REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 INSTITUCIONAL DIREÇÃO DA MANTENEDORA Diretoria Gestão 2015 - 2017 Presidente: Ernani Carlos Boeck Vice-presidente: Ronaldo Fredolino Wenland Secretária: Dalva Lenz de Souza Vice-secretário: Nelson Moura de Oliveira Tesoureiro: Waldemar Blum Vice-tesoureiro: Lorita Baisch Korb Conselho Fiscal: Hordi Nubio Felten Ernani Ademir Krause Flávio Huber Mario Tesche Mário Keinert Conselho Deliberativo: Marisa Sandra Allenbrandt Fábio Rogério Tesche Kedi Meuer Lopes Diretor geral: Flavio Magedanz Vice-diretor Ensino Superior e Ensino Profissionalizante: Sandro Ergang Vice-diretora Administrativa: Quedi Sônia Schmidt Vice-diretora Educação Básica, Ensino Médio e Centro de Idiomas: Marilei Assini Vice-diretora Educação Infantil: Dagma Heinkel Conselho Editorial: Ms Alexandre Chapoval Neto; Drdo Fauzi de Moraes Shubeita; Ms Gilberto Souto Caramão; Ms Jorge Antonio Rambo; Ms Lilian Winter; Ms Luciomar de Carvalho; Ms Márcia Stein; Ms Marcos Caraffa; Ms Sandro Ergang; Ms Valsenio Gaelzer; Ms Vera Lúcia Lorenset Benedetti. Comissão Científica Interna (avaliadores - sistema blind review): Ms Alexandre Chapoval Neto, Dra Ana Paula Cecatto; Ms Douglas Faoro; Ms Evandir Bueno Barasuol; Drdo Fauzi Shubeita; Ms Gilberto Souto Caramão; Ms Jorge Antonio Rambo; Dr Letícia dos Santos Holbig Harter; Ms Lilian Winter; Ms Loana Wollmann Taborda; Ms Luciomar de Carvalho; Ms Márcia Stein; Ms Marcos Caraffa; Ms Mauro Alberto Nüske; Ms Paulo Pereira; Ms Paulo Vitor Daniel; Ms Renati Fronza Chitolina; Ms Rudinei Barichello Augusti; Ms Sandro Ergang; Ms Vanessa Marin; Ms Vera Lúcia Lorenset Benedetti; Ms Vera Pinto Zimermann Weber. Comissão Científica Externa (avaliadores - sistema blind review): Dr Claudio Schepke - UNIPAMPA (RS); Dr Cristiano Henrique da Veiga - UFU (MG); Ms Gustavo Griebler – IFF (Uruguaiana – RS); Dr João Bosco Sobral - UFSC (SC); Dr João Leonardo Pires - EMBRAPA (RS); Dr Jorge Luis da Cunha - UFSM (RS); Dr José Antonio Martinelli - UFRGS (RS); Dr Luciano Bedin da Costa - UFRGS (RS); Drdo Luis Carlos Zucatto – UFSM (RS); Dra Márcia Soares Chaves - EMBRAPA (RS); Dr Mário Luis Santos Evangelista - UFSM (RS); Dra Marlene Gomes Terra UFSM (RS); Dr Miguel Vicente Sellitto - UNISINOS (RS); Dr Rafael Marcelo Soder - UFFS (SC); Dr Roque da Costa Güllich UFFS (RS); Dr Sedinei Nardelli Beber - PUC (RS); Dra Soraia Napoleão Freitas - UFSM (RS), Dr Valmir Heckler - FURG (RS). Capa: Assessoria de Comunicação SETREM Diagramação: Assessoria de Comunicação SETREM Editor-chefe: Ms Alexandre Chapoval Neto Revisão: Carla Matzembacher Ano XIV nº26 JAN/JUN 2015 - ISSN1678-1252 Revista SETREM: Revista de Ensino e Pesquisa Sociedade Educacional Três de Maio Três de Maio: SETREM Publicação Semestral EDITORIAL Prezados Leitores! Escrever um artigo científico é uma tomada de decisão que implica em um grande crescimento pessoal e profissional tanto para o pesquisador individual quanto para todo o grupo de pesquisa envolvido e comprometido com o resultado do estudo. Destaca-se que, além de aumentar o prestigio e o reconhecimento dos autores na comunidade científica, também é uma excelente oportunidade para divulgar a pesquisa, apresentando o que há de avanço nas áreas de estudo. Ampliando um pouco esse olhar e essa reflexão, percebe-se que o resultado da publicação de um estudo transcende o crescimento somente do autor ou dos autores. Os benefícios podem ser identificados pela qualidade das pesquisas que ganham reconhecimento e credibilidade de toda comunidade científica. As instituições de ensino, neste contexto, desempenham um papel ímpar no processo de produção e disseminação do conhecimento, seja através do ensino, pesquisa e extensão. Ao disponibilizar os meios no qual pesquisadores, docentes e discentes, sejam de programas de graduação ou de pós graduação, possam discutir temas e assuntos de suas áreas de estudo. Nesta discussão ambos são despertados pela busca de aprofundar o entendimento e compreensão sobre o tema que foi abordado. Essa disponibilização de artigos sempre é saudada com entusiasmo, pois quebra a solidão dos que se dedicam ao trabalho intelectual de acumular conhecimento e neste momento conseguem difundir o que foram capazes de acumular. Como resultado, tem-se a consequente construção e ampliação do conhecimento tanto para estudantes quantos professores. Nesta troca o benefício percebido é a ampliação da capacidade de análise e interpretação crítica bem como o aumento do grau de reflexão e capacidade de posicionamento sobre o tema apresentado. Em essência, a Revista SETREM é, sobretudo, um convite à exposição de resultados de estudos e pesquisas, para debate público, no sentido de realização da finalidade maior da academia: um diálogo que produza dissensos e consensos, fundados nos princípios e nos métodos científicos, envolvendo o tripé ensino, pesquisa e extensão. Nesta edição, Revista SETREM n° 26, passa a disponibilizar 15 trabalhos de pesquisa englobando a área de Administração, Agropecuária, Design, Saúde, Engenharias, Educação, Psicologia e Tecnologia da Informação. Agradecemos a todos que contribuíram com seus artigos e deixamos o convite para todos aqueles que quiserem utilizar esse meio para divulgar suas pesquisas em futuras edições. Desejamos a todos uma boa leitura, reflexão e disseminação dos trabalhos apresentados. Prof Msc Sandro Ergang Vice-Diretor da Faculdade Três de Maio e Ensino Profissionalizante REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 SUMÁRIO ANÁLISE DE VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE SERVIÇO DE AMBULATÓRIO PRÓPRIO UNIMED.............................................................................................................................................................5 Jocias Maier Zanatta Mauro Alberto Nuske Daniel Knebel Baggio Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM ESTUDO DA COMUNICAÇÃO INTERNA EM UMA COOPERATIVA DE ELETRIFICAÇÃO...........12 Mônica Servi Pavlak Raquel Ludwig Alexandre Chapoval Neto Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR COMO ALTERNATIVA DE REDUÇÃO DE CUSTOS LOGÍSTICOS E DE PROCESSO...............................................................................................23 Alexandre Chapoval Neto Anderson do Nascimento Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM NÍVEL DE SATISFAÇÃO DA COMUNICAÇÃO INTERNA DE UMA PREFEITURA MUNICIPAL DA REGIÃO NOROESTE - RS.........................................................................................................................35 Graciele Cristina Wiegert Alexandre Chapoval Neto Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO EM UMA EMPRESA FAMILIAR ...................47 Cecília Smaneoto Francine Fernandes Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DE SEMENTES E ARMAZENAMENTO NA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE GRÃOS PARA SEMEADURA DE SOJA ....................................................56 Carine Kronbauer Letícia Dos Santos Holbig Harter Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM A GESTÃO DE DESIGN NA INDÚSTRIA DA MODA: REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO EM EMPRESAS DE CONFECÇÃO NA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL..........................................................................................................................65 Vanessa Marin Dieter Rugard Siedenberg A PERCEPÇÂO DOS ENFERMEIROS SOBRE ASSISTÊNCIA DA ENFERMAGEM NO CUIDADO DAS ÚLCERAS DE PRESSÃO...................................................................................................................76 Maria Salete Pianta Christ Lisete Maria Sander Kunzler Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS NO SETOR DE SOLDA EM UMA METALÚRGICA.......83 Maiquel Batista Alexandre Chapoval Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 A AVALIAÇÃO ESCOLAR COMO INSTRUMENTO POTENCIALIZADOR PARA O ENSINO E A FORMAÇÃO INICIAL.............................................................................................................92 Jéssica Ceretta Corrêa Marli Dallagnol Frison CONCEITOS E TENDÊNCIAS ALIMENTARES DE ALUNOS DE 4º E 5º ANOS DE SETE ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE TRÊS PASSOS - RS................................99 Clenio Moacir Flesch Luciane Sippert Danni Maisa da Silva Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS COMPOSTAGEM NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE FERRAMENTA PEDAGÓGICA NO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL...........................................................106 Silvia Da Silva Luciane Sippert Robson Evaldo Gehlen Bohrer Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS O REGIONALISMO PRESENTE NA OBRA DE SAVIO MOREIRA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS........................................................................................114 Eufrázia Nenê Miranda Luciane Sippert Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS MULHERES EM MOVIMENTO: UM ESTUDO SOBRE A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA MULHER TRABALHADORA RURAL BRASILEIRA...............................................................122 Rita de Cássia Maciazeki Gomes Lissandra Baggio Lilian Ester Winter Tania Tornquiste Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM MELHORES PRÁTICAS EM TI BASEADO EM ITIL PARA PROVEDORES DE ACESSO À INTERNET NO VALE DO SINOS.............................................................................................130 Edson Inácio Wobeto Samuel Henrique Hartmann REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 ANÁLISE DE VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE SERVIÇO DE AMBULATÓRIO PRÓPRIO UNIMED Jocias Maier Zanatta¹ Mauro Alberto Nuske² Daniel Knebel Baggio³ SETREM4 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar a viabilidade econômica e financeira de implantação de serviço de Ambulatório próprio Unimed no município de Três de Maio- RS. Para a realização da pesquisa, utilizouse o método de abordagem dedutivo, qualitativo e quantitativo, com procedimento descritivo e estudo de caso e técnicas de coleta e análise de dados. A análise se deu através de quatro cenários, de acordo com o horário de funcionamento e projeções de crescimento do número de clientes. O cenário com funcionamento durante o horário comercial e com crescimento do número de clientes estimado em 5% ao ano, foi o único que demonstrou viabilidade econômica e financeira, apesar de não apresentar resultados acima da média do mercado e ter o retorno do capital investido em um prazo superior a sete anos. Desta forma, este investimento torna-se uma decisão estratégica. ABSTRACT This study aims to analyze the economic and financial feasibility own outpatient service deployment Unimed in the city of Três de Maio - RS. For the research, the method of deductive, quantitative and qualitative approach, with descriptive procedure and case study and collection techniques and data analysis was used. The analysis was made through four scenarios, according to the hours of operation and growth projections of the number of customers. The scenario with operation during working hours and an increase in the number of customers estimated at 5% per year, was the one that showed economic and financial viability, although not presenting above the market average results and having the return on invested capital a period exceeding seven years. Thus, this investment becomes a strategic decision. Keywords: Economic Viability and Financial. Clinic. Decision Making. Palavras-chave: Viabilidade Econômica e Financeira. Ambulatório. Tomada de Decisão. 1. INTRODUÇÃO sempre sob a orientação e supervisão de um profissional da área. No atual cenário macroeconômico em que as empresas estão inseridas, no qual existe intensa competitividade e recursos limitados, sobressai a empresa que utilizar da melhor maneira esses recursos escassos. Nesse contexto, torna-se mais complexo o processo de tomada de decisão, aumentando a necessidade de margem de erro reduzida na definição de investimentos. O presente trabalho tem por finalidade desenvolver um estudo de viabilidade econômica e financeira com o intuito de dar suporte à tomada de decisão de investimento em um serviço de ambulatório próprio Unimed, levando em consideração as particularidades de uma cooperativa de serviços médicos. Para tanto, o presente artigo está estruturado em cinco partes, sendo que após a introdução, apresenta-se o referencial teórico sobre os assuntos abordados, tais como: análise econômica e financeira e indicadores de viabilidade. Em seguida, são descritos os métodos utilizados na pesquisa. Após, são apresentados, na forma de gráficos, tabelas e comentários, os resultados e, por fim, as considerações finais do estudo. A necessidade de mensurar os riscos de um investimento torna essencial a análise da viabilidade econômica e financeira do projeto que se pretende implementar. Esta análise serve como um dos parâmetros para aprovação ou não do projeto; porém, a sua execução independe desta análise, o que torna relevante a forma de gestão e as particularidades de cada organização. Neste sentido, as organizações, ao iniciarem um projeto de investimento, necessitam de informações que subsidiem suas decisões (HOJI, 2010). 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 ANÁLISE ECONÔMICA E FINANCEIRA Um ambulatório próprio se refere a um ambiente físico destinado à realização de pequenos procedimentos, não caracterizando atendimentos de urgência/emergência, englobando aferição de sinais vitais, aplicação de medicação, curativos, pequenos procedimentos médicos e demais atividades de prevenção e promoção à saúde, Pode-se definir o investimento como sendo um conjunto de procedimentos, composto por métodos e técnicas que permitem avaliar e selecionar investimentos de longo prazo (HOJI, 2003). Gitman (2004), complementa ¹ Pós Graduado em MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria, Mestrando em Desenvolvimento da UNIJUI, Professor da Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM. E-mail: [email protected] ² Mestre em Engenharia da Produção, Professor da Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM. E-mail: [email protected] ³ Doutor em Contabilidade e Finanças, Professor do Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUI. E-mail: [email protected] 4 Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM 5 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 que o processo de avaliar e selecionar investimentos coincide com a meta da empresa de maximização de riquezas. Portanto, estes métodos são utilizados para buscar alternativas economicamente viáveis e identificar as que geram maior resultado para a organização. utilizados para avaliar propostas de investimentos de capital. Reflete a "riqueza em valores monetários do investimento medida pela diferença entre o valor presente das entradas de caixa e o valor presente das saídas de caixa, a determinada taxa de desconto" (KASSAI, 2005, p.63). Para Ribeiro (1999, p.22) "os gastos que se destinam à obtenção de bens de uso da empresa (computadores, móveis, máquinas, ferramentas, veículos, etc.)" ou a aplicação de caráter permanente (compra de ações de outras empresas, imóveis, de ouro, etc.) são considerados investimentos. Valor Presente Líquido é a representação de um saldo hipotético (positivo, nulo ou negativo) dos valores envolvidos no empreendimento, transladados equivalentemente para o instante inicial e comparados, no mesmo instante, com uma aplicação financeira em que os mesmos valores são aplicados à taxa mínima de atratividade, durante um prazo igual à vida útil do empreendimento (HIRSCHFEKD, 1987). O investimento fixo representa os equipamentos, as instalações industriais para operação dos equipamentos (redes de energia, vapor, água, ar comprimido e outras), a montagem e o projeto quando houver as construções civis necessárias e outros investimentos como móveis e transportadores (CASAROTTO; KOPITTKE, 2000). Segue a Fórmula do VPL: O conceito de custo e despesa é distinto. Os custos são gastos relacionados à atividade de produção ou ligados à venda de mercadorias, enquanto a despesa é gastos com bens e serviços não utilizados na atividade produtiva e consumidos com a finalidade de geração de receita (VICENCONTI; NEVES, 2013). Em que: Fct = fluxo (benefício) de caixa de cada período. K = taxa de desconto do projeto, representada pela rentabilidade mínima requerida. Definem-se custos fixos como os custos de estrutura que ocorrem período após período sem variações ou cujas variações não são consequência do volume de atividade em períodos iguais; já os custos variáveis, "alteram-se em função do volume de atividade, ou seja, da quantidade produzida no período" (DUTRA, 2009, p.32). I0 = investimento processado no momento zero. It = valor do investimento previsto em cada período subsequente. A Taxa Interna de Retorno (TIR) ou Internal Rate of Return (IRR) é uma das formas mais sofisticadas de avaliar propostas de investimentos de capital. "Ela representa a taxa de desconto que iguala, num único momento, os fluxos de entrada com os de saída de caixa. Em outras palavras, é a taxa que produz um VPL igual a zero" (KASSAI, 2005, p.68). As receitas são variações que provocam a "entrada de recursos na forma de dinheiro ou direitos a receber, provenientes das atividades da organização e que geralmente correspondem à venda de mercadorias, produtos e bens, ou à prestação de serviços" (BASSO, 2011, p.60). Conforme Santos (2001, p.17) "o ciclo financeiro de uma empresa prestadora de serviços, na maioria dos casos, é afetado apenas pelos prazos de pagamento e recebimento". Para Hirschfekd (1987, p.181) "a taxa interna de retorno, ou simplesmente taxa de retorno é a taxa de juro resultante do empreendimento analisado". Conforme Casarotto e Kopittke (2000, p.130) "os investimentos com TIR maior que TMA são considerados rentáveis e são passíveis de análise". A análise do ponto de equilíbrio, também denominada custo/volume/lucro, é utilizada para determinar o nível das operações necessárias para cobrir os custos operacionais, sendo que, acima do ponto de equilíbrio, a empresa obtém lucro (GITMAN, 2004). A seguir, é possível observar a fórmula da TIR: 2.2 INDICADORES DE VIABILIDADE Ao se analisar uma proposta de investimento deve ser considerado o fato de se estar perdendo a oportunidade de auferir retornos pela aplicação do mesmo capital em outros projetos. A nova proposta para ser atrativa deve render, no mínimo, a taxa de juros equivalente à rentabilidade das aplicações correntes e de pouco risco. (CASAROTTO; KOPITTKE, 2000). Atualmente, a taxa mínima de atratividade deve ser comparada com o rendimento da caderneta de poupança, a qual está referenciada pelo Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC). Em que: I0 = montante do investimento no momento zero (início do projeto). It = montantes previstos de investimento em cada momento subsequente. K = taxa de rentabilidade equivalente periódica (IRR). O Valor Presente Líquido (VPL) ou Net Present Value (NPV) é um dos instrumentos sofisticados mais FCt = fluxos previstos de entradas de caixa em 6 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 cada período de vida do projeto (benefícios de caixa). As técnicas de análise de dados se deram através da utilização de planilhas eletrônicas, do Microsoft Excel ®, para organização dos dados coletados e aplicação de cálculos matemáticos para mensurar aos indicadores de viabilidade. O payback é o período de recuperação de um investimento e "consiste na identificação do prazo em que o montante do dispêndio de capital efetuado seja recuperado por meio dos fluxos líquidos de caixa gerados pelo investimento" (KASSAI, 2005, p.88). Para Padoveze e Benedicto (2007, p.272) é uma "informação complementar ao processo decisório e, eventualmente, relevante quando, além do retorno do investimento, o tempo de recuperação é importante". 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 DIAGNÓSTICO SITUACIONAL A Unimed Alto Uruguai atualmente não conta com serviço de Ambulatório próprio. Existe convênio com prestador credenciado para realização destes atendimentos, quando necessário, sendo a parte hospitalar responsabilidade do prestador, que é remunerado por tabelas padrão Unimed e negociações locais, e a parte médica é responsabilidade da Unimed Alto Uruguai, através dos serviços prestados por médicos cooperados. Conforme Santos (2001, p.241) "para apurar a lucratividade de produtos e serviços, a empresa precisa ter um sistema de apuração de custos montado especialmente para este fim". A rentabilidade pode então ser conceituada como o grau de êxito econômico obtido por uma empresa em relação ao capital nela investido (BRAGA, 1989). Foi realizado levantamento do histórico de atendimentos dos clientes da Unimed Alto Uruguai e de intercâmbio (clientes de outras Unimeds) no ambulatório do Hospital São Vicente de Paulo no período que compreende os meses de setembro de 2009 a agosto de 2010. 3. METODOLOGIA A metodologia é um conjunto de técnicas e procedimentos que tem a finalidade de viabilizar a execução da pesquisa (JUNG, 2004). Para a execução desta pesquisa, utilizou-se a abordagem dedutiva, quantitativa e qualitativa. Em relação aos procedimentos, descritiva e estudo de caso, e técnicas de coleta e análise de dados. A pesquisa seguiu o seguinte roteiro: escolha do tema, definição da empresa pesquisada, pesquisa bibliográfica, coleta de dados e análise dos resultados, com a análise através de quatro cenários, considerando o horário de funcionamento do ambulatório e projeções de crescimento. O número total de clientes que buscaram atendimento no período foi de 3218 (três mil duzentos e dezoito usuários), em que foram realizados 1941 (mil novecentos e quarenta e um) atendimentos, representando 66% de beneficiários da Unimed Alto Uruguai e 34% clientes de Intercâmbio. Levando em consideração os valores praticados entre Unimed x Prestador e Unimed x Unimed Intercâmbio (clientes de outras Unimeds), estes atendimentos correspondem a uma receita de R$ 148.606,05 (cento e quarenta e oito mil seiscentos e seis reais e cinco centavos) e um respectivo gasto com Material e Medicamentos de R$ 85.940,26 (oitenta e cinco mil novecentos e quarenta reais e vinte seis centavos). Quanto à abordagem, utilizou-se a dedutiva, pois se partiu de teorias existentes, que foram aplicadas em dados reais; quantitativa, pois os dados utilizados na pesquisa são numéricos, sendo realizados cálculos através de fórmulas matemáticas; e qualitativa, pois os dados calculados foram analisados e interpretados. A Unimed Alto Uruguai, dentro de sua área geográfica de atuação, possui significativo mercado para expansão, pois apenas 9% da população possui plano de saúde com a operadora. Abaixo está o gráfico que ilustra os atendimentos realizados em serviço de ambulatório credenciado: Em relação aos procedimentos, a pesquisa é descritiva, que conforme Gil (2002, p.42), "tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre as variáveis", sendo realizado levantamento de dados, para posterior cálculo e análise de viabilidade; e estudo de caso, pois foi realizado em uma cooperativa médica com o objetivo de mensurar a viabilidade de implantação de ambulatório próprio. Gráfico 1: Atendimentos Para Fachin (2011), técnica corresponde a um conjunto de procedimentos mecânicos e intelectuais utilizado no desempenho de uma atividade científica de coleta de dados. Quanto às técnicas de coleta de dados, foi utilizada a pesquisa documental, através da utilização de relatórios gerenciais do sistema de informações da cooperativa; a observação, que na visão de Lakatos e Marconi (2006, p.88) "é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade", está presente na pesquisa através de visitas a outras Unimeds para verificar o funcionamento de um ambulatório; a entrevista foi utilizada através do diálogo com os gestores das Unimeds pesquisadas e pesquisa bibliográfica, através da busca de referencial teórico na literatura e artigos científicos. FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. 4.2 INVESTIMENTO Para realizar o levantamento dos equipamentos 7 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 necessários para o funcionamento de um ambulatório próprio Unimed, foram levados em consideração equipamentos considerados ideais e indispensáveis para este serviço, totalizando um investimento inicial de R$ 55.000,00 (cinquenta e cinco mil reais), que para esta análise são provenientes de recursos próprios, conforme descrito abaixo: enfermagem, condizentes com a realidade regional, conforme tabela resumida no quadro 4: Quadro 4: Custo fixo (enfermagem) Quadro 1: Equipamentos FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. 4.3.2 Custo Variável Ao analisar o histórico dos atendimentos no período em estudo, contatou-se um custo variável de R$ 85.940,26 (oitenta e cinco mil novecentos e quarenta reais e vinte seis centavos), relativos a gastos com material e medicamentos nos atendimentos prestados, conforme detalhado abaixo: Quadro 5: Custo variável FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. 4.3.3 Custo Variável com projeção de crescimento do número de cliente em 5% a.a. Para confiabilidade da análise de viabilidade assim como a receita, os custos variáveis aumentaram proporcionalmente ao crescimento do número de clientes, conforme quadro abaixo: FONTE: Cirúrgica Passos. Para a realização deste estudo utilizou-se um percentual de depreciação dos equipamentos hospitalares de 10% a.a., conforme demonstra o quadro 2: Quadro 6: Custo variável com projeção de crescimento de 5% a.a. Figura 3: Depreciação Anual FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. Quanto ao gênero, a figura 4 mostra que 71% dos questionados são do sexo feminino e 29 % dos mesmos pertencem ao sexo masculino. Entende-se, assim, que os respondentes, em sua maioria, são mulheres. FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. 4.3 CUSTOS A análise do custo variável projetado se restringe apenas aos usuários da Unimed Alto Uruguai. Isto ocorre devido ao restante dos beneficiários pertencerem a outras Unimeds (demais Unimeds do Brasil), não sendo possível projetar crescimento, em função da sinistralidade nos atendimentos e particularidades de cada Unimed. 4.3.1 Custo Fixo Para o cálculo do custo fixo anual foi levado em consideração o valor de mercado de uma sala comercial no município de Três de Maio – RS, conforme ilustrado abaixo: 4.4 RECEITA Quadro 3: Custo fixo anual No levantamento realizado no período em estudo foi apurada uma receita total de R$ 148.606,05 (cento e quarenta e oito mil seiscentos e seis reais e cinco centavos). Para isto, foi levado em consideração os valores gastos com material, medicamentos e taxas de usuários da Unimed Alto Uruguai e de Intercâmbio, estes, acrescidos de uma taxa de administração de 5%, de acordo com as regras de cobrança dos manuais do sistema Unimed, conforme descrito abaixo: FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. Para compor o custo fixo anual de cada análise de viabilidade nos diferentes cenários criados, foram utilizados valores de remuneração dos profissionais de 8 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Quadro 7: Receita anual funcionamento apenas em horário comercial, reduzem-se drasticamente os custos com profissionais de enfermagem, atingindo fluxo de caixa positivo. No entanto, mesmo com fluxo de caixa favorável, o projeto resulta em VPL e TIR negativos, rentabilidade irrelevante e lucratividade nula, em detrimento ao setor com crescimento estagnado, conforme quadro a seguir: FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. Quadro 9: : Projeção de fluxo de caixa 4.4.1 Receita com projeção de crescimento do número de cliente em 5% a.a. Para realizar as análises com projeção de incremento da receita anual, utilizou-se percentual de crescimento do número de clientes em 5% a.a., o que caracteriza um índice desafiador em detrimento à atual taxa de crescimento que é inferior a 2% ao ano. Quadro 8: Receita anual com projeção de crescimento do número de clientes em 5% a.a. FONTE: : Elaborado pelos autores, 2010. Quadro 10: Indicadores FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. A análise da receita projetando o crescimento do número de clientes se restringe apenas aos usuários da Unimed alto Uruguai. Isto ocorre devido ao restante dos beneficiários pertencerem a outras Unimeds (demais Unimeds do Brasil), não sendo possível projetar crescimento, em função da sinistralidade nos atendimentos e particularidades de cada Unimed. 4.8 ANÁLISE 4 – AMBULATÓRIO EM HORÁRIO COMERCIAL COM PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DO NÚMERO DE CLIENTE EM 5% A.A. Ao analisar o serviço de ambulatório próprio, com funcionamento apenas em horário comercial e com incremento da receita em consequência do crescimento do número de clientes, é possível visualizar a partir do segundo ano um fluxo de caixa positivo. O VPL, nesta análise, aparece negativo, o que demonstra que a TIR, mesmo sendo positiva, está abaixo do esperado e menor que as remunerações do mercado financeiro, conforme tabela abaixo: 4.5 ANÁLISE 1 - AMBULATÓRIO 24 HORAS SEM PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DO NÚMERO DE CLIENTES Um ambulatório com funcionamento 24 h, que seria considerado o ideal, não obteve viabilidade econômica e financeira, devido à necessidade de aumento do número de profissionais de enfermagem, ou seja, seriam necessários no mínimo seis profissionais de enfermagem, sendo três de nível superior e três de nível técnico. Quadro 11: Projeção de fluxo de caixa 4.6 ANÁLISE 2 - AMBULATÓRIO 24 HORAS COM PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DO NÚMERO DE CLIENTE EM 5% A.A. A mesma análise foi feita levando em consideração um cenário com incremento no número de clientes em 5% ao ano, o que demonstrou novamente inviabilidade econômica e financeira, mesmo com a taxa de crescimento acima da média atual do setor. 4.7 ANÁLISE 3 – AMBULATÓRIO EM HORÁRIO COMERCIAL SEM PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DO NÚMERO DE CLIENTES FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. Ao analisar o serviço de ambulatório com 9 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 O fluxo de caixa positivo a partir do segundo ano só é possível devido a uma drástica redução nos custos fixos com folha de pagamento dos profissionais de enfermagem, conforme tabela abaixo: modificando situações possíveis dentro da área de atuação da organização. Devido à complexidade da análise e da peculiaridade de uma cooperativa médica, foram escolhidos quatro cenários possíveis para implantação de um serviço de ambulatório próprio. As análises levaram em consideração o histórico de atendimentos em ambulatório credenciado, horário de funcionamento do ambulatório e projeção de crescimento dos beneficiários da Unimed Alto Uruguai. Quadro 12: Custo fixo (enfermagem) FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. Com a análise do Payback deste investimento, constatou-se que dentro deste cenário o projeto tem retorno em 7 anos, 8 meses e seis dias. Esse prazo é considerado longo, porém em se tratando de uma cooperativa médica que busca ampliar a rede de atendimentos e gerar valor agregado aos médicos cooperados, é passível de análise mais detalhada. A primeira análise, de um ambulatório 24h sem projeção de crescimento do número de clientes, demonstrou a necessidade de grande número de profissionais de enfermagem, o que ocasionou elevado custo fixo, com folha de pagamento e consequente fluxo de caixa negativo; com isso, não existe viabilidade econômica e financeira. Figura 14: Receptividade dos pares quanto ao coaching A segunda análise, de um ambulatório 24h com projeção de crescimento do número de clientes em 5% a.a., não obteve viabilidade econômica e financeira, em decorrência dos elevados custos fixos com folha de pagamento e de taxa de crescimento insuficientes, resultando fluxo de caixa negativo. Na terceira análise, de um ambulatório em horário comercial sem projeção de crescimento do número de clientes, apesar de resultar em fluxo de caixa positivo, o valor é irrisório, tornando o projeto sem viabilidade econômica e financeira. Na última análise, de um ambulatório em horário comercial com projeção de crescimento do número de clientes em 5% a.a., constatou-se viabilidade econômica e financeira, apesar de uma taxa de retorno de 8,72%, considerado pouco atrativa. Este cenário proporcionou um tempo de retorno do investimento de sete anos, oito meses e nove dias, e com rentabilidade e lucratividade em crescimento. FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. Ao analisar os indicadores financeiros, nota-se um baixo índice de rentabilidade e de lucratividade, que só é positivo a partir do segundo ano, e um grande ponto de equilíbrio, o que não torna o projeto atrativo, conforme o quadro abaixo: Após esta análise criteriosa, o objetivo proposto pela pesquisa foi alcançado, na medida em que foi realizada a análise de viabilidade econômica e financeira de implantação de um ambulatório próprio, em que no quarto cenário proposto verificou-se a viabilidade do investimento, sendo fundamental no suporte a tomada de decisão de investimento. Quadro 14: Indicadores A taxa de crescimento de 5% ao ano utilizado neste estudo é estimada, levando em consideração cenários futuros de crescimento; porém, o que se observa hoje é uma estagnação na comercialização de planos de saúde. Não basta apenas realizar um estudo de viabilidade econômica e financeira, é preciso trabalhar exaustivamente na ampliação desta taxa de crescimento. FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. Esta análise de viabilidade apenas não é o suficiente para a implantação de um ambulatório próprio Unimed. Para complementar este estudo, faz-se necessário um trabalho de análise mercadológica buscando ampliar a participação de mercado da Unimed Alto Uruguai dentro de sua área geográfica de atuação. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Um estudo de viabilidade econômica e financeira reforça a importância de uma análise prévia para auxiliar na tomada de decisão dos gestores das organizações. A análise através de diferentes cenários amplia as possibilidades de verificar resultados de um investimento, Em se tratando de uma sólida cooperativa médica, com grande potencial de crescimento e de características 10 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 singulares da marca Unimed, o quarto cenário mostrou-se viável apesar dos números não serem atrativos o suficiente, comparando-se com outros segmentos de mercado. É imprescindível para a Unimed Alto Uruguai agregar valor ao serviço disponibilizado a seus beneficiários, e nessa linha de raciocínio, um serviço de ambulatório próprio com atendimento diferenciado, será o início de uma rede de serviços próprios, com a credibilidade e solidez do sistema Unimed. Diante do exposto, a implantação deste serviço de Ambulatório próprio se torna uma decisão estratégica vislumbrando um futuro promissor para a cooperativa médica em questão. LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 6. edição, São Paulo: Atlas, 2006. PADAOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das Demonstrações Financeiras. São Paulo: Thomson Learning, 2007. SANTOS, Edino Oliveira dos. Administração Financeira da Pequena e Média Empresa. São Paulo: Atlas, 2001. O projeto de ambulatório próprio da Unimed pode viabilizar-se com a redução de custos, em especial de pessoal, de busca de parceria com prestadores de serviço e da adoção da estratégia de diferenciação pela diretoria da operadora de saúde. Para estudos futuros, sugere-se realizar a análise de viabilidade com dados atualizados, utilizar as projeções sobre outras perspectivas e buscar outras formas de maximizar o faturamento. TARICHI, Andrey Pelicer; CHIQUITO, Antonio Ricardo; FERREIRA, Rodrigo Uliana. Análise de Viabilidade Econômico Financeira no Setor de Logística em uma Indústria de Andradina/SP. Revista InterAtividade, v.1, n. 1, 1º sem. 2013. VICENCONTI, Paulo; NEVES, Sivério das. Contabilidade Básica. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. REFERÊNCIAS BASSO, Irani Paulo. Contabilidade geral básica. 4. ed. Ijuí: editora Unijui. 2011 BRAGA, Roberto. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1989. DUTRA, René Gomes. Custos uma abordagem prática. 6 edição. São Paulo: Atlas, 2009. CASAROTTO, Nelson Filho; KOPITTKE, Bruno Hartmut. Análise de Investimentos: Matemática financeira, engenharia econômica, tomada de decisão, estratégia empresarial. São Paulo: Atlas, 2000. FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar Projetos de pesquisa. 4 edição. São Paulo: atlas, 2002. G I T M A N , L a w r e n c e J e f f r e y. P r i n c í p i o s d e administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2004. HIRSCHFEKD, Henrique. Viabilidade Técnico-Econômica de Empreendimentos. São Paulo: Atlas, 1987. HOJI, Masakazu. Administração Financeira. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2003. http://www.cirurgicapassos.com.br/ acesso em 25/08/2010. JUNG, Carlos Fernando. Metodologia para pesquisa e desenvolvimento – aplicada a novas tecnologias, produtos e processos. Rio de Janeiro: Axcel books do Brasil Editora Ltda, 2004. KASSAI, Jose Roberto, Retorno de Investimento: Abordagem matemática e contábil do lucro empresarial. São Paulo: Atlas, 2005. LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 6. edição, São Paulo: Atlas, 2007. 11 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 ESTUDO DA COMUNICAÇÃO INTERNA EM UMA COOPERATIVA DE ELETRIFICAÇÃO Mônica Servi Pavlak¹ Raquel Ludwig¹ Alexandre Chapoval Neto² SETREM³ RESUMO O desenvolvimento de uma comunicação interna eficaz requer ferramentas adequadas para o desempenho da função, conhecimento das mesmas e sensibilização dos colaboradores para realizar suas atividades com comprometimento. Considerando este contexto, o problema que motivou a realização da pesquisa foi entender como ocorre o processo de comunicação interna em uma cooperativa de eletrificação rural. Para alcançar os objetivos da pesquisa foi necessário utilizar o método dedutivo para compreensão dos assuntos envolvidos, a abordagem qualitativa e a quantitativa para analisar as respostas das entrevistas e dos questionários e os procedimentos de pesquisa exploratória, descritiva e estudo de caso. Como técnicas, desenvolveu-se a observação dos fatos, a entrevista e o questionário, a análise dos dados e a análise do conteúdo. A realização das técnicas e das abordagens possibilitou identificar pontos significativos da comunicação interna e nestes pode-se destacar os resultados em que 35% dos colaboradores têm idade entre 31 e 40 anos, 11% têm mais de 25 anos de empresa e mais da metade possui ensino médio completo. Além disso, 86% das respostas afirmaram considerar a comunicação interna fundamental, mas 6% a consideraram ruim na empresa. Nas entrevistas também se notou que as informações chegam com atraso e não atingem todos os setores. Entretanto, muitos consideraram existir um clima de bom relacionamento entre os colegas, conhecimento das ferramentas e sua utilização diária. Então, a pesquisa focou em sugestões de contratação de uma pessoa na área de comunicação, conscientização dos colaboradores, realização de feedback e modificação na estrutura e no conteúdo do mural e do jornal interno. Assim, conseguiu-se demonstrar pontos fracos que, se melhorados, podem garantir agilidade e nas atividades. ABSTRACT The development of an effective internal communication requires proper tools to perform the function, the same knowledge and awareness of employees to perform their activities with commitment. Considering this context, the problem that motivated the research was to understand how the internal communication process in a rural electrification cooperative is. To achieve the research objectives it was necessary to use the deductive method for understanding the issues involved, the qualitative and quantitative approach to analyze the responses of interviews and questionnaires and the exploratory procedures, and descriptive study case. As techniques, it was developed the observation of facts, the interview and the questionnaire, data analysis and content analysis. The realization of techniques and approaches allowed identifying significant points of internal communication and in these it was possible to highlight the results that 35% of employees are aged between 31 and 40, 11% have more than 25 years old with the company and more than a half have completed high school. In addition, 86% of respondents said they consider fundamental internal communication, but 6% considered it bad in the company. In the interviews it was also noted that the information arrives late and do not reach all the sectors. However, many of the employees felt there is a good relationship climate among colleagues, knowledge of tools and daily use. So, the research focused on a person's hiring suggestions in the area of communication, awareness of employees, conducting feedback and modification in the structure and content of the mural and the internal newspaper. Thus, it was possible to demonstrate weaknesses that can ensure improved agility and activities. Keywords: Internal communication. Cooperative. Communication tools. Palavras-chave: Comunicação interna. Cooperativa. Ferramentas de comunicação. 1. INTRODUÇÃO comunicação interna é a cultura na qual a empresa está inserida, bem como das pessoas que dela fazem parte. Os colaboradores precisam sentir necessidade da comunicação, saber se comunicar, evitando ruídos que possam interferir no significado das mensagens a serem transmitidas. Com essas significativas mudanças, as informações poderão ser usadas para melhorar o andamento do trabalho, facilitar a resolução de problemas e, consequentemente, ampliar a divulgação da comunicação dentro da organização. A comunicação interna é sem dúvida um dos fatores mais importantes para o bom funcionamento de uma empresa, pois, através dos planos de comunicação, a organização visualiza o comprometimento e a fidelização de seus colaboradores e, assim, consegue aproveitar os níveis de produtividade e acima de tudo criar um clima organizacional satisfatório. Outro fator importante na questão da ¹ Formandas do Curso Bacharelado em Administração pela SETREM ² Professor orientador do estudo. Bacharel em Administração. Pós-graduado em Gestão de Negócios. Mestre em Engenharia da Produção. Professor da Faculdade de Administração e da Faculdade de Engenharia de Produção da SETREM. ³ Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 12 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Pensando nisso, a pesquisa consolidou-se a partir do seguinte problema: como ocorre o processo de comunicação interna na cooperativa de eletrificação rural? Então, através de entrevistas e questionários identificou se existem ferramentas para tal desempenho, se estão sendo utilizadas e como as informações chegam ao seu receptor. Além disso, foi possível identificar as percepções, expectativas e sugestões dos entrevistados que representaram sua área, externando inclusive seus desafios e experiências com colegas. disso, permitiu também mapear e descrever os processos da comunicação interna e analisar de forma a identificar as principais necessidades da cooperativa. A abordagem quantitativa comprovou, através da realização e aplicação de questionários com os funcionários, o nível de satisfação, de conhecimento, de percepções e de abertura que existe para cada colaborador em relação à comunicação interna atual, e isto ajudou a examinar com objetividade a realidade da cooperativa. Portanto, através das informações obtidas, tornou-se possível identificar e diagnosticar a situação da comunicação interna da cooperativa. Para tanto, realizouse as seguintes etapas: a identificação das ferramentas de comunicação interna, a análise do atual processo da comunicação, a mensuração do nível de satisfação dos colaboradores em relação ao canal utilizado para troca de informações e a identificação de pontos significativos. A partir do entendimento e das análises de todo este contexto foi desenvolvido um plano de ação favorável ao melhor andamento das atividades, aliado a uma comunicação clara, objetiva e atualizada. 2.2 MÉTODOS DE PROCEDIMENTOS Foram utilizados os procedimentos de pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e o estudo de caso. O primeiro foi utilizado para sondar e descobrir os procedimentos adotados na comunicação, de uma forma amigável e informal, ou seja, através de entrevistas, conhecimento do ambiente de trabalho e pesquisas bibliográficas; conseguiu-se um embasamento compatível ao tema em questão. Através da pesquisa descritiva tornou-se viável descrever os argumentos e ideias dos autores em relação à administração e à comunicação. Com as entrevistas e os questionários aplicados pôde-se então explanar fatores como a satisfação do colaborador quanto ao canal de comunicação, o caminho que a informação passa para chegar até determinado setor, as ferramentas utilizadas para isso e os processos de comunicação interna. 2. METODOLOGIA A fim de esclarecer os principais conceitos utilizados na pesquisa, o estudo baseou-se em livros, internet, em análises feitas dos processos de comunicação interna, em entrevistas e questionários com os colaboradores. A leitura e compreensão na área de administração, comunicação interna e externa das empresas consolidou informações para a identificação das melhores maneiras de conduzir o trabalho. As entrevistas e questionários com os colaboradores foram fundamentais na exposição e confirmação de dados, bem como na elaboração das análises e propostas de ações. 2.1 Para uma compreensão e análise dos processos de comunicação interna foi imprescindível um estudo de caso do grupo de colaboradores da cooperativa. Este estudo se tornou possível por meio de entrevistas com funcionários específicos de cada área e com questionários aplicados para todos os trabalhadores. MÉTODOS DE ABORDAGEM 2.3 TÉCNICAS Na pesquisa utilizou-se o método dedutivo, que por meio do estudo da literatura se tornou possível adquirir conhecimento de forma ampla em relação ao tema estabelecido. Foram obtidas argumentações e ideias de autores sobre administração, marketing, comunicação interna e externa, fluxograma e plano de ação. Através de tais conceitos se tornou viável uma melhor compreensão dos dados alcançados com entrevistas e questionários, podendo relacioná-los com o contexto da comunicação em geral e assim conseguir propor ações significativas para a cooperativa. 2.3.1 Técnica de coleta de dados Na pesquisa, adotou-se como procedimentos de coleta de dados a observação contínua dos fatos adquiridos com a entrevista e dos dados alcançados através dos questionários aplicados. A entrevista foi realizada com os supervisores de cada setor da cooperativa, totalizando 14 colaboradores. As perguntas foram colocadas de forma aberta e visaram compreender o caminho que a comunicação passa para chegar até seu receptor, o que pode distorcer e o que pode ajudar neste processo e qual canal é mais útil para a realização da comunicação interna. O questionário contou com 20 perguntas, sendo 19 objetivas e uma questão aberta sobre a comunicação interna da cooperativa. O questionário foi entregue aos 65 colaboradores com a finalidade de conseguir respostas em relação ao recebimento e envio da mensagem, seu canal, sua importância e sua percepção em relação a estes processos. Essas respostas traduzidas em números foram fundamentais para o conhecimento das necessidades de cada setor. O estudo também contemplou a utilização da abordagem qualitativa, uma vez que é fundamental na análise e compreensão dos dados alcançados. Neste caso, estes dados se referem ao mapeamento de processos da área administrativa, do faturamento e do atendimento, além da identificação das ferramentas de comunicação interna utilizadas na empresa. Desta forma, foram desenvolvidas entrevistas com os responsáveis ou representantes de cada setor que possibilitaram uma identificação e descrição das ferramentas utilizadas, a maneira que estão sendo usadas e a satisfação particular de cada entrevistado em relação às informações que recebem bem como sua percepção de satisfação em relação ao seu grupo de trabalho. Além 2.3.2 Técnica de análise de dados Como técnica de análise de dados utilizou-se a 13 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 técnica de análise de conteúdo e a planilha eletrônica. A primeira possibilitou estudar e analisar os dados levantados a partir de questionários e de fatores existentes identificados nas entrevistas e mapeamento dos processos da comunicação interna da cooperativa. Para a realização da tabulação dos dados adquiridos com a aplicação dos questionários, foi necessária a utilização da planilha eletrônica que permitiu que os números lançados fossem representados em gráficos, demonstrando o percentual de respostas em cada alternativa colocada. Assim, em cada gráfico foi descrita a pergunta relacionada a ele e com esta representação tornou-se visível uma comparação e análise de todos os resultados. gestores (AMBONI E ANDRADE, 2007). Sendo assim, no âmbito de administrar, a comunicação se torna essencial, pois seu principal papel é o de passar informação com compreensão de uma pessoa a outra, formando grupos preparados para realizar suas atividades no tempo certo e com objetividade e qualidade. Além disso, uma relação comunicativa adequada evita retrabalhos, proporciona bem estar entre os colegas, representa uma boa imagem à empresa e contribui para o crescimento organizacional. Por isso a necessidade contínua de criar um ambiente de trabalho apto para ações como estas acontecerem da melhor forma. 3.2 COMUNICAÇÃO 2.3.3 População e Amostra As teorias sobre comunicação são baseadas em noções antigas e, segundo Argenti (2006), na Grécia antiga a disciplina que hoje é chamada de comunicação era então a retórica, que significava o ato de falar bem, usando a linguagem para persuadir os ouvintes a fazer algo. Ao todo o grupo de funcionários da cooperativa estudada corresponde a 73 pessoas, mas, para a pesquisa nem todos tiveram disponibilidade de participar, devido a férias, afastamentos e jovens aprendizes que ainda não estavam em período de estágio. Sendo assim, a população foi constituída por 65 colaboradores que responderam a um questionário com 19 questões fechadas e 1 aberta. A comunicação desempenha diversas funções nas organizações, tendo o poder de fazer uma interação social, pois as pessoas expressam suas frustrações e sentimentos de satisfação. Desta forma, ela facilita na tomada de decisões, por proporcionar as informações necessárias na forma mais correta. A comunicação faz as pessoas trabalharem em conjunto e bem estarem informadas. No entanto, para a amostra que é uma parte que pode representar o todo, foram convidadas as pessoas responsáveis ou supervisoras de cada setor incluindo a vice-presidência. Ao todo foram entrevistados 14 funcionários separadamente e cada um representou uma área dentro da cooperativa. A partir do questionário e das entrevistas, tornou-se viável definir uma pesquisa minuciosa de cada departamento e uma análise profunda dos conjuntos com característica iguais. A verdade é que as empresas e as instituições não sobrevivem sem a comunicação. Independentemente do tipo de organização, é ela que mantém e sustenta os relacionamentos no ambiente organizacional. O estudo da comunicação organizacional oferece, portanto, a base para se entender cada processo que ocorre nas organizações, lidando ainda com questões como conflito, persuasão, regras, cultura, mudança, redes e tecnologia. (PINHO, 2006, p.5). 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 ADMINISTRAÇÃO A administração é entendida como uma série de atividades interligadas que buscam a obtenção de resultados, através de recursos físicos e materiais. Administrar significa governar, gerir uma empresa ou organização com planejamento, organização, direção e controle das atividades (ASSIS, 2011). Onde existe um clima e ambiente de trabalho favorável e confortável, a comunicação permite a expressão emocional dos colaboradores, pois eles se sentem acolhidos para expor o que pensam, desde frustrações, emoções e satisfações. Para esse mesmo ambiente oferecer uma comunicação adequada de fato, a informação deverá acontecer de forma atualizada, objetiva e clara, facilitando a tomada de decisões e transmitindo os dados para que se identifiquem e avaliem alternativas. Desta forma, pode-se prever que uma organização bem sucedida é sinônimo de uma boa administração. O que nem sempre se sabe é o por que e como que a forma de administrar faz a diferença. Para tanto, o autor Maximiano (1997) resume-se ao afirmar que “o principal motivo para a existência das organizações é o fato de que certos objetivos só podem ser alcançados por meio da ação coordenada de grupos de pessoas”. Gerar resultados é o que as empresas mais almejam; no entanto, é num dos fatores principais para conseguir tal objetivo que algumas delas desviam a atenção e a importância. A comunicação interna é o elemento inicial para o andamento das atividades organizacionais, pois, segundo Pinho (2006), ela compatibiliza os interesses dos empregados e da empresa, através do estímulo ao diálogo, à troca de informações e à participação de todos os níveis e, com isso, atinge o sucesso com maior facilidade. Na administração atual, além de ser necessário ter visão do presente e do futuro do negócio, é imprescindível saber tomar decisões certas e na hora certa sobre informações incontroláveis e instáveis. Para isso, o administrador vem a ser a pessoa que cria soluções, tornando-se fundamental seu aperfeiçoamento constante. Administrar vai muito além do desempenho de eficácia, eficiência, efetividade e relevância numa organização. Para administrar é preciso atingir os objetivos traçados através da utilização das habilidades e do desenvolvimento de treinamento educativo dos Para a existência de uma comunicação eficaz, segundo Pinho (2006), é necessário levar em conta seis componentes: uma fonte de comunicação ou transmissor; 14 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 uma mensagem; um canal; um receptor; o feedback e o ambiente. A fonte da comunicação é a pessoa que está querendo transmitir uma mensagem e quanto mais autoridade e experiência ela tiver, mais importância será dada pelos receptores. A mensagem é o que será transmitido, podendo ser verbal ou não. A clareza, a vivacidade do receptor, a complexidade e a extensão da mensagem e o modo como a informação é organizada resultam em uma comunicação bem ou mal feita. O canal é o meio utilizado para enviar a mensagem aos ouvintes. Pode ser escrito ou falado. 