramente que o
primeiro teste não deverá decorrer logo a seguir ao outro de forma a aumentar a
possibilidade de algum sentido de novidade referente ao segundo teste (De Palma et
al., 2005). Deverá haver cuidado na observação das reacções aos estímulos para que
o tempo durante o qual o animal é sujeito ao estímulo seja igual ao início da
observação, senão poderão afectar os resultados (Diederich & Giffroy, 2006).
2.12.3.4.8- Tipos de medidas
A avaliação nos testes comportamentais da reacção do cão é registada de uma
forma uniforme, através de dois métodos: codificação do comportamento ou escalas
de avaliação comportamental (Miklósi, 2007; Svartberg, 2007). A codificação do
comportamento foca-se em factores como a presença, frequência, duração ou latência
nos comportamentos individuais (Hennessy et al., 2001; Christensen et al., 2007). As
escalas de avaliação comportamental agrupam os comportamentos numa dimensão
56
pré-definida, como a agressão, e depois definem cada nível dentro desta (Netto &
Planta, 1997; Svartberg & Forkman, 2002).
A escolha das medidas é algo a ter em consideração para descrever o
comportamento do cão. São vários os métodos de medição, desde a tentativa de
contar todas as respostas comportamentais, colocar a reacção do cão numa escala
qualitativa ou ordinal, ou avaliar subjectivamente o cão numa série de características.
As escalas qualitativas ou ordinais necessitam de avaliar de forma precisa as
reacções demonstradas, pelo que um pequeno número de categorias, como por
exemplo duas, poderá não representar toda a variabilidade do comportamento do cão
(Martin & Bateson, 2007). Assim, a utilização de uma escala de cinco categorias,
com uma ordem crescente de intensidade de reacção parece adequado para cobrir
uma série de reacções comportamentais (Taylor & Mills, 2006)
2.12.3.4.9- Recolha e análise de dados
A complexidade do comportamento canino significa que o desenvolvimento de
dispositivos precisos de medição é desafiador. O comportamento pode ser registado
utilizando uma câmara vídeo, descrições escritas, ditadas ou verbais, dispositivos de
gravação automáticos, folhas de registo e gravadores de eventos do computador. A
preparação dos dados em folhas de registo torna mais fácil a observação e posterior
análise de dados, que deverá utilizar ferramentas apropriadas para análise das
mesmas (Martin & Bateson, 2007).
2.13- O cão Barbado da Terceira
O cão Barbado da Terceira constitui uma população canina autóctone dos
Açores, mais particularmente, da ilha Terceira. Foi utilizado desde sempre na
condução de gado bovino existente na ilha, com especial destaque para o gado bravo,
guarda de bens e propriedades e mais recentemente como cão de companhia
(AACCBIT, 2007). Assim sendo, poderão destacar-se três aptidões no Barbado: cão
de pastoreio, nomeadamente um heeler, cão de guarda e cão de companhia.
O nome Barbado provém do tipo de pelagem que apresenta, com especial
saliência nos pêlos na mandíbula e queixo, que se assemelham a “barbas”. É
57
caracterizado por ser um cão rústico, capaz de viver ao ar livre, em climas de chuvas
frequentes e muita humidade (AACCBIT, 2007).
Pertence ao grupo 1, cães boieiros, sendo a 10ª raça nacional, com estalão
provisório reconhecido a 13 de Novembro de 2004 (AACCBIT, 2007). Este
reconhecimento só foi possível, porque desde a década de 1990, foi dado início ao
levantamento da população de cães Barbados, por alguns criadores e entusiastas, e
foram realizados alguns trabalhos científicos com a finalidade de comprovar a
existência de um núcleo populacional com uma homogeneidade satisfatória
(Oliveira, 1998; Rocha, 2002).
A criação da Associação Açoriana dos Criadores dos cães Barbados da Ilha
Terceira (AACCBIT), a 29 de Maio de 2001, foi um passo importante para a luta
pela criação desta raça (AACCBIT, 2007).
2.13.1- Origem do Barbado da Terceira
A origem dos primeiros animais que vieram para os Açores é disputada por
historiadores e técnicos (Bettencourt, 1923). No entanto, sabe-se que aquando a
descoberta dos Açores, por volta de 1427, estes possuíam uma vegetação densa, de
difícil penetração, sem a existência de mamíferos. Assim, para a desbravar lançaram
gado na orla marítima das ilhas que se tornara bravio, aquando o início do
povoamento, em 1439. Nesta altura já abundavam manadas de gado doméstico em
liberdade e, por isso, houve a necessidade de as recolher e conduzir, tendo sido
utilizados cães de pastoreio (Teves, 1995).
Oliveira (1998) propõe duas hipóteses para a origem do Barbado da Terceira.
Numa primeira hipótese refere que poderá ser descendente de cães de caça trazidos
pelos colonizadores de toda a Europa, em virtude da abundância de gado bravo nos
Açores, referindo o Barbet e diversas raças Griffon como possuidoras de
características morfológicas semelhantes ao animal em questão. A necessidade de
cães de pastoreio, adaptados à região, teria levado os colonos a efectuarem
cruzamentos sucessivos dessas raças, tendo por fim originado o actual cão boieiro.
Esta teoria é corroborada por um estudo de van Asch et al. (2005) que evidenciou
que o cão de gado açoriano não partilhou quaisquer haplótipos com os cães de
Portugal Continental estudados, mas principalmente, com cães do Norte da Europa,
sugerindo assim uma possível descendência maternal de lá. A segunda hipótese,
58
referida por Oliveira (1998), propõe que o Barbado poderá ser descendente de cães
pastores, de média estatura, existentes por toda a Europa, em zonas de altitude, como
o Pastor dos Pirinéus, o Pastor Catalão, o Pastor de Brie, o Pastor Bergamasco, o
Collie Barbudo, o Bobtail, o Boieiro das Ardenas, o Boieiro de Flandres e o Cão da
Serra de Aires. Cruz (2007) considera esta a hipótese mais realista devido à
proximidade da morfologia e funcionalidade dessas raças com a do Barbado da
Terceira. Rocha (2002) evidenciou no seu estudo uma base genética muito próxima
entre o Barbado da Terceira e o Cão de Fila de S. Miguel o que, segundo Cruz
(2007), poderá indicar uma possível origem comum destas duas raças, dada a história
semelhante da colonização das ilhas açorianas.
2.13.2- Selecção do Barbado da Terceira
O interesse pela selecção do cão Barbado da Terceira começou na década de 70,
quando algumas pessoas começaram a criar estes cães, para familiares e amigos, e no
final da década de 80 já havia criadores a vender, verificando-se um aumento da
procura (AACCBIT, 2007).
A divulgação e o crescente interesse que o Barbado da Terceira tem despertado
levou à sua expansão e procura, na região e em todo o território nacional e
estrangeiro. Isto torna-se um desafio aos criadores, exigindo que as qualidades
inerentes à raça sejam mantidas, sem que haja degeneração e empobrecimento
genético, devendo existir um programa de melhoramento cuidado (Monteiro, 2010).
Segundo este mesmo autor, a população de cães Barbados da ilha Terceira
continua a manter variabilidade genética suficiente, de forma a evitar a
consanguinidade na raça. Contudo, deverá escolher-se cuidadosamente os
reprodutores de forma a se conseguir uma maior heterozigocidade na raça, bem como
equilibrar a quantidade de filhos por reprodutor.
2.13.3- Morfologia do Barbado da Terceira
O cão Barbado da Terceira é um cão de médio a grande porte, com um corpo
forte e bem musculado, coberto de pêlo comprido, abundante e ondulado. O
comprimento do corpo é ligeiramente superior à altura ao garrote, o que o torna um
59
cão sub-longilíneo e o comprimento do crânio é ligeiramente superior ao
comprimento do chanfro (AACCBIT, 2007)
A morfologia do Barbado da Terceira, presente no estalão da raça, é apresentada
abaixo, bem como os defeitos (Quadro 1) -qualquer desvio em relação ao estalão,
que põem em causa (defeitos graves) ou excluem o animal da raça (defeitos
eliminatórios).
Quadro 1- Defeitos graves e eliminatórios (desqualificações) presentes no Estalão provisório do cão
Barbado da Terceira.
Defeitos graves
Trufa
Almarada
Chanfro
Pontiagudo e estreito
Pelagem
Pêlo mole e sem subpêlo. Com malhas para além das áreas definidas
Altura
Excessiva (acima de 60 cm) ou diminuta (abaixo dos 48 cm)
Andamentos Movimentos sem alcance e propulsão
Defeitos eliminatórios (Desqualificações)
Maxilas
Prognatismo. Endognatismo
Olhos
Total ou parcialmente azuis
Pelagem
De cor castanha ou mosqueada
Cabeça: Forte, sólida e proporcional ao corpo. As linhas craniofaciais superiores
são paralelas. O comprimento do crânio é ligeiramente superior ao comprimento do
chanfro.
Região craniana
Crânio: Tamanho médio, ligeiramente abaulado. A depressão longitudinal
mediana começa aproximadamente no terço posterior do chanfro, prolongando-se até
metade do crânio. Arcadas supraciliares não salientes. A crista occipital é marcada.
Chanfradura Nasal (Stop): Pouco pronunciada.
60
Região Facial
Trufa: Grande, cúbica e recta. Bem pigmentada de cor negra admitindo-se o
castanho nas pelagens amarelas e branco sujo.
Chanfro: Forte, cilíndrico e recto na sua linha superior. É largo com faces laterais
paralelas. Maxilares bem desenvolvidos.
Lábios: Firmes, grossos e bem pigmentados. Comissura labial pouco evidente.
Dentes: Fortes, sólidos, com caninos bem desenvolvidos. A dentição articula em
tesoura ou em pinça.
Faces: Secas de pele aderente
Olhos: Tamanho médio, com posicionamento semi-frontal, horizontal, de
formato oval, expressivo e inteligentes. Cor de mel a castanho-escuro. Pálpebras bem
pigmentadas.
Orelhas: Inserção média a alta, triangulares, de tamanho médio. Pendentes,
quebradas e bem revestidas de pêlo. Têm mobilidade de porte e em atenção levantam
na base e dobram para a frente.
Pescoço: Médio, sólido e bem musculado. Bem implantado nos ombros,
suportando a cabeça com dignidade.
Tronco
Linha superior: Recta e horizontal.
Dorso: Largo, flexível e bem musculado.
Lombo: Curto e bem unido à garupa.
Garupa: Robusta e ligeiramente descaída.
Peito: Largo e profundo, chegando aos codilhos. Costelas bem arqueadas, com
boa capacidade torácica.
Linha inferior e ventre: Ascendente com ventre ligeiramente recolhido.
Garrote: Largo, proporcionando uma boa ligação da linha do pescoço com a linha
do dorso.
Altura ao garrote
Machos- 52 a 58 cm
Fêmeas- 48 a 54 cm
61
Membros
Membros anteriores: Verticais de ossatura larga, bem musculados e bem
aprumados.
Espáduas: Bem desenvolvidas e oblíquas.
Angulação escapulo- umeral: Aberta.
Braços: Forte, com os codilhos aderentes ao corpo.
Antebraços: Verticais.
Carpos: Fortes.
Metacarpos: Ligeiramente inclinados.
Mãos: Grandes e ovais com dedos bem arqueados e almofadas plantares grossas
e resistentes. Unhas fortes.
Membros posteriores: Robustos e bem musculados. São bem angulados,
denotando grande capacidade de impulso.
Coxas: Bem desenvolvidas e bem musculadas.
Pernas: Compridas. Bem desenvolvidas.
Angulação fémuro-tibial: Fechada.
Tarsos: Fortes.
Metatarsos: Fortes, em posição praticamente vertical com jarretes curtos.
Pés: Ovais, dedos bem unidos e arqueados com membrana interdigital não muito
pronunciada, podendo apresentar presunhos.
Cauda: Implantação média a baixa. Encurtada até à terceira vértebra ou inteira
de tamanho médio, sem ultrapassar o curvilhão. Em repouso a cauda cai e encurva na
parte inferior. Admitem-se anuros.
Pele: Fina, pigmentada e aderente.
Pelagem: Comprida, farta, ligeiramente ondulada, nem lisa nem encaracolada,
com subpêlo abundante em todo o corpo. Admite-se a tosquia de trabalho encurtando
o pêlo uniformemente, devendo esta apresentação ser a utilizada em exposições de
beleza.
Pêlo: Forte, ligeiramente grosseiro mas não áspero. Abundante em toda a cabeça,
no focinho e sobre os olhos, onde cai para a frente. Farto na zona mandibular,
62
originando as barbas de onde lhe advém o nome. Nos membros o pêlo é abundante,
inclusive entre os dedos. Abundante na cauda até à ponta.
Coloração: Amarelo, cinzento, preto, fulvo e lobeiro nas tonalidades claro,
comum e escuro, podendo ser manalvos, pedalvos, quadralvos, com frente aberta,
encoleirados e com malhas brancas no peito, ventre e ponta da cauda.
Peso: Machos- 25 a 30 Kg; Fêmeas- 21 a 26 Kg.
Os cães machos deverão apresentar os dois testículos, de aparência normal, bem
descidos no escroto. Todo o cão que apresentar um desvio em relação ao estalão deve
ser considerado como falta e penalizado na exacta proporção da sua gravidade e das
suas consequências na saúde e bem-estar do cão (AACCBIT, 2007).
2.13.4- Andamentos do Barbado da Terceira
O Barbado da Terceira deverá ter andamentos ágeis e com boa impulsão,
permitindo bruscas mudanças de direcção e transição de movimentos, por vezes,
necessárias na condução do gado. O passo deverá ser ligeiramente bamboleante, o
trote elástico com bom alcance e suspensão e o galope enérgico e rápido (AACCBIT,
2007).
2.13.5- Comportamento do Barbado da Terceira
O Barbado da Terceira é conhecido como sendo um cão companheiro e fiel ao
dono, criando com este, laços de dependência e afectividade muito fortes. É
inteligente, obediente, tornando-se fácil ensiná-lo, alegre, meigo e voluntarioso
(AACCBIT, 2007).
A timidez e agressividade são consideradas defeitos graves, relativamente ao
comportamento e carácter da raça, descritos no Estalão da mesma, sendo penalizados
os animais que assim o sejam (AACCBIT, 2007).
63
III- Materiais e Métodos
3.1- Caracterização da amostra
A amostra seleccionada para participar na metodologia do inquérito informativo
(Anexo VII.1) e do Canine Behavioral Assessment and Research Questionnaire-CBARQ (Anexo VII.2) foi constituída por animais registados na Associação Açoriana
dos Criadores dos Cães Barbados da Ilha Terceira (AACCBIT) e possuidores de
mais de um ano de idade. O género, estado fisiológico e proveniência não foram
considerados como factor de desclassificação dos cães.
Dos 129 inquéritos disponibilizados a donos de Barbados obteve-se um feedback
de 52%, assim a amostra ficou composta por 67 cães Barbados da ilha Terceira, dos
quais 38 (56,7%) eram machos e 29 (43,3%) eram fêmeas, maioritariamente (85,1%)
não esterilizados, ovariohisterectomizados e orquiectomizados. A idade média dos
animais em estudo foi de 3,3 ± 2,41 anos (Figura 11), com uma maior percentagem
de cães com 1 ano de idade, 26,9% (Anexo VII.3.1).
Figura 11- Histograma da distribuição de frequências da idade dos Barbados que participaram nos
questionários.
A amostra seleccionada para participar no ensaio comportamental, de forma
semelhante à anterior, foi constituída por animais registados na AACCBIT e com
idades entre um e seis anos (Anexo VII.3.2). Os animais tinham de ser inteiros,
64
saudáveis e, no caso das fêmeas, não gestantes nem em cio. A amostra ficou
composta por 24 animais, dos quais 11 (45,8%) eram machos e 13 (54,2%) eram
fêmeas, com uma idade média de 3,4 ± 1,71 anos (Figura 12).
Figura 12- Histograma da distribuição de frequências da idade dos Barbados que participaram no
ensaio comportamental.
As amostras em ambas as metodologias foram mais pequenas do que aquilo que
se pretendia, tendo em conta que segundo a presidente da AACCBIT (Engª. Paula
Lima; comunicação pessoal), existem cerca de 1000 Barbados inscritos na
Associação. Assim, a amostra dos inquéritos, informativo e C-BARQ, bem como do
ensaio comportamental só corresponde, respectivamente, a 6,7 e 2,4% desses cães.
No entanto, não foi possível aumentar o número de animais em estudo devido a
restrições de tempo, dificuldade em arranjar proprietários dispostos a participar,
cancelamentos à última hora de donos que por diversos motivos não compareceram
no ensaio e preenchimentos de apenas um dos questionários ou parte de um destes
impossibilitando a sua análise posterior.
65
3.2- Inquérito informativo e C-BARQ
3.2.1- Desenvolvimento e constituição dos inquéritos
O inquérito informativo sobre o canídeo foi adaptado de um questionário do
Institute of Animal Genetics, Nutrition and Housing, da Faculdade de Medicina
Veterinária da Universidade de Berna, sobre um teste comportamental do clube do
Pastor Alemão na Suíça (Fuchs et al., 2005), e de um inquérito do Centro para cães
de abrigos de um programa de resgate de animais da liga de Boston (Incoming dog
profile, s/data).
O inquérito informativo teve como objectivos recolher dados sobre os cães em
estudo e conhecer as suas histórias pregressas, por forma a relacioná-los com outros
factores do C-BARQ e assim melhor compreender os seus comportamentos. É
constituído por quatro secções: identificação do canídeo; vivência do animal,
englobando esta a experiência do dono e aquisição do cão e o ambiente e
socialização do cão; higiene e estado sanitário.
A identificação do canídeo permitiu determinar a idade média dos animais em
estudo, o género, o estado fisiológico e a aptidão. A vivência do animal englobou
várias informações relativas à aquisição do cão e o motivo para esta, a socialização
do animal e alguma descrição do dia-a-dia do mesmo. Quanto à higiene e cuidados
prestados ao animal, tão importante para determinar o empenho e preocupação dos
donos, foram efectuadas algumas abordagens a estes relativamente a temáticas como
o banho, tosquia, corte de unhas e escovagem. O estado sanitário permitiu conhecer o
quanto o animal está habituado a ir ao veterinário.
O C-BARQ utilizado foi traduzido a partir do original que o seu autor, James
Serpell, cedeu via correio electrónico. Este questionário é composto por 101 questões
subdivididas em várias secções, nomeadamente: treino e obediência, agressão, medo
e ansiedade, comportamentos relacionados à separação, excitabilidade, vinculação e
comportamentos para chamar atenção e diversos. Para posterior avaliação dos
resultados reagrupou-se as questões por traços de personalidade, conforme será
referido posteriormente.
De forma semelhante ao estudo de Fuchs et al. (2005) e Svartberg (2005), o
objectivo dos questionários foi conhecer vários factores acerca do cão e associá-los
mais tarde com o resultado do ensaio, comparando as reacções comportamentais dos
66
animais neste com o seu comportamento do dia-a-dia descrito pelo dono, por forma a
validar o teste.
3.2.2- Recolha dos dados
Os donos de cães Barbados da ilha Terceira, inscritos na AACCBIT, foram
contactados pessoalmente, aquando da monográfica e via telefone. Dez proprietários
preencheram os inquéritos em papel e os restantes cederam os seus contactos de
correio eletrónico para onde os questionários foram posteriormente enviados para
preenchimento online.
Os donos foram informados que tinham de responder aos inquéritos, com base
nos comportamentos apresentados pelo cão, naquelas situações específicas, nos
últimos três meses. Para categorias nas quais as respostas eram mais rapidamente
avaliadas em termos de frequência de um comportamento particular (treino e
obediência, comportamentos relacionados com a separação, vinculação e
comportamentos para chamar atenção e diversos) foi pedido aos donos para
pontuarem os seus cães em classes de frequência de nunca, raramente, às vezes,
quase sempre e sempre. Para posterior análise estatística, estas fizeram-se
corresponder a uma escala, em que 0=nunca, 1=raramente, 2=às vezes, 3=quase
sempre e 4=sempre, na maioria das questões, exceptuando a questão 5,6 e 7 em que a
ordem era invertida, sendo 0= sempre e 4=nunca.
Para categorias nas quais as respostas eram mais rapidamente avaliadas em
termos de intensidade de comportamentos particulares (agressão, medo e ansiedade e
excitabilidade) foi requerido aos donos que avaliassem os seus cães com uma escala
qualitativa de cinco pontos, em que 0=sem sinais do comportamento, 1-3=sinais de
comportamento fraco a moderado e 4=sinais severos do comportamento. Cada sessão
do questionário incluía um breve texto introdutório para orientação dos donos. Caso
o comportamento do cão perante uma situação em particular não fosse conhecido ou
se o item não fosse aplicável ao animal por algum motivo, os donos poderiam não
responder, sendo estes considerados na análise como perdidos.
67
3.3- Ensaio comportamental
3.3.1- Delineamento
O teste comportamental utilizado foi adaptado de outros testes já existentes,
nomeadamente, o Dog Mentality Assessment- DMA (Svartberg & Forkman, 2002), o
Socially Acceptable Behavior-SAB (Planta & De Meester, 2007), o Sue Sternberg’s
Assess-a-pet (Mornement et al. 2009) e o teste da Royal Society for the Protection of
Cruelty to Animals- RSPCA (Poulsen et al., 2010). É composto por 16 subtestes com
47 variáveis comportamentais que foram reagrupadas, para efeitos de análise dos
resultados, nos traços de personalidade correspondentes.
3.3.2- Localização
A escolha do local de realização do ensaio comportamental teve em conta alguns
critérios de selecção, nomeadamente:
 ser um espaço aberto, natural e semelhante a um jardim onde os Barbados
passeariam;
 ser um local próximo da cidade, de fácil acesso aos donos;
 ter algum isolamento para minimizar ao máximo ruídos externos, como sons
de outros animais, pessoas ou tráfego;
 ter alguma forma de abrigo no caso de as condições ambientais não serem as
mais favoráveis;
 ser um local com uma temperatura amena e que permitisse alguma protecção
ao vento e
 possuir zonas mais afastadas onde fosse possível colocar os animais
envolvidos no ensaio, que serviriam de estímulo em alguns dos subtestes,
minimizando assim a possibilidade de contacto anterior com os Barbados.
O ensaio comportamental foi realizado num espaço exterior pertencente à
Associação Cristã da Mocidade (ACM), na Terra-Chã. Optou-se por o fazer sempre
no mesmo local, pelas boas condições do mesmo mesmo.
68
3.3.3- Selecção dos colaboradores e estímulos
Os donos dos cães Barbados da ilha Terceira que participaram no ensaio foram
contactados via telefone, tendo-lhes sido explicado o tipo de estudo, sem ser revelado
o objectivo final. O dono que acompanhava o Barbado tinha de ser sempre o mesmo
ao longo do teste e da sua repetição e deveria manter-se calmo ao longo dos vários
subtestes, para não influenciar o comportamento do cão. Só podia falar com o animal
nos subtestes que assim o exigissem e não podia colocar tensão ou bloquear a trela
extensível aquando a realização dos mesmos. O dono era responsável pelo animal vir
em jejum, para que quisesse comer quando lhe fosse colocada a comida, que o dono
trazia de casa e à qual o cão estava habituado. Além disso os donos deveriam trazer o
seu animal com coleira e trela extensível, e minimizar o contacto do seu cão com os
estímulos do ensaio antes e depois da realização do mesmo. Para minimizar as
interrupções ao longo do teste e a sua repetição os proprietários levavam os seus cães
a passear antes para que estes urinassem e defecassem. Os donos não foram
informados do objectivo de cada um dos subtestes do ensaio para que não reagissem
de forma pouco natural e de acordo com aquilo que julgavam ser o que era
pretendido.
Os assistentes do ensaio foram as pessoas responsáveis por permitir que cada
estímulo dos subtestes funcionasse da melhor forma. Cada um participou em
subtestes diferentes como estranhos ao animal e por isso não podiam ser pessoas que
os animais em estudo conhecessem, nem podiam desenvolver com eles uma relação
ou manifestar ansiedade ou medo. Quando não participavam como estímulo no
ensaio eram responsáveis pela preparação de cada subteste ou por filmarem-no,
sempre escondidos de forma a minimizar a influência da sua presença nos resultados.
No ensaio comportamental participaram sempre os mesmos dois assistentes, um
homem e uma mulher, que reuniam as condições exigidas, estavam à vontade na
presença de cães e com os quais os outros animais que serviam de estímulo se davam
bem.
O observador foi a pessoa responsável pela avaliação do comportamento dos cães
Barbados em estudo e registo dos dados. Não podia ser uma pessoa que o Barbado
conhecesse, permaneceu sempre o máximo possível escondido mas de forma a poder
observar as reacções comportamentais do animal e foi responsável por guiar os
donos durante os subtestes.
69
Relativamente aos estímulos para averiguar a socialização do Barbado, optou-se
por se escolher estímulos naturais, ou seja, animais reais. Quanto aos cães, estes
teriam de ser desconhecidos dos Barbados, de outra raça, com aproximadamente o
mesmo tamanho dos animais em estudo e com um temperamento amigável. Para este
ensaio escolheu-se um cão de um dos assistentes e uma cadela da Associação dos
Amigos dos Animais da Ilha Terceira (AAAIT). Relativamente ao gato, este teria de
ser desconhecido dos Barbados em estudo, e não sendo fácil encontrar um que
estivesse confortável ao pé de cães, optou-se por utilizar o gato de um dos assistentes
do ensaio. Os animais permaneceram afastados do local do ensaio de forma a só
aparecerem aquando do subteste em que serviriam de estímulo.
3.3.4- Condições do ensaio
Os cães Barbados foram sujeitos ao mesmo teste comportamental, duas vezes no
mesmo local, com a mesma ordem e com a mesma equipa de forma a uniformizar o
teste, a minimizar a influência de pessoas estranhas e a verificar a consistência do
comportamento dos animais. O ensaio decorreu durante os meses de Outubro,
Novembro e Dezembro de 2011 e durou 10 dias, com um intervalo de um mês entre
o teste e a repetição.
Cada ensaio tinha a duração aproximada de uma hora para cada Barbado, e os
cães foram testados em diferentes períodos do dia, uma vez que os animais não são
igualmente activos durante o período de 24h. Assim, os cães que foram testados de
manhã (8-12h) no teste, após um mês, na sua repetição foram testados à tarde (1317h). Os subtestes do ensaio foram realizados, na sua maioria, sem interrupções,
excepto o tempo necessário para a passagem de um subteste para o outro. No
entanto, devido à chuva forte que ocorreu em alguns dias de realização do teste, e
sendo este realizado num espaço exterior, teve de se efectuar algumas paragens.
O setup do ensaio foi feito antes de os donos e os cães iniciarem a testagem, de
forma a não assistirem à sua montagem. O observador guiava os donos pelos vários
subtestes através de um telemóvel e auricular por forma a minimizar a influência de
uma pessoa estranha nos comportamentos que o animal manifestaria. Idealmente os
animais deveriam ter sido familiarizados com o espaço antes do ensaio
comportamental. Contudo, devido à falta de tempo associada e outras dificuldades
não foi possível realizar isso.
70
Tentou-se minimizar todo o tipo de influências externas, desde a escolha de um
local adequado, à escolha de assistentes com as características desejadas, bem como
à uniformização de todas as outras condições.
3.3.5- Descrição do teste comportamental
1. Vinculação e comportamento de procura de atenção
O cão foi amarrado pela coleira a um poste com uma linha de segurança de
aproximadamente 1 metro, estando o dono fora do seu alcance visual bem como
qualquer outra pessoa envolvida no ensaio. Ele foi deixado sozinho durante cerca de
1 minuto (Figura 13), passado o qual apenas o dono apareceu e deu-lhe alguma
atenção durante mais ou menos 20 segundos. Findo esse tempo o dono permaneceu
quieto sem fazer contacto visual nem comunicar de outra forma com o Barbado, mas
próximo deste, durante aproximadamente 1 minuto, ao fim do qual se foi embora.
Figura 13- Postura corporal do cão perante a variável da situação passiva.
2. Agressividade por dominância
O cão permaneceu amarrado e foi-lhe colocada comida, a seu gosto e à sua
disposição, pelo dono quando se ia embora no subteste 1. Logo de seguida o estranho
1 com uma mão artificial (cabo de madeira envolvido com tecidos para dar volume
ao braço, onde na ponta estava presa por uma corda uma luva de pano) tentou
71
remover a comida ao Barbado (Figura 14). A reacção do animal foi analisada e
posteriormente, depois de o estranho 1 se afastar do campo visual do cão, o dono
aproximou-se e tentou remover a comida da mesma forma já descrita.
Figura 14- Reacção do Barbado aquando a remoção da comida pelo estranho.
3. Sociabilidade com uma pessoa estranha
O cão estava a passear à trela com o seu proprietário, tendo-se depois
aproximado o estranho 2 (Figura 15) que apenas cumprimentou o dono, apertandolhe a mão de forma calma e pausada e mantendo uma conversa com ele, ignorando
assim o Barbado durante cerca de 2 minutos. De seguida cumprimentou o cão,
dando-lhe atenção e festas, pegou na trela e deu um passeio curto com ele
(aproximadamente 10 metros), mas sem o dono. Durante o passeio, quando estavam
distanciados do proprietário do animal, o estranho parou e deu festas ao cão,
levando-o depois de volta.
Figura 15- Comportamento do cão perante a aproximação do estranho.
72
4. Interesse na brincadeira
O Barbado encontrava-se solto e o dono convidava-o a brincar com uma bola
(Figura 16), movimentando-a em frente a ele e atirando-a para o cão a ir buscar.
Após este a agarrar, se estivesse disposto a tal, o dono enviava-a ao estranho 2 que
estava posicionado aproximadamente a 4 metros de distância. Este atirava a bola ao
dono e vice-versa até que o estranho lançasse o brinquedo para longe do cão (cerca
de 10 metros), que estava livre para correr atrás e apanhá-lo.
Figura 16- Reacção do animal aquando o convite para brincar do dono.
5. Coragem perante um som súbito
Um assistente do ensaio com uma buzina escondeu-se a mais ou menos 20
metros do ponto de partida, onde o cão com trela e o dono estavam posicionados. O
dono foi orientado a passear o animal, sem bloquear a trela extensível, e reagir
passivamente aquando o toque da buzina, não interrompendo o comportamento do
cão. Assim, após cerca de 30 segundos de passeio foi dado o primeiro toque, após o
qual se seguiram outros dois.
6. Sociabilidade com um cão estranho
O cão foi amarrado pela coleira a uma árvore com uma linha de segurança de
cerca de 1 metro, estando o dono fora do seu alcance visual. Um cão não agressivo,
com aproximadamente o mesmo tamanho, mas de raça diferente abordou o Barbado
com o estranho 1 (Figura 17). Permaneceram em frente ao cão testado durante mais
73
ou menos 30 segundos e a cerca de 4 metros do ponto onde este estava amarrado. A
pessoa que acompanhava o cão certificava-se de que não havia provocação deste ao
Barbado.
Figura 17- Observação do Barbado perante a aproximação de outro cão.
7. Comportamento predatório- presa
Um peluche comprido tipo presa de, aproximadamente 40 centímetros, foi fixado
a um cordão longo e fino, com cerca de 50-60 centímetros. O estranho 2 escondeu-se
com a ponta da corda, de forma a poder puxá-la rapidamente, fugindo. O dono e o
Barbado aproximaram-se do ponto de partida com a trela extensível não bloqueada e
o objecto foi colocado em movimento pelo assistente (Figura 18), sendo o cão livre
de correr atrás dele e agarrá-lo. Esta situação foi realizada duas vezes.
Figura 18- Comportamento do cão aquando o afastamento do objecto.
74
8. Coragem perante um objecto desconhecido- boneco
O boneco foi feito com duas ripas de madeira perpendiculares uma à outra,
envoltas com tecido para dar volume e cobertas com um casaco comprido. A cabeça
de tecido foi presa à ripa vertical com arame e nela foi colocado um chapéu.
Amarrou-se uma corda comprida à ripa vertical, próxima à cabeça, para que o
boneco pudesse ser puxado. Na posição inicial o boneco estava deitado no chão, e,
portanto, não visível para o cão. O dono passeou o Barbado com a trela em direcção
ao boneco, tendo sido este subitamente puxado, por um dos assistentes que estava
escondido, quando o cão se encontrava a cerca de 2 metros do mesmo (Figura 19). O
dono foi informado para não reagir e permanecer passivo durante aproximadamente
30 segundos, para dar oportunidade ao cão de abordar e investigar livremente o
boneco. Caso o Barbado não abordasse o boneco sozinho, o dono aproximava-se do
mesmo, tocava-lhe e chamava o cão para ele ir observar. De seguida, o proprietário
voltava para trás com o animal e passava novamente próximo ao boneco.
Figura 19- Reacção de sobressalto do Barbado perante o surgimento súbito do boneco.
9. Sociabilidade com pessoas estranhas
O cão foi amarrado a um poste com uma linha de segurança de aproximadamente
1 metro onde o dono permaneceu ao pé do animal. Dois estranhos surgiram a correr
em direcção ao local onde o Barbado estava preso, permanecendo a cerca de 2
metros deste durante mais ou menos 20 segundos sem olharem fixamente para o
animal (Figura 20). Após esse tempo viraram-se e foram embora.
75
Figura 20- Postura corporal do cão aquando a aproximação das pessoas estranhas.
10. Sociabilidade com uma cadela desconhecida
O cão permaneceu amarrado ao poste com uma linha de segurança de cerca de 1
metro, estando o dono fora do seu campo visual. Uma cadela não agressiva, com
aproximadamente o mesmo tamanho, mas de raça diferente abordou o Barbado com
o estranho 1 (Figura 21). Permaneceram em frente ao cão testado durante mais ou
menos 30 segundos e a cerca de 4 metros do ponto onde este estava amarrado. A
pessoa que acompanhava a cadela certificava-se de que não havia provocação desta
ao Barbado.
Figura 21- Comportamento do Barbado perante a aproximação da cadela.
76
11. Sociabilidade com uma pessoa desconhecida, vinculação e agressividade por
dominância
O cão permaneceu preso ao poste, da mesma forma que no subteste anterior. O
estranho 2 andou em direcção ao cão, de forma calma e descontraída, olhou-o
fixamente durante alguns segundos (Figura 22) e depois falou com ele de forma
amigável e deu-lhe festas com a mão artificial, durante cerca de 20 segundos,
tentando tocar-lhe na cabeça e corpo. Após esse tempo o dono aproximou-se e o
estranho começou a falar alto e de forma agressiva com ele, gesticulando e mesmo
até empurrando-o (Figura 23). Após aproximadamente 30 segundos de confronto,
ambos se acalmaram e o estranho tentou tocar novamente no cão com a mão artificial
durante 20 segundos, após os quais se afastou, indo o dono cumprimentar o Barbado
(Figura 24).
Figura 22- Postura corporal do cão diante o olhar fixo do estranho.
Figura 23- Reacção do animal aquando o confronto entre o estranho e o dono.
77
Figura 24- Comportamento do Barbado perante o cumprimento do dono .
12. Coragem perante um objecto desconhecido- latas
Um assistente do ensaio escondeu-se atrás de um muro segurando uma corda
comprida à qual estavam presas várias latas. O dono e o cão passeavam calmamente
e ao chegarem próximo da corda esta foi puxada e largada, deixando as latas caírem
em cima de uma placa de metal, que permitiu a criação de um barulho súbito (Figura
25). Quando isto aconteceu o dono foi informado de que deveria não causar tensão
na trela e permanecer passivo durante aproximadamente 30 segundos, o que daria
tempo ao cão de abordar e investigar livremente a fonte do barulho (Figura 26). Se o
Barbado não abordasse as latas sozinho o dono apoiaria o cão, para isso aproximavase da folha de metal e tocava nela, chamando de seguida o cão para investigar. De
seguida o proprietário voltava para trás com o animal e passava novamente próximo
às latas.
Figura 25- Reacção de sobressalto do animal diante o som súbito causado pelas latas.
78
Figura 26- Comportamento de exploração do Barbado após a reacção de sobressalto.
13. Sociabilidade com um gato
O cão foi levado a passear pelo dono e aproximaram-se a cerca de 0,5 metros de
distância de uma jaula que tinha o gato (Figura 27), permanecendo lá perto mais ou
menos 15 segundos, findo os quais se foram embora.
Figura 27- Postura corporal do cão perante a aproximação à jaula do gato.
14. Comportamento predatório- carro telecomandado
O dono estava a passear o Barbado de trela, quando surgia de repente um carro
telecomandado por um dos assistentes (Figura 28). O cão era livre de correr atrás do
carro e agarrá-lo. Esta situação foi realizada duas vezes.
79
Figura 28- Comportamento do cão aquando o afastamento do carro telecomandado.
15. Focalização no treino
O dono iniciava uma actividade com o Barbado, estando este solto, podendo ser
uma brincadeira, e após cerca de 30 segundos dava-lhe uma ordem que ele
conhecesse (Figura 29). Na eventualidade de não ser cumprida ele só podia repetir
até 5 vezes a mesma ordem.
Figura 29- Reacção do Barbado perante a ordem dada pelo dono.
16. Sensibilidade ao toque
O Barbado estava solto com o dono ao lado e o observador aproximou-se do cão
e começou a tocar-lhe no corpo todo (Figura 30), examinou-lhe os dentes, as orelhas,
80
a cauda e posteriormente, colocou-o numa posição submissa, de barriga para cima e
manteve-o assim durante cerca de 15 segundos (Figura 31).
Figura 30- Comportamento do animal aquando a manipulação física.
Figura 31- Capacidade de submissão do Barbado.
3.4- Registo de dados
As reacções comportamentais do cão foram pontuadas pelo observador e, dentro
do possível, livres de opiniões subjectivas e de acordo com uma escala de
intensidade pré-definida de 1 a 5 (pontuação baixa = intensidade baixa), conforme
descrito abaixo:
1. Vinculação e comportamento de procura de atenção
1- Situação passiva: pontuado desde “apresenta um comportamento muito
calmo” (1) a “apresenta-se muito inquieto à procura do dono” (5). Descrição
do comportamento do animal ao ser deixado sozinho.
81
2- Reacção ao cumprimento do dono: pontuado desde “apresentação de um
comportamento muito calmo” (1) a “cumprimento intenso com saltos e
ganidos/lamentações” (5). Reacção do cão ao ver o dono.
3- Actividade: pontuado de “não activo” (1) a “comportamento activo com
alternância de vários modos de actividade” (5).
2. Agressividade por dominância
4- Reacção aquando a remoção da comida pelo estranho: pontuado desde
“mostrou-se
extremamente
agressivo,
chegando
a
morder”
(1)
a
“comportamento amigável” (5). Descrita durante a remoção da comida pelo
estranho.
5- Reacção aquando a remoção da comida pelo dono: pontuado desde
“mostrou-se
extremamente
agressivo,
chegando
a
morder”
(1)
a
“comportamento amigável” (5). Descrita durante a remoção da comida pelo
dono.
3. Sociabilidade com uma pessoa estranha
6- Socialização passiva: pontuado de “comportamento de desconforto e/ou
agressividade intensa” (1) a “comportamento amigável e de busca de
atenção” (5). Reacção do cão perante a evitação do estranho à sua presença e
ao contacto com o seu dono.
7- Reacção ao primeiro cumprimento do estranho: desde “rejeição do
cumprimento”
(1)
a
“cumprimento
intenso
com
saltos
e
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a primeira fase de cumprimento.
8- Cooperação: pontuado desde “recusa em andar com o estranho” (1) a
“grande vontade em andar com um estranho, combinado com reacções de
saudação intensas em relação ao desconhecido” (5). Descrita durante o
passeio curto.
9- Reacção ao segundo cumprimento do estranho: desde “rejeição do
cumprimento”
(1)
a
“cumprimento
intenso
com
saltos
e
82
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a segunda fase de cumprimento,
longe do dono.
4. Interesse na brincadeira
10- Interesse em brincar com o dono: pontuada desde “sem interesse no atirar
da bola” (1) a “brincar activo e perseguição da bola atirada” (5). Descrito
durante a primeira fase em que o dono atira a bola.
11- Interesse em brincar com o estranho: pontuada desde “sem interesse no
atirar da bola” (1) a “brincar activo e perseguição da bola atirada” (5).
Descrito durante a primeira fase de atirar entre o dono e o estranho.
12- Agarrar: pontuado desde “não agarra” (1) a “agarrar imediato e intenso” (5).
Descrito quando o estranho atirou a bola para longe do cão.
5. Coragem perante um som súbito
13- Reacção de evitação: pontuada desde “nenhuma ou pequena reacção como
resposta ao barulho sem interromper a actividade” (1) a “ansiedade restante
onde o cão interrompe a brincadeira ou actividade e mostra tentativas de
fugir” (5). Descrita durante todo o subteste.
14- Habituação: pontuada desde “ausência de habituação ao estímulo e sinais de
desconforto após as sucessivas repetições” (1) a “habituação rápida ao
estímulo” (5). Descrita durante todo o subteste.
6. Sociabilidade com um cão estranho
15- Aproximação do cão: pontuado desde “manifestação de desconforto e/ou
agressividade intensa” (1) a “comportamento intenso com saltos e
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a fase de aproximação do cão.
16- Presença do cão: pontuado desde “manifestação de desconforto e/ou
agressividade intensa” (1) a “comportamento intenso com saltos e
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a fase de aproximação do cão.
83
7. Comportamento predatório- presa
17- Seguir 1: pontuado desde “sem tentativas em correr após a presa fugir” (1) a
“reacção imediata quando avista a presa, correndo atrás dela a grande
velocidade” (5). Descrito quando a presa é puxada durante o teste.
18- Agarrar 1: pontuado desde “sem tentativas em agarrar a presa” (1) a “agarrar
intenso e imediato combinado com o segurar da presa durante pelo menos 3
segundos (5). Descrito quando e se o cão se aproximar da presa, durante a
repetição do teste.
19- Seguir 2: pontuado como o seguir 1. Descrita aquando a segunda passagem
do dono e do cão pela presa.
20- Agarrar 2: pontuado como o agarrar 1. Descrita aquando a segunda
passagem do dono e do cão pela presa.
8. Coragem perante um objecto desconhecido- boneco
21- Reacção de sobressalto: pontuado desde “hesitação curta” (1) a “voo de
mais de 5 metros” (5). Descrita quando o boneco aparece.
22- Agressão: pontuado desde “sem sinais de agressão, ou sinal de ameaça” (1) a
“exibição de ameaça e ataques contra o boneco” (5). Descrita em e após o
aparecimento súbito do boneco.
23- Exploração: pontuado desde “grande necessidade de apoio (não aborda o
boneco até que o dono se baixe e se sente perto dele) ou não aborda” (1) a
“abordagem imediata ao boneco sem necessidade de apoio” (5). Descrita após
o aparecimento do boneco.
24- Comportamento de evitação pontuado desde “sem sinais de evitação
(nenhuma
manobra
evasiva
ou
redução
de
velocidade)”
(1)
a
“comportamento de evitação significante durante a passagem pelo boneco”
(5). Descrito durante a repetição do passeio.
25- Comportamento de abordagem: pontuado desde “sem interesse no boneco”
(1) a “aborda, juntamente com o agarrar e/ou brincar com o boneco” (5).
Descrito durante a repetição do passeio.
84
9. Sociabilidade com pessoas estranhas
26- Aproximação das pessoas: pontuado desde “manifestação de desconforto
e/ou agressividade intensa” (1) a “comportamento intenso com saltos e
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a fase de aproximação das
pessoas.
27- Presença das pessoas: pontuado de “comportamento de desconforto e/ou
agressividade intensa” (1) a “comportamento amigável e de busca de
atenção” (5). Reacção do cão perante a presença das pessoas.
10. Sociabilidade com uma cadela desconhecida
28- Aproximação da cadela: pontuado desde “manifestação de desconforto e/ou
agressividade intensa” (1) a “comportamento intenso com saltos e
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a fase de aproximação da cadela.
29- Presença da cadela: pontuado desde “manifestação de desconforto e/ou
agressividade intensa” (1) a “comportamento intenso com saltos e
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a presença da cadela.
11. Sociabilidade com uma pessoa desconhecida, vinculação e agressividade por
dominância
30- Olhar fixo: pontuado desde “manifestação de desconforto e/ou agressividade
intensa” (1) a “comportamento amigável” (5). Descrito durante o olhar fixo
do estranho.
31- Reacção ao cumprimento do estranho 1: desde “rejeição do cumprimento”
(1) a “cumprimento intenso com saltos e ganidos/lamentações” (5). Descrita
durante o cumprimento por parte do estranho.
32- Confronto entre o estranho e o dono: pontuado desde “manifestação de
desconforto e/ou agressividade intensa” (1) a “comportamento amigável” (5).
Descrito durante a fase do confronto entre o estranho e o dono.
85
33- Reacção ao cumprimento do estranho 2: desde “rejeição do cumprimento”
(1) a “cumprimento intenso com saltos e ganidos/lamentações” (5). Descrita
durante o cumprimento do estranho após o confronto.
34- Reacção ao cumprimento do dono: desde “rejeição do cumprimento” (1) a
“cumprimento intenso com saltos e ganidos/lamentações” (5). Descrita
durante o cumprimento do dono após o confronto.
12. Coragem perante um objecto desconhecido- latas
35- Reacção de sobressalto: pontuado desde “hesitação curta” (1) a “voo de
mais de 5 metros” (5). Descrita quando a corda é puxada e as latas caem em
cima da placa de metal.
36- Exploração: pontuado desde “não aproximação da placa de metal, mesmo
que o dono se sente perto dela” (1) a “aproximação imediata sem necessidade
de apoio” (5). Descrita após o barulho súbito.
37- Comportamento de evitação: pontuado desde “sem sinais de evitação (por
exemplo, nenhuma manobra evasiva ou redução de velocidade)” (1) a
“comportamento de evitação significante durante a passagem pela fonte do
barulho” (5). Descrito durante a repetição do passeio.
38- Comportamento de abordagem: pontuado desde “sem aproximação ou
olhar para a fonte do barulho” (1) a “aproximação, juntamente com o agarrar
e/ou brincar com a corda, pelo menos em duas passagens” (5). Descrito
durante a repetição do passeio.
13. Sociabilidade com um gato
39- Aproximação à jaula do gato: pontuado desde “manifestação de desconforto
e/ou agressividade intensa” (1) a “comportamento intenso com saltos e
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a fase de aproximação à jaula do
gato.
40- Observação do gato: pontuado desde “manifestação de desconforto e/ou
agressividade intensa” (1) a “comportamento intenso com saltos e
ganidos/lamentações” (5). Descrita durante a fase de observação do gato.
86
14. Comportamento predatório- carro telecomandado
41- Seguir 1: pontuado desde “sem tentativas em correr após o carro fugir” (1) a
“reacção imediata quando avista o carro, correndo atrás dele a grande
velocidade” (5). Descrito quando o carro se afasta durante o teste.
42- Agarrar 1: pontuado desde “sem tentativas em agarrar o carro” (1), a
“agarrar intenso e imediato combinado com o segurar do carro durante pelo
menos 3 segundos (5). Descrito quando e se o cão se aproximar do carro,
durante a repetição do teste.
43- Seguir 2: pontuado como o seguir 1. Descrita aquando a segunda passagem
do dono e do cão pelo carro.
44- Agarrar 2: pontuado como o agarrar 1. Descrita aquando a segunda
passagem do dono e do cão pelo carro.
15. Focalização no treino
45- Cumprimento da ordem: pontuado desde “não cumprimento da ordem” (1)
a “cumprimento imediato da ordem” (5). Descrito durante a ordem dada pelo
dono.
16. Sensibilidade ao toque
46- Reacção do cão à manipulação: pontuado desde “não se mostrou stressado”
(1) a “mostrou-se inquieto e mesmo até agressivo (5). Descrito durante a
manipulação.
47- Capacidade de submissão: pontuado desde “ficou submisso sem stressar”
(1) a “mostrou-se inquieto e mesmo até agressivo, tentando escapar” (5).
Descrito durante a fase de submissão.
87
3.5- Variáveis em estudo - traços de personalidade e problemas
comportamentais do cão Barbado da ilha Terceira
Foram avaliados vários traços da personalidade (Quadro 2) do cão Barbado da
ilha Terceira, bem como a sua propensão para o desenvolvimento de determinadas
patologias comportamentais.
Quadro 2- Traços da personalidade em estudo e respectivas questões do C-BARQ e variáveis
comportamentais do ensaio comportamental que os medem.
Traços da personalidade
Agressividade
Com pessoas estranhas
Sociabilidade
Com
animais
Coragem
Com
cães
estranhos
Com cães da
mesma casa
Com
outras
espécies
de
animais
Medo
social
não
Medo social
Agressividade
Medo social
Agressividade
32-35
Agressividade
27
39, 40
38, 44
42, 48
41, 47
69-71
72- 74
75- 77
1-7
43, 49, 50, 52
8, 64, 92
13, 14
21, 23-25, 35-38
92
11, 12
Sons
Objectos
Situações
Vinculação
Comportamento de procura de atenção
Comportamento predatório
Focalização no treino
Sensibilidade ao toque
Interesse na brincadeira
Actividade
Excitabilidade
Metodologias utilizadas na
determinação das variáveis
Ensaio
C-BARQ
comportamental
Variáveis
Questões
comportamentais
10-12, 15, 16,
6-9, 26, 27, 30, 31,
18, 20-22, 28,
33
36, 37, 39, 40
23, 24, 26, 29
15, 16, 28, 29
45, 46, 53, 54
Com o dono
Com
o
estranho
1, 2, 34
3
17-20, 41-44
45
46, 47
10
93
63, 65-68
A sociabilidade foi verificada partindo do princípio que um cão agressivo e um
medroso socialmente (referente ao medo social) seriam animais menos sociáveis, tal
como foi referido por Svartberg (2003). A sociabilidade foi subdividida em
sociabilidade com pessoas estranhas e com animais, de acordo com Svartberg (2007).
De forma semelhante, Goodloe & Borchelt (1998) e Hsu & Serpell (2003), dividiram
o comportamento agressivo em agressão direccionada a estranhos, a membros da
família e a cães desconhecidos. A sociabilidade com outros animais foi subdividida
88
em sociabilidade com cães estranhos, sociabilidade com cães da mesma casa e com
outras espécies de animais. A sociabilidade com pessoas e cães estranhos foi avaliada
tendo em conta a agressividade e medo que os cães demonstraram perante eles, já a
sociabilidade com cães da mesma casa e outras espécies de animais só foi avaliada a
partir da agressividade manifestada pelo animal.
Segundo Svartberg & Forkman (2002), a coragem está relacionada com a vida
diária dos animais, com o comportamento de brincadeira, exploração e destemor em
situações sociais e não sociais. Assim, o medo será uma limitação à coragem, pelo
que animais medrosos poderão ser, embora não necessariamente, animais menos
corajosos. A coragem foi averiguada através do medo não social perante sons,
objectos e situações desconhecidas de forma a avaliar a segurança do Barbado nestas
circunstâncias e a propensão ao desenvolvimento de medos e fobias.
A vinculação teve como objectivo determinar a intensidade do vínculo que o
Barbado estabelece com os donos e como reage na sua ausência, podendo desta
forma verificar-se a propensão para a ansiedade por separação. A procura de atenção
foi constatada através do nível de inquietude do animal perante a presença do dono,
mas ausência de comunicação.
O instinto básico de predação é perseguir coisas que se afastam (Beaver, 1999),
pelo que o comportamento predatório do Barbado foi avaliado através da sua vontade
em perseguir animais e objectos. A focalização no treino pretendeu aferir o grau de
obediência e atenção dos cães em relação a ordens impostas pelos donos. A
sensibilidade ao toque é passível de ser constatada em situações que possam ser
potencialmente dolorosas, e em que o animal seja manipulado, manifestando medo
e/ou agressão (Duffy & Serpell, 2008). Assim, foi verificada a capacidade do
Barbado em se submeter perante uma série de situações que envolviam manipulação
física.
O interesse na brincadeira permitiu averiguar a capacidade do animal em correr
atrás de um brinquedo e a forma como o fazia com os donos e estranhos. A
actividade e excitabilidade possibilitaram ter em conta o quão energético era o
Barbado e quais as situações que lhe causavam maior excitação.
Quanto aos problemas comportamentais (Quadro 3), estes foram divididos em
sociais (agressividade e ansiedade por separação), sensoriais e neurais (condutas
estereotipadas e hiperactividade), comunicativos (marcação urinária, submissão
excessiva e vocalização excessiva), alimentares (coprofagia e destruição de
89
objectos), eliminativos (eliminação inadequada) e outros variados. Os vários tipos de
agressividade incluem-se no grupo de problemas comportamentais sociais, no
entanto, como alguns serão referidos na sociabilidade, por serem necessários à sua
determinação, serão discutidos maioritariamente neste traço comportamental.
Quadro 3- Problemas comportamentais em estudo e respectivas questões e variáveis
comportamentais que os medem.
Problemas comportamentais
Pessoas
Dominância
Animais
Sociais
Agressividade
Medo
Territorial
Predatória
Sensoriais e
neurais
Comunicativos
Alimentares
Eliminativos
Variados
Pessoas
Animais
Pessoas
Animais
Pessoas
Animais
Animais
Intraespecífica
Ansiedade por separação
Condutas estereotipadas
Hiperactividade
Marcação urinária
Submissão excessiva
Vocalização excessiva
Coprofagia
Destruição de objectos
Eliminação inadequada
Fugir de casa
Rolar sobre substâncias de odor
desagradável
Montar sexual inapropriado
Pedir comida insistentemente
Roubar comida
Nervosismo em subir ou descer escadas
Puxar a trela excessivamente
Metodologias utilizadas na
determinação das variáveis
Ensaio
C-BARQ
comportamental
Variáveis
Questões
comportamentais
9, 13, 14, 17,
19, 21, 25, 30,
4, 5
31
23, 24, 29, 3235
10, 11, 21, 28
22
23, 24, 26, 29
10, 11, 12, 15,
32
16, 18, 20, 28
23, 24,26
22
27
23, 24
55-62
94-97, 99-101
91
87
88
98
80
81
89, 90
78
79
82
83
84
85
86
3.6-Análise estatística
Os dados do inquérito e do estudo comportamental foram registados numa folha
Excel e tratados com recurso ao software estatístico IBM SPSS Statistics 20®, sendo
organizados segundo tabelas de contingência. A determinação de diferenças entre
90
machos e fêmeas foi efectuada através do teste Qui-quadrado, tendo-se utilizado o
Pearson Chi-Square ou alternativamente o Fisher’s exact test sempre que mais de
20% das frequências esperadas nas tabelas de contingência apresentavam valores
inferiores a 5. As diferenças foram consideradas significativas quando o nível de
significância (p) era inferior a 0,05.