3.3 COMUNICAÇÃO EXTERNA As organizações possuem além da comunicação interna, a externa. Essa é voltada ao público externo, clientes, fornecedores e consumidores atuais e futuros. As duas devem ser usadas de maneira correta para não se tornarem um risco para a organização, afetando nas metas e nos objetivos propostos para ocorrer o desenvolvimento. Conforme Zanchin (2013), a comunicação externa é uma poderosa ferramenta para a organização dialogar com suas partes interessadas. Dessa forma, é muito importante que as pessoas entendam o que deve ser comunicado e de que forma ela deve ser feita, lembrando que as causas podem ser diversas, porém o entendimento deve ser claro. Para Bortolotti (2008), a comunicação externa não serve apenas para divulgar seus produtos ou serviços, ela é também uma ferramenta para a empresa se comunicar com a sociedade, dar satisfação de seus atos e conhecer expectativas. Uma comunicação clara e definida pode inclusive, promover a imagem e colaborar para o sucesso da corporação. Na comunicação humana existem barreiras que fazem com que a mensagem não chegue da maneira esperada ao seu destino. De acordo com o autor Chiavenato (2002), podem-se destacar três barreiras como sendo as principais. Barreiras pessoais: como manifestações, emoções e valores humanos de cada um e suas ideias preconcebidas sobre algo. Barreiras físicas: o ambiente vem a ser o seu local de interferência. Barreiras semânticas: são as barreiras criadas através de variadas formas de se interpretar os gestos, sinais, símbolos, gerando, assim, significados totalmente diferentes entre as pessoas envolvidas no processo. Então, para evitar que as possíveis barreiras prejudiquem no entendimento de uma mensagem, é preciso que o receptor tenha calma para ouvir e após seja um emissor eficiente da informação. Desta maneira a comunicação interna se torna externa e responsável pela imagem institucional. Então, quanto mais transparente e saudável ela for, maior será o valor agregado ao produto. Por sua vez, esta comunicação também é fundamental para o conhecimento e apreciação da sociedade pela organização e isto se torna imprescindível na hora da escolha da compra de produtos ou nas solicitações de serviços. O fluxo das comunicações, de acordo com Pimenta (2006), é o caminho percorrido pelas mensagens desde que saem do emissor até chegar ao receptor e podem ser na direção vertical ou horizontal. Na direção vertical, o fluxo descendente é quando nas mensagens as instruções são dadas pelos cargos de níveis mais altos para os mais baixos. O que determina o fluxo é o espaço organizacional atingido, sendo que quanto maior mais ruídos. No fluxo ascendente as mensagens no geral partem de níveis inferiores para os superiores e o que interfere nesta forma de comunicação é que os funcionários irão informar somente o que preferirem à sua chefia. 3.4 COMUNICAÇÃO INTERNA Por muito tempo as organizações apenas se preocupavam com o atendimento ao cliente, ao consumidor, mas, de acordo com o aumento da concorrência e à globalização, surge a necessidade de uma atenção aos próprios funcionários; estes que estão relacionados diretamente com o sucesso da empresa, principalmente o financeiro. A comunicação ascendente permite um entrosamento nos grupos, contribuindo para o aperfeiçoamento da coordenação. Por outro lado, a direção acaba tendo maior domínio do controle, e a pouca receptividade dos mesmos, bem como a insuficiência de canais, pode causar afastamento dos colaboradores e, consequentemente, falta de conhecimento das reais situações departamentais. De acordo com Persona (2012), para criar um clima organizacional favorável, as empresas se utilizam das estratégias da comunicação interna. Com isso, se ela falhar, a equipe acaba perdendo o significado real do trabalho, afetando diretamente na qualidade dos produtos, serviços e no relacionamento entre diversas áreas, inclusive com o cliente externo. Também é muito importante trabalhar a comunicação interna de maneira que o colaborador sinta orgulho de pertencer à empresa. Para isso, é preciso mostrar aos funcionários como eles são importantes no desenvolvimento daquilo que acreditam. Para Argenti (2006), uma boa transmissão da mensagem ocorre envolvendo duas etapas: decidindo como deseja transmitir a mensagem (escolhendo o canal de comunicação) e decidindo a abordagem que deve ser seguida na estruturação da mensagem propriamente dita. Torquato (2002) enfatiza também que existem fatores que influenciam o processo de comunicação interna: o tecnológico, que envolve uma comunicação de dados, com equipamentos e procedimentos de ordem técnica; o institucional, como normas, processos, políticas, princípios e valores organizacionais que formam uma identidade normativa e o sistema sentimental que envolve os padrões e atitudes dos grupos internos da empresa, criando a identidade expressiva da instituição. A comunicação é a principal responsável pela motivação ou desmotivação do funcionário, pois, a partir dela, a empresa e seus colaboradores entram em sintonia de um objetivo em comum, e esta meta só é alcançada quando a mensagem é passada de forma correta e motivadora para seus interessados. Neste caso, o trabalhador precisa conhecer a mensagem, e esta deve trazer um benefício a ele; caso contrário, não haverá interesse para o conhecimento. Persona (2008) argumenta que o uso da 15 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 comunicação interna ou externa é cultural e precisa alimentar os colaboradores com uma mensagem correta e um pensamento de equipe. Para o autor Pinho (2006) diversos fatores podem limitar a frequência e o alcance desses tipos de comunicação como, por exemplo, a rivalidade, a especialização e a desmotivação. Na primeira, sua existência impede a disseminação de determinados dados, pois tais detentores não querem perder a oportunidade de avançar. cooperativa, geralmente na sexta-feira e são direcionadas para a direção e os supervisores. O radiofone é uma importante ferramenta para a cooperativa, pois o segmento de distribuição de energia exige uma comunicação imprevisível e à longa distância. Então, se o celular estiver fora de área e a chamada não for completada, é utilizado o radiofone para contatar as pessoas solicitadas. Como observado, nos resultados obtidos no questionário, do total de 65 participantes, cerca de 8% dos colaboradores questionados afirmaram não conhecer as ferramentas de comunicação da cooperativa e essas respostas podem estar associadas a uma desatenção, pois na próxima questão referente às ferramentas mais utilizadas, nenhum participante deixou de escolher algum meio de comunicação, ou seja, existe sim o conhecimento delas. As respostas direcionaram em sua maioria ao uso mais frequente do telefone; em segundo, o diálogo com os colegas de trabalho, o CIC entregue uma vez ao mês junto com a assinatura da folha de pagamento, e o e-mail, respectivamente. A crescente especialização também gera desigualdade no entendimento das informações entre os setores, e a falta de motivação pode ser causada pela ausência de encorajamento por parte da administração para divulgar e incentivar a comunicação entre todos e pelo descaso de qualquer tipo de recompensa, por pensarem ser uma despesa e não um crescimento. 4. APRESENTAÇÂO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1 FERRAMENTAS DA COMUNICAÇÃO INTERNA DA COOPERATIVA 4.2 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO INTERNA A partir das entrevistas, questionário e estudos, tornou-se possível identificar as ferramentas de comunicação utilizadas pela cooperativa. A observação in loco e as entrevistas permitiram identificar os meios de comunicação interna existentes na cooperativa, que são: telefone, e-mail, diálogo com os colegas de trabalho, jornal interno - (CIC), mural, mensagens instantâneas, reuniões e o radiofone. Para uma compreensão mais precisa da comunicação interna, objetivou-se uma análise do processo da comunicação da cooperativa. Portanto, foi realizada uma pesquisa mais profunda com os colaboradores sobre como as informações chegam até eles e de que maneira são emitidas. Isto se tornou possível através de entrevistas realizadas com 14 supervisores que abrangeram as áreas de contabilidade, comunicação, recursos humanos, faturamento, suprimentos, segurança do trabalho, financeiro, atendimento COD e operador COD, fiscalização e manutenção de redes, projetos, TI, gerência de energia, níveis de tensão e a vice-presidência. O telefone é utilizado pela maioria dos colaboradores, pois todos os setores internos possuem pelo menos um ramal para que o funcionário possa contatar com seus colegas, ou mesmo com a presidência. O e-mail também é muito usado pelos funcionários, mas apesar da maioria ter um, nem todos acessam e nem todos têm acesso por trabalharem geralmente nas equipes de campo, ou em obras. O diálogo com os colegas de trabalho foi um dos meios de comunicação interna mais citado pelos entrevistados e pelos questionados, além de ser considerado pela maioria como mais eficiente. É importante ressaltar que a empresa em estudo não possuía um fluxograma de seus processos. Então, com base nas teorias, análises, entrevistas e estudos em cada área, foi possível definir, com a ajuda do setor representado, a melhor forma de apresentar os atuais processos da cooperativa. O CIC, jornal interno da cooperativa, tem circulação mensal e é entregue sempre junto à folha de pagamento para todos os colaboradores. Quase todos os entrevistados e questionados afirmaram ler o CIC e ainda colocaram ser um meio muito bom para expor notícias. O mural está localizado próximo ao relógio ponto e expõe notícias relacionadas aos colaboradores, como campanhas, festas, fotos de eventos, balanços e movimentos financeiros, CIC, comunicados, enfim, tudo que for relevante no âmbito organizacional. Com a elaboração de fluxogramas nas principais áreas, tornou-se viável também, um entendimento da ligação que ocorre entre as pessoas de cada setor, podendo observar onde a comunicação pode ter falhas ou descontinuidades. Nas figuras 1, 2 e 3 encontram-se disponíveis os fluxogramas da administração, do faturamento e do atendimento, respectivamente. 4.2.1 Fluxograma da administração A área de administração é abrangente e inclui presidência, comunicação, jurídico, TI, recursos humanos, finanças, contabilidade, segurança de trabalho e recepção. Estes setores são fundamentais para o andamento e gerenciamento de todas as atividades da cooperativa. No entanto, de acordo com os questionários, mesmo com uma exposição contínua e acessível para todos, a leitura do mural está muito baixa, apenas 7% dos funcionários leem todo dia. As mensagens instantâneas são aquelas mandadas por meios eletrônicos através de um bate papo virtual. São poucas pessoas que utilizam esse canal de comunicação, pois muitos trabalham a campo, na fábrica e em obras, não tendo acesso à tal ferramenta. Vale ressaltar que, de acordo com as entrevistas, a comunicação da cooperativa demanda um serviço amplo e difícil, pois, além de ser apenas uma pessoa para conciliar divulgação, reuniões com conselheiros, visitas As reuniões acontecem semanalmente na 16 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 na usina e realização de eventos, existe um certo receio da direção em aceitar mudanças e falta de comprometimento ao repassarem informações de um colega para o outro. Na figura 2 é possível observar todas as atividades realizadas pelo setor de faturamento. É importante destacar a relação deste departamento com os leituristas, plantões, atendimento ao associado e níveis de tensão. Figura 1: Fluxograma da administração 4.2.3 Fluxograma do atendimento O atendimento ao associado é a porta de entrada de um serviço de qualidade, e, por isso, nesta área é o começo do encaminhamento e registro de todas as solicitações ou reclamações dos consumidores. Estes pedidos podem ser feitos por telefone gratuitamente ou presencialmente, quando o associado se dirige à cooperativa. Figura 3: Fluxograma do atendimento FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. 4.2.2 Fluxograma do faturamento A área de faturamento conta com dois colaboradores e, de acordo com as entrevistas, desenvolve atividades relacionadas ao pagamento de energia dos associados. Cada associado recebe por mês sua fatura em bancos e cooperativas credenciadas, no sindicato rural e no caixa da loja da cooperativa. O pagamento da energia por parte do associado deve ser efetuado do dia 1º ao dia 20 de cada mês. Quando não realizado durante estas datas é entregue um reaviso em 5 dias, e persistindo o não pagamento, até o dia 10 do próximo mês é feito o corte da energia. A partir disso, o setor de fatura acompanha todos os pagamentos ou não pagamentos de luz, verifica o consumo elevado de energia (se houver reclamação do associado), estuda a viabilidade de prorrogar prazos, lança leituras de energia adquiridas pelos leituristas no acesso ao medidor nas residências dos associados, realiza transferências de titularidade e envia e reimprime faturas de energia. FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. A partir da realização dos três fluxogramas, pôdese obter um contato mais próximo com as atividades realizadas nas áreas de administração, atendimento e faturamento. Essa familiaridade permitiu um entendimento de como um setor depende do outro e onde estão os contatos mais próximos entre uma equipe e um departamento, ou entre os próprios colaboradores. Figura 2 : Fluxograma do faturamento 4 . 3 S AT I S FA Ç Ã O Q U A N T O A O C A N A L D E COMUNICAÇÃO Considerando que a comunicação interna se remete especialmente ao comportamento e à relação entre funcionário e o ambiente organizacional, fez-se necessário descobrir o nível de satisfação dos colaboradores quanto ao canal de comunicação utilizado. Sendo assim, foram realizadas entrevistas e questionários que viabilizaram um conhecimento das percepções dos funcionários de um modo geral. A seguir, é possível visualizar os resultados obtidos nas entrevistas e nos questionários, respectivamente. FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. 17 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 4.3.1 Entrevista trabalho desempenhado, pouco mais da metade respondeu que a falta de comunicação ou demora não prejudica seu desempenho, pois eles vão atrás de retorno no instante que for necessário. Os outros entrevistados afirmaram ficar bastante limitados porque suas atividades desenvolvidas requerem um grande fluxo de informação a todo momento. Para uma melhor compreensão e uma obtenção de dados mais profundos sobre a comunicação interna da cooperativa analisada, foram realizadas entrevistas com funcionários específicos de cada setor, ou seja, aqueles que poderiam representar seu grupo para assim assimilar informações e construir ideias. Foram entrevistados um total de 14 colaboradores das áreas de contabilidade, comunicação, recursos humanos, faturamento, suprimentos, segurança do trabalho, financeiro, atendimento COD e operador COD, fiscalização e manutenção de redes, projetos, TI, gerência de energia, níveis de tensão e a vice-presidência. Referente ao assunto sobre exposição de ideias e melhorias na organização, a maioria declarou ter espaço para colocar suas sugestões. Entretanto, alguns afirmaram que seus argumentos não são aceitos, pois, conforme o indivíduo 8, o ponto de vista da presidência é fechado e conservador, então o grande dilema é agradar a empresa sem comprometer seu desempenho. O primeiro questionamento se relacionava ao recebimento das mensagens ou informações e, nesse fator, a maioria dos entrevistados relatou estar insatisfeitos, argumentando que muitas vezes os recados e informações não chegam e se chegam é com atraso, impossibilitando o desenvolvimento das atividades no tempo previsto. Para eles, o grande retrabalho é ter que ir atrás das informações, não só para buscá-las, mas também para conferir e verificar se os fatos são verídicos. Um exemplo disso foi citado pelo indivíduo 6 que diz ser muito difícil ficar informado na hora de um acidente de trabalho. Às vezes passa semanas e não fica sabendo e quando informam não tem muita procedência, alterando inclusive a versão do ocorrido. Enquanto vários entrevistados relataram o desconhecimento dos motivos tratados em reuniões, o indivíduo 12 justifica que isso é necessário para a segurança da empresa. Em relação às condições financeiras da cooperativa em investir na comunicação interna, todos os entrevistados responderam que sim, ou seja, existem subsídios para melhorias. Já sobre as ferramentas de comunicação interna mais úteis no dia a dia, as opiniões se dividiram entre telefone, e-mail e verbal, sendo que o telefone foi ainda o mais citado. O formulário finalizou questionando sobre a definição da informação passada de uma forma geral e as respostas seguiram numa mesma linha de pensamento. A maioria argumentou ter falhas, ser distorcida, sem procedência e não chegar para todos os interessados. Apenas 2 entrevistados afirmaram ver as mensagens repassadas com clareza e verdade. 4.3.2 Questionário O questionário é uma forma de coletar dados e, através deste recurso, buscou-se informações sobre as percepções dos colaboradores em relação à comunicação interna da cooperativa. No questionário foram elaboradas 19 perguntas fechadas e uma aberta para que nesta, fosse colocado em palavras e considerações, os pontos significativos da comunicação. Ao todo, a organização conta com 73 funcionários, mas, devido a afastamentos, férias e jovens aprendizes que estavam em período de aula ainda, foram entregues questionários para 65 colaboradores e destes todos retornaram. A seguir, encontram-se algumas das respostas mais relevantes. De acordo com o indivíduo 3, em seu setor, as informações são disponíveis e atualizadas em planilhas com toda a programação das atividades e cabe ao funcionário tomar conhecimento e se comprometer em repassar aos seus colegas. Além disso, para ele, existe um certo desconforto para alguns colaboradores expor o que pensam, pois ocorrem reuniões todo mês em uma data específica, em que todos os funcionários solicitados comparecem para discutir o andamento dos serviços; no entanto, muitos deles não se manifestam, deixam de tirar suas dúvidas e acabam sem compreender a mensagem. Nesse contexto, um outro indivíduo expõe sua ideia contradizendo esta última, pois, segundo ele, as pessoas deixam de colocar o que pensam pelo motivo de que sua colaboração pode não ser considerada. Primeiramente, constatou-se através das respostas que em relação ao sexo, há uma porcentagem significativa de homens e isto se justifica pela demanda serviços de campo, de rede, de leituras e de oficina de medidores e de transformadores. Em relação à idade, verificou-se a faixa dos 31 aos 40 anos como a mais relevante e isso se deve ao fato de que a cooperativa demanda também de serviços em áreas técnicas e especializadas, envolvendo maior conhecimento na função. Esta consideração se estende á terceira faixa destacada, de 41 a 50 anos, pois a experiência de alguns colaboradores existe desde a época de fundação da cooperativa de eletrificação. Em contrapartida, segundo alguns entrevistados, mesmo com insatisfações em relação à comunicação interna, a forma que as informações são repassadas não tem como ser diferente. O indivíduo 2 destaca o bom relacionamento entre os colaboradores, pois para ele o contato é imediato e com mensagens verdadeiras, em que todos têm abertura para opinar e construir ideias juntos. Na pergunta seguinte, questionou-se sobre fatos que atrapalham a comunicação interna e somente dois indivíduos afirmaram não ter nada que dificulte no momento, já os outros comentaram sobre alguns aspectos relevantes. Para a grande maioria o processo de informações é afetado pela própria cultura interna, pois de acordo com o indivíduo 1 as mensagens não são passadas para todos os colaboradores, restringindo-se apenas aos coordenadores. No quesito limitação no Em relação à consideração do colaborador quanto à comunicação interna da cooperativa, foi classificada a alternativa como muito boa quando a informação acontece de forma excelente, com clareza e objetividade e sem ruídos, falhas ou demora; boa quando a informação chega no tempo adequado, mas deixa 18 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 algumas dúvidas; regular quando a informação é recebida mas não transmite nada do interesse do colaborador na cooperativa; ruim quando chega de última hora e distorcida e a comunicação muito ruim que é o caso quando a mensagem realmente não existe. está associado a uma desatenção ou um não entendimento do que é um meio de comunicação, pois na figura 9 da próxima questão, todos os colaboradores assinalaram utilizar mais de uma das ferramentas citadas. De acordo com as entrevistas, as ferramentas existentes são e-mail, telefone, mural, radiofones, mensagens instantâneas, reuniões e diálogo com os colegas. Figura 4: A comunicação interna é considerada Figura 6: Ferramentas mais utilizadas FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. Figura 5: As informações chegam no tempo adequado FONTE:Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. Figura 7: Frequência da leitura do mural FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. Neste contexto, têm-se três fatores a serem destacados. No primeiro, verifica-se uma porcentagem baixa e negativa em relação à consideração muito boa da comunicação interna, pois apenas 11% dos questionados assim a consideram. Outro número significativo está nos 69% que consideraram a comunicação boa, uma vez que deveriam considerá-la muito boa, se assim demandasse. Mais uma preocupação está no alto percentual da alternativa ruim que apresentou 6% das respostas. Outro fator que reafirma a necessidade de trabalhar a comunicação interna na cooperativa é a alta porcentagem de 6% na opção ruim, que consiste no recebimento das informações em última hora e com distorção. Sabendo que quase todos os funcionários afirmaram conhecer as ferramentas, subtende-se que elas estão também disponíveis na empresa. Por isso, viuse necessário descobrir quais são mais utilizadas e nesta questão, todos os colaboradores escolheram mais de uma forma de comunicação, comprovando que não só conhecem como também as usam no dia-a-dia. Dentre as diversas ferramentas oferecidas, as que mais estão sendo utilizadas são o telefone com 33%, em segundo lugar o diálogo com os colegas com 28%, em terceiro o CIC e por último, o e-mail. Levando em consideração a entrevista realizada, é válido ressaltar que o uso do telefone é maior por ser um meio disponível em todos os setores e com retorno imediato. Do mesmo modo, esta ferramenta foi evidenciada por ser muito usada entre as equipes, já que trabalham a campo e o contato direto é dificultado. Observando a figura 7, pode-se confirmar que nem sempre os colaboradores da cooperativa recebem as informações necessárias para o desempenho de sua função no tempo adequado. A falta de escolha na opção nunca é positiva, porém não ameniza o impacto da alta porcentagem de 49% no item quase sempre. Este resultado permite concluir que em algum momento a informação não chega até a pessoa no tempo adequado e tal demora implica no não cumprimento de uma tarefa ou no retrabalho, pois, para não deixar de realizar sua função, o colaborador terá que ir atrás da mensagem, perdendo tempo e atrasando outras atividades relacionadas. Dentre as ferramentas de comunicação existentes na cooperativa está o mural, localizado próximo ao relógio ponto, pelo qual todos funcionários passam seu cartão na chegada e na saída de cada período. Este objeto de apoio à disseminação da comunicação interna expõe notícias associadas à cooperativa e aos funcionários. Mesmo com exposição contínua e acessível para todos, a figura 24 demonstra que 35% das respostas afirmam ler o mural mensalmente e apenas 7% confirmam ler todos os dias. Além disso, 14% das escolhas se direcionaram para opção nunca, ou seja, alguns funcionários não sabem e nunca observaram o que é colocado no mural. Quando questionados sobre o conhecimento de todas as ferramentas de comunicação interna da cooperativa, 92% das respostas afirmam conhecê-las. Já o restante diz não obter conhecimento das mesmas e isso 19 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 8: Frequência da leitura do CIC da cooperativa De acordo com o quadro, pôde-se observar que há mais pontos negativos que pontos positivos e este fator não é nada bom, primeiro porque o ideal é que não existam falhas na comunicação interna e segundo porque se a existência destas é maior que os pontos considerados favoráveis, a necessidade do desenvolvimento de ações para mudanças, torna-se ainda maior. Por outro lado, notou-se que o desenvolvimento de uma comunicação interna eficaz já existe, que são as ferramentas, o seu conhecimento, o bom relacionamento entre os colegas, a existência de espaço para sugerir ideias e capital para investir. Estes fatores juntos favorecem a criação de um ambiente melhor, mas para que cada um se comprometa em passar a mensagem da melhor forma, colaborando para que o receptor ganhe tempo, seja rápido e objetivo no seu desempenho é vital uma sensibilização aos funcionários. É necessário criar ações para que os pontos negativos deixem de existir ou sejam ao menos amenizados, melhorando a comunicação como um todo. Dessa forma, foi elaborado um plano de ação para a empresa. FONTE:Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. Considerando a frequência de leitura do jornal interno, nota-se uma porcentagem positiva para a cooperativa, pois 74% das respostas afirmam que a leitura do CIC é realizada sempre e 17% dizem que leem quase sempre. Estes números apresentam uma melhora significativa se comparados com o estudo realizado na cooperativa em 2012, que apresentou, conforme descrito por Capeletti e Tibola (2012), 59% de votos na opção sempre e 3% na opção nunca, ou seja, uma menor porcentagem de pessoas lia sempre e uma porcentagem nunca lia. Alternativa esta desconsiderada neste estudo. É importante ressaltar quem uma outra pergunta remetia-se ao conteúdo do mural e do jornal interno e em ambos desejou-se constar assuntos e notícias sobre cada setor. 4.5 PROPOSTA DE AÇÕES PARA A COMUNICAÇÃO INTERNA A realização das entrevistas e questionários permitiu descobrir fatores como os processos das atividades, as ligações existentes entre os setores, a satisfação dos colaboradores quanto ao canal de comunicação, a percepção dos funcionários em relação à comunicação interna, o recebimento e envio das mensagens e suas sugestões nessa área. Isso tudo aliado a análises permitiu descobrir pontos fracos e pontos fortes. A partir destes pontos fracos foi desenvolvido um plano de ação, a fim de terminar ou diminuir os problemas existentes na comunicação interna e melhorar o andamento das atividades da cooperativa. A última questão elaborada para o formulário foi um pouco diferente, pois não contou com alternativas, mas sim com a colaboração escrita de cada funcionário, caracterizando-se como uma pergunta aberta. As considerações não eram obrigatórias; portanto, nem todos descreveram sua opinião. As descrições relatam muitas falhas na comunicação, como falta de comprometimento de repassar as informações para todos os setores, falta de objetividade e clareza nas mensagens, pois muitos ruídos interferem nos seus verdadeiros significados como intrigas e fontes inseguras que alguns colaboradores divulgam e que acabam prejudicando colegas e a própria cooperativa. O plano de ação contemplou o que precisa ser feito, por que deve ser feito, como deve proceder, onde, por quem e em que data deve ser realizado. A primeira ação visualizada como necessária foi a proposta de contratação de um profissional responsável somente pela área de comunicação interna, pois no setor de comunicação há, de acordo com as entrevistas, apenas uma pessoa para realizar todas as atividades, desde reuniões, eventos, divulgação, entrevistas, enfim, não sobra tempo para se dedicar ao pessoal interno da cooperativa. 4.4 IDENTIFICAÇÃO DE PONTOS SIGNIFICATIVOS NA COMUNICAÇÃO INTERNA Através das análises dos questionários e entrevistas e das considerações colocadas pelos colaboradores na questão aberta, tornou-se possível identificar os pontos significativos na comunicação interna da cooperativa. Quadro 1: Pontos significativos da comunicação interna A segunda ação proposta visa sensibilizar todos os colaboradores sobre a importância da comunicação interna e esta etapa será desenvolvida pelo profissional contratado para esta área. Nesta etapa, serão realizadas palestras e discussões informais com todos os setores, proporcionando a cada funcionário conhecimento sobre os benefícios de uma comunicação eficaz e os problemas de uma comunicação ineficaz. Tendo esta concepção, o trabalhador mudará suas atitudes naturalmente e com satisfação, pois sabe que tais ações favorecem seu trabalho e o dos colegas. A terceira ação sugerida foi o feedback, justamente para poder descobrir se o andamento das FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014. 20 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 atividades melhorou após a sensibilização realizada com os colaboradores. Além da percepção do funcionário sobre sua satisfação, ele receberá um retorno de seu desempenho, podendo, assim, continuar com o que está bom e melhorar o que apresentar dificuldades. comunicação interna e isso se tornou possível por meio de entrevistas com colaboradores específicos de todos os setores, que ajudaram no desenvolvimento de fluxogramas nas áreas de administração, faturamento e atendimento. Depois do conhecimento dos processos de comunicação foi mensurado o nível de satisfação dos colaboradores quanto ao canal de comunicação utilizado e tornou-se viável a partir da realização de questionários com 65 colaboradores da cooperativa e entrevistas com 14 funcionários que representaram as principais áreas. Com as análises dos gráficos, entrevistas e questionários, alcançou-se também a identificação de pontos significativos no processo de comunicação interna. Esses pontos significativos foram divididos em fortes e fracos para assim viabilizar o que precisa de mudança e o que prioriza continuidade na cooperativa. A quarta e a quinta proposta de ação surgiram da necessidade de atrair e aumentar a leitura do mural e do jornal interno da cooperativa. Estas sugestões visam modificar os assuntos e notícias colocados nas duas ferramentas, pois levando em consideração a opinião dos próprios funcionários, a vontade de ler assuntos sobre todos os setores prevalece dentre os demais. Considerando o mural, além das modificações no seu design, foi proposta a modificação do local de exposição, pois como o pessoal não passa seguidamente por el,e devido ao estacionamento de carros, é fundamental que ele esteja num lugar de melhor visualização. Levando em conta os fatores identificados com falhas, como atraso, dúvidas, rumores e falta de clareza, objetividade e conhecimento nas informações, além da cultura da cooperativa e o baixo percentual de leitura do CIC, foram desenvolvidas propostas de ações para acabar ou diminuir com estas dificuldades existentes. Esta última etapa concretizou todos os objetivos da pesquisa, demonstrando que as análises serviram de apoio e real conhecimento do que precisa ser melhorado na comunicação interna. Considerando todas as ações propostas, percebeu-se que as mudanças não são algo impossível de se conseguir; pelo contrário, são sugestões viáveis para a cooperativa mostrar resultados satisfatórios aos seus colaboradores e ao seu cliente e associado. Sensibilizando os funcionários para a importância da comunicação interna e tendo um profissional direcionado para a área e monitorando as atividades, as funções de cada setor serão desenvolvidas com maior agilidade, credibilidade e objetividade, produzindo muito mais. Melhorando a estrutura e o conteúdo do mural e do CIC, a motivação para a leitura será maior e a disseminação das informações será mais rápida. REFERÊNCIAS AMBONI, Nério; ANDRADE, Rui Otávio B. 2007. Teoria Geral da Administração: Das Origens às Perspectivas Contemporâneas. Rio de Janeiro: M. Books do Brasil Ltda. ISBN: 85-7680-011-X. 5.CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma comunicação interna adequada depende primeiramente da conscientização das pessoas para os benefícios desta função, pois conhecendo este âmbito, a condução eficiente das informações nas atividades diárias dos colaboradores será natural e satisfatória pelo retorno recebido. Neste momento, surge a necessidade de saber se existem ferramentas para o desempenho dos funcionários e se a sua utilização é adequada para o trabalho. Portanto, existindo pessoas sensibilizadas e o uso adequado das ferramentas, pode-se obter internamente um fluxo de informações favoráveis ao andamento das atividades e da produtividade da empresa. ARGENTI, Paul A. 2006. Comunicação empresarial. A construção da identidade, imagem e reputação. 4ª ed. Rio de Janeiro: Campus. ISBN: 85-35220941. ASSIS, Luciana. 2011. Princípios da Administração – O conceito da Administração e suas funções. Acessado em 17/05/2014. Disponível em: ˂http://www.administradores.com.br/artigos/administraca o-e-negocios/principios-da-administracao-o-conceito-daadministracao-e-suas-funcoes/57654/>. BORTOLOTTI, Suely. 2008. Consultoria empresarial. Acessado em 15/04/2014. Disponível em <http://www.profissionalizando.net.br/carreira-eemprego/178?task=view >. A pesquisa realizada foi idealizada com o propósito de conhecer o andamento das atividades de uma cooperativa de eletrificação rural, descobrindo principalmente o problema do trabalho que questionava como ocorre o processo de comunicação interna na cooperativa. Este questionamento motivou a análise ampla e minuciosa da forma desempenhada desta função, levando a compreender o porquê de certos fatores apresentaram falhas nos resultados. CAPELETTI, Jéssica; TIBOLA, Camila. 2012. Estratégia de comunicação interna e análise de clima organizacional na CERTHIL. Três de Maio. ISBN: s/n. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. 1997. Teoria Geral da Administração: da escola científica à competitividade em economia globalizada. São Paulo: Atlas. ISBN: 8522416109. Para a consolidação do objetivo principal da pesquisa, o estudo da comunicação interna da empresa, algumas etapas foram desenvolvidas. Primeiramente, identificaram-se as ferramentas de comunicação interna utilizadas na cooperativa, através da realização de entrevistas e questionários, que apresentaram a existência de meios necessários para o fluxo das informações e o conhecimento de seu uso. Posteriormente, foi analisado o processo atual da PERSONA, Mario. 2008. Comunicação interna. Acessado em 29/01/2014. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=LHmg_1XOrcc>. __________. 2012. Comunicação interna - Como 21 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 fazer?. Acessado em 29/01/2014. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=VnQv01ptMXA>. PIMENTA, Maria Alzira. 2006. Comunicação empresarial. 5ª ed. São Paulo: Alínea. ISBN: 8586491330. PINHO, José Benedito. 2006. Comunicação nas organizações. Minas Gerais: UFV (Universidade Federal de viçosa). ISBN: 857269229 TORQUATO, Francisco Gaudêncio. 2002. Tratado de comunicação organizacional e política. São Paulo: Pioneira. ISBN: 8522102724. ZANCHIN, Laís Viegas. 2013. Comunicação Externa e os Reflexos nos Resultados Organizacionais. Acessado em 1 5 / 0 9 / 2 0 1 3 . D i s p o n í v e l e m : <http://www.ecrconsultoria.com.br/biblioteca/artigos/planeja mento-estrategico/comunicacao-externa-e-os-reflexos-nosresultados-organiz>. 22 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR COMO ALTERNATIVA DE REDUÇÃO DE CUSTOS LOGÍSTICOS E DE PROCESSO Alexandre Chapoval Neto¹ Anderson do Nascimento² SETREM³ RESUMO Em tempos de intensa competitividade, conhecer os fatores que influenciam no desempenho da organização assume um aspecto extremamente vital para o seguimento do negócio que precisa tornar-se cada vez mais competitivo para maximizar seu espaço de atuação no mercado. O presente estudo tem por objetivo analisar a utilização do Mapeamento de Fluxo de Valor (VSM) como uma alternativa para redução de custos, tanto logísticos como de processo. O trabalho foi realizado em uma empresa do ramo metal mecânico envolvendo os processos de solda, pintura, logística interna e montagem. Buscando a redução dos custos destes processos, foram mapeados todos os itens durante o acompanhamento das atividades pelas quais passam os componentes do conjunto em análise. Com base nesse mapeamento, foi desenvolvido um mapa do fluxo de valor atual do processo. Através deste mapa atual criado foram observados pontos de desperdício e de possíveis melhorias no processo. Utilizando as teorias do VSM um novo mapa do estado futuro ideal foi desenvolvido. A partir daí, foi traçado um comparativo entre o mapa do estado atual e o mapa do estado futuro ideal e constatou-se que, com as mudanças sugeridas, é possível fabricar o conjunto utilizando apenas 82% do tempo total de transporte atual, considerando o volume de 1300 produtos fabricados no ano de 2010 e que tinham o conjunto estudado em sua estrutura. O tempo total de pintura dos conjuntos passou de 867 para 650 horas/ano e uma redução de 67 carros de pintura/ano. Outro ganho alcançado fica por conta do tempo de manuseio das peças que compõem o conjunto estudado, que pode ser feito com apenas 7% do tempo atual empregado nele, uma redução de 93%. Com os ganhos apurados, a alteração para o mapa de fluxo de valor do estado futuro do conjunto se mostra viável uma vez que a eficiência da manufatura é um dos fatores de maior influência para o aumento do potencial competitivo das organizações. Quanto menores os custos, maior é a capacidade de negociação e de concorrência. ABSTRACT In times of intense competition, to determine factors that influence the performance of the organization takes an extremely vital aspect for monitoring business that needs to become a more and more competitive space to maximize its performance in the market. This study aims to analyze the use of Value Stream Mapping (VSM) as an alternative to reduce costs, logistical movement and process improvement. The work was conducted in a company's business processes involving metal welding, painting, internal logistics and final assembly. Seeking to reduce the costs of these processes, all items were mapped during the monitoring of activities through which pass the components of the set under consideration. Based on this mapping, a value stream map of the current process was developed. Through the current map set points were observed in the waste and possible improvements in the process. Using the VSM theories a new ideal future state map was developed. Thereafter, a comparison was drawn between the current state map and ideal future state map and found that, with the suggested changes, it is possible to manufacture the set using only 82% of the total time of current transportation, considering the volume 1300 of products manufactured in 2010 and had studied in the whole structure. The total time spent painting the sets of 867 to 650 hours/year and a reduction of 67 car paint/year. Another gain is achieved due to the handling time of the parts that make up the set studied, it can be done with only 7% of the time it current employee, a reduction of 93%. With the gains assessed, the change to the value stream map of the future state of the set is validated since the efficiency of manufacturing is one of the most influential factors to increase the competitive potential of organizations. The lower the cost, the greater the bargaining power and competition. Keywords: Value Stream Mapping. Efficiency. Cost Reduction. Palavras-chave: Mapeamento de fluxo de valor. Eficiência. Redução de custos. logística e o de produção, gastarem para as empresas, mais será a probabilidade de crescimento nas organizações. Surge então a necessidade de identificar esses desperdícios gerados pelos processos para aumentar o faturamento das organizações. Uma das ferramentas mais indicadas para esse trabalho é o Value Stream Mapping ou Mapeamento de Fluxo de Valor. 1. INTRODUÇÃO A teoria Japonesa da manufatura enxuta é baseada na melhoria dos processos de fabricação, pela eliminação contínua das perdas nos processos produtivos. Um grande diferencial competitivo no mundo dos negócios, juntamente com a manufatura enxuta, é a eficiência do processo logístico das organizações. O Mapeamento de Fluxo de Processo é uma ferramenta do sistema de produção enxuta e consiste em Quanto menos custos esses dois processos, o de ¹ Professor orientador do estudo. Bacharel em Administração. Pós-graduado em Gestão de Negócios. Mestre em Engenharia ² Acadêmico do Curso Bacharel em Administração - SETREM ³ Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM; Av Santa Rosa, 2405, Três de Maio – RS. E-mail: [email protected] 23 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 representação visual de todo o fluxo de processo, incluindo todas as atividades que agregam e não agregam valor ao produto. O presente estudo tem como objetivo identificar desperdícios no processo logístico e de produção através do mapeamento dos processos. O trabalho será aplicado em uma família de itens de mesma característica, utilizados na montagem de uma empresa do ramo de máquinas agrícolas da região Noroeste do Rio Grande do Sul. Também é possível perceber o alto valor gasto para a pintura dos itens estudados. Em outras palavras, conhecer onde estão e quais são os custos logísticos e de processo fabril que podem ser reduzidos ou eliminados, está ligado diretamente nas decisões de explorar as melhores oportunidades, os melhores processos, ou seja, na maximização dos lucros da organização. 2.1METODOLOGIA 2. ASPECTOS METODOLÓGICOS O método utilizado para estudo é de fundamental importância para o levantamento de todas as informações e dados que se julguem necessários para o desenvolvimento do trabalho em questão. Segundo Oliveira (1999) o quantitativo, conforme o próprio termo indica, significa quantificar opiniões, dados, nas formas de coleta de informações, assim como também com emprego de recursos e técnicas estatísticas. Neste trabalho é utilizado para coletar as informações da família de itens estudadas na área fabril. Este estudo tem como tema: Mapeamento do fluxo de valor como alternativa de redução de custos logísticos e de processo. Delimitando o tema o mapeamento do fluxo de valor da cadeia de suprimento e do processo interno para evidenciar perdas e reduzir custos logísticos e de processo, em uma empresa do ramo metal mecânico, localizada na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. O problema abordado para o seguinte trabalho: no mercado atual, cada vez mais o assunto logística é determinado como um dos maiores geradores de custos para as empresa. Levando isto em consideração, como a ferramenta de Mapeamento de Fluxo de Valor (VSM) pode auxiliar na identificação de oportunidades de redução de custos logísticos e de processo? A abordagem quantitativa visa mensurar os fenômenos avaliando o comportamento de determinada população, empregando técnicas observatórias de experimentação, traduzindo os resultados do estudo em números. De acordo com Oliveira (1999) a abordagem qualitativa não emprega dados estatísticos como centro de análise de um problema, pois não tem a pretensão de numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas. Esta abordagem gera informações que possibilitam a interpretação conceitual dos fatos observados e a razão pela qual o mercado assume determinado comportamento. Objetivou-se neste trabalho realizar o mapeamento do fluxo de valor da cadeia de suprimentos e do processo interno através da ferramenta VSM, neste trabalho focado e avaliado no fluxo logístico interno de um pacote de itens de mesma característica da montagem final. E, para melhor responder aos objetivos, os mesmos foram descritos mais especificadamente. Inicialmente, buscou-se embasar teoricamente com pesquisa bibliográfica sobre o assunto para seguidamente analisar no mapa os processos logísticos e de produção para assim identificar as oportunidades de melhorias dos respectivos processos e, só então, realizar o mapeamento do fluxo de valor do processo futuro dos itens estudados. Avaliou-se também a eficácia da ferramenta VSM (Value Stream Mapping) aplicada em trabalhos de redução de custos logísticos e de produção através da comparação do fluxo do processo atual com o estado futuro ideal sugerido. Tomando como referência estes dados sobre a abordagem, analisou-se que o método utilizado é qualiquantitativo, pois o estudo em questão apresenta a característica qualitativa e a quantitativa na pesquisa. 3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1 CUSTOS LOGÍSTICOS Quando se aborda em Custos Logísticos, a primeira ideia que vem a cabeça é o Custo com Frete ou Transportes. Apesar de este ser o mais significativo, os Custos Logísticos não se resumem somente a isso. De acordo com as palavras de Ricarte (2002), Custos logísticos são todos os custos que estão relacionados com a logística de uma empresa, entre os quais pode-se destacar os custos de armazenagem, custos de existência, custo de ruptura de estoque, custos de processamento de encomendas e custos de transporte. Atualmente as empresas estão cada vez mais buscando novas estratégias para agilizar seus processos de manufatura e também para reduzir os seus custos. Cada vez mais estas empresas estão percebendo as grandes possibilidades de redução nos desperdícios logísticos e de processo. Em tempos de intensa competitividade, o conhecimento dos fatores que influenciam no desempenho da organização representa um aspecto extremamente vital para o seguimento do negócio. É necessário analisar cautelosamente a organização em seus aspectos logísticos, como a sua capacidade, sua competência, sua eficiência; enfim, os pontos fortes e fracos de cada etapa do fluxo do processo. Assim, a eficácia das operações se dará de maneira eficiente, otimizando resultados. Os custos logísticos de uma empresa são considerados muito importantes e um dos maiores componentes ficando atrás somente dos custos gerados pela própria mercadoria. Ainda, em palavras do mesmo autor, pode-se destacar que saber gerir estes custos em uma empresa é crucial para a sobrevivência e estabilidade da mesma. A gestão destes custos pode ser feita através de planejamento de custo ou do pré-cálculo de custo, pois estas duas formas de controle podem auxiliar a determinar os padrões de custo de produção (CHIAVENATO, 1991, p. 130). A família de itens que é mapeada neste trabalho tem um alto índice de armazenamento dentro da área fabril, reduzindo, assim, espaços que poderiam ser disponibilizados para melhorias de outros processos. A logística moderna atualmente passa por uma grande e crescente complexidade operacional com o 24 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 aumento da variedade de produtos, entregas mais frequentes, menor tempo de atendimento, etc. Sendo assim, os custos logísticos absolutos aumentam com o crescimento da economia, e estes, até então considerados pouco significantes, passam a ter uma participação importante, o que leva as empresas a procurar a modernização tecnológica e gerencial para a alocação destes custos. determinado produto desde a origem até ao destino final. Estes custos têm grande relevância no preço final do produto. No transporte de materiais muito densos e com baixo valor por peso, por exemplo, areias e carvão, os custos de transporte são elevados, ao contrário dos produtos de alto valor por peso, por exemplo, uma peça de joalharia em que os custos de transporte podem ser mais reduzidos. Vários fatores influenciam os custos de transporte, podendo estar relacionados com o produto, por exemplo, a densidade do produto e a facilidade do seu manuseamento; ou estar relacionados com o mercado, como por exemplo a localização do mercado de destino do produto. Segundo Chiavenato (1991) dependendo do tipo de negócio, os custos logísticos podem representar de 5 a 35% das vendas. Apesar de impactar no custo das mercadorias vendidas, a logística é indispensável para o sucesso de uma empresa. Ela acrescenta valor e se traduz num aumento da competitividade uma vez que tem um impacto direto no custo de produzir bens. Através das abordagens feitas aqui, pode-se identificar os custos logísticos mais significativos como sendo os de armazenagem (custos de existência) e os de transporte. De um modo geral, afirma-se que estes dois custos têm uma relação inversa, em que o custo de transporte aumenta quando o custo de existência diminui e vice-versa. Entre outros motivos, verifica-se que isto se deve ao fato de ao aumentar-se o custo de transporte (e portanto investindo em sistemas de transporte mais eficientes), pode efetuar-se a movimentações mais frequentes de uma quantidade inferior, e, portanto, não será necessário um número tão elevado de existências em armazém. O objetivo da logística é atingir um determinado nível de serviço de cliente, ao menor custo total possível. Sendo que quanto maior for o nível de serviço pretendido, maior o custo total logístico, um bom desempenho em nível logístico resulta do equilíbrio entre o nível de serviço e os custos. No entanto, chegou-se à conclusão de que a relação entre o nível de serviço e o custo total não é linear, e o melhor balanço entre os dois é específico de cada caso segundo Chiavenato (1991). 3.4 PRODUÇÃO ENXUTA: PROGRAMAÇÃO PUXADA E EMPURRADA 3.2 CUSTOS DE ARMAZENAGEM Os custos de armazenagem são geralmente fixos e indiretos, e pode-se perceber a dificuldade da gestão das operações que envolvem estes custos e principalmente os seus impactos. A grande parcela de custos fixos na armazenagem faz com que os custos sejam proporcionais à capacidade instalada tendo pouca relevância se o armazém está cheio ou vazio, ou ainda se está movimentando produtos. Desta forma, os custos de armazenagem continuarão ocorrendo independente da atividade de produtos, uma vez que os trabalhadores responsáveis pelo estoque, os equipamentos nele contidos e quaisquer outros investimentos continuarão existindo (DIAS, 2005, p. 191). Na programação empurrada, as tarefas são programadas por meio de um sistema central e completadas em linha com as instruções centrais, como em um sistema MRP. Esse sistema central calcula as necessidades de cada item do produto que será produzido, que está no Programa Mestre de Produção (PMP), cria as ordens de compra dos itens necessários e as ordens de trabalho para que tudo seja provido a tempo. As células de produção empurram seu trabalho, sem considerar se a célula seguinte poderá utilizá-lo de imediato ou se ficará estocado por algum tempo. Na programação puxada, as especificações do que será feito são estabelecidas pela célula de trabalho posterior (consumidora) que puxa (demanda) o trabalho da célula anterior (fornecedora), ou seja, só será realizada uma tarefa quando houver uma necessidade na célula seguinte. O trabalho de puxar a produção é exercido pelo Kanban ou por embalagens Kanban. A alocação dos custos indiretos de armazenagem nesse caso fica muito difícil, o mais provável é que sejam feitos através de rateios, deixandoos sujeito a distorções. Sendo assim, para minimizar essas distorções é importante que os itens de custos sejam contabilizados de acordo com sua função, ou seja, movimentação, acondicionamento, administração, e não por contas naturais como depreciação, mão-de-obra e a alocação sejam condizentes com o real consumo de recursos na operação. 3.5 MATERIAL REQUIREMENTS PLANNING – MRP Segundo Slack (1996), o Planejamento das Necessidades de Materiais (MRP) originou-se nos anos 60 e permite que as empresas calculem quantos materiais de determinado tipo são necessários e em que momento. É um sistema de empurrar a produção que se utiliza dos pedidos em carteira e das previsões de vendas geradas pelo PMP – Plano Mestre de Produção para fazer os cálculos das necessidades. Os custos indiretos de armazenagem dificultam a alocação aos produtos e clientes, pois a alocação neste caso é realizada através de rateios, o que pode causar distorções. Para que estas distorções sejam minimizadas é importante destacar que os itens de custo sejam contabilizados de acordo com a função que tem, e que a alocação seja condizente com o real consumo de recursos na operação. Portanto, o MRP decide quando cada item será necessário, de modo que possa comprar no momento correto. Em resumo, o MRP consulta a Carteira de Pedidos e as Previsões de Vendas no Programa Mestre de Produção, planeja as necessidades de materiais, gera a lista de materiais necessários e compara com os registros de estoque. Em cima disso, cria as ordens de 3.3 CUSTOS DE TRANSPORTE Segundo Arantes (2005), os custos de transporte são todas as despesas realizadas na movimentação de 25 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 compras e as ordens de trabalho para que tudo seja providenciado a tempo de entregar o pedido. O MRP não se preocupa com a quantidade de estoque, mas sim, preocupa-se que não faltem os materiais necessários. “O JIT visa atender a demanda instantaneamente com qualidade perfeita e sem desperdícios” (SLACK, 1996, p. 474). De forma mais completa, o JIT é uma abordagem disciplinada, que busca aprimorar a produtividade global e eliminar os desperdícios, ou seja, visa à eficiência da produção. Ele possibilita uma produção eficaz no que se refere aos custos, assim como o fornecimento apenas da quantidade necessária de componentes, na qualidade correta, no momento e locais corretos, utilizando o mínimo de instalações, equipamentos, materiais e recursos humanos. O MRP usa o fluxo interdepartamental baseado em lotes para suprir a produção. Se as previsões de vendas estiverem incorretas, as listas de materiais necessários são revisadas, as peças são produzidas incorretamente, os fornecedores atrasam e assim por diante; isto porque o sistema não identifica a necessidade de reprogramar, apenas identifica novos lotes e cria novas listas. As peças programadas anteriormente acabam sendo produzidas e indo para o estoque. Para Slack (1996), o fluxo de cada operação da manufatura é puxado pela necessidade da operação posterior. O controle de fluxo entre as operações é feito pelo uso de cartões simples (Kanbans) que disparam a produção e a movimentação de materiais. O Just-in-time é altamente dependente da flexibilidade do fornecedor (operação anterior) e do usuário (operação posterior). Também conhecido como manufatura de fluxo contínuo, manufatura de alto valor agregado, produção sem estoque, manufatura veloz, manufatura enxuta e outros. O JIT é uma ideia reativa, que responde com dificuldades às mudanças de demanda, porém os estoques decorrentes dessas mudanças são pequenos. O Planejamento das Necessidades de Materiais é muito dependente da acuracidade dos dados das listas de materiais e dos registros de estoques. Ele responde rapidamente às mudanças de demanda, porém por ter antecipado os materiais que lhe foram solicitados antes pode acabar inchando estoques caso grandes mudanças de demanda ocorram. 3.6 SEQUENCIAMENTO Demanda puxada pela produção. O sequenciamento da produção é baseado nos principais processos de produção de cada produto, sendo que a lista de reabastecimento dos mesmos é gerada eletronicamente pelo programa de produção de chassis, por exemplo, de acordo com a lista de materiais dos produtos finais do plano mestre de produção – PMP. “Controle Kanban é um método de operacionalizar o sistema de planejamento e controle puxado” (SLACK, 1996, p. 486). Palavra de origem japonesa, Kanban significa cartão ou sinal. Muitas vezes denominado de “correia invisível”, que controla a transferência de material de uma operação para outra ou de um fornecedor para um cliente. No sequenciamento de itens comprados, a compra é feita por MRP ou Kanban e as linhas de produção são abastecidas conforme as listas de produção geradas pelo programa de sequenciamento. Usado principalmente para itens que ocupam grande espaço como motores, pneus, caixas de câmbio. São enviados para a linha em embalagens especiais (carros, contentores). O primeiro ponto é definir que “Just-in-time” e Kanban não são sinônimos. “Just-in-time” é uma filosofia completa, enquanto que Kanban é uma técnica de “puxar”, sendo um dos elementos do JIT; o segundo ponto estabelece que o Kanban é uma das ações a ser implementada (MOURA, 2003, p. 15). Na manufatura, caracteriza-se pela produção de itens de grande porte em que a fabricação em série ou lotes seria inviável pelo fato de necessitarem um espaço muito grande. O acondicionamento é feito através de carrinhos que levam estes itens até o processo em que são consumidos. O item ou conjunto são manufaturados conforme a lista de abastecimento gerada pelo programa de sequenciamento de produção. O princípio do Kanban é um só: o recebimento do Kanban dispara o transporte, a produção ou o fornecimento de uma ou de um contentor padrão de unidades. Ele é o meio pelo qual o transporte, a produção ou o fornecimento é autorizado. Ele proporciona um método simples e transparente de solicitar material somente quando necessário e limita a quantidade de estoque que poderia se acumular entre as operações. O objetivo é aperfeiçoar o espaço da fábrica, otimizar a utilização de máquinas envolvidas no processo e reduzir o estoque dos materiais através da produção “just-intime” de itens e conjuntos de grande porte e valor elevado. 