De forma a testar a confiabilidade do teste vs repetição efectuaram-se correlações
entre o teste comportamental e a sua repetição, utilizando os valores dos coeficientes
de correlação de Spearman. As variáveis foram consideradas correlacionadas quando
o nível de significância era menor do que 0,05.
Na tentativa de validar o ensaio comportamental e assim verificar se as
informações fornecidas pelos donos e as reacções dos cães em teste eram
semelhantes fizeram-se correlações entre algumas questões do C-BARQ e algumas
variáveis do ensaio comportamental, no teste e repetição, para os mesmos 24
animais. Considerou-se uma vez mais os coeficientes de correlação de Spearman e a
significância estatística quando p foi menor que 0,05.
91
IV- Resultados e Discussão
4.1 – Inquérito informativo sobre o canídeo
4.1.1- Aptidão do cão Barbado da Terceira
De acordo com a aptidão do animal e dos motivos que levaram o dono a adquirilo, foi possível constatar que 41,8% da amostra correspondia a animais de
companhia, 28,4% de companhia e guarda e 10,4% apenas de guarda. A restante
percentagem da amostra encontrava-se dividida pelas demais aptidões (pastoreio,
concurso, reprodução), existindo cães a realizar mais do que uma função (Anexo
VII.4.1). Assim, estes dados sugerem que o cão Barbado tem sido, maioritariamente,
adquirido para companhia, seguindo-se as aptidões de guarda, pastoreio, concurso e
reprodução. Segundo Jagoe & Serpell (1996), o motivo de aquisição do cão poderá
afectar o tipo de problemas comportamentais que possui. Parece existir uma
tendência para a escolha de machos para guarda em detrimento das fêmeas, embora a
diferença percentual não seja muito elevada. As restantes aptidões estão distribuídas
de forma muito semelhante entre géneros.
Os resultados obtidos evidenciaram uma clara preferência do Barbado da
Terceira para ser utilizado como animal de companhia. Estes dados podem sugerir
uma diminuição do interesse do Barbado para a realização da função para o qual fora
inicialmente seleccionado, o pastoreio, que pode estar associada à utilização de
outras raças de pastoreio bem como cruzados destas, como por exemplo, os Pastores
Australianos. Além disso, o crescente conhecimento da raça, bem como a
participação de alguns exemplares nos concursos, provavelmente, despertou um
maior interesse na população.
Segundo King et al. (2012) o aparecimento das exposições caninas e dos estalões
de raças, onde são avaliados primariamente a morfologia em detrimento do
comportamento, contribuíram para uma selecção baseada na morfologia e não na
função, levando a uma maior aquisição de animais para companhia. Coppinger &
Schneider (1995) afirmaram ter assistido recentemente a um aumento do interesse,
em vários países, pelas raças caninas nacionais como cães de companhia,
contribuindo isto para diminuir ainda mais o já de si reduzido número de cães de
trabalho.
92
Segundo Scott & Fuller (1965) e Wilsson & Sundgren (1997) as diferenças de
comportamento entre raças devem-se às diferentes formas de selecção a que foram
sujeitas, sendo assim, o comportamento actual do cão Barbado da Terceira poderá
estar em evolução devido às diferenças das funções que esta raça desempenhava no
passado como cão de pastoreio e as que parece desempenhar no presente como cão
de companhia. Esta ideia pode ser reforçada com dados obtidos por Svartberg
(2006), que num estudo contemplando várias raças de cães, não demonstrou relação
entre o comportamento típico da raça e a função na origem desta, o que lhe permitiu
concluir que a selecção recente afectou o comportamento típico das raças de cães e
que a domesticação do cão ainda estava em progresso.
4.1.2-Vivência do animal
4.1.2.1- Experiência do dono e aquisição do animal
Verificou-se que 97% dos donos já tinham tido outros cães antes de adquirir o
actual cão Barbado, pelo que se supõe não serem donos inexperientes e gostarem da
raça, visto que 44,8% já haviam possuído outro cão Barbado da Terceira. Este factor
é extremamente importante uma vez que de acordo com Jagoe & Serpell (1996),
donos pela primeira vez e, portanto, mais inexperientes no trato com cães, poderiam
mais facilmente cometer erros e propiciar o desenvolvimento de algumas patologias
comportamentais, nomeadamente agressividade por dominância. Além disso, seriam
pessoas menos experientes na escolha do cão e, possivelmente menos cientes das
diferenças de comportamento entre raças, e como tal, menos sensíveis aos possíveis
problemas hereditários (Jagoe & Serpell,1996). Por outro lado, Kobelt et al. (2003)
não encontraram diferenças nas percepções de donos pela primeira vez e donos
experientes perante a capacidade de obediência dos seus cães a comandos.
Segundo a forma de aquisição do animal, verificou-se que 52,2% foram
comprados, 43,3% foram recebidos de oferta, e os restantes foram encontrados ou
nasceram em casa dos donos em ninhadas de cadelas Barbado da Terceira que estes
possuíam (Anexo VII.4.2). A forma de aquisição poderá ser um indicativo do
interesse da pessoa em possuir aquele animal, e consequentemente, poderá revelar-se
no trato que este irá conceder ao mesmo, tal como Beaver (1999) enunciou.
93
Quanto à idade de aquisição dos animais pelos donos constatou-se que 43,3%
foram adquiridos com 2 meses de idade, 22,4% com 3 meses e os restantes variaram
entre as 3 semanas e os 2 anos (Anexo VII.4.3). Observou-se, também, que a idade
de aquisição do animal correspondeu em 88,1% dos casos à idade de separação da
ninhada após o desmame, ainda durante o período de socialização. Segundo
O’Farrell (1992) e Beaver (1999) o desmame de cães com um mês e meio ou idades
inferiores propicia o desenvolvimento de alguns problemas comportamentais
decorrentes de más socializações. Assim, observando os resultados anteriores
apresentados poderá considerar-se que o desmame foi feito de uma forma correcta,
no sentido de minimizar o desenvolvimento de patologias comportamentais.
Contudo, de acordo com Scott & Fuller (1965), os cachorros deviam ser obtidos e
socializados com a idade de 12 a 15 semanas, caso contrário não era desenvolvida
vinculação. Já Gácsi et al. (2001) têm uma opinião contrária pois demonstraram que
cães com contacto restrito com os seres humanos poderiam manter a sua capacidade
de formar novos laços.
Por sua vez, Slabbert & Rasa (1993) e Fuchs et al. (2005) não encontraram
diferenças nos resultados do estudo entre os cães separados da progenitora antes das
12 semanas de idade e aqueles separados mais tarde, provavelmente devido à
importância de outros factores, como um bom treino e uma boa socialização dos
cachorros.
4.1.2.2- Ambiente e socialização do animal
Quanto ao ambiente familiar, verificou-se que 74,6% dos Barbados não eram o
único cão em casa e que 26,1% das fêmeas partilhavam a casa com um cão, enquanto
17,4% o faziam com uma cadela. Verificou-se que os machos partilhavam em igual
percentagem (25,9%) o seu espaço, tanto com cães como com cadelas. A restante
percentagem dos animais em estudo partilhavam a casa com mais do que um cão,
sendo, por vezes, de ambos os sexos (Anexo VII.4.4).
É de notar que para além de cães, 55,2% dos donos dos Barbados possuíam
outros animais (gatos, galinhas, bovinos, suínos, equinos, caprinos, ovinos, coelhos e
outras aves) sendo a maior percentagem (70,3%) correspondente a gatos (Anexo
VII.4.5). A convivência do cão Barbado com aqueles animais é de 40% nas fêmeas e
94
de 68,2% nos machos, valores que, contudo, não se revelaram significativamente
diferentes (Anexo VII.4.6).
Analisando o Quadro 4 referente ao contacto que os cães Barbados tiveram com
pessoas e animais durante o período de socialização (3 semanas a 3,5 meses) foi
possível fazer as seguintes observações:
- Relativamente ao contacto do cão Barbado com outros cães constatou-se que foi
muito frequente em machos (68,4%) e fêmeas (65,5%). Apenas 7,9% dos machos
não apresentaram qualquer contacto, contrastando com os 20,7% nas fêmeas (p>
0,05; Anexo VII.4.7). Esta socialização poderá estar relacionada em alguns casos,
mais com os cães pertencentes ao ambiente familiar e não propriamente com cães
desconhecidos, uma vez que, a maioria dos Barbados não era o único cão em casa, e
os inquiridos poderem ter entendido a pergunta, num contexto mais generalizado, ou
num mais restrito. Assim, seria interessante discriminar o grau de socialização dentro
e fora do ambiente familiar;
Quadro 4- Distribuição de frequências (Fr) referente ao contacto social do Barbado com pessoas e
animais, durante o período de socialização (questão 5), nos dois géneros (G).
5- Com que frequência entre as 3 semanas e os 3,5 meses, teve contacto com:
Pontuação
Questão
5.1-outros cães
5.2- crianças
5.3-adultos
5.4-outros animais
G
Nenhum
Raro
Moderado
Com frequência
Fr
%
Fr
%
Fr
%
Fr
%
M
3
7,9
5
13,2
4
10,5
26
68,4
F
6
20,7
2
6,9
2
6,9
19
65,5
M
5
13,2
6
15,8
10
26,3
17
44,7
F
4
13,8
3
10,3
4
13,8
18
62,1
M
0
0,0
0
0,0
3
7,9
35
92,1
F
0
0,0
0
0,0
3
10,3
26
89,7
M
8
21,1
10
26,3
3
7,9
17
44,7
F
10
34,5
12
41,4
2
6,9
5
17,2
Nota: as diferenças entre género não foram estatisticamente significativas; M- machos;
F- fêmeas.
95
- No que diz respeito ao contacto dos cães com crianças, verificou-se que este foi
frequente em 44,7% dos machos e 62,1% das fêmeas, embora estas diferenças não
atingissem o nível de significância (Anexo VII.4.8);
- Quanto ao contacto com adultos este foi mais evidente relativamente às
situações anteriores já que 92,1% dos machos e 89,7% das fêmeas tiveram um
contacto muito frequente (p> 0,05; Anexo VII.4.9). Estes valores são perfeitamente
espectáveis uma vez que os donos dos animais são normalmente pessoas adultas e
como tal, é com eles que os cães irão socializar mais. Acresce ainda o facto de os
inquiridos poderem ter entendido esta questão direccionada para todos os adultos,
independentemente de pertencerem ou não ao ambiente familiar;
- Comparando machos e fêmeas quanto à socialização com outros animais
verificou-se que, no que respeita à classe “com frequência”, os primeiros
apresentaram valores superiores (44,7% vs. 17,2%). No entanto, houve uma
distribuição bastante uniforme dos animais pelas restantes classes (p> 0,05; Anexo
VII.4.10).
A partir dos resultados apresentados no Quadro 4 constatou-se que, no geral, o
Barbado estava bem socializado com adultos e em menor grau com crianças. Tal
facto, poderá dever-se à ausência destas em alguns agregados familiares e,
eventualmente, ao pouco contacto com outras crianças.
Relativamente à socialização com outros cães, verificou-se que a maioria dos
Barbados mantinha frequentemente contacto com indivíduos da mesma espécie.
Contudo, a socialização com outros animais foi menor, principalmente nas fêmeas,
embora sem significância estatística. Assim, as diferenças observadas com esta
amostra poderão dever-se à influência do dono durante o período de socialização.
Quanto à acção de brincar com o cão constatou-se que 95,5% dos donos têm por
hábito fazê-lo e que nos agregados familiares com crianças, esta é realizada por 78%
delas. Relativamente à existência de brinquedos verificou-se que 48,3% das fêmeas
possuíam-nos, bem como 34,2% dos machos. No entanto, esta diferença não se
revelou significativa (Anexo VII.4.11). Estas situações poderão ser indicativas de
que os donos tentam estabelecer uma relação próxima com os seus animais,
evidenciando, mais uma vez, a forte aptidão do Barbado para animal de companhia.
O facto de estes possuírem brinquedos, embora não sendo a maioria, significa que os
donos se preocupam em lhes proporcionar entretenimento que contribua para o seu
bem-estar.
96
No que diz respeito ao treino de obediência, constatou-se que 23,7% dos machos
e 48,3% das fêmeas tiveram-no (Quadro 5), sendo as diferenças significativas
(Anexo VII.4.12).
Quadro 5- Distribuição de frequências referente ao treino de obediência do cão Barbado (questão 8),
em machos (M) e fêmeas (F).
8- O seu cão teve treino de obediência (senta, deita, fica)?
Pontuação
Género
Sim
Não
Frequência
%
Frequência
%
M
9
23,7
29
76,3
F
14
48,3
15
51,7
Nota: as diferenças entre género não foram estatisticamente significativas.
Assim sendo, parece verificar-se que as fêmeas têm mais treino de obediência do
que os machos. À priori, não existirá nenhum motivo forte para que isso aconteça.
Não parece existir uma separação evidente entre machos e fêmeas na aptidão, que
justificasse maior ou menor treino, entre outros factores que pudessem justificar esta
aparente diferença. Poderia, eventualmente, pensar-se que as fêmeas fossem mais
fáceis de educar, por serem, à partida, menos dominantes, e como tal, suscitarem
mais interesse nos donos em as treinar.
Quanto ao espaço onde os cães Barbados passam a maior parte do tempo,
verificou-se que 38,7% destes viviam à solta no jardim, 28,4% num canil no jardim e
22,4% à solta numa quinta. Os restantes encontravam-se amarrados no jardim (3%),
à solta dentro de casa (1,5%), na garagem (3%) e à solta no pátio de casa (3%).
No que diz respeito a andar à trela, verificou-se que 43,3% destes cães não
estavam habituados, possivelmente, por os seus donos não acharem necessidade de
os passear dado passarem muito do seu tempo à solta, como referido no parágrafo
anterior.
Relativamente ao tempo que o animal passava sozinho, sem pessoas, durante a
semana de trabalho (Quadro 6), constatou-se que 21,1% dos machos permaneciam
nesta situação de 9-12h ou mais, enquanto o mesmo só se verificou em 6,9% das
fêmeas. No entanto, 75,9% destas permaneciam sozinhas entre 4-8h, sendo essa
97
percentagem inferior nos machos (42,1%). Contudo, estas diferenças não se
revelaram significativas (Anexo VII.4.13).
Quadro 6- Distribuição de frequências (Fr) referente ao tempo diário que o Barbado permanece
sozinho, durante a semana de trabalho (questão 11), em machos (M) e fêmeas (F).
11- Quanto tempo o seu cão fica sozinho (h diárias), sem pessoas, durante a semana de
trabalho?
Pontuação
Género
Nunca
1-3h
4-8h
9-12h
+ 12h
Fr
%
Fr
%
Fr
%
Fr
%
Fr
%
M
3
7,9
11
28,9
16
42,1
6
15,8
2
5,3
F
1
3,4
4
13,8
22
75,9
2
6,9
0
0,0
Nota: as diferenças entre género não foram estatisticamente significativas.
Durante o tempo em que o animal permanecia sozinho foi possível verificar que
44,7% dos animais ficavam à solta no jardim; 22,4% permaneciam num canil, no
jardim; 20,9% encontravam-se à solta numa quinta e os restantes ficavam amarrados
no jardim (4,5%), na garagem (4,5%), numa jaula dentro de casa (1,5%) e à solta no
pátio (1,5%). Comparando estes dados com os anteriores relativamente ao local onde
o animal passava a maior parte do tempo, foi possível verificar que houve um
aumento do número de animais que ficava à solta no jardim, talvez pela função que
alguns Barbados exercem de guarda da propriedade.
Analisando o Quadro 7, no que diz respeito ao contacto social que os cães
mantinham após atingir a maturidade social ou parte desta, foi possível tirar algumas
ilações:
- Constatou-se que ambos os géneros evidenciavam um contacto frequente com
outros cães, de forma muito semelhante (Anexo VII.4.14). Este facto poderá, uma
vez mais, dizer respeito à relação que eles mantinham com animais que coabitavam
com eles e não propriamente com cães estranhos. Após o período de socialização
verificou-se um ligeiro decréscimo na proporção de Barbados que contactavam
frequentemente com outros cães, possivelmente por já não estarem na ninhada ou por
falta de oportunidade de socialização.
- No que concerne ao contacto com crianças os dados sugerem que as fêmeas
estabeleceram mais contacto do que os machos (51,7% vs.34,2%, na classe “com
98
frequência”), não obstante, as diferenças não terem atingido o nível de significância
estatística (Anexo VII.4.15). Tal facto, de entre várias razões, pode ser justificado
por as pessoas considerarem as cadelas menos agressivas, de acordo com Podberscek
& Serpell (1996) e como tal mais adequadas ao trato com crianças. Paralelamente ao
que se verificou no contacto com outros cães parece existir uma diminuição do
contacto com crianças após o período de socialização, o que poderá justificar-se por
existir uma maior apetência das crianças pelos cães enquanto cachorros.
Quadro 7- Distribuição de frequências (Fr) referente ao contacto social do Barbado após a maturidade
social (questão 13), nos dois géneros (G).
13- Que tipo de contacto tem o seu cão agora, com:
Pontuação
Questão
13.1-outros cães
13.2- crianças
13.3-adultos
13.4-outros animais
G
Nenhum
Raro
Moderado
Com frequência
Fr
%
Fr
%
Fr
%
Fr
%
M
4
10,5
7
18,4
5
13,2
22
57,9
F
3
10,3
6
20,7
3
10,3
17
58,6
M
5
13,2
8
21,1
12
31,6
13
34,2
F
3
10,3
6
20,7
5
17,2
15
51,7
M
0
0,0
1
2,6
2
5,3
35
92,1
F
0
0,0
1
3,4
4
13,8
24
82,8
M
9
23,7
7
18,4
5
13,2
17
44,7
F
9
31,0
10
34,5
1
3,4
9
31,0
Nota: as diferenças entre género não foram estatisticamente significativas; M- machos;
F- fêmeas.
- Quanto à socialização do Barbado com adultos verificou-se que ambos os sexos
contactavam frequentemente com eles, embora esta situação possa ser relativa aos
donos e não propriamente a desconhecidos, à semelhança do que fora referido na
questão 5.3 do Quadro 4. Tal como no parágrafo anterior, parece existir uma ligeira
diminuição do contacto com adultos, comparativamente ao período de socialização,
podendo dever-se ao facto de os donos considerarem que estes já não necessitam de
tantos cuidados. Não foram verificadas diferenças estatísticas entre sexos (Anexo
VII.4.16).
- O contacto com outros animais, de forma semelhante ao período de
socialização, parece ser maior em machos do que em fêmeas, já que na classe “com
99
frequência” estes estão mais representados, embora as diferenças não tivessem sido
significativas (Anexo VII.4.17). As fêmeas, após o período de socialização,
apresentaram um aumento do contacto com outros animais (17,2%- quadro 4 para
31% na classe “com frequência”), enquanto os valores para os machos se
mantiveram praticamente constantes (44,7%, na classe “com frequência”), embora
sempre superiores aos das fêmeas.
4.1.3- Higiene
Quanto à escovagem foi possível aferir que 77,6% dos donos executavam esta
acção, variando a frequência da mesma, de uma vez por mês (32,7%), uma vez por
semana (25%), uma vez de 15 em 15 dias (23,1%), 2 a 3 vezes por semana (13,5%),
diariamente (1,9%), 2 vezes por ano (1,9%) e 3 vezes por ano (1,9%).
No que diz respeito à tosquia verificou-se que é uma prática comum tendo em
conta que 92,5% dos donos alegaram que o seu cão era tosquiado. No entanto, a
frequência variou, em que 72,6% o fazia 1 vez por ano, 25,8%, 2 vezes por ano e
1,6%, 3 vezes por ano.
Relativamente ao corte de unhas a maioria não tinha esse cuidado, porque apenas
23,9% dos donos o fazia. Estes podem considerar este acto como algo prescindível
na higiene do animal, talvez por a maioria dos Barbados estarem soltos no exterior de
casa, o que justificaria esta falta de hábito.
Quanto ao darem banho ao cão, 77,6% alegaram que o faziam, maioritariamente
com a frequência de 4 em 4 meses (22,6%), e de 6 em 6 meses (22,6%). No entanto,
ainda existem aqueles que o realizavam de 2 em 2 meses (15,1%), 1 vez por mês
(15,1%), 1 vez por ano (13,2%), 1 vez por semana (3,8%), de 3 em 3 meses (3,8%) e
de 15 em 15 dias (3,8%).
Os animais deverão ser habituados desde que são adquiridos, a serem
manipulados perante questões de higiene e estado sanitário, por forma a prevenir,
futuramente, uma possível aversão às mesmas e o desenvolvimento de problemas
comportamentais. Segundo Fox (1978) a estimulação física pode ter efeitos
marcantes no desenvolvimento físico e comportamental dos cachorros, tornando-os
mais confiantes e socialmente dominantes. Assim, é importante a obtenção deste tipo
de informação, pelo que ao se questionar os donos dos cães Barbados, se verificou
que 64,2% destes habituaram o seu animal aos cuidados de higiene, desde que o
100
adquiriram. Sendo uma percentagem aceitável, supõe-se que mesmo assim devesse
ser superior, o que poderá denotar algum desconhecimento por parte dos donos da
importância desta acção.
4.1.4- Estado Sanitário
No que diz respeito ao estado sanitário dos Barbados foi possível verificar que
92,5% dos donos os acompanhava ao veterinário, variando a frequência desta acção
pois 67,7% levava 1 vez por ano, 22,6%, 2 vezes por ano, 6,5%, 3 a 4 vezes por ano
e 3,2% mais de 4 vezes por ano. Embora a maioria dos Barbados fosse ao
veterinário, esta situação não ocorria muito frequentemente, pelo que segundo Fatjó
& Manteca (2003) animais pouco socializados, ou com tendência a serem medrosos
podem desenvolver agressividade neste tipo de situações, dificultando o seu próprio
maneio.
4.2- Canine Behavioral Assessment & Research Questionnaire (CBARQ)
4.2.1- Avaliação da personalidade do Barbado
4.2.1.1- Sociabilidade
4.2.1.1.1- Sociabilidade com pessoas estranhas
Na sociabilidade com pessoas estranhas (Quadro 8) não foram detectadas
diferenças significativas, entre machos e fêmeas, em nenhuma das questões abaixo
apresentadas. No que diz respeito à abordagem por um adulto (Q10) ou uma criança
desconhecida (Q11) ao cão, enquanto este passeava ou se exercitava com trela e
coleira, verificou-se que a maioria dos Barbados não fora agressiva nem evidenciara
medo ou ansiedade (Q36, Q37), visto que pelo menos 50% dos donos assim o
referiram.
Por sua vez, se a abordagem fosse realizada por um desconhecido, mas
direccionada ao dono ou outro membro da família do cão, fora de casa (Q16), notouse que apesar de grande parte dos animais não ter demonstrado agressividade (47,4%
dos machos e 65,5% das fêmeas) esta foi superior àquelas anteriormente referidas.
101
Assim, constatou-se que embora com fraca intensidade, os Barbados mostraram mais
agressividade perante a abordagem de uma pessoa estranha ao dono, seguindo-se a
de um adulto desconhecido ao cão e posteriormente a de uma criança.
Quadro 8- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q), referentes à sociabilidade com
pessoas estranhas (SPE), pelas várias classes de frequências, em machos (M) e fêmeas (F).
Q
10
11
12
15
16
ADPE
18
20
21
22
SPE
28
36
37
MDPE
39
40
Género
0
1
2
3
4
NR
M
50,0
21,1
5,3
5,3
2,6
15,8
F
72,4
17,2
3,4
3,4
0,0
3,4
M
55,3
21,1
2,6
5,3
0,0
15,8
F
75,9
13,8
6,9
0,0
0,0
3,4
M
31,6
23,7
10,5
13,2
5,3
15,8
F
48,3
31,0
10,3
3,4
0,0
6,9
M
47,4
31,6
7,9
5,3
5,3
2,6
F
65,5
17,2
13,8
3,4
0,0
0,0
M
47,4
23,7
13,2
5,3
5,3
5,3
F
65,5
24,1
6,9
3,4
0,0
0,0
M
10,5
21,1
28,9
13,2
18,4
7,9
F
17,2
37,9
24,1
13,8
6,9
0,0
M
13,2
7,9
34,2
23,7
15,8
5,3
F
17,2
20,7
27,6
20,7
13,8
0,0
M
50,0
13,2
7,9
13,2
5,3
10,5
F
62,1
27,6
10,3
0,0
0,0
0,0
M
10,5
21,1
28,9
18,4
13,2
7,9
F
17,2
31,0
34,5
10,3
6,9
0,0
M
28,9
21,1
21,1
15,8
13,2
0,0
F
44,8
24,1
17,2
13,8
0,0
0,0
M
57,9
10,5
13,2
7,9
2,6
7,9
F
75,9
13,8
3,4
6,9
0,0
0,0
M
65,8
15,8
5,3
2,6
0,0
10,5
F
75,9
20,7
0,0
3,4
0,0
0,0
M
76,3
15,8
5,3
0,0
0,0
2,6
F
86,2
10,3
0,0
3,4
0,0
0,0
M
78,9
7,9
2,6
2,6
2,6
5,3
F
82,8
10,3
3,4
0,0
3,4
0,0
p
0,754
0,416
0,397
0,390
0,632
0,437
0,674
0,117
0,685
0,274
0,581
0,794
0,477
1,000
Nota: ADPE- agressividade direccionada a pessoas estranhas; MDPE- medo direccionado a
pessoas estranhas; NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
102
Quando um cão é abordado por uma pessoa desconhecida, podendo ser ou não
uma criança, mesmo que fora do seu território, a manifestação de agressividade
poderá dever-se a uma questão territorial (O’Farrell, 1992). Isto porque o animal
considera que aquele indivíduo está a invadir um espaço que ele ocupa ou que lhe
pertence, como a casa ou o carro (Alvarez, 1993), ou está aproximar-se demais de
alguém que lhe é chegado, como o dono (O’Farrell, 1992). Além disso, poderá
também ser motivada pelo medo que o animal sente dessa aproximação.
Tendo em conta os resultados anteriores verifica-se que a grande maioria dos
cães Barbados não evidenciou agressão em contextos de aproximação de estranhos
(adultos, crianças) aquando em passeio com alguém que lhe é próximo, mesmo que
esta acção fosse direccionada ao dono. Da mesma forma, maioritariamente, não
demonstraram medo naquelas situações, pelo que quando acompanhados pelos donos
demonstraram ser animais estáveis, talvez devido a algum controlo exercido por
aqueles. Esta quase ausência de agressão poderá dever-se ao contacto
maioritariamente frequente dos Barbados com adultos e crianças conforme já havia
sido referido.
Quando uma pessoa desconhecida visitava a casa do dono (Q28), verificou-se
uma grande dispersão das respostas pelas diferentes classes de frequência. Assim,
relativamente à ausência de agressão constatou-se que os machos apresentaram uma
percentagem de 28,9% e as fêmeas de 44,8%, verificando-se valores percentuais
superiores nos primeiros em quase todas as restantes classes. Relativamente ao medo
ou ansiedade nesta situação (Q39) constatou-se que maioritariamente os cães não o
sentiram (machos-76,3%; fêmeas-86,2%,na classe 0).
A abordagem de um desconhecido ao dono ou outro membro da família dentro de
casa (Q15), não despertou agressão em grande parte dos cães. De forma semelhante
ao anterior, se uma pessoa desconhecida tentasse tocar no cão (Q21, Q40), verificouse que 50% dos machos e 62,1% das fêmeas não evidenciaram agressão, nem medo
(78,9% dos machos e 82,8% das fêmeas, na classe 0).