3.8 DIFERENCIANDO JIT E MRP Na abordagem tradicional (MRP) cada um dos estágios do processo de manufatura encaminha os componentes que fabrica para um estoque (pulmão, buffer), o qual isola aquele estágio do estágio seguinte. Esse próximo estágio irá eventualmente suprir-se dos componentes deste pulmão, processá-los e mandá-los para o estoque isolador posterior. Esses estoques existem para isolar um estágio de seus vizinhos e, portanto, não são acidentais. 3.7 JUST-IN-TIME E KANBAN Para Moura (2003), o Just-in-time não é apenas um sistema de programação puxada, é uma filosofia. Essa filosofia é a redução, eliminação de tudo que não agrega valor e o que não pode ser eliminado deve ser reduzido ao máximo. O Just-in-time significa oferecer produtos ou serviços no momento exato da necessidade, ou seja, não com antecedência para que não entrem em estoque e empatem o capital, e não depois da demanda para que os clientes não tenham que esperar. Isso faz com que cada estágio trabalhe de forma independente, de modo que, se um estágio interromper suas atividades por uma quebra de máquina ou por falta de materiais, o estágio seguinte pode continuar 26 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 trabalhando ao menos por algum tempo. Os estágios seguintes poderão continuar trabalhando por um tempo ainda maior, pois os estoques isoladores somam-se ao avançarem os estágios. visualmente todas as etapas dos processos de fluxos de matérias das empresas e ainda mostrar o tipo de informação utilizada a cada etapa do fluxo do processo, desde o início da cadeia no fornecedor até o final, no consumidor. Segundo Slack (1996), para minimizar os distúrbios causados por um problema de produção, é necessário elevar o grau de independência entre os estágios, o qual é proporcionado pelo aumento de componentes do estoque isolador, ou seja, pelo aumento de materiais em processo. Apesar de aumentar a eficiência e permitir que cada estágio trabalhe de forma ininterrupta, os gastos com capital empatado irão aumentar e, em caso de alterações de engenharia, a resposta ao mercado passa a ser lenta em função da grande quantidade de estoque aumentando o risco dos materiais em processo tornarem-se obsoletos. 3.11 BENEFÍCIOS DO VSM Segundo Rother e Shook (2007), o potencial do mapeamento do fluxo de valor pode ser demonstrado a partir das afirmações: Com o VSM pode-se enxergar todo o fluxo do processo e não os processos isolados. No mapeamento é possível enxergar mais do que as perdas, é possível enxergar a fonte das perdas na cadeia de valor, realizado através de uma linguagem comum, simples e clara para tratar dos processos. Torna todas as decisões do fluxo visíveis, facilitando assim as discussões. Unifica e associa conceitos e técnicas da manufatura enxuta, evitando assim implementações isoladas de algumas técnicas. Forma a base de um plano de implementação, servindo de referência para a aplicação da manufatura enxuta. O mapa deixa clara a relação entre fluxo de informação e fluxo de material e o mapa é uma ferramenta qualitativa e descreve como deveria ser um fluxo que agregue valor ao produto. O principal argumento contrário à abordagem tradicional incide exatamente sobre o que ela promove que é a independência entre os estágios. Quando ocorre um problema, a responsabilidade de resolução do mesmo se restringe sobre o pessoal daquele estágio, pois os demais não são atingidos. Já no JIT, os componentes são produzidos e encaminhados para o próximo estágio no momento exato em que são necessários; assim, se ocorre um problema em um estágio, os próximos estágios logo serão afetados. 3.12 FLUXO DE VALOR DE MATERIAL E DE INFORMAÇÃO Dessa forma, a responsabilidade de resolução do problema é compartilhada por todos os estágios, o que aumenta consideravelmente as chances de ser resolvido com rapidez, pois agora ele é muito mais importante para ser desconsiderado ou ignorado. Em outras palavras, eliminando o acúmulo de estoques entre etapas aumenta-se a possibilidade de aprimorar a eficiência intrínseca da fábrica. Sempre que se inicia qualquer tipo de mapeamento, logo é focado o fluxo de material interno da fábrica. Mas para a realização do mapeamento de fluxo de valor há outro fluxo tão importante quanto o de materiais, que é o fluxo de informação. O fluxo de informação é quem diz ao processo o que fazer e quando fazer. Ambos os fluxos devem ser mapeados. Segundo Rother e Shook (2007), na manufatura enxuta, tanto o fluxo de informações quanto o fluxo de materiais têm a mesma importância; por isso, devem ser mapeados da mesma forma. 3.9 COMBINANDO MRP E KANBAN Apesar de terem características opostas quanto ao sentido que atuam dentro da produção, o MRP e o Kanban podem ser combinados dentro de um sistema Just-in-time. O MRP visa garantir as quantidades suficientes de itens para que estes possam ser puxados através dos Kanbans. O MRP pode ser usado para planejar as necessidades de materiais em se tratando de quantidades e momentos necessários, baseado no Plano Mestre de Produção que inclui os pedidos em carteira e as previsões de vendas. 3.13 PRINCÍPIOS DO MAPEAMENTO O mapeamento de fluxo de valor pode ser utilizado como uma ferramenta de comunicação, como uma ferramenta de planejamento de negócios e também como uma ferramenta para gerenciar o processo de mudanças. Para iniciar o processo de mapeamento é preciso respeitar algumas etapas inicias. As etapas são definir a família de produtos, desenhar o estado atual, desenhar o estado futuro e definir o plano de trabalho e implementação. Integrando o MRP e o Kanban em um sistema, com o primeiro comprando os materiais e o segundo puxando a produção na hora e na quantidade certa, atingese a filosofia Just-in-time no que se refere à redução de inventário, redução de Lead Time. Em suma, eliminando as atividades que não agregam valor ao produto. Assim que a família de produtos é determinada, o passo seguinte é coletar dados no chão de fábrica para que possa ser desenvolvido o mapa do estado atual. É importante saber que o desenvolvimento do estado atual e do estado futuro são esforços sobrepostos. Isso porque durante o desenvolvimento do mapa do estado atual já virão à tona ideias do estado futuro; assim como durante a criação do estado futuro é possível perceber detalhes que passaram despercebidos no mapa atual. Por fim, é preciso criar um plano de trabalho e implementação que descreva em detalhes o planejamento de como se deseja alcançar o estado futuro. Para Rother e Shook (2007) o mapa do estado futuro é o 3.10 VALUE STREAM MAPPING O Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV) ou value stream mapping (VSM) é uma ferramenta do sistema de produção enxuta e consiste em representação visual de todo o fluxo de processo, incluindo todas as atividades que agregam e não agregam valor ao produto. Segundo Rother e Shook (2007) com a utilização da ferramenta de mapeamento de fluxo de valor pode-se representar 27 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 mais importante, um mapa com a situação atual sem um estado futuro não é útil e sua meta deve ser sempre projetar e introduzir um fluxo enxuto de valor. Para Rother e Shook (2007) surge a necessidade de se coletar alguns dados que serão importantes para definir como será o estado futuro. Esses dados podem ser coletados sempre que se passa pelo chão de fábrica. Seguem alguns dados que são necessários: T/C (tempo de ciclo); T/R (tempo de troca); Tempo de operação efetiva (operação real da máquina); TLP (tamanho dos lotes de produção); Número de operadores; Número de variações do produto; Tamanho da embalagem; Tempo de trabalho (menos os intervalos); Taxa de refugo. Durante a criação do VSM é utilizado um conjunto padronizado de símbolos. Conforme a Figura 03. 3.14 FAMÍLIA DE PRODUTOS Certamente ficaria muito difícil de mapear todos os produtos ou processos da empresa; portanto, é amplamente importante que antes de iniciar o mapeamento seja determinado uma família de produtos. Esta família será o foco do trabalho de mapeamento. Para Rother e Shook (2007) ao desenhar todo o fluxo de um produto apenas em um mapa é complicado, a menos que se tenha uma empresa de pequeno porte ou que você tenha em sua planta apenas a produção de um único produto. Figura 3: Símbolos do VSM Para determinar uma família de produtos adequada para se realizar um bom mapeamento é preciso analisar e identificar produtos que tenham etapas similares no processo de fabricação e ainda que utilizem as mesmas máquinas e equipamentos durante a fabricação. 3.15 MAPA DO ESTADO ATUAL Para iniciar o desenvolvimento do estado atual é preciso analisar na planta o nível do fluxo porta-a-porta em que serão desenhados os tipos de processamento. A Figura 01 ilustra o fluxo de porta-a-porta dentro do fluxo total de valor. Figura 1: Fluxo porta-a-porta FONTE: ROTHER e SHOOK, 2007. Se houver a necessidade outros símbolos, podem ser criados na hora do mapeamento, mas o importante que isso seja disseminado durante a construção do mapa para que todos os envolvidos no projeto possam compreendê-los. FONTE: ROTHER e SHOOK, 2007. 3.16 MAPA DO ESTADO FUTURO O fluxo de porta-a-porta é usado apenas no início, para que possa se enxergar o fluxo completo na fábrica. Assim que a construção do mapa for desenvolvendo, é possível mudar o nível de amplitude, passando a focalizar também o fluxo de valor externo à sua planta; desta forma estará mapeando o fluxo total de valor. Para realizar o mapeamento de fluxo de valor do estado futuro o objetivo é destacar as fontes de desperdício encontradas durante a criação do mapa atual e eliminá-las. Rother e Shook (2007) sugerem uma lista de questões que são úteis e necessárias para conseguir elaborar um mapeamento do estado futuro. As questões são: Qual é o takt time, baseado no tempo de trabalho disponível dos processos posteriores que estão mais próximos do cliente? Você produzirá para um supermercado de produtos acabados do qual os clientes puxam diretamente para expedição? Onde você pode usar fluxo contínuo? Onde precisará introduzir os sistemas puxados com supermercados a fim de controlar a produção dos processos anteriores? Em que ponto único da cadeia de produção será programada a produção? Como será nivelado o mix de produção do processo puxador? Qual o incremento de trabalho você liberará uniformemente do processo puxador? Quais as melhorias de processo serão necessárias para fazer fluir o fluxo de valor conforme as especificações do projeto de seu futuro estado? A figura 2 ilustra um exemplo de mapa de fluxo de processo atual: Figura 2: Exemplo de mapa do fluxo de processo atual FONTE: ROTHER e SHOOK, 2007. A figura 4 ilustra um exemplo de mapa de fluxo de processo futuro: 28 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 4: Exemplo de mapa do estado futuro aproximadamente 6 horas circula pelo processo. Depois de pintado, o mesmo é descarregado durante 8 minutos e enviado para a área RIP – “Raw in Process” (Materiais em Processo), em que é armazenado. Na empresa em estudo, os “pulmões” são denominados de RIP que significam Materiais em Processo. Eles servem para evitar atrasos, caso algum problema possa causar de imediato uma falta de componentes na linha de montagem. Funcionam como estoques intermediários aos processos. O tempo de transporte entre pintura e RIP é de 1 minuto e o tempo gasto para armazenar o item é de 1 minuto e 30 segundos. Nesta área de armazenagem existem 2 locais para contentores deste item, um em uso para suprir a montagem e outro que está em processo de fabricação ou já está pronto para suprir a linha quando o primeiro terminar. FONTE: ROTHER e SHOOK, 2007. Quando o carro KIT que abastece a linha de montagem estiver vazio, ele retorna ao RIP para ser recarregado. As peças então são retiradas do contentor e colocadas no carro KIT, que é replanejado pelo MRP seguindo a sequência de produção conforme Plano Mestre de Produção, na quantidade adequada para a produção de 1 dia, em média 12 peças. O carro KIT retorna à linha de montagem, agora carregado com as peças e esse deslocamento toma um tempo de 2 minutos. O tempo para abastecer o carro é de 6 minutos, sempre considerando o lote 30 peças. O item B é formado por outros dois subitens, que são replanejados pelo MRP. Uma vez criada a lista de produção dos subitens, a produção do item B é automática. Um subitem é cortado e estampado em primários e encaminhado para a área de solda, em uma célula diferente da célula em que é processado o item A, em lote de 30 unidades. O deslocamento deste subitem até a solda leva 1 minuto. O segundo subitem componente do item B, que é comprado, é acrescentado ao primeiro nesta célula de solda. A meta do mapa é construir um processo produtivo em que os processos individuais são articulados aos seus clientes ou por meio de fluxo contínuo ou puxado, produzindo apenas o que os clientes necessitam e na hora que eles necessitarem. 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O referido estudo foi realizado em uma empresa do ramo metal mecânico da Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Para iniciar o mapeamento do fluxo de processos atuais é necessário fazer um levantamento de todos os itens envolvidos. Tempos de processo interno, externo, custos dos processos, entre outros. É importante salientar que todos os cálculos que foram realizados neste trabalho são feitos através de comparações do fluxo de processo atual real com um estado futuro ideal sugerido. 4.1 MAPEAMENTO DE FLUXO DE PROCESSO ATUAL O conjunto que será estudado tem a nomenclatura interna de “fechamento frontal”. Este conjunto é formado por cinco itens distintos, quatro deles manufaturados e um comprado. Neste estudo de caso, identificam-se os itens manufaturados de “A, B, C e D” e o item comprado de “E”. Logo após, o item B é transportado até a pintura por um tempo de 2 minutos. É carregado no carro de pintura em 6 minutos, segue por 6 horas na pintura, é descarregado em outros 6 minutos e levado ao RIP, armazenado em 1 minuto e 30 segundos. Quando surge a necessidade, o item é carregado no mesmo carro KIT que o item A para abastecer a linha de montagem. Esse evento demora 6 minutos. O item B ocupa também 2 espaços na área RIP. Os itens C e D, não possuem subitens, são replanejados pelo MRP, que dá baixa automática no estoque quando é dada data fim de produção em determinado produto. São cortados e estampados também na área de primários. Em seguida, diretamente mandados para a pintura em contentores separados e posteriormente para o RIP, também em lotes de 30 unidades. Na pintura, cada um dos itens leva 6 minutos para ser carregado nos carros de pintura e outros 6 minutos para ser descarregado. A movimentação destes itens até a pintura se dá de forma separada, pois os mesmos não são estampados na mesma máquina. Os tempos de movimentação destes itens entre primários e pintura são de 2 minutos para cada um dos itens; entre pintura e RIP, mais 1 minuto para cada um deles e entre RIP e linha, 2 minutos, mas agora juntos no mesmo carro KIT. O item A, que é a estrutura principal do conjunto de fechamento frontal é formado por três subitens, a necessidade dos mesmos é replanejada por MRP que cria as ordens de produção dos subitens. Um lote de 30 unidades de cada um dos três subitens é cortado na área de primários; em seguida, dois destes subitens são estampados também na área de primários e posteriormente os três são mandados para a área de solda, cada um em um contentor. O tempo de transporte dos contentores entre primários e solda é de 1 minuto para cada subitem, pois os mesmos são transportados separadamente por não serem processados nas mesmas máquinas pelas características físicas de cada um. Após os três subitens chegarem à área de solda, eles são unidos dando origem ao item A, e encaminhados para a pintura em um único contentor. O tempo gasto na movimentação do contentor do item A da solda até a pintura é de 2 minutos. Na pintura, o lote do item A é carregado por 6 minutos em um trem ou carro de pintura e por 29 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 O item E não passa por processos de manufatura. É um item de borracha, comprado. O fornecedor do item é do estado de São Paulo e o transporte do mesmo é rodoviário. O item E é solicitado ao fornecedor via MRP e internamente através do sistema KANBAN de replanejamento, conforme as necessidades. Ao menos dois contentores ficam armazenados no almoxarifado e outros dois contentores ficam armazenados no RIP, cada contentor tem capacidade de 40 (quarenta) peças. O item é pago para a linha de montagem no sistema JIT em um carro KIT juntamente com outros componentes. Na linha de montagem os 5 itens principais (A, B, C, D e E) são unidos por meio de parafusos e porcas, formando assim, o conjunto de fechamento frontal que é colocado na área de IPK – In Process Kanban (Kanban em processo). O tempo desta montagem é de aproximadamente 9 minutos por conjunto. Quando o modelo de produto no qual o conjunto é montado passa pelo posto de montagem, o mesmo é utilizado. Configura-se como um gargalo. A alocação dos itens na área RIP e nos carros KIT não é gargalo, pois pode ser agilizada. O processo de montagem do conjunto na colheitadeira não atrasa o processo. Observa-se, assim, que na movimentação dos itens da área de primários e da área de solda para a área de pintura, são deslocados 4 contentores, cada um de uma vez. Na área de pintura os itens ocupam 4 carros ou trens de pintura pois são pintados individualmente, uma vez que ocupam um grande espaço no trem de pintura. São necessárias 120 movimentações de peças somando-se os 4 lotes dos itens para carregá-los nos carros de pintura e mais 120 movimentos para descarregá-los. Os mesmos 120 movimentos são realizados na área RIP para carregar os carros KIT que abastecem a linha de montagem. Após serem pintados, os contentores também são deslocados até o RIP, um de cada vez. Um contentor é deslocado do almoxarifado até a área RIP. Na área de armazenagem RIP, estes contentores ocupam um total de 10 espaços, pois existem 2 contentores de cada item. Ao serem armazenados, fazem-se necessárias 5 movimentações de contentores. A seguir, segue o Quadro 01, com o resumo dos tempos gastos com as movimentações dos 5 itens que compõem o conjunto em análise. Após o levantamento destes dados, o VSM foi desenhado da seguinte forma, conforme apresentado na Figura 5. Figura 5: Mapa de fluxo de valores do estado futuro ideal Quadro 1: Resumo dos tempos de transporte de peças do processo atual FONTE: Dados da pesquisa. Analisando os dados contidos no Quadro 01, observa-se que, no processo atual, é gasto um total de 28 minutos no deslocamento dos cinco itens entre seus processos de origem até seu ponto de consumo. FONTE: Dados da pesquisa. Observando o Quadro 02 com o resumo dos tempos de manuseio de peças, constata-se que são gastos 24 minutos para retirar as peças dos contentores e carregá-las nos carros de pintura, outros 26 minutos para descarregá-las dos carros e recolocá-las nos contêineres, mais 7 minutos e 30 segundos para armazenar os contêineres na área RIP e outros 27 minutos para abastecer os carros KIT. Um total de 1 hora, 24 minutos e 30 segundos são necessários para o manuseio de todas as peças. Lembra-se que os contentores dos itens manufaturados contêm 30 peças por lote e o contentor do item comprado 40 peças por lote. 4.2 ANÁLISE DO MAPA DE FLUXO DE PROCESSO ATUAL No processo de primários, o MRP é quem define onde cada item será cortado e estampado de acordo com a disponibilidade de máquinas. Se existir a necessidade, é possível utilizar mão-de-obra em horários diferenciados para suprir a demanda. Demonstra-se bastante flexível; portanto, não é um gargalo. O departamento de solda possui células de soldagem em que os conjuntos que são fabricados nessas células são definidos pelo processo garantindo o atendimento dos mesmos, pois os tempos são controlados. Em caso de necessidade também é flexível e permite que a mão-de-obra seja aumentada e os horários de trabalho das células em que os itens são manufaturados também podem ser aumentados. A pintura tem um tempo pré-estabelecido para que cada carro ou item entre e saia do processo. Já utiliza horários em que os demais processos não trabalham para conseguir cumprir os prazos de entrega. Não permite apressar o processo e o acréscimo de mão-de-obra não afetam quanto à redução de tempos neste processo. Quadro 2: Resumo dos tempos de manuseio de peças do processo atual FONTE: Dados da pesquisa. 30 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 6:VSM do estado futuro ideal 4.3 ANÁLISE DE PERDAS OBSERVADAS Após análise de todo processo, constatam-se as seguintes perdas: Espera: Tempo que os itens aguardam para serem carregados nos trens ou carros de pintura. Tempo que as peças aguardam, após serem pintadas, para serem levadas ao RIP e tempo que as peças ficam na área de recebimento do RIP para serem guardadas. Manuseio: Tempo de carga e descarga das peças do trem de pintura (são pintadas separadamente, em quatro carros), tempo para guardar as peças no RIP – são quatro contentores de itens pintados mais um do item comprado (Item E) e tempo de carregamento do carro KIT. FONTE: Dados da pesquisa. Os itens B e C, agora deverão ser encaminhados também para a solda em vez de serem enviados para a pintura como são no processo atual, passando a se deslocarem apenas por 1 minuto para cada item e não 2 minutos como ocorre atualmente. Na área de solda, sugere-se que os processos de união realizados nos itens A e B sejam centralizados em uma única célula de soldagem. Os itens B e C que não sofrem processo de solda e o item E que é comprado deverão ser encaminhados diretamente para esta mesma célula de soldagem, centralizando assim os demais componentes. O tempo de movimentação do item E entre o almoxarifado e a solda não se altera e permanece sendo igual a 5 minutos. Transporte: Tempo para movimentar os dois contentores (itens A e B) da solda para a pintura (são soldados em células diferentes), tempo para movimentar os dois contentores (itens C e D) da área de primários para a pintura e tempo de movimentação do carro KIT entre a linha de montagem e o RIP e do RIP para a linha de montagem. Armazenagem: Os espaços que estes cinco itens ocupam na área RIP também devem ser considerados. Como para cada item possui 2 contentores, são ocupados 10 espaços por estes itens no RIP. Custo de Pintura: Como cada lote de item é pintado separadamente, os 4 itens manufaturados utilizaram durante o ano fiscal de 2011 aproximadamente 173 carros de pintura que totalizam 1040 horas de processo. Considera-se que cada lote de 30 peças de cada item demore 6 horas pelo processo completo de pintura. O custo de cada carro de pintura do tipo “A” (fundo+acabamento) está estimado hoje na empresa em aproximadamente R$ 935,00. Uma vez na célula de solda, os 5 itens devem ser unidos por porcas e parafusos e acondicionados em um carro sequenciado, que seguirá uma lista sequenciada de acordo com o Plano Mestre de Produção. Não serão montados os 30 conjuntos de uma só vez, apenas a quantidade necessária para um dia de produção, aproximadamente 12 conjuntos por carro. Uma vez unidos os 5 itens, o conjunto de fechamento superior do alimentador estará completo, e deverá ser deslocado para a pintura de uma só vez. Reduzindo, assim, os espaços percorridos dos itens C e D que iam da estamparia até a pintura e passaram a ser deslocados apenas até a solda. Reduzindo a movimentação dos contentores dos itens A e B da solda até a pintura para um único movimento. Agora, os 5 itens são deslocados de uma só vez até a pintura, tomando, assim, apenas 1 minuto e 30 segundos. O Quadro 03 mostra os novos tempos de transporte de peças. 4.4 MAPEAMENTO DE FLUXO DE PROCESSO FUTURO Após a análise do estado atual, projetou-se o estado futuro, conforme mostra a Figura 6. Conforme análise do processo atual, em que se observam perdas consideráveis, sugerem-se algumas mudanças no processo. Quanto à área de primários, o corte e a estamparia dos subitens que formam os itens A e B, e os itens B e C, são realizados em máquinas diferentes de acordo com a disponibilidade de máquinas que é calculado pelo MRP antes de gerar as ordens de produção. Portanto, deverão continuar sendo processados como são atualmente. Os componentes dos itens A e B continuarão sendo enviados para a solda como o processo atual, tendo o mesmo tempo de deslocamento, que é de 1 minuto para cada item. Para que as 30 peças sejam deslocadas da solda até a pintura, serão necessárias duas cargas e meia do carro sequenciado. Este carro deve ser projetado de forma que possa ser pendurado diretamente no trem ou carro de pintura, sem que as peças tenham de ser manuseadas. Para otimizar, a terceira carga será completada com itens do lote seguinte de peças. Observa-se que, com o processo sugerido, os tempos de movimentação de materiais somam um total de 27 minutos e 30 segundos para cada lote de 36 conjuntos. O tempo do processo atual é de 28 minutos para 30 conjuntos. 31 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Quadro 3: Resumo dos tempos de transferência do processo atual contentores (itens C e D) da área de primários para a pintura que é de 2 minutos passará a ser de 1 minuto cada um, já que serão apenas deslocados até a solda. Já da solda até a pintura surge o deslocamento de três carros sequenciados carregando os conjuntos já montados e cada deslocamento passa a ter o tempo de 1 minuto e 30 segundos. O tempo de movimentação do carro KIT entre a linha de montagem e o RIP e do RIP para a linha de montagem atualmente é de dois minutos em ambos os sentidos. Sendo assim, são necessários 4 minutos para cada vez que o mesmo é abastecido e como ele é carregado com aproximadamente 12 peças de cada item do conjunto cada vez, são necessários 3 ciclos para pagar as 30 peças do lote. Essa movimentação será substituída pelo deslocamento do carro sequenciado entre pintura e linha de montagem quando carregado e seu retorno para a solda quando vazio. Esse ciclo também terá 4 minutos. FONTE: Dados da pesquisa. Na pintura, em vez de os conjuntos utilizarem 4 carros para pintar 30 conjuntos, passarão a utilizar apenas 3 para que todo o lote de 36 conjuntos seja pintado. Eliminam-se as 240 movimentações de carga e descarga de cada peça individualmente nos carros de pintura para apenas o acoplamento dos 3 carros sequenciados diretamente nos carros de pintura, cada acoplamento tomará 1 minuto e mais 1 minuto para retirar o carro sequenciado do trem de pintura. O transporte dos conjuntos se dará direto da pintura para a linha de montagem, levando 2 minutos, em que ficarão armazenados no carro sequenciado no local em que atualmente fica o carro KIT que paga os itens separados. Quando um carro sequenciado estiver vazio, o segundo carro passa a ser usado e o primeiro é deslocado até a solda, funcionando como um carro Kanban, que aciona o gatilho para um novo lote ser produzido, de acordo com a seqência de produção estabelecida pelo Programa Mestre de Produção. 4.6 ANÁLISE DOS GANHOS COM O PROCESSO PROPOSTO Com a implantação das alterações sugeridas, temse uma redução de 30 segundos no tempo total de movimentação das peças que formam o conjunto, de 28 minutos para cada 30 conjuntos passando 27 minutos e 30 segundos para cada 36 conjuntos. O Quadro 04 mostra o comparativo entre os tempos de transporte atual e proposto. Quadro 4: Comparação de Tempos (Atual X Futuro) Eliminam-se assim, também, as 120 movimentações manuais das peças no RIP, que consistem na retirada das peças dos contentores e a colocação das mesmas no carro KIT. Elimina-se também o processo de transporte das peças para armazená-las no RIP, o tempo de abastecimento do carro KIT realizado pelos ripeiros. Também se elimina o transporte do carro KIT entre a linha de montagem e o RIP. Quando o conjunto chegar à linha de montagem, o mesmo estará pronto para ser montado, bastando retirá-lo do carro sequenciado e montá-lo no produto. FONTE: Dados da pesquisa. 4.5 ANÁLISE DO MAPEAMENTO PROPOSTO A Figura 8 mostra um gráfico comparativo entre o tempo gasto atualmente com transporte (1213 minutos) e o tempo gasto no futuro (993 minutos). Após analisar o processo proposto, constata-se que as perdas com Espera, levantadas no processo atual não sofrem impacto considerável, pois o tempo das mesmas não é padrão, variando com a carga de produção. Apenas o tempo que os itens que formam o conjunto aguardam para serem guardadas no RIP é eliminado, pois o conjunto agora não passa pelo RIP, indo diretamente para a montagem. Já no que diz respeito à Demora, o tempo de carga e descarga das peças do trem de pintura que é de 50 minutos; com a proposta passa a ser de 6 minutos. Os tempos para guardar as peças no RIP – são quatro contentores de itens pintados mais um do item comprado (Item E) - e tempo de carregamento do carro KIT, passam de 7 minutos e 30 segundos para zero, uma vez que as peças não mais serão armazenadas na área RIP. Um ganho consideravelmente pequeno por lote, porém comparando com a produção do ano de 2010, em que esses 30 segundos representam um ganho de 220 minutos, ou seja, 3 horas e 40 minutos em um ano de produção. Em taxa percentual, o mesmo trabalho pode ser realizado com 82% do tempo atual necessário, uma economia de 18% de tempo. Quanto às perdas com Transporte, o tempo para movimentar os dois contentores (itens A e B) da solda para a pintura é extinto, o tempo para movimentar os dois 32 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 8:Tempo do Transporte que o item leva do início do seu processo até o mesmo ser concluído no final de linha, é possível observar uma redução de 1.76 dias que agregam valor ao produto (VA) para 0.44 dias. As atividades que não agregam valor ao produto (NVA) foram reduzidas de 10.08 dias para 7.68 dias. No total o caminho crítico do item teve uma redução de 31% no tempo gasto para sua produção. Figura 10: Horas de pintura FONTE: Dados da pesquisa. Figura 9: Tempo de manuseio dos itens FONTE: Dados da pesquisa. Figura 11: Custo de pintura FONTE: Dados da pesquisa. No manuseio de peças que corresponde aos tempos de carga e descarga delas nos carros de pintura, ao tempo de alocação dos contêineres na área RIP e ao tempo de abastecimento dos carros KIT, com as alterações sugeridas, reduzem-se o tempo de 84 minutos e 30 segundos do processo atual, considerando lotes de 30 conjuntos, para 6 minutos de manuseio, com lotes de 36 conjuntos. A Figura 9 mostra o tempo de manuseio dos itens. FONTE: Dados da pesquisa. Uma redução significativa, que totaliza 46 horas em um ano de produção deste item, ou seja, o mesmo trabalho pode ser feito com apenas 7% do tempo atual empregado nele, uma baixa de 93% no tempo. A seguir, apresenta-se a análise do tempo gasto na pintura e do número de carros utilizados para pintar este conjunto, considerando a produção do ano de 2010, no processo atual e no processo proposto. O tempo total de pintura dos conjuntos passa de 867 para 650 horas/ano de circulação dos carros na pintura. Uma redução de 217 horas/ano, sendo necessária a utilização de apenas 75% das horas e 62% dos carros de pintura atualmente empregados, já que os novos carros de pintura comportam 12 conjuntos, isso gera uma necessidade de 109 carros de pintura por ano para este conjunto, reduzindo 67 carros de pintura/ano. A Figura 10 faz um comparativo das horas de pintura. Para estas modificações de fluxo de processo não são necessários grandes investimentos. Apesar de se mostrar bastante rentável e econômica uma simples alteração de layout e umas mudanças no fluxo dos materiais já são suficientes. Também é necessária uma negociação com a engenharia de produto da empresa para a liberação da pintura do item E na imersão da pintura. Isso porque o material de constituição do item E é borracha e a imersão da pintura atinge altas temperaturas. Mas este detalhe não deve ser um empecilho, tendo em vista que outros materiais semelhantes de borracha são pintados hoje na imersão da pintura e não sofrem nenhuma alteração. O conjunto do fechamento frontal hoje é montado no final de linha, para que o item seja montado na solda e pintado como um conjunto, como sugerido pelo estudo, faz-se necessária a criação de um código de conjunto que deve ser elaborado pela engenharia com todos os itens abaixo dele. Ou seja, dentro do código do conjunto devem estar os itens A, B, C, D, E e todas as porcas e parafusos de fixação do conjunto do fechamento frontal. Avaliando financeiramente a reduções de pintura, com a redução de aproximadamente 67 carros de pintura, tem-se uma redução de custo de pintura estimada em R$ 62.645,00 anual. Analisa-se o caminho crítico do pacote de itens estudados, ou seja, o tempo 33 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 5. CONCLUSÃO GOODE, W. J; HATT, P. K. Métodos em Pesquisa Social. 3ª edição, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1969. Sempre que se fala em trabalho de redução de custos, sejam estes de pintura, movimentação, mão de obra ou de qualquer outro processo das indústrias, independente do tamanho da redução, é com certeza significativa. A diminuição de minutos perdidos, de itens parados sem utilização, quando somados em grandes quantidades impressionam, ainda mais em empresas de grande porte como é o caso da empresa estudada. Se em poucos itens se conseguem grandes resultados, imaginase que se ampliado o trabalho para mais itens o resultado seja surpreendente. O mapeamento de fluxo de valor realizado neste trabalho mostrou que se implantado vai gerar retorno a sua empresa, evidenciando que não precisa de investimento nenhum para a alteração, basta apenas readequar layout e alterar o fluxo dos processos. Só em pintura haverá uma redução anual de mais de R$ 60.000,00. Atividades que não agregam valor como o manuseio dos itens na pintura e no RIP terão baixa de quase 93%.O tempo total de produção do conjunto ou o caminho crítico também teve uma redução significativa de mais de 30%. GÜLLICH, Roque Ismael da Costa. LOVATO, Adalberto; EVANGELISTA, Mário Luiz Santos; . Metodologia da pesquisa: normas para apresentação de trabalhos: redação, formatação e editoração. 2.ed. Três de Maio, Setrem, 2007. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI M. de Andrade. Metodologia do trabalho cientifica. São Paulo, Atlas, 2006. MARCHWINSKI, Chet; SHOOK, John. Léxico Lean – Glossário ilustrado para praticantes do pensamento lean. Lean institut Brasil. São Paulo, 2 Edição., 2007. MARTINS, Petrônio Garcia e ALT, Paulo Renato Campos. Administração de materiais e recursos patrimoniais. São Paulo, Saraiva, 2001. MOURA, Reinaldo A. Kanban – A simplicidade do controle de produção. 6. ed. São Paulo, IMAM, 2003. A ferramenta VSM mostrou-se muito eficaz para enxergar o processo como um todo, pois é muito fácil de entender o processo depois de mapeado com ela. Com a utilização da ferramenta as percepções de algumas perdas ficam evidentes trazendo assim altos retornos para as empresas. Apesar de o VSM ser uma ferramenta da Manufatura Enxuta, ela é pouco difundida e também tem pouca literatura disponível para estudo, pelos ganhos que ela proporciona, deveria ser melhor divulgada no meio industrial e também no meio acadêmico. O presente trabalho mostrou que o mapeamento de fluxo de valor é uma alternativa eficaz para trabalhos de identificação de desperdício. Diante dos resultados obtidos é relevante para a empresa incorporar o mapa de estado futuro criado neste trabalho. OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de metodologia cientifica. 1999. RICARTE, Marcos António Chaves. A importância dos custos logísticos na cadeia de suprimentos. São Paulo, 2002. ROTHER, Mike; SHOOK, John. Aprendendo a enxergar. Mapeando o fluxo de valor para agregar valor e eliminar desperdício. Lean institut Brasil, São Paulo, 2007. SLACK, Nigel et al. Administração da Produção. São Paulo, Atlas, 1996. REFERÊNCIAS CHIAVENATO, Idalberto. Administração de Materiais, São Paulo, Ed. Elsevier, 2005. COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em Administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. 2ª edição, Porto Alegre: Bookman, 2005. DIAS, João Carlos Quaresma. Logística Global e Macrologística. Lisboa: Edições Sílabo. 2005. FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. São Paulo, Saraiva, 2001. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa – 4ª Edição, Editora Atlas, São Paulo 2002. GIOVINE, Humberto. A cadeia de suprimentos integrada como ferramenta de melhoria no processo de reposição de produtos em supermercados: o caso do Supermercados Caitá. Revista INGEPRO (Artigo). Universidade Federal de Santa Maria: Santa Maria – RS, 2009. 34 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 NÍVEL DE SATISFAÇÃO DA COMUNICAÇÃO INTERNA DE UMA PREFEITURA MUNICIPAL DA REGIÃO NOROESTE - RS Graciele Cristina Wiegert¹ Alexandre Chapoval Neto² SETREM³ RESUMO O estudo se refere ao nível de satisfação da comunicação interna de uma Prefeitura Municipal da Região Noroeste RS, realizado no período de outubro de 2014 a novembro de 2014. O estudo teve como objetivo analisar o nível de satisfação do processo de comunicação interna na Prefeitura Municipal. Como teorias de base para a realização do trabalho foram utilizados os conhecimentos adquiridos através de revisão bibliográfica na área de comunicação, com ênfase na comunicação interna. O método do estudo se caracteriza pela abordagem quantitativa e qualitativa e estudo dedutivo, com procedimento de estudo de caso e pesquisa descritiva. Para a coleta dos dados foi realizada uma entrevista dirigida com questões abertas e fechadas, primeiramente com três funcionários previamente selecionados e posteriormente com os demais funcionários ativos da Prefeitura. O resultado obtido revela que o nível de satisfação com a comunicação interna varia de regular a bom. Este estudo apresentou vários pontos relevantes como o questionamento sobre a informação, em que 60% dos funcionários declararam que já ficaram sem receber alguma informação importante para a realização de seu trabalho, contra 40% dos funcionários que afirmaram que nunca ficaram sem receber alguma informação que fosse pertinente à execução do trabalho. ABSTRACT The study refers to the level of satisfaction of internal communication of a city hall from the Northwest Region RS, conducted from October 2014 to November 2014. The study aimed to analyze the level of satisfaction of the internal communication process in City Hall. As a basic theory to carry out the paper the knowledge acquired through literature review in the communication field with emphasis on internal communication was used. The study method is characterized by a quantitative and qualitative approach and deductive study with case study and descriptive procedure. For data collection an interview was conducted addressed with open and closed questions first with 3 previously selected employees and later with other active employees of the City Hall. The result obtained shows that the level of satisfaction with internal communication is good. This study presented several relevant points as the questioning of the information where 60% of employees said that have stayed without receiving some important information to carry out their work, compared with 40% of employees that said they never stayed without receiving any information that was relevant to do the job. Keywords: Internal Communication. Communication process. Communication Tools. Palavras-chave: Comunicação interna. Processo de comunicação. Ferramentas de Comunicação. A comunicação interna é considerada importante em todos os tipos de organizações, sendo que apresenta grande relevância nos entes públicos. O processo de comunicação interna em uma Prefeitura Municipal deve ter uma atenção especial, pois geralmente apresenta problemas, como a falta de conhecimento do processo pelos funcionários, problemas com ruídos, falta de feedback e utilização de ferramentas que não se adaptam à realidade da organização. 1. INTRODUÇÃO A comunicação é a troca de informações entre duas pessoas ou mais, sendo que o ato de se comunicar é considerado essencial para a vida dos seres humanos. A comunicação no ambiente organizacional é conhecida como comunicação interna e é importante para o bom funcionamento das organizações. A comunicação interna tem a habilidade de juntar os setores de trabalho, possibilitando o seu funcionamento correto, para que todos trabalhem em busca do objetivo da empresa. Através destas colocações foi realizado o estudo para analisar o nível de satisfação dos funcionários ativos da Prefeitura Municipal em relação ao processo de comunicação interna. O estudo envolveu 313 funcionários de uma Prefeitura Municipal da região Noroeste - RS, realizado através de um formulário aplicado a alguns funcionários estratégicos e um questionário, este abrangendo a todos os servidores ativos. Hoje os gestores devem ter conhecimento de como a comunicação interna está em sua empresa, pois a informação repassada de forma incorreta poderá trazer vários transtornos para a organização. É necessário que os gestores e funcionários conheçam e entendam as ferramentas e o processo de comunicação utilizada, para que funcione bem, e as informações cheguem de forma correta e no tempo certo. Através deste estudo foi possível verificar que o nível de satisfação dos funcionários com o processo de ¹ Pós-graduada do Curso MBA em Gestão Empresarial pela SETREM, e-mail: [email protected] ² Professor orientador do estudo. Bacharel em Administração. Pós-graduado em Gestão de Negócios. Mestre em Engenharia da Produção. Professor da Faculdade de Administração e da Faculdade de Engenharia de Produção da SETREM. ³ Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM 35 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 comunicação interna utilizada varia de regular a bom, em que foram identificados problemas com a forma com que a informação é repassada, causando atrasos, informações distorcidas e, em alguns casos, informações não entregues ao receptor. 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 ORGANIZAÇÃO Conforme Chiavenato (2009), a organização é um sistema de atividades coordenadas por duas ou mais pessoas, que cooperam umas com as outras para alcançar um objetivo em comum que dificilmente alcançariam sozinhas. 2. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA 2.1 ABORDAGEM Para este estudo foi utilizada a abordagem dedutiva e uma análise para a coleta de dados quantitativa e qualitativa, pois ambos os métodos se complementam para o alcance dos resultados da pesquisa. Maximiano (2000) define a organização como um sistema de recursos complexo formado por partes ou elementos que interagem entre si, para realizar um objetivo explícito. Para o autor todas as organizações são um sistema. 2.1.1 Procedimentos O autor apresenta a organização como um sistema composto de recursos, sendo o principal as pessoas, seguido pelos recursos materiais, financeiros e a informação. A organização em si engloba o processo de transformação, a divisão do trabalho e a coordenação, para finalmente alcançar seus objetivos que podem ser o serviço e ou produto final. O estudo tem como base a pesquisa descritiva, pois através da revisão da literatura é possível ter argumentos para descrever a comunicação interna. A entrevista e o questionário possibilitou identificar os processos e as ferramentas utilizados na Prefeitura Municipal. Este estudo também se caracteriza como estudo de caso, pois observa o processo de comunicação da Prefeitura Municipal. Segundo Chiavenato (2009) existem vários tipos de organizações e podem ser classificadas como prestadoras de serviços, comerciais, econômicas, públicas, religiosas, militares, educacionais, sociais, entre outras. 2.1.2 Técnicas 2.1.2.1 Técnicas de coleta de dados 3.2 COMUNICAÇÃO Foi realizada uma observação para entender a realidade da Prefeitura Municipal e como funciona o processo de comunicação interna. Também foi realizada uma entrevista com o chefe de gabinete e um funcionário do setor de pessoas e do setor de comunicação para identificar o processo utilizado e as ferramentas. Segundo Chiavenato (2005), a comunicação é o processo de transmissão de uma determinada informação de uma pessoa para outra. É necessário que a informação transmitida chegue ao destinatário para que a comunicação seja realmente efetuada. Também para haver comunicação é preciso de no mínimo duas pessoas, caracterizadas como emissor e o receptor. O questionário foi utilizado para identificar o nível de satisfação dos funcionários ativos da Prefeitura Municipal. Este questionário é composto de questões abertas e fechadas com respostas de múltipla escolha e únicas. A comunicação é fundamental para o bom andamento de qualquer atividade coletiva. Maximiano (2004) defende que sem a troca de informações não há decisão em um grupo e nem em uma organização 2.1.2.2 Técnicas de análise e interpretação de dados Os questionários foram entregues aos secretários de cada pasta, exceto das Secretarias de Saúde e Educação, que foram entregues para os diretores de escolas e responsável por cada Estratégia de Saúde da Família - ESF. Nas Secretarias de Saúde e de Educação foi realizada uma distribuição diferente pelo fato de possuírem um grande número de funcionários que trabalham em locais afastados de suas Secretarias. 3.2.1 Comunicação Interna Segundo Pinho (2006), a comunicação interna se caracteriza pelos processos comunicativos no interior de uma organização, cujo objetivo é permitir que seus membros cumpram as tarefas estabelecidas. A comunicação interna é a transferência de informações entre os colaboradores e gestores de uma organização. As amostras coletadas foram tabuladas em uma planilha eletrônica. Após, os dados foram transformados em tabelas e gráficos realizando a análise e interpretação dos dados quantitativos. Também foi realizada uma análise das respostas obtidas pelo formulário e pelo questionário. Conforme Pimenta (2006), a comunicação interna, também conhecida como comunicação empresarial, é a atividade multidisciplinar que envolve métodos e técnicas de relações públicas, destinada aos membros internos de uma organização. 2.1.2.3 População Amostra Inicialmente, planejou-se atingir a totalidade dos funcionários ativos da Prefeitura Municipal, que somam um total de 552. O estudo foi realizado com base nos questionários preenchidos, totalizando 313. A comunicação interna ocorre entre todos os membros de uma organização e, segundo Tavares (2007), abrange todos os departamentos, órgãos e unidades. Ela pode ser entre as pessoas dos mesmos departamentos, comunicação entre as chefias e 36 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 comunicação entre os funcionários e as chefias. (cartazes no local de trabalho com informações sobre a produção), relatórios, murais e cartas. 3.2.2 Processo de Comunicação - Comunicação por meio de equipamento: Telefone fixo e móvel, televisão, fita de vídeo, fita de áudio, correio de voz, fax, correio eletrônico, teleconferência e Internet. O processo de comunicação envolve a transmissão de informações de uma pessoa para a outra. “...é imprescindível a presença de dois elementos, uma vez que um indivíduo não poderia se comunicar sozinho”. (ANDRADE, AMBONI, 2007, p.112). Pimenta (2006) apresenta duas formas de comunicação; a informal e a formal. A comunicação formal ocorre quando as informações são transmitidas pelas ferramentas de comunicação formais da empresa, protocolo, decreto entre outros. Já comunicação informal é quando a informação circula pela empresa informalmente, como, por exemplo, a rádio corredor. Conforme Chiavenato (2009), o processo de comunicação é composto de cinco elementos. Emissor ou fonte: pessoa, coisa ou processo que emite a mensagem para alguém, fonte de comunicação. Transmissor ou codificador: é um equipamento, que codifica a mensagem para torná-la adequada e disponível ao canal. Canal: parte do sistema que separa a fonte do destino. Receptor ou codificador: é o equipamento entre o canal e o destino; ele decodifica a mensagem para tornála compreensível ao destino. Destino: pessoa, coisa ou processo para qual a mensagem foi enviada, destinatário da comunicação. São várias as ferramentas utilizadas para a comunicação nas organizações. Conforme Pimenta (2006), elas são classificadas em visuais, auditivas e audiovisuais e são segmentadas da seguinte maneira: Visuais: Escritos - instruções e ordens escritas, circulares, cartas pessoais, manuais, quadro de avisos, boletins, panfletos, jornais e revistas, relatórios de atividades, formulários, fax, e-mail. Pictográficos pinturas, fotografias, desenhos, diagramas, mapas. Escritos-pictográficos - cartazes, filmes mudos e com legenda, gráficos, diplomas e certificados. Simbólicos luzes, bandeiras e flâmulas, insígnias. Segundo Maximiano (2004), pode fazer parte também do processo de comunicação interna o feedback, que é considerado um elemento importante, pois representa o retorno da informação para o emissor, podendo ser natural ou induzido. O feedback é uma garantia de que o processo de comunicação ocorreu de forma correta. Auditivos: Diretos - conversas, entrevistas, reuniões, conferências. Indiretos - telefone, rádio, intercomunicadores automáticos, alto-falantes. Simbólicos - sirenes, apitos e buzinas, sinos, outros sinais. Para Araujo (2006), o processo de comunicação ocorre em seis etapas: Audiovisuais: filmes, demonstrações, vídeo, videoconferência, videofone (duas pessoas). 1º etapa: Fonte: a origem pode ser uma pessoa ou um representante de um grupo. 2º etapa: Mensagem: o objeto da comunicação é materializado via mensagem, muitas vezes traduzido em códigos. 3º etapa: Codificador: a função codificadora expressa o objeto da fonte em forma de mensagem. 4º etapa: Canal: é o condutor da mensagem. 5º etapa: Recebedor: é a pessoa que está no outro lado do canal. 6º etapa: Decodificador: é necessário para decifrar a mensagem. Tavares (2007) acrescenta mais algumas ferramentas que podem ser utilizadas nas organizações como: Intranet, eventos, workshops, prestação de contas invertida, café da manhã informal. 3.2.4 Barreiras/dificuldades da Comunicação Segundo Chiavenato (2007), existem barreiras que dificultam e atrapalham a comunicação interna. Algumas variáveis no processo de comunicação afetam profundamente, fazendo com que a mensagem recebida torne-se diferente da mensagem enviada ou não chegue ao seu destino. O autor cita três tipos de barreiras à comunicação: No processo de comunicação ocorrem interferências quer prejudicam o conteúdo da mensagem enviada. Estas interferências são chamadas pelos autores de ruídos. 3.2.3 Ferramentas de Comunicação Segundo Maximiano (2000), existem duas formas de comunicação; a escrita e a falada. Estas formas podem ser intermediadas por diversos tipos de veículos e sistemas. Estas duas formas podem ser classificas em três categorias: comunicação pessoal, comunicação escrita e por meio de equipamentos. A seguir, as categorias e seus determinados exemplos. - Barreiras pessoais: são as interferências que ocorrem devido às limitações humanas, como as emoções, valores humanos, sentimentos, hábitos deficientes na hora de ouvir, motivação, comportamento entre outras. - Barreiras físicas: são as interferências que ocorrem no ambiente em que acontece o processo de comunicação. - Comunicação pessoal: Apresentações formais, conferências, reuniões, conversação um-a-um, conversação periódica, comemorações e solenidades. - Barreiras semânticas: são limitações ou distorções em relação ao uso de símbolos para a comunicação, como gestos, sinais e símbolos. - Comunicação escrita ou impressa: Memorandos, circulares, cartazes, revistas e jornais internos, sistemas de sugestões, administração visual 37 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 01: Processo de comunicação Chiavenato (2007) também cita alguns males que podem ocorrer na comunicação, como: a omissão que ocorre quando certos aspectos importantes da comunicação são omitidos, cancelados ou cortados por algum motivo, fazendo que a comunicação não chegue ao seu destino de forma completa. Também cita a distorção que ocorre quando a mensagem sofre alterações, afetando ou modificando o seu significado original. FONTE: Dados da pesquisa. O funcionário B destaca que quando ocorre a necessidade de repassar uma informação, na maioria das vezes é realizada uma reunião com os secretários que ficam encarregados de informar seus colaboradores, figura 02. Maximiano (2004) defende que todo o processo de comunicação está sujeito a dificuldades que comprometem a eficácia da transmissão, da recepção, da interpretação das informações e dos significados. Estas dificuldades podem vir a ocorrer na fonte, no destino e até no próprio processo de comunicação. O autor classifica as dificuldades em três fontes, são elas: Figura 02: Processo de comunicação FONTE: Dados da pesquisa. O funcionário B também destacou que as informações são repassadas por telefone, muitas vezes passando as informações à pessoa do setor que atendeu ao telefone, ficando esta responsável de informar os demais colegas da Secretaria. - Dificuldades com o emissor: os principais problemas com o emissor são a falta de disposição para falar. - Dificuldades com o receptor: os problemas mais comuns relacionados ao receptor originam-se na falta de disposição para ouvir. Figura 03: Processo de comunicação - Dificuldades com o processo: os principais problemas no processo de comunicação apresentados pelo autor vêm da falta de um sistema comum de códigos. FONTE: Dados da pesquisa. Também foi relatado pelo funcionário C que o processo de comunicação ocorre entre os funcionários através do diálogo, no momento em que surge uma dúvida ou problema, figura 04. 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O estudo foi realizado em uma Prefeitura Municipal localizada na Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, realizando entrevista com três funcionários: o chefe de gabinete, o responsável do RH e o responsável pelo setor de comunicação. Também foram aplicados questionários a todos os funcionários ativos (552 no total), tabulando os dados com o número de questionários que retornaram preenchidos (313). Figura 4: Exemplo processo de comunicação FONTE: Dados da pesquisa. No momento da pesquisa também foi questionado aos três funcionários selecionados sobre as ferramentas utilizadas no processo de comunicação da Prefeitura Municipal, solicitando ferramentas pessoais, ferramentas escritas ou impressas, ou ainda ferramentas que utilizam algum tipo de equipamento. Os funcionários A, B e C citaram as seguintes ferramentas, sendo elas classificadas como ferramentas pessoais o diálogo e as reuniões, ferramentas escritas ou impressas os decretos, ofícios circulares, mural, ordens de serviço e ferramentas classificadas como equipamentos o e-mail, as mensagens instantâneas como o Skype e facebook, e também o telefone. A entrevista aos três funcionários é composta de nove questões abertas, as quais foram aplicadas pela pós-graduanda. O questionário para todos os funcionários é composto com 19 questões fechadas de múltipla escolha e uma questão aberta. 4.1 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E AS FERRAMENTAS UTILIZADAS NA PREFEITURA MUNICIPAL Para entender o processo de comunicação na Prefeitura Municipal foi realizada uma observação no ambiente e uma entrevista dirigida ao chefe de gabinete, ao responsável do RH e ao responsável pelo setor de comunicação. Foi questionado também se havia alguma ferramenta de comunicação que possui maior relevância no processo de comunicação: o funcionário A cita o telefone e o e-mail como ferramentas de maior relevância. O funcionário B explica que o telefone é mais relevante, pois é possível entrar em contato com quase todos que ele precisa, tendo certeza de que as ações solicitadas serão realizadas. E o funcionário C cita o e-mail como ferramenta mais relevante no processo. A entrevista realizada com os três funcionários (A, B e C) questionou-os sobre como ocorre o processo de comunicação interna na Prefeitura Municipal. Os funcionários A e C informaram que o processo de comunicação interna não segue um padrão pré-definido. Ele ocorre de todas as formas entre todas as Secretarias. O funcionário A destaca que na maioria dos casos, quando o Decreto ou ofício circular é elaborado, é entregue somente a um setor e este setor acaba por replicar e distribuir para outras Secretarias, figura 01. 