A visita de um desconhecido a casa do dono, e aproximação a este, pode suscitar
agressividade no cão (O’Farrell, 1992; Alvarez, 1993). Tendo em conta esta situação
e o facto de os animais não terem manifestado medo aquando da visita dos
desconhecidos a casa, pode deduzir-se que a possível agressividade verificada se
deva exclusivamente à defesa do território, o que parece ser mais evidente em
machos do que em fêmeas, tal como Reisner (1995a) demonstrou. Na situação de
103
aproximação ao dono, a agressividade manifestada pelo animal poderá não ser
superior devido a um controlo do dono sobre o animal, impedindo-o de reagir de uma
forma extrema.
Quanto à possível agressividade manifestada pelo cão aquando da tentativa de
um desconhecido em tocar-lhe será provavelmente motivada por uma componente de
dominância (Reisner, 1995a). Esta situação pareceu evidenciar-se mais em machos,
tal como Beaver (1999) enunciou, não obstante as diferenças não terem sido
significativas.
Relativamente à aproximação de uma pessoa desconhecida quando o animal se
encontrava dentro do carro (Q12), foi possível notar-se que há uma maior
distribuição das respostas pelas várias classes, principalmente nos machos, sendo
notória a ausência de elevados níveis de agressão em ambos os sexos.
Em situações em que carteiros ou distribuidores se aproximavam de casa do dono
do cão (Q18) verificou-se uma grande homogeneidade na distribuição das respostas
pelas várias classes. No entanto, na classe máxima correspondente à maior
agressividade constatou-se que os machos apresentaram um valor superior (18,4%)
em detrimento das fêmeas (6,9%).
Quando o animal estava na área externa da casa ou no jardim e passavam
estranhos pelos mesmos (Q20), verificou-se que 15,8% dos machos e 13,8% das
fêmeas revelaram extrema agressividade, sendo a classe 2 a mais representada. À
semelhança da situação anterior, e ao invés de todas as outras, quando passavam
corredores ou ciclistas pela casa do dono, enquanto o cão estava nos redutos da
mesma (Q22), houve alguma tendência para ambos os sexos manifestarem
agressividade séria (13,2% para os machos e 6,9% para as fêmeas, na classe 4).
A passagem dos ciclistas ou corredores neste tipo de situação pode ser um
estímulo que desencadeie agressividade predatória no cão, mais evidente em raças de
pastoreio (Beaver, 1999). Segundo os dados obtidos pareceu verificar-se uma maior
agressividade nos machos, tal como foi mencionado por O’Farrell (1992), sem, no
entanto, existir diferenças com significância estatística.
A agressividade territorial parecia mais evidente quando o estranho era alguém
que recorrentemente invadia o espaço do cão, como carteiros e distribuidores
(O’Farrell, 1992), e quando se tratava da casa como território e não tanto como com
o carro. Este comportamento provavelmente decorreu fruto de os animais serem mais
utilizados na função de companhia, e como tal terem pouco contacto com os
104
veículos, e por isso, não os considerarem tanto como sua propriedade. Embora as
diferenças não tenham sido significativas, pareceu notar-se maior agressividade
territorial nos machos do que nas fêmeas, devido às maiores concentrações de
respostas nas classes mais elevadas, o que estaria de acordo com Reisner (1995a).
Outro motivo para o aparecimento de agressão nos contextos acima referidos
poderá dever-se ao facto de alguns Barbados terem sido adquiridos pelos donos com
o objectivo de guardarem as suas propriedades.
Isto iria de encontro com Jagoe & Serpell (1996) quando enunciaram que cães
adquiridos para protecção, em detrimento dos outros, mostraram uma ocorrência
significativamente maior de agressividade territorial, por esta ter sido activamente
seleccionada. De forma semelhante, Hsu & Sun (2010) descobriram que os cães com
essa aptidão evidenciaram maior hostilidade perante estranhos do que outros com
funções diferentes. É provável que as pessoas que adquiriram cães de guarda fossem
mais propensas a incentivar ou reforçar sinais de comportamento territorial (Jagoe &
Serpell,1996; Hsu & Sun,2010).
O facto de a maioria dos Barbados se encontrarem soltos nos redutos da casa,
implicava que fossem mais frequentemente expostos a pessoas e animais
desconhecidos que passavam pela propriedade, levando segundo Hsu & Sun (2010) a
um despoletar da agressividade territorial. Um sintoma patognomónico desta é o
facto de os cães quando fora do seu território e perante outras pessoas e cães,
evidenciarem pouca ou nenhuma hostilidade (Overall,1997). Seguindo esta
afirmação verificou-se que alguns cães Barbados aqui representados evidenciaram
agressividade territorial.
4.2.1.1.2- Sociabilidade com animais
Relativamente à sociabilidade com animais (Quadro 9) constatou-se que quando
o Barbado era abordado directamente por um cão macho desconhecido, enquanto
passeava ou exercitava com trela e coleira (Q23), os machos apresentaram-se mais
agressivos do que as fêmeas. Esta diferença foi estatisticamente significativa (p
<0,05), devendo, também, ter-se em conta que 13,2% dos donos dos machos não
responderam ao invés dos 3,4% das fêmeas.
105
Quadro 9- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q), referentes à sociabilidade com
animais, pelas várias classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q Género
23
24
ADCE
26
29
SCE
45
46
MDCE
53
54
32
33
SCMC
ADCMC
34
35
SOEA
ADOEA 27
0
1
2
3
4
NR
M
23,7
5,3
13,2
28,9
15,8
13,2
F
27,6
27,6
31,0
6,9
3,4
3,4
M
31,6
13,2
13,2
15,8
2,6
23,7
F
37,9
27,6
20,7
6,9
3,4
3,4
M
13,2
2,6
23,7
21,1
26,3
13,2
F
24,1
17,2
24,1
24,1
6,9
3,4
M
2,6
10,5
10,5
34,2
34,2
7,9
F
13,8
31,0
31,0
20,7
3,4
0,0
M
60,5
21,1
10,5
2,6
2,6
2,6
F
55,2
24,1
17,2
0,0
3,4
0,0
M
73,7
15,8
5,3
2,6
0,0
2,6
F
65,5
17,2
10,3
3,4
3,4
0,0
M
60,5
10,5
7,9
2,6
0,0
18,4
F
69,0
17,2
10,3
0,0
3,4
0,0
M
60,5
18,4
5,3
2,6
2,6
10,5
F
65,5
10,3
17,2
3,4
3,4
0,0
M
36,8
13,2
15,8
10,5
0,0
23,7
F
62,1
10,3
3,4
0,0
3,4
20,7
M
28,9
21,1
15,8
5,3
5,3
23,7
F
51,7
24,1
3,4
0,0
0,0
20,7
M
15,8
13,2
18,4
18,4
10,5
23,7
F
37,9
24,1
6,9
6,9
3,4
20,7
M
18,4
23,7
18,4
7,9
7,9
23,7
F
20,7
37,9
17,2
0,0
3,4
20,7
M
10,5
7,9
15,8
23,7
39,5
2,6
F
6,9
6,9
27,6
31,0
27,6
0,0
p
0,006
0,615
0,081
0,001
0,920
0,824
0,907
0,568
0,049
0,104
0,080
0,505
0,683
Nota: SCE- sociabilidade com cães estranhos; SCMC- sociabilidade com cães da mesma casa;
SOEA- sociabilidade com outras espécies de animais; ADCE- agressividade direccionada a cães
estranhos; MDCE- medo direccionado a cães estranhos; ADCMC- agressividade direccionada a cães
da mesma casa; ADOEA- agressividade direccionada a outras espécies de animais; NR- percentagem
de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
Se esta abordagem fosse feita por uma cadela desconhecida (Q24) observou-se
que maioritariamente, quer machos, quer fêmeas, não demonstraram agressividade
106
(p> 0,05). Outro facto a ter em atenção é a elevada percentagem de donos de cães
machos (23,7%) que não responderam à questão, em detrimento dos das fêmeas
(3,4%).
A abordagem de um cão desconhecido do mesmo tamanho, maior (Q45) ou
menor (Q46) do que o cão Barbado, não suscitou medo na maioria dos animais, tanto
machos como fêmeas, tendo em conta as elevadas percentagens da classe 0. Houve
grande uniformidade de distribuição das respostas pelas várias classes (p> 0,05).
Quando um cão desconhecido latia, rosnava ou mostrava os dentes ao Barbado
(Q29), verificou-se que os machos (34,2%) se apresentaram mais agressivos do que
as fêmeas (3,4%), sendo as diferenças estatisticamente significativas. Perante esta
situação não se verificou medo (Q54) na maioria dos cães, uma vez que 60,5% dos
machos e 65,5% das fêmeas não o evidenciou (p> 0,05).
Quando cães desconhecidos visitavam a casa do dono (Q26) observou-se que a
maioria dos animais se sentiram desconfortáveis com essa situação demonstrando
agressão, que parecia ser mais evidente em machos (26,3%) do que em fêmeas
(6,9%). No entanto, as diferenças não atingiram o nível de significância. A avaliação
do medo perante a mesma situação (Q53) evidenciada acima permitiu notar que, no
geral, tanto machos como fêmeas não demonstraram medo (p> 0,05).
Assim, constatou-se que maioritariamente os Barbados não apresentaram
agressão ou medo perante a abordagem de cães desconhecidos, independentemente
do género ou tamanho. Isto poderá dever-se ao contacto frequente dos Barbados com
outros cães quer no momento presente, quer durante o período de socialização.
Contudo, considerando aqueles que o evidenciaram verificou-se que os machos se
apresentaram mais agressivos do que as fêmeas aquando da presença de outro
macho, não se tendo observado o mesmo com as fêmeas na presença de outras.
Assim, parece notar-se que os machos são mais propensos a manifestar agressividade
intraespecífica do que as fêmeas, tal como Beaver (1999) referiu. Esta agressividade
não será motivada por medo, mas talvez por algum conflito que o cão Barbado sinta
aquando a aproximação do outro, ou por uma questão territorial, devido à defesa do
dono que o acompanha.
Constatou-se que quando a abordagem de um cão desconhecido era ameaçadora,
os machos apresentavam-se mais agressivos do que as fêmeas. No caso de esta
agressão não ser motivada por medo poderá tratar-se de uma questão de dominância.
107
Segundo Beaver (1999), os machos têm tendência a serem mais dominantes do que
as fêmeas, o que pode justificar a maior agressividade acima referida.
Aquando da visita de um cão desconhecido a casa do dono, notou-se que a
maioria dos animais evidenciaram agressão, e que não se devendo maioritariamente a
factores de medo, poderá prender-se com um motivo territorial, pelo facto de um
animal desconhecido invadir aquele que é considerado pelo Barbado como o seu
espaço que deverá proteger.
Relativamente ao comportamento do cão para com outro residente na mesma
casa (Q32) verificou-se que a maioria dos animais não demonstrou agressão, sendo
esta ausência mais evidente nas fêmeas (62,1% vs. 36,8% dos machos; p < 0,05).
Quando outro cão da casa se aproximava de um lugar de descanso favorito dos
cães Barbados (Q33) constatou-se que, no geral, estes não revelaram agressão
(machos, 28,9%; fêmeas, 51,7%, classe 0). Apesar de haver uma maior concentração
de respostas, nos machos nas classes de frequência mais elevada, as diferenças entre
género não atingiram o nível de significância.
Se a aproximação do outro cão acontecesse quando o Barbado se estava a
alimentar (Q34), observou-se que a maioria das fêmeas não demonstrou agressão
(37,9%), e que ocorreu uma grande uniformização das respostas pelas várias classes
nos machos (p> 0,05).
Quando a aproximação de outro cão da mesma casa ocorria no momento em que
o Barbado brincava ou roía um objecto e/ou osso favorito (Q35), verificou-se que a
maioria não demonstrou agressão, não se tendo verificado diferenças significativas
entre géneros.
A agressividade manifestada para com animais que coabitavam na mesma casa,
em situações como a defesa de recursos, comida, objectos favoritos e espaços como o
lugar de descanso preferido, é geralmente motivada por conflitos de dominância,
podendo ser entendido, de acordo com Voith (1992) como uma agressividade por
dominância. Assim, verificou-se maior agressividade por dominância nos machos, de
uma forma geral, o que seria de esperar segundo Beaver (1999). No entanto, perante
contextos específicos, embora parecesse existir uma tendência semelhante ao
referido anteriormente, as diferenças apresentadas não foram estatisticamente
significativas. Comparando os vários estímulos, passíveis de suscitar agressividade
no cão, constatou-se que esta foi superior perante a comida como recurso. Pelo facto
de alguns animais serem o único cão em casa, como é evidente, os seus donos não
108
responderam às questões colocadas. No entanto, tendo em conta a proximidade do
número de donos de machos (23,7%) e fêmeas (20,7%) que não o fizeram, não se
considerou ter havido influência destes nos restantes resultados.
Quando gatos, ratos ou outros animais entravam no quintal ou área externa onde
o Barbado estava (Q27), constatou-se que a maioria demonstrou agressividade séria
(39,5%, machos; 27,6%, fêmeas, classe 4). Apesar de o contacto anterior dos
Barbados com outros animais ter sido frequente em alguns, noutros foi ausente, pelo
que poderá justificar alguma desta agressão. Este tipo de agressividade é designado
de predatória, uma vez que o estímulo que desencadeia o comportamento de
perseguição é, geralmente, algo que se move muito rapidamente, sendo os coelhos,
aves e gatos alvos muito comuns (O’Farrell, 1992). Assim, estes animais ao
aperceberem-se do perigo tentarão fugir com medo e isso será o estímulo suficiente
para despoletar agressividade no cão. Estes resultados parecem estar de encontro
com Beaver (1999), ao afirmar que este tipo de agressividade é mais comum em
determinadas raças, nomeadamente, de pastoreio. Embora a maioria dos Barbados
neste estudo tenha sido adquirida pela função de companhia, segundo King et al.
(2012) o comportamento é hereditário. Apesar de 35,1% dos Barbados conviverem
com gatos, esta percentagem é muito baixa e não implica que aquando a invasão do
seu território por eles não reajam de forma agressiva. Não foram verificadas
diferenças significativas entre géneros.
4.2.1.2- Coragem
A coragem aqui determinada apenas engloba situações relacionadas com o medo
não social (Quadro 10).
A maioria dos cães não apresentou um medo extremo aos sons altos e súbitos,
nomeadamente, foguetes, aspiradores (Q38), tempestades e fogo-de-artifício (Q44),
uma vez que a maior concentração de respostas se encontrava nas classes de
intensidade mais baixa.
No que concerne à resposta dos animais perante objectos desconhecidos perto
deles, como sacos plásticos, folhas, latas (Q42) ou objectos que “produzem vento”
como ventiladores, secadores (Q48), notou-se que a maioria não evidenciou medo.
Objectos como secadores são, geralmente, associados a situações relacionadas com a
higiene do cão ou das pessoas. Tendo em conta que a maioria dos Barbados passava
109
o seu tempo nos redutos da casa e tomava banho com pouca frequência, seria de
esperar não terem muito contacto com estes objectos e, por isso, haver medo
associado. No entanto, foi interessante constatar que isso não aconteceu no geral. O
facto de 64,2% dos donos terem habituado os seus animais, desde que os adquiriram,
à manipulação perante cuidados de higiene poderá ter contribuído para isso.
Quadro 10- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q), referentes à coragem (C) pelas
várias classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q
Género
0
1
2
3
4
NR
M
26,3
31,6
23,7
13,2
2,6
2,6
F
34,5
17,2
24,1
20,7
3,4
0,0
M
34,2
28,9
21,1
7,9
5,3
2,6
F
41,4
24,1
6,9
27,6
0,0
0,0
M
63,2
26,3
7,9
2,6
0,0
0,0
F
79,3
13,8
0,0
3,4
0,0
3,4
M
65,8
21,1
10,5
0,0
0,0
2,6
F
51,7
37,9
3,4
0,0
3,4
3,4
M
47,4
7,9
2,6
0,0
0,0
42,1
F
79,3
10,3
3,4
0,0
0,0
6,9
M
42,1
23,7
18,4
7,9
2,6
5,3
F
37,9
24,1
24,1
10,3
0,0
3,4
38
So
44
42
C MNS Ob
48
41
Si
47
p
0,682
0,099
0,250
0,171
1,000
0,980
Nota: MNS- medo não social; So-sons; Ob- objectos; Si- situações; NR- percentagem de donos
que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
Perante uma situação de engarrafamento de tráfego, em que os Barbados se
encontravam dentro do carro (Q41), pareceu notar-se (maior concentração de
respostas na classe mais baixa) que as fêmeas teriam menos medo. No entanto, deve
ter-se em conta a elevada percentagem de donos de cães machos que não
responderam (42,1%), comparativamente aos de fêmeas (6,9%). Esta situação poderá
estar relacionada com o facto de existirem poucos engarrafamentos de trânsito
intenso na ilha Terceira.
Quanto a situações desconhecidas como a primeira visita ao veterinário e a
primeira viagem de carro (Q47), os animais, no geral, não demonstraram possuir
medo. Embora a primeira visita ao veterinário implique contacto com pessoas
desconhecidas, logo alguma sociabilidade, o mesmo não se verifica com a primeira
110
viagem de carro. Assim, apesar de parte desta questão estar relacionada com um
medo social, a outra poderá não estar e assim torna-se complicado distinguir e
separar as duas vertentes. Por esse motivo e porque o estímulo essencial aqui referido
prende-se com a resposta do animal perante novas situações, podendo estas serem
sociais ou não, optou-se por colocar a questão neste grupo.
O medo não social permite observar as respostas dos animais perante diversos
estímulos não sociais (King et al., 2003; Svartberg, 2007), aos quais podem estar ou
não habituados. No geral, os cães Barbados em estudo, perante situações não sociais,
não apresentaram medo. No entanto, isto por si só não permite afirmar a coragem de
um animal, uma vez que esta implica a manifestação de um comportamento arriscado
numa determinada situação (Budaev,2000 citado por Gosling, 2001), mesmo que
possua medo. Assim, seria necessário obter mais informações relativamente à
capacidade de exploração dos animais, pois estes poderão não ter medo mas também
não serem capazes de avançar e explorar os estímulos.
Comparando as questões anteriores pareceu existir uma maior sensibilidade dos
Barbados perante os sons estranhos, altos e súbitos do que em relação a objectos ou
situações estranhas, tendo em conta a maior concentração de respostas nas classes
superiores.
Segundo Svartberg (2006), a razão de aquisição do cão pelo dono poderá
determinar o grau de coragem e timidez. Ou seja, cães corajosos são desejados para o
desempenho de trabalho, enquanto cães menos corajosos, mas não tímidos, serão
mais fáceis de lidar como cães de companhia. Isto porque, de acordo com Verbeek et
al. (1996), indivíduos com pouco medo, eram mais passíveis de ganhar concursos,
tornarem-se dominantes e terem maiores capacidades competitivas. Svartberg (2003)
enunciou que a selecção de cães para exposições caninas parecia estar relacionada
com um aumento do medo social e não social. Contudo, o Barbado não parece,
ainda, correr esse risco, pois a maioria não é adquirida para efeitos de concurso.
Wilsson & Sundgren (1997) concluíram que os cães machos tiveram pontuações
mais elevadas do que as fêmeas para a coragem, no seu estudo. No entanto, no
presente estudo, não houve diferenças significativas entre sexos em nenhum dos
parâmetros em questão, apesar de ter existido alguma discrepância em determinadas
situações.
111
De acordo com Fuchs et al. (2005), o treino dos cães numa idade precoce estava
associado com uma maior autoconfiança e coragem. Desconhece-se com que idade
os cães Barbados em estudo começaram a ser treinados, pelo que não se pode
determinar este tipo de influência.
4.2.1.3- Vinculação e comportamento de procura de atenção
Quanto à vinculação e comportamento de procura de atenção (Quadro 11), não
foram verificadas diferenças significativas entre machos e fêmeas em nenhuma das
situações. Constatou-se que o cão Barbado desenvolvia um vínculo muito forte com
um membro da família (Q69) em particular, e esse parecia ser mais evidente nas
fêmeas (51,7% vs. 42,1%, na classe 4).
Quadro 11- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes à vinculação (V) e
comportamento de procura de atenção (CPA), pelas várias classes de frequência, em machos (M) e
fêmeas (F).
Q Género
69
V
70
71
72
CPA 73
74
0
1
2
3
4
NR
M
2,6
5,3
5,3
44,7
42,1
0,0
F
3,4
0,0
3,4
41,4
51,7
0,0
M
13,2
7,9
18,4
23,7
34,2
2,6
F
20,7
0,0
6,9
37,9
31,0
3,4
M
2,6
0,0
21,1
36,8
39,5
0,0
F
0,0
3,4
24,1
34,5
37,9
0,0
M
5,3
10,5
31,6
26,3
26,3
0,0
F
3,4
0,0
44,8
24,1
27,6
0,0
M
28,9
28,9
26,3
5,3
7,9
2,6
F
20,7
41,4
27,6
6,9
3,4
0,0
M
10,5
10,5
28,9
21,1
23,7
5,3
F
13,8
10,3
37,9
27,6
10,3
0,0
p
0,829
0,264
0,927
0,450
0,808
0,663
Nota: NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
O vínculo foi evidenciado em várias situações, como seguir sempre a figura de
vínculo ou outros membros da família (Q70) pela casa (34,2% dos machos vs.31%
112
das fêmeas) e tentar sentar-se perto ou em contacto com eles (Q71), quando estavam
sentados (39,5% dos machos e 37,9% das fêmeas, na classe 4).
Relativamente ao comportamento de procura de atenção (Q72) observou-se que a
maioria dos cães só o evidenciava às vezes (classe 2). Se a atenção sobre a forma de
afecto recaísse sobre uma pessoa (Q73), constatou-se que raramente os Barbados
manifestavam agitação (28,9%, machos vs. 41,4%, fêmeas). No entanto, se essa
atenção recaísse sobre outro animal, inclusive outro cão (Q74) a agitação já
aumentava, parecendo ser superior em machos, possivelmente devido ao factor de
dominância.
Esta agitação é consequente à ansiedade do cão ao verificar que a atenção que
pretende ter do dono está a ser desviada para outrem. Alguns chegam a desenvolver
agressão nestes contextos (Beaver, 1999), podendo esta ser diminuída consoante o
nível de treino de obediência aumenta (Jagoe & Serpell,1996).
A procura de atenção e busca de interacção social pelos cães decorre da natureza
social dos mesmos. Segundo Topál et al. (2005) foi a domesticação que predispôs
esses animais a formarem relações de vinculação com os humanos. Quando estas são
muito intensas pode ocorrer o desenvolvimento da designada ansiedade por
separação (Beaver, 1999; King et al., 2000).
4.2.1.4- Comportamento predatório
Constatou-se que os cães Barbados da amostra evidenciaram um comportamento
predatório com diferentes níveis de intensidade, tendo havido alguns que nem o
manifestaram (Quadro 12). Isto porque, verificou-se uma grande uniformização das
respostas dos donos pelas várias classes, relativamente à tentativa de caça a gatos
(Q75), pássaros (Q76) e ratos ou outros animais pequenos (Q77), não se tendo
constatado que a maioria tentasse caçar (p> 0,05).
Comparando o comportamento predatório dos cães perante os diferentes animais
verificou-se uma maior tendência na perseguição de gatos, talvez por estes surgirem
mais
frequentemente
como
invasores
do
território
dos
Barbados.
Este
comportamento evidenciado por estes cães poderá não ser exclusivamente um acto
de agressividade, pois segundo Coppinger & Coppinger (1998) pode ser exibido fora
da sequência predatória em contextos de brincadeira social. A aparente não evidência
de um forte comportamento predatório poderá dever-se à socialização e contacto
113
recente dos Barbados com outros animais ou a uma selecção actual vocacionada para
a função de companhia, uma vez que o comportamento predatório é mais evidente
em raças de pastoreio. No entanto, para avaliá-lo, bem como o desempenho do cão
Barbado na condução de gado, esses animais teriam de ser colocados em situações
reais de trabalho, para a obtenção de dados mais conclusivos. Deverá ter-se em conta
que a maioria dos donos poderá não assistir à maior parte das eventuais perseguições,
pois passam muito tempo do seu dia, fora de casa, a trabalhar, conforme já referido.
Quadro 12- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes ao comportamento
predatório (CP), pelas várias classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q Género
75
CP 76
77
0
1
2
3
4
NR
M
23,7
18,4
28,9
10,5
18,4
0,0
F
17,2
24,1
20,7
20,7
17,2
0,0
M
26,3
23,7
23,7
18,4
7,9
0,0
F
20,7
20,7
27,6
13,8
17,2
0,0
M
23,7
21,1
23,7
18,4
13,2
0,0
F
20,7
17,2
37,9
13,8
10,3
0,0
p
0,703
0,797
0,833
Nota: NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
4.2.1.5- Focalização no treino
Quanto à focalização no treino (Quadro 13) não foram verificadas diferenças
significativas entre sexos. As reacções dos cães, quando chamados pelo dono (Q1),
bem como a facilidade de distracção dos mesmos perante o meio envolvente (Q7),
envolveram questões cujas respostas dos donos foram bastante uniformes entre
géneros.
As fêmeas tenderam, aparentemente, a ser mais obedientes do que os machos
perante a ordem de sentar (Q2) e ficar (Q3) o que seria de esperar uma vez que
tiveram mais treino de obediência. Isto iria de encontro ao estudo de Bennett & Rohlf
(2007), em que os donos de cães que se envolveram em actividades de treino
relataram que estes eram menos desobedientes.
Por sua vez, os machos pareceram demonstrar ser mais atentos ao dono, ao que
este dizia e fazia (Q4), ser menos lentos a responder a punições ou correcções (Q5) e
a aprender novos truques (Q6), sem, no entanto, como já referido, terem existido
114
diferenças com significância estatística. Isto está de acordo com Vas et al. (2007) ao
terem afirmado que a falta de atenção não foi afectada pelo género. Referiram ainda
que os cães podiam ser treinados para estarem atentos, pois a experiência e o treino
individual podiam melhorar as capacidades de atenção.
Quadro 13- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes à focalização no
treino (FT), pelas várias classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q Género
1
2
3
FT 4
5
6
7
0
1
2
3
4
NR
M
0,0
0,0
13,2
52,6
34,2
0,0
F
0,0
3,4
6,9
58,6
31,0
0,0
M
5,3
10,5
26,3
42,1
10,5
5,3
F
0,0
10,3
10,3
51,7
27,6
0,0
M
5,3
15,8
34,2
31,6
7,9
5,3
F
6,9
20,7
27,6
31,0
13,8
0,0
M
0,0
5,3
10,5
31,6
52,6
0,0
F
0,0
3,4
20,7
34,5
41,4
0,0
M
23,7
34,2
34,2
2,6
0,0
5,3
F
10,3
44,8
34,5
10,3
0,0
0,0
M
15,8
34,2
39,5
2,6
0,0
7,9
F
13,8
37,9
34,5
13,8
0,0
0,0
M
5,3
18,4
47,4
21,1
7,9
0,0
F
3,4
20,7
41,4
27,6
6,9
0,0
p
0,621
0,165
0,908
0,635
0,315
0,473
0,968
Nota: NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
No geral, constatou-se que os Barbados revelaram-se cães bastante obedientes,
principalmente perante ordens que conheciam bem, pelo que o treino teve influência.
Foram animais muito atentos e que não se distraíam frequentemente com o ambiente
em redor. Estando de acordo com Ley et al. (2009), quando afirmaram que os cães
de trabalho eram mais concentrados no treino, sendo isso consistente com a herança
documentada desses animais relativamente ao historial de trabalho em estreita
colaboração com os homens. Da mesma forma, já Coppinger & Coppinger (1980)
tinham referido que os cães de pastoreio eram muito receptivos aos comandos do
pastor e possuíam uma rápida capacidade de aprendizagem, tornando-se, por isso,
fáceis de treinar.