4.2 NÍVEL DE SATISFAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS EM RELAÇÃO AO PROCESSO DA COMUNICAÇÃO INTERNA Através da aplicação dos questionários buscouse analisar o nível de satisfação dos funcionários ativos da Prefeitura Municipal. 38 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Os questionários foram elaborados de forma que todos os funcionários da Prefeitura Municipal pudessem respondê-lo. Composto por 19 questões fechadas e uma aberta, visam buscar informações como idade, escolaridade, gênero, a Secretaria em que trabalham, o cargo/função, o conhecimento do entrevistado sobre o processo de comunicação e as ferramentas utilizados, a satisfação com o processo, as ferramentas mais utilizadas e as ferramentas mais preferidas e eficientes. administrativas. Todos os funcionários trabalham dentro do palácio municipal, sendo mais fácil de realizar a cobrança dos questionários distribuídos. O pior retorno foi na Secretaria de Obras, com 18% dos questionários distribuídos respondidos. Acredita-se que este resultado explica-se devido a muitos funcionários que trabalham em locais afastados da Prefeitura Municipal, retornando somente para registrar o ponto. Figura 6:Gênero O questionário também elencou questões para mensurar como está o processo de comunicação e as ferramentas utilizadas, como está a transmissão das informações, se elas chegam de forma correta e em tempo de realizar o trabalho, se todas as informações são repassadas e se os funcionários já ficaram alguma vez sem receber as informações. Concluído o questionário com a frequência de utilização das ferramentas, o acesso ao diálogo com o chefe imediato e a nota para a comunicação interna da Prefeitura Municipal. Os questionários foram entregues aos Secretários para que estes repassassem aos seus colaboradores, sendo que esta distribuição foi diferenciada na Secretaria de Saúde e Educação, os quais foram entregues para os diretores de escolas e responsáveis por cada ESF. A distribuição foi realizada na Secretaria de Saúde e Educação de modo diferenciado pelo fato de apresentar um grande número de funcionários que trabalha em locais afastados de suas Secretarias, o que dificultaria a distribuição e a devolução dos questionários. A cooperação de diretores de escola e responsáveis pelos ESFs foi essencial para a efetiva entrega dos mesmos para os seus colaboradores e sua devolução, garantido um retorno mais expressivo de questionários. FONTE: Dados da pesquisa. Ao observar a figura 06, é possível verificar que amostra apresentou uma diferença elevada entre número de homens e de mulheres, sendo 79% dos entrevistados do gênero feminino e 21% do gênero masculino. Isso ocorreu devido às Secretarias de Saúde e Educação, que possuem um número elevado de funcionários em comparação a outras Secretarias, cujo quadro funcional é composto por 85% e 93% respectivamente de mulheres, que atuam como professoras, atendentes de creches, agentes de saúde, entre outros. Outro fator que influenciou este resultado foi a participação da Secretaria de Obras, que possui um grande número de homens, mas os mesmos não colaboraram com a pesquisa. Foram entregues 552 questionários aos funcionários ativos, voltando destes 313 preenchidos (56%), os quais foram tabulados em planilha eletrônica e transformados em tabelas e gráficos que serão apresentados e analisados neste tópico em forma de figura. Figura 7: Faixa Etária Figura 5:Número de Pesquisas/Secretaria FONTE: Dados da Pesquisa. Sobre a faixa etária, ilustrada na figura 07, a Prefeitura Municipal possui a maioria dos seus colaboradores em uma faixa de idade entre os 31 a 50 anos, representando 58% dos funcionários ativos. Já os que estão entre os 21 a 30 anos representam 22% dos funcionários; entre os 51 a 60 anos representam 16% dos funcionários e até os 20 e mais de 61 anos, cada um representa 2% dos funcionários da Prefeitura Municipal. FONTE: Dados da Pesquisa. A figura 05 apresenta o número de funcionários que responderam os questionários por Secretaria, apresentando a melhor amostra a Secretaria de Planejamento com 100% de questionários respondidos, seguida pela Secretaria da Fazenda com 94% e a Secretaria de Administração com 91%. Estas Secretarias apresentaram melhor retorno devido a serem 39 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 8: Escolaridade Figura 10: Satisfação com o processo de comunicação FONTE: Dados da Pesquisa. FONTE: Dados da Pesquisa. A figura 08 apresenta a escolaridade dos funcionários que atuam na Prefeitura Municipal, em que 30% dos funcionários ativos possuem até o Ensino Médio completo. Este dado se explica devido aos concursos que na grande maioria das vagas exigem o Ensino Médio completo. Também se destacou o número de funcionários com Pós-graduação, que representa 28% do total, o número de pós–graduados é elevado em função dos professores que sempre estão se atualizando e também por causa dos Secretários e Coordenadores que em sua maioria possuem algum curso de Pós-graduação. Em relação à figura 09, sobre o conhecimento das ferramentas utilizadas na Prefeitura Municipal, obteve-se um resultado positivo, com 80% dos funcionários afirmativos aos questionamentos contra 20% que disseram não conhecer as ferramentas de comunicação. Alguns funcionários anotaram ao lado da questão que conheciam as ferramentas, mas, em parte. São muitas as ferramentas utilizadas pela Prefeitura Municipal, nem todas são de conhecimento e ou de acesso a todos os funcionários, como, por exemplo, um operador de máquinas não tem acesso ao computador no seu local de trabalho, utilizando-se de ferramentas escritas e pessoais para se comunicar internamente. Também é possível ressaltar o Ensino Superior completo com 19% dos funcionários e o Ensino Superior incompleto com 14% funcionários. Conforme a pesquisa, e s te s r e s u l ta d o s s e d ã o d e v i d o a o s c a r g o s comissionados, os CCs, que não possuem estabilidade na Prefeitura Municipal. Estes buscam qualificação para a busca de um novo emprego. Também se ressaltou os cargos administrativos, como, por exemplo, o agente administrativo, cuja exigência para o cargo é o Ensino Médio completo, mas muitos declararam ter o Ensino Superior incompleto ou completo, e também os cargos em que a exigência mínima é o Ensino Superior completo. Já os casos que representam 9% dos funcionários da Prefeitura Municipal são os concursados mais antigos, cujo concurso permitia que um funcionário fosse admitido possuindo o Ensino Fundamental completo ou ainda incompleto. . Na figura 10 está representado o resultado do questionamento sobre a satisfação dos funcionários em relação ao processo de comunicação interna da Prefeitura Municipal, em que 61% se declararam como satisfeitos contra 39% dos funcionários que se declaram não satisfeitos com a comunicação interna na Prefeitura Municipal. Salienta-se que muitos funcionários acrescentaram a sua resposta que estão mais ou menos satisfeitos com o processo de comunicação interna. Também acrescentaram que o processo poderia ser melhor. Neste questionamento, ainda que a maioria declare satisfeita, existe um grande número de insatisfeitos com o processo de comunicação. Figura 9: Conhecimento das ferramentas utilizadas Figura 11: Ferramentas mais utilizadas FONTE: Dados da Pesquisa. FONTE: Dados da Pesquisa. A figura 11 demonstra quais são as ferramentas de comunicação mais utilizadas pelos funcionários da 40 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Prefeitura Municipal, destacando-se o telefone com 25%, o diálogo com 19% e as reuniões com 19% também possui um destaque o e-mail com 11%. Os dados mostram que a maioria dos funcionários utilizam ferramentas informais como o telefone e o diálogo. Geralmente são mais rápidas, mas nem sempre as mais eficientes, pois a informação repassada não fica registrada, podendo trazer alguns problemas futuros aos colaboradores e à Prefeitura Municipal. O e-mail já é uma ferramenta mais segura. Também foram citados outros meios de comunicação como o processo administrativo, o Informativo Municipal no rádio, agenda interna, site da Prefeitura Municipal e whatsapp. as reuniões com 20 % cada e também o e-mail com 12%. Os funcionários consideram que as ferramentas de comunicação que geralmente levam e retornam a informação mais rapidamente como as mais eficientes. Geralmente as ferramentas escritas não chegam ao local de destino, passam por despercebido ou são afixadas no mural, local em que poucos dão atenção. Figura 14: Classificação do Processo de comunicação interna Figura 12: Ferramentas preferidas FONTE: Dados da Pesquisa. Já a figura 14 apresenta a classificação do processo. Como os funcionários consideram o processo de comunicação interna da Prefeitura Municipal. 44% consideram o processo de comunicação da Prefeitura Municipal regular, enquanto 41% consideram o processo como bom, 8% consideram ruim, 5% muito bom e 2% muito ruim. A grande maioria dos funcionários ficou no meio termo tendenciado para bom. Considerando as respostas deste questionamento é possível observar que o processo de comunicação precisa ser melhorado. FONTE: Dados da Pesquisa. Outro questionamento realizado aos funcionários foi sobre as ferramentas de comunicação que eles preferem usar. Conforme a figura 12, as ferramentas preferidas não mudam muito das ferramentas mais utilizadas. Isso quer dizer que os funcionários utilizam as ferramentas que lhes convêm. A figura 12 mostra que 27% preferem o telefone como ferramenta de comunicação, 20% preferem o diálogo, 19% preferem as reuniões e 13% preferem o e-mail. As demais ferramentas somam juntas 21% da preferência dos funcionários. Figura 15: Classificação da utilização das Ferramentas Figura 13: Ferramentas consideradas mais eficientes FONTE: Dados da Pesquisa. Conforme é possível observar na figura 15, que ilustra as respostas dos funcionários quando questionados sobre a forma de utilização das ferramentas de comunicação interna na Prefeitura Municipal, 44% consideram a utilização das ferramentas boa, mas 41% a consideram regular, sendo que 9% a consideram ruim, 5% muito boa e 1% muito ruim. As ferramentas de comunicação interna vêm sendo utilizadas de forma correta e estão tendo bons resultados, mas ainda devem ser melhoradas, pois apresentam uma boa porcentagem dos funcionários que consideram a utilização destas ferramentas regular. FONTE: Dados da Pesquisa. A Figura 13 ilustra as ferramentas de comunicação consideradas mais eficientes pelos funcionários da Prefeitura Municipal. Neste questionamento também não houve muita mudança em relação às ferramentas mais utilizadas e as mais eficientes, alterando a porcentagem, mas não a ordem, sendo considerado o telefone com 22% a ferramenta mais eficiente da Prefeitura Municipal, seguido pelo diálogo e 41 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 16: As informações chegam em tempo hábil uma informação incorreta no setor público pode trazer sérios problemas ao prefeito, ao contribuinte e ao funcionário, não podendo ser mais revertidos em função da lei da transparência. É extremamente importante que as informações sejam transmitidas e cheguem ao seu destino de forma correta. 27% dos funcionários admitem que recebem às vezes informações distorcidas e 4% responderam que quase nunca receberam informações incorretas. Já 30% dos funcionários declararam que sempre receberam a informação correta. Figura 18: Todas as informações são repassadas FONTE: Dados da Pesquisa. A figura 16 apresenta o resultado sobre mais um questionamento que busca saber se as informações chegam aos funcionários em tempo hábil para a realização do trabalho ou tarefa. A maioria, 36%, responderam que às vezes a informação chega em tempo hábil para a execução do trabalho. Esse dado é um tanto preocupante, pois muitas vezes tarefas importantes não são realizadas devido à uma comunicação falha que não chega rapidamente e no tempo certo. Já 34% responderam que quase sempre recebe as informações em tempo de realizar seu trabalho, 23% informaram que sempre recebem as informações a tempo de realizar o trabalho, 6% afirmam que quase nunca recebem as informações no momento certo e 1% diz que nunca receberam as informações no tempo correto. FONTE: Dados da Pesquisa. A figura 18 ilustra as repostas dos funcionários da Prefeitura Municipal em relação à pergunta que questionava se todas as informações necessárias para a realização do seu trabalho são repassadas. A grande maioria, 39%, respondeu que quase sempre todas as informações são repassadas, sendo que 31% considera que as informações sempre são repassadas em sua totalidade e 23% respondeu que às vezes recebem todas as informações necessárias para realizar o seu trabalho; já 6% respondeu que quase nuca recebe todas as informações e 1% respondeu que nunca recebeu todas as informações necessárias para a realização do seu trabalho. É muito importante que todas as informações cheguem em sua totalidade ao seu destino. Sem ela, o funcionário não realizará a atividade solicitada ou realizará em parte ou de forma não satisfatória. As informações sempre deveriam chegar a tempo para que o trabalho seja bem feito e não ocorram transtornos na organização. Muitas vezes um processo pode ficar atrasado devido a uma comunicação falha, trazendo transtornos e prejudicando o andamento deste processo que, muitas vezes, tem prazo para ser executado. Em vários casos o tempo perdido vai trazer prejuízos à organização em questões de qualidade, bem como financeiros. Figura 17: As informações chegam de forma correta Muitas vezes esse problema pode estar relacionado ao processo de comunicação interna falha e ou às ferramentas inadequadas que estão sendo utilizados pela Prefeitura Municipal. Figura 19: Você já ficou sem receber alguma informação FONTE: Dados da Pesquisa. Questionados os funcionários sobre as informações repassadas, se elas chegam de forma correta, a figura 17 apresenta que 39% dos funcionários responderam que quase sempre recebem a informação de forma correta; isto quer dizer que em algumas ocasiões estes funcionários receberam uma informação que não condizia com a mensagem do emissor. Em alguns casos, FONTE: Dados da Pesquisa. 42 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 20: Frequência da utilização das ferramentas de comunicação Figura 22: Nota para a comunicação interna FONTE: Dados da Pesquisa. FONTE: Dados da Pesquisa. Outro questionamento realizado aos funcionários da Prefeitura Municipal foi sobre o acesso para diálogo com seu chefe imediato. Conforme a figura 21, 62% dos funcionários admitem que eles sempre têm acesso para dialogar com seu chefe imediato. Este resultado se dá pelo fato de que grande parte dos funcionários que possuem um cargo de chefia é receptiva e sempre está à disposição para dialogar com os demais funcionários, ouvindo-os em todos os momentos. Ao observar a figura 19 é possível identificar a posição dos funcionários em relação ao questionamento que busca saber se os mesmos já ficaram sem receber alguma informação. Conforme a figura 24, 60% dos funcionários declararam que já ficaram sem receber alguma informação importante para a realização de seu trabalho. A partir destes dados é possível constatar que o processo de comunicação possui algumas falhas. Já 40% afirmaram que nunca ficaram sem receber alguma informação que fosse interessante para a execução do trabalho. A figura 22 também mostra que 23% dos funcionários quase sempre tem acesso para dialogar com seu chefe imediato, 14% às vezes e 1% nunca. A figura 20 apresenta a frequência em que os funcionários da Prefeitura Municipal utilizam as ferramentas de comunicação e 71% responderam que utilizam as ferramentas diariamente, mostrando que há necessidade de se comunicar diariamente em um órgão público, utilizando-se de diversas ferramentas. Quase todas as ações realizadas na Prefeitura Municipal têm a necessidade da realização da comunicação entre dois ou mais setores, pois geralmente um setor não consegue iniciar a atividade e concluí-la. Ela deve passar por outros setores para que seja concluída, como, por exemplo, a compra de uma caneta. A Secretaria tem a necessidade de adquirir uma caneta nova, então realiza um pedido ao setor de compras, que gera a ordem de compra que segue para contabilidade para empenho, volta para o setor de compra que repassa a ordem empenhada para a Secretaria que solicitou o pedido, a Secretaria vai ao comércio retira a caneta e solicita a nota, esta nota vai para a contabilidade que realiza o pagamento à empresa, concluindo o processo. Foi perguntado aos funcionários qual a nota que mereceria o processo de comunicação da Prefeitura Municipal: 27% dos funcionários deram nota 7 para o processo de comunicação; 21% deram nota 8; 15% deram nota 5 e 6 e 10% deram nota 9. Conforme esta questão, os funcionários se apresentaram mais satisfeitos com o processo de comunicação dando uma nota de 7 a 8, uma nota considerada boa para o processo de comunicação da Prefeitura Municipal. Figura 21: Acesso para diálogo com o chefe imediato Figura 24: Resultados por Secretaria FONTE: Dados da Pesquisa. FONTE: Dados da Pesquisa. Para análise da figura 22, é necessário observar a figura 23, que representa o nível de satisfação. Figura 23: Nível de Satisfação FONTE: Dados da Pesquisa. 43 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Analisando a figura 24, os funcionários de todas as Secretarias dizem conhecer as ferramentas de comunicação utilizadas pela Prefeitura Municipal, destacando-se com o pior resultado entre as Secretarias, a Secretaria de Obras, com 67%, e a Secretaria de Saúde, com 71% dos funcionários que afirmam conhecer as ferramentas de comunicação interna. A Secretaria de Obras encontra-se mais isolada das outras e a informação demora mais para chegar até ela. Muitas vezes a grande maioria dos funcionários a recebem com atraso, pois trabalham distantes da sede da Secretaria. O mesmo caso ocorre com alguns ESFS, que estão mais distantes da Secretaria de Saúde. Planejamentos relataram que às vezes recebem a informação de forma correta e a Secretaria de Educação afirmou que sempre receberam as informações de forma correta. Ainda sobre a informação, nove Secretarias relataram que quase sempre recebem todas as informações repassadas, sendo que a Secretaria de Planejamento e Administração afirmaram que ás vezes recebem todas as informações e a Secretaria de Educação relata que sempre recebeu todas as informações repassadas. Quando questionados, a maioria dos funcionários de todas as Secretarias respondeu que já ficaram sem receber alguma informação que fosse pertinente a eles. Em relação à satisfação com o processo de comunicação interna, seis Secretarias se mostraram afirmativas: Administração, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Educação, Fazenda, Politicas da Mulher e Saúde. Três Secretarias empataram, isso quer dizer que 50% dos funcionários responderam que estão satisfeitos e 50% responderam que não estão satisfeitos com o processo de comunicação interna da Prefeitura Municipal. Já os insatisfeitos com o processo foram a Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento Social e a Secretaria de Obras novamente. Sobre o acesso ao diálogo com o superior imediato, quase todas as Secretarias responderam que sempre tiveram acesso, menos os funcionários da Secretaria de Habitação e Urbanismo, que informaram que quase sempre têm acesso para diálogo com o seu superior imediato. Em relação à nota ao processo de comunicação, a grande maioria das Secretarias deu sete, exceto as Secretarias de Agricultura e Obras, que deram nota cinco e a Secretaria de Saúde, que deu nota oito. As Secretarias que se apresentaram como insatisfeitas com o processo de comunicação o classificaram como regular, também classificaram como regular as Secretarias de Administração, Habitação e Urbanismo, Planejamento e Saúde. Já as Secretarias de Educação Gabinete do Prefeito, Desenvolvimento Econômico e Turismo e Políticas da Mulher consideraram o processo de comunicação interna como bom. Analisando os resultados, as Secretarias de Administração, Agricultura, Desenvolvimento Social, Habitação e Urbanismo, Obras e Planejamento são as mais insatisfeitas com o processo de comunicação interna. As Secretarias de Agricultura, Desenvolvimento Social e Obras estão mais insatisfeitas com o processo e ferramentas. Já as Secretarias de Administração, Planejamento e Habitação e urbanismos estão mais insatisfeitos com o processo, mas ressaltando a insatisfação com a informação. Em relação às ferramentas, também as Secretarias Agricultura, Desenvolvimento Social e a Secretaria de Obras, que se demonstram insatisfeitos com o processo de comunicação, consideraram o uso das ferramentas de comunicação interna regular. As Secretarias de Administração, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Habitação e Urbanismo, Fazenda, Gabinete do Prefeito, Planejamento, que se mostraram satisfeitas com o processo de comunicação classificaram o uso das ferramentas como regular. Já as Secretarias de Educação, Políticas da Mulher, e Saúde consideram o uso das ferramentas bom. Acredita-se que a insatisfação se sobressaiu nas Secretarias de Obras, Desenvolvimento Social e Agricultura pelo fato da grande maioria destes funcionários trabalharem longe da sede da Secretaria e muitos a campo. Já nas Secretarias de Administração, Planejamento, e Habitação e Urbanismo a insatisfação se explica pelo fata destas Secretarias trabalharem com muita informação oriunda de outras Secretarias que geralmente atrasam ou chegam incorretas atrapalhando a execução das tarefas das mesmas. Sobre a informação, oito Secretarias informaram que às vezes recebem a informação em tempo hábil para a realização do seu trabalho, são elas: Administração, Agricultura, Desenvolvimento Social, Fazenda, Gabinete do Prefeito, Habitação e Urbanismo, Obras e Saúde. Já as Secretarias de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Educação e Políticas da Mulher responderam que quase sempre recebem a informação em tempo hábil para a realização do trabalho. A Secretaria de Planejamento informou que quase nunca recebe as informações em tempo hábil para a realização do trabalho. Observando de um modo geral, após análise de todos os gráficos e os dados específicos de cada Secretaria, considera-se o nível de satisfação com o processo de comunicação interna na Prefeitura Municipal entre regular a bom. 4.3 AÇÕES E MELHORIAS Em relação ao conteúdo da informação, os funcionários de seis Secretarias relataram que quase sempre recebem as informações de forma correta, são elas: Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Fazenda, Gabinete do Prefeito, Politicas da Mulher e Saúde. Já as Secretarias de Administração, Desenvolvimento Social, Habitação e Urbanismo, Obras e O processo de comunicação interna na Prefeitura Municipal foi considerado pelos funcionários como regular a bom, apresentando pontos positivos e negativos. Pontos Fortes - O conhecimento das ferramentas de 44 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 comunicação interna?”. A resposta à problemática está evidente na análise e discussão dos resultados. A mesma pode ser visualizada nas figuras 14, 16, 17, 18 e 22. Na figura 14 foi observado que 44% consideraram o processo de comunicação da Prefeitura Municipal regular e 41% consideram o processo como bom, 8% consideram ruim, 5% muito bom e 2% muito ruim. Já na figura 16 a maioria, 36%, respondeu que às vezes recebe a informação em tempo hábil para a execução do trabalho. Esse dado é preocupante, pois muitas vezes tarefas importantes não são realizadas devido a uma comunicação falha que não chega rapidamente e no tempo certo. Ainda na figura 16, 34% respondeu que quase sempre recebe as informações em tempo de realizar seu trabalho, 23% informou que sempre recebe as informações a tempo de realizar o trabalho, 6% indagaram que quase nunca recebem as informações no momento certo e 1% diz que nunca receberam as informações no tempo correto. Em relação à figura 17, 39% dos funcionários responderam que quase sempre recebem a informação de forma correta. Isto quer dizer que em algumas ocasiões estes funcionários receberam uma informação que não condizia com a mensagem do emissor, 27% dos funcionários admitem recebem às vezes informações distorcidas e 4% responderam que quase nunca receberam informações incorretas. Já 30% dos funcionários declararam que sempre receberam a informação correta. E a figura 18 a grande maioria dos funcionários, 39%, respondeu que quase sempre todas as informações são repassadas, sendo que 31% considera que as informações sempre são repassadas em sua totalidade e 23% respondeu às vezes recebem todas as informações necessárias para realizar o seu trabalho, 6% respondeu que quase nuca recebe todas as informações e 1% respondeu que nunca recebeu todas as informações necessárias para a realização do seu trabalho. comunicação pelos funcionários, pois a grande maioria se mostrou ciente das ferramentas que estão sendo utilizadas. - As ferramentas utilizadas são as preferidas pelos funcionários e também são consideradas eficientes. - A utilização das ferramentas foi classificada como boa pelos funcionários entrevistados. - O acesso para diálogo com o chefe superior foi considerado muito bom, sendo que a grande maioria dos funcionários declarou ter acesso para diálogo. Pontos Fracos - A classificação do processo de comunicação foi considerada pelos funcionários como regular. - As informações em sua grande maioria não chegam em tempo hábil para a realização do trabalho. - A informação nem sempre chega em sua totalidade ou corretamente ao receptor. - Muitos funcionários declaram que em algum momento já ficaram sem receber alguma informação. Ações e Melhorias Seria importante que a Prefeitura Municipal desenvolvesse um processo de comunicação adaptável a todas as Secretarias com ferramentas definidas e que são de acesso a todos os funcionários. O processo de comunicação interna deveria ter um começo, meio e fim, sempre utilizando o feedback, o qual não é utilizado atualmente. O emissor nunca sabe como as informações chegaram ao receptor. Também é possível visualizar a reposta do problema na figura 22, em que 27% dos funcionários deram nota 7 para o processo de comunicação, 21% deram nota 8, 15% deram nota 5 e 6 e 10% deram nota 9. Conforme esta questão, os funcionários se apresentaram mais satisfeitos com o processo de comunicação, dando uma nota de 7 a 8, uma nota considerada boa para o processo de comunicação da Prefeitura Municipal. Analisando o objetivo geral e os objetivos específicos propostos inicialmente no trabalho, pôde-se verificar que todos foram plenamente alcançados no decorrer do estudo. Poderia ser utilizado um processo de comunicação padrão, mas não inadaptável, pois algumas Secretarias necessitaram de alguma adaptação conforme as atividades que realizam e as suas necessidades. O processo, após definido juntamente com suas ferramentas, deverá ficar visível a todos os funcionários, para que os mesmos o conheçam e o utilizem da mesma forma. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo geral do presente estudo, que teve como intuito identificar através de uma pesquisa informações para analisar o nível de satisfação do processo de comunicação interna na Prefeitura Municipal, está representado na análise e discussão dos resultados. O presente estudo teve como tema “Analisar o nível de satisfação dos funcionários ativos com o processo de comunicação interna em uma Prefeitura Municipal , localizada na Região Noroeste – RS no período de setembro a dezembro de 2014”. Para a elaboração foram percorridos os passos que incluíram pesquisas referenciais e práticas, concluindo-se com o artigo ora apresentado. Ressalta-se que o estudo envolveu todos os funcionários ativos da Prefeitura Municipal que se disponibilizaram a responder questões relacionadas com a comunicação interna. O primeiro objetivo deste estudo que visava apresentar como ocorre o processo de comunicação interna, também foi alcançado, como pode ser visto pelos resultados representados no item 4.1, figuras 1, 2, 3 e 4. O segundo objetivo era identificar as ferramentas de comunicação interna utilizadas também foi alcançado e pode ser visualizado no item 4.1, e no item 4.2, figura 11. Para conduzir a pesquisa e definir a análise, antes de responder o problema do estudo, definiu-se o mesmo como: “Qual o nível de satisfação dos funcionários ativos da Prefeitura Municipal em relação ao processo de O terceiro objetivo do estudo era mensurar o nível de satisfação dos funcionários em relação ao processo da 45 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à Administração. 5º ed. São Paulo: Atlas, 2000. ISBN: 8522421641. comunicação interna, também foi alcançado, o que pode ser visualizado no item 4.2, figuras 14, 16, 17, 18, 19 e 22. O quarto e último objetivo do trabalho era propor ações no processo de comunicação, sendo este alcançado e visualizado no item 4.3. _____________Introdução à comunicação. 6° ed. São Paulo: Atlas, 2004. ISBN: 8522436274. PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação Empresarial. Campinas, SP: Alínea, 2006. ISBN: 8586491330. Com as respostas dos objetivos específicos foi possível identificar o nível de satisfação dos funcionários ativos da Prefeitura Municipal com o processo de comunicação interna o qual se encontra entre regular a bom. PINHO, José Benedito. Comunicação nas Organizações. Viçosa: UFV, 2006. ISBN: 8572692290. As entrevistas realizadas com três funcionários anteriormente selecionados, as quais foram realizadas de forma direta. Os questionários abrangeram um número considerável de funcionários, o que deu uma maior confiabilidade aos resultados obtidos. Os funcionários que participaram da pesquisa se sentiram valorizados ao perceber que também são foco de estudo acadêmico e que a sua opinião referente às questões comunicação interna desperta interesse e que o resultado pode influenciar em decisões que podem vir a beneficiá-los. TAVARES, Maurício. Comunicação empresarial e planos de comunicação: integrando teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2007. ISBN: 9788522447831. Estudos acadêmicos proporcionam grandes oportunidades para o desenvolvimento e enriquecimento, tanto de parte da pós-graduanda, como dos funcionários da Prefeitura Municipal de Três de Maio. Ao término desse trabalho, é possível afirmar que o tema estudado é atualmente de extrema importância para alcançar bons resultados em qualquer tipo de organização. Depois de cumpridos os objetivos estipulados inicialmente e certo de que mesmo ainda havendo um grande campo a ser explorado com relação a esse tema, a autora tem o sentimento do dever cumprido. O resultado obtido após as pesquisas realizadas foi muito significativo para a pós-graduanda, pois proporcionou um conhecimento amplo sobre o assunto abordado e envolveu quase todos os funcionários da Prefeitura Municipal, pois fez com que as pessoas pensassem um pouco sobre a situação que se encontra a comunicação interna em seu ambiente de trabalho. Fica o desafio para futuros trabalhos que possam surgir envolvendo assuntos citados servindo como base de pesquisa ou até mesmo complementação mais aprofundada de algum dos temas aqui expostos. REFERÊNCIAS ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; AMBONI, Nério. Teoria Geral da Administração: Das origens às perspectivas contemporâneas. São Paulo: M Books do Brasil, 2007. ISBN: 857680011. ARAUJO, Luis César G de. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas, 2006.ISBN: 8522442029. CHIAVENATO, Idalberto. 2005. Gerenciando com as pessoas: transformando o executivo em um excelente gestor de pessoas: um guia para o executivo aprender a lidar com sua equipe de trabalho. 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier. ISBN: 8535216294. _________, Idalberto. 2009. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 9 ed. Rio de Janeiro: Elsevier. ISBN: 9788535233186. 46 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO EM UMA EMPRESA FAMILIAR Cecília Smaneoto¹ Francine Fernandes² SETREM³ RESUMO O estudo consiste numa descrição acerca da Segurança e Medicina do Trabalho, realizado em uma empresa familiar atuante no setor de venda e prestação de serviços de tintas, localizada no município de Três de Maio – RS, visando analisar os níveis de compreensão, aceitação e observância das normas de Segurança e Medicina do Trabalho, demonstrando a importância e as formas de prevenção, treinamento e necessidade desse conhecimento, tanto por parte dos funcionários como também dos gestores da empresa. Desenvolveu-se uma pesquisa predominantemente qualitativa em forma de estudo de caso, na qual se buscou responder ao problema de pesquisa: Quais são os níveis de compreensão, aceitação e observância das normas relacionadas à Segurança e Medicina do Trabalho, por parte dos funcionários e gestores da empresa? O estudo de caso se justificou pela escassez de material acerca do assunto, sendo os manuais e livros existentes insuficientes para expor a importância do tema. Portanto, para contemplar os dados reais da empresa, foram aplicados questionários com perguntas fechadas aos funcionários e gestores. Percebeu-se a necessidade de a empresa implantar e assegurar a melhoria contínua dos métodos de prevenção e de conscientização. O estudo possibilitou apontar sugestões que podem ser apresentadas aos gestores visando contribuir na área de segurança e medicina do trabalho, objetivando a promoção da saúde e a qualidade de vida. ABSTRACT The study consists of a description about Safety and Occupational Health, held in an active familiar company in the sale and delivery sector of services of paints located in the city of Três de Maio - RS, aiming to analyze the levels of understanding, acceptance and observance standards of Safety and Occupational Medicine, demonstrating the importance and ways of prevention, training and need this knowledge, both by employees as well as managers of the company. A predominantly qualitative research in a form of study case was developed, in which it was searched for answering the research problem: What are the levels of understanding, acceptance and compliance related to Occupational Health and Safety standards on the part of employees and managers of the company? The study case is justified by the lack of material on the subject, and the manuals and books insufficient to explain the importance of the topic. Therefore, to contemplate the actual company data, questionnaires with closed questions were applied to employees and managers of the company. It was noticed the need for the company to implement and ensure continuous improvement of methods of prevention and awareness. The study enabled point suggestions that can be presented to managers to contribute in the area of Safety and Occupational Health, aimed at promoting health and quality of life. Keywords: Safety and occupational medicine. Prevention. Awareness. Palavras-chave: Segurança e medicina do trabalho. Prevenção. Conscientização. esforços através de treinamentos para mostrar como o colaborador deve proceder para evitar acidentes e, assim, melhorar o desempenho na produção. Com a importância dada ao colaborador, surgiram manuais de legislação e treinamentos para orientar a segurança do trabalho, ações preventivas para conscientizar a importância da prevenção tanto no ambiente de trabalho como fora dele. A redução de acidentes acarreta a redução dos custos em relação ao absenteísmo, a rotatividade ao desempenho produtivo. Para os funcionários e familiares traz maior motivação, maiores perspectivas e segurança. 1. INTRODUÇÃO As empresas têm diversas obrigações para com seus colaboradores, sendo de grande importância a questão dos acidentes e o cumprimento das normas da Medicina e Segurança do Trabalho, que fazem parte do dia-a-dia das pessoas e são determinantes e indispensáveis para o desempenho das tarefas. Em geral, as pessoas passam a maior parte do seu tempo nos locais de trabalho e o ambiente é decisivo para a qualidade de vida no trabalho (QVT). Isso influenciará na qualidade da produção, na quantidade produzida e no grau de motivação dos funcionários. Portanto, as organizações devem disponibilizar os equipamentos e as condições estruturais necessárias ao bom desempenho das atividades, assim como os colaboradores devem evitar atos inseguros e sobrecarga de tarefas. É neste cenário que surge a ideia de prevenção buscando através de medidas de segurança eliminar ou aliviar as consequências dos acidentes nos locais de trabalho, o cumprimento destas medidas depende da capacitação e da formação dos trabalhadores, cabendo aos médicos, engenheiros, psicólogos, técnicos de segurança no trabalho, enfermeiros a fiscalização e o Sendo assim, a organização deve concentrar ¹ Professora orientadora ² Acadêmica do curso de Administração ³ Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM, Av. Avaí, 370, Três de Maio – RS, e-mail: [email protected]. 47 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 acesso de informações a respeito da importância de obter saúde e segurança no trabalho. O método de abordagem, caracterizado por Lakatos e Marconi (2001) como uma abordagem mais ampla em nível de abstração mais elevado dos fenômenos da natureza e da sociedade foram utilizados para descrever a complexidade do problema e interpretar as particularidades dos comportamentos ou atitudes individuais, sendo eles o método dedutivo que de acordo com Lovato, Evangelista e Gullich (2007) é uma modalidade de raciocínio lógico que faz uso da dedução para obter uma conclusão através de determinados objetivos e o método qualitativo, justificada pelos mesmos autores como “expressa através da subjetividade dos resultados da pesquisa”. Desta forma, este artigo tem como intuito descrever sobre a Segurança e Medicina do Trabalho em uma empresa familiar Bazar das Cores localizada no município de Três de Maio – RS, visando analisar os níveis de compreensão, aceitação e observância das normas de Segurança no Trabalho, demonstrando a importância e as formas da prevenção, capacitação e treinamento. 2. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA As etapas mais concretas da investigação, com a finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos abstratos, caracterizaram-se pela pesquisa descritiva e estudo de caso. Toda pesquisa se inicia com algum tipo de problema ou indagação, conforme nos apresenta Gil (2002). O problema que se deseja solucionar no estudo é: Quais são os níveis de compreensão, aceitação e observância das normas relacionadas à Segurança e Medicina do Trabalho, por parte dos funcionários e gestores da empresa? Os procedimentos organizacionais que servem de medição prática para a realização da pesquisa são, de acordo com Lovato, Evangelista e Gullich (2007) as chamadas técnicas. No presente estudo utilizaram-se a técnica da coleta de dados, a observação e a entrevista. Na entrevista foram elaboradas treze questões fechadas entregues aos funcionários da empresa e doze questões fechadas entregues aos gestores. Corroborando Pinheiro (2010), os objetivos identificam aquilo que se pretende fazer, medir ou provar no decorrer do estudo, bem como aquilo que se pretende alcançar. O presente estudo tem como objetivo geral demonstrar a importância da segurança e medicina do trabalho dentro da empresa em estudo. Através do objetivo geral, chegou-se aos seguintes objetivos específicos: 3. CAMINHO METODOLÓGICO 3.1SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO - verificar o conhecimento por parte dos funcionários e gestores da empresa sobre o assunto em questão; Segundo Araujo (2006), a saúde no trabalho tem o compromisso de prevenir acidentes, analisando sua ocorrência e trabalha no sentido da redução ou eliminação das doenças ocupacionais e dos riscos acidentais. Além disso, a saúde no trabalho visa manter a integridade física e mental dos colaboradores, sempre com a intenção de comportar um bom exercício dos serviços em um ambiente benéfico e propício ao seu desenvolvimento. - analisar o uso de epi's e a sua disponibilidade na empresa; - incentivar a melhoria contínua da segurança e medicina do trabalho; A saúde apresenta como formação e complemento de seus objetivos, três conceitos que explicam como ela é aplicada dentro das organizações, sendo eles: promoção adequada nas condições ambientais; controle dos fatores causadores de doenças; prevenção, redução e eliminação das causas prejudiciais. - promover a qualidade de vida no trabalho; - conscientizar os funcionários e gestores da empresa sobre a importância do tema abordado. Para todo o estudo há uma justificativa que, de acordo com Pinheiro (2010), deve ser clara e breve, explicando a protuberância de se realizar a pesquisa e a situação atual do conhecimento sobre o tema. Já a segurança do trabalho tem como objetivo manter e assegurar as estruturas da organização e que os procedimentos executados durante a jornada de trabalho estejam corretos, ou seja, garantir que as pessoas se encontrem em um ambiente de trabalho seguro. A venda e a prestação de serviço no ramo da pintura estão cada vez mais escassas; atualmente não se encontra mão-de-obra que atenda às expectativas do contratante. Além disso, as empresas que ainda oferecem esses serviços investem pouco ou quase nada no treinamento e monitoramento de seus funcionários no que se refere à segurança e medicina do trabalho, tema este que deveria estar presente no dia-a-dia dos trabalhadores. De acordo com Araujo (2006), a segurança do trabalho coloca como concepção e complemento de seus objetivos, três condições as quais se referem de que maneira ela é aplicada nas organizações: identificação das principais causas; correção e manutenção das estruturas físicas e prevenção, redução e eliminação dos acidentes. Assim posto, é de significativa importância a realização de estudos sobre este tema para gerar o maior número de informações possíveis, permitindo aos gestores e funcionários da empresa melhorarem o seu conhecimento sobre a segurança e medicina do trabalho, garantindo, assim, uma qualidade de vida adequada. 3.2 ERGONOMIA Conforme Costa e Costa (2009), a ergonomia estuda a adaptação do ambiente de trabalho às condições psicológicas e fisiológicas necessárias para os indivíduos, 48 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Ÿ doença do trabalho (as doenças causadas pelas condições do trabalho). avaliando e projetando os postos de trabalho, seus processos, equipamentos, sempre considerando e projetando os postos de trabalho. O acidente de trabalho se deve principalmente a duas causas: O objetivo da ergonomia não está limitado a fatores do trabalho determinados pelas atividades; porém, a sua principal finalidade é a melhoria das condições de trabalho, garantindo ao trabalhador o bem estar durante as atividades, evitando que o trabalho se constitua em um risco para a saúde física e psicológica das pessoas. I ato inseguro: é o ato praticado pelo homem, em geral consciente do que está fazendo, que está contra as normas de segurança. II condição insegura: é a condição do ambiente de trabalho que oferece perigo e ou risco ao trabalhador. 3.3 SEGURANÇA DO TRABALHO Segundo Costa e Costa (2009), segurança são técnicas aplicadas para garantir a proteção individual de acidentes de trabalho, agindo sobre equipamentos, instalações, locais de trabalho e processos, localizando os agentes de risco, analisando e aplicando ações de proteção e correção. Figura 1: Processo de prevenção de acidentes Corroborando Chiavenato (2010), dependendo do esquema de organização da empresa, os serviços de segurança têm a finalidade de estabelecer normas e procedimentos, pondo em prática os recursos possíveis para a prevenção de acidentes e controlando os resultados obtidos. Muitos serviços de segurança não obtêm resultados, e até mesmo fracassam porque não foram devidamente desenvolvidos em seus vários aspectos. O programa de segurança deve ser estabelecido partindo-se do princípio de que a prevenção de acidentes é alcançada pela aplicação de medidas de trabalho adequadas e que só podem ser bem aplicadas por meio de trabalho de equipe. FONTE: Araujo, 2006. Na figura 1 estabelecem-se resumidamente os processos de prevenção de acidentes que conforme Araujo (2006) estão presentes na segurança do trabalho das organizações. Para garantir a segurança dos trabalhadores, as organizações estão investindo em programas de baixo custo e de fácil aplicação, como palestras, treinamentos, internet, implantação de sistemas e monitoramento, entre outros. Reduzindo, assim, acidentes e doenças decorrentes do trabalho e demonstrando ao empregado a sua importância dentro da organização. A maioria das organizações urbanas brasileiras está isenta da atribuição formal de ter em seus quadros a formação de serviços ligados à saúde e segurança do trabalho. Isso porque o número total de trabalhadores empregados não é igual ou superior a 20 ou a 50, o que obrigaria a organização a formar CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho), respectivamente, independentemente do grau de risco da atividade principal. Entretanto, a legislação é bem clara ao expressar que em qualquer estabelecimento que empregue trabalhador – ou seja, mesmo para um único trabalhador – o administrador terá a obrigação de fazer cumprir as determinações relativas a temática. (FILHO, 2001, P. 102) 3.3.1Comissão interna de prevenção de acidentes - CIPA De acordo com Filho (2001), o objetivo da CIPA é a prevenção de acidentes, buscando eliminar os riscos através de solicitações à direção da empresa para adequar a mesma às normas de segurança, higiene e medicina do trabalho. Sendo assim, os seus membros fiscalizam e protegem os demais funcionários, além de participar das medidas de segurança e orientar os colegas quanto à postura correta de como reagir aos métodos de segurança no trabalho. Algumas das atribuições dos membros da CIPA são: reuniões periódicas; programação de planos que visem à proteção da saúde; sugestão de fiscalização; conscientização de todos os colaboradores da importância da higiene, medicina e segurança no trabalho; sugerir ou reclamar destas questões aos superiores; promover todos os anos o encontro da Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT) juntamente com o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). Equiparam-se aos acidentes de trabalho: Ÿ o acidente que acontece quando você está prestando serviços por ordem da empresa fora do local de trabalho; Ÿ o acidente que acontece quando você estiver em viagem a serviço da empresa; 3.3.2Serviço especializado em engenharia de segurança e medicina do trabalho - SESMT Ÿ o acidente que ocorre no trajeto entre a casa e o trabalho ou do trabalho para casa; Segundo Filho (2001), este serviço visa à saúde e à integridade do trabalhador no ambiente de trabalho. Tem a finalidade de prevenção, sendo integrados por Ÿ doença profissional (as doenças provocadas pelo tipo de trabalho); 49 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 2: Exemplos de desgastes no trabalho em cada categoria profissionais e empregados. É composto por médico, engenheiro de segurança, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e técnico de segurança no trabalho. A sua obrigatoriedade está condicionada ao número de e m p r e g a d o s e a o r i s c o d a a t i v i d a d e . Te m responsabilidade técnica, cabendo à CIPA comunicar as irregularidades e aguardar a ação ou omissão da SESMET e da empresa. O que ocorre em grande parte das empresas é que os membros da SESMET são empregados da empresa, o que limita os mesmos a só avaliar tecnicamente os sintomas, sem procurar a causa dos acidentes de trabalho. Contudo, o SESMET tem auxiliado a CIPA, pois ambos buscam a prevenção de acidentes ou doenças no trabalho. FONTE: SPECTOR, 2005, p. 432 3.4 SAÚDE OCUPACIONAL 3.5 MEDICINA DO TRABALHO “A saúde ocupacional é a ciência que trata do reconhecimento, da avaliação e do controle dos riscos ocupacionais”. (VIEIRA, 2005, P. 42) Segundo MasterMed (2012), a medicina do trabalho é a especialidade médica que lida com as relações entre homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, visando não somente a prevenção dos acidentes e das doenças de trabalho, mas a promoção da saúde e da qualidade de vida. Tem por objetivo assegurar ou facilitar aos indivíduos e ao coletivo de trabalhadores a melhoria contínua das condições de saúde, nas dimensões física e mental, e a interação saudável entre as pessoas e estas com seu ambiente social e o trabalho. Saúde é a ausência de doença, sendo que o ambiente de trabalho pode provocas doenças, causadas pelos agentes agressores presentes no ambiente de trabalho, conforme afirma Chiavenato (2010). Não somente as doenças podem prejudicar a saúde do trabalhador, mas também os acidentes de trabalho e o estresse emocional. A medicina do trabalho está construída sobre dois pilares: a Clínica e a Saúde Pública. Sua ação está orientada para a prevenção e para a assistência do trabalhador vítima de acidente, doença ou de incapacidade relacionados ao trabalho e, também, para a promoção da saúde do bem estar e da produtividade dos trabalhadores, suas famílias e a comunidade. Porém, a saúde não deve ser limitada à ausência de doença, como afirma Signorini (2000), mas deve ser compreendida como o equilíbrio entre o bem-estar físico, mental e social. Segundo Webster (2005), os principais agentes agressores que fazem parte do ambiente de trabalho são: 3.6 QUALIDADE DE VIDA Ÿ Riscos físicos: temperatura, ruído, umidade, pressões anormais, radiação ionizantes e não-ionizantes, iluminação, ventilação, conforto, etc. O corpo humano necessita estar em equilíbrio, desfrutando de saúde física, mental, psíquica e emocional, como afirma Sell (2005). Para isso, é preciso garantir atividade física em condições adequadas, uma boa alimentação, sono para alívio das tensões e cargas a que o individuo está sujeito durante o seu dia-a-dia. Ÿ Riscos químicos: gases, vapores, poeiras, fumos, névoas, produtos químicos em geral. Ÿ Riscos biológicos: vírus, bactérias, fungos, parasitas, protozoários, bacilos, etc. Araujo (2006) se refere a um mundo em mudanças, quebra de padrões, novidades nos mais variados campos da gestão de pessoas. Tudo isso é uma verdade. Há poucos anos não se encontraria pessoas da organização e seus superiores em uma mesma mesa conversando sobre novos caminhos para as organizações. Hoje a luta é pela manutenção do emprego e sucesso das organizações. Ÿ Riscos ergonômicos: postura, esforço físico, ritmo de trabalho, transporte de peso. Alguns ambientes de trabalho são tão perigosos que as melhorias são exigidas por lei, conforme afirmam Milkovick e Boudreau (2000). Uma das formas encontradas pelas empresas é a indenização mediante programas de remuneração e seguros, porém, uma forma alternativa mais eficiente e com um custo menor é a prevenção, em que são realizadas reestruturações para diminuir os riscos de acidentes, além de treinamentos para a segurança e prêmios para recordes de redução de acidentes de trabalho. 3.7 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Segundo Chiavenato (2009), não são apenas as condições físicas de trabalho que importam. As condições sociais e psicológicas também fazem parte do ambiente de trabalho. Recentemente pesquisas comprovaram que, para alcançar qualidade e produtividade, as organizações precisam ser dotadas de pessoas participantes e motivadas nos trabalhos que executam e recompensadas adequadamente por sua contribuição. Assim, a competitividade organizacional passa obrigatoriamente pela qualidade de vida no trabalho. Para atender ao cliente externo não se deve esquecer o cliente interno. A 50 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 gestão da qualidade total em uma organização depende fundamentalmente da otimização do potencial humano. E isso depende de quão bem se sentem as pessoas trabalhando dentro da organização. a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade; b)exigir seu uso; c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional competente em segurança e saúde no trabalho; A qualidade de vida no trabalho representa o grau em que os membros da organização são capazes de satisfazer suas necessidades pessoais através de sua atividade na organização. Conforme Chiavenato (2009), diversos fatores para a qualidade de vida no trabalho são observados, tais como: a satisfação com o trabalho executado, possibilidades de futuro na organização, reconhecimentos pelos resultados alcançados, o salário percebido, benefícios auferidos, relacionamento humano dentro do grupo e da organização, ambiente psicológico e físico de trabalho, liberdade de decidir, possibilidades de participar, entre outros. Além dos aspectos intrínsecos do cargo, a QVT envolve também os aspectos extrínsecos e contextuais. Ela afeta atitudes pessoais e comportamentais importantes para a produtividade, como: motivação para o trabalho, adaptabilidade e flexibilidade a mudanças no ambiente de trabalho, criatividade e vontade de inovar. d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação; e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado; f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica. Cabe ao empregado quanto ao EPI: a) usar, utilizando-o apenas para finalidade a que se destina; b) responsabilizar-se pela guarda e conservação; 3.8 VIDA SAÚDAVEL NO TRABALHO E QUALIDADE DE VIDA c) comunicar o empregador qualquer alteração que o torne impróprio para o uso. Segundo Sucesso (2002), o termo qualidade de vida passou a integrar o discurso acadêmico a partir da década de 90. Tem sido utilizado para avaliar as condições de vida urbana, transporte, saneamento básico, lazer e segurança, saúde física, bens materiais. Cabe ao órgão regional do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). a) fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado e qualidade do EPI; O mesmo autor ainda cita que uma empresa possui uma série de valores partilhados pela maioria dos que nela atuam. Quanto mais valores partilhados, mais forte a cultura da organização. Uma cultura forte influencia muito o comportamento das pessoas, definindo claramente o que se espera delas. Quando o clima interno é de grande concordância entre os membros, isso abre espaço para um alto comprometimento e identidade com a organização. b) recolher amostras de EPI; c) aplicar as devidas penalidades caso ocorra o descumprimento de algum requisito. Os equipamentos de proteção individual se dividem conforme a área do corpo que necessita de proteção. São eles: a) Proteção da cabeça: capuz e capacete. Conhecer a cultura e o modo como as pessoas pensam é imprescindível; para isso, análises do clima organizacional, da qualidade de vida dos colaboradores, de seus interesses e opiniões, são a chave para uma boa administração e interação entre todos. b) Proteção dos olhos: óculos, protetor facial, máscara de solda. c) Proteção auditiva: protetor auditivo semiauricular. 3.9 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI d) Proteção respiratória: respirador purificador de ar, respirador de adução de ar, respirador de fuga. Segundo o Manual de Segurança e Medicina do trabalho (2004), considera-se EPI todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos que ameaçam a segurança ou a saúde no trabalho. Todo Equipamento de Proteção Individual, de fabricação nacional ou importado, só poderá ser posto à venda ou utilizado mediante indicação do Certificado de Aprovação – CA, expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego. e) Proteção dos membros superiores: luva de segurança (o material varia conforme a necessidade. Choques elétricos, agentes biológicos, material cortante, etc), creme protetor, manga, braçadeira, dedeira. f) Proteção para os membros inferiores: calçados (o material varia conforme a necessidade), meia, perneira, calça. g) Proteção do corpo inteiro: macacão. A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado e em pleno estado de conservação e funcionamento. Cabe ao empregador quanto ao EPI: h) Proteção contra quedas com diferença de nível: dispositivo trava-queda, cinturão. 51 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A figura 3 demostra que 94% dos respondentes ao questionário são instruídos pelos gestores quanto à precaução a tomar no sentido de evitar acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais, e 6% responderam que não são instruídos. 4.1 HISTÓRICO DA EMPRESA A empresa Bazar das Cores é conceituada na venda e prestação de serviços no ramo da pintura e acabamentos de casas novas e antigas, prédios, apartamentos, entre outros, tanto internamente como externamente, trabalhando no ramo há mais de quatro anos, sendo que seu co-fundador, Luis Celso Moreira de Camargo (mais conhecido como Chopp), tem mais de 25 anos de experiência na prestação de serviço. Tem como sócios fundadores Geneci Miranda da Mota Camargo e Luis Celso Moreira de Camargo. A empresa deu início as suas atividades na Rua Travessa Pedro Garrafa nº 221 no dia 15 de março de 2011, mudando-se após dois anos para o endereço Rua Horizontina nº 1153, e, no inicio do ano de 2015, adquiriu sua sede própria, que fica na Rua São Paulo nº 383, 6 Centro de Três de Maio – RS. Figura 3: Instrução aos empregados por parte dos gestores FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. A empresa surgiu através da iniciativa de um dos três filhos do casal, Marcelo de Camargo. Marcelo procurou se informar a respeito de toda a parte contábil, marketing, local, financiamento, entre outros. Após definidos todos os procedimentos iniciais, o casal, ainda um pouco indeciso para a abertura, decidiu apostar na ideia do negócio próprio, vindo este apenas a crescer a cada ano que passa. A estratificação referente ao fornecimento dos Equipamentos de Proteção Individual é confirmada na figura 4. Figura 4: Fornecimentos dos Equipamentos de Proteção Individual Para a comercialização, a empresa está equipada com todos os materiais para pintura, as mais conceituadas marcas de tintas, além das máquinas necessárias para a pigmentação de mais de duas mil cores, contanto também com o sistema Estúdio de Ambientes, podendo simular a casa a ser pintada com as cores desejadas pelo cliente. Para a prestação de serviço, a empresa conta com três equipes de pintores, sendo que os coordenadores de duas das equipes são filhos dos sócios, e o outro, coordenador, como já mencionado anteriormente, é o proprietário, Chopp. FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. Quanto à mobilização da empresa aos funcionários para o treinamento e inspeção necessários para a prevenção de acidentes é demostrada a seguir na figura 5. A empresa oferece ao cliente total comodidade, ou seja, o cliente apenas terá o serviço de entrar em contato com a empresa; após isso, algum dos responsáveis irá até o cliente, onde quer que ele se encontre e tratará do serviço que ele necessita. Figura 5: Treinamento aos funcionários 4.2 ANÁLISES DOS QUESTIONÁRIOS Para a avaliação da segurança e medicina do trabalho na empresa foram elaborados dois questionários; um entregue a cada um dos dezesseis funcionários e outros dois, entregue individualmente aos gestores. 4.2.1 Análises dos questionários entregue aos funcionários FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. Os resultados obtidos através de questionários entregues aos funcionários da empesa são apresentados em forma de gráfico para depois analisá-los. Na figura 3, 62% dos respondentes afirmam que a empresa incentiva quanto ao treinamento e inspeção, e 38% afirma que não recebem incentivos quanto ao assunto. A instrução aos empregados, por parte dos gestores, é evidenciada pela figura 03. 52 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 8: Normas e procedimentos de medicina e segurança do trabalho Quanto à preocupação dos gestores em relação aos funcionários, segue a demonstração na figura 6. Figura 6: Preocupação dos gestores em relação aos funcionários FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. Fica evidente, na figura 6, com 100% de aprovação, que os respondentes acham importante a preocupação de seus gestores a respeito do tema que diz relação com a preocupação dos mesmos com sua saúde e qualidade de vida no trabalho, sendo que nenhum deles apontou a questão de não achar importante esse assunto. Nessa figura é claramente notável a resistência dos funcionários quanto aos métodos e procedimentos de segurança do trabalho. Por isso, vem a ser um dos pontos mais importantes para esse estudo, podendo ser mudada essa ideia pelos funcionários, que geraria um maior resultado em termos de segurança e satisfação para a empresa. A análise feita quanto à postura que o funcionário adota a respeito dos métodos e procedimentos de segurança e medicina do trabalho são expostos na figura 7. A estratificação de qualidade de vida no trabalho é comprovada na figura 9. Figura 9: Qualidade de vida no trabalho Figura 7: Postura do funcionário FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. Confirma-se na figura 7, quanto á postura que o funcionário adota mediante os métodos e procedimentos de segurança e medicina no trabalho, que 56% dos mesmos responderam que adotam uma postura boa e receptiva; mas 44% nos respondentes se colocam de uma forma resistente, ou seja, negativa a este tipo de procedimento dentro da empresa. A figura 9 comprova que 81% dos respondentes afirmam que a empresa lhes proporciona qualidade de vida no trabalho, e 19% responderam que a empresa não proporciona qualidade de vida no trabalho. 4.2.2 Análises dos questionários entregue aos gestores A análise feita quanto às instruções aos empregados por parte da empresa está representada na figura 10. Quanto às normas e procedimentos de medicina e segurança do trabalho, é comprovada através da figura 8. É possível estabelecer, a partir da figura 8, com 69% que os funcionários acreditam que as normas e procedimentos de medicina e segurança no trabalho atrapalham as suas atividades no dia a dia. Porém, 31% dos respondentes não acreditam que essas normas os atrapalhem nas suas atividades diárias. Através da figura 10, pode-se comprovar que todos os gestores da empresa instruem os empregados sobre as normas de segurança e medicina do trabalho. 53 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 10: Instrução aos empregados por parte dos gestores É evidenciada na figura 12, quando questionado aos gestores o que no ponto de vista deles deveria ser melhorado na empresa quanto à segurança e medicina do trabalho, 100% acredita que teria que haver maior incentivo e treinamento. 5. CONCLUSÃO Ao concluir este trabalho através da análise dos dados coletados relacionado ao referencial teórico apresentado, percebe-se a grande importância das atividades de promoção da segurança e medicina do trabalho com o objetivo de prevenir acidentes e garantir a saúde dos colaboradores. Com isso, os gestores da empresa devem investir mais nas ações educativas, assegurando a integridade física e mental dos colaboradores. FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. A análise feita com relação às medidas de precaução utilizadas é expressada na figura 11. Figura 11: Medidas de precaução utilizadas pela empresa Quanto ao objetivo geral de identificar o conhecimento que os colaboradores da empresa Bazar das Cores possuem a respeito da segurança e medicina do trabalho, destaca-se que foi atingido, a partir dos questionários e análise das respostas obtidas através dos mesmos, podendo verificar, assim, através da apresentação das tabelas, que de modo geral mostraram que os colaboradores possuem o conhecimento sobre segurança e medicina do trabalho. Quanto aos objetivos específicos, foram abordados os principais conceitos de segurança e medicina do trabalho, utilizando a pesquisa bibliográfica, descrevendo a opinião de diversos atores a respeito do tema proposto, cumprindo com êxito o objetivo através do referencial teórico do presente artigo. FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. É confirmada na figura 11, quando perguntado quais precauções a empresa se utiliza para evitar acidentes de trabalho, que 50% dos gestores fornece os EPEIS e o treinamento necessário para a sua correta utilização. Após a análise dos dados, ocorreu, ainda, a sugestão de implantação de programas educativos com o objetivo de que um maior número de colaboradores tenha acesso às informações necessárias para a prevenção da sua saúde dentro do local do trabalho, cumprindo assim um dos objetivos específicos proposto. Com porcentagem de 50% dos gestores, os mesmo afirmam que deixam a cargo do funcionário as providências necessárias sobre o tema abordado. As informações obtidas através da pesquisa foram repassadas à empresa, acompanhadas das sugestões apontadas, para que possam utilizar-se do presente artigo para a implantação de melhorias nas transmissões de informações. Conforme mostram os dados nessa figura 15, é curioso que até mesmo por parte dos gestores acontece desinteresse quanto à instrução do uso e importância dos EPIS por parte dos funcionários com a empresa em estudo. Em futuras pesquisas, sugere-se a análise do impacto nos colaboradores quando participarem de eventos de conscientização para a prevenção de acidentes e riscos à saúde, podendo considerar se esteve presente no evento e se o setor em que exerce as suas atividades interferem nos conhecimentos adquiridos. A análise do que deve ser melhorada na empresa está expressa na figura 12. Figura 12: Deve ser melhorado na empresa REFERÊNCIAS ARAUJO, Luis Cézar G. de. Gestão de Pessoas: estratégias e integração organizacional. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006. CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. 9ª edição. São Paulo: Elsevier Editora Ltda, 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Administração de recursos humanos: fundamentos básicos. 7ª edição. São Paulo: Manole, 2009. FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015. 54 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 COSTA, Marco Antonio F. da. Segurança e saúde no trabalho: cidadania, competitividade e produtividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009. FILHO, Antonio Nunes Barbosa. Segurança do Trabalho e Gestão Ambiental. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2001. Manual de Segurança e Medicina do Trabalho. 62 edição. São Paulo: Editora Atlas, 2008. MasterMed. O que é Medicina Ocupacional. Rio de Janeiro, 2012. Extraído do site http://www.mastermed.com.br/novo/index.php/artigos/inf ormativo/81-o-que-e-medicina-ocupacional. Acessado em 25/11/2014 às 23:20h MILKOVICH, George T., BOURDREAU, John W. Administração de recursos humanos. São Paulo: Atlas, 2000. REISDORFER, Miriam Cristina Triches. Atuação do enfermeiro do trabalho: uma abordagem ergonômica. In: LAZZAROTTO, Elizabeth Maria (org.). Gestão dos serviços de saúde: condições de trabalho nas organizações. Cascavel: Coluna do Saber, 2004 SELL, Ingeborg. Ergonomia e qualidade de vida no trabalho. In: VIEIRA, Sebastião Ivone.(coord.) Manual de saúde e segurança do trabalho: qualidade de vida no trabalho. 2ª edição. SãoPaulo: 2005. SIGNORINI, Mario. Qualidade de vida no trabalho e as dimensões da satisfação, do saber e do sagrado no trabalho significativo. Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2000. SPECTOR, Paul E. Psicologia nas organizações. São Paulo: Saraiva, 2005. SUCESSO, Edina de Paula Bom. Relações Interpessoais e Qualidade de Vida no Trabalho. São Paulo: Editora Qualitymark, 2002. VIEIRA, Sebastião Ivone. Introdução à segurança, higiene e medicina do trabalho. In: VIEIRA, Sebastião Ivone. (coord.) Manual de saúde e segurança do trabalho: administração e gerenciamento de serviço. São Paulo: 2005. WEBSTER, Marcelo Fontanella. Temas de segurança e higiene do trabalho. In: VIEIRA, Sebastião Ivone. (coord.) Manual de saúde e segurança do trabalho: segurança, higiene e medicina do trabalho. 3ª edição. São Paulo: 2005. ZOUAIN, Deborah Morais. Notas de aula. Rio de Janeiro: Universidade Santa Úrsula, 2003. 55 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DE SEMENTES E ARMAZENAMENTO NA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE GRÃOS PARA SEMEADURA DE SOJA Carine Kronbauer¹ Letícia Dos Santos Holbig Harter² SETREM³ ABSTRACT The successful production of a crop basically depends on the use of high quality of seeds and maintaining this characteristic between harvesting and sowing. The use of the fungal treatment can ensure good plant stand. Thus, the objective of this work was to evaluate the effect of fungal seed treatment during storage. The approach used was quantitative, laboratory and statistical procedures. The techniques were observation and analysis techniques were content analysis, standard deviation, average, Duncan 5% test, correlation and linear regression. They used seeds from the cultivar BMX Tornado RR (6863 RSF) produced and stored in Giruá. For the treatment three fungicides were used (Carboxin + Tiram, Fludioxnil + Metalaxyl - M and Carbendazim + Tiram) and control. The processing of samples in seven times (120, 90, 60, 30, 20, 10 to 0 days before sowing) was carried out and seeds analyzed immediately after treatment and at the time of sowing. The physiological quality of grains for sowing was evaluated through the germination and vigor tests as first count germination, accelerated aging, field emergence, emergence speed index, dry mass of seedlings and seedling length. There was no negative influence of antifungal treatments on seed quality during the evaluated period. In the emergency field, treatments with fungicides were better compared to the control. Physiological tests show that there is the technical viability of soybean seed storage treated with fungicide. RESUMO O sucesso da produção de uma lavoura depende, basicamente, da utilização de sementes de alta qualidade e da manutenção desta característica entre a colheita e a semeadura. A utilização do tratamento fúngico pode garantir bom estande de plantas. Com isso, o objetivo do trabalho foi de avaliar o efeito do tratamento fúngico de semente ao longo do armazenamento. A abordagem utilizada foi quantitativa, procedimentos laboratoriais e estatísticos. As técnicas de coleta foram observação e as técnicas de análise foram análise de conteúdo, desvio padrão, média, teste de Ducan 5%, correlação e regressão linear. Utilizaram-se sementes da cultivar BMX Tornado RR (6863 RSF), produzida e armazenadas em Giruá. Para o tratamento utilizou-se três fungicidas (Carboxina + Tiram, Fludioxnil + Metalaxil - M e Carbendazim + Tiram) e o controle. Realizou-se o tratamento de amostras em sete épocas (120, 90, 60, 30, 20, 10 e 0 dias antes da semeadura), sendo as sementes analisadas imediatamente após o tratamento e no momento da semeadura. A qualidade fisiológica dos grãos para semeadura foi avaliada através dos testes de germinação e testes de vigor como: primeira contagem da germinação, envelhecimento acelerado, emergência em campo, índice de velocidade de emergência, fitomassa seca de plântulas e comprimento de plântulas. Não foi verificada influência negativa dos tratamentos fúngicos sobre a qualidade da semente nas épocas estudadas. Na emergência a campo, os tratamentos com fungicidas foram melhores em relação à testemunha. Os testes fisiológicos mostraram que existe a viabilidade técnica do armazenamento de sementes de soja tratada com fungicida. Keywords: Glycine max L. Fungicides. Germination. Palavras-chave: Glycine max L. Fungicidas. Germinação. qualidade e da manutenção desta característica entre a colheita e a semeadura. 1. INTRODUÇÃO A soja (Glycine max L.) é uma commodity agrícola de importância comercial indiscutível para o Brasil. O aumento da importância da cultura no País se deve não apenas à maior área cultivada, mas ao aumento na produtividade devido ao emprego de novas tecnologias. Produzir melhor dentre os princípios da sustentabilidade é uma necessidade tanto para o produtor quanto para a pesquisa. Nos últimos anos, os avanços tecnológicos fizeram parte de mudanças ocorridas na agricultura. O teste de germinação tem sido amplamente utilizado na avaliação da qualidade de diferentes lotes de sementes. Entretanto, esse teste é realizado em condições controladas de umidade, temperatura e aeração. Dessa maneira, nem sempre uma alta porcentagem de germinação em laboratório resulta em um excelente desempenho no campo. Isso se origina na ocorrência da diversidade de condições ambientais a que as sementes estão sujeitas no campo e que podem afetar, em maior ou menor escala, o estabelecimento inicial da cultura. Desse modo, o uso de sementes de alta qualidade pode ser decisivo no sucesso do investimento, sendo, O sucesso da produção de uma lavoura depende, basicamente, da utilização de sementes de alta ¹ Engenheira Agrônoma. Egressa do curso de agronomia da SETREM. Email: [email protected] ² Engenheira Agrônoma, Drª em Ciência e Tecnologia de Sementes - Professora do curso de Agronomia – SETREM. Email: [email protected] ³ Sociedade Educacional Três de Maio – Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, e-mail: [email protected] 56 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 portanto, indispensável ao produtor (POPINIGIS, 1985). influência negativa quando a semente é tratada antecipadamente com fungicida do que quando não tratada. A aplicação do tratamento de semente no momento da semeadura permite melhores índices de germinação e vigor do que o tratamento antecipado em 120 dias. A antecipação do tratamento de semente apresenta correlação negativa com a germinação e o vigor dos grãos para semeadura. O tratamento de semente com antecedência de 120 dias pode interferir negativamente 20% na germinação e vigor das sementes pelos testes de primeira contagem e envelhecimento acelerado. O tratamento pode garantir também bom estande de plantas quando a semeadura é realizada em condições desfavoráveis de temperatura e disponibilidade hídrica. De acordo com Pereira et al. (1993 apud Krohn e Malavasi, 2004), o fungicida pode propiciar proteção às sementes, quando semeadas em condições adversas, por um período de 4 a 12 dias, dependendo do vigor das mesmas. Além do mais, o uso de substâncias químicas em sementes, antes do armazenamento, poderia ter algum efeito protetor, por eliminar patógenos, principalmente os fungos de campo e de armazenamento. A pesquisa teve abordagem quantitativa (MARCONI; LAKATOS, 2006), com procedimento laboratorial e estatístico (MARCONI; LAKATOS, 2007). Diversos autores, segundo Krohn e Malavasi (2004), demonstraram ser viável o tratamento fúngico de sementes de soja antecipado, por não ter ocorrido efeito negativo dessa prática na qualidade das sementes durante e após o armazenamento e, de modo geral, houve melhor conservação das sementes tratadas durante a armazenagem em comparação às não tratadas. No entanto, Krohn e Malavasi (2004), relatam que alguns autores não evidenciaram resposta positiva quanto à utilização desta técnica, sendo que recomendam que o tratamento seja feito imediatamente antes da semeadura. Contudo, segundo Zorato e Henning (2001), não há influência dos tratamentos fúngicos antecipados sobre a qualidade das sementes de soja (Glycine max L.). Segundo Krohn e Malavasi (2004), o teste de germinação não foi eficiente em mostra os benefícios, nem os efeitos prejudiciais causados pelo tratamento fúngico, porém o tratamento fúngico conferiu melhor emergência em campo, evidenciando a proteção às sementes. No entanto, as sementes que permaneceram tratadas por período superior a quatro meses tiveram desempenho inferior comparativamente às sementes tratadas nas demais épocas. O delineamento foi inteiramente casualizado com quatro repetições. Para análise estatística as médias foram submetidas à análise de variância e análise de regressão polinomial. Os materiais utilizados no presente estudo foram grãos de soja para semeadura e fungicidas. Quanto aos grãos para semeadura de soja foram utilizados do cultivar BMX Tornado RR (6863 RSF), produzidos na safra 2013/2014 nas condições edafoclimáticas do município de Giruá. A amostra foi subdividida, sendo que as sementes receberam os diferentes tratamentos fúngicos em diferentes épocas: 120, 90, 60, 30, 20, 10 e 0 dias antes da semeadura, que foi realizada em 15 de outubro. O tratamento com fungicida constituiu-se da aplicação de três fungicidas (Carboxina + Tiram; Carbendazim + Tiram e Fludioxonil + Metalaxyl - M). Para aplicação dos diferentes produtos as sementes foram acondicionadas em sacos plásticos em que foram adicionados os fungicidas e agitou-se até a distribuição uniforme sobre a mesma. A testemunha (controle) constituiu-se de sementes sem tratamento. Após o tratamento, as sementes foram acondicionadas em sacos de papel kraft. Todas as amostras foram armazenadas em temperatura ambiente. Dessa forma, como o assunto não foi considerado como totalmente esclarecido, o presente estudo objetivou comparar a influência do tratamento de sementes durante o armazenamento, na qualidade fisiológica de grão para semeadura de soja (Glycine max L). 2. DESENVOLVIMENTO As análises da qualidade fisiológica ocorreram imediatamente após as sementes receberem o tratamento e no momento da semeadura. As sementes tratadas no mês de junho foram analisadas em todas as épocas de tratamento com o objetivo de avaliar a redução da qualidade fisiológica ao longo do armazenamento. 2.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS Neste estudo foi avaliada a influência do tratamento de semente e armazenagem na qualidade fisiológica de grão para semeadura de soja, avaliada pelos testes de qualidade fisiológica em laboratório de análise de sementes e no campo no período de junho a outubro de 2014. As análises foram realizadas no Laboratório de Análise de Sementes da SETREM, localizado no município de Três de Maio e a campo no município de Giruá, estado do Rio Grande do Sul. A qualidade das sementes será avaliada através dos seguintes testes. Germinação: o teste de germinação, segundo Peske et al. (2012), tem como objetivo determinar o potencial máximo de germinação de um lote de sementes. O teste foi conduzido de forma adaptada com as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009), com 200 sementes, distribuídas em quatro rolos de 50 sementes, sendo realizadas quatro repetições de cada tratamento, totalizando 16 rolos por tratamento, utilizando como substrato o papel germitest, umedecido em água na proporção de 3 vezes o peso do papel e colocadas em O problema que foi estudado durante a pesquisa é que a aplicação de fungicida como tratamento de sementes ao longo do armazenamento apresenta resposta positiva na qualidade fisiológica dos grãos para semeadura de soja? Em busca de solucionar tal problema apontaramse as seguintes hipóteses: A germinação sofre menos 57 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 temperatura constante de 25 °C. A avaliação foi realizada no quinto e no oitavo dia após a semeadura. emergência, de acordo com a fórmula proposta por Maguire (1962). Primeira contagem: o teste de primeira contagem, segundo Peske et al. (2012), tem como objetivo identificar a percentagem de plântulas normais, sendo elas mais vigorosas. É um teste de vigor. Este teste foi realizado em conjunto com o teste de germinação, sendo no quinto dia realizada a avaliação da porcentagem de plântulas normais. Fitomassa seca: segundo Nakagawa (1999), este teste tem como objetivo determinar o vigor relativo do lote de sementes, avaliando o peso médio da matéria seca de plântulas normais provenientes de sementes que foram colocadas para germinar. A mensuração se efetuou após a avaliação das plântulas emergidas, avaliadas no 10º dia após a semeadura, obtidas a partir do teste de emergência no campo. As repetições de cada lote foram acondicionadas em saco de papel kraft, identificados e levados à estufa com circulação de ar forçada, mantidas à temperatura de 72 °C até peso constante, aproximadamente 48 horas. Após este período, a cada repetição obteve-se fitomassa avaliada em balança com precisão de 0,0001g. Envelhecimento acelerado: objetivo do teste, segundo Marcos Filho (1999), é a identificação precisa de “diferenças importantes” na qualidade fisiológica dos lotes. Pretende-se distinguir, com segurança, lotes com maior ou menor probabilidade de apresentar bom desempenho após a semeadura e/ou durante o armazenamento, sendo que este teste fornece um parâmetro de qualidade fisiológica mais sensível que o teste de germinação. O teste de vigor foi conduzido com quatro amostras de 200 sementes para cada tratamento, colocadas em recipientes de plástico (caixa de gerbox) contendo 40 mL de água destilada. As 200 sementes de soja foram distribuídas em camada uniforme e única sobre a tela que isola as mesmas do contato com a água. Tampadas, em seu interior foi colocado papel mata borrão para reter a água “suada”. Sendo assim, as caixas foram acondicionadas e mantidas em câmara de envelhecimento, a 41 °C e 100% U.R., durante 48 horas. Vencido este período, as sementes foram colocadas para germinar, de acordo com a descrição já efetuada para o teste de germinação. A interpretação foi efetuada aos cinco dias após a semeadura, computando-se as percentagens de plântulas normais, anormais, sementes duras e mortas e o resultado expresso em porcentagens de plântulas normais. Procedimento estatístico: o experimento foi conduzido com delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. Para análise estatística as médias foram submetidas à análise de variância e análise de regressão polinomial. 2.2. REFERENCIAL TEÓRICO A análise de sementes, segundo Peske et al. (2012), diz respeito ao conjunto de procedimentos técnicos utilizados para realizar a avaliação da identidade e a qualidade de uma amostra representativa de um lote de sementes, sendo que a qualidade representa o conjunto de atributos de natureza genética, fisiológica, física e sanitária das sementes. O destino final das sementes é o campo e, portanto, o estabelecimento do estande constitui prioridade para o produtor rural. A emergência das plântulas em campo depende diretamente das condições do ambiente e, como estas não são controláveis, a avaliação do potencial fisiológico das sementes deve ser efetuada com tal eficiência que permita identificar, de maneira consistente, os lotes que apresentem maior probabilidade de se estabelecer adequadamente em campo e proporcionar o retorno esperado (MARCOS FILHO, 2005). Emergência em campo: o teste de emergência a campo tem como objetivo avaliar o vigor relativo entre lotes, bem como a capacidade das sementes de produzirem plantas a campo (PESKE et al., 2012). Foi realizada em quinze de outubro, dentro da época recomendada para semeadura da cultura, na região Noroeste do Rio Grande do Sul, utilizando 200 sementes por tratamento, distribuídas em quatro repetições de 50, semeadas em sulcos de 2,00 m de comprimento, com espaçamento de 0,50 m entre linhas e a uma profundidade aproximada de 0,03 m. No décimo dia após a semeadura foram computadas as plântulas emergidas com tamanho superior a 5 mm. Os resultados da avaliação do potencial fisiológico obtidos em laboratório são mais facilmente reproduzidos quando o ambiente, pré e pós-semeadura, é favorável ao estabelecimento das plântulas. São vários procedimentos que podem ser realizados para determinação do potencial fisiológico de sementes de plantas cultivadas (MARCOS FILHO, 2005), dentre eles testes de germinação e vigor. Índice de velocidade de emergência: segundo Nakagawa (1999), este teste tem como objetivo determinar o vigor relativo do lote, avaliando a velocidade de germinação de sementes da amostra, em condições de campo. Para este teste foram utilizando 200 sementes para cada unidade experimental, divididas em quatro subamostras de 50. A semeadura foi realizada conjuntamente ao teste de emergência a campo. Observações diárias foram realizadas a partir do dia em que a primeira plântula emergiu, contando-se o número de plântulas em cada linha, até que esse número permaneceu constante. O índice de velocidade de emergência foi determinado pelo somatório do número de plântulas normais emergidas diariamente, dividido pelo número de dias decorridos entre a semeadura e a Germinação de sementes é a emergência da plântula e suas estruturas essenciais do embrião (sistema radicular, o coleóptilo e a parte aérea). Em laboratório é a emergência da plântula e estruturas, de forma que se possa ter um bom desenvolvimento da planta no campo em condições favoráveis (MACEDO et al., 2014). O objetivo do teste de germinação é determinar o potencial máximo de germinação de um lote de sementes, o qual pode ser usado para comparar a qualidade de diferentes lotes e estimar o valor da semente para a semeadura a campo (PESKE et al., 2012). 58 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 O termo vigor, é empregado para sementes que engloba as características que determinam o potencial para emergência e desenvolvimento rápido e uniforme de plântulas normais, sob diferentes variações das condições de campo; sendo assim, este conceito enfatiza o potencial de desempenho das sementes sob diversas condições ambientais, permitindo diferencia o vigor do processo de germinação das plântulas (KRZYZANOWSKI et al.,1999). Tabela 1: Teste de germinação (%) de grãos para semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no momento da semeadura Segundo Marcos Filho et al. (2009), os testes de vigor em sementes são utilizados com o principal objetivo de identificar diferenças associadas ao desempenho de lotes de sementes durante o armazenamento ou após a semeadura, procurando destacar lotes com maior eficiência para o estabelecimento do estante sob variações das condições de ambiente. ¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância. Observando os dados da Tabela 01, constata-se que os grãos para semeadura tratados com Carbendazim + Tiram apenas apresentaram diferença estatística significativa entre a época 60 e 30 dias antes da semeadura. Já para o produto Fludioxnil + Metalaxil – M os grãos que receberam tratamento aos 120 dias antes da semeadura diferenciaram-se das demais épocas. Os grãos para semeadura que foram tratadas com Carboxina + Tiram apresentaram diferença significativa entre a época 0 e as épocas de 30 aos 120 dias. As sementes devem ser armazenadas desde a colheita até a época de semeadura na temporada seguinte. Considerando que, ao serem colhidas, as sementes são desligadas da planta-mãe, que até esse momento era seu ambiente, passa a ser responsabilidade do homem a conservação das mesmas nas melhores condições (PESKE et al., 2012). Quando se analisa o efeito dos diferentes tratamentos em cada época (Tabela 01), constata-se que aos 120 dias o produto Carbendazim + Tiram não se diferenciou do controle; no entanto, ambos foram estatisticamente diferentes dos resultados obtidos com os produtos Fludioxnil + Metalaxil – M e Carboxina + Tiram, os quais também não apresentaram diferença estatística entre si. O tratamento de sementes pode ser entendido, de maneira genérica, como qualquer operação que envolva as sementes, seja pelo manejo ou incorporação de produtos biológicos ou químicos à sua superfície ou interior ou utilização de agentes físicos, visando à melhoria ou garantia do seu desempenho em condições de cultivo (MACHADO, 1999). Nos tratamentos realizados 90 e 60 dias antes da semeadura apenas os grãos tratados com Carboxina + Tiram diferenciaram-se dos demais. Aos 30 dias os resultados obtidos constatam diferença entre os grãos tratados com Carboxina + Tiram em relação ao controle e ao produto Fludioxnil + Metalaxil – M (Tabela 01). O tratamento de sementes é uma técnica que tem por objetivo assegurar a qualidade sanitária das sementes, através da aplicação de produtos químicos eficientes para controlar fitopatógenos, principalmente fungos associados às sementes ou presentes no solo, além de atuar contra o ataque de pragas especificas do solo, protegendo as plântulas durante o processo germinativo e de emergência (ABATI et al., 2013). De acordo com a Tabela 01, não se constatou efeito negativo de dois dos tratamentos fúngicos anteriores ao armazenamento, pois na maioria das épocas a testemunha (sem tratamento) e as sementes tratadas apresentaram o mesmo desempenho. As sementes tratadas a partir de 20 dias antes da semeadura, independente do tratamento fúngico, não se diferenciaram do controle, tão pouco houve diferença entre os tratamentos. Tais resultados são semelhantes com os obtidos por Zorato e Henning (2001), Costa et al. (1980) e Henning e Zorato (1997) que não verificaram influência do tratamento fungicida na germinação de sementes tratadas e não tratadas, durante e após cinco meses de armazenagem. Segundo Henning et al. (2010), o fungicida para tratamento de semente, além de controlar patógenos importantes transmitidos pela semente, é uma prática eficiente para assegurar população adequada de plantas, quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura não forem favoráveis. 2.3 RESULTADOS Com relação ao armazenamento de sementes tratadas com fungicidas, o principal aspecto a ser abordado e até que ponto pode haver efeito prejudicial do fungicida na qualidade fisiológica das sementes durante o período de armazenamento. Na avaliação do vigor pelo teste de primeira contagem de germinação (Tabela 02), pode-se observar que ocorreu um aumento significativo entre as diferentes épocas de tratamento, sendo que de modo geral os melhores resultados foram quando as sementes foram tratadas no momento da semeadura. Determinou-se a porcentagem de germinação nos grãos para semeadura de soja em que se verificou que a variação entre os tratamentos foi baixa, tanto para sementes tratadas com as não tratadas ao longo do armazenamento (Tabela 01). Para o teste de primeira contagem (Tabela 02), observou-se que os grãos tratados com Carbendazim + Tiram não apresentaram diferença entre as épocas 10, 30, 60 e 120 dias. No entanto, os grãos que receberam tratamento com Fludioxnil + Metalaxil – M não 59 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 apresentaram diferença estatística entre as épocas 0 até 60 dias antes da semeadura e as tratadas com Carboxina + Tiram não apresentaram diferença a partir de 30 dias de tratamento anterior à semeadura. Independentemente do tratamento fúngico utilizado, a testemunha foi superior ou igualou-se aos resultados obtidos. Na última época de tratamento não houve diferença entre os tratamentos. Nos resultados de emergência em campo, observados na Tabela 04, foram evidenciados os benefícios do tratamento de sementes, em que na maioria das sementes tratadas apresentam desempenho superior ao controle, sendo que para Zorato e Henning (2001) ocorreu da mesma forma em que as sementes tratadas apresentam um desempenho superior. Os autores afirmam ainda que essa influência favorável dos tratamentos fungicidas demostram que houve eficiência quanto à proteção das sementes no solo, indiferentes às épocas na maioria dos tratamentos. Tabela 2: Teste de primeira contagem da germinação (%) de grãos para semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no momento da semeadura Tabela 4: Teste de emergência a campo (%) de grãos para semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no momento da semeadura ¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância. No teste de envelhecimento acelerado (Tabela 03), que foi utilizado para estimar o vigor das sementes e seu potencial de armazenamento foram percebidas diferenças estatísticas mais frequentes entre as épocas de tratamento nos diferentes produtos. O teste de envelhecimento acelerado pode indicar alterações na qualidade das sementes com o tempo de armazenamento (PESKE et al., 2012), o que foi constatado neste estudo. ¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância. Em resultados evidenciados por Krohn et al. (2004), atribui que na maioria das vezes sementes tratadas apresentam desempenho superior à testemunha, sendo que este dado está evidente na Tabela 04, a qual demonstra que os grãos para semeadura tratadas com fungicidas se destacaram das não tratadas. Os resultados obtidos no teste de envelhecimento acelerado (Tabela 03) os grãos tratados com Carbendazim + Tiram apresentaram diferença entre as épocas 10, 30, 90 e 120 dias. Nos grãos tratados com Fludioxnil + Metalaxil – M apenas diferenciou-se os resultados de 60 e 0 dias antes da semeadura, enquanto que os tratados com Carboxina + Tiram não apresentaram diferença a partir de 20 dias antes da semeadura. Marcos Filho e Souza (1983) verificaram que o tratamento fungicida, antes do início do período de armazenamento, beneficiar a conservação do vigor. No teste de emergência a campo os grãos tratados com Carboxina + Tiram não apresentaram diferença estatística independente das épocas em que receberam o tratamento fúngico. A velocidade de emergência, segundo Krzyzanowski et al. (1999), é um dos conceitos mais antigos de vigor de sementes. Este método se baseia no princípio do que apresentar maior velocidade de germinação de sementes são as mais vigorosas, pois o índice calculado estima o número médio de plântulas normais por dia. Tabela 3: Teste de envelhecimento acelerado (%) de grãos para semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no momento da semeadura Nos resultados referentes ao índice de velocidade de emergência -IVE (Tabela 05), pode-se observar que não ocorreu aumento significativo no IVE das sementes que receberam o tratamento com fungicida; no entanto, comparado com sementes que não foram tratadas com fungicida, houve diferença. Tabela 5: Teste de índice de velocidade de emergência de grãos para semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no momento da semeadura ¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância. Quando se compara dentro de cada época de tratamento no teste de envelhecimento acelerado (Tabela 3), constata-se que aos 30 dias antes da semeadura todos os tratamentos se diferenciaram. Na época 20 e 10 os resultados permitiram agrupar em dois grupos os tratados com Carbendazim + Tiram e Fludioxnil + Metalaxil – M que não diferenciaram entre si e diferenciaram-se do Carboxina + Tiram e do Controle, os quais também não se diferenciaram entre si. ¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância Os grãos tratados com Carbendazim + Tiram 60 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 (Tabela 05) apenas os tratados no momento da semeadura se diferenciaram das demais épocas e também houve diferença entre 30 e 60 dias antes da semeadura na avaliação do índice de velocidade emergência. Nos grãos tratados com Fludioxnil + Metalaxil – M houve diferenciação nos resultados obtidos na época 120 e 0 dias antes da semeadura. Tabela 7: Determinação do comprimento de plântula seca de grãos para semeadura tratados e armazenados, analisados no momento da semeadura Na avaliação dentro de cada época, para o índice de velocidade de emergência (Tabela 5), observa-se que na época 0 não houve diferenças entre os tratados e na 10 os tratamentos Carbendazim + Tiram e Fludioxnil + Metalaxil – M diferenciaram-se do controle. ¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância. Nos testes de comprimento de plântulas e fitomassa seca de plântula segundo Krzyzanowski et al. (1999), o objetivo principal é estimar o vigor relativo do lote de sementes. No teste de fitomassa seca de plântula (Tabela 06) os resultados indicam que os valores sofreram pequenas variações entre as épocas, sendo que entre os tratamentos fúngicos também sofreram pequenas variações, apresentando o Fludioxnil + Metalaxil – M com os maiores pesos de fitomassa seca independente da época, tendo uma variação maior quando comparando com os grãos para semeadura sem fungicida. A qualidade fisiológica avaliada pelo teste de germinação (Figura 01) mostra que a semente não tratada e a semente tratada com Fludioxnil + Metalaxil apresentaram uma qualidade inicial inferior à qualidade final; já com a utilização do tratamento Carboxina + Tiram e Carbendazim + Tiram, apresentaram a qualidade fisiológica inicial maior e tendo a perda gradual de sua qualidade que é o que acontece naturalmente com as sementes, pois, de acordo com Delouche (2002), a deterioração é um processo irreversível e começa depois que a semente alcança a maturidade fisiológica, a qual apresenta deterioração zero e continua até ela perder sua capacidade de germinar, ou seja, com a sua morte. Tabela 6: Determinação da fitomassa seca de grãos para semeadura tratados e armazenados, analisadas no momento da semeadura Figura 1: Análise de regressão linear com o teste de germinação ¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância. Na expressão vigor através da mensuração da fitomassa seca (Tabela 6), constata-se que os grãos que receberam tratamento fúngico Carbendazim + Tiram aos 20 dias anteriores à semeadura foi os que apresentaram melhores resultados, já os que foram tratados aos 120 dias observou-se os piores resultados. Nos grãos tratados com Fludioxnil + Metalaxil – M apenas houve diferenciação entre as épocas 60 e 10 dias antes da semeadura. Já os tratados com Carboxina + Tiram a época que apresentou melhores resultados foram os grãos tratados no momento da semeadura. Os resultados referentes à primeira contagem da germinação (Figura 02) na análise de regressão linear mostrou que quanto maior o tempo de armazenagem dos grãos para semeadura tratadas com fungicida maior a queda da percentagem de vigor no teste de primeira contagem, pois as sementes que não foram tratadas permaneceram em um equilíbrio sem grandes variações no teste, pode-se dizer que, quando há um tratamento das sementes há um aumento na queda do vigor, sendo que esse processo de perda de vigor e germinação é natural. De acordo com os dados da Tabela 07 constatase que o tratamento com Fludioxnil + Metalaxil – M os grãos tratados com mais de 30 dias anterior à semeadura apresentaram redução na expressão do vigor pelo teste de comprimento de plântulas. Os resultados referentes ao teste de envelhecimento acelerado (Figura 3) na análise de regressão linear mostrou que os dados foram semelhantes com os dados de primeira contagem, mas houve queda mais acentuada do vigor no envelhecimento acelerado, devido ao fato de que na condução de tal metodologia as sementes são submetidas a condições de estresse por alta temperatura e alta umidade, sendo que a redução foi significativa tanto para as sementes tratadas como para as que não são tratadas. Sabe-se que há uma perda natural do vigor e da germinação, mas quando a semente sofre um stress há um aumento maior na perda de vigor e germinação. Já os grãos para semeadura tratados com Carboxina + Tiram, quando tratados 120 dias antes da semeadura, sofreram redução na expressão do vigor pelo teste de comprimento de plântula (Tabela 7) . Grãos para semeadura tratados com Fludioxnil + Metalaxil – M e com Carboxina + Tiram apresentaram maior comprimento de plântulas do que os tratados com Carbendazim + Tiram e o tratamento controle (Tabela 07) nas diferentes épocas de tratamento. 61 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 O teste de envelhecimento acelerado avalia resposta das sementes às condições de temperatura umidade relativa elevada, pois tem como princípio aceleração do processo de deterioração (ROSSETTO MARCOS FILHO, 1995). a e a e Com estas informações de Villela e Menezes (2009), pode-se dizer que os resultados encontrados estão de acordo. E, segundo Goulart et al. (1999), que comprovaram redução da qualidade fisiológica de sementes tratadas com carbendazin isolado e armazenado por período superior a 60 dias. E quando o fungicida é misturado com outros princípios ativos, o efeito fitotóxico reduziu significativamente. Figura 2: Análise de regressão linear com o teste de primeira contagem da germinação No teste de germinação, realizando a análise inicial e final, pode-se observar que houve pequenas variações em algumas épocas, não havendo diferenciação, sendo que para os grãos para semeadura não tratada não houve diferenciação (Tabela 8). Tabela 8: Teste de germinação, primeira contagem e envelhecimento acelerado (%) de grãos para semeadura, tratados e armazenados com fungicidas em diferentes épocas Figura 3: Análise de regressão linear com o teste envelhecimento acelerado ² Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem pelo teste de Duncan a 5% de significância. ² QI qualidade inicial e QF qualidade final. No teste de primeira contagem da germinação houve diferenciação tendo queda de vigor acentuada quanto à antecipação do tratamento, sendo que os dados apontam que o período ideal para o tratamento para não haver perda de vigor seria de no máximo 10 dias antes da semeadura a campo. E nos dados dos grãos para semeadura sem tratamento não houve diferenciação entre a qualidade inicial e final (Tabela 8). Segundo Villela e Menezes (2009), durante o armazenamento, a deterioração das sementes não pode ser impedida; entretanto, a velocidade do processo pode ser minimizada por procedimentos adequados de produção, colheita, secagem, beneficiamento, transporte e armazenamento. O processo de deterioração em sementes compreende uma sequência de alterações bioquímicas e fisiológicas iniciadas logo após a maturidade fisiológica, que acarretam redução de vigor, culminando na perda da capacidade de germinação. No teste de envelhecimento acelerado (Tabela 8), comparando-se a qualidade inicial e final, constata-se que os grãos tratados com Fludioxnil + Metalaxil - M não apresentaram diferenças em todas as épocas. Na matriz de correlação (Tabela 9) pode-se perceber que os valores apresentados não têm uma correlação forte, devido a valores apresentados serem menores que 0,70. Contudo, pode-se dizer que as diferentes datas de tratamento não possuem correlação com os valores dos testes em análise. As sementes de soja apresentam longevidade superior a 10 anos, se forem armazenadas sob condições ideais. Entretanto, acondicionadas em embalagens permeáveis e mantidas em condições de ambiente de armazém, por exemplo, sob temperatura ambiental média de 20 a 25°C e umidade relativa do ar de 65 a 70%, mantêm a germinação por um período de entressafra de 6 a 8 meses, embora reduções marcantes de vigor possam ser constatadas. Todavia, armazenadas em condições climáticas mais adversas sofrem diminuição mais acentuada de qualidade fisiológica, podendo apresentar germinação inferior a 80%, ao final de 60 a 90 dias, tornando-se impróprias para a semeadura. Deve-se considerar ainda o fato de o vigor declinar antecipadamente (VILLELA e MENEZES, 2009). 62 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Tabela 9: Matriz de correlação de grãos para semeadura contagem de germinação nas sementes tratadas 120 dias antes das sementes comparando com as sementes tratadas no momento da semeadura; confirmando a hipótese de redução de 20% no vigor. Este trabalho, a exemplo de outros realizados anteriormente, mostrou que existe a viabilidade técnica do tratamento das sementes para posterior armazenamento, sem prejuízo da qualidade fisiológica. O tratamento fungicida conferiu melhor emergência em campo, evidenciando a proteção às sementes e aos fungos presentes no solo. Existe a viabilidade técnica do armazenamento de sementes de soja tratadas com fungicidas para posterior utilização, não havendo efeito negativo dessa prática sobre a qualidade das sementes durante e após o armazenamento. Entretanto, a adoção dessa prática requer precaução, uma vez que os lotes tratados são impróprios para o consumo e comercialização. 3. CONCLUSÃO A indagação de que o mercado de sementes no Brasil é garantido ou não, não questiona a conveniência de se tratar ou não as sementes de soja. Admite-se que o tratamento seja feito efetivamente. O que se questiona tanto é qual o momento em que deve ser feito. REFERÊNCIAS Com todos os levantamentos de dados realizados através de vários testes, pode-se dizer que a hipótese de que “a geminação sofre menos influência negativa quando a semente é tratada antecipadamente com fungicida do que quando não tratada” não foi confirmada, sendo que no teste de germinação independentemente da época e se foi tratado ou não tratado não apresentou diferença estatística, pois os resultados apontaram que sementes tratadas com 20 dias de antecedência da semeadura não apresentaram diferença entre os tratamentos e controle. ABATI, Julia, BRZEZINSKI, Cristian Rafael, HENNING, Ademir Assis. 2013. Semente tratada. Revista Cultivar: Grandes Culturas. Vol.15, n.173. Pelotas. Out. pp.30-32. ISSN: 1516/358X BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 2009. Regras para análise de sementes. Brasília: MAPA/DAS/ACS. COSTA, Nilton Pereira da; FRANÇA NETO, José de Barros; GILIOLI, João Luiz; ALMEIDA, Álvaro Manuel Rodrigues. 1980. Efeito do tratamento de sementes de soja com fungicidas sobre qualidade, durante a armazenagem. In: Resultados de pesquisa de soja 1979/80. Londrina: EMBRAPA-CNPSo. Referente à germinação e vigor, a hipótese diz “a aplicação do tratamento de semente no momento da semeadura permite melhores índices de germinação e vigor do que o tratamento antecipado de 120 dias” a hipótese confirma-se, sendo que no teste de germinação as sementes tratadas no momento da semeadura apresentaram índices superiores em relação às tratadas antecipadamente em 120 dias. Enquanto que a expressão do vigor, avaliado pelos testes de primeira contagem de germinação, teste de envelhecimento acelerado e comprimento de plântula também confirmam a hipótese. DELOUCHE, James C. 2002. Deterioração de sementes. SEED News. Ano VI, n.6. Pelotas: Becker & Peske Ltda. Nov/Dez. pp 24-31. ISSN1415/0387 FRANÇA NETO, José Barros; KRYZANOWSKI, Francisco Carlos.; COSTA, Nilton Pereira da. 1998. O teste de tetrazólio em sementes de soja. Documentos 116. Londrina: EMBRAPA CNPSo. Mai. pp 1-72. ISSN: 0101/5494. A hipótese: “a antecipação do tratamento de semente apresenta correlação negativa com a germinação e o vigor dos grãos para semeadura” não se confirmou, pois os dados apresentados geraram tanto valores negativos como positivos, sem apresentar nenhuma correlação efetiva. GOULART, Augusto César Pereira; FIALHO, Werlaine Fátima Basso; FUJINO, Marco Tadao. 1999. Viabilidade técnica do tratamento de sementes de soja com fungicidas antes do armazenamento. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste. ISSN 1517/0322 A hipótese traçada de que “o tratamento de semente com antecedência de 120 dias pode interferir negativamente 20% na germinação e no vigor da semente”, confirmou parcialmente, pois no teste de germinação as sementes tratadas com antecedência de 120 dias apresentaram germinação 13% inferior em relação às sementes tratadas no momento da semeadura; sendo assim, não confirmando a hipótese. Quanto ao vigor, houve reduções de até 66% no teste de envelhecimento acelerado e 39% no teste de primeira HENNING, Ademir Amaral; FRANÇA-NETO, José Barros; KRZYANOWSKI, Francisco Carlos; LORINI, Irineu. 2010. Importância do tratamento de sementes de soja com fungicida na safra 2010/2011, ano de “La Niña”. Circular técnica 82. Londrina: Embrapa Soja. Out. pp1-8. ISSN 2176/2864 HENNING, Ademir Amaral; ZORATO, Maria Fátima. 1997. Efeito do tratamento de sementes de soja com fungicidas antes do armazenamento. Informativo 63 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 ABRATES. Vol.7,n.1/2. Curitiba: ABRATES. p.160.ISSN 0103/667X VILLELA, Francisco Amaral; MENEZES, Nilson Lemos de. 2009. Potencial de armazenamento de cada semente. Seed News. Vol. XIII, n. 4. Pelotas: Becker & Peske Ltda. Jul/Ago. ISSN1415/0387. MACEDO, Deivielison Ximenes S.; SANTOS, Viviane Castro dos; VIEIRA, Juliana Matos; CAVALHO, Jefferson Autelino D.; ALBIERO, Daniel; MACEDO JUNIOR, José Siqueira. 2014. Teste de Germinação. Revista Cultivar: Grandes Culturas. Vol. 15, n.177. Pelotas: Grupo cultivar. pp. 14-15. ISSN 1516 358X ZORATO, Maria Fátima; HENNING, Ademir Amaral. 2001. Influência de tratamentos fungicidas antecipados, aplicados em diferentes épocas de armazenamento, sobre a qualidade de sementes de soja. Revista Brasileira de Sementes. Vol 23, n.2. Londrina: ABRATES. pp.236-244. MACHADO, José da Cruz. 1999. Tratamento de sementes no controle de patógenos. Lavras: UFLA/FAEPE. MAGUIRE, J. D. 1962. Speed of germination-aid in selection and evaluation for seedlig emergence and vigor. Crop Science. Vol 2, n.1.Madison.Jan/Fev. pp 176177 ISSN: 0011-183X MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. 2006. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisa; amostragem e técnicas de pesquisa; elaboração, análise e interpretação de dados. São Paulo: Atlas. ISBN 8522442509. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. 2007. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas. ISBN 9788522448784 MARCOS FILHO, Júlio. 2005. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Piracicaba: FEALQ. ISBN 8571330387 MARCOS FILHO, Júlio. Teste de envelhecimento acelerado. 1999. In: KRZYZANOWSKI, Francisco Carlos; VIEIRA, Roberval Daiton; FRANÇA NETO, José de Barros (ed). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: Abrates. MARCOS FILHO, Júlio; KIKUTI, Ana Lúcia Pereira; LIMA, Liana Batista. 2009. Métodos para avaliação do vigor de sementes de soja, incluindo a análise computadorizada de imagens. Revista Brasileira de Sementes. Vol. 31, n.1. Londrina: ABRATES. pp.102-112. NAKAGAWA, João. Teste de vigor baseado o desempenho das plântulas. 1999 In: KRZYZANOWSKI, Francisco Carlos; VIEIRA, Roberval Daiton; FRANÇA NETO, José de Barros (ed). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: Abrates. PESKE, Silmar Teichert; VILLELA, Francisco Amaral; MENEGHELLO, Géri Eduardo. 2012. Sementes: fundamentos científicos e tecnológicos. Pelotas: Universitária/UFPel. ISBN 9788571928312. POPINIGIS, Flávio. 1985. Fisiologia da semente. Brasília: Agiplan. ROSSETTO, Claudia Antônia Vieira; MARCOS FILHO, Júlio. 1995. Comparação entre os métodos de envelhecimento acelerado e de deterioração controlada para avaliação da qualidade fisiológica de sementes de soja. Scientia Agricola. Vol.52, n.1. Piracicaba: Esalq. Jan/Abr. pp. 123-131. ISSN 0103-9016. 64 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 A GESTÃO DE DESIGN NA INDÚSTRIA DA MODA: REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO EM EMPRESAS DE CONFECÇÃO NA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL Vanessa Marin¹ Dieter Rugard Siedenberg² ABSTRACT This research searched to understand how the fashion design management can contribute to the development and innovation of the clothing companies of the North West region of Rio Grande do Sul. It is about an applied research whose data were interpreted in a qualitative way through primary and secondary data, bibliographic research, observation, photographic records and interviews with the help of a questionnaire, applied to the research individuals (entrepreneurs) coming from the sample universe. The data were collected in seven clothing companies in six cities in the region (sample universe of this research) analyzing the design management and innovation, as well as the participation of these companies in the development process. It was observed that the companies have a lot of difficulties in managing the design process, mainly in the initial stage of research and development of new products, due to the lack of skilled labor and the little stimulus to the design. The negative aspects evidence many aspects to be improved and it is suggested to the companies that they prepare themselves by learning and openness to change. It is concluded that it is necessary to discuss ways of management appropriate to the new competitive standards promoting the improvement of the processes that involve innovation and design, participating more actively in the development as a whole. Thus, education through design can be achieved through the intervention of educational institutions, research and extension, compatible with the characteristics of local context, and this process may begin by academic research. RESUMO Esta pesquisa buscou compreender como a gestão de design de moda pode contribuir para o desenvolvimento e para a inovação das empresas de confecção da região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma pesquisa aplicada, cujos dados foram interpretados de forma qualitativa, através de dados primários e secundários, pesquisa bibliográfica, observação, registro fotográfico e entrevista com o auxílio de um questionário, aplicado aos sujeitos da pesquisa (empresários) oriundos do universo amostral. Realizou-se a coleta de dados em sete empresas de confecção de seis cidades da região (universo amostral desta pesquisa) analisando-se a gestão de design e a de inovação, bem como a participação destas empresas no processo de desenvolvimento. Observou-se que as empresas têm muitas dificuldades em gerenciar o processo de design, principalmente no estágio inicial de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, devido à falta de mão de obra qualificada e pelo pouco estímulo ao design. Os pontos negativos evidenciam muitos aspectos a serem melhorados e se sugere às empresas que se preparem por meio do aprendizado e da abertura à mudança. Conclui-se que é necessário que se discutam formas de gestão apropriadas aos novos padrões de competitividade promovendo a melhoria dos processos que envolvem inovação e design, participando mais ativamente do desenvolvimento como um todo. Assim, a educação através do design pode se dar por meio da intervenção de instituições de ensino, pesquisa e extensão, compatíveis com as particularidades do contexto local, sendo que tal processo pode se iniciar através da pesquisa acadêmica. Keywords: Development. Fashion. Design Management. Palavras-chave: Desenvolvimento. Moda. Gestão de Design. 