115
4.2.1.6- Sensibilidade ao toque
Relativamente à sensibilidade ao toque (Quadro 14), verificou-se uma tendência
para que a maioria dos cães Barbados não evidenciasse medo nas situações
enunciadas. As diferenças entre género não foram significativas. No entanto, a
ausência de medo foi maioritária em determinadas circunstâncias, como o banho,
escovagem (Q50) e o enxugar das patas (Q52).
Quadro 14- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes à sensibilidade ao
toque (ST), pelas várias classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q Género
43
49
ST
50
52
0
1
2
3
4
NR
M
36,8
34,2
15,8
10,5
0,0
2,6
F
41,4
27,6
24,1
0,0
3,4
3,4
M
28,9
5,3
2,6
2,6
0,0
60,5
F
31,0
10,3
3,4
0,0
3,4
51,7
M
68,4
15,8
5,3
0,0
0,0
10,5
F
69,0
10,3
13,8
0,0
3,4
3,4
M
68,4
21,1
5,3
0,0
0,0
5,3
F
75,9
10,3
0,0
3,4
0,0
10,3
p
0,268
0,857
0,461
0,266
Nota: NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
Já no corte de unhas (Q49) não foram verificados valores percentuais tão
elevados na classe 0, “sem medo”, como nas situações anteriores, tendo em conta
que a maioria dos donos não respondeu por esta não ser uma prática corrente, como
já havia sido referido.
O exame pelo veterinário (Q43) foi, de todas as situações, aquela onde os cães
demonstraram mais medo, embora este não fosse muito elevado. Isto seria expectável
tendo em conta que o exame pelo veterinário é algo mais assustador e stressante para
os animais, não só pela possível dor decorrente de alguns procedimentos, mas
também por implicar contacto social com desconhecidos num ambiente não familiar
(Hsu & Sun, 2010).
116
4.2.1.7- Interesse na brincadeira
No que diz respeito ao interesse na brincadeira (Quadro 15), nomeadamente, na
busca de brinquedos e outros objectos (Q8), verificou-se uma dispersão uniforme dos
valores percentuais pelas várias classes de frequência. O facto de nem todos os
Barbados possuírem brinquedos pode fazer com que apenas alguns donos joguem à
busca de objectos com os seus cães, o que justificaria a dispersão referida. Ao invés
disso, optam, certamente, por outro tipo de actividade lúdica pois, como já referido,
95,5% dos donos brincam com os seus Barbados.
Quadro 15- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes ao interesse na
brincadeira (IB), pelas várias classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q
8
IB 64
92
Género
0
1
2
3
4
NR
M
15,8
21,1
13,2
21,1
23,7
5,3
F
6,9
17,2
27,6
27,6
20,7
0,0
M
13,2
10,5
34,2
23,7
18,4
0,0
F
13,8
10,3
34,5
31,0
10,3
0,0
M
2,6
5,3
47,4
34,2
10,5
0,0
F
6,9
6,9
41,4
31,0
13,8
0,0
p
0,514
0,919
0,901
Nota: NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
Os animais evidenciaram uma excitação moderada perante a acção de brincar
com um membro da família (Q64) e, por vezes, faziam-no de forma semelhante a um
cachorro (Q92) característica relacionada com a neotenia (Coppinger & Smith,
1983). Constatou-se uma grande uniformidade nas respostas dos donos nas várias
questões, não tendo havido diferenças estatísticas entre géneros. Para a obtenção de
resultados mais conclusivos relativamente ao parâmetro brincadeira, haveria
provavelmente necessidade de diversificar as questões.
4.2.1.8- Actividade e excitabilidade
A actividade e excitabilidade (Quadro 16) foram averiguadas tendo em conta
diversas situações. Relativamente à actividade, verificou-se que 34,2% dos machos e
24,1% das fêmeas estavam sempre dispostos a brincar ou praticar alguma actividade.
Contudo, sem que estas diferenças se tivessem revelado significativas.
117
Quadro 16- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes à actividade (A) e
excitabilidade (E), pelas várias classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q Género
A
93
63
65
E
66
67
68
0
1
2
3
4
NR
M
0,0
0,0
21,1
44,7
34,2
0,0
F
0,0
6,9
20,7
48,3
24,1
0,0
M
7,9
15,8
34,2
23,7
18,4
0,0
F
13,8
6,9
31,0
27,6
20,7
0,0
M
10,5
13,2
26,3
26,3
21,1
2,6
F
10,3
24,1
17,2
37,9
10,3
0,0
M
15,8
5,3
31,6
18,4
15,8
13,2
F
13,8
31,0
24,1
17,2
6,9
7,0
M
7,9
10,5
36,8
18,4
13,2
13,2
F
27,6
27,6
17,2
13,8
10,3
3,0
M
18,4
13,2
42,1
10,5
13,2
2,6
F
17,2
24,1
37,9
17,2
3,4
0,0
p
0,427
0,785
0,493
0,098
0,065
0,500
Nota: NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
Quanto à excitabilidade observou-se que os cães Barbados manifestaram uma
ansiedade moderada perante o regresso do dono ou outro membro da família a casa,
após uma breve ausência (Q63). De igual forma, manifestaram ansiedade moderada
quando as visitas chegavam a casa do dono (Q68) e quando a campainha tocava
(Q65), parecendo existir uma tendência superior nos machos. Perante a perspectiva
de um passeio, quer a pé (Q66), quer de carro (Q67), pareceu notar-se uma maior
excitabilidade nos machos, embora se deva ter em atenção que 13,2% dos donos dos
machos não responderam. No entanto, a ansiedade evidenciada foi discreta a
moderada. Não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre
géneros.
Os Barbados da amostra apresentaram grande actividade, o que está de acordo
com Coppinger & Coppinger (1980) quando afirmaram que os cães de pastoreio são
muito activos e enérgicos. Além disso, evidenciaram uma excitabilidade moderada, o
que segundo Martínek et al. (1975) teriam um desempenho mais elevado na função
de guarda. A excitabilidade mais elevada ocorreu perante o regresso do dono a casa,
o que é explicado pela relação que o cão estabeleceu com ele, ficando satisfeito com
a sua presença, e quando a campainha tocava, pois o animal associara o toque à
118
aproximação de algo. Jagoe & Serpell (1996) constataram que cães de donos pela
primeira vez mostravam maior excitabilidade geral, podendo isto dever-se ao facto
de eles considerarem os seus cães mais rebeldes, do que os donos experientes.
4.2.2- Problemas comportamentais
4.2.2.1- Problemas comportamentais sociais
A manifestação de agressividade por dominância (Quadro 17), perante um
membro da família, foi identificada em várias situações, nomeadamente: na
correcção e/ou punição verbal do animal (Q9); no retirar objectos, ossos (Q13) e
comida (Q19) pelo dono; na recuperação de objectos roubados pelo cão (Q31); na
aproximação ao animal enquanto este se alimentava (Q17); na escovagem e banho do
cão pelo dono (Q14); no encarar nos olhos do animal (Q25) e no maltrato ao mesmo,
fosse este físico ou verbal (Q30).
Quadro 17- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes aos problemas
comportamentais sociais (PCS), mais propriamente à agressividade por dominância (AD), pelas várias
classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q
9
13
14
17
PCS
AD
19
25
30
31
Género
0
1
2
3
4
NR
M
78,9
18,4
2,6
0,0
0,0
0,0
F
96,6
3,4
0,0
0,0
0,0
0,0
M
73,7
15,8
2,6
2,6
2,6
2,6
F
93,1
6,9
0,0
0,0
0,0
0,0
M
84,2
7,9
0,0
0,0
0,0
7,9
F
93,1
3,4
0,0
0,0
0,0
3,4
M
76,3
15,8
2,6
5,3
0,0
0,0
F
86,2
13,8
0,0
0,0
0,0
0,0
M
86,8
10,5
0,0
2,6
0,0
0,0
F
93,1
6,9
0,0
0,0
0,0
0,0
M
89,5
10,5
0,0
0,0
0,0
0,0
F
96,6
3,4
0,0
0,0
0,0
0,0
M
57,9
21,1
13,2
2,6
0,0
5,3
F
86,2
10,3
0,0
0,0
0,0
3,4
M
78,9
10,5
2,6
0,0
0,0
7,9
F
93,1
6,9
0,0
0,0
0,0
0,0
p
0,093
0,462
0,622
0,697
0,823
0,379
0,037
0,824
Nota: NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
119
Verificou-se que em todas as circunstâncias acima referidas a maioria dos cães,
tanto machos como fêmeas, não demonstraram agressão, e apenas uma questão
evidenciou diferenças significativas entre sexos (p=0,037), enquanto as demais não.
Perante um maltrato, quer físico, quer verbal, houve um aparente aumento de
agressividade, mesmo que reduzido, comparativamente às demais circunstâncias.
Aqui, aparentemente, os machos apresentaram-se mais agressivos do que as fêmeas,
o que está em concordância com Beaver (1999) e Pérez-Guisado & Muñoz-Serrano
(2009).
Assim sendo, os cães Barbados deste estudo não mostraram ser animais
agressivos em contextos de dominância, exceptuando-se as situações em que se
sentiam extremamente ameaçados, como o maltrato. Segundo Cruz (2007), as raças
portuguesas de cães de pastoreio evidenciam, à semelhança de outras similares, um
elevado potencial para a dominância, tal não implicando necessariamente agressão.
Deste modo, tendo em conta os resultados acima apresentados, poderia pensar-se
que os Barbados não seriam propensos a manifestar dominância. No entanto, essa
tendência poderia existir, mas uma correcta educação dos cães permitiu o não
desenvolvimento de patologias comportamentais. Isto poderá decorrer do facto de a
maioria dos donos de Barbados já terem possuído outros cães, alguns da mesma raça,
o que pressupõe serem mais experientes, e como tal, terem um melhor controlo sobre
os animais e saberem educá-los. Além disso, poderá ter ocorrido um decréscimo da
dominância, ao longo dos tempos, decorrente da diminuição da utilização do
Barbado para pastoreio e do aumento do interesse na sua aptidão como cão de
companhia.
A ausência de agressividade por dominância é algo positivo, uma vez que não é
desejável, muito menos em animais de companhia, embora algumas raças com
funcionalidade de guarda sejam seleccionadas, até certo ponto, para demonstrarem
este comportamento (O’Farrell, 1992).
Pérez-Guisado & Muñoz-Serrano (2009) relataram que cães que viviam com
outros na mesma casa tendiam a ser menos ofensivos para os donos. Os resultados
acima enunciados indicam uma possível concordância com esses autores pois como
já referido, 74,6% dos Barbados vivem com outros cães.
O motivo de aquisição do animal influencia o grau de agressividade por
dominância, tendo em conta que Jagoe & Serpell (1996) constataram que cães
120
adquiridos para reprodução e/ou concurso evidenciavam menor intensidade deste
tipo de agressão por estarem habituados a serem manejados.
Relativamente à aquisição e respectiva relação com a agressividade por
dominância evidenciada pelos Barbados apenas se pode referir que, apesar da
variedade de aptidões que os Barbados em estudo possuíam, embora a de companhia
predominasse, não foi constatada agressividade. Contudo, não existem dados
suficientes para afirmar que animais de uma determinada aptidão apresentem menor
agressividade por dominância do que os outros.
Quanto ao local onde vivem, Hsu & Sun (2010) mostraram que cães mantidos no
exterior da casa evidenciavam uma tendência forte para serem mais agressivos para
os seus donos, talvez por lhes faltar interacção com eles. Contrariamente a esse
estudo, a maioria dos Barbados estudados viviam no exterior de casa e não
manifestavam agressão por dominância, possivelmente por não terem essa tendência,
ou pelo facto de os donos interagirem o suficiente com eles.
Relativamente ao treino de obediência, segundo Bennett & Rohlf (2007) os cães
treinados eram mais obedientes e menos agressivos em direcção a pessoas familiares
e estranhos. Assim, apesar de a maioria dos Barbados não terem sido treinados,
também não foi constatada agressividade por dominância.
Tendo em conta os tipos de agressividade já referidos, de forma semelhante ao
estudo de Hsu & Sun (2010) em cães de companhia na Tailândia, os Barbados
apresentaram pontuações mais elevadas na agressividade direccionada a cães,
seguindo-se a agressividade direccionada a estranhos e em menor grau a
agressividade direccionada aos donos.
A ansiedade por separação (Quadro 18) foi averiguada a partir das respostas dos
donos perante a manifestação de comportamentos relacionados à separação, tais
como: tremores intensos (Q55), salivação excessiva (Q56), inquietação (Q57), choro
(Q58), latidos (Q59), uivos (Q60), destruição da casa (Q61) e perda de apetite (Q62).
Observou-se que a maioria dos animais não parece possuir esta patologia, devido
à ausência de qualquer sintomatologia da referida acima. Verificou-se que a
inquietação e os latidos foram os comportamentos mais manifestados pelos cães na
ausência dos donos, devido à maior dispersão das respostas destes pelas várias
classes de frequência.
121
Quadro 18- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes aos problemas
comportamentais sociais (PCS), mais propriamente à ansiedade por separação (AS), pelas várias
classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q
55
56
57
58
PCS
AS
59
60
61
62
Género
0
1
2
3
4
NR
M
84,2
10,5
5,3
0,0
0,0
0,0
F
96,6
3,4
0,0
0,0
0,0
0,0
M
78,9
18,4
2,6
0,0
0,0
0,0
F
82,8
10,3
6,9
0,0
0,0
0,0
M
57,9
7,9
26,3
7,9
0,0
0,0
F
69,0
20,7
6,9
3,4
0,0
0,0
M
73,7
15,8
10,5
0,0
0,0
0,0
F
62,1
20,7
17,2
0,0
0,0
0,0
M
52,6
10,5
26,3
10,5
0,0
0,0
F
62,1
27,6
10,3
0,0
0,0
0,0
M
73,7
15,8
7,9
2,6
0,0
0,0
F
75,9
13,8
6,9
0,0
3,4
0,0
M
81,6
13,2
5,3
0,0
0,0
0,0
F
75,9
20,7
0,0
3,4
0,0
0,0
M
65,8
15,8
7,9
7,9
0,0
2,6
F
65,5
27,6
6,9
0,0
0,0
0,0
p
0,314
0,545
0,089
0,578
0,044
0,943
0,404
0,410
Nota: NR- percentagem de donos que não responderam. Quando significativo p < 0,05.
Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre géneros, na
maior parte das questões, exceptuando-se a 59, em que os machos latiram mais. Os
machos são mais propensos a manifestar ansiedade por separação (Bradshaw et al.,
2002), pelo que esta vocalização poderá ser um sinal disso. Contudo, os donos
poderão ter considerado um latir associado a defesa territorial ou alerta, que fosse
mais evidente nos machos, tal como Reisner (1995a) referiu.
Apesar de se ter verificado anteriormente que o cão Barbado estabelecia um
vínculo forte com um membro da família, tal facto não levou ao desenvolvimento de
ansiedade por separação, possivelmente por se tratar de um vínculo saudável e não
exagerado, como Alvarez (1993) e Beaver (1999) referiram. Uma vez que a maioria
dos Barbados partilhavam o seu espaço com outro cão, segundo Voith (1992), isto
contribuía para minimizar a possibilidade de desenvolvimento da patologia. Algum
treino de obediência, também, pode ter contribuído para a redução da ansiedade por
122
separação devido às mudanças qualitativas que surgiam na relação entre o cão e o
dono, como referiu Clark & Boyer (1993).
Por outro lado, o facto de os donos terem uma visão realista do comportamento
de separação dos cães tal como Konok et al. (2011) observaram, pode permitir um
diagnóstico precoce da patologia e assim contribuir para minimizar os efeitos
negativos associados a ela na saúde e tempo de vida do cão doméstico, enunciados
por Dreschel (2010).
4.2.2.2- Problemas comportamentais sensoriais e neurais
No que diz respeito aos problemas comportamentais sensoriais e neurais (Quadro
19), mais precisamente às condutas estereotipadas, verificou-se que a maioria dos
cães não as evidenciou, tendo havido bastante uniformidade nas respostas dos donos.
Entre géneros não existiram diferenças significativas. Apesar disto, houve situações
em que a ausência desses comportamentos revelava-se de forma mais intensa nos
animais, como o caçar moscas imaginárias (Q95), o correr atrás da própria cauda
(Q96), o seguir sombras, pontos de luz (Q97) e a manifestação de outros
comportamentos estranhos e repetidos (Q101).
Nos comportamentos como o encarar coisas invisíveis (Q94), o lamber-se
excessivamente (Q99), ou a pessoas ou objectos (Q100) verificou-se menor
concentração de respostas dos donos na classe 0,“nunca”, originando posteriormente
uma dispersão destas pelas restantes classes. Assim, foi possível constatar que a
maioria dos cães Barbados não evidenciou predisposição para o desenvolvimento de
condutas estereotipadas, o que segundo Beaver (1999) e Rooney et al. (2009) poderá
indicar a ausência de stress e conflito nesses animais.
Observou-se, também, que, no geral, os Barbados não foram identificados como
hiperactivos (Q91) devido à maior concentração de respostas dos donos nas classes
de frequência mais baixa. Apesar destes cães serem activos, isto não acontece de uma
forma excessiva ao ponto de desenvolverem hiperactividade que segundo Heath
(2003) poderia levar a uma inabilidade para aprender e difícil habituação a ambientes
novos.
123
Quadro 19- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes aos problemas
comportamentais sensoriais e neurais (PCSN), pelas várias classes de frequência, em machos (M) e
fêmeas (F).
Q
94
95
96
97
PCSN
CE
99
100
101
91
H
Género
0
1
2
3
4
NR
M
47,4
26,3
21,1
2,6
2,6
2,6
F
34,5
34,5
24,1
6,9
0,0
0,0
M
76,3
7,9
13,2
2,6
0,0
0,0
F
69,0
6,9
20,7
3,4
0,0
0,0
M
92,1
2,6
2,6
2,6
0,0
0,0
F
93,1
3,4
0,0
3,4
0,0
0,0
M
68,4
15,8
10,5
2,6
2,6
0,0
F
65,5
20,7
13,8
0,0
0,0
0,0
M
39,5
36,8
15,8
7,9
0,0
0,0
F
31,0
48,3
17,2
3,4
0,0
0,0
M
36,8
42,1
18,4
0,0
2,6
0,0
F
31,0
44,8
20,7
3,4
0,0
0,0
M
92,1
7,9
0,0
0,0
0,0
0,0
F
79,3
13,8
3,4
3,4
0,0
0,0
M
42,1
31,6
13,2
7,9
5,3
0,0
F
41,4
34,5
17,2
6,9
0,0
0,0
p
0,714
0,913
1,000
0,936
0,719
0,860
0,264
0,883
Nota: CE- condutas estereotipadas; H- hiperactividade; NR- percentagem de donos que não
responderam. Quando significativo p < 0,05.
4.2.2.3- Problemas comportamentais comunicativos, alimentares e
eliminativos
O Quadro 20 apresenta os resultados dos problemas comportamentais
comunicativos, alimentares e eliminativos. As diferenças observadas entre géneros
apenas foram estatisticamente significativas na variável marcação urinária (MU –
Q87).
Relativamente
aos
problemas
comportamentais
comunicativos,
mais
propriamente à marcação urinária (Q87), observou-se que 89,7% das fêmeas nunca
urinavam em objectos na casa do dono, contrariamente aos 39,5% dos machos, cujos
valores percentuais dispersaram mais acentuadamente pelas restantes classes (p<
0,001), o que vai de acordo com Beaver (1999). Apesar disto se ter verificado, não
se poderá afirmar que haja uma predominância deste comportamento no Barbado,
124
uma vez que apenas 13,2 e 2,6% dos machos o realizaram quase sempre (classe 3) e
sempre (classe 4), respectivamente, contrariamente aos 3,4 e 0,0% das fêmeas. A
fraca presença deste comportamento poderá estar associada ao facto de os Barbados
em estudo serem cães pouco dominantes, pois de acordo com Beaver (1999) são
estes que mais frequentemente o manifestam.
Quadro 20- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes aos problemas
comportamentais comunicativos (PCC), alimentares (PCA) e eliminativos (PCE), pelas várias classes
de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q
PCC
PCA
MU
87
SE
88
VE
98
C
80
DO
81
89
PCE
EI
90
Género
0
1
2
3
4
NR
M
39,5
15,8
28,9
13,2
2,6
0,0
F
89,7
6,9
0,0
3,4
0,0
0,0
M
78,9
15,8
5,3
0,0
0,0
0,0
F
72,4
24,1
0,0
3,4
0,0
0,0
M
15,8
10,5
42,1
21,1
10,5
0,0
F
20,7
20,7
34,5
24,1
0,0
0,0
M
84,2
13,2
2,6
0,0
0,0
0,0
F
86,2
13,8
0,0
0,0
0,0
0,0
M
39,5
44,7
10,5
2,6
2,6
0,0
F
31,0
34,5
20,7
6,9
6,9
0,0
M
50,0
23,7
18,4
2,6
5,3
0,0
F
65,5
31,0
0,0
0,0
3,4
0,0
M
52,6
28,9
5,3
7,9
5,3
0,0
F
55,2
44,8
0,0
0,0
0,0
0,0
p
0,000
0,375
0,346
1,000
0,530
0,069
0,197
Nota: MU- marcação urinária; SE- submissão excessiva; VE- vocalização excessiva; Ccoprofagia; DO- destruição de objectos; EI- eliminação inadequada; NR- percentagem de donos que
não responderam. Quando significativo p < 0,05.
Quanto à submissão excessiva (Q88) observou-se que a maioria dos cães nunca
urinava quando acariciados, segurados ou abraçados por alguém, o que indica não
serem, aparentemente, muito tímidos e submissos. Relativamente à vocalização
excessiva (Q98) constatou-se que, no geral, os Barbados latiam, às vezes (classe 2),
de forma persistente quando alarmados ou excitados. Apesar de os machos
parecerem latir mais do que as fêmeas (10,5% vs.0,0%, na classe 4- “sempre”), o que
iria de encontro aos resultados da questão 59, não foi atingido um nível de
125
significância. Esta patologia tende a ser difícil de classificar, uma vez que o grau de
vocalização poderá ser normal mas considerado excessivo pelos donos (Overall,
2007).
Relativamente aos problemas comportamentais relativos à ingestão, mais
propriamente à coprofagia (Q80), verificou-se que a maioria dos animais nunca
demonstrou este comportamento, pelo que segundo Rooney et al. (2009) poderá
indicar um bom equilíbrio nutricional e um treino de eliminação correcto. Ainda
dentro do mesmo grupo, constatou-se que a destruição de objectos (Q81) não era
muito frequente, ocorrendo só às vezes (classe 2). A quase inexistência deste
comportamento é positiva uma vez que, provavelmente, os animais em estudo eram
equilibrados, devido à aparente ausência de necessidade em direccionar a sua
frustração na destruição de algo, como nos casos associados à ansiedade por
separação. Não foram detectadas diferenças com significância estatística.
Relativamente aos problemas comportamentais eliminativos, observou-se que a
maioria dos animais, nunca urinava (Q89) ou defecava (Q90) em locais
inapropriados quando eram deixados sozinhos à noite ou durante o dia. Esta situação
poderá ser um indicador de que os animais tiveram um bom treino de eliminação e
que estão bem ao ponto de não desenvolverem ansiedade por separação ou outras
patologias (Beaver, 1999). Contudo, pareceu constatar-se que os machos eliminavam
inadequadamente, com mais frequência, do que as fêmeas, devido a alguma
concentração de respostas nas classes mais elevadas. Isto estaria de acordo com
O’Farrell (1992) que afirmou haver uma predisposição deste comportamento em
machos inteiros.
4.2.2.4- Outros problemas comportamentais
Outros problemas comportamentais com diversas causas estão enunciados no
Quadro 21. Estatisticamente não se verificaram diferenças entre géneros em qualquer
das variáveis analisadas.
Relativamente ao comportamento de fugir de casa (Q78) foi possível constatar
que apesar de ser realizado “às vezes” (classe 2), tanto por machos (23,7%) como por
fêmeas (24,1%), não é muito comum na maioria das situações. No entanto, os
animais que fugiram poderão ter sido motivados, pela falta de exercício, como
126
passeios menos frequentes (Kobelt et al., 2003), pelo confinamento excessivo e, no
caso dos machos, pela procura de fêmeas em cio (Houpt, 2005).
Quadro 21- Distribuição de frequências percentuais das questões (Q) referentes a outros problemas
comportamentais (OPC), pelas várias classes de frequência, em machos (M) e fêmeas (F).
Q
FC
RSOD
MSI
OPC
PCI
RC
NSDE
PTE
78
79
82
83
84
85
86
Género
0
1
2
3
4
NR
M
50,0
15,8
23,7
7,9
2,6
0,0
F
55,2
20,7
24,1
0,0
0,0
0,0
M
78,9
10,5
10,5
0,0
0,0
0,0
F
79,3
10,3
10,3
0,0
0,0
0,0
M
81,6
13,2
5,3
0,0
0,0
0,0
F
72,4
17,2
10,3
0,0
0,0
0,0
M
26,3
28,9
36,8
5,3
2,6
0,0
F
37,9
17,2
34,5
6,9
3,4
0,0
M
57,9
31,6
10,5
0,0
0,0
0,0
F
69,0
24,1
3,4
0,0
3,4
0,0
M
68,4
15,8
7,9
5,3
0,0
2,6
F
82,8
13,8
3,4
0,0
0,0
0,0
M
28,9
15,8
13,2
23,7
2,6
15,8
F
20,7
20,7
37,9
6,9
6,9
7,0
p
0,600
1,000
0,683
0,762
0,378
0,601
0,086
Nota: FC- fugir de casa; RSOD- rolar sobre substâncias de odor desagradável; MSI- montar
sexual inapropriado; PCI- pedir comida insistentemente; RC- roubar comida; NSDE- nervosismo em
subir e descer escadas; PTE- puxar a trela excessivamente; NR- percentagem de donos que não
responderam. Quando significativo p < 0,05.
De forma semelhante à questão anterior, verificou-se que a maioria dos animais
não se rola sobre substâncias de odor desagradável (Q79). Houve grande
uniformidade das respostas dos donos entre os géneros.
Quanto ao montar sexual inapropriado (Q82) verificou-se que a maioria dos
animais nunca o fez, mesmo que 85,1% destes sejam inteiros. Este facto poderá
indicar uma boa socialização do cão em relação a outros bem como baixa
dominância (Beaver, 1999), como já havia sido constatado.
No que diz respeito a pedir comida insistentemente quando alguém está a comer
(Q83) verificou-se uma dispersão das respostas dos donos pelas várias classes, tendose observado que, grande parte dos cães já havia realizado este comportamento, “às
vezes” (classe 2).
127
Nos restantes problemas comportamentais observou-se que a maioria dos
Barbados não roubaram comida (Q84), o que seria um comportamento normal e
desejado, nem ficaram nervosos quando subiam ou desciam escadas (Q85), sendo
animais seguros perante esta situação.
A excitabilidade inerente ao puxar a trela excessivamente (Q86) revelou-se
bastante discrepante em machos e fêmeas e com diferentes intensidades. A alta
excitabilidade apresentada por alguns animais poderá dever-se a uma vontade em
conhecer novos sinais e odores, como O’Farrell (1992) enunciou.