1. INTRODUÇÃO sociológico da moda, desenvolvendo nações e regiões através da exploração econômica de sua estética cultural em produtos de vestuário manufaturados pelas empresas de confecção. Este estudo busca oferecer uma análise mais aprofundada sobre este setor da sociedade e da economia, ou seja, como a prática da gestão de design reflete a cultura e pode contribuir para o desenvolvimento através de uma gestão empresarial que valorize os profissionais envolvidos neste sistema. O design de moda é uma área do conhecimento das Ciências Sociais Aplicadas e consagra-se atualmente como um negócio em expansão, deixando de ser sinônimo de glamour ou futilidade, considerado um fenômeno social de grande importância econômica, conforme Mendonça et alii (2013). Lipovetsky (1989) expõe que é preciso inquietar a investigação desta grande instituição essencialmente estruturada pelo efêmero e pela fantasia estética ocidental. Observa-se, nesse sentido, que a industrialização da moda participa do progresso da produção capitalista, proporcionando a estrutura para o desenvolvimento do sistema da moda, ou seja, sem essa base econômica a moda não seria possível. Pode-se afirmar, dessa maneira, que o design acoplou a lógica industrial capitalista ao fenômeno Embora esteja vastamente espalhada pelas diversas regiões do Brasil, a cadeia produtiva da moda ainda precisa promover políticas de desenvolvimento industrial, tratando-se o design de moda uma área que ainda não desenvolveu estudos específicos suficientes para cada segmento e região brasileira (MENDONÇA et alii, 2013). ¹ Professora da Faculdade de Design de Moda da SETREM; [email protected] ² Coordenador do Programa de Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUÍ; [email protected] 65 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Existe, atualmente, uma significativa carência do profissional (designer de moda) no mercado. De acordo com a ABDI (2009) 75% das empresas de vestuário e 32,5% das têxteis carecem de mão de obra qualificada. Da mesma forma, há pouco estímulo dos empresários em desenvolver uma gestão de design adequada à realidade local (MARIN, HETTWER E MARTINELLI, 2012), diminuindo ainda mais o número de criações autênticas e criativas e aumentando, por consequência, a prática da cópia e imitação de produtos de marcas já consagradas. A relevância desta pesquisa está em se levantar uma oportunidade de estudo a partir de um problema encontrado nas micro e pequenas empresas do setor de confecção de moda, especialmente aquelas que se encontram no interior, uma vez que ainda estão em um estágio menos avançado de gestão de design. A estruturação de uma gestão empresarial voltada ao design facilita o entendimento e a comunicação de estratégias, objetivos e ações que levem ao desenvolvimento. É essencial que esse desenvolvimento chegue até as pequenas empresas de confecção, tornando-as aptas a enfrentarem a concorrência e as constantes mudanças que se apresentam no cenário da moda. A principal problemática encontrada está na ausência de pesquisa em moda, na falta de inovação, gestão e estruturação de metodologias adequadas para cada segmento, tendo em vista a grande pluralidade de mercados, especialmente na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, em que se encontram indústrias de confecção nos segmentos de roupa íntima, moda festa, uniformes, fitness, camisaria, etc., cada qual com suas especificidades. Assim, o problema da pesquisa em questão é: de que maneira a gestão de design de moda pode contribuir para o desenvolvimento e a inovação das empresas de confecção da região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul? 2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA 2.1 METODOLOGIA ADOTADA Esta pesquisa buscou a compreensão da gestão de design que as empresas de confecção da região Fronteira Noroeste adotam, analisando como suas práticas estimulam, ou não, a inovação e o desenvolvimento empresarial e socioeconômico. O objetivo geral da pesquisa, por sua vez, foi traçado como: analisar a importância da gestão de design de moda para a inovação e o desenvolvimento, considerando os diferentes segmentos de mercado das empresas de confecção da região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul. Para que esse objetivo seja alcançado, foi necessário, de modo mais específico: Trata-se de uma pesquisa aplicada cuja abordagem foi qualitativa. Quanto aos objetivos, esta pesquisa foi descritiva e exploratória. Quanto ao tipo de dados, foram utilizados dados primários, coletados pelos pesquisadores, bem como dados secundários, oriundos de outras pesquisas e estudos feitos pelo governo ou outras entidades privadas. Quanto aos procedimentos técnicos, além da pesquisa bibliográfica, utilizaram-se os seguintes métodos: - identificar as principais empresas e segmentos de atuação de confecção de moda (vestuário e acessórios) da região Fronteira Noroeste do RS; - observação com registro fotográfico, analisando-se visualmente o ambiente da empresa, rotina e métodos de trabalho, o fluxograma produtivo, bem como as tecnologias disponíveis e as fontes de informação de moda de que cada empresa dispõe; - verificar o nível de gestão de design das empresas mais representativas em cada segmento de mercado e como ele contribui para a inovação no setor; - analisar os principais problemas e entraves encontrados nas empresas de confecção no que diz respeito à implantação de gestão de design em seus diferentes segmentos de mercado de moda; - entrevista com o auxílio de um questionário, aplicado aos sujeitos da pesquisa oriundos do universo amostral. Os sujeitos selecionados para serem entrevistados foram os proprietários das empresas (gestores/empresários), quase todos envolvidos diretamente no processo de desenvolvimento de seus produtos. A população desta pesquisa é formada por empresas dos diversos segmentos de confecção de moda da região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, conforme subdivisão feita pelos Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Coredes). - explicitar e descrever como a gestão do design de moda contribui para o desenvolvimento e para a inovação, propondo saídas viáveis para a questão. Dessa maneira, essa pesquisa justifica sua importância levando-se em conta que, atualmente, o diferencial competitivo de muitas empresas do setor de confecção de moda está na oferta de novos e atraentes produtos que atendam aos desejos de consumo da população. Conforme Caldas (2006) as tendências de moda, que ditam os rumos deste complexo sistema, possuem importância vital neste ciclo, bem como uma gestão de design adequada e original. No Brasil, o design é um diferencial que deve ser melhor desenvolvido, pois agrega valor aos produtos e às marcas nacionais. Inicialmente, foi feito um levantamento de todas as empresas de confecção em cada cidade, de acordo com o segmento de moda, apresentando, assim, um panorama geral da região. Foram identificados 10 segmentos de mercado: Fitness, Uniformes e/ou Camisaria, Moda Festa, Moda Casual, Malharia, Moda Praia, Sportswear, Moda Íntima, Moda Couro e, por fim, Cama, Mesa e Banho, Decoração ou Acessórios. Destaca-se que muitas empresas atuam em mais de um segmento de mercado. “Na realidade, o design é uma linguagem da cultura contemporânea que pode criar a diferença. Assim, percebe-se que o investimento em design é importante para a própria identidade cultural de um povo [...]” (CALDAS, 2006, p. 148). 66 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 O universo amostral, composto pelas empresas de dez segmentos de mercado nos vinte municípios da região, foi levantado através do contato com as prefeituras, Associações Comerciais e Industriais (ACIs) e através de uma instituição de ensino superior de Três de Maio. Além disso, identificaram-se as empresas em uma busca pela internet e através do contato telefônico direto com as mesmas, que também indicaram suas concorrentes. empresa de cada segmento de mercado para realizar a visita e a observação, bem como a entrevista com aplicação do questionário, cujo critério para esta seleção foi buscar as empresas com produção industrial mais representativa (com maior número de funcionários e/ou produção mensal). O critério para a seleção da população amostral, também, foi a acessibilidade e a disponibilidade em atender aos pesquisadores. O número total de empresas em cada cidade encontra-se representado visualmente através do gráfico da Figura 1. Já o número total de empresas por segmento pode ser visualizado através do gráfico da Figura 2. Dessa maneira, identificou-se um total de quarenta empresas de confecção em toda a região Fronteira Noroeste, das quais selecionaram-se sete empresas, em seis municípios diferentes, para serem investigadas com maior profundidade. Somente o segmento de moda couro não foi contemplado nesta pesquisa, pois a única empresa identificada, com apenas três funcionários, não possui uma produção significativa e está em processo de encerramento de suas atividades. As empresas selecionadas foram as seguintes: uma empresa do segmento de uniformes e/ou camisaria de Horizontina; uma empresa do segmento de cama, mesa e banho, decoração ou acessórios de Horizontina; uma empresa do segmento de malharia de Boa Vista do Buricá; uma empresa do segmento sportswear e de uniformes e/ou camisaria de Três de Maio; uma empresa do segmento de moda casual e fitness de Campina das Missões; uma empresa do segmento de moda festa de Santa Rosa; uma empresa do segmento de moda casual, fitness, moda praia e moda íntima de Santo Cristo. Figura 1: Número de empresas por cidade 2.2 REFERENCIAL TEÓRICO As empresas do segmento de alfaiataria não foram consideradas para esta pesquisa, por possuírem um processo produtivo muito tradicional e caracterizado como ateliê com produção customizada. Também não foram consideradas as empresas do tipo facção, que são essencialmente produtivas, sem realizarem desenvolvimento de novos produtos, apenas cortam ou costuram peças desenvolvidas por grandes magazines nacionais. Os ateliês de costura também não foram considerados nesta investigação, pois são empresas com poucos funcionários e sem uma produção industrializada/contínua, atendendo apenas pequenas encomendas de clientes (foram identificadas várias empresas deste tipo em toda a região). O termo desenvolvimento, utilizado isoladamente, nada significa, apesar de carregar uma abundância de relações, não apresentando um conceito universal (FURTADO, 1996). É o que afirma, também, Siedenberg (2012), ao alegar que o termo traz em si a relatividade e um conteúdo interdisciplinar em contínua transformação, não somente relacionado a aspectos quantificavelmente econômicos, mas também aos aspectos sociais e ambientais, como cita a seguir: Mais recentemente, quando a noção de desenvolvimento foi se distanciando cada vez mais do conceito de crescimento econômico e passou a se relacionar com maior ênfase a recortes territoriais específicos, acabou reencontrando sua identidade e se constituindo como uma nova área do conhecimento de caráter interdisciplinar, envolvendo e relacionando aspectos econômicos, sociais e ambientais (SIEDENBERG, 2012, p. 22-23). FONTE: Elaborado pelos autores (2015). Figura 2: Número de empresas por segmento Frantz (2012) alerta para o fato de que o crescimento da riqueza de uma nação não assegura uma dinâmica de equidade social e cultural ou mesmo do desenvolvimento em si, pois observa-se, em muitos casos, que o aumento na geração de riquezas pode ampliar as diferenças entre ricos e pobres. Nesse sentido, “Sociedades mais democráticas e nas quais a educação, a saúde e a criatividade são valorizadas, aumentam, por sua vez, a capacidade de gerar riqueza e, por serem assim, permitem que sua apropriação seja mais equitativa” (FRANTZ, 2012, p. 270). Sachs (2001) coloca a importância do crescimento econômico para o desenvolvimento, desde que pensado de forma adequada, a fim de minimizar os impactos ambientais FONTE: Elaborado pelos autores (2015). A partir do panorama numérico total das empresas na região, procurou-se selecionar uma 67 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 negativos objetivando fins sociais e não capitalistas. Torna-se inaceitável “[...] o crescimento selvagem, com custos sociais e ambientais insuportavelmente altos” (SACHS, 2001, p. 158). de desenvolvimento, pessoal e empresarial. Para se compreender o valor do design de moda na alavancagem da inovação e do desenvolvimento, é necessário que a gestão empresarial tenha noção de suas potencialidades e impactos na economia e na cultura de um modo geral, estimulando criações autênticas através de talentos nacionais. O papel do design como elo integrador entre a indústria e o mercado é um fator de competitividade na agenda estratégica da economia nacional: eleva a taxa de exportação com o desenvolvimento de produtos de nível superior de qualidade; é um ativo no desempenho empresarial em sua contribuição na manutenção e conquista de mercados, na diferenciação de seus produtos e serviços, na redução de custos de produção, preservação ambiental, etc. (BRASIL, 2014). Arbix e Zilbovicius (2001) expõem que as políticas de desenvolvimento de meados do século XX não poderão promover o desenvolvimento no século XXI, novas estratégias deverão ser construídas para dar conta de outros fenômenos. Hoje, o desenvolvimento socioeconômico pode ser desencadeado por inúmeros processos ou estratégias, visando melhorar a qualidade de vida da população, inserida em um mundo globalizado com dinâmicas territoriais distintas. Não há, todavia, nenhum modelo exclusivo, predominante ou genuíno, mas acredita-se que a educação possa ter um enfoque especial. Gomes (2004, p. 13) destaca que “O ensino superior é de capital importância para o desenvolvimento cultural do país e para sua independência econômica e política”. Os desafios que apresenta a relação trabalhoeducação e a nova função social dos sistemas educativos, resultados da nova forma assumida pelas relações sociais de produção, são o reflexo de uma crise do modelo de desenvolvimento que sustentou a acumulação capitalista das últimas décadas (FRIGOTTO, 1995). Assim como desenvolvimento, o termo design é vastamente utilizado no cotidiano, embora pouca compreensão se tenha sobre a definição correta desta atividade. Utiliza-se design para se referir à robustez de um carro, ao formato de uma chaleira, para o desenho de uma sobrancelha ou para a decoração de uma sala. O mal-estar gerado pela falta de compreensão do termo é trazido à tona por Costa (1998): O Design debate-se entre Poética e Pragmática, num Mercado profissional indefinido e num Território teórico mal aprofundado. [...] Não distinguindo trabalho teórico de técnicas operativas, não identificando, num e noutro, posicionamento pragmático e atitude poética, confundindo em nível dos conceitos esses dois campos, gerase instabilidade, à deriva entre pesquisa e produção, deixando aberta a porta a incursões incontroláveis (COSTA, 1998, p. 38-39). As novas práticas sociais e a mudança de valores e padrões culturais trazem novos paradigmas à gestão empresarial, cujos ambientes devem ser facilitadores da inovação e da tecnologia. Diante disso, torna-se mais intensa “[...] a necessidade de reorganização dos modos de gestão empresarial com a finalidade de compatibilizar as organizações com padrões mais avançados de competitividade” (WITTMANN, DOTTO e BOFF, 2004, p. 20). Hoje, fala-se em negócio e não em fábricas isoladas, evidenciando a sinergia que as empresas adquirem através de suas alianças. Para Casarotto Filho e Pires (2001, p. 27) “Como as mudanças são rápidas, é mais importante hoje ter um negócio bem concebido do que uma fábrica bem projetada. A fabricação tem que ser ágil para mudar conforme os negócios vão evoluindo”. A gestão da inovação, neste sentido, pode se tornar uma grande estratégia nos negócios. A diversidade de conceitos que tentam descrever a atividade inquieta teóricos que se debruçam em encontrar uma definição precisa de design. Azevedo (1998, p. 9) traz uma caracterização simples: “A palavra design vem do inglês e quer dizer projetar, compor visualmente ou colocar em prática um plano intencional”. Löbach (2001) enquadra o design como uma atividade que produz soluções novas para produtos industriais, sendo o designer um produtor de ideias com capacidade criativa para utilizá-las em diversas situações. Mozota, Klöpsch e Costa (2011) resumem o design como a intenção (plano ou objetivo) aliada ao desenho (modelo ou esboço que dá forma a uma ideia). O desenho, portanto, está intimamente relacionado com esta atividade projetiva (GOMES, 2004), pois é uma forma de representar visualmente o intuito do projeto, através da delimitação de cores, formas, linhas, texturas e demais recursos gráficos necessários para que se compreenda o produto que pretende ser fabricado. Com relação aos equívocos que envolvem o desenho e o design, lembra-se que, quando houve sua inserção no Brasil, a terminologia inglesa era proibida. Com relação à confusa tradução literal de design para desenho, Fontoura (2002) explica: Baxter (2011) apresenta que os diferentes níveis de gerência em uma empresa devem operar encorajando novas ideias e dando liberdade de criação, facilitando o surgimento das inovações. Desta maneira, “Os resultados, sob forma de produtos acabados é, naturalmente, a parte mais importante do gerenciamento da inovação” (BAXTER, 2011, p. 126). A gestão da inovação se dá, portanto, em ambientes com boa qualidade de recursos humanos que tenham tolerância, fluxo contínuo de ideias e informações sem preconceitos, ou seja, que permitam o empreendedorismo, sempre em ambientes de incerteza, especialmente quando relacionados ao sistema da moda. Para este mesmo autor, inovar ou não inovar são, ambas, atitudes arriscadas: a decisão de inovar demanda investimento, cujo retorno é incerto; não inovar pode acarretar a exclusão de um mercado devido à competição empresarial. Na falta de outro termo mais adequado no português contemporâneo, diante da quase impossibilidade de se restituir o uso no sentido original da palavra, e sob a consciente pena de cumplicidade com mais um estrangeirismo – anglicismo – na língua portuguesa, utilizar-seá [...] o termo “design” no lugar de “desenho”. Resgatar os conceitos do design poderia ser o primeiro passo para a compreensão de seu potencial criador e produtivo de modo que possa ser explorado por indivíduos e empresas, em estratégias de crescimento e 68 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Em 1988, numa plenária do 5º Encontro Nacional de Desenhistas Industriais – 5º ENDI, realizado em Curitiba, aprovou-se o uso do termo “design” para designar genericamente as atividades profissionais relacionadas ao desenho industrial (FONTOURA, 2002, p. 72). palavra oca, que compreenda a disciplina precisa da atividade de projeto aplicada à produção industrial ou pós-industrial e passe a se interessar por essa forma de expressão cuja base repousa na incessante mudança tecnológica; nessa forma de expressão que se projeta para o futuro, sempre em busca de articulações e significados novos e cujo pressuposto nuclear é atender às demandas de bem-estar físico, intelectual e emocional do ser humano. [...] Enquanto isso, à nossa volta, tudo continua por ser feito. Na educação, na saúde, na moradia, no transporte, na cultura e na construção da dignidade de um povo. O design poderia ser uma extraordinária ferramenta nesse esforço (ESCOREL, 2000, p. 69). Santos (2000) acredita que é preciso conhecer a base conceitual do design para que se desenvolva um modelo de gestão e operacionalização com enfoque estratégico. Assim, o próprio conceito de design evoluiu, inicialmente relacionado somente a projeto, hoje a abordagem é mais ampla, relaciona-se à gestão estratégica e está inserido em todas as áreas de uma organização. Puerto (1999) acredita que não basta só decretar a necessidade do design – a empresa deve ser preparada para criar um ambiente que proporcione sua inserção, através da implantação de um departamento de design que colabore com as decisões da empresa, rompendo as barreiras, especialmente nas empresas mais tradicionais. Novos projetos geralmente demandam mudanças, sofrendo grandes resistências, principalmente em empresas com linhas de produção racionais e estandardizadas. Conforme Mozota, Klöpsch e Costa (2011, p. 91) a gestão de design se relaciona “[...] ao processo de mudança de um modelo de administração taylorista, hierárquico, para um modelo organizacional plano e flexível, que incentiva a iniciativa individual, a independência e a tomada de riscos”. O complexo caminho para o desenvolvimento de produtos industriais alongou sua trajetória: não é necessário somente saber projetar, é preciso se perguntar por que projetar, ou seja, ir além do produto, analisar toda a conjuntura de seu uso, os cenários futuros, dando ênfase nas necessidades humanas fundamentais em detrimento dos “[...] desejos efêmeros ou artificialmente manipulados [...]” (BROWN, 2010, p. 19). Essa nova metodologia de design, chamada design thinking ou pensamento de design “[...] é o novo modelo de gestão capaz de enfrentar os desafios e a complexidade do mundo atual, não só no âmbito dos negócios como também nos temas públicos, como a saúde, habitação, educação e o lazer” (CENTRO DE DESIGN PARANÁ, 2006, p. 5). O design thinking ajuda, portanto, “[...] as pessoas a articular as necessidades latentes que podem nem saber que têm [...]” (BROWN, 2010, p. 38). Os modelos de negócios no design brasileiro vêm se diversificando cada vez mais para tentar responder às demandas de mercado e ampliar sua competitividade. Nesse sentido, é importante monitorar sua conjuntura industrial para direcionar corretamente as atividades de design no país, observando-se que: Design Thinking, ou pensamento do design, pertence a um campo ainda mais amplo e estruturante do conhecimento da pósmodernidade, o pensamento complexo. Representa um estilo cognitivo de pensar e agir particular, que oferece caminhos e respostas nos contextos complexos vividos pelas organizações privadas, públicas e do terceiro setor do século XXI. O pensamento do design evolui, portanto, de um design do “como fazer” (produtos, marcas) para o design do “que fazer” (estratégia, gestão, negócios) (BRASIL, 2014, p. 91). Ÿ Desde 2004, vem ocorrendo um novo ciclo de desindustrialização, com a indústria de transformação perdendo participação no PIB. Ÿ Na série histórica 2000-2010, vem ocorrendo uma perda de participação da competitividade das exportações de setores mais intensivos em tecnologia e aumento da participação das exportações nos setores mais intensivos em recursos naturais. Ÿ Há perspectivas de expansão em setores mais focados no mercado doméstico, tendo em vista a consolidação do mercado de consumo de massas, resultante da combinação do aumento da renda e da redução de desigualdades sociais. Ÿ O Brasil deve buscar estratégias para se integrar às cadeias globais de valor e se especializar em etapas de maior valor agregado e conteúdo tecnológico (BRASIL, 2014, p. 71). No Brasil, as empresas ainda investem pouco em design, visto como algo supérfluo e que gera um custo desnecessário, atrasando o desenvolvimento da atividade. Caldas (2006) coloca que tal investimento pode representar de 3% a 10% do total dos custos contra 20% a 30% de retorno. Além disso, micro e pequenas empresas têm dificuldade em contratar designers por serem vistos como uma sofisticação desnecessária, o que atrasa ainda mais o desenvolvimento do design nacional. O mesmo autor ainda complementa que “À ausência de uma cultura do design enraizada no Brasil, soma-se a falta de instrumentos para a realização de uma gestão eficiente do design” (CALDAS, 2006, p. 151). Escorel (2000) apresenta sua crítica com relação ao atraso desse tipo de visão empresarial e complementa com seus significativos diferenciais: Conforme aponta Rech (2006), a competitividade na moda pode ser obtida pelo aperfeiçoamento do design, promovendo parcerias entre fornecedores e clientes, aumentando as exportações, reduzindo custos e melhorando a qualidade, modernizando o setor como um todo e valorizando aspectos intangíveis/imateriais. Feghali e Dwyer (2004, p. 141) prospectam que a grande vantagem competitiva na moda “[...] será a capacidade de Talvez seja pedir muito de um país, que insiste em valorizar a improvisação, a malandragem, o artesanal e o uso leviano da 69 REVISTA SETREM - Ano XIV XIII nº nº 25 26 -- JUL/DEZ JAN/JUN 2014 2015 ISSN ISSN 1678-1252 1678-1252 mudar rapidamente com base na resposta do consumidor. O desenvolvimento de produto será rápido, orientado pela tecnologia e com foco apenas em funções de valores estratégicos”. também confirmado nas empresas visitadas. Somente 5,2% dos trabalhadores possuem educação de nível superior completo e 5,9% incompleto, sendo que a maior parte (36,8%) possui ensino médio completo e 23,4% não concluiu o ensino fundamental, destacando-se que há somente 845 trabalhadores com pós-graduação. A indústria de vestuário e acessórios é caracterizada, em sua maioria, por microempresas (81,8%), as empresas de pequeno porte possuem 503 estabelecimentos (16%) e as de médio porte, 67 estabelecimentos (2,1%). Existem apenas duas empresas de grande porte. Esta indústria emprega 23.349 pessoas no Rio Grande do Sul. As pequenas empresas concentram 41,3% deste total. Vogt (2003) explica que a indústria têxtil foi uma das primeiras a se instalar no estado e no país durante as primeiras décadas do século XX, exercendo a liderança na indústria de transformação e destaca sua importância no desenvolvimento da economia brasileira, principalmente entre 1914 e 1950. Esta cadeia heterogênea é a segunda maior empregadora da indústria de transformação e a segunda maior geradora do primeiro emprego. As 30 mil empresas registradas no país possuem um parque produtivo de confecção que é o quarto maior do mundo. Mendonça et alii (2013) apontam o país como o quinto maior produtor têxtil do mundo, representando 16,4% dos empregos e 5,5% do faturamento da indústria de transformação. A moda brasileira está entre as cinco maiores semanas de moda do mundo. Além disso, o Brasil é o maior país do mundo em quantidade de cursos superiores de moda, já ultrapassando 40, segundo o Ministério da Educação. O segmento têxtil/vestuário é o segundo setor maior empregador do país, oferecendo cerca de 1,5 milhões de empregos. É a quinta mais importante cadeia têxtil do mundo, fica atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Taiwan. Outro dado importante é que 90% dos estabelecimentos do setor são compostos por micro e pequenas empresas, sendo que as líderes de grande porte estão nos elos da cadeia de tecelagem e fiação, que exigem maior tecnologia (ABDI e UNICAMP, 2008). Os dados primários, coletados pelos pesquisadores nas sete empresas visitadas, buscaram levantar seis pontos principais, através da aplicação do instrumento de coleta de dados (questionário): 1º: identificar a empresa em linhas gerais; 2º: fazer a leitura do perfil de seus funcionários; 3º: conhecer seus processos produtivos; 4º: averiguar a situação da gestão de design; 5º: levantar dados sobre atividades e produtos inovadores; 6º: estabelecer uma relação entre as atividades da empresa com fatores de desenvolvimento socioeconômico local. Esta cadeia é um dos pilares da industrialização nos países pobres ou em desenvolvimento, pois suas unidades de produção não requerem vultuosos custos iniciais (RECH, 2006). Muitas etapas produtivas têm sido deslocadas para regiões em que o custo de trabalho é menor e as grandes empresas que comandam a cadeia globalmente focam suas atividades para aspectos como marca, desenvolvimento de produto, canais de distribuição e comercialização. A autora também relembra que é importante que o empresário tenha consciência de que está produzindo moda e não apenas roupa. A análise dos dados da pesquisa primária revelou que há fatores positivos e negativos em todas as empresas visitadas. De forma resumida, os fatores positivos que se podem pontuar são: - os produtos desenvolvidos são de excelente qualidade e conforto e algumas empresas se tornaram grandes referências em seus segmentos de mercado; além disso, há uma preocupação constante com a melhoria das modelagens e do caimento das peças; 2.3 RESULTADOS DA PESQUISA - há grande abertura aos funcionários para o diálogo e para as inovações, estimulando melhorias contínuas, acontecendo com maior ênfase na introdução de novas tecnologias, aumentando a lucratividade das empresas; Os dados secundários, oriundos de um estudo realizado pela Unidade de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS, 2014) denominado Estudos técnicos: Fotografia do Mercado de Trabalho 2012, demonstram o perfil do setor de vestuário e acessórios no Rio Grande do Sul. Eles revelam que a região noroeste é a terceira do Estado em empresas da indústria de transformação e possui destaque no setor de confecção de vestuário. As micro e pequenas empresas são as unidades em maior número, assim como na região específica da Fronteira Noroeste, evidenciando sua importância na economia gaúcha. As mulheres são as grandes propulsoras desse mercado de trabalho: 83,3% dos trabalhadores do segmento de vestuário e acessórios são do sexo feminino. Nas sete empresas visitadas nesta pesquisa, cinco mulheres empreendedoras estão no comando de suas atividades. O baixo nível de escolaridade dos funcionários, especialmente na linha de produção, também é uma das características das empresas de confecção, dado - o maquinário do setor produtivo, em geral, é o que recebe maiores investimentos nas empresas, sendo bastante atualizado e adequado à produção industrial, que apresenta muitas condições de ampliação do volume de produção. Já os principais pontos negativos evidenciam muitas melhorias a serem implementadas pelas empresas, sendo que eles são: - a mão de obra é pouco qualificada e com baixa formação profissional na área; - as instalações são bastante precárias em quase todas as empresas observadas, sendo que elas apontaram que a ampliação e melhoria de sua planta 75 70 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 industrial seria um dos fatores de maior preocupação, o que ajudaria a ampliar a capacidade de suas bases produtivas; pouca formação profissional; - há falta de investimentos em design por considerarem que não é necessário investir nessa atividade; - a distância geográfica da região em relação aos grandes centros urbanos foi apontada por todas as empresas como um dos maiores entraves nas rotinas empresariais, bem como a entrada de produtos importados e os altos impostos; - há pouco tempo hábil disponível dos empresários para repensarem seus processos de pesquisa em moda; - as principais barreiras à inovação são o medo de abertura a mudanças e a falta de tempo em se realizarem pesquisas; - há precariedade na estrutura organizacional e física que proporcione um ambiente adequado à gestão de design; - as definições de design são confusas e obscuras; - a distância geográfica dificulta novas pesquisas de tendências; - a formulação de estratégias empresariais dá pouca ênfase ao design, sendo que há grande destaque na etapa produtiva em detrimento de outros aspectos estratégicos; - há pouca abertura às mudanças; - há pouco interesse na ampliação dos estudos em design; - a estética e o estilo visual é uma das principais preocupações dos empresários quando desenvolvem novos produtos, da mesma forma que a principal finalidade do design nas empresas está no lançamento de novos produtos que reforçam a imagem da marca; - não há uma metodologia de design adequada aos processos de confecção de moda; - a criação de novos produtos dá muita ênfase aos aspectos estéticos; - a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos acontece com muita frequência e as empresas concordam que a gestão de design é fundamental, ou seja, é a base pela qual tudo acontece e o que as coloca e diferencia no mercado, porém não há uma estrutura e uma metodologia de design adequada e o investimento também não é significativo, da mesma forma que a mão de obra não é suficientemente qualificada ou ela é de alto custo para a empresa; - a cópia ou adaptação de produtos concorrentes é mais valorizada do que a criação de produtos originais. Embora o parque fabril requeira ampliação/melhoria, o elo “produção” possui menos dificuldades, pois: - o maquinário, as tecnologias e os materiais de confecção são de boa qualidade e atualizados; - as empresas do segmento de uniformes esperam que os clientes venham até elas, para realizarem seus pedidos, não visualizando ou se antecipando a mercados potenciais através da oferta de produtos diferenciados, revelando que há poucas perspectivas em melhorar sua gestão de design, sendo visto somente pelos seus atributos visuais; - há a constante preocupação em melhorar a qualidade da modelagem e dos acabamentos das peças; - há plena capacidade de expansão das bases produtivas. Com relação à contribuição das empresas com o desenvolvimento socioeconômico local, as respostas estão ilustradas no gráfico da Figura 3. - a prática da cópia de produtos concorrentes é rotineira e considerada normal em quase todas as empresas visitadas, embora todas tenham destacado que a inovação e o lançamento de novos produtos são fatores que as tornam mais competitivas no mercado; Figura 3: Contribuição das empresas com o desenvolvimento socioeconômico local - a grande maioria dos empresários está diretamente ligada no desenvolvimento de seus produtos, monopolizando o poder de decisão sobre o que será colocado em linha de produção, além de se dividir em todas as demais funções da empresa, criando rotinas enrijecidas e diminuindo o tempo de atenção que exige cada setor da empresa. Analisando-se as três etapas principais da gestão industrial nas empresas de confecção (criação, produção e venda/distribuição), observou-se que o elo “criação” (desenvolvimento de novos produtos) é o mais delicado, pois: FONTE: Elaborado pelos autores (2015). A partir de toda a análise do instrumento de coleta de dados (questionário), elaborou-se um panorama da gestão de design das empresas – destaca-se que estas - a mão de obra possui baixa qualificação e 71 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 empresas (assim como algumas outras que não foram elencadas para esta pesquisa) são as que possuem a melhor estrutura e produção de seus segmentos em toda a região Fronteira Noroeste, sendo que as demais ainda precisam melhorar seus processos como um todo. Com esses dados levantados, procurou-se verificar o nível de gestão de design das empresas mais representativas em cada segmento de mercado, ou seja, nas sete empresas escolhidas para a realização desta pesquisa. A Figura 4 apresenta cada empresa e sua classificação, especificando as mesmas em níveis e sua porcentagem no total das empresas visitadas. no cumprimento dela. Tal fato pode se justificar, ainda, pela natureza/sazonalidade com que acontecem os lançamentos de novos produtos, atestando que é neste momento que as empresas veem maior uso do design. Figura 4: Nível de gestão de design das empresas visitadas Para se realizar esta classificação, levaram-se em consideração as principais dificuldades das empresas em criação, produção e venda/distribuição, além de considerar se as empresas possuem planos, recursos e objetivos para o design, ou mesmo analisando-se a expertise e o conhecimento dos empresários dos benefícios da gestão de design, além de se observar a rotina da empresa e interpretar as respostas dadas ao questionário da pesquisa. Para isto, baseou-se na escada de design apresentada por Brasil (2014). Sendo assim, a classificação da Figura 4 simplificou a questão em três níveis de gestão de design: básico, intermediário e avançado, sendo que suas principais características consideradas foram: FONTE: Elaborado pelos autores (2015). - nível de gestão de design básico: não há gestão de design ou ele está sendo utilizado de forma esporádica, com resultados imprevisíveis e inconsistentes, sendo parte imperceptível do processo de desenvolvimento de produtos, executado por funcionários não capacitados na área, com soluções baseadas na percepção de funcionalidade e estética sem levar em conta as metodologias adequadas; Não se pode deixar de destacar que a empresa do segmento de moda festa de Santa Rosa é grande referência em design, tanto no desenvolvimento de novos produtos, quanto em inovações e pensamento estratégico. As empresas do segmento de cama, mesa e banho, decoração ou acessórios de Horizontina e do segmento de moda casual, fitness, moda praia e moda íntima de Santo Cristo também caminham para este nível de gestão em design. - nível de gestão de design intermediário: gestão em nível de projeto e funcional, em que a empresa já tem plena consciência do que é o design, sua importância e como implantá-lo na linha de produção, sendo a responsabilidade de um profissional específico desenvolver permanentemente novos produtos, entendendo essa atividade como processo/método voltado à usabilidade com foco no público-alvo, porém o design ainda não é visto como uma ferramenta de inovação, somente como auxiliar do departamento de marketing para ressaltar o aspecto visual (estilo) dos produtos; 3. CONCLUSÃO A moda e sua presença no interior gaúcho, através da atividade produtiva das diversas empresas de confecção de vestuário ou decoração, é um dos elos que afetam o processo de desenvolvimento. Nesse sentido, buscou-se analisar como as melhores empresas da região Fronteira Noroeste operam desde a criação, o desenvolvimento, até a venda e distribuição de seus produtos. A gestão de design é fundamental na competitividade das empresas que compõem a cadeia da moda, em virtude da alta concorrência e dos elevados custos de operação desse sistema. Frente a isso, as empresas têm buscado na inovação o seu diferencial competitivo de mercado. Na região examinada nesta pesquisa, observou-se que as empresas têm muitas dificuldades em gerenciar o processo de design, principalmente no estágio inicial de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, seja por estarem distribuídas em diferentes segmentos de mercado, seja pela falta de mão de obra qualificada ou pela falta de união para o fortalecimento do setor nesta parte do território gaúcho. - nível de gestão de design avançado: a gestão de design é um grande referencial e parte da cultura da empresa, que investe em estratégias de diferenciação focadas na inovação (o design é ferramenta, metodologia e filosofia para alcançá-la); o designer atua junto com os dirigentes da empresa, na sua visão e posicionamento estratégico em relação ao mercado, para a criação de uma cadeia de valores que envolve diretamente a valorização dos ativos intangíveis da empresa. A falta de estímulo à gestão de design e de profissionais qualificados, portanto, são dois grandes entraves que se observaram na análise desta pesquisa. O uso de profissionais terceirizados para o desenvolvimento de novos produtos (embora observado somente em duas empresas) pode demonstrar a capacidade limitada nesta demanda da empresa ou mesmo a falta de planejamento A região em questão se encontra muito carente no que diz respeito à pesquisa e à inovação, sendo poucas as empresas que desenvolvem metodologias 72 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 adequadas no desenvolvimento de seus projetos. Isso também é bastante percebido no portfólio de produtos apresentados, pobres em inovação e ricos em cópias ou adaptações do que é produzido nos grandes centros, como São Paulo. do design pode se dar por meio da intervenção de instituições de ensino, pesquisa e extensão, compatíveis com as particularidades do contexto local e centradas em fatores tecnológicos, de gerenciamento e de mercado, além de fatores subjetivos e estéticos, como pontua Puerto (1999). A pesquisa, além de acontecer nas universidades, deve ser melhor estruturada dentro das próprias empresas, de modo a se criar maior compreensão e preparação das empresas frente aos desafios deste milênio. Algumas empresas, especialmente do segmento de uniformes e/ou camisaria, não visualizam seus produtos dentro do sistema da moda, pois acreditam que esse tipo de produto não sofre a influência das novas tendências de consumo, permanecendo no mercado com pouquíssimas alterações de estilo. Isso se dá por não compreenderem que o design não está somente nos aspectos estéticos, mas também funcionais e estratégicos da empresa, podendo contribuir no seu desempenho como um todo. Já algumas outras empresas, mesmo produzindo em segmentos de mercado com alta influência de modismos, não demonstraram muito interesse em aprimorar sua metodologia de design no desenvolvimento de novos produtos, preferindo permanecer em métodos improvisados ou baseados em cópias. Compreendeu-se que o caminho para o desenvolvimento sempre será de e para pessoas, não coisas, sendo que ele acontece pelas vias econômicas, políticas, ambientais, criativas, empresariais, educativas, socioculturais, dentre outras, como através do design estratégico, levando-se em conta que cada ser humano, grupo, território, empresa ou organização deve buscar soluções próprias a partir de suas limitações e potencialidades, tendo a consciência que esse processo é incerto e pode gerar desconfortos. Por meio da análise da dinâmica global do desenvolvimento e da reprodução social dos diversos agentes, chega-se ao entendimento que a educação cria as melhores condições para a formação da cidadania, bem como o design, por proporcionar uma leitura contemporânea adequada às necessidades humanas e sociais. A educação através do design possibilita a expressão de potencialidades e capacidades, melhorando o desempenho profissional e empresarial, seja qual for o cenário que será apresentado no futuro. As empresas visitadas já participam ativamente do desenvolvimento da região Fronteira Noroeste, através da geração de empregos diretos e pela teia de pessoas, empresas e instituições indiretamente participantes de seus processos produtivos. O design, neste contexto, poderia trazer uma ampliação das possibilidades de sucesso empresarial, refinando a gestão de design através de projetos mais inovadores, diferenciados e ricos em simbolismos, tornando-se destaques em seus segmentos de mercado, como já o fazem algumas empresas. Além disso, é necessário se antecipar aos prognósticos que apontam para essas questões, antes que as crises eventuais possam prejudicar o desempenho ou a permanência das empresas no mercado. Conforme destaca o Centro de Design Paraná (2006, p. 4) “[...] nem sempre quem precisa de design sabe que precisa de design”. Porém, empresas que operam fundamentalmente com vestuário necessitam ter toda a base produtiva baseada no sistema da moda, mas muitas parecem não se dar conta disso. Os níveis de gestão de design apresentados foram exibidos com o intuito de alertar que ainda há um vasto caminho que algumas empresas podem percorrer na melhoria de seus processos, buscando acompanhar o segmento de mercado do qual fazem parte e valorizar a capacidade criativa de seus funcionários. Ficou claramente visualizado, também, que as empresas que estão em um nível mais avançado de gestão de design são as que estão mais preocupadas em seguir inovando, adaptando-se às mudanças socioeconômicas, valorizando profissionais mais qualificados e investindo mais em seus processos criativos. É difícil afirmar como as demais empresas estão em atividade sem uma gestão de design de moda minimamente estruturada, provavelmente sempre haverá espaço para produtos baseados na cópia, pois o mercado da moda dificilmente estará protegido por direitos autorais – esta certamente seria uma boa base para outra pesquisa. A depreciação do design não está somente na gestão empresarial, mas nos profissionais que ainda não conseguiram demonstrar sua capacidade de atender às exigências dos empresários e do mercado. Ao se implementar a gestão de design na organização, espera-se que haja uma mudança comportamental oriunda da tomada de consciência da importância dessa atividade e das implicações que ela acarreta na rotina, como o maior desempenho de competências, de participação e de trabalho integrado. A imagem corporativa também melhora, bem como o planejamento estratégico a longo prazo. É importante salientar que a mudança pode acontecer de forma gradual, ou seja, é preciso, inicialmente, buscar a compreensão do design em todas as suas expressões para, posteriormente, passar a se adotar medidas de sua inserção na atividade industrial. Para o Centro de Design Paraná (2006) pode-se ampliar as parcerias com centros de ensino ou mesmo se criar algum tipo de associação que possa estar à frente das demandas dos empresários. Ampliar as ações para além da empresa, participando de desfiles e exposições ou melhorando suas estratégias de marketing e comercialização, também pode melhorar a participação das empresas no mercado, envolvendo o consumidor em testes de novos produtos. Compreender as funções do design e seu potencial criador e produtivo voltado a estratégias de crescimento e de desenvolvimento, tanto pessoal quanto empresarial, é a proposta maior que esta pesquisa procurou demonstrar. A realidade social e o ambiente de projetos de design são cercados pela incerteza e imprevisibilidade, ou seja, nada é certo ou definitivo. A subversão aos modelos dados através da experimentação, neste caso, aliada à criatividade, pode se mostrar um meio líquido de se navegar pelo processo de mudança, adaptando-se com maior facilidade aos Acrescenta-se, ainda, que a educação através 73 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 novos caminhos que a sociedade vem percorrendo, que se refletem nas práticas de consumo de produtos de vestuário. O novo pode ser assustador, pois ainda não é plenamente conhecido, porém é o que abre as portas para que novas possibilidades possam ser visualizadas. A gestão empresarial deve buscar ser agente de transformação e inovação, não uma expectadora dos acontecimentos, afinal, toda ação é um ato de desenvolvimento. ESCOREL, Ana Luisa. O efeito multiplicador do design. São Paulo: Senac, 2000. FEGHALI, Marta Kasznar; DWYER, Daniela. As engrenagens da moda. Rio de Janeiro: Ed. Senac Rio, 2004. FIERGS. Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul. Unidade de Estudos Econômicos (UEE). Estudos técnicos: Fotografia do Mercado de Trabalho 2012. Disponível em <http://www.sivergs.org.br/#!dados-dosetor/c10by>. Acesso em 08 set. 2014. REFERÊNCIAS ABDI. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Estudos setoriais de inovação: indústria têxtil e de vestuário. Belo Horizonte: ABDI – FUNDEP/UFMG, 2009. FONTOURA, Antônio Martiniano. Edade: a educação de crianças e jovens através do design. 2002. 337f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). ABDI; Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Relatório de acompanhamento setorial: têxtil e confecção. 2008. Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Estudo/textil%20e%20confecca o%20junho%2008.pdf>. Acesso em 07 out. 2014. FRANTZ, Telmo Rudi. Inovação tecnológica e desenvolvimento: noções introdutórias e perspectivas analíticas à luz das teorias econômicas. In SIEDENBERG, Dieter Rugard (org.). Desenvolvimento sobre múltiplos olhares. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012. ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro. Por uma estratégia de civilização. In ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro; ABRAMOVAY, Ricardo (orgs.). Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: UNESP; Edusp, 2001. FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. AZEVEDO, Wilton. O que é design. São Paulo: Brasiliense, 1998. GOMES, Luiz Vidal Negreiros. Criatividade: projeto < desenho > produto. Santa Maria: sCHDs Editora, 2004. BAXTER, Mike. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. São Paulo: Blucher, 2011. LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a crise do capitalismo real. São Paulo: Cortez, 1995. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Diagnóstico do design brasileiro. Brasília, 2014. Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl_1402 666459.pdf>. Acesso em 09 set. 2014. LÖBACH, Bernd. Design industrial. São Paulo: Edgard Blucher, 2001. MARIN, Vanessa; HETTWER, Ana Paula; MARTINELLI, Maressa Giovana. A pesquisa de tendências como suporte para o desenvolvimento de produtos de moda. Revista Setrem. Ano XI, n. 21, jul/dez 2012. D i s p o n í v e l e m : <http://portal.setrem.com.br/files/downloads/1396436708 _56.pdf>. Acesso em 22 abr. 2014. BROWN, Tim. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. CALDAS, Dario. Observatório de sinais: teoria e prática da pesquisa de tendências. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2006. MENDONÇA, Barbara et al. A cadeia produtiva têxtil e o mercado da moda: uma análise do fluxograma brasileiro. In BRUM, Argemiro Luís (org.). Mercado e cadeias produtivas no desenvolvimento brasileiro. Saarbrücken (Alemanha): Novas Edições Acadêmicas, 2013. CASAROTTO FILHO, Nelson; PIRES, Luis Henrique. Redes de pequenas e médias empresas e desenvolvimento local: estratégias para a conquista da competitividade global com base na experiência italiana. São Paulo: Atlas, 2001. MOZOTA, Brigitte Borja de; KLÖPSCH, Cássia; COSTA, Filipe Campelo Xavier da. Gestão do design: usando o design para construir valor de marca e inovação corporativa. Porto Alegre: Bookman, 2011. CENTRO DE DESIGN PARANÁ. Demanda por design no setor produtivo brasileiro: relatório preparado para subsidiar a elaboração de políticas públicas na área do design. 2006. Disponível em: <http://www.polodemoda.com.br/admin/noticias/arquivos/ c927173f3be51c3e45613a9220caf532129_arqui.pdf>. Acesso em 15 set. 2014. PUERTO, Henry Benavides. Design Industrial e Inovação Tecnológica: coletânea de ideias para construir um discurso. Salvador: IEL / Programa Bahia Design, 1999. COSTA, Daciano da. Design e mal-estar. Porto: Centro Português de Design, 1998. 74 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 RECH, Sandra Regina. Cadeia produtiva da moda: um modelo conceitual de análise da competitividade no elo confecção. 2006. 282f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). SACHS, Ignacy. Repensando o crescimento econômico e o progresso social: o âmbito da política. In ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro; ABRAMOVAY, Ricardo (orgs.). Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: UNESP; Edusp, 2001. SANTOS, Flávio Anthero dos. O design como diferencial competitivo: o processo de design desenvolvido sob o enfoque da qualidade e da gestão estratégica. Itajaí: Ed. da Univali, 2000. SIEDENBERG, Dieter. Fundamentos, trajetória e abordagens contemporâneas do desenvolvimento. In SIEDENBERG, Dieter Rugard (org.). Desenvolvimento sobre múltiplos olhares. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012. VOGT, Cláudio César. As origens da indústria têxtil gaúcha e o setor têxtil no período do processo de substituição de importações. 2003. 210f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). WITTMANN, Milton Luiz; DOTTO, Dalva Maria Righi; BOFF, Vilmar Antônio. Estruturas organizacionais em rede e desenvolvimento regional: contextualização e complexidades. In WITTMANN, Milton Luiz; RAMOS, Marília Patta (orgs.). Desenvolvimento regional: capital social, redes e planejamento. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. 