4.3- Ensaio comportamental
4.3.1- Avaliação da personalidade
4.3.1.1- Sociabilidade
4.3.1.1.1- Sociabilidade com pessoas estranhas
Relativamente à sociabilidade com pessoas estranhas (Quadro 22), não se
constatou existirem diferenças significativas entre géneros, quer no teste, quer na
repetição.
Aquando da aproximação do estranho e posterior contacto com o dono, mas
evitação do animal (VC 6), verificou-se que poucos cães se sentiram desconfortáveis,
ou mesmo até agressivos perante a sua presença. Apesar de o cão poder interpretar a
aproximação do desconhecido como uma possível ameaça ao dono, observou-se que,
no geral, evidenciaram um comportamento amigável. Parecia notar-se que as fêmeas
eram mais amigáveis (15,4% vs. 0%, na classe 5), em ambas as repetições, o que iria
de acordo com Lore & Eisenberg (1986) que no seu estudo demonstraram que os
cães machos abordavam mais relutantemente e faziam menos contacto corporal com
um homem desconhecido do que as fêmeas.
Nesta situação verificou-se que os Barbados da amostra, perante a aproximação
de estranhos na presença do dono, tenderam a reagir de forma amigável. Isto
pressupõe serem animais bem socializados, contudo, apesar de se ter constatado um
contacto muito frequente com adultos, quer no período de socialização, quer num
período mais recente (p> 0,05; Anexo VII.5.1- Anexo VII.5.4), desconhece-se se esta
socialização também incluía desconhecidos ou apenas pessoas familiares. As
128
reacções amigáveis foram acompanhadas de alguma curiosidade, perceptível através
dos comportamentos de investigação visíveis na maioria dos animais. Isto só pode
ser tido em conta num ambiente externo, pois a reacção deles no seu território poderá
ser diferente, tal como Paroz et al. (2008) referiram.
Quadro 22- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes à
sociabilidade (SO), com pessoas estranhas (SPE), pelas várias classes de frequência, no teste e na sua
repetição, em machos (M) e fêmeas (F).
Teste
VC Género
6
7
8
9
SO SPE 26
27
30
31
33
1
2
3
4
5
M
0,0
9,1 27,3 63,6 0,0
F
7,7
0,0 53,8 23,1 15,4
M
0,0
9,1 45,5 36,4 9,1
F
7,7
0,0 53,8 30,8 7,7
M
0,0
0,0 45,5 45,5 9,1
F
0,0 23,1 38,5 38,5 0,0
M
0,0
9,1 36,4 45,5 9,1
F
0,0
7,7 46,2 46,2 0,0
M
0,0 18,2 72,7 9,1
0,0
F
0,0
7,7 92,3 0,0
0,0
M
0,0 18,2 72,7 9,1
0,0
F
0,0 15,4 84,6 0,0
0,0
M
18,2 45,5 36,4 0,0
0,0
F
0,0 30,8 61,5 7,7
0,0
M
27,3 27,3 45,5 0,0
0,0
F
7,7 23,1 69,2 0,0
0,0
M
18,2 27,3 45,5 9,1
0,0
F
0,0 15,4 76,9 7,7
0,0
p
0,093
0,948
0,316
0,907
0,374
0,778
0,224
0,333
0,350
Repetição
1
2
3
4
5
9,1 0,0 36,4 54,5 0,0
0,0 7,7 46,2 30,8 15,4
0,0 18,2 18,2 54,5 9,1
7,7 15,4 30,8 38,5 7,7
0,0 9,1 45,5 36,4 9,1
7,7 7,7 38,5 46,2 0,0
0,0 9,1 36,4 54,5 0,0
7,7 0,0 38,5 53,8 0,0
0,0 9,1 81,8 9,1
0,0
0,0 7,7 92,3 0,0
0,0
0,0 9,1 81,8 9,1
0,0
0,0 7,7 92,3 0,0
0,0
9,1 27,3 54,5 9,1
0,0
0,0 7,7 92,3 0,0
0,0
9,1 9,1 54,5 27,3 0,0
7,7 0,0 84,6 7,7
0,0
9,1 0,0 54,5 36,4 0,0
7,7 0,0 61,5 23,1 7,7
p
0,366
0,956
0,949
1,000
0,717
0,717
0,128
0,408
0,904
Nota: quando significativo p < 0,05.
Perante o cumprimento do estranho ao cão (VC 7), constatou-se que, no geral, os
Barbados não o rejeitaram. No entanto, este também não foi muito intenso. De forma
semelhante, eles não se recusaram a andar com o estranho (VC 8), mas sentiram-se
incomodados, alguns até com medo, pois puxavam a trela, tentando fugir e
procuravam apoio, tal como enunciado por De Meester et al. (2008), uma vez que
tentavam ter sempre o dono no seu alcance visual. Aquando do cumprimento do
129
estranho ao cão, no passeio com ele, longe do dono (VC 9), as respostas
comportamentais
foram
muito
próximas
das
apresentadas
na
variável
comportamental 7.
Relativamente à aproximação e presença de pessoas (VC 26, VC 27) verificou-se
que a maioria dos animais permaneceu num estado neutro (classe 3), nem muito
desconfortáveis, nem muito empolgados com elas. Evidenciaram posturas corporais
calmas e alguns desenvolveram comportamentos de substituição, como desvio do
olhar e cheirar o chão.
O olhar fixo do estranho ao cão (VC 30) foi bastante desconfortável para a
maioria dos animais, uma vez que apresentaram linguagem corporal que evidenciava
sinais de apaziguamento e stress: orelhas para trás, salivação excessiva, desvio do
olhar, deitar, lamber os lábios, rosnar, latir e recuar ligeiramente. Estas reacções são
normais, tendo em conta que o olhar fixo, segundo Voith (1992), é em linguagem
canina um sinal de dominância. Contudo, apesar desse desconforto, foram poucos os
animais que evidenciaram agressividade intensa ao ponto de tentarem soltar-se para
morder, parecendo isto ser mais evidente nos machos, mesmo não tendo existido
diferenças significativas entre géneros. Isto seria justificável pelo facto de os machos
verem o seu estado de dominância comprometido, e conforme Beaver (1999) referiu,
serem eles os mais propensos a manifestar agressividade nestes contextos. Na
repetição do teste verificou-se uma diminuição do desconforto sentido pelos animais,
possivelmente motivado por algum nível de habituação do animal à pessoa ou à
situação.
No que diz respeito ao cumprimento do estranho ao cão (VC 31), após o olhar
fixo, verificou-se que, no geral, os animais permaneceram num estado neutro (classe
3). Contudo, houve menor rejeição, através da evitação ou fuga, na repetição em
relação ao teste, possivelmente devido a algum tipo de habituação do animal ao
estranho, este que já tinha surgido anteriormente em outros subtestes. Isto está de
acordo com Ruefenacht et al. (2002) e Miklósi (2007), ao referirem que quando se
verificava diminuição de agressividade é porque havia ocorrido habituação.
Esta rejeição vai de encontro ao facto de na situação anterior os cães se terem
sentido mais incomodados no teste do que na sua repetição. Quanto ao cumprimento
dado pelo estranho ao cão, após o confronto com o dono (VC 33), de forma
semelhante à variável comportamental 31 houve uma maior aceitação por parte dos
animais na repetição, pelos mesmos motivos enunciados anteriormente.
130
4.3.1.1.2- Sociabilidade com animais
Quanto à sociabilidade do cão Barbado para com cães estranhos e gatos (Quadro
23), verificou-se que aquando da aproximação (VC 15, VC 28) e presença do cão e
da cadela (VC 16,VC 29), os Barbados, no geral, estavam confortáveis, evidenciando
uma postura corporal amigável, com alguma curiosidade e convites para brincar.
Isto, possivelmente, dever-se-á ao contacto frequente que eles tiveram no período de
socialização (p> 0,05; Anexo VII.5.1, Anexo VII.5.5) e num passado recente (p>
0,05; Anexo VII.5.3, Anexo VII.5.6) com outros cães. Contudo, alguns manifestaram
desconforto intenso, latindo, rosnando e outros demonstraram sinais de
apaziguamento, como desvio do olhar e lamber dos lábios, o que segundo Kalnajs
(2006) servia para suprimir um potencial comportamento agressivo e negociação de
espaço.
Quadro 23- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes à
sociabilidade (SO) com animais, pelas várias classes de frequência, no teste e na sua repetição, em
machos (M) e fêmeas (F).
Teste
VC Género
15
16
SO
SCE
28
29
SG
39
40
1
2
3
4
5
M
0,0
9,1 36,4 45,5 9,1
F
7,7
7,7 69,2 15,4 0,0
M
0,0
9,1 36,4 45,5 9,1
F
7,7
0,0 76,9 15,4 0,0
M
0,0 18,2 54,5 27,3 0,0
F
0,0
M
0,0 18,2 45,5 36,4 0,0
F
0,0 15,4 53,8 23,1 7,7
M
18,2 9,1 72,7 0,0 0,0
F
23,1 15,4 61,5 0,0 0,0
M
18,2 9,1 72,7 0,0 0,0
F
23,1 15,4 61,5 0,0 0,0
7,7 69,2 15,4 7,7
p
0,218
0,097
0,691
0,922
1,000
1,000
Repetição
1
2
3
4
5
0,0 27,3 27,3 27,3 18,2
7,7
7,7 61,5 23,1 0,0
0,0 27,3 27,3 27,3 18,2
7,7
7,7 53,8 30,8 0,0
0,0
9,1 45,5 45,5 0,0
7,7
0,0 69,2 23,1 0,0
0,0
0,0 36,4 63,6 0,0
7,7
7,7 61,5 23,1 0,0
18,2 36,4 45,5 0,0
0,0
15,4 38,5 46,2 0,0
0,0
18,2 36,4 45,5 0,0
0,0
15,4 46,2 38,5 0,0
0,0
p
0,189
0,237
0,323
0,138
1,000
1,000
Nota: SCE- sociabilidade com cães estranhos; SG- sociabilidade com gatos. Quando significativo
p < 0,05.
Conforme expresso no Quadro 23, não se detectaram diferenças significativas
entre machos e fêmeas, quer no teste, quer na sua repetição.
131
Quanto à aproximação ao gato (VC 39) e observação do mesmo (VC 40),
verificou-se que a maioria dos animais, mostraram-se desconfortáveis sendo que
alguns evidenciaram agressão, outros medo e mesmo até stress. Isto não resultará, à
partida, de pouco contacto com gatos, tendo em conta que 70,8% dos donos tinham
outros animais, com os quais a maioria dos Barbados coabitava (Anexo VII.5.7), e
que 70,6% desses eram gatos (Anexo VII.5.8). No entanto, apesar de se presumir que
alguns mantiveram estes contactos, não se conhece a frequência dessa socialização.
Assim, os Barbados em estudo poderão não gostar de gatos ou sentirem-se
ameaçados por eles, uma vez que o gato utilizado no teste também se sentiu
incomodado na presença dos cães e manifestou posturas ofensivas. Desta forma,
notou-se que à medida que o gato atacava mais, pior ficavam os Barbados que
manifestaram agressão. Contudo, segundo os relatos de alguns donos, as reacções
dos cães em estudo não foram tão exacerbadas quanto seria de esperar,
provavelmente pelo facto de se encontrarem fora do seu território, o que em alguns
poderia causar insegurança. Além disso, o facto de o gato estar parado e não em
movimento, poderá não despertar tanto interesse nos Barbados.
Os valores percentuais em machos e fêmeas foram distribuídos de forma
semelhante por apenas três classes de frequências, o que de certo modo poderá
justificar os elevados valores de p.
4.3.1.2- Coragem
Relativamente à coragem (Quadro 24) perante sons súbitos, determinada através
da reacção de evitação (VC 13), constatou-se que a maioria dos Barbados não
evidenciou qualquer reacção como resposta ao som, ou então esta foi pouco evidente,
dado não terem interrompido a sua actividade, nem terem fugido, embora alguns
manifestassem claro desconforto.
As reacções comportamentais dos Barbados após escutarem a buzina, foram
variadas pois alguns pararam e tentaram detectar a origem do som, outros olharam
para os donos, outros continuaram o caminho e outros realizaram comportamentos de
substituição, decorrentes do stress, como cheirar o chão e marcar o território, tais
como aqueles enunciados por Kalnajs (2006).
132
Quadro 24- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes à
Coragem (C), pelas várias classes de frequência, no teste e na sua repetição nos dois géneros (G).
Teste
VC
13
So
14
21
23
24
C MNS
25
Ob
35
36
37
38
G
1
2
3
4
5
M
72,7
18,2
0,0
9,1
0,0
p
Repetição
1
2
3
p
4
5
45,5 18,2 36,4
0,0
0,0
38,5 30,8 30,8
0,0
0,0
9,1
18,2 27,3
0,0
45,5
0,0
15,4 38,5
7,7
38,5
36,4
9,1
9,1
18,2
7,7
15,4 23,1 23,1 30,8
0,808
F
61,5
15,4 15,4
7,7
0,0
M
9,1
9,1
9,1
63,6
9,1
0,769
0,742
F
0,0
30,8 15,4
7,7
46,2
M
27,3
27,3 18,2
9,1
18,2
0,887
27,3
0,675
F
7,7
23,1 23,1
30,8
15,4
M
27,3
9,1
27,3
18,2
18,2
F
46,2
30,8 15,4
0,0
7,7
M
27,3
9,1
36,4
18,2
9,1
0,267
0,549
18,2 27,3 27,3
9,1
18,2
38,5 38,5
7,7
0,0
15,4
27,3
0,0
18,2
0,0
54,5
7,7
7,7
15,4 15,4 53,8
72,7
9,1
0,0
18,2
0,0
84,6
0,0
15,4
0,0
0,0
72,7
9,1
0,0
0,0
18,2
76,9
15,4
0,0
7,7
0,0
0,600
F
7,7
0,0
15,4
46,2
30,8
M
100,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,598
1,000
F
84,6
7,7
7,7
0,0
0,0
M
54,5
27,3
0,0
18,2
0,0
F
76,9 7,7
M
27,3
0,0
27,3 36,4
0,0
15,4
9,1
0,0
F
46,2
23,1 15,4
7,7
7,7
M
27,3
9,1
9,1
27,3
27,3
F
7,7
7,7
23,1
23,1
38,5
M
81,8
18,2
0,0
0,0
0,0
F
46,2
38,5 15,4
0,0
0,0
0,145
0,743
0,766
0,122
36,4 18,2 27,3
0,0
18,2
23,1 46,2 15,4
7,7
7,7
9,1
18,2 18,2 45,5
0,0
0,0
38,5 38,5 23,1
9,1
0,0
0,0
53,8 30,8 15,4
0,0
0,0
0,479
0,549
9,1
45,5 45,5
0,216
0,498
0,302
0,860
Nota: MNS- medo não social; So- Sons; Ob- Objectos; M- machos; F- fêmeas. Quando
significativo p < 0,05.
Apesar de a habituação ao som da buzina (VC 14) ter sido rápida no teste e na
repetição, foi menor na segunda comparativamente ao primeiro devido a um aumento
da ansiedade. Esta situação será normal, porque o som ao qual os animais foram
estimulados não será aquele com o qual conviviam diariamente, pelo que apenas
duas exposições do mesmo e distanciadas de um mês provavelmente não serão
suficientes para que eles se habituem. Quanto à coragem perante objectos
desconhecidos, mais propriamente, nas reacções de sobressalto observou-se que a
maioria dos Barbados se assustaram pouco no teste a na repetição, sendo esse susto
menor perante o estímulo das latas (VC 35). Isto dever-se-á provavelmente ao facto
133
de o aparecimento do boneco (VC 21) ter mais impacto por ser algo maior e surgir de
forma súbita. Além disso, o facto de ter ocorrido primeiro, devido à ordem dos
subtestes, poderá ter suscitado mais medo porque o factor surpresa foi maior. Já nas
latas os animais poderiam estar mais alerta para o possível surgimento de algo. Na
variável comportamental 21, pareceu verificar-se um aumento do susto do teste para
a sua repetição, pressupondo a não existência de habituação.
Perante o estímulo das latas, no geral, a hesitação diminuiu do teste para a
repetição, conjecturando a existência de sensibilização (Ruefenacht et al., 2002)
talvez pelo som ser mais comum. As respostas distintas dos cães perante os
diferentes objectos poderão justificar-se pelo facto de o valor de novidade deles
diferir, pois, segundo Taylor & Mills (2006), este depende da experiência anterior
dos animais.
Na exploração (S23,S36) constatou-se que houve a necessidade de apoio em
alguns Barbados, tanto em machos como em fêmeas, pois estes só se aproximavam
após o dono o fazer. Contudo, também se verificou, embora com menor frequência,
que alguns cães avançavam sem qualquer receio. Os que temiam explorar, latiam
muito e manifestavam posturas corporais de medo e agressão. As diferenças no
comportamento exploratório dos cães perante novos objectos haviam sido reportadas
no estudo de Siwak et al. (2001), com Beagles, em que cães mais novos exploravam
mais.
Durante as sucessivas passagens pelos estímulos constatou-se que o
comportamento de evitação (VC 24,VC 37), no geral, aumentou do teste para a sua
repetição, quer no estímulo do boneco, quer no das latas. Os Barbados manifestavam
comportamentos de substituição como desvio do olhar e cheirar o chão, devido ao
desconforto perante aquela situação.
Quanto ao comportamento de abordagem (VC 25,VC 38) observou-se que a
maioria dos animais, quer em machos quer em fêmeas, não se interessaram pelo
boneco ou latas, tanto no teste como na repetição. Eles evitavam, ignoravam e não se
aproximavam do estímulo aquando da repetição dos passeios. Isto foi de encontro às
variáveis comportamentais da evitação, o que é justificável tendo em conta que se
tratava de algo desconhecido, fora do ambiente normal deles, que os assustou.
Assim, os Barbados em estudo evidenciaram ter mais medo perante o surgimento dos
objectos do que perante o som súbito, possivelmente porque o primeiro era mais
invasivo e parecia mais próximo ao animal. O facto de os cães estarem
134
acompanhados pelos donos constituiu um factor de apoio, pelo que sozinhos e no seu
território, poderiam ter tido reacções diferentes.
Relativamente à capacidade de exploração constatou-se que, no geral, eles
necessitavam de apoio do dono ou esperavam que este avançasse para o fazerem,
parecendo isto ser mais evidente nas fêmeas. A maioria dos Barbados, perante as
sucessivas passagens pelos objectos, evitava-os e não se interessava em abordá-los,
manifestando comportamentos de substituição.
Apesar de os animais em estudo, em geral, não terem evidenciado um medo
extremo, manifestavam desconforto e pareciam querer mais evitar a situação do que
abordá-la ou explorá-la, pelo que não pareciam ser muito seguros. No entanto, deverá
ter-se em conta que os cães se encontravam num local desconhecido com o qual não
se sentiriam plenamente confiantes, a serem estimulados com sons e objectos que
não esperavam e com os quais, possivelmente, não estariam habituados. Colocar-seá, também, a hipótese de a selecção actual do Barbado estar a contribuir para um cão
menos corajoso, pois Murphree (1973) e Trut et al. (2004) em experiências com
canídeos demonstraram que o medo social e não social podia ser rapidamente
alterado em algumas gerações sujeitas a intensa selecção. Não foram constatadas
diferenças estatisticamente significativas entre géneros, apesar das aparentes
variações, no teste e na sua repetição. Já Wilsson & Sundgren (1997) num estudo
com Pastores Alemães e Labrador Retrievers encontraram diferenças significativas
na coragem entre machos e fêmeas.
O facto de aparentemente não terem existido animais muito medrosos, à
semelhança do reportado por Svartberg et al. (2005), poderá dever-se ao processo de
escolha dos cães para o estudo, que embora de forma aleatória, não incluiu aqueles
extremamente medrosos já que os donos destes não se disponibilizaram a participar
no estudo.
4.3.1.3- Vinculação e comportamento de procura de atenção
Relativamente à vinculação (Quadro 25), mais propriamente à situação passiva,
constatou-se que a maioria dos Barbados permaneceu relativamente calma perante a
ausência do dono (VC 1), parecendo que o nível de inquietude diminuiu ligeiramente
do teste para a repetição, tanto nos machos como nas fêmeas (p > 0,05). Tal facto
poderá ter decorrido de alguma habituação ao espaço envolvente e à situação ou
135
mesmo a algum efeito da maturidade no animal, embora o tempo decorrido entre
teste e repetição fosse tão curto, que esta última opção seja menos provável. O facto
de o espaço envolvente ser-lhes estranho, bem como estarem longe dos donos e
acorrentados a algo, constituiu um factor stressante, uma vez que, no geral, estão
soltos (Anexo VII.5.9).
Quadro 25- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes à
vinculação (V) e procura de atenção (PA), pelas várias classes de frequência, no teste e na sua
repetição, em machos (M) e fêmeas (F).
Teste
VC Género
1
V
2
34
PA
3
M
1
2
3
4
5
p
27,3 18,2 9,1 36,4 9,1
Repetição
1
2
3
4
5
27,3 45,5 18,2 0,0
9,1
46,2 23,1 15,4 7,7
7,7
0,916
F
23,1 23,1 23,1 23,1 7,7
M
27,3 18,2 36,4 0,0 18,2
0,805
0,0
9,1 18,2 54,5 18,2
0,701
F
38,5 23,1 30,8 7,7
M
0,0
0,0
0,550
0,0 23,1 23,1 53,8 0,0
0,0 18,2 72,7 9,1
0,0
0,0 18,2 63,6 18,2
0,0
0,0 15,4 69,2 15,4
0,817
F
0,0
M
36,4 45,5 9,1
F
0,0 30,8 61,5 7,7
9,1
0,0
30,8 23,1 23,1 15,4 7,7
p
0,737
1,000
27,3 27,3 36,4 9,1
0,0
15,4 46,2 23,1 7,7
7,7
0,859
Nota: quando significativo p < 0,05.
A inquietude foi manifestada através de uma postura corporal de stress e de
diversos sinais, tais como os enunciados por De Meester et al. (2008): ganidos,
bocejos e constante procura do dono. Os animais que se mantiveram calmos,
geralmente, sentavam-se ou deitavam-se à espera do dono aparecer, de forma
semelhante à postura calma descrita por Aloff (2005), ficando atentos à mínima coisa
que acontecesse.
Após a breve ausência dos donos, constatou-se um aumento da intensidade do
cumprimento dos cães (VC 2) perante eles, do teste para a sua repetição, em machos
e fêmeas, apesar de os animais estarem mais calmos pela situação já não lhe ser
estranha. As atitudes dos donos poderão ter inconscientemente provocado maior
intensidade nos animais caso eles próprios tenham reagido assim (Beaver, 1999). As
diferenças entre sexos não foram estatisticamente significativas.
O cumprimento do dono após o confronto com o estranho (VC 34) é indicativo
do grau de vinculação do cão ao proprietário. Isto porque o animal vê-se
136
impossibilitado de proteger o dono nessa situação, pelo que no próximo contacto que
o cão tiver com o seu proprietário deverá evidenciar o entusiasmo. Assim, verificouse do teste para a sua repetição um aumento da intensidade do cumprimento do cão
para com o seu dono, tanto em machos como em fêmeas possivelmente devido ao
aumento do confronto em estudo. As diferenças não se revelaram significativas entre
géneros.
A actividade dos cães Barbados aquando a presença do dono (VC 3), mas
evitação por este, evidencia o grau de procura de atenção pelo animal (Quadro 25).
Assim constatou-se que tanto machos como fêmeas (p> 0,05) mostraram-se pouco
activos, calmos, manifestando comportamentos como abrir a boca, cheirar o chão,
sentar e deitar-se próximo do dono. Isto poderá evidenciar o facto de serem animais
que aceitam facilmente a ausência de atenção por parte do dono, permanecendo
calmos nessas circunstâncias, ou, então, o tempo de testagem desta variável
comportamental poderá ter sido demasiado curto para eles demonstrarem
comportamentos mais intensos. Os animais poderão ter entendido o acto de os donos
os ignorarem como sinal de neutralidade ou dominância e daí terem reagido de forma
neutra ou submissa.
4.3.1.4- Comportamento predatório
No que diz respeito ao comportamento predatório (Quadro 26), mais
propriamente à perseguição de um objecto tipo presa (VC 17, VC 19), e de um carro
telecomandado (VC 41, VC 43), verificou-se que, no geral, quer os machos quer as
fêmeas, não seguiram os objectos nem evidenciaram interesse em agarrá-los (VC 18,
VC 20, VC 42, VC 44), quer no teste quer na repetição. No entanto, alguns
mostraram-se um pouco incomodados pois ladraram e realizaram comportamentos de
substituição, como lamber os lábios, desviar o olhar, sentar e cheirar o chão.
O comportamento entre machos e fêmeas foi muito semelhante, quer no teste,
quer na repetição, não tendo sido constatadas diferenças estatisticamente
significativas. Esta pouca vontade em perseguir ter-se-á devido, possivelmente, à
natureza do estímulo e à situação. Se o Barbado estivesse solto no seu território e
visse um animal a correr ou um carro a andar, a resposta poderia ter sido diferente.
No entanto, o animal esteve fora do seu ambiente e, no caso do objecto tipo presa,
esteve à trela com o dono, o que poderá tê-lo contido ainda mais nessa sua possível
137
perseguição. O dono poderá ter inconscientemente colocado alguma tensão na trela,
o que levaria o animal a não perseguir. Além disso, os estímulos poderão não ter sido
muito realistas e causarem algum medo nos Barbados, o que os levaria a evitá-los,
tentando fugir, e ignorá-los, como foi constatado em alguns casos. Perante os dois
estímulos verificou-se que o objecto tipo presa despoletou mais interesse do que o
carro telecomandado, possivelmente por ser menos ruidoso, mais atractivo e como
tal, ser-lhes menos causador de stress.
Quadro 26- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes
ao comportamento predatório (CP), pelas várias classes de frequência, no teste e na sua repetição, em
machos (M) e fêmeas (F).
Teste
VC Género
17
18
19
20
CP
41
42
43
44
M
1
2
3
4
5
p
54,5 0,0 0,0 18,2 27,3
Repetição
1
2
3
4
5
81,8 0,0 9,1 0,0 9,1
0,177
F
76,9 7,7 7,7 0,0
7,7
M
90,9 0,0 9,1 0,0
0,0
1,000
84,6 0,0 7,7 0,0 7,7
81,8 9,1 9,1 0,0 0,0
0,717
F
92,3 0,0 0,0 0,0
M
81,8 0,0 0,0 0,0 18,2
7,7
0,435
92,3 0,0 0,0 0,0 7,7
72,7 9,1 9,1 0,0 9,1
1,000
F
76,9 7,7 0,0 7,7
7,7
M
100,0 0,0 0,0 0,0
0,0
F
84,6 7,7 0,0 0,0
7,7
M
100,0 0,0 0,0 0,0
0,0
0,883
76,9 0,0 15,4 0,0 7,7
81,8 9,1 9,1 0,0 0,0
1,000
92,3 0,0 0,0 0,0 7,7
92,3 0,0 7,7 0,0
0,0
M
100,0 0,0 0,0 0,0
0,0
F
100,0 0,0 0,0 0,0
0,0
M
100,0 0,0 0,0 0,0
0,0
0,852
84,6 0,0 0,0 7,7 7,7
90,9 0,0 0,0 9,1 0,0
a)
1,000
84,6 0,0 7,7 0,0 7,7
90,9 0,0 0,0 0,0 9,1
1,000
F
92,3 0,0 7,7 0,0
0,0
M
100,0 0,0 0,0 0,0
0,0
F
100,0 0,0 0,0 0,0
0,0
0,435
81,8 0,0 9,1 0,0 9,1
1,000
F
p
1,000
92,3 0,0 0,0 0,0 7,7
a)
90,9 0,0 0,0 9,1 0,0
0,717
92,3 0,0 0,0 0,0 7,7
Nota: quando significativo p < 0,05; a) não existe nível de significância porque os valores entre
machos e fêmeas são exactamente iguais.
138
4.3.1.5- Focalização no treino
Numa situação de treino (Quadro 27), em que uma ordem foi dada pelos donos
aos Barbados (VC 45), observou-se que, no geral, estes obedeceram de uma forma
imediata, mesmo não tendo tido a maioria treino de obediência (p> 0,05; Anexo
VII.5.10, Anexo VII.5.11).
Quadro 27- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes à
focalização no treino (FT), pelas várias classes de frequência, no teste e na sua repetição, em machos
(M) e fêmeas (F).
Teste
VC Género
FT 45
M
1
2
27,3 9,1
3
4
5
p
9,1 18,2 36,4
Repetição
1
2
3
4
5
0,0 9,1 27,3 45,5 18,2
0,355
F
0,0 23,1 23,1 23,1 30,8
p
0,682
0,0 15,4 15,4 30,8 38,5
Nota: quando significativo p < 0,05.
A ordem dada foi do conhecimento dos animais, pelo que a maioria dos donos
optou por chamar o cão, e o grau de rapidez na resposta deste dependeu do seu grau
de concentração. Ocorreu um aumento do cumprimento da ordem do teste para a sua
repetição, em alguns animais, talvez pelo facto de se sentirem mais confiantes no
local do teste, por já o conhecerem melhor e como tal não dispersarem tanto quando
soltos, permanecendo mais atentos às ordens dadas. Por outro lado, os donos
poderão, no intervalo de tempo decorrido entre o teste e a repetição, ter incentivado
os Barbados a cumprir ordens e, por isso, eles estarem mais habituados. Não foram
detectadas diferenças estatisticamente significativas entre géneros.
Apesar das distracções que possam ter surgido, os Barbados em estudo revelaram
ser animais obedientes e atentos. Isto vai de encontro a Coppinger & Coppinger
(1980) e Ley et al. (2009) ao terem afirmado que os cães pastores eram muito
receptivos aos comandos do pastor, muito atentos ao treino e de rápida
aprendizagem.
139
4.3.1.6- Sensibilidade ao toque
Quanto à sensibilidade ao toque (Quadro 28) observada a partir da manipulação
física (VC 46) e contenção do animal, capacidade deste em se submeter (VC 47),
constatou-se que a maioria dos animais deixou-se facilmente manipular. No entanto,
para alguns era algo stressante.
Quadro 28- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes à
sensibilidade ao toque (ST), pelas várias classes de frequência, no teste e na sua repetição, em machos
(M) e fêmeas (F).
Teste
VC Género
46
ST
47
M
1
2
3
4
5
18,2 9,1 63,6 9,1 0,0
F
46,2 30,8 23,1 0,0 0,0
M
9,1 63,6 0,0 18,2 9,1
F
p
53,8 38,5 0,0
0,0 7,7
0,112
Repetição
1
2
3
4
5
36,4 9,1 36,4 9,1
9,1
46,2 23,1 23,1 0,0
7,7
p
0,805
36,4 9,1 18,2 27,3 9,1
0,039
0,277
46,2 30,8 7,7
0,0 15,4
Nota: quando significativo p < 0,05.
Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre géneros, na
maioria das variáveis.
No que diz respeito à capacidade de submissão do animal perante uma situação
de contenção poderá deduzir-se que, apesar da maioria se submeter, houve um
aumento da inquietação do teste para a repetição, tanto em machos como em fêmeas.
Da mesma forma, este aumento foi evidente de uma variável comportamental para
outra, notando-se mais agressividade na tentativa de submissão dos Barbados. Esta
situação poderá ser explicada pelo facto dos animais se sentirem menos
desconfortáveis perante a manipulação do que perante a submissão. Isto porque nesta
situação o manipulador assume uma posição mais dominante o que não lhes agrada,
sendo mais evidente nos machos, uma vez que tendem a ser mais dominantes do que
as fêmeas, tal como referido por O’Farrell (1992). Verificou-se que no teste
existiram diferenças significativas entre machos e fêmeas, parecendo constatar-se
que os machos seriam mais submissos. No entanto, na repetição isto não aconteceu.
A explicação para este facto poderá passar pelos machos sentirem-se menos
confiantes no teste e como tal deixarem-se submeter mais do que as fêmeas, o que já
140
não aconteceu na repetição pois devido à habituação ao espaço os seus níveis de
confiança aumentaram e tornaram-se menos tolerantes. Contudo, deverá ter-se em
conta que o estado emocional do cão varia e basta um se encontrar mais stressado
com o ambiente, o espaço, as pessoas, para logo estar menos confiante e apresentar
diferenças desta ordem.
4.3.1.7- Interesse na brincadeira
Quanto à brincadeira (Quadro 29) com o dono (VC 10) verificou-se que tanto nos
machos como nas fêmeas houve uma grande dispersão dos valores pelas várias
classes evidenciando uma baixa uniformidade nos resultados. No entanto, no geral,
não se notou um interesse muito elevado em brincar com o brinquedo, tendo esse
decrescido do teste para a repetição. Isto dever-se-á, provavelmente, ao facto de o
primeiro contacto com o brinquedo despoletar curiosidade no animal que poderá
diminuir com as constantes exposições, decorrente de alguma habituação. Assim,
esta associada a um baixo interesse e possível aumento da distracção perante o meio
levará o cão a brincar cada vez menos.
Quadro 29- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes
ao interesse na brincadeira (IB), pelas várias classes de frequência, no teste e na sua repetição, em
machos (M) e fêmeas (F).
Teste
VC Género
BD 10
11
IB
BE
12
M
1
2
3
4
5
p
27,3 9,1 27,3 0,0 36,4
F
23,1 15,4 38,5 0,0 23,1
M
36,4 18,2 18,2 0,0 27,3
Repetição
1
2
3
27,3 27,3 9,1
0,941
4
5
9,1 27,3
23,1 15,4 30,8 23,1 7,7
27,3 27,3 9,1
53,8 0,0 30,8 7,7 7,7
M
90,9 0,0
0,0 0,0 9,1
0,234
23,1 23,1 46,2 0,0
7,7
54,5 27,3 9,1
0,0
9,1
92,3 0,0
0,0
7,7
1,000
F
92,3 0,0
0,0 0,0 7,7
0,484
9,1 27,3
0,287
F
p
0,0
0,051
Nota: BD- brincadeira com o dono; BE- brincadeira com o estranho. Quando significativo
p < 0,05.
Relativamente ao interesse em brincar com o estranho (VC 11) constatou-se que,
de forma semelhante à variável comportamental anterior, esse não era muito elevado.
No entanto, aumentou, quer em machos quer em fêmeas do teste para a sua repetição,
141
provavelmente devido a um aumento da confiança dos Barbados relativamente ao
desconhecido, como consequência do segundo contacto com o estranho. Mesmo
assim, é notória a maior vontade em jogar com o dono, do que com o desconhecido,
provavelmente devido ao maior vínculo existente entre os dois.
Perante o atirar da bola observou-se que a maioria dos cães não a agarrou (VC
12). Apesar de predominantemente os donos que participaram no teste
comportamental brincarem com os seus cães (Anexo VII.5.12), inclusive as crianças
(Anexo VII.5.13), apenas alguns animais é que possuíam brinquedos (Anexo
VII.5.14). Assim, os resultados poderão não ter evidenciado uma fraca vontade em
brincar, quer com o dono quer com estranhos, mas sim um baixo interesse em fazê-lo
com brinquedos por uma falta de hábito.
Cada dono tem a sua forma de interagir com o animal e fá-lo de forma diferente
dos demais, bem como o tipo de brincadeira a que o cão está habituado depende
muito do tipo de dono e dos jogos que este realiza com ele. Na variável
comportamental 45, referente ao subteste focalização no treino, os donos foram
informados da necessidade em distrair o animal e posteriormente dar-lhe uma ordem.
Verificou-se que muitos deles optaram por brincar com os seus cães a um jogo de
perseguição, tipo “toca e foge”, muito apreciado pela maioria dos Barbados, devido à
excitação evidenciada. Nesta categoria da personalidade não foram constatadas
diferenças significativas entre géneros na maioria das variáveis comportamentais,
exceptuando-se a 12 na repetição do teste, em que os machos pareceram agarrar mais
o brinquedo do que as fêmeas. Deverá ainda ser enunciado, tal como Svartberg
(2007) referiu que estas variáveis comportamentais relacionadas com a brincadeira
estão sujeitas a uma grande variação, uma vez que não são sistemáticas, podendo a
bola ser enviada para diferentes direcções e como tal isto constituir estímulos
diferentes. Assim, numa situação de teste com esta variabilidade pode ser difícil
separar o efeito desta acção, da diferença da personalidade entre cães.
142
4.3.2- Problemas comportamentais
4.3.2.1- Problemas comportamentais sociais
Relativamente aos problemas comportamentais sociais Quadro 30), mais
propriamente à agressividade por dominância, constatou-se que a maioria dos
Barbados não a evidenciou perante a remoção da comida pelo estranho (VC 4).
Contudo, sentiram-se incomodados com a situação evidenciando posturas corporais e
comportamentos indicativos de stress e medo, tais como aqueles enunciados por
Kalnajs (2006): desvio do olhar, afastamento, cheirar a mão, ladrar, rosnar, lamber os
lábios, bocejar e deitar-se. Apesar de não se sentirem confortáveis com a situação,
foram poucos os que evidenciaram agressão séria, ao ponto de morder, por tentarem
defender o seu recurso ou mesmo a si próprios. Verificou-se um aumento do
comportamento amigável, tanto em machos como em fêmeas, do teste para a sua
repetição, provavelmente pelo facto de a situação não ser novidade e sentirem-se
mais confiantes. Contudo, Goddard & Beilharz (1985) e Weiss & Greenberg (1997),
nos seus resultados constataram que o comportamento agressivo podia ser mais
influenciado por diferenças no estímulo que desencadeava a resposta do animal do
que pelo comportamento confiante e destemido dos cães.
Quadro 30- Distribuição de frequências percentuais das variáveis comportamentais (VC) referentes
aos problemas comportamentais sociais (PCS), pelas várias classes de frequência, no teste e na sua
repetição, em machos (M) e fêmeas (F).
Teste
VC Género
4
AD
5
PCS
AM 22
AT
32
M
1
9,1
2
3
4
5
p
9,1 54,5 18,2 9,1
F
7,7 15,4 46,2 30,8 0,0
M
9,1
Repetição
1
9,1
0,879
0,0 18,2 36,4 36,4
2
3
4
5
0,0 54,5 27,3 9,1
0,0 15,4 23,1 53,8 7,7
9,1
0,0
7,7
7,7 15,4 46,2 23,1
0,0
0,0 15,4 38,5 46,2
M
81,8 18,2 0,0
0,0
0,0
1,000
90,9 0,0
0,0
0,0
9,1
92,3 0,0
0,0
7,7
0,0
18,2 54,5 27,3 0,0
0,0
7,7 69,2 23,1 0,0
0,0
0,334
F
84,6 0,0
7,7
0,0
M
9,1 63,6 27,3 0,0
0,0
F
7,7
7,7 46,2 38,5 7,7
0,0
0,904
0,226
9,1 36,4 45,5
0,958
F
p
0,717
0,845
Nota: AD- agressividade por dominância; AM- agressividade por medo; AT- agressividade
territorial. Quando significativo p < 0,05.
143
Quando a comida era removida pelo dono (VC 5) constatou-se, no geral, uma
predominância do comportamento amigável, tendo este aumentado do teste para a
repetição. Este aumento poderá dever-se ao facto de, como referido na variável
comportamental anterior, os animais estarem mais familiarizados com a situação,
bem como com a mão artificial. Comparando as duas variáveis comportamentais,
verifica-se que o comportamento amigável é maior quando a comida é removida pelo
dono, possivelmente por este se tratar de uma pessoa de confiança e os animais
estarem excitados pelo seu regresso após breve ausência. Além disso, segundo
Dagley & Perkins (2005) os cães vêem os donos como líderes da sua hierarquia
social, e como tal respeitam que o acesso aos recursos seja feito em primeiro lugar
por eles. Desta forma, este comportamento amigável evidenciado pelos Barbados
poderá demonstrar que estes respeitam o seu status social.
O facto de alguns animais terem evidenciado agressão neste contexto não poderá
levar-nos a caracterizá-los como sendo dominantes, uma vez que o estímulo poderá
não ter sido o mais real possível. Isto porque alguns animais aperceberam-se de que a
mão artificial era algo estranho e reagiram de formas distintas, conforme já referido.
Assim, poderão não ter associado directamente a mão à pessoa em questão, quer
fosse o dono ou o estranho, e como tal reagirem agressivamente perante o objecto e
não perante a pessoa. Deverá também ter-se em conta que as respostas dos Barbados
poderão não ter sido mais intensas pelo facto de não se encontrarem no seu território,
e como tal, não considerarem tão fortemente a comida como um recurso que
deveriam defender de alguém.
Perante o surgimento súbito do boneco (VC 22) observou-se que foram poucos
os que evidenciaram agressividade. Esta pode ter sido causada pelo medo sentido
pelos animais ou por outro lado por um factor de dominância, tendo sido
demonstrada através de latidos, rosnados e ataques.
A diminuição desta agressividade, do teste para a sua repetição, deveu-se,
provavelmente, a uma habituação ao estímulo, tal como Svartberg et al. (2005)
enunciaram em estudos semelhantes com outras raças.
Quanto à agressividade territorial evidenciada aquando o confronto entre o dono
e o estranho (VC 32), verificou-se que a maioria dos animais não se sentiram
confortáveis com a situação, evidenciando posturas corporais de medo, tentativa de
fuga, e/ou stress (abrindo a boca). No entanto, apenas alguns mostraram-se
agressivos, ladrando, rosnando e tentando atacar. Observou-se um aumento da
144
agressividade do teste para a repetição, em machos e fêmeas, que possivelmente se
deve à maior realidade e intensidade do confronto na repetição, pois os donos
estavam mais à vontade e a sua participação foi mais real do que na primeira. Uma
outra explicação sugerida por Netto & Planta (1997) que pode justificar este aumento
é a de que os cães poderão reagir de forma mais agressiva em algumas situações
repetidas, porque poderão ter percebido que ganharam da última vez. No caso deste
teste, isso pode ter ocorrido quando o confronto acabou e o animal foi recompensado
pela sua ansiedade aquando do cumprimento posterior pelo dono e pelo estranho.
Comparando os tipos de agressividade, acima discutidos, verificou-se que entre
os poucos cães que a manifestaram, a mais evidente foi a territorial, seguida da
agressividade por dominância e depois por medo. Tal como Paroz et al. (2008)
enunciaram, o facto de os cães não terem manifestado agressividade não permite que
sejam classificados como isentos dela para sempre, mas apenas naquele momento e
situação, pois poderão comportar-se de forma muito diferente em casa. Não se
observaram diferenças significativas entre géneros, quer no teste, quer na repetição.
4.4- Validação do inquérito C-BARQ e do ensaio comportamental
4.4.1- Confiabilidade entre o teste e a sua repetição, no ensaio
comportamental
Detectou-se confiabilidade entre o teste e a sua repetição, em algumas variáveis
comportamentais (Quadro 31), visto que os coeficientes de correlação foram
relativamente elevados e estatisticamente significativos. Esta confiabilidade foi mais
acentuada em fêmeas do que em machos. O interesse na brincadeira foi um dos
subtestes mais consistentes, o que já tinha sido referido por Svartberg (2005). As
situações que não se revelaram confiáveis pelo critério da correlação, provavelmente,
deveram-se ao facto de se ter trabalhado com poucas réplicas e grande variabilidade
dentro das amostras.
145
Quadro 31- Correlações entre o teste e a sua repetição, nas várias variáveis comportamentais, em
machos e fêmeas, e respectivo nível de significância (p).
Traço da personalidade
Com pessoas
estranhas
Sociabilidade
Com cães
Com gatos
Sons
Coragem
Objectos
Vinculação
Comportamento de procura de
atenção
Comportamento predatório
Focalização no treino
Sensibilidade ao toque
Interesse na brincadeira
Dominância
Agressividade
Medo
Territorial
Variáveis
comportamentais
Coeficiente de
correlação
Machos
Fêmeas
VC 6
VC 7
VC 8
VC 9
VC 26
VC 27
VC 30
VC 31
VC 33
VC 15
VC 16
VC 28
VC 29
VC 39
VC 40
VC 13
VC 14
VC 21
VC 23
VC 24
VC 25
VC 35
VC 36
VC 37
VC 38
VC 1
VC 2
VC 34
0,568NS
0,416NS
0,151NS
0,713*
0,430NS
0,430NS
0,205NS
0,134NS
0,333NS
0,464NS
0,464NS
0,761**
0,484NS
0,761**
0,761**
0,535NS
0,475NS
0,612*
0,271NS
-0,234NS
a)
0,616*
0,135NS
0,010NS
0,330NS
0,508NS
0,018NS
0,578NS
0,718**
0,829**
0,887**
0,887**
-0,083NS
0,677*
0,403NS
0,000NS
0,573*
0,085NS
0,247NS
0,994**
0,913**
0,430NS
0,369NS
0,162NS
0,126NS
0,394NS
0,841**
0,609*
-0,181NS
0,659*
0,813**
0,055NS
0,203NS
0,613*
0,308NS
0,065NS
VC 3
0,064NS
0,888**
NS
0,780**
1,000**
0,272NS
0,736**
0,736**
a)
1,000**
a)
0,533NS
0,182NS
0,030NS
0,735**
0,674*
1,000**
0,672*
0,679*
0,736**
0,022NS
VC 17
VC 18
VC 19
VC 20
VC 41
VC 42
VC 43
VC 44
VC 45
VC 46
VC 47
VC 10
VC 11
VC 12
VC 4
VC 5
VC 22
VC 32
-0,052
-0,148NS
0,332NS
a)
a)
a)
a)
a)
0,103NS
0,318NS
0,654*
0,849**
0,728*
0,551NS
0,082NS
0,206NS
-0,149NS
0,919**
Nota: *p <0,05; **p <0,01; NS- não significativo; a) Os coeficientes de correlação não foram
obtidos porque os dados das observações nestes casos concentraram-se na categoria 1.
146
4.4.2- Consistência
comportamental
entre
o
inquérito
C-BARQ
e
o
ensaio
Constatou-se que as poucas correlações existentes (p< 0,05) entre o C-BARQ e o
ensaio comportamental (Quadro 32) não apresentaram coeficientes de correlação
muito elevados.
Esta situação já havia sido detectada em estudos de Goddard & Beilharz (1986) e
Lowe & Bradshaw (2001) sobre a consistência a longo prazo em animais, em que as
correlações dos traços comportamentais ao longo do tempo (1-2 anos) raramente
apresentaram coeficientes superiores a 0,45. Segundo Beaver (1999) e Lindsay
(2001), apesar de se encontrar consistência em alguns parâmetros são esperadas
mudanças ao longo do tempo, devido à acção de determinados factores, como a
maturação, o treino e a esterilização. De acordo com Svartberg (2005), os erros de
medição podem causar baixas correlações, como no caso do C-BARQ que envolve
tantos observadores como cães o que provoca aumento de variabilidade entre as
diferentes respostas, bem como no ensaio comportamental que mesmo sendo
padronizado tende sempre a apresentar elevada variabilidade. Eventualmente, o
número de réplicas também poderá ter contribuído para tal facto. Os coeficientes de
correlação negativos resultam do facto de as escalas de medição das questões do CBARQ serem contrárias às do ensaio comportamental, em que a maior intensidade
numa correspondia à menor na outra.
Constatou-se que o interesse na brincadeira foi dos poucos parâmetros em que
houve uma correlação significativa entre a variável comportamental do ensaio e a
correspondente questão do inquérito C-BARQ, tal como Svartberg (2005) havia
encontrado. Assim, a excitabilidade manifestada pelos Barbados ao brincarem com o
dono está correlacionada com o interesse que possuem em brincar com ele.
Já na coragem perante as latas como objectos constatou-se a existência de uma
correlação significativa com a questão do C-BARQ, provavelmente pela situação ser
mais semelhante do que com o boneco como objecto. No entanto, na coragem
perante sons já não se detectaram essas correlações. Tal facto, poderá ser explicado,
em parte, pela natureza dos estímulos, pois enquanto no C-BARQ os sons referidos
são abrangentes, podendo ir desde uma simples buzina a eventos como tempestades,
no ensaio comportamental é apenas utilizado o estímulo da buzina, porque por razões
147
práticas não foi possível incluir estímulos de medo comuns. Esta ausência de
correlação já havia sido detectada no estudo de De Meester et al. (2008).
Quadro 32- Correlações entre algumas variáveis comportamentais do ensaio comportamental (teste e
sua repetição) e algumas questões do C-BARQ, em machos e fêmeas, e respectivo nível de
significância.
Traço da personalidade
Com pessoas
estranhas
Variáveis
comportamentais
Questões
VC 6
VC 7
VC 9
VC 15
Sociabilidade
VC 16
Com cães
VC 28
VC 29
Coeficiente de correlação (R)
Teste
Repetição
Q16
-0,424*
-0,306NS
Q21
Q40
Q21
Q40
Q23
Q45
Q23
Q45
Q24
Q45
Q24
Q45
-0,238NS
-0,113NS
-0,355NS
-0,115NS
-0,006NS
-0,224NS
0,022NS
-0,271NS
-0,199NS
-0,313NS
-0,232NS
-0,411*
-0,395NS
-0,147NS
- 0,378NS
-0,130NS
-0,052NS
-0,358NS
-0,007NS
-0,394NS
-0,228NS
-0,291NS
-0,325NS
-0,131NS
Sons
VC 13
Q38
0,326NS
-0,109NS
Objectos
VC 21
VC 35
Q42
Q42
0,401NS
0,496*
0,455*
0,429*
VC 1
Q57
0,167NS
-0,159NS
VC 2
Q63
0,085NS
0,194NS
Comportamento de procura de
atenção
VC 3
Q72
-0,141NS
-0,177NS
Focalização no treino
VC 45
Q1
0,218NS
0,310NS
Sensibilidade ao toque
VC 46
Q43
-0,056NS
0,356NS
Interesse na brincadeira
Agressividade
Dominância
VC 10
Q64
-0,459*
-0,411*
VC 5
Q19
a)
a)
Coragem
Vinculação
Nota: *p <0,05; NS- não significativo; a) Os coeficientes de correlação não foram obtidos porque
os dados das respostas dos donos dos cães no C-BARQ concentraram-se na categoria 0.
A ausência de correlações significativas na sensibilidade ao toque prendeu-se
com o facto de as situações serem diferentes, pois uma ida ao veterinário engloba não
só lidar com pessoas desconhecidas, como com um espaço estranho e novos cheiros,
o que varia da situação do ensaio comportamental. A não existência de correlações
148
noutros parâmetros, como a sociabilidade com pessoas e cães estranhos, a
vinculação, a procura de atenção e a focalização no treino, justifica-se pelo facto de,
apesar de as variáveis comportamentais e as questões abordarem o mesmo assunto,
esses serem distintos entre si, podendo uns generalizar mais do que outros e ocorrer
em locais e circunstâncias específicas. As situações de indução do comportamento
predatório, bem como da sociabilidade com outros animais foram bem distintas no
ensaio comportamental e no inquérito C-BARQ e por esse motivo não se testaram
correlações entre elas.
A ausência de correlações entre alguns parâmetros poderá levar à especulação de
que os donos dos Barbados não terão um perfeito conhecimento do comportamento
dos seus cães, em determinadas situações. O facto de o ensaio comportamental ter
sido realizado fora do ambiente normal do cão, pode, também, ter influenciado nas
reacções que o animal teria normalmente no seu território ou num local mais
familiar. As distracções ocorridas durante o teste foram tidas em conta no
comportamento manifestado pelo animal e ajustadas de acordo com isso. Não se crê
ter havido grande influência dos factores externos nas respostas manifestadas pelos
Barbados aquando do ensaio comportamental. Os poucos ruídos ambientais eram tão
comuns que serão, à partida, algo com que os Barbados conviviam diariamente, tal
como Flentje (2008) enunciou no seu estudo em cavalos. As condições ambientais
adversas aquando da realização do ensaio foram mínimas, e segundo os relatos de
alguns donos de Barbados, estes preferem estar à chuva do que abrigados, o que à
partida poderá ir de encontro com as suas origens.
149
V- Conclusões e Perspectivas Futuras
O presente estudo permitiu verificar alguns traços da personalidade dos cães
Barbados da ilha Terceira em estudo, bem como a sua propensão para o
desenvolvimento de patologias comportamentais, com base nos dados fornecidos
pelos donos nos inquéritos e através do comportamento manifestado pelos cães no
ensaio comportamental.
Pareceu constatar-se existir uma diminuição da aquisição do Barbado para a
função para o qual fora originalmente seleccionado, o pastoreio, por a maioria estar a
ser utilizada em funções de companhia e guarda. No geral, os Barbados tiveram um
bom desmame e boa socialização, tendo sido esta menor com outros animais. Notouse que a maioria dos Barbados vivia com outros animais, passava a maior parte do
tempo à solta nos redutos da casa, tendo aumentado esta frequência principalmente
quando os donos se ausentavam, possivelmente devido à função de guarda
desempenhada por alguns cães. No geral, os donos dos Barbados brincavam com
eles, mas a maioria não tinha sido treinada, especialmente os machos, facto este que
poderia influenciar o desenvolvimento de algumas patologias comportamentais. A
população deverá ser sensibilizada para a importância do treino canino, por forma a
tornar a sua convivência com o ser humano mais correcta e adequada, reduzindo
factores que poderão induzir stress. A maioria dos donos dos Barbados prestava
cuidados de higiene e ia com os seus animais ao veterinário.
5.1- Sociabilidade
5.1.1- Sociabilidade com pessoas estranhas
Relativamente à sociabilidade com pessoas estranhas, verificou-se que a maioria
dos cães Barbados da Terceira em estudo não evidenciou agressividade ou medo nos
vários contextos sociais. No entanto, constatou-se que se a abordagem de um
estranho fosse invasiva do seu território ou potencialmente ameaçadora para si ou
para o dono, a intensidade da agressividade aumentava, tendo esta uma componente
territorial. Notou-se que eram animais que cooperavam, mesmo até com um
desconhecido, apesar de se sentirem incomodados, mas tentavam manter sempre o
dono no seu alcance visual, como forma de apoio.
150
Com o inquérito C-BARQ foi possível verificar que apesar da pouca
agressividade manifestada, esta foi superior perante a abordagem de um adulto
desconhecido ao dono, seguindo-se a abordagem de um adulto ao cão e
posteriormente a de uma criança.
5.1.2- Sociabilidade com animais
No que diz respeito à sociabilidade com cães, verificou-se que a maioria dos
Barbados não evidenciou agressão ou medo perante as abordagens de cães
desconhecidos, independentemente do género ou tamanho, em ambas as
metodologias utilizadas. No inquérito C-BARQ, de forma semelhante à sociabilidade
com desconhecidos, constatou-se que se a abordagem do outro cão fosse
ameaçadora, ou este visitasse a casa do dono do Barbado, a intensidade da agressão
já aumentava. Os machos eram mais propensos a manifestar agressividade
intraespecífica do que as fêmeas, bem como agressividade por dominância contra
cães na mesma casa, tendo sido esta maior perante a comida como recurso.