75 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 A PERCEPÇÂO DOS ENFERMEIROS SOBRE ASSISTÊNCIA DA ENFERMAGEM NO CUIDADO DAS ÚLCERAS DE PRESSÃO Maria Salete Pianta Christ¹ Lisete Maria Sander Kunzler² Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber³ ABSTRACT A pressure ulcer (PU) is a pathology that affects a proportion of nearly 100% of patients in bed in Intensive Care Units (ICUs), it is one of the main causes of morbidity and mortality in Rio Grande do Sul (RS) and Brazil, and it needs the individual care of the Nursing professional. In this sense it is more and more noticeable the need for offering good services in the hospital institutions, making it possible to maybe reach good results. The nurses are fundamental in this process, because besides the patient care, they manage their units and their teams organizing them in the engagement with the service offered, which leverages actions and services that prevent the risk of Pressure Ulcers. This research aimed to investigate the knowledge of Nursing professionals regarding to Pressure Ulcers and what tools they use in order to prevent such pathology in patients admitted in the ICU. It was important to develop a qualitative and quantitative approach of the exploratory kind. The collection of data happened through a form, with open and closed questions about the theme. To interpret the information collected, it was necessary to use the technique of content analysis, in the resemblance method and proximity of answers. The subjects of this research were six nurses who work exclusively in the ICU of an institution of middle size from the Northwest region of Rio Grande do Sul. For this study, it was necessary to attend to the scientific and ethical expectations from the resolution number 466/12 of the National Health Council. The data collected were analyzed and confronted with existing bibliographies about the subject. During the research it was possible to notice the Nurses working in the same space, ICU, and having the same tools working under the same current protocol, and they diverged a lot in their answers, which show the difficulty in keeping the proximity in actions of team work. It is important to observe that such research seeks to orient and look for a differentiated action with the nurses in order to avoid Pressure Ulcers injuries, using quality tools, minimizing the development of Pressure Ulcers and offering greater quality of life to the patient. RESUMO A úlcera de pressão (UP) é uma patologia que afeta uma proporção de quase 100% dos pacientes acamados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no Rio Grande do Sul (RS) e Brasil, necessitando do cuidado individualizado do profissional de Enfermagem. Nesse sentido, cada vez mais se percebe a necessidade de oferecer bons serviços nas instituições hospitalares possibilitando alcançar bons resultados. Os Enfermeiros são fundamentais neste processo, pois, além do cuidado ao paciente, gerenciam suas unidades e suas equipes, organizando-as no comprometimento com o trabalho prestado alavancando ações e serviços que previnem o risco de UP. Esta pesquisa teve como objetivo investigar o conhecimento dos profissionais Enfermeiros a respeito das UP e as ferramentas que utilizam para a prevenção em pacientes internos na UTI. Seguiu-se uma abordagem qualiquantitativa, do tipo exploratória descritiva. A coleta dos dados realizou-se por meio de um formulário, com perguntas abertas e fechadas acerca do tema. Para interpretar as informações obtidas utilizou-se a técnica de análise de conteúdo, observando a semelhança e aproximação das respostas. Foram sujeitos da pesquisa, seis enfermeiros atuantes fixos na UTI, de uma Instituição de médio porte da região noroeste do RS. Para este estudo, foram atendidas as exigências cientificas e éticas da resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os dados coletados foram analisados e confrontados com bibliografias sobre o assunto. Durante a pesquisa percebeu-se que os Enfermeiros mesmo atuando no mesmo espaço, UTI, e tendo as mesmas ferramentas de trabalhando com o mesmo protocolo vigente, tiveram divergências em suas respostas, o que mostra a dificuldade em manter uma proximidade em ações de trabalho em conjunto. Salienta-se, que esta pesquisa procurou orientar e buscar junto aos Enfermeiros uma ação diferenciada evitando lesões como UP, utilizando-se das ferramentas de qualidade, minimizando assim o desenvolvimento das UP e ofertando maior qualidade de vida ao paciente. Keywords: JNurse. Pressure Ulcer. Tools. Quality of Life. Palavras-chave: Enfermeiro. Úlcera de pressão. Ferramentas. Qualidade de vida. 1. INTRODUÇÃO (UP), em pacientes internados na UTI, bem como conhecer os possíveis tratamentos e cuidados prestados, em um hospital de médio porte de um município da Região Noroeste do Estado Rio Grande do Sul (RS). O presente trabalho parte do interesse em pesquisar esse tema, por ter surgido curiosidades e dúvidas durante o estágio na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Tem como objetivo central, avaliar a equipe de Enfermagem referente aos conhecimentos relacionados à conduta tomada na prevenção das Úlceras de Pressão Apesar das inúmeras orientações a respeito, observa-se que há muitos obstáculos enfrentados pelos profissionais tentando melhorar a qualidade do ¹ Autora do TCC ² Professora Co-orientadora do estudo ³ Professora Orientadora do estudo 76 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 atendimento, a partir de ações que minimizem o risco de desenvolverem as UP, porém às vezes com pouco sucesso. O complexo processo do cuidado na área da Enfermagem não se restringe simplesmente no trabalho técnico, mas também exige humanização ao cuidado do paciente. A presente pesquisa busca identificar a forma que os profissionais enfermeiros atuam junto a uma UTI, e no desenvolvimento de atividades de prevenção de UP nos pacientes acamados. Integram-se no estudo, os profissionais enfermeiros que atuam em uma UTI geral de um hospital de médio porte da Região Noroeste do Estado do RS, sendo desenvolvida pela acadêmica do décimo semestre do curso de Bacharelado em Enfermagem da sociedade Educacional Três de Maio (SETREM), no decorrer do segundo semestre de 2014. Os Enfermeiros que trabalham na UTI, no ambiente agitado dessa unidade, ao cuidado de pacientes críticos, para manter uma conduta mais coerente acerca do cuidado, necessitam de buscas constantes de atualização na rotina da equipe de Enfermagem com material bibliográfico de consulta rápida, conforme a evolução do paciente, podendo assim monitorar melhor seu quadro clínico (SCHELL; PUNTILHO; 2005). De que forma os Enfermeiros de uma UTI Geral, em uma instituição hospitalar de médio porte da Região Noroeste do Estado do RS, direcionam o processo de avaliação e cuidado na prevenção das UP em seus pacientes? Sabe-se que as UP são causas de muitos óbitos, relacionados com infecções hospitalares, pela baixa imunidade e septicemia, além do desconforto físico que causa, deixando-o na desvantagem frente à sociedade podendo ser também um foco recorrente e risco a internação em UTI (MALAGUTTI; KAKHIARA 2011). AS ÚLCERAS DE PRESSÃO E O CUIDADO A enfermagem e a importância no cuidado das úlceras de pressão ao paciente crítico na internação em UTI. Dessa forma, a pesquisa foi desenvolvida e fundamentada no protocolo e conhecimento da SAE, em que se ampliará o referencial teórico, o qual tem como base o material empírico. A sistematização da assistência de Enfermagem (SAE) garante qualificação na prática técnica científica do atendimento, e assim soluciona os problemas que poderão surgir diante da necessidade de se ter um paciente acamado em leito de UTI (MURTA; 2007). 2.1 UP NA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR Conforme os autores Brêtas; Gamba, (2006) ao descrever a situação de saúde do adulto brasileiro, é fundamental reconhecer que o perfil de morbidade e mortalidade nessa faixa etária tem se transformado a cada dia, principalmente em razão do envelhecimento populacional, dos movimentos migratórios, das mudanças nos hábitos de vida e da oferta de serviços de saúde. E que leva a pensar que a população idosa vai aumentar e o nível de acamados poderá aumentar na mesma proporção e que poderão desenvolver UP, se não houver técnicas eficientes para minimizar essa incidência. A UP é resultado do trauma mecânico aplicado na pele e tecidos subjacentes, durante o processo do cuidado propriamente dito, em que se espera uma evolução e um resultado positivo, contornando o problema (MALAGUTTI; KAKIHARA, 2011). Os autores supracitados afirmam que UP são eventos adversos, que acometem o paciente hospitalizado e que estão diretamente ou indiretamente relacionados com o cuidado da equipe de Enfermagem, e esta deve estar familiarizada com os principais fatores de risco na sua formação. Pensando nessas hipóteses é que há a necessidade de tornar uma prática nobre diante da prevenção das UP, uma maneira adequada de prestar assistência com segurança, sem ocorrência de situações que poderão aumentar a incidência e risco das UP em pacientes internados. Isso nos mostra a importância do trabalho em equipe, com a discussão de casos clínicos, pela equipe multiprofissional, e a troca de informações, no sentido de complementar a avaliação e diagnóstico do Enfermeiro no campo profilático, contextualizando a manutenção da integridade da pele (MALAGUTTI; KAKHIARA, 2011). 2. METODOLOGIA A metodologia foi uma abordagem de cunho qualiquantitativa, exploratória descritiva, que durante o estudo sondou um conhecimento empírico das UP, mediante esclarecimentos e coleta de dados, e, de tal modo foi aplicado um formulário com questões abertas e fechadas em relação à pesquisa. Para conclusão do referido estudo respeitou-se as normas ética e bioética, conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 2.2 OS ESTÁGIOS EM QUE ESTÃO CLASSIFICADAS AS UP Os estágios em que estão classificadas as UP são definidos como base de seguimento seguro, no qual os profissionais conseguem avaliar mediante visualização os aspectos reais UP, e enquadrá-la no estágio em que se encontra para direcionar o tratamento correto. É a equipe de Enfermagem que deve contrastar e comparar as UP, conforme o leito em que a ferida se apresenta. Esse critério fornece aos profissionais de saúde uma metodologia para avaliar e classificar as UP, seguindo os estágios I, II, III, IV, ou sem estágio, e assim facilitando o diagnóstico no tratamento e cicatrização das mesmas (SCHELL & PUNTILLO, 2005). Para esse estudo foram seguidas todas as normatizações previstas na resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde (CNS/MS), que trata de pesquisas envolvendo seres humanos, bem como observando os quatro princípios da Bioética: não maleficência, beneficência, justiça e autonomia (BRASIL, 2012). 77 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Estágio I: é quando a pele apresenta uma área de Eritema persistente, devido à pressão ocasionada onde a pele se encontra intacta, na vigência da pressão de um dedo, geralmente localizada sobre uma proeminência óssea, nesse caso a pele encontra-se vermelha íntegra, em geral, a inflamação pode reverter após a remoção da pressão. Estágio II: é quando existe uma área com uma lesão e com bolhas, em que há perda parcial da espessura da derme, e apresenta-se como uma úlcera rasa e aberta, com o leito da ferida de coloração vermelha rosa, sem esfacelo. Também poderá ocorrer uma bolha intacta ou aberta, preenchida por soro. Estágio III: é quando existe uma erupção na área afetada, formando uma lesão aberta. Perda total da espessura do tecido. A gordura subcutânea pode ser visível, mas os ossos, tendões ou músculos não estão expostos e existe esfacelo. Estágio IV: é quando a UP destrói os tecidos desde a pele até os ossos, tornando-o necrótico. Os achados incluem secreção malcheirosa e túneis profundos. A UP pode levar meses até um ano para cicatrizar. Sem Estágios: é quando a deformidade atinge também o tecido adiposo, músculos, ossos e tendões numa profundidade intensa f) fricção e cisalhamento: retrata a dependência do paciente para a mobilização, posicionamento e sobre estados de espasticidade, contratura e agitação que podem levar à constante fricção. Quando se analisa ou avalia o grau de dependência do paciente acamado, é para estabelecer uma forma do cuidado, no sentido de evitar certos conflitos e desordem na maneira de atuar, tendo em vista a prestação do serviço dentro da técnica e da ética profissional, possibilitando melhor qualidade de vida ao sujeito acamado. 2.3 PROCEDIMENTOS E CUIDADOS DE ENFERMAGEM PARA AS UP Ao falar do cuidado de Enfermagem, acredita-se que é a mais adequada expressão, o cuidado de paciente; então, o objetivo do cuidar é promover o alívio, o conforto e ajudar favorecer a possibilidade de cura (WALDOW, 2007). Ainda, conforme Waldow (2007), o cuidado é imprescindível em todas as situações de enfermidades, nas incapacidades e durante o processo de morte. Isso evidencia a importância da prestação da assistência de enfermagem e, assim, conseguir êxito em seus objetivos, no cuidado ao ser humano e em sua individualidade. Segundo Malagutti; Kakhiara (2011), o tratamento de feridas crônicas como as UP, exige conhecimento, uma avaliação global do estado de saúde do paciente, juntamente com um foco mais preciso sobre a história da ferida e o estágio em que se encontra. Para direcionar corretamente a conduta é necessário a EB-Escala de BRADEN, como protocolo a ser seguido, a fim de preparar o leito da ferida encaminhando o processo de cicatrização. Brêtas; Gamba (2006) relatam que o processo do cuidado em Enfermagem é um instrumento que subsidia a prática profissional do Enfermeiro. 2.3.1 A Enfermagem e o cuidado paliativo nas UP O Enfermeiro possui autonomia para delinear o planejamento de cuidados e estratégias a serem instituídas na prevenção e tratamento de feridas, prevenindo complicações ao paciente portador de UP, objetivando a reabilitação precoce do paciente. A isquemia acontece mais precisamente nas regiões em que os ossos permanecem com protuberâncias mais significativas, favorecendo o aparecimento das lesões nos locais onde elas surgem com mais frequência sendo, no sacro, tuberosidades ciáticas, trocânter maior, calcanhares, maléolos e cotovelos (MALAGUTTI; KAKHIARA, 2011). Os Enfermeiros são considerados os pilares numa instituição, pois não existe assistência focada ao paciente e à família sem uma participação ativa e decisiva do profissional de Enfermagem. (KNOBEL, 2005). A EB é um protocolo eficaz, utilizado na avaliação e tomado de decisão nas medidas preventivas a serem adotadas, de acordo com o estágio e o leito da ferida. 2.3.2 Curativos e Técnicas Diferenciadas nos Cuidados UP De acordo com os autores, Malagutti; kakhiara (2011), na EB, são avaliados seis fatores de risco no paciente, a saber: a) percepção sensorial: referente à capacidade do paciente reagir ativamente ao desconforto relacionado à pressão. Segundo Malagutti; Kakhiara (2011), nas feridas crônicas como UP, a oxigenação e irrigação dos tecidos ficam prejudicados, pelas quantidades fluentes de microrganismos que se alojam no leito da ferida, deixando a mesma sem evolução para principiar a cicatrização, necessitando de um desbridamento, para dar início a seu processo de cura. b) umidade: refere-se ao nível em que a pele é exposta à umidade. O processo de limpeza facilita a degradação de tecidos inviáveis que retardam o processo de cicatrização. c) atividade: avalia o grau de atividade física. 2.3.3 SAE – Sistematização da Assistência de Enfermagem no Cuidado e prevenção as UP d) mobilidade: refere-se à capacidade do paciente em mudar e controlar a posição do seu corpo. Sendo uma atividade privativa do Enfermeiro, a SAE faz referência ao conhecimento, organização, qualificação e prática norteando assistência técnica científica, com visão holística, numa abordagem com cinco e) nutrição: retrata o padrão usual de consumo alimentar do paciente. 78 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 etapas diferentes de assistência na elaboração de um protocolo a ser seguido pela equipe de enfermagem monitorando as alterações e condições de risco, garantindo o cuidado individualizado, no processo de Enfermagem (PE); histórico de Enfermagem (HE); diagnóstico de Enfermagem (DE); planejamento de Enfermagem (PE); implementação de Enfermagem (IE); evolução ou avaliação de Enfermagem (EE) (MURTA, 2007). fechadas, sendo entregue no próprio ambiente de trabalho. Para manter o anonimato dos participantes foram identificados como E1, E2, E3, e assim sucessivamente. A análise dos dados seguiu o modelo de análise do conteúdo, em que foram relacionadas todas as questões que compõem o instrumento de pesquisa. As respostas foram discutidas e confrontadas com os autores referenciados no estudo, gerando diferentes contextos sobre o tema. A partir dessa discussão, optou-se em elaborar gráficos que demonstram de forma clara os dados coletados com a pesquisa, esclarecendo, assim, o conhecimento que cada qual tinha a respeito do tema em questão. 2.3.4 Segurança do Paciente O Ministério da saúde criou um programa de segurança do paciente para o monitoramento e prevenção de danos na assistência à saúde. Desde 2011, 192 hospitais da Rede Sentinela monitoram um conjunto de eventos adversos no atendimento aos pacientes. Esse programa é um protocolo básico de revisão e certificação de atitudes antes do atendimento, para que se evitem erros, consentindo segurança e qualidade de vida do paciente. Quanto ao nível de conhecimento em relação às UP, percebe-se que a totalidade dos profissionais Enfermeiros que participaram da pesquisa se mostraram sabedores sobre o assunto pesquisado. Este dado é significativo, pois aponta para a importância do Enfermeiro ter o conhecimento científico relacionado à sua área de atuação, especialmente no que se refere às necessidades e cuidados dos pacientes internados e expostos às complicações inerentes à internação hospitalar em UTI. 2.3.5 Escala de Braden Malagutti; Kakhiara afirmam que: [...] A Escala de Braden é aplicada para identificar o risco para o desenvolvimento de up. Incluindo os seguintes parâmetros: percepção sensorial, mobilidade, nutrição, atividade, bem como a presença ou ausência de umidade, atrito e fricção. Classificados de 1 a 4, quanto menor a pontuação, maior o risco de a pessoa sofrer uma solução de continuidade na pele (MALAGUTTI; KAKHIARA, 2011, p. 163). [...] Os programas educativos são importantes por ajudar na previsão e prevenção das lesões, sendo que a instalação ou desenvolvimento das úlceras de pressão são menores em pacientes mais informados. Devem-se organizar programas educativos para todos os níveis de profissionais de saúde, familiares e cuidadores com o intuito de prever o aparecimento das feridas em indivíduos acamados. O baixo nível educacional não seria importante na reabilitação aguda, mas sim na prevenção e no período de acompanhamento (DELISA; GANS, 2002; IRION, 2005). Os autores supracitados revelam ainda que: [...] A classificação das UP é definida de acordo com o seu estágio (grau 1,2,3,4 e SE). Para determinar a área e volume, é utilizada uma fórmula matemática de Kunding (17) (largura x 0,785) do comprimento para a área; para o volume, profundidade x 0, 327 da área (MALAGUTTI; KAKHIARA, 2011, p. 166). Figura 1: Fatores de risco Intrínsecos para UP Segue o estudo sobre o Olhar dos Enfermeiros sobre as UP; nesse caso, verificou-se a dificuldade enfrentada pelos mesmos em conter as escoriações na pele do paciente acamado e o desenvolvimento das UP. O trabalho foi realizado de forma simples e controlada para não apresentar erros na coleta de dados, definindo desta forma a conclusão da referida pesquisa. No gráfico 1 destacam-se os principais fatores Intrínsecos apontados pelos profissionais no desenvolvimento das UP em pacientes acamados: o diabete mellitus e o edema como principais fatores predisponentes para o desenvolvimento de lesões. Foi citada ainda a temperatura corporal, idade avançada, pele sensível e desidratada como fatores agravantes. Os fatores intrínsecos são aqueles inerentes ao indivíduo, e estão relacionados às variáveis do estado físico do paciente, sendo a imobilidade o principal fator intrínseco, podendo ser permanente ou transitório. 3. O OLHAR DOS ENFERMEIROS SOBRE A UP Nessa etapa da escrita são apresentados os resultados e análises dos dados obtidos através da aplicação do questionário. Os sujeitos de pesquisa correspondem a um universo total de seis Enfermeiros que integram o quadro funcional da respectiva UTI. Eles responderam a um questionário estruturado, a partir do qual foram elaborados gráficos que apresentam os resultados obtidos, com posterior análise e discussão dos conteúdos das respostas. Os Enfermeiros que participaram da entrevista demonstraram ter conhecimento da UP, e das patologias agravantes que agem em combinação na complexidade para desencadear a UP. A coleta de dados ocorreu através da entrega de um instrumento de pesquisa a um mediador que repassou aos colegas o questionário com perguntas abertas e 79 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 2: Fatores de risco extrínsecos para UP sistematizada para evitar fatores adicionais que resultem na lesão do tecido formando e n t ã o a U P. ( C A L I R I ; R U S T I C I ; MARCHRY,1997). Outros cuidados preventivos são buscados intensivamente na intensão de prevenir, gerando técnicas essenciais para contribuir no controle das UP, utilizandose de mecanismos de auxílio eletrônico para cicatrização de feridas, como laser, ultrassom e estímulos elétricos. Figura 4: Conhecimento sobre a Escala de Braden Ao tratar de fatores extrínsecos que provocam UP com os Enfermeiros, observou-se a preocupação que apresentam em relação à UP, mantendo na prática as técnicas para amenizar e controlar o surgimento das mesmas. Os fatores extrínsecos são aqueles independentes do indivíduo e estão relacionados e decorrentes da isquemia gerada pela compressão prolongada na pele, em que existe uma superfície dura promovendo a lesão do paciente. (DELISA; GANS, 2002; SMELTZER; BARE, 2005). A Escala de Braden é uma ferramenta utilizada para colaborar e atuar junto à equipe de cuidadores, facilitando o cuidado e minimizando risco de desenvolvimento das UP. Percebe-se, também, que os profissionais entrevistados poucos conhecem plenamente a EB, seu valor na prática da saúde e o benefício desta ferramenta, enquanto outros profissionais de Enfermagem possuem pouco ou nenhum conhecimento a respeito. Desse modo, observou-se a preocupação diante da busca de subsídios e contribuições para prevenção UP. Múltiplos fatores podem levar a complicações na inexistência de uma evolução técnica adequada no cuidado da UP. Poderá ter outro desfecho com o conhecimento e uso desta ferramenta. Neste cuidado se utiliza uma técnica de ponte, que consiste na solução do limite entre a força gravitacional e de atrito para o reposicionamento correto do paciente; são cuidados necessários para minimizar a incidência do surgimento das UP. Figura 3: Métodos e ferramentas cuidados e prevenção UP Nas variáveis clínicas como estadiamento e mensuração das UP, estes são previamente padronizadas. Para as feridas irregulares, utiliza-se sempre as maiores dimensões. Para a interpretação prática dos resultados obtidos com a aplicação da EB, adotam-se os níveis de riscos propostos pelos autores da escala. Risco leve para escores 15 a 16; risco moderado para escores 12 a 14 e risco alto para escores iguais ou inferiores a 11 (ROGENSKI; SANTOS, 2005 pg. 475- 476). No gráfico 3, os Enfermeiros entrevistados se utilizam de algum suporte educacional, ou protocolo para se manter atualizados frente à conduta, sustentando o apoio necessário para o cuidado correto do paciente acamado, prevenindo as UP. Segundo Faro (1999, p.279), é necessário ensinar os familiares e profissionais de saúde como cuidar da pele evitando as UP, a cada ferida aberta o tratamento clínico fica praticamente interrompido retardando o processo de reabilitação. Figura 5: Conhecimento sobre a Escala de Braden Devido às consequências que esta patologia provoca em pacientes acamados, observou-se que os Enfermeiros entrevistados buscam atualizarem-se constantemente, para desempenhar um trabalho de qualidade, abreviando os riscos de desenvolver as UP, minimizando a grande incidência junto a pacientes hospitalizados e acamados, obtendo retorno precoce do cuidado prestado. A figura 5 mostra o interesse dos participantes da pesquisa na busca de preparo e qualificação no que se refere às UP, já que houve dúvidas na adesão a um sistema diferenciado do cuidado, sendo motivo da permanência significativa do paciente em condições de acamado por muitos dias, elevando trabalho e custos. Neste contexto, percebe-se que aos poucos vai se aderindo a essa nova técnica na maneira do cuidado, para [...] Os pacientes restritos ao leito ou cadeirantes, ou aqueles que são incapazes de se posicionar são os mais propensos para a formação de úlceras de pressão, portanto devem receber atenção especial ou 80 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 melhorar os indicadores dessa incidência. Figura 8: Na prática diária UTI com base SAE Figura 6: Existe educação continuada Na figura 6 os Enfermeiros que participaram da pesquisa, dividiram as suas respostas, 50% dos entrevistados afirmam que em seu local de trabalho é realizado a EC com a equipe de Enfermagem, a fim de se manterem atualizados e informados com as novas técnicas de qualificação, que sempre surgem na área de trabalho para melhor cuidado ao paciente da UTI. Ao mesmo tempo, os outros 50% dos entrevistados confirmam que não há a educação continuada, colocando uma confusa explicação mediante tal problemática. Existe uma controvérsia entre os próprios colegas de trabalho. Na figura 8 os Enfermeiros pesquisados justificaram em suas respostas que o conhecimento em relação à SAE favorece cuidado mediante boas ações, baseado no oferecimento do conforto prestado ao paciente. A SAE foi algo que veio contribuir na qualidade e melhoramento do serviço prestado pela equipe de Enfermagem e ao usuário que necessita de cuidados, com um objetivo definido, sua saúde. A EC é um estudo constante e permanente que se faz mediante intuito de programar uma forma adequada de trabalho, sempre atualizada, no cuidado do paciente acamado e em relevantes fatores fisiopatogênicos das UP. Figura 9: Existem dificuldades e entraves enfrentados nas UP A fragilidade do atendimento se concentra no aspecto do manuseio e conhecimento de ferramentas, que poderão fazer a diferença na qualidade do serviço prestado; nesse sentido, percebe-se a importância de uma educação permanente, para que os profissionais consigam ter o domínio e o conhecimento para um atendimento seguro. Na figura 9, a maioria dos Enfermeiros entrevistados afirma que não há entraves na assistência prestada à saúde. Figura 7: Avaliação de risco das UP Entrave é um empecilho que existe interrompendo de certa forma a qualidade da assistência prestada. Por isso, considera-se importante uma educação permanente aos profissionais de Enfermagem envolvidos no processo do cuidado. É de fundamental importância o conhecimento sobre a real função do Enfermeiro, o metaparadigma da Enfermagem, esclarecendo qual é o público receptor dos cuidados de Enfermagem, qual a finalidade da assistência de Enfermagem (saúde), em qual ambiente essa assistência é prestada e como ela deve ser executada e formalizada (TANNURA; PINHEIRO 2010). A figura 7 demonstrou que os Enfermeiros que participaram da pesquisa, manifestaram-se favoráveis quanto à aplicação da avaliação de risco para UP que acomete o paciente acamado em UTI. Considerando que este é maior para indivíduos acamados, restrito à cadeira de rodas ou os que apresentam limitada capacidade de reposicionamento. Nesse caso, programar as medidas preventivas específicas, proporcionando agilidade conforme seu potencial de risco, inspecionando a pele diariamente. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho buscou reunir informações sobre a prevenção e incidência das UP, em que os participantes da pesquisa relataram que os pacientes que apresentarem diabete mellitus e edemas estão mais propensos à morte e isquemia celular deixando-os mais vulneráveis a sofrerem de UP. 81 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 A intensidade e o tempo são determinantes, podendo haver colapso e trombose com significativa destruição de tecido subcutâneo, e estas são as principais causas de doenças, conciliando com outras patologias agravantes capazes de favorecer o surgimento das UP. médico-cirúrgico 10º ed. RJ Guanabara Koogan. DELISA, GANS, 2002, IRION, 2005 Tratado de Medicina de Reabilitação: Princípio e práticas 3ª ed. Barueri, Manoel. O tratamento das UP é em longo prazo em pacientes hospitalizados e acamados, determinando uma leva de recursos financeiros e humanos envolvidos para a reabilitação total do paciente. Diante do exposto, sabese que as UP representam um problema de saúde pública que consome recursos humanos e materiais. Esse problema reflete na insatisfação dos profissionais pela não obtenção dos resultados a que se propõem. FARO, Ana Cristina Mancussi E.1999. Fatores de Risco para úlceras por pressão: subsídios para prevenção. Ver. Esc. Enfermagem USP; v 33 (3): p 279. KNOBEL, Elias; Co-outores Claudia Regina Laselva/Denis Faria Moura Júnior. 2005. TERAPIA INTENSIVA, ENFERMAGEM- São Paulo: Editora Atheneu. Com os resultados obtidos no estudo percebeuse que a dificuldade sentida é imensa em relação às UP, principalmente para conter a instalação das mesmas em qualquer área ou atuação de saúde. Com a existência dessa problemática desafiadora, mobilizam-se os Enfermeiros a procurar conhecimentos que permitem ir além das práticas tradicionalmente utilizadas no cuidado das UP, investindo em novas técnicas, tendo em vista a socialização de estudos experimentais para a obtenção de bons resultados. MALAGUTTI, Willian; KAKHIARA, Ristiano Térzia. 2011. Curativos, Estomias e DermaTologa: Uma Abordagem Multiprofissional. 2ª Edição; São Paulo; Martinari MURTA, Genilda Ferreira. 2007. Saberes e Práticas: Guia para Ensino e Aprendizado de Enfermagem. 3d, vol3. São Caetano do Sul; Editora Difusão. Pg 253 – 256. PADILHA, Alexandre Rocha Santos, RESOLUÇÃO; HOMOLOGAÇÃO, CNS Nº 466/12, Ministro da Saúde. Conselhosaude.gov.br/resoluções/2012/Reso466pdf2012 Espera-se que após estes conceitos introduzidos neste estudo seja possível amenizar esse tipo de problema reduzindo assim a instalação das UP, e quando estas já instaladas, formaliza-se o atendimento com as novas tecnologias em que o processo de cicatrização seja prévio. Propõe-se uma avaliação sistemática e estruturada do leito da ferida, com a finalidade em detectar possíveis fatores que interferem negativamente no processo de cicatrização. ROGENSKI, Noemi Brunet; SANTOS, Vera Lúcia de Gouveia. 2005. Estudo sobre a incidência de úlcera por opressão em um hospital universitário. Rev. Latino Ame-Enfermagem, Ribeirão Preto, v.13, n.3, p475-476, Julho-Agosto TANNURE, Meire Chucre; PINHEIRO Ana Mª. 2010 SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem, GUIA PRÁTICO, 2ª Edição – Gen/ Guanabara/Koogan. Reconhecendo o trabalho árduo e sem finalização remetida pela equipe de Enfermagem para prevenir as UP, conclui-se que esta pesquisa tornou-se importante, obtendo maiores conhecimentos no controle de medidas, no desenvolvimento de solução prática para este problema, podendo precocemente definir ações que auxiliem na prevenção e cura da UP. Consequentemente, ao tratar desse problema na pesquisa podem-se definir estratégias de prevenção e de cura, dando a oportunidade assim aos pacientes atingidos de voltar a ter qualidade de vida, ou seja, saúde. Desse modo, verificou-se a relevância desse tema e a necessidade de discutir mediadas de prevenção das UP. Além disso, é necessário argumentar que esse estudo muito contribuiu para maior conhecimento e enriquecimento acadêmico em relação a esta patologia. SCHELL, Hildy M & PUNTILLO, Kathleen A. 2005. Segredos em Enfermagem na Terapia Intensiva. Porto Alegre, Artmed. WALDOW, Vera Regina. 2007. Cuidar Expressão Humanizadora da Enfermagem. 2ªEdição Petrópolis RJ Editora Vozes. REFERÊNCIAS BRÊTAS, Ana Cristina Passarela. GAMBA, Mônica Antar. 2006. Enfermagem e Saúde do Adulto. Barueri, São Paulo, Manole. CALIRI, Maria Helena L; RUSTICIA, Andréia Carla F; MACHRY, A. L. Setembro. 1997. Prevenção de úlceras de pressão em pacientes com lesão medular: só o conhecimento é suficiente? II congresso Latino Americano Estomaterapia. (Resumo) São Paulo. DELISA, Joel A; GANS, 2002 SMELTZER, Suzanne BARE, Brenda G.2005. Tratado de Enfermagem 82 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS NO SETOR DE SOLDA EM UMA METALÚRGICA Maiquel Batista¹ Alexandre Chapoval² SETREM³ RESUMO A atual pesquisa apresenta como problema o estudo da execução das atividades de uma indústria metal mecânica voltada para a produção de peças, que atendem a linha agrícola e automotiva, situada no noroeste do Rio Grande do Sul, no período de agosto a novembro de 2014. Procurando atender ao problema, buscou-se como objetivo geral aplicar o estudo de tempos e movimentos no processo de solda, abrangendo os conjuntos soldados de maior valor agregado. Quanto à metodologia, utilizouse a abordagem dedutiva devido ao estudo basear-se na organização e definição dos parâmetros envolvidos no processo de solda, abordagem qualitativa como forma de análise para identificar possíveis pontos de melhoria e a abordagem quantitativa, vindo a integrar as abordagens de forma que se possa tabular os dados analisados. Este trabalho de pesquisa resultou na elaboração de uma proposta envolvendo a criação de um roteiro de solda para os conjuntos analisados como forma de padronizar a execução das atividades de fabricação e em melhorias relacionadas aos colaboradores, materiais e infraestrutura. ABSTRACT The current research presents as a problem the study of the implementation of the activities of a metal mechanical industry focused on the production of parts that serves the agricultural and automotive line, in the northwest of Rio Grande do Sul, from August to November 2014. Trying to attend to the problem, it was intended to implement the general objective of the study of times and motions in the welding process covering the higher value-added weldments. As the methodology used to study due to the deductive approach it is based on the organization and defining the parameters involved in the welding process, qualitative analysis approach in order to identify potential areas for improvement, and from the quantitative approach to integrate the approaches so that it is possible to tabulate the data analyzed. This research led to the development of a proposal involving the creation of a weld joint roadmap for the analyzed as a way to standardize the implementation of manufacturing activities and improvements related to employees, materials and infrastructure. Keywords: Time. Motion. Proces., Improvemen., Welding. Palavras-chave: Tempo. Movimento. Processo. Melhoria. Solda. influenciados pelo tipo de fluxo por onde percorre o material dentro da empresa, processo de fabricação escolhido para desenvolver um produto, tecnologia empregada no processo e características do trabalho envolvendo ergonomia (MARTINS 2005). 1. INTRODUÇÃO As mídias digitais estão totalmente inseridas no contextO mundo moderno está formado por vários tipos de organizações, dentre as quais, muitas possuem o ramo de atuação semelhante umas das outras, tornandoas concorrentes. Neste cenário competitivo, fica evidenciada a corrida ao desenvolvimento nas melhorias dos recursos disponíveis, visando a fidelização do cliente por meio da satisfação das suas necessidades. Segundo Barnes (1977), a parte ergonômica também deve ser analisada, pois pessoas e máquinas têm sua capacidade e eficiência limitada a diversos fatores importantes que acabam interferindo na execução de uma atividade. O objetivo da ergonomia é fazer o estudo da adaptação das tarefas relacionadas ao homem no ambiente de trabalho. Desta forma, o trabalho realizado sobre as premissas de uma organização bem estruturada se faz importante para que a empresa consiga se destacar e garantir seu lugar no mercado. Esta pesquisa vem a contribuir com a área de Métodos e Processos, setor capaz de influenciar fortemente nos ganhos relacionados à redução dos desperdícios, sejam envolvendo movimento, recursos humanos, layout dos equipamentos e todo o arranjo físico pertinente ao processo. Desta forma, pode-se notar que administrando os recursos envolvidos no processo produtivo, de forma simples e sem investimentos, as empresas podem potencializar seus ganhos. Somente ao final, quando todas as alternativas possíveis de gestão dos recursos disponíveis forem escassas, a procura por investimentos que utilizem recursos financeiros devem ser liberados ou disponibilizados a produção. O trabalho em questão tem o objetivo de explorar recursos disponíveis, primeiramente fazendo o levantamento dos itens a serem estudados, seguido pela coleta de dados, análise e apresentação de Neste estudo a utilização da cronometragem do tempo auxilia o pesquisador a qualificar e quantificar os métodos empregados na indústria para medir o trabalho. A eficiência e o tempo padrão de produção são ¹ Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção – SETREM – [email protected] ² Professor orientador do estudo. Bacharel em Administração. Pós-graduado em Gestão de Negócios. Mestre em Engenharia da Produção. Professor da Faculdade de Administração e da Faculdade de Engenharia de Produção da SETREM. ³ Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 83 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 uma proposta de melhoria com os resultados envolvidos no processo do setor de solda. objetivo determinar, através de acompanhamento, um tempo padrão ou tempo standard. Este tempo deve corresponder ao desempenho considerado normal de um operador qualificado, realizando uma tarefa, também considerada normal, com base em um método de trabalho previamente analisado e definido (BARNES, 1977). O trabalho está estruturado em 3 partes. A primeira é apresentado o referencial teórico de onde foram adquiridos os conhecimentos referente ao assunto; a segunda parte se refere ao estudo de caso em que são abordados os procedimentos utilizados para coletas de dados relacionados ao sistema e à cronoanálise envolvendo o setor de solda e os conjuntos produzidos. Já a terceira parte traz uma abordagem relacionada à discussão e análise dos resultados, mostrando a contribuição do desenvolvimento do mesmo à empresa. Andrade (2008) defende a utilização dos seguintes equipamentos no estudo do tempo: cronômetro centesimal, prancheta e formulário. Já Zeigler (2007) defende a utilização de elementos digitais, como câmeras fotográficas e filmadoras, com o objetivo de reanalisar os acompanhamentos se necessário, pois os recursos capturados auxiliam na retirada de dúvidas e evidência dos fatos. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.2.1 Divisão das Operações em Elementos Graças a Frederic Winslow Taylor (1965-1915) a ciência para estudar o trabalho foi desenvolvida, como ele chamava Organização Científica do trabalho ou como ficou conhecida Taylorismo. Como sua vida profissional começou a partir do trabalho operário, Taylor teve condições de observar o trabalho operacional e constatar que o operário não procurava ter iniciativa própria para achar meios que viabilizassem e aumentassem a produção. Notou também que os operários tentavam ganhar cada vez mais de seus patrões e de imediato realizavam suas tarefas de forma facilitada para não cansar ou aumentar a carga de estresse, pensando em seu benefício somente (ANDRADE, 2008). Para que o estudo seja mais detalhado, as operações devem ser divididas em elementos da operação. Em geral, a descrição do método de trabalho coincide com a divisão dos elementos a serem analisados. Quando uma operação é analisada no total, o estudo não consegue precisar na identificação de possíveis problemas, principalmente quando se tem a identificação de diferenças grandes de tempo para peças iguais, não sendo possível de identificar qual parte da operação está causando a variação excessiva de tempo (BARNES, 1977). 2.2.2 Cronometragem A cronoanálise, por sua vez, não é apenas uma ferramenta demonstrativa de resultados, mas também é uma técnica fundamental e importante para auxiliar no estudo e aperfeiçoamento dos métodos de trabalho, favorecendo a prática da melhoria contínua (ANDRADE, 2008). Durante o estudo de tempo, Andrade (2008) cita dicas para o analista desempenhar seu papel com eficiência, quanto ao posicionamento, que deve ser de forma que não prejudique ou interfira na realização das atividades do operador; quanto à prancheta e ao cronômetro, que devem estar o mais próximo possível de forma fixa ou segura apoiado sobre o abdômen. O analista deve se posicionar da melhor forma que o permita analisar o movimento total do operador, movendo somente os olhos para observar a execução da atividade, suas anotações e o cronômetro. Antes de pôr em pratica a medição dos tempos de operação é necessário que haja a descrição detalhada do processo e suas operações, para que a padronização destes recursos seja realizada visando determinar a melhor maneira de executar o trabalho (BARNES, 1977). 2.1 ESTUDO DOS MOVIMENTOS Quando se trata de método de análise, destacam-se os mais usuais, o método repetitivo e o método contínuo. A escolha do método mais adequado vai depender da capacidade do analista, além do processo a ser analisado influenciado pela velocidade de execução e layout envolvendo o estudo (BARNES, 1977). Para identificar os pontos fracos na execução de uma tarefa, é essencial analisar todo o cenário envolvido, pois questões de logística, deslocamento, esforço físico, materiais, instalações, ambiente, equipamentos, habilidades, entre outros, estão diretamente ligados ao nível de eficiência de um método de trabalho (PEINADO; GRAEML 2007). 2.3 ERGONOMIA Após a análise de todos os fatores envolvendo o arranjo do posto de trabalho é possível levantar os principais problemas enfrentados, para que se possam trabalhar melhorias que se tem por objetivo o aperfeiçoamento das atividades introduzindo-se ao processo métodos muitas vezes mais fáceis com o mínimo de esforço admissível (PEINADO; GRAEML, 2007). Quando um método de trabalho é desenvolvido ou analisado, tem-se como objetivo encontrar ou conduzir a combinação entre homem, máquina, equipamento, ferramentas e materiais, de forma mais eficiente possível no ambiente de trabalho. Neste ponto, podem ser verificadas e estratificadas as funções que melhor são executadas pelo homem ou pela máquina, pois ambos possuem limitações de uso. Cabe a um analista dimensionar da melhor forma sua interação (BARNES, 1977). 2.2 ESTUDO DO TEMPO Através do estudo do tempo é possível analisar as técnicas e métodos utilizados no processo e execução de uma determinada tarefa. O estudo do tempo tem como O objetivo da análise ergonômica está relacionado à adaptação das tarefas e do ambiente de trabalho às 84 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 necessidades sensoriais, perceptivas, mentais e físicas, levando em consideração as capacidades, habilidades e limitações do ser humano (MARTINS, 2005). Anualmente são realizados cursos e treinamentos no setor de solda, com o objetivo de garantir a qualidade dos produtos fornecidos aos seus clientes. Desta forma, o gráfico 2 (esquerda) monstra o número de horas cursadas, levando em consideração cursos profissionalizantes externos e internos. Assim, os operadores vão acumulando horas de cursos no decorrer da sua carreira, em que o maior percentual (57,14%) identifica os colaboradores que têm entre 60 e 100 horas de curso de solda. 3. ESTUDO DE CASO O trabalho foi desenvolvido junto a uma empresa localizada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul e é uma empresa que faz parte do Polo Metal Mecânico. A empresa possui certificações de qualidade com ênfase para a certificação ISO 9001:2008. Também se destaca pela sua filosofia de trabalho, contemplando investimentos em sua estrutura, profissionalização de seus colaboradores, assim como aquisição de novas tecnologias de processo com a visão de garantir a qualidade de seus produtos, tornando-se cada vez mais competitiva no mercado. O gráfico 2 (direito superior) demonstra o percentual do curso de desenho entre os colaboradores, em que 57% apresentam 60 horas de curso e 43% apresentam 50 horas de curso. Neste setor o curso de desenho é prérequisito para que uma pessoa possa integrar a equipe de solda, pois ela deve estar apta a traduzir as especificações dos desenhos utilizados no setor. Antes de começarem os trabalhos no setor de solda, verificou-se a necessidade de conhecer mais sobre o setor e os colaboradores que a ele fazem parte. Os dados mostrados a seguir foram repassados pelo setor de Recursos Humanos da empresa e declaram a situação atual do setor no período de agosto de 2014. Para o curso de metrologia existem colaboradores que possuem curso certificado e outros que possuem cursos sem certificação (os cursos sem certificação geralmente são realizados internamente em empresas e têm o objetivo de melhorar a qualidade da mão-de-obra). O gráfico 2 (direita inferior) demostra essa realidade, em que 71,43% correspondem aos colaboradores com curso de metrologia certificada e 28,57% representam os colaboradores com curso de metrologia sem certificação. O setor de solda atualmente é composto por 16% dos funcionários, em que são realizados trabalhos envolvendo solda leve e pesada, sendo o mesmo liderado por um responsável, nomeado líder, com grande conhecimento sobre as atividades do setor. Quanto ao layout da solda, a empresa possui nove cabines de solda na matriz e duas cabines de solda na filial (em construção). Todos os aparelhos são calibrados (terceiros), revisados (terceiros) e regulados (operadores) seguindo um cronograma gerenciado pelo setor de qualidade. As regulagens dos aparelhos de solda são ajustadas conforme a necessidade do tipo de solda especificado pelo projeto do cliente. Ainda no setor de solda existem duas centrais de estoque de gabaritos, a central A que fica aproximadamente 35 metros das cabines e a central B com aproximadamente 15 metros de distância das cabines de solda. A figura 1 ilustra parte do layout da fábrica destacando o setor de solda e as centrais de armazenamento dos gabaritos com quadros em vermelho. A idade dos colaboradores no setor varia entre 25 e 30 anos, sendo que 71,43% são compostos por pessoas na faixa de 30 aos 50 anos, gráfico 1 (esquerda). Gráfico 1: Demonstrativo da faixa etária e grau de escolaridade dos colaboradores O gráfico 1 (direita) demonstra o grau de escolaridade dos colaboradores do setor de solda, evidenciando 42,86% para aqueles que têm o Ensino Médio completo, 42,86% para os colaboradores com Ensino Fundamental completo e 14,29% para os colaboradores com Ensino Médio incompleto. Em relação ao setup, hoje o mesmo não é considerado no setor de solda, devido à adoção de auxiliares de produção, denominados como “pagadores de peças” pelos soldadores, no processo. Esse auxiliar é responsável pelo deslocamento dos gabaritos, gravação do código do fornecedor nos componentes que requerem esse processo, sendo também responsáveis pelo deslocamento e posicionamento das peças na cabine para solda dos conjuntos. Gráfico 2: Demonstrativo cursos e habilidades Figura 1: Layout do setor de solda e centrais de gabarito FONTE: Dados da empresa. FONTE: Dados da empresa. FONTE: Dados da empresa. 85 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 O setor de solda tem como input componentes e pré-conjuntos, abastecidos pelo setor de corte (componentes de corte laser, serra, plasma e guilhotina), setor de estamparia (componentes dobrados e estampados), compras (porcas, parafusos e arruelas) e ainda pelo setor de usinagem. E como output conjuntos destinados aos setores de pintura (conjuntos soldados que recebem pintura), montagem (pré-conjuntos soldados utilizados nos conjuntos montados) e expedição (conjuntos soldados e apenas rebarbados). A figura 2 ilustra o fluxograma pertinente ao processo de solda: Quadro 2: Coleta dos tempos do sistema FONTE: Dados da empresa. 3.2 ANÁLISE DO TEMPO E MOVIMENTO Figura 2: Fluxograma do processo de solda Tendo selecionado os conjuntos para o desenvolvimento da pesquisa, o passo seguinte foi reunir todos os envolvidos do setor de solda para uma breve introdução sobre o método que seria utilizado para a realização da coleta dos tempos e movimentos em benefício da empresa, possibilitando a avaliação da situação atual do setor de solda, relacionada à infraestrutura, ao tempo de processo, à disposição de gabaritos e à averiguação do estado dos equipamentos; em benefício dos colaboradores, relacionando a questões ergonômicas, envolvendo a atividade no setor e em benefício do acadêmico, abrangendo a troca de conhecimento prático e teórico com a estrutura participante (empresa, sistema, processo, colaboradores e orientadores do trabalho). FONTE: Dados da empresa. Quadro 1: Conjuntos selecionados Deste modo, explicou-se a adoção da prática de filmagem como método de captura dos movimentos empregados no cumprimento das atividades e posteriormente a análise das filmagens para retirada dos tempos empregados na comparação. A utilização da filmagem permite maior agilidade e facilidade na execução da análise aceitando voltar ou passar a cena quantas vezes forem necessárias. Propicia uma análise mais completa, permitindo a visualização de detalhes que podem ser cruciais na elaboração dos resultados. A filmagem se mostrou de fácil acesso, pois são necessários somente uma ou duas câmeras, um ou dois tripés (dependendo da quantidade de câmeras utilizadas), um computador e um software de vídeo (sendo encontrados softwares gratuitos para download). FONTE: Dados da empresa. Após o levantamento dos conjuntos que seriam analisados foram coletados os tempos tidos como padrão no processo de solda pelo sistema. Esses dados foram obtidos com a ajuda do setor de Métodos e Processos e teve como objetivo conhecer a situação do tempo cadastrado no sistema para comparação com o tempo real de execução, posteriormente coletado através da utilização do método de cronoanálise. Para captura dos movimentos, utilizou-se uma câmera posicionando-a de tal modo que conseguisse capturar o deslocamento do operador na cabine, sua movimentação corporal e o tempo levado na execução da tarefa. Após o término de cada filmagem, para análise dos tempos e dos movimentos de cada conjunto, realizouse uma segunda filmagem com o objetivo de interagir com o operador, em que o mesmo explicava como proceder para montar os componentes no gabarito e executar a solda na fabricação dos conjuntos. No quadro 2 são mostrados os tempos de operação, referentes ao processo de solda, cadastrados no sistema de gerenciamento industrial. A análise do tempo se faz importante para verificar a execução da atividade e avaliar se a atividade está sendo seguida conforme tempo proposto ou se há alguma alteração desse tempo. Para realização da filmagem dos conjuntos utilizou-se uma câmera filmadora e um tripé, posicionando-os adequadamente para capturar os movimentos do operador na execução da atividade. No momento da filmagem o operador foi instruído para que agisse naturalmente, com o objetivo de diminuir a interferência e alteração nos resultados por processos 86 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 atípicos. No caso, de o analista perceber alguma alteração, pararia a filmagem e voltaria a instruir o operador para que o processo fluísse com a menor influência possível. de mudanças ou critério previsto), como forma de garantir o desenvolvimento da empresa. A seguir, mostrou-se através de um relatório o tempo padrão levantado a partir da análise das filmagens realizadas na elaboração de cada conjunto envolvendo o processo de soldado dos componentes para fabricação dos conjuntos soldados. Em média, filmou-se 30 minutos de atividade para fabricação de cada conjunto, sendo que se utilizou o tempo de 5 ciclos de produção como amostragem. No momento da filmagem, o analista estava presente para controlar a filmadora no processo de captura e analisar a influência do meio. 3.2.1 Estudo do CONJUNTO E O CONJUNTO E é uma proteção de tanque e é encontrado em alguns modelos de tratores. É fabricado pela empresa desde 2009. Atualmente representa 1,80% do faturamento da empresa, com margem de lucro de 40% e tem cadastrado no sistema 3,13 minutos como tempo de processo de solda. A descrição da operação, que acompanha a ordem de fabricação e o desenho, mostra apenas uma breve introdução e o local em que deve ser soldado o conjunto E. Na primeira filmagem, posicionou-se a filmadora em um ângulo em que pudesse ser obtida uma filmagem nítida e sem obstáculos, mostrando o ambiente e os movimentos do operador, como mostra a figura 11. A segunda filmagem tinha a finalidade de capturar a explicação do processo de montagem dos componentes no gabarito e posterior soldagem dos mesmos para utilizar na fragmentação das atividades em elementos para obtenção dos tempos. Para fabricação do CONJUNTO E são utilizados 4 componentes diferentes, figura 4, que passam por processos em distintos setores: Componente 1 (participa na fabricação da peça o processo de corte plasma e dobra), Componente 2 (participa na aquisição da peça, o setor de compras), Componente 3 (participa na fabricação da peça, o processo de corte guilhotina, dobra e solda) e Componente 4 (participa na fabricação da peça o processo de corte laser e solda). Após a coleta de todas as filmagens dos conjuntos soldados estudados, passou-se para fase de análise das filmagens, em que se fragmentou o processo de solda de cada conjunto em elementos e, a partir desses elementos, foram estudados os tempos. Ao começar a estudar a filmagem, o analista fixa sua visão e audição em um ponto que será considerado por ele como sendo o inicial de cada ciclo. Nesta pesquisa, considerou-se o início do ciclo quando o operador toca o primeiro componente e término do ciclo quando o operador chega ao ponto inicial ou marco zero (toque no primeiro componente após a estocagem do conjunto já soldado). Figura 4: Componentes do CONJUNTO E Após a definição do ponto de início do ciclo, dispara-se o cronômetro e contabiliza-se o resultado em uma planilha do Excel. A figura 3 mostra os momentos da filmagem de um dos conjuntos soldados como forma de caracterizar e demostrar como foram fragmentadas as atividades envolvendo os conjuntos em elementos para melhor analisar o tempo utilizado na execução das tarefas. FONTE: Dados da empresa. Na planilha com os dados coletados da filmagem realizada, quadro 3, destaca-se a divisão do processo de solda do CONJUNTO E em dois processos. O primeiro contemplando 8 elementos, contabilizando 5 ciclos de amostragem e o segundo dividido em mais 7 elementos, contabilizando 5 ciclos de amostragem. Na análise deste conjunto os resultados dos dois processos foram somados juntos para se chegar ao tempo médio final. Figura 3: Quebra da atividade em elementos Quadro 3: Cronoanálise processo de solda CONJUNTO E FONTE: Dados da empresa. Atualmente, a empresa envolve o tempo cadastrado no sistema na elaboração do custo, que, consequentemente, influencia no preço de venda. Portanto, deve-se ter cuidado com essa premissa e avaliá-la constantemente (dentro de um período, a partir 87 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 momento de manuseio da peça, figura 6. Figura 6: Processo de solda do CONJUNTO E, 2° processo FONTE: Dados da empresa. Na figura 6 observa-se a peça fixa no gabarito na direita e a peça sobre os fixadores do próprio gabarito à esquerda, que pode vir a escorregar quando posicionada sobre os fixadores devido aos mesmos terem uma área de contato pequena sobre a peça apoiada, ocasionando correção do posicionamento provocado pelo deslize da peça. 3.2.2 Estudo do CONJUNTO G O CONJUNTO G é uma proteção de tanque e é encontrado em modelos de tratores simples. É fabricado pela empresa desde 2009. Atualmente representa 1,57% do faturamento da empresa, com margem de lucro de 28% e tem cadastrado no sistema 0,50 minutos como tempo de processo de solda. FONTE: Dados da empresa. O tempo médio obtido na soldagem do CONJUNTO E foi de 2 minutos e 25 segundos para o processo 1 e 2 minutos e 12 segundos para o processo 2, totalizando uma média final de 4 minutos e 37 segundos. Neste conjunto, o menor tempo de realização da atividade foi de 4 minutos e 27 segundos e o maior foi de 5 minutos e 1 segundo. No primeiro processo observou-se maior variação nos elementos que tinham o manuseio de fixadores e de porcas, figura 5, em que a luva de raspa de couro tem influência negativa no manejo de peças pequenas, diminuindo o tato do operador. Para fabricação do conjunto são utilizados 3 componentes diferentes, figura 7, que passam por processos em distintos setores: Componente 1 (participa na fabricação da peça o processo de corte plasma e dobra), Componente 2 (participa da aquisição da peça o setor de compras) e Componente 3 (participa na fabricação da peça o processo de corte plasma). Figura 7: Componentes do CONJUNTO G Figura 5: Luva de raspa de couro (esquerda) e fixador (direito) FONTE: Dados da empresa. Na planilha com os dados coletados da filmagem realizada, quadro 4, destaca-se a divisão do processo de solda do CONJUNTO G em 6 elementos, contabilizando 5 ciclos de amostragem. FONTE: Dados da empresa. Quadro 3: Cronoanálise processo de solda CONJUNTO G Já no segundo processo, o elemento 6 se mostrou com maior oscilação no tempo entre os demais elementos, pois nesse elemento o operador posiciona a peça sobre os fixadores presos ao gabarito em cima da mesa para conseguir terminar a solda do componente 3, a estrutura, ocasionando diferença de tempo dependendo do nível de força e de rapidez exercida pelo operador no 88 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 empresa está deixando de agregar custo na formação de preço dos dois conjuntos. A fim de calcular algumas variáveis, entrou-se em contato com o RH para levantamento de dados referente à mão de obra, para realização de uma análise do tempo dos CONJUNTOS E e G que apresentaram uma variação negativa na comparação de tempos deixando de agregar custo aos produtos sobre a mão de obra. Segundo a tabela de cargos e salários de setembro de 2014, o piso salarial para um soldador é de R$ 1.201,90 para 220 horas, tendo assim um custo de mão-de-obra de R$ 5,463 sem contar os encargos. FONTE: Dados da empresa. O tempo médio obtido na soldagem do CONJUNTO G foi de 1 minuto e 48 segundos, tendo como menor tempo de realização da atividade a marca de 1 minuto e 42 segundos e o maior de 1 minuto e 54 segundos. Quadro 6: Simulação com dados do sistema As oscilações mais significativas podem ser vistas nos elementos 3, 4 e 5, que envolvem o posicionamento do componente no gabarito, execução de solda, conforme necessidade do desenho e liberação do conjunto do gabarito. Neste caso, todos os elementos dependem da agilidade e da precisão do operador em executar as tarefas, que, se executado de forma precisa, pode promover uma maior regularidade no tempo da atividade. O quadro 6 analisa os CONJUNTOS E e G, trazendo dados referente ao processo de solda para eventual comparativo, em que se tem a descrição dos dois conjuntos, o tempo cadastrado no sistema, uma estimativa de produção (unidades/ mês), tempo de solda necessário para produção (mês) e o custo da mão de obra (mês). 