Quanto à sociabilidade com gatos ou outros animais, verificou-se que com o
inquérito C-BARQ a maioria evidenciou agressividade séria. Já no ensaio
comportamental, na situação referente à aproximação e observação do gato,
constatou-se que, no geral, ficaram desconfortáveis, evidenciando agressão e/ou
medo e/ou stress. Assim, poderá deduzir-se que os Barbados sentiram-se
incomodados, em maior ou menor grau, com a presença de animais de outras
espécies e que a invasão destes ao seu território despoletou grande agressividade.
5.2- Coragem
Relativamente à coragem notou-se que a maioria dos cães Barbados, nos dois
tipos de metodologia usados, não evidenciou medo extremo perante sons altos e
súbitos, bem como perante objectos ou situações desconhecidas. O inquérito CBARQ apenas questionou o medo do Barbado perante determinados estímulos e não
se referiu à sua capacidade em explorar, abordar ou evitá-los. Já o ensaio
comportamental teve em conta estas circunstâncias, pelo que, no geral, os Barbados
em estudo necessitaram do apoio do dono para explorar, evitando e não abordando o
objecto. Isto poderá justificar-se por um baixo nível de confiança associado ao medo,
151
ou por pouco interesse pelo objecto, por este não suscitar curiosidade ou ter sido
pouco real.
5.3- Vinculação e comportamento de procura de atenção
No que diz respeito à vinculação, constatou-se que os Barbados estabeleciam um
vínculo forte com um membro da família em especial, procurando sempre agradá-lo.
Quanto ao comportamento de procura de atenção demonstraram ser cães que reagiam
bem, de forma calma, perante a ausência de atenção por parte do dono, e só às vezes
a procuravam. No entanto, se esta recaísse sobre um animal a agitação já aumenta.
5.4- Comportamento predatório
Os barbados em estudo não evidenciaram um comportamento predatório elevado
nas circunstâncias propostas, quer na perseguição de animais no inquérito C-BARQ,
quer na perseguição de um objecto tipo presa e de um carro telecomandado no ensaio
comportamental. Os comportamentos no ensaio deveram-se provavelmente ao facto
de os estímulos não terem sido muito realistas e de os cães não se encontrarem no
seu ambiente natural.
Quanto aos resultados do inquérito C-BARQ constatou-se existir maior
intensidade na perseguição de gatos, embora não muito elevada, do que perante
outros animais. Isto pode ser justificado de duas formas: ou os donos não vêm os
seus cães a realizar este comportamento, porque não estão com eles o dia todo, ou
partindo do princípio que esta avaliação é realista os Barbados não têm interesse em
perseguir outros animais. Tal facto poderá decorrer de uma boa socialização ou de
uma selecção actual vocacionada para a função de companhia, uma vez que o
comportamento predatório é mais evidente em raças de pastoreio. No entanto, para
avaliá-lo, bem como o desempenho do cão Barbado na condução de gado, esses
animais teriam de ser colocados em situações reais de trabalho, para a obtenção de
dados mais conclusivos.
152
5.5- Focalização no treino
Os barbados, de uma forma geral, apesar de a maioria não ter tido treino de
obediência, revelaram-se cães bastante obedientes e atentos às ordens dos donos,
distraindo-se pouco com o ambiente em redor.
5.6- Sensibilidade ao toque
Relativamente à sensibilidade ao toque constatou-se que apesar de se sentirem
incomodados com situações de manipulação, nem sempre manifestaram medo. Este
só foi mais evidente no inquérito C-BARQ, perante estímulos aos quais estavam
pouco habituados, como o cortar as unhas e a ida ao veterinário. Perante a situação
de submissão, apenas medida no ensaio comportamental, verificou-se que era algo
que causava algum stress na maioria dos cães por haver um contacto físico mais
invasivo.
5.7- Interesse na brincadeira
Os Barbados evidenciaram algum interesse em brincar com brinquedos, embora
este não parecesse muito elevado. Isto dever-se-á provavelmente ao facto de nem
todos terem brinquedos nem estarem habituados a jogar dessa forma. As questões e
variáveis comportamentais do ensaio podem ter sido insuficientes e inadequadas para
medir este parâmetro nos Barbados, pelo que, provavelmente, teria sido conveniente
aumentar o seu número. Mesmo assim, devido a um maior vínculo com o dono, e
possivelmente vontade em agradá-lo, os Barbados demonstraram-se mais
interessados em brincar com ele do que com uma pessoa estranha.
5.8- Actividade e excitabilidade
Os Barbados pareceram ser cães bastante activos, estando sempre dispostos a
praticar alguma actividade, facto averiguado pelo inquérito C-BARQ. Embora no
ensaio comportamental não tenha havido um subteste específico para medir este
traço comportamental verificou-se que eram animais enérgicos, com vontade em
agradar os donos. Perante acontecimentos entusiasmantes, como o regresso do dono
153
após uma breve ausência, ou a antecedência de um passeio, revelaram ser animais
moderadamente excitáveis.
5.9- Problemas comportamentais
Os Barbados não mostraram ser animais agressivos em contextos de dominância
perante um membro da família ou um desconhecido, exceptuando-se as situações em
que se sentiam extremamente ameaçados, como o maltrato. No inquérito C-BARQ os
animais em estudo tiveram pontuações mais elevadas na agressividade direccionada
a outras espécies, seguindo-se a direccionada a cães, pessoas estranhas e donos.
O vínculo entre os Barbados e os seus donos pareceu ser saudável tendo em conta
que estes cães, no geral, não evidenciaram sintomatologia compatível com a
ansiedade por separação. Isto porque, constatou-se que, em ambas as metodologias
utilizadas, o comportamento de espera da maioria deles perante a ausência dos donos
era relativamente calmo, bem como o comportamento de saudação após a breve
ausência. Quanto aos demais problemas comportamentais, observou-se que, no geral,
os Barbados em estudo não os manifestaram, o que pressupõe serem animais
estáveis, sem stress, nem grandes frustrações decorrentes deste.
5.10- Correlações
Constatou-se não existirem muitas correlações estatisticamente significativas
entre o teste e a sua repetição, bem como entre algumas variáveis comportamentais
destes e questões do inquérito C-BARQ. Assim, não existiu grande confiabilidade
teste-repetição nem se pode validar o ensaio comportamental no geral. Isto poderá
ser justificado pela pequena amostra e grande variabilidade dentro dela. No entanto,
dos traços de personalidade verificou-se que o interesse na brincadeira demonstrou
ser consistente entre o teste e a sua repetição e com os dados fornecidos pelos donos
no inquérito C-BARQ.
Seria importante realizar outros estudos, com condições mais controladas ou
diferentes metodologias, isolando o máximo de variáveis possíveis e determinando a
confiabilidade, validade e viabilidade com precisão.
O desenvolvimento de um teste comportamental facilmente aplicável que
permitisse desde cedo inferir alguns parâmetros de personalidade do animal seria
154
útil. Assim poder-se-ia verificar as tendências do cão para o desenvolvimento de
determinadas patologias comportamentais e começar logo a educar e estabelecer a
terapia comportamental adequada, bem como seleccionar para criação os exemplares
com o perfil comportamental mais desejado. Assim esses testes poderiam ser
implementados em clubes e associações da raça depois de serem validados com uma
amostra grande. Seria importante determinar a possível existência de alguma
incompatibilidade de personalidade entre os cães de pastoreio e companhia, tendo em
conta que desempenham diferentes funções. Se tal incompatibilidade fosse
constatada poderia haver necessidade de formar dois núcleos de criação, um núcleo
solar, em que os animais são seleccionados com base no melhor desempenho das
suas funções de trabalho, e um núcleo de Canicultura, cuja selecção se baseia na
melhor morfologia adequada ao estalão.
155
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VII- Anexos
Anexo VII.1- Inquérito informativo sobre o canídeo
Anexo VII.2-Canine Behavioral Assessment & Research Questionnaire (CBARQ) de James Serpell
Anexo VII.3- Estatística descritiva da amostra
Anexo VII.3.1- Distribuição de frequências das idades dos animais utilizados nos inquéritos
(informativo sobre o canídeo e C-BARQ).
Idade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
1,00
18
26,9
26,9
26,9
2,00
12
17,9
17,9
44,8
3,00
11
16,4
16,4
61,2
4,00
9
13,4
13,4
74,6
5,00
6
9,0
9,0
83,6
6,00
7
10,4
10,4
94,0
8,00
1
1,5
1,5
95,5
9,00
1
1,5
1,5
97,0
10,00
1
1,5
1,5
98,5
100,0
13,00
1
1,5
1,5
Total
67
100,0
100,0
Anexo VII.3.2- Distribuição de frequências das idades dos animais utilizados no ensaio
comportamental.
Idade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
1,00
4
16,7
16,7
16,7
2,00
3
12,5
12,5
29,2
3,00
8
33,3
33,3
62,5
4,00
3
12,5
12,5
75,0
5,00
1
4,2
4,2
79,2
6,00
5
20,8
20,8
100,0
Total
24
100,0
100,0
Anexo VII.4- Tratamento estatístico do inquérito informativo sobre o canídeo
(N=67)
Anexo VII.4.1- Distribuição de frequências dos animais por classes de aptidão.
Aptidão
Fêmeas Machos Total % Fêmeas % Machos Soma %
Companhia
13
15
28
19,4
22,4
41,8
Companhia/Concurso/Guarda/Pastoreio
1
0
1
1,5
0,0
1,5
Companhia/Concurso/Guarda/Reprodução
1
1
2
1,5
1,5
3,0
Companhia/Concurso
1
0
1
1,5
0,0
1,5
Companhia/Concurso/Guarda
1
1
2
1,5
1,5
3,0
Companhia/Guarda
10
9
19
14,9
13,4
28,4
Guarda
1
6
7
1,5
9,0
10,4
Guarda/Pastoreio
1
1
2
1,5
1,5
3,0
Companhia/Guarda/Pastoreio
0
1
1
0,0
1,5
1,5
Companhia/Guarda/Reprodução
0
2
2
0,0
3,0
3,0
Companhia/Guarda/Reprodução/Pastoreio
0
1
1
0,0
1,5
1,5
Pastoreio
0
1
1
0,0
1,5
1,5
Total
29
38
67
43,3
56,7
100,0
Anexo VII.4.2- Distribuição de frequências da questão 2, em machos e fêmeas.
2-Como adquiriu o animal?
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Comprou
35
52,2
52,2
52,2
Encontrou
1
1,5
1,5
53,7
Foi-lhe oferecido
29
43,3
43,3
97,0
100,0
Outra: nasceu em casa
2
3,0
3,0
Total
67
100,0
100,0
Anexo VII.4.3- Distribuição de frequências da questão 2.1, em machos e fêmeas.
2.1- Com que idade?
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Missing
2
3,0
3,0
3,0
1 ano
3
4,5
4,5
7,5
1 mês
3
4,5
4,5
11,9
1,5 meses
5
7,5
7,5
19,4
2 anos
1
1,5
1,5
20,9
2 meses
29
43,3
43,3
64,2
2,5 meses
2
3,0
3,0
67,2
3 meses
15
22,4
22,4
89,6
3 semanas
2
3,0
3,0
92,5
4 meses
2
3,0
3,0
95,5
5 meses
2
3,0
3,0
98,5
8 meses
1
1,5
1,5
100,0
Total
67
100,0
100,0
Anexo VII.4.4- Distribuição de frequências da questão 3.1, em machos (M) e fêmeas (F).
1F
1M
1M, 1F
1M, 3F
1M, 4F
2F
1M, 9F
2M
2M, 1F
2M, 2F
3M
3M, 1F
3M, 4F
4M, 3F
5M
Total
3.1- Se não: quantos para além dele? Especifique os sexos
Frequency
Percent
Valid Percent Cumulative Percent
F
M
F
M
F
M
F
M
4
7
17,4 25,9 17,4 25,9
17,4
25,9
6
7
26,1 25,9 26,1 25,9
43,5
51,9
1
1
4,3
3,7
4,3
3,7
47,8
55,6
1
0
4,3
0,0
4,3
0,0
52,2
55,6
2
0
8,7
0,0
8,7
0,0
60,9
55,6
2
3
8,7
11,1
8,7
11,1
69,6
66,7
1
2
4,3
7,4
4,3
7,4
73,9
74,1
1
3
4,3
11,1
4,3
11,1
78,3
85,2
2
0
8,7
0,0
8,7
0,0
87,0
85,2
0
1
0,0
3,7
0,0
3,7
87,0
88,9
1
1
4,3
3,7
4,3
3,7
91,3
92,6
0
1
0,0
3,7
0,0
3,7
91,3
96,3
1
0
4,3
0,0
4,3
0,0
95,7
96,3
0
1
0,0
3,7
0,0
3,7
95,7
100,0
1
0
4,3
0,0
4,3
0,0
100,0
100,0
23 27 100,0 100,0 100,0 100,0
Anexo VII.4.5- Distribuição de frequências da questão 4.1, em machos e fêmeas.
Animais
Frequência
%
Equinos
Bovinos
Caprinos
Ovinos
Suínos
Gatos
Coelhos
Galinhas
Outras aves
5
10
2
2
6
26
3
15
12
13,5
27,0
5,4
5,4
16,2
70,3
8,1
40,5
32,4
2
Anexo VII.4.6- Teste χ da questão 4.2, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação Total
Não
Count
9
6
Pearson Chi-Square
15
Continuity Correction
6,5
8,5
15,0
7
15
22
Expected Count
9,5
12,5
22,0
Count
16
21
37
Likelihood Ratio
Género
Count
Exact Sig.
(2-sided)
(1-sided)
1
,089
,107
,087
1,852
1
,174
2,903
1
,088
,107
,087
,107
,087
a
b
N of Valid Cases
37
a. 0 cells (,0%) have expected count less than 5. The minimum expected
Total
16,0 21,0
2,886
Fisher's Exact Test
M
Expected Count
Exact Sig.
(2-sided)
df
Sim
F
Expected Count
Asymp. Sig.
Value
count is 6,49.
37,0
b. Computed only for a 2x2 table
2
Anexo VII.4.7- Teste χ da questão 5.1, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Pontuação
Chi-Square Tests
Total
Value
Com frequência Moderado Nenhum Raro
Count
19
2
6
2
29
19,5
2,6
3,9
3,0
29,0
26
4
3
5
38
25,5
3,4
5,1
4,0
38,0
F
Expected Count
Género
Count
M
Expected Count
Count
45
6
9
7
67
45,0
6,0
9,0
7,0
67,0
2,884
Likelihood Ratio
2,908
Fisher's Exact Test
2,775
N of Valid Cases
Asymp. Sig. Exact Sig.
(2-sided)
(2-sided)
3
,410
,433
3
,406
,458
,433
67
a. 5 cells (62,5%) have expected count less than 5. The
Total
Expected Count
Pearson Chi-Square
a
df
minimum expected count is 2,60.
2
Anexo VII.4.8- Teste χ da questão 5.2, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação
Total
Value df
Com frequência Moderado Nenhum Raro
Count
18
4
4
3
29
15,1
6,1
3,9
3,9
29,0
17
10
5
6
38
19,9
7,9
5,1
5,1
38,0
F
Expected Count
Género
Count
M
Expected Count
Count
35
14
9
9
67
35,0
14,0
9,0
9,0
67,0
Total
Expected Count
Asymp. Sig.
Exact Sig.
(2-sided)
(2-sided)
a
3
,467
,508
Likelihood Ratio
2,603
3
,457
,484
Fisher's Exact Test
2,516
Pearson Chi-Square 2,548
N of Valid Cases
,514
67
a. 2 cells (25,0%) have expected count less than 5. The
minimum expected count is 3,90.
2
Anexo VII.4.9- Teste χ da questão 5.3, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação
Total
Value df
Com frequência Moderado
Count
26
3
29
26,4
2,6
29,0
35
3
38
34,6
3,4
38,0
61
6
67
61,0
6,0
67,0
Pearson Chi-Square
Expected Count
Género
Count
Likelihood Ratio
Count
(2-sided)
(1-sided)
1,000
,526
1,000
,526
1,000
,526
1
,728
,000
1
1,000
,120
1
,729
Fisher's Exact Test
M
Expected Count
b
N of Valid Cases
Exact Sig.
(2-sided)
a
,121
Continuity Correction
F
Asymp. Sig. Exact Sig.
67
a. 2 cells (50,0%) have expected count less than 5. The minimum
expected count is 2,60.
Total
Expected Count
b. Computed only for a 2x2 table
2
Anexo VII.4.10- Teste χ da questão 5.4, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Pontuação
Chi-Square Tests
Total
Com frequência Moderado Nenhum Raro
Count
5
2
10
12
29
Expected Count
9,5
2,2
7,8
9,5
29,0
Count
17
3
8
10
38
12,5
2,8
10,2
F
Expected Count
6,050
6,310
Fisher's Exact Test
6,152
N of Valid Cases
67
Count
22
5
18
22,0
5,0
18,0
12,5 38,0
22
67
Total
Expected Count
22,0 67,0
(2-sided)
3
,109
,114
3
,097
,130
a
Likelihood Ratio
M
Exact Sig.
(2-sided)
df
Pearson Chi-Square
Género
Asymp. Sig.
Value
,093
a. 2 cells (25,0%) have expected count less than 5. The
minimum expected count is 2,16.
2
Anexo VII.4.11- Teste χ da questão 7, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação Total
Não
Count
15
14
29
F
Pearson Chi-Square
Likelihood Ratio
Count
Fisher's Exact Test
13
38
M
Expected Count 22,7 15,3 38,0
Count
40
Exact Sig.
Exact Sig.
(2-sided)
(2-sided)
(1-sided)
1
,245
,317
,181
,831
1
,362
1,351
1
,245
,317
,181
,317
,181
df
a
27
67
Total
Expected Count 40,0 27,0 67,0
1,352
Continuity Correction
Expected Count 17,3 11,7 29,0
Género
25
Asymp. Sig.
Value
Sim
b
N of Valid Cases
67
a. 0 cells (,0%) have expected count less than 5. The minimum expected
count is 11,69.
b. Computed only for a 2x2 table
2
Anexo VII.4.12- Teste χ da questão 8, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação Total
Asymp. Sig.
Exact Sig.
Exact Sig.
(2-sided)
(2-sided)
(1-sided)
1
,036
,042
,033
3,389
1
,066
4,416
1
,036
,042
,033
,042
,033
Value
df
a
Não Sim
Count
15
14
29
F
Continuity Correction
Expected Count 19,0 10,0 29,0
Género
Pearson Chi-Square
Count
29
9
38
M
Likelihood Ratio
4,412
b
Fisher's Exact Test
Expected Count 25,0 13,0 38,0
N of Valid Cases
Count
a. 0 cells (,0%) have expected count less than 5. The minimum expected
44
23
67
Total
67
count is 9,96.
Expected Count 44,0 23,0 67,0
b. Computed only for a 2x2 table
2
Anexo VII.4.13- Teste χ da questão 11, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação
Total
+12H 1-3H 4-8H 9-12H Nunca
Count
0
Expected Count
Count
4
22
2
,9
6,5 16,4
3,5
2
11
1
29
F
1,7 29,0
Género
16
6
8,5 21,6
4,5
3
38
M
Expected Count
1,1
Count
38
8
2,0 15,0 38,0
2
15
8,0
2,3 38,0
4
67
df
Asymp. Sig. Exact Sig.
(2-sided)
(2-sided)
Pearson Chi-Square
8,152
a
4
,086
,073
Likelihood Ratio
9,048
4
,060
,093
Fisher's Exact Test
7,465
N of Valid Cases
,082
67
a. 6 cells (60,0%) have expected count less than 5. The minimum
Total
Expected Count
Value
4,0 67,0
expected count is ,87.
2
Anexo VII.4.14- Teste χ da questão 13.1, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação
Total
Com frequência Moderado Nenhum Raro
Count
17
3
3
6
29
16,9
3,5
3,0
5,6
29,0
22
5
4
7
38
22,1
4,5
4,0
7,4
38,0
13
67
F
Expected Count
Género
Count
M
Expected Count
Count
39
8
7
39,0
8,0
7,0
Total
Expected Count
13,0 67,0
Value
df
Asymp. Sig.
Exact Sig.
(2-sided)
(2-sided)
Pearson Chi-Square
,155
a
3
,985
1,000
Likelihood Ratio
,156
3
,984
1,000
Fisher's Exact Test
,306
N of Valid Cases
1,000
67
a. 4 cells (50,0%) have expected count less than 5. The minimum
expected count is 3,03.
2
Anexo VII.4.15- Teste χ da questão 13.2, em machos (M) e fêmeas (F).
Chi-Square Tests
Crosstab
Pontuação
Total
Value
df
Count
15
5
3
6
29
12,1
7,4
3,5
6,1
29,0
13
12
5
8
38
15,9
9,6
4,5
7,9
38,0
14
67
F
Expected Count
Género
Count
M
Expected Count
Count
28
17
8
28,0
17,0
8,0
(2-sided)
(2-sided)
2,650
a
3
,449
,461
Likelihood Ratio
2,692
3
,442
,461
Fisher's Exact Test
2,641
N of Valid Cases
,456
67
a. 2 cells (25,0%) have expected count less than 5. The minimum
Total
Expected Count
Asymp. Sig. Exact Sig.
Pearson Chi-Square
Com frequência Moderado Nenhum Raro
14,0 67,0
expected count is 3,46.
2
Anexo VII.4.16- Teste χ da questão 13.3, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação
Total
Value
df
Com frequência Moderado Raro
Count
24
4
1
29
25,5
2,6
,9
29,0
35
2
1
38
33,5
3,4
1,1
38,0
59
6
2
67
59,0
6,0
2,0
67,0
F
Expected Count
Género
Count
M
Expected Count
Count
Total
Expected Count
Asymp. Sig. Exact Sig.
(2-sided)
(2-sided)
Pearson Chi-Square
1,536
a
2
,464
,696
Likelihood Ratio
1,530
2
,465
,696
Fisher's Exact Test
1,771
N of Valid Cases
,503
67
a. 4 cells (66,7%) have expected count less than 5. The
minimum expected count is ,87.
2
Anexo VII.4.17- Teste χ da questão 13.4, em machos (M) e fêmeas (F).
Crosstab
Chi-Square Tests
Pontuação
Total
Value
df
Asymp. Sig. Exact Sig.
Com frequência Moderado Nenhum Raro
Count
9
1
9
10
29
11,3
2,6
7,8
7,4
29,0
17
5
9
7
38
14,7
3,4
10,2
9,6
38,0
26
6
18
17
67
26,0
6,0
18,0
F
Expected Count
Género
Count
M
Expected Count
Count
(2-sided)
4,530
a
3
,210
,220
Likelihood Ratio
4,733
3
,192
,216
Fisher's Exact Test
4,327
N of Valid Cases
,233
67
a. 2 cells (25,0%) have expected count less than 5. The
Total
Expected Count
(2-sided)
Pearson Chi-Square
17,0 67,0
minimum expected count is 2,60.
Anexo VII.5- Tratamento estatístico do inquérito informativo sobre o canídeo
(N=24)
Anexo VII.5.1- Distribuição de frequências da questão 5, em machos (M) e fêmeas (F).
5- Com que frequência entre as 3 semanas e os 3,5 meses, teve contacto com:
Pontuação
Questão
G
Nenhum
Raro
Frequência
5.1-outros cães
5.2- crianças
5.3-adultos
5.4-outros animais
Moderado
Com frequência
%
Frequência
%
Frequência
%
Frequência
%
M
1
9,1
1
9,1
2
18,2
7
63,6
F
2
15,4
1
7,7
1
7,7
9
69,2
M
0
0,0
4
36,4
4
36,4
3
27,3
F
3
23,1
2
15,4
2
15,4
6
46,2
M
0
0,0
0
0,0
1
9,1
10
90,9
F
0
0,0
0
0,0
3
23,1
10
76,9
M
1
9,1
3
27,3
1
9,1
6
54,5
F
4
30,8
7
53,8
0
0,0
2
15,4
2
Anexo VII.5.2- Teste χ da questão 5.3, em machos e fêmeas.
Anexo VII.5.3- Distribuição de frequências da questão 13, em machos (M) e fêmeas (F).
13- Que tipo de contato tem o seu cão agora, com:
Pontuação
Questão
13.1-outros cães
13.2- crianças
13.3-adultos
13.4-outros animais
G
Nenhum
Raro
Moderado
Com frequência
Frequência
%
Frequência
%
Frequência
%
Frequência
%
M
1
9,1
2
18,2
2
18,2
6
54,5
F
1
7,7
3
23,1
2
15,4
7
53,8
M
0
0,0
3
27,3
5
45,5
3
27,3
F
1
7,7
2
15,4
8
61,6
2
15,4
M
0
0,0
0
0,0
1
9,1
10
90,9
F
0
0,0
1
7,7
4
30,8
8
61,5
M
0
0,0
1
9,1
3
27,3
7
63,6
F
3
23,1
5
38,5
2
15,4
3
23,1
2
Anexo VII.5.4- Teste χ da questão 13.3, em machos
e fêmeas.
Anexo VII.5.5- Teste
machos e fêmeas.
2
Anexo VII.5.6- Teste χ da questão 13.1, em machos e fêmeas.
Anexo VII.5.7- Distribuição de frequências da questão 4.2, em machos e fêmeas.
4.2- Coabitam?
Frequency
Percent
Valid Percent
Cumulative Percent
Não
7
41,2
41,2
41,2
Sim
10
58,8
58,8
100,0
Total
17
100,0
100,0
Anexo VII.5.8- Distribuição de frequências da questão 4.1, em machos e fêmeas.
Animais
Frequência
%
Equinos
4
23,5
Bovinos
5
29,4
Caprinos
1
5,9
Ovinos
1
5,9
Suínos
3
17,6
Gatos
12
70,6
Coelhos
3
17,6
Galinhas
7
41,2
Outras aves
5
29,4
χ2
da questão 5.1, em
Anexo VII.5.9- Distribuição de frequências da questão 9, em machos e fêmeas.
9- Onde vive, o seu cão, a maior parte do tempo?
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
À solta numa quinta
3
12,5
12,5
12,5
No jardim, amarrado
1
4,2
4,2
16,7
No jardim,à solta
11
45,8
45,8
62,5
No jardim,num canil
6
25,0
25,0
87,5
Outro (garagem)
2
8,3
8,3
95,8
100,0
Outro (no pátio à solta)
1
4,2
4,2
Total
24
100,0
100,0
Anexo VII.5.10- Distribuição de frequências da
questão 8, em machos e fêmeas.
Anexo VII.5.11- Teste
fêmeas.
χ2
da questão 8, em machos e
8- O seu cão teve treino de obediência (senta, deita, fica)?
Pontuação
Género
M
F
Sim
Não
Frequência
%
Frequência
%
3
27,3
8
72,7
6
46,2
7
53,8
Anexo VII.5.12- Distribuição de frequências da questão 6, em machos e fêmeas.
6- Costuma brincar com o seu cão?
Pontuação
Género
Sim
Não
Frequência
%
Frequência
%
M
11
100,0
0
0,0
F
12
92,3
1
7,7
Anexo VII.5.13-Distribuição de frequências da
questão 6.1, em machos e fêmeas.
Anexo VII.5.14-Distribuição de frequências da
questão 7, em machos e fêmeas.
6.1- E as crianças?
7- O seu cão tem brinquedos?
Pontuação
Pontuação
Género
Sim
Género
Não
Sim
Não
Frequência
%
Frequência
%
Frequência
%
Frequência
%
M
4
36,4
1
9,1
M
3
27,3
8
72,7
F
6
46,2
3
23,1
F
6
46,2
7
53,8
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