3.3 COMPARAÇÃO DOS TEMPOS Quadro 7: Simulação com dados da cronoanálise FONTE: Dados da empresa. Atualmente o setor de Métodos e Processos é responsável pela estruturação do processo envolvendo os recursos necessários para a produção de um determinado produto baseado nas exigências do projeto do cliente. FONTE: Dados da empresa. Nesse processo, o setor de Métodos e Processos fica incumbido de levantar os custos, especificar a matéria-prima, equipamentos, ferramentas, gabaritos, layout, processos, cadastramento e liberação para programação de fabricação envolvendo o setor de Planejamento e Controle, estipulação de tempo e preço de venda para os produtos novos caracterizados como amostra ou protótipo. Já o quadro 7 analisa os CONJUNTOS E e G, trazendo dados referente ao processo de solda para eventual comparativo, em que se tem a descrição dos dois conjuntos, o tempo encontrado na cronoanálise, uma estimativa de produção (unidades/ mês), tempo de solda necessário para produção (mês) e o custo da mão de obra (mês). O quadro 8 traz a diferença entre a comparação dos tempos do sistema com os tempos de cronoanálise relacionados aos conjuntos que apresentaram variação negativa nesta comparação. Terminada a cronoanálise, passou-se para etapa de comparação dos tempos cadastrados no sistema com os tempos obtidos na cronoanálise. Visto que para a empresa o tempo está diretamente ligado à formação do custo e consequentemente ao preço de venda, o quadro 5 tem o objetivo de mostrar a variação percentual obtida nessa comparação. Quadro 8: Simulação e comparação dos dados Quadro 5: Comparação dos tempos, do sistema x cronoanálise FONTE: Dados da empresa. Comparando o custo da mão de obra obtida na cronoanálise com o tempo do sistema o CONJUNTO E apresentou uma diferença de R$ 33,87 que a empresa deixaria de agregar ao custo de produção no mês e R$ 406,49 em um ano. Na mesma comparação o CONJUNTO G deixaria de agregar ao custo R$29,59 no mês e R$ 355,10 em um ano. FONTE: Dados da empresa. Analisando o quadro 5 pode-se perceber que os CONJUNTOS E e G apresentaram variação nos tempos, pois o tempo cadastrado no sistema é menor que o tempo real de execução da atividade de solda, mostrando que a 89 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Levando em consideração as variáveis descritas anteriormente, a empresa está deixando de agregar custo aos seus dois conjuntos, nesse caso tendo como referência o custo da mão de obra. operadores e consequentemente diminuição do tempo de execução da atividade. E ganhos na qualidade de vida no trabalho para os operadores, mostrando possíveis melhorias ergonômicas no desenvolvimento das atividades no setor e na vida. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS O treinamento foi realizado para todos os colaboradores do setor de solda, em que os assuntos relacionados à produtividade foram tratados e mostrando aos operadores como formas de melhorias ergonômicas para melhor executar as atividades, com o objetivo de diminuir a fadiga física e mental, a fim de que, ao saírem do trabalho todos os sintomas relacionados ao mal estar (dores, exaustão, estresse...) fossem diminuídos ou talvez eliminados. Ao término das análises, decidiu-se, por meio de estudo, a definição de pontos de melhorias envolvendo o processo de solda ao qual fazem parte os conjuntos soldados, de forma a deixar uma proposta de melhoria como legado para a empresa, que atenciosamente abriu suas portas e permitiu a realização deste trabalho. Ao analisar as orientações das operações que se encontram cadastradas no sistema e atualmente acompanham as ordens de produção, considerou-se a necessidade de criação de uma descrição mais detalhada da atividade, levando em consideração o processo de produção empregado para cada conjunto soldado, analisado pelo estudo de tempos e movimentos apresentados neste trabalho. Por se trabalhar com a fabricação de conjuntos metálicos, muitas vezes envolvendo peso considerável, houve a necessidade de instruir os operadores para que utilizassem ao máximo os meios de transporte como empilhadeiras, carrinhos, talhas, mesas e paleteiras, para fazer o deslocamento dos materiais, componentes e gabaritos. Essa descrição mais detalhada da atividade foi enquadrada como um roteiro de produção e tem o objetivo de padronizar a execução da atividade pelos operadores antigos e agilizar o aprendizado dos novos operadores que começam a fazer parte da empresa. Os roteiros foram desenvolvidos com caráter documental; por isso foram desenvolvidos portando, cada um, cabeçalho com identificação das informações pertinentes ao conjunto. As informações do cabeçalho visam orientar os operadores quanto ao nome da empresa, nome do conjunto, setor de aplicação e a descrição de dados referentes a controle como data da aprovação, número da revisão e número do registro. Logo em seguida é apresentado um sumário com os conteúdos abordados, contendo quatro títulos dando referência aos componentes, ao procedimento que deve ser seguido, as observações destacadas para conclusão da atividade (aparece somente quando necessário) e a legenda que mostra o significado das setas utilizadas como guia na demonstração de componentes, pontos de soldas e fixadores. Lembrando-se que a preparação e arranjo do material necessário para início da produção de um conjunto é realizado por um auxiliar de produção, observou-se a necessidade de orientá-lo quanto à distribuição dos componentes seguindo uma sequência de montagem e um posicionamento o mais próximo possível do gabarito, na intenção de diminuir o deslocamento do operador. Ao decorrer do desenvolvimento deste estudo foram possíveis de serem levantados pontos de melhorias através da aplicação de um check-list envolvendo o setor, evidenciando, assim, melhorias nos gabaritos, instalações e transporte. Algumas melhorias puderam ser realizadas e outras ficaram apenas como proposta. Alguns gabaritos apresentavam dificuldade de deslocamento devido a não ter rodas, estarem com as rodas em mau estado de conservação ou possuírem rodas pequenas que se deslocavam na fábrica por, até mesmo, terrenos irregulares. Também foi vista a necessidade de adequar a altura de alguns gabaritos, mas devido aos gabaritos pertencerem ao cliente e também ao alto investimento, essa melhoria ficou apenas como sugestão. Já voltando ao setor em uma cabine, observou-se a necessidade da instalação de mais luminárias, pois os soldadores estavam tendo dificuldades de visualização. Seguindo o roteiro, começa a apresentação dos componentes, trazendo a descrição ou o código do componente seguido da quantidade entre parêntese, além da figura de ilustração e o título do assunto. Após o título são descritos e quantificados todos os componentes utilizados para a fabricação do conjunto. O segundo título do roteiro descreve o procedimento, trazendo instruções quanto ao processo que o operador deve seguir para execução das atividades para fabricação do conjunto, envolvendo o posicionamento do gabarito e dos componentes, pontos que devem ser soldados, além da tradução das especificações da simbologia de solda encontrada nos desenhos conforme projeto do cliente. No final do roteiro são encontradas as observações referentes aos cuidados que o operador deve tomar na execução do processo de solda, seguido do último título que mostra a legenda para as setas explicando a coloração de cada uma com sua determinada função. Devido à demanda de utilização de carrinhos transportadores e mesas com rodas para facilitar o deslocamento e melhorar a disposição das peças do soldador à altura ideal, identificou-se a necessidade de adquirir mais unidades de meios de transporte. Quanto ao manuseio de componentes, a proposta deixada foi referente à aquisição de luvas de vaqueta para solda dos conjuntos que utilizam componentes menores difíceis de manusear com a luva de raspa de couro que, devido à espessura e o material, há a perda do tato do soldador. No decorrer do estudo dos movimentos, através da análise das filmagens, pontos de melhorias foram observados, relacionados à postura e movimentação dos operadores. Deste modo, foi proposto o desenvolvimento de um treinamento relacionando esses pontos, envolvendo ganhos produtivos para a empresa com a possibilidade de redução da movimentação dos Além da satisfação do cliente, a empresa está preocupada com a viabilização dos seus processos e melhor utilização dos seus recursos, mostra a necessidade da empresa em se adaptar às exigências do mercado, como forma de maximizar seus ganhos. Segundo frase relacionada a Taiichi Ohno “os custos não 90 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 foram feitos para calcular mas sim para reduzir”, faz-nos lembrar a importância da relação da melhoria contínua com o estudo dos métodos e processos de trabalho, configurando assim a necessidade de redução dos custos, aliados aos ganhos em produtividade, a maximização dos resultados e, portanto, a conquista de mercado, garantem a sobrevivência da empresa neste mercado globalizado. O CONJUNTO E conforme simulação deixou de agregar ao custo o valor de R$33,87 para um mês e R$406,49 para um ano e o CONJUNTO E o valor de R$ 29,59 para um mês e R$355,10 para um ano, demonstrados no quadro 16. Quanto à análise dos movimentos, a quebra dos ciclos em elementos se mostrou satisfatória quanto ao método de estudo, pois através desse método foi possível a identificação dos elementos que mais sofriam variação na execução da atividade e, consequentemente, no consumo de tempo. Os principais problemas encontrados foram relacionados à disposição das peças para a solda dos conjuntos e, consequentemente, a maior movimentação do operador na cabine de solda para execução das atividades. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve como problema de pesquisa o estudo da execução das atividades no processo de solda, relacionados aos conjuntos soldados em uma indústria metal mecânica. Buscando atender ao problema de pesquisa, aplicou-se o estudo de tempos e movimentos no processo de solda abrangendo produtos de maior valor agregado. Como forma de combater os problemas encontrados, neste estudo foram apresentadas propostas de melhoria envolvendo a criação de um roteiro de solda como forma de padronizar os elementos do ciclo de fabricação dos conjuntos, criação de um treinamento para os soldadores no intuito de instruí-los sobre a disposição das peças relacionando os cuidados ergonômicos e a verificação de melhorias envolvendo o ambiente do setor, baseados nas respostas obtidas na aplicação de um check-list. Com a utilização do histórico de vendas do período de janeiro de 2013 a abril de 2014, foi possível a criação de uma planilha para estratificação dos conjuntos a serem analisados. O quadro 1 mostra a lista de conjuntos soldados selecionados da planilha, contendo o histórico das vendas, levando em consideração sua participação no faturamento de até 1%. Concluiu-se, então, que o estudo dos tempos e movimentos é uma ferramenta importante para analisar e avaliar um processo produtivo. E à medida que novos métodos, técnicas ou procedimentos são empregados neste estudo, poderá haver ganhos em recursos e, consequentemente, na formação de bons resultados devido à dinâmica envolvendo os mesmos. Desta forma, vale ressaltar que este estudo pode ser utilizado para outros setores da empresa e novas técnicas poderão ser utilizadas para creditar à análise maior harmonia, visto que, segundo Taiichi Ohno, “a melhoria é um processo contínuo que deve ser trabalhado diariamente”, este estudo fica aberto a novas pesquisas. As informações relacionadas aos conjuntos foram obtidas através de pesquisas realizadas no sistema de gerenciamento integrado e foram descritas no quadro 2 indicando o tempo de operação de cada conjunto As informações sobre a localização do setor de solda e das centrais de gabaritos foram demostradas na figura 1 por meio do layout do setor de solda e suas acomodações. Referente às informações pertinentes às operações envolvidas no processo de fabricação de um produto, são mostradas a partir da figura 2 com a utilização de um fluxograma descrevendo os processos que abastecem e os processos que são abastecidos pelo setor de solda. REFERÊNCIAS Utilizando-se a cronoanálise com o método de filmagem para a captura das atividades. Foi possível a obtenção do tempo atual de execução de solda em cada conjunto soldado, mostrados a partir do item 3.2 os estudos de cronoanálise realizados em cada conjunto. Os tempos estudados são expressos nos quadros 3 e 4 que se referem à quebra dos ciclos em elementos para melhor estudá-los. ANDRADE 2008 – Produtividade industrial sem investimento/ Evermar Andrade – Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda, 2008. BARNES 1977 – Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho/ Ralph M. Barnes; tradução 6ª ed. Americana [por] Sérgio Luiz Oliveira Assis et al. – São Paulo, Edgard Blücher, 1977. Com o resultado da cronoanálise foi possível tabular os dados obtidos para comparação dos tempos (sistema x cronoanálise), em que se identificou a necessidade de revisão dos tempos cadastrados para o CONJUNTO E (1,80% do faturamento) e o CONJUNTO G (1,57% do faturamento) por apresentarem o tempo cadastrado no sistema menor que o obtido com a cronoanálise, com uma variação de respectivamente 67,77% e 27,78% na comparação dos tempos. LOVATO 2013 – Metodologia da pesquisa/ Adalberto Lovato – Três de Maio. Setrem, 2013. MARTINS 2005 – Administração da produção / Petrônio G. Martins, Fernando P. Laugeni – 2 ed. Ver. Aum. E atual – São Paulo: Saraiva, 2005. PEINADO; GRAEML 2007 – Administração da produção: operações industriais e de serviços/ Jurandir Peinado e Alexandre Reis Graeml – Curitiba: UnicenP, 2007. Lembrando-se que a variável tempo é utilizada na formulação do custo, a empresa está deixando de agregar valor ao custo na fabricação dos conjuntos soldados citados no parágrafo acima. Deste modo, utilizou-se o quadro 6 e 7 com dados fictícios para mão de obra na simulação do custo deixado de ser agregado no período de um mês e após um ano. SLACK et al. 2006 – Administração da produção / Nigel Slack et al.,1 ed. – 10 reimpr. – São Paulo: Atlas, 2006. 91 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 A AVALIAÇÃO ESCOLAR COMO INSTRUMENTO POTENCIALIZADOR PARA O ENSINO E A FORMAÇÃO INICIAL Jéssica Ceretta Corrêa¹ Marli Dallagnol Frison² RESUMO O objetivo deste trabalho foi investigar as metodologias e as estratégias de avaliação presentes na maioria das escolas de nível médio, no ensino de biologia, seguido de uma reflexão sobre a formação docente do estudante de Graduação em Ciências Biológicas, Licenciatura da UNIJUÍ, da análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais no que diz respeito à avaliação e à análise de livros didáticos do ensino médio em relação às formas de apresentação de atividades avaliativas. O pressuposto teórico adotado consiste na ideia de que os métodos de avaliação deveriam ser utilizados pelo professor com a intenção de melhorar o processo de construção da aprendizagem dos educandos, para que a avaliação escolar seja vista como um instrumento potencializador para o ensino e a formação inicial. Logo, foi fundamental discutir que a avaliação ocorre no decorrer dos processos de ensino e de aprendizagem, tornando-se, assim, instrumento de investigação sobre o conhecimento de cada aluno sobre o coletivo do qual participam e sobre a própria ação como docente. ABSTRACT The objective of this study was to investigate the methodologies and assessment strategies present in most high schools, the teaching of biology, followed by a reflection on teacher training graduating student in Biological Sciences Degree of UNIJUÍ, analysis the National Curriculum Standards with regard to high school textbooks evaluation and analysis related to the forms of evaluative activities presentation. The theoretical assumption is the idea that the evaluation methods should be used by the teacher with the intention of improving the construction process of learning of the students, so the school evaluation is seen as a potentiating tool for teaching and initial training. So it was important to discuss that the evaluation occurs during the processes of teaching and learning, thus becoming a research tool on the knowledge of each student on the collective with the participation and the action itself as a teacher. Keywords: School learning. Biology. School evaluation. Palavras-chave: Aprendizagem escolar. Biologia. Avaliação escolar. Podemos dizer que somos hoje o que somos porque nos constituímos a partir das ações que empreendemos, fruto de nossas reflexões, questionamentos e desafios sobre nós mesmos e das incorporações que fazemos a partir das interações que estabelecemos com os outros e com o mundo, em um processo permanente de avaliação. Quanto mais dialógico for esse processo, mais consciência temos dele, provocando mudanças, transformações em nossas vidas, nos constituindo como sujeitos individual e social. 1. INTRODUÇÃO O presente artigo se refere ao Trabalho de Sistematização em Ensino de Biologia (TSEB) do curso de Ciências Biológicas Licenciatura da UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Escolheu-se para analisar e refletir a temática avaliação. Nos tempos em que vivemos, nos quais a avaliação assume ainda uma perspectiva classificatória e hierarquizadora dos conhecimentos e das pessoas, é fundamental estarmos atentos para outras perspectivas e sentido que perpassam nas discussões daqueles que buscam melhoria no ensino e na educação escolar. Cientes de que há, ainda, a necessidade de reivindicar melhores condições de trabalho para professores e estudantes, que garantam as possibilidades de realização de outras formas de avaliar comprometidas com os processos de emancipação dos sujeitos sociais. As palavras do autor referem que as interações e relações entre os sujeitos permitem a apropriação do mundo em que vivemos, pois não nascemos programados para agir, necessitamos de múltiplas relações com outros seres humanos para sobreviver e, assim, aprender a falar e a atribuir significado ao que falamos e fazemos. Ao entramos na escola, levamos conosco nossos conhecimentos anteriores, que devem ser considerados no processo de ensino e de aprendizagem, pois é a partir deles que vamos construir novos conhecimentos, estabelecendo uma relação de diálogo com o que está para ser aprendido – conhecimento científico – e o cotidiano. A avaliação, em seu sentido amplo, apresenta-se como atividade essencialmente humana associada à experiência cotidiana de homens e mulheres. Ela faz parte do nosso dia-a-dia e, muitas vezes, determina o nosso modo de ser ou de agir. Nesse sentido, Loch (2012, p. 2), refere que: ¹ Acadêmica do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas (UNIJUÍ). ([email protected]) ² Orientadora, Doutora em Educação nas Ciências (UFRGS), professora da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), possui mestrado e graduação em Química. ([email protected]) 92 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Segundo Loch (2012) cada pessoa é um ser único e original, com experiências, histórias, conhecimentos, possibilidades e limitações diferentes, que o constituíram como é; a sala de aula é o espaço da diferença, da heterogeneidade. Assumir a diferença, a heterogeneidade como valor, como riqueza, tem um novo sentido ético, pois ela nos potencializa para agir socialmente. A qualidade da avaliação passa a estar em sua capacidade de diálogo ao indagar, investigar, refletir sobre os percursos, processos, procedimentos na produção de conhecimento, contribuindo na criação de meios que auxiliem na superação de limites encontrados nessa produção, e não como algo a ser medido na busca do que todos devem alcançar. Trata-se da busca da superação da homogeneidade, do aluno ideal. algumas das questões que têm me acompanhado durante meu processo formativo e como futura professora: O que avaliar? Que avaliação produz efeitos positivos nos processos de ensino e de aprendizagem oferecidos aos estudantes? Portanto, o objetivo deste trabalho é investigar as metodologias e as estratégias de avaliação presentes em escolas de nível médio, no ensino de biologia, seguido de uma reflexão sobre a formação docente da estudante de Graduação em Ciências Biológicas Licenciatura da UNIJUÍ, da análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais no que diz respeito à avaliação e à análise de livros didáticos do ensino médio em relação às formas de apresentação de atividades avaliativas. A avaliação classificatória tem como característica ser também quantitativa, expressa a epistemologia positivista que conduz uma metodologia em que a manipulação dos dados é mais importante do que o processo, e os instrumentos precisam ser de manuseio simples para permitir transmissão objetiva e neutra do conhecimento. Nesta concepção, o conhecimento é medido e classificado como objeto, e inserido em uma hierarquia. Esta é a operação realizada pela professora ao avaliar cada um de seus alunos. Esteban (2003, p. 17), refere que: 2. DESENVOLVIMENTO 2.1METODOLOGIA Este estudo se utilizou de teóricos que tratam da avaliação escolar, tendo como foco o ensino de biologia e a aprendizagem escolar em escola pública, fazendo um contraponto entre avaliação autoritária e democrática e a avaliação na universidade. Seguido de uma reflexão sobre a formação docente da estudante de Graduação em Ciências Biológicas Licenciatura da UNIJUÍ, da análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais no que diz respeito à avaliação e à análise de livros didáticos do ensino médio em relação às formas de apresentação de atividades avaliativas, se estas contemplam a proposição dos PCNs. Assim, a professora encontra meios para fragmentar o conhecimento nas disciplinas escolares, fragmentar alunos e alunas em partes observáveis, que podem ser quantificadas, medidas, comparadas, classificadas e receber um valor, que é registrado e que informa a posição dos estudantes na hierarquia da sala de aula, da escola e da sociedade. Um dos tipos de material utilizado para investigação compreendeu os livros didáticos de biologia utilizados em escola pública no ensino médio. As análises dos livros se deram pelas diversas formas de se avaliar o aluno, se neles constam exercícios que exigem apenas repetir informações, exercícios que exigem interpretação e atividades sistematizadoras que orientam para a busca de informações que exigem investigação e produção de ideias para além da simples reprodução. Nessa perspectiva, o desenvolvimento e sua formação se dão em estágios, em ciclos de vida; cada estágio ou ciclo de vida tem características específicas, atividades de dominância que precisam ser plenamente vividas para serem desenvolvidas e não são cronologicamente pré-estabelecidas como iguais para todos. A qualidade da avaliação está em refletir, também, sobre a organização do tempo escolar e suas implicações na produção do conhecimento, providenciando o tempo adequado para todos, não significando, com isso, apenas dar mais tempo aos mais fracos. O que sabemos hoje nos revela que aquilo que se considerava como deficiência ou incapacidade para aprender podem ser processos específicos de desenvolvimento ainda desconhecidos. Livros são considerados documentos, que segundo Ludke e André (1986), podem ser analisados como tal, pois propiciam novas leituras e interpretações a partir de suas informações. Dessa forma, foram analisados os livros de Biologia: SILVA, César; SASSON, Sezar; CALDINI, Nelson. Biologia (2010). LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia Hoje (2011). BIZZO, Nélio. Novas Bases da Biologia (2012). PEZZI, Antônio; GOWDAK, Demétrio; MATTOS, Neide. Biologia (2010). Nesse sentido, a finalidade da avaliação tem um aspecto crucial, já que ela determina o tipo de informações consideradas pertinentes para analisar os critérios tomados como pontos de referência e os instrumentos utilizados no cotidiano da atividade avaliativa. 3.RESULTADOS E DISCUSSÕES Os modelos tradicionais em que temos nos baseado para avaliar já não satisfazem mais professores, estudantes e seus responsáveis, que desejam superar a lógica da exclusão que ainda se faz presente no cotidiano escolar. Realizam-se frequentes questionamentos sobre as provas, as notas e os conceitos para se pensar mais livremente em outro curso para o processo de avaliação. Nesse sentido, o presente estudo buscou responder a Uma avaliação da aprendizagem emancipatória é um processo que vem se desvinculando de preconceitos e inseguranças, propondo uma busca por novos caminhos que possam desafiar os envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem para uma prática comprometida com reais objetivos de uma educação escolar emancipatória. Há um movimento de reflexão sobre a democratização das práticas escolares de modo a 93 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 articulá-las a um amplo movimento de emancipação social. Esse movimento de reflexão tem promovido uma crítica à avaliação classificatória, como refere Esteban (2003, p 30-31), ao afirmar que: Objetivamente, podemos trabalhar com estas duas concepções de avaliação. A primeira marca a vida das pessoas pela forma que entendemos não ser a apropriada. Ocorre que, geralmente, os excluídos na escola são também os excluídos da sociedade. Daí a necessidade de a escola considerar em seus processos avaliativos as consequências das reprovações, ou melhor, da não aprendizagem. A avaliação, no processo de superação dessa concepção, inscreve-se no conjunto de práticas escolares e sociais que enfatiza a produção do conhecimento como processo realizado por seres humanos em interação, que, ao conhecer-se conhecem: ao produzir o mundo vão esgotando suas possibilidades de vida individual e estreitando os laços que unem cada uma à infinita rede da vida. A avaliação realiza-se com a compreensão de que o ato do conhecimento e o produto do conhecimento são inseparáveis. A avaliação com cunho classificatório pode trazer enormes prejuízos aos alunos, pois, por meio dessas práticas, criam-se preconceitos, inibições que podem afetar todo o ano escolar (HOFFMANN, 2001), quando não toda a vida de uma pessoa. Esta forma autoritária, portanto, não faz sentido se desejamos cumprir a função da escola, que é a de garantir a aprendizagem. A avaliação da aprendizagem emancipatória significa gerar um processo cumulativo de produção de conhecimentos em um conjunto de procedimentos reversíveis de ação e reações diferenciadas aos alunos e professores ao longo dos processos de ensino e de aprendizagem. As ações dos professores podem causar reações positivas nos alunos levando-os a reconstruir o pensar e o fazer de ambos ao longo do processo de aprendizagem. A função da avaliação democrática é assegurar a possibilidade de refletir e questionar as práticas usadas nos processos de avaliação. Se um professor não permite que o aluno participe, expresse suas dúvidas e inquietações, não pode falar de avaliação democrática. A avaliação que não possibilita a participação dos alunos e não proporciona condições de escolha dos instrumentos e critérios não é democrática e peca na relação educativa de constituição do sujeito crítico e responsável pela sua história. Entendemos que a avaliação se constitui democrática quando propicia a aprendizagem, ou não será avaliação. Quando se trata apenas de um ato burocrático, deixa de ser processo e assume uma forma que prejudica e marca de modo muito negativo a vida das pessoas, não raro para toda a vida. Produz abandono escolar, repetência e cria muitas dificuldades. Como processo de construção do conhecimento, promove e instaura processo formativo porque permite o desvelar das potencialidades de quem aprende. É sobre essa questão que trataremos na sequência de nosso diálogo. Aos poucos vamos desvendando este termo “avaliação”. E para continuar a reflexão é fundamental analisar as diferentes concepções, as quais têm uma vinculação profunda com as questões sociais. Nossas compreensões nunca se pautam em situações neutras. A prática docente, como afirma Freire (1996b, p. 109): Implica em processos, técnicas, fins, expectativas, desejos, frustrações, e a tensão permanente entre teoria e prática, entre liberdade e autoridade, cuja exacerbação, não importa de qual delas, não pode ser aceita numa perspectiva democrática, avessa tanto ao autoritarismo quanto à licenciosidade. Melchior (1998) aponta algumas razões acerca da importância da avaliação, tais como: i) melhorar o processo e o resultado; ii) auxiliar o aluno a se motivar para novas aprendizagens e ;iii)auxiliar o professor na compreensão do processo de aprendizagem, na sua autoavaliação. Segundo Hoffmann (2001), a ação educativa é sempre intencional e o desenvolvimento das atividades educativas pressupõe a avaliação como parte integrante do planejamento do processo de ensino e de aprendizagem. A avaliação cumpre três funções básicas: Somente um plano de trabalho bem elaborado e assim desenvolvido pode possibilitar o processo de avaliação dos alunos e do próprio trabalho do professor. É essa postura – de compromisso com o trabalho desenvolvido – que eleva a autoimagem do professor e, em última instância, encaminha-o à auto-realização profissional. Função diagnóstica: permite verificação dos progressos e dificuldades dos alunos e atuação do professor, que, por sua vez, determinam modificações no processo de ensino. A disciplina de Didática, que faz parte do conjunto de disciplinas que constitui o currículo do Curso de Ciências Biológicas – Licenciatura contempla a temática da avaliação e oferece oportunidade para análise de concepções (compreensões, entendimentos) que se fazem presentes nos processos avaliativos, como mostra o quadro 1: Função formativa: tem por finalidade proporcionar o feedback (retroalimentação) para o professor e para o aluno, durante o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Propicia a correção de falhas, esclarecimentos de dúvidas e estímulo à continuidade do trabalho para alcance do objetivo. Quadro 1: Comparação entre a avaliação autoritária e democrática, ocorrentes no PPC Função somativa: tem o propósito de oferecer subsídios para o registro das informações relativas ao desempenho do aluno. Contemplará em seu interior tudo aquilo que foi visualizado na função diagnóstica e formativa. Segundo Luckesi (2002), a avaliação serve para FONTE: SANTIAGO, A.R, et al (2010). 94 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 auxiliar cada aluno no seu processo de competência e crescimento para a autonomia e é indicadora de novos rumos. Serve também para compreender o estágio de aprendizagem em que o aluno se encontra, objetivando o avanço no processo. de procedimentos que compõem a organização do trabalho pedagógico na sala de aula e sua influência na condução do processo de ensino. O professor cumpre as exigências legais da instituição – “dar/desenvolver/produzir aulas”, avaliar e atribuir notas. O aluno, na maioria das vezes, mais preocupado em aprovar na disciplina, em conseguir notas, do que com a qualidade da sua formação profissional, submete-se passivamente a esse ritual. A avaliação nesse sentido é vista como classificatória; por outro lado, se o professor dá oportunidade ao aluno de expor suas ideias ou a oportunidade de corrigir uma prova, um relatório, fazendo uma reflexão para a sua melhoria, deste modo, pode ser tratada como uma avaliação emancipatória. Ao caracterizar a avaliação emancipatória, numa nova ótica, Loch, situa que avaliar, “é avaliar participativamente, no sentido da construção, da conscientização, busca da autocrítica, autoconhecimento de todos os envolvidos no ato educativo, investindo na autonomia, envolvimento, compromisso e emancipação”. (2012, p.3) Assim sendo, a aprendizagem emancipatória transforma as práticas pedagógicas convencionais dos docentes em uma prática que faça valer novas concepções pedagógicas, ajudando o professor e o aluno a encontrarem o caminho para viverem situações novas de apropriação e produção de novos conhecimentos, conectando-se cada vez mais à vida do aluno ao contexto escolar. Libâneo (2003, p.9) chama a atenção para a importância da organização e gestão da instituição educativa em relação ao trabalho do professor: Não é possível uma efetiva mudança nas práticas de ensino universitário sem ações e mudanças na organização e gestão do curso. A organização e gestão das escolas têm sido abordadas de um ponto de vista burocrático, administrativo, envolvendo os níveis hierárquicos de exercício do poder, os colegiados acadêmicos e as formas de tomada de decisões. Embora esses aspectos sejam relevantes, não é nesse sentido que afirmamos a relação entre a sala de aula e a organização da escola, mas no sentido de que tudo que ocorre na sala de aula deve estar em consonância com o que ocorre no âmbito das decisões em torno do projeto pedagógico, dos objetivos de ensino, do currículo, das formas convencionadas de relações professoraluno e procedimentos de ensino. As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica indicam três dimensões básicas de avaliação: avaliação da aprendizagem, avaliação institucional interna e externa e avaliação de redes de Educação Básica. A avaliação da aprendizagem, que conforme a LDB pode ser adotada com vistas à promoção, aceleração de estudos e classificação, deve ser desenvolvida pela escola refletindo a proposta expressa em seu projeto político-pedagógico. Importante observar que a avaliação da aprendizagem deve assumir caráter educativo, viabilizando ao estudante a condição de analisar seu percurso e, ao professor e à escola, identificar dificuldades e potencialidades individuais e coletivas. A avaliação institucional interna é realizada a partir da proposta pedagógica da escola, assim como do seu plano de trabalho, que devem ser avaliados sistematicamente, de maneira que a instituição possa analisar seus avanços e localizar aspectos que merecem reorientação. Pelo exposto, fica claro então que mudanças mais significativas em relação à avaliação da aprendizagem do aluno no ensino superior dificilmente acontecerão por meio de ações individuais isoladas, desvinculadas de um projeto pedagógico curricular compartilhado e participativo, que favoreça a reflexão conjunta e que não desconsidere o papel que o contexto social exerce sobre a função que a universidade tem na formação profissional e os riscos de, por meio da avaliação, legitimar processos de exclusão e discriminação na sala de aula universitária. Dessa forma, possibilitar, por meio de reflexões conjuntas, a análise do que é aparente e do que está subjacente às práticas avaliativas no ensino superior é um caminho promissor para descortinar a sua complexidade e as possibilidades que ela coloca, quando integrada aos objetivos de ensino e da formação profissional, para atuar a serviço da aprendizagem do aluno. A avaliação de redes de ensino é responsabilidade do Estado, seja realizada pela União, seja pelos demais entes federados. Em âmbito nacional, no Ensino Médio, ela está contemplada no Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que mede a qualidade de cada escola e rede, com base no desempenho do estudante em avaliações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP) e em taxas de aprovação. 3.1 A AVALIAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR Em relação ao processo avaliativo na universidade, o que se percebe ao aprofundar os estudos sobre a questão é que o ensino superior não está isento dos problemas mais gerais constatados nesse campo e que, tanto na teoria quanto na prática, a avaliação nesse nível de ensino se reveste de rituais e atitudes discriminatórias. Neste caso, a avaliação ocorre de adulto para adulto. Talvez por isso seja menor a preocupação em compreender o seu papel nos processos de ensino e de aprendizagem, seus limites e possibilidades no conjunto 3.2O CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIJUÍ E REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO DOCENTE DA ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS- LICENCIATURA O Curso de Ciências Biológicas foi concebido em substituição à habilitação em Biologia do Curso de Ciências oferecido anteriormente pela UNIJUÍ e foi ofertado a partir 95 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 de 2003, após aprovação pelo CONSU no final de 2002, tendo como objetivo formar Biólogos competentes para o estudo aprofundado da origem, organização e diversidade de seres vivos, da relação deles entre si e com o ambiente, além dos processos e mecanismos biológicos que regem a sua formação, desenvolvimento, reprodução e envelhecimento (UNIJUI, PPPLCB, 2009). Tal aprendizagem deve ser fundamentada em seus conhecimentos prévios, no questionamento, nas aulas de experimentação e na pesquisa em sala de aula, associadas às teorias cientificamente aceitas. Assim, ao priorizar, nos fazeres pedagógicos, a interação entre os conhecimentos prévios, o questionamento, a experimentação e a pesquisa em sala de aula, associadas às aulas teóricas, ajudam a promover a reformulação, a reestruturação e a formação de conceitos pelos alunos, privilegiando o saber pensar e o aprender a aprender. Na última década, o Departamento de Biologia e Química (DBQ), contando com o apoio institucional, investiu na qualificação de seus docentes em diversas subáreas da biologia. Esta qualificação se reflete no número de mestres, doutorandos e doutores, os quais atuam não apenas no ensino, mas também nos programas de pesquisa do DBQ e de outros departamentos da UNIJUÍ, através da execução de projetos bem como de orientações de alunos em Trabalhos de Conclusão de Curso e Projetos de Iniciação Científica. Ainda, nesses anos, houve uma melhoria considerável no espaço físico, através da construção de novos laboratórios e, somado a isto, vários equipamentos foram adquiridos por intermédio de projetos submetidos pelos pesquisadores/docentes do DBQ e aprovados pela FAPERGS, CAPES e CNPq, entre outras agências de fomento. (UNIJUÍ, 2009, p. 2). 3.4 ANÁLISE DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E DE LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO Os Parâmetros Curriculares Nacionais no Ensino Médio apontam que na prática administrativa e pedagógica dos sistemas de ensino e de suas escolas, as formas de convivência no ambiente escolar, os mecanismos de formulação e de implementação de políticas, os critérios de alocação de recursos, a organização do currículo e das situações de aprendizagem, os procedimentos de avaliação deverão ser coerentes com os valores estéticos, políticos e éticos que inspiram a Constituição e a LDB, organizados sob três consignas: sensibilidade, igualdade e identidade. Diante destas constatações, e considerando que: 1– há uma crescente demanda pelo Curso de Ciências Biológicas no Estado do Rio Grande do Sul e no País; 2 – há um grande interesse demonstrado pelos alunos em ter uma formação mais sólida em Biologia; 3 – o curso de Ciências Biológicas teve sua criação já aprovada pelo Conselho Universitário no ano de 1992; propõe-se a oferta de um Curso qualificado, de forma a construir um conhecimento significativo que permita ao biólogo uma inserção responsável no contexto atual e com olhos abertos às perspectivas futuras. Acreditamos ser este um projeto viável e com potencial para melhorar a inserção e a importância da Universidade na vida dos jovens estudantes e na comunidade como um todo. (UNIJUÍ, 2009, p. 3). Os PCNs consideram que, entre outras características, o processo de avaliação deve: Ÿ retratar o trabalho desenvolvido; Ÿ possibilitar observar, interpretar, comparar, relacionar, registrar, criar novas soluções usando diferentes linguagens; Ÿ constituir um momento de aprendizagem no que tange às competências de leitura e interpretação de textos; Ÿ privilegiar a reflexão, análise e solução de problemas; O ensino da biologia no Brasil, apesar dos avanços nas propostas curriculares, ainda requer soluções de vários problemas nas relações ensino-aprendizagem nas escolas. O aprendizado da biologia deve permitir a compreensão da natureza viva e dos limites dos diferentes sistemas explicativos, a compreensão de que a ciência não tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas características a possibilidade de ser questionada e de se transformar. Os assuntos relacionados à biologia são relevantes para a compreensão de fenômenos e suas correlações, pois eles promovem uma melhoria na qualidade de vida, uma saudável relação com o meio ambiente e condições de um pleno exercício de cidadania. O que se percebe nas escolas, porém, é que tais assuntos muitas vezes são pouco trabalhados no sentido de gerarem significados, transformados em ação pelos alunos. Ÿ possibilitar que os alunos conheçam o instrumento assim como os critérios de correção; Ÿ proporcionar o desenvolvimento da capacidade de avaliar e julgar, ao permitir que os alunos tomem parte de sua própria avaliação e da de seus colegas, privilegiando, para isso, os trabalhos coletivos. (PCNs, p. 137). O professor deve, também, ter como parâmetro para avaliação os objetivos mais específicos da disciplina, o projeto pedagógico da escola e as finalidades do ensino médio expressas na LDBEN. Isso ocorre devido à sobrecarga de conteúdos, ao exíguo tempo destinado a cada um deles, à seleção descontextualizada, ao desconhecimento de como ocorre a aprendizagem, à falta de valorização dos conhecimentos prévios e dos questionamentos, à inexistência de aulas de experimentação, ao desuso da pesquisa em sala de aula. Tudo isso acarreta um ensino estático, desinteressante, desvinculado do cotidiano, dificultando que o aluno seja sujeito em seu próprio aprendizado. A avaliação pode ser feita desde uma prova com perguntas dissertativas até a execução de seminários e debates, nos moldes do que propõem os PCNs. Ao elaborar uma prova com questões dissertativas, por exemplo, o professor precisa considerar as características da avaliação propostas nos PCNs, ou seja, privilegiar situações em que o aluno seja levado à reflexão, à análise e à resolução de problemas. Ao propor um seminário com a apresentação de temas, pode 96 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 averiguara consolidação dos conteúdos referentes a esse assunto. Estará, portanto, avaliando os resultados da aprendizagem. A avaliação pode ser realizada sob a forma de um estudo de caso ou de um debate sobre diversos assuntos, explorando uma multiplicidade de ações que permite, ao professor, averiguar os conhecimentos adquiridos e verificar se o aluno é capaz de correlacionar teoria e prática. Os temas de natureza mais polêmica, como o uso de transgênicos na alimentação, saúde coletiva, clonagem terapêutica, efeitos da poluição sobre a célula, desnutrição, entre muitos outros, ensejam a realização de debates, desenvolvimento de projetos ou mesmo de jogos que permitam ao professor avaliar o desenvolvimento da consciência crítica e a condição argumentativa dos alunos, sua formação ética e suas posições quanto aos valores pessoais e sociais. Com isso, avaliam-se processo e resultado. Observou-se que, dos livros analisados, todos possuem exercícios que exigem apenas repetir informações dos conteúdos abordados nos textos e todos possuem também exercícios que exigem interpretação. Por fim, eles também possuem pelo menos uma atividade sistematizadora que orienta para a busca de informações que exigem investigação e produção de ideias para além da simples reprodução, seja ela prática, de pesquisa ou um experimento. Ao analisar os livros didáticos de Biologia do Ensino Médio, conforme podemos observar no Quadro1 os tipos de atividades propostas como sistematizadoras das atividades/conteúdos trabalhados em aula. O livro Biologia (2010) de SILVA, SASSON e CALDINI no capítulo analisado, apresenta 7 exercícios que exigem apenas repetir informações, 11 exercícios que exigem interpretação e 3 atividades sistematizadoras que orientam para a busca de informações que exigem investigação e produção de ideias para além da simples reprodução. Com estas análises é importante ressaltar que os livros didáticos possuem uma grande diversidade de atividades propostas para serem desenvolvidas em sala de aula, como também, atividades que envolvem pesquisas e investigações fora da sala de aula. Trazendo práticas experimentais indispensáveis para a construção da competência investigativa dos estudantes. No capítulo analisado do livro Biologia Hoje (2011) de LINHARES e GEWANDSZNAJDER apresenta 4 exercícios que exigem apenas repetir informações, 4 exercícios que exigem interpretação e 2 atividades práticas que orientam para a busca de informações que exigem investigação e produção de ideias para além da simples reprodução. A utilização do livro didático em sala de aula desempenha um papel importante na consolidação das aquisições dos alunos, desde que incentive a reflexão e não a mera memorização e aplicação mecânica de fórmulas. Além disso, tanto a resolução quanto a correção de exercícios fazem parte do processo de avaliação formativa. No capítulo do livro Novas Bases da Biologia (2012) do BIZZO apresenta 6 exercícios que exigem apenas repetir informações, 4 exercícios que exigem interpretação e 1 experimento sistematizador que exige pesquisa e busca de informações fora da sala de aula. Com relação ao professor, em se basear somente no livro didático no desenvolvimento de suas aulas, cabe a ele refletir sobre isso, pois a melhor forma de se tentar alcançar a autonomia intelectual é justamente não se prender a um modelo fechado. O livro Biologia (2010) do PEZZI, GOWDAK e MATTOS, apresenta no capítulo analisado 10 exercícios que exigem apenas repetir informações, 5 exercícios que exigem interpretação e 1 atividade prática sistematizadora que orienta para a busca de informações que exigem investigação e produção de ideias para além da simples reprodução. 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho buscou apresentar a avaliação como sendo um processo autoritário, como também democrático, investigativo e libertador, ressaltando a importância da coerência entre a proposta pedagógica e a avaliação adotada, fundamentando-se numa epistemologia do conhecimento. Quadro1: Atividades analisadas nos livros de Biologia do ensino médio Diante de tudo que foi exposto, a avaliação é um processo que se vale de instrumentos para produção de informações sobre os processos de ensino e de aprendizagem e, também, sobre o trabalho docente. Resultados desses processos podem indicar a continuidade das ações de ensino e aprendizagem, inicialmente propostas, ou indicar mudanças necessárias na ação do professor. 97 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Os Instrumentos podem ser provas e testes escritos e orais, trabalhos individuais e grupais (relatórios, textos, cartazes, painéis informativos, etc.), atividades dos livros didáticos, entrevistas, observação... HAYDT, Regina Cazaux. Avaliação do processo ensinoaprendizagem. São Paulo: Ática, 2000. HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: Uma prática em construção da pré-escola á universidade. Porto Alegre, 2009 LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia Hoje. 1ª. ed. São Paulo. Editora Ática, 2011. O trabalho se deu com enfoque na avaliação como prática investigativa e emancipatória preocupada em articular os potenciais dos alunos, e não em se prender em estereótipos e conteúdos fragmentados. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011 A complexidade das questões relativas à avaliação, assim como dos diversos atores envolvidos nesses processos, não permitem soluções imediatas com intuito de reverter em curto prazo, porque ainda é necessário muito estudo e pessoas dispostas a este desafio. O que me inquieta, é que as escolas ainda não demonstram estar totalmente preparadas para enfrentar e resolver as fragilidades das práticas avaliativas. MARTINS, José Prado. Didática Geral: fundamentos, planejamento, metodologia e avaliação. São Paulo: Atlas, 1985. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec). Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec, 1999. Assim sendo, a avaliação da aprendizagem é uma prática pedagógica, útil e necessária para analisar o que se faz. E o papel principal do professor consiste em auxiliar o aluno a aprender. Nessa perspectiva, Melchior (2003, p. 17) propõe que: MUNÍCIO, P. Como realizar a avaliação contínua. Coimbra: Almedina. 1978 PEZZI, Antônio; GOWDAK, Demétrio; MATTOS, Neide. Biologia. 1ª. ed. São Paulo. Editora FTD, 2010. Se não houve aprendizagem, então não se ensinou e o professor tem que questionar e verificar onde está a falha, analisando todos os elementos envolvidos no processo, entendendo que sempre é um desafio avaliar a aprendizagem em função da subjetividade humana na relação com o processo educativo. SANT'ANNA, Ilza Martins. Por que avaliar? Como avaliar? Critérios e instrumentos. 7. ed. Vozes. Petrópolis 2001. SANTIAGO, Anna Rosa Fontella... [et al.]. Didática– Ijuí: Ed. Unijuí. 2010. - 90 p. - (Coleção educação a distância. Série livro-texto). Desse modo, cabe partir dos educadores uma real mudança, com olhar sensível e crítico perante os desafios cotidianos, sem desistir ao primeiro impasse, mas, ao contrário, que dê mais força e sabedoria para melhorar essa prática, junto aos sujeitos que participam das práticas pedagógicas. SAUL, A.M. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e a prática de avaliação e reformulação de currículo. São Paulo: Cortez, 1995. SILVA, César; SASSON, Sezar; CALDINI, Nelson. Biologia. 10ª. ed. São Paulo. Editora Saraiva, 2010. Nesse sentido, a escola deverá assegurar ao aluno, uma boa formação, tornando- o capaz de realizar a transposição dos conteúdos formais na interpretação do cotidiano e na valorização dos conhecimentos não formais gerados na comunidade e ao professor os meios necessários para proporcionar ao aluno uma formação contínua, de qualidade, que lhe garanta atualização permanente para enfrentar os avanços da sociedade. VASCONCELLOS, Celso dos santos. Avaliação: concepção dialética libertadora do processo de avaliação escolar. São Paulo: Libertad, 1995. REFERÊNCIAS BARREIRA, C., BOAVIDA, J. & ARAÚJO, N. (2006). Avaliação formativa. Novas formas de ensinar e de aprender. Revista Portuguesa de Pedagogia, 40-3, pp. 95-133. BIZZO, Nélio. Novas Bases da Biologia. 1ª. ed. São Paulo. Editora Ática, 2012. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Resolução CEB nº 3 de 26 de junho de 1998. ESTEBAN, Maria Teresa. Ser professora: Avaliar e ser avaliada. In: ESTEBAN, Maria Teresa.org; Escola, Currículo e avaliação; São Paulo. Cortez, 2003 FREIRE, M. A paixão de conhecer o mundo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. p.5. 98 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 CONCEITOS E TENDÊNCIAS ALIMENTARES DE ALUNOS DE 4º E 5º ANOS DE SETE ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE TRÊS PASSOS - RS Clenio Moacir Flesch¹ Luciane Sippert² Danni Maisa da Silva³ 4 UERGS RESUMO A definição dos hábitos alimentares dos indivíduos ocorre especialmente até a juventude. Com base nisso, o presente trabalho teve por objetivo avaliar os conceitos, tendências e hábitos alimentares de alunos préadolescentes em algumas escolas urbanas e rurais da rede municipal de ensino no município de Três Passos, Rio Grande do Sul, Brazil. A pesquisa foi desenvolvida considerando a circularidade do método científico. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário evolvendo 105 alunos, sendo 45 do meio rural e 60 do meio urbano, com 93% deles tendo idade entre 9 e 11 anos. Os resultados obtidos na investigação demonstraram que há considerável semelhança entre os conceitos de alunos do meio rural e do meio urbano. Os dois grupos demonstraram que têm entendimento satisfatório com relação a alimentos saudáveis e suas escolhas destes são coerentes com isso. Nenhum dos dois grupos expressou influência da mídia nas suas escolhas, porém, quase metade dos alunos declarou se importar ou se importar um pouco com o que os colegas pensam sobre seus hábitos alimentares. Embora resultados assim sejam animadores, é preciso ter cautela, pois o grupo avaliado talvez não reflita os hábitos alimentares da maioria dos jovens em idade semelhante. ABSTRACT The definition of people's eating habits happens especially until youth. Based on this, the present study aimed to evaluate the concepts, trends and eating habits of Preteens students in some urban and rural schools in the municipal school system in Três Passos, Rio Grande do Sul, Brazil. The research was developed considering the circularity of the scientific method.The data were collected through a questionnaire evolving 105 students, 45 of rural and 60 of urban areas, with 93% of them aged from 9 to 11. The results shown on the investigation demonstrated that there is considerable similarity between the concepts of students from rural and urban areas.The two groups demonstrated that they have satisfactory comprehension regarded to healthy food and their choices of these are consistent with it. Neither group expressed influence of media in their choices, however, almost half of the students declared to care or mind a bit with what colleagues think about their eating habits. Although the results are encouraging, care should be taken because the group that was evaluated may not refclet the eating habits of most young people in similar age. Keywords: Food habits. Healthy food. Urban and rural schools. Palavras-chave: Hábitos alimentares. Alimentos saudáveis. Escolas urbanas e rurais. 1. INTRODUÇÃO De acordo com Moura (2010), a predileção infantil por um ou outro alimento é influenciada tanto por aspectos ambientais quanto pela própria genética. Há também evidências de que algumas predileções alimentares são inerentes ao indivíduo e que, dependendo das opções alimentares que estão ao alcance, as predileções adquiridas durante a vida podem levar ou impedir o consumo de alimentos que não são adequados nutricionalmente. A definição de hábitos alimentares acontece na infância, tendo em vista a maior receptividade às informações e a absorção de novas tendências, incluindo as provenientes do ciclo familiar e aquelas obtidas no ambiente escolar (Herculano, 2010).Uma alimentação que pode ser definida como saudável, engloba cinco características fundamentais, como destaca Herculano (2010), que seriam: respeito e valorização das práticas alimentares culturalmente identificadas, garantia de acesso, sabor e custo acessível, variada, colorida, harmoniosa e segura. A televisão é tida como o canal de comunicação que possui maior influência sobre os adolescentes, tanto por ser extremamente popular quanto pelo tempo que ¹ Graduado em Medicina Veterinária, UFSM; Especialista em Segurança Alimentar e Agroecologia, Uergs, Unidade em Três Passos. Email: cleniofl[email protected] ² Orientadora. Licenciada em Letras, com habilitação para Língua Portuguesa e respectivas literaturas, UNIJUÍ; Especialista em Ensino-aprendizagem de línguas, UNIJUÍ; Mestre em Educação nas Ciências, com ênfase em Letras, UNIJUÍ: Doutoranda em Letras, na área de Teorias Textuais, Discursivas e Enunciativas, UFRGS, Professora Assistente de Língua Portuguesa da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs. Email: [email protected] ³ Coorientadora. Graduada em Agronomia, UFSM; Mestre em Agronomia, UFSM; Doutora em Ciência do Solo, UFSM; Professora Assistente em Ciência do Solo da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs - Unidade Três Passos. Email: [email protected] 4 UERGS , Unidade em Três Passos. Rua Cipriano Barata, 47 - bairro Érico Veríssimo. CEP: 98600-000. Fone: (55) 3522-2895. 99 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 esses jovens dedicam a esse aparelho. Citando como exemplo os Estados Unidos da América (EUA), o tempo dedicado à televisão chega a superar o tempo que passam na sala de aula e até mesmo o tempo que estão na companhia dos pais. Estima-se que em países ainda em desenvolvimento, como o Brasil, o comportamento seja similar, tendo como motivo adicional de preocupação que a maioria dos comerciais de alimentos na televisão aberta destaca aqueles ricos em açúcar, gordura e sal. Muitas vezes crianças e jovens estão envolvidos como atores e mais problemático ainda é que mais de 90% dos atores ou modelos são magros ou até muito magros, e anunciam produtos com riqueza de calorias, o que pode influenciar os jovens a pensar que o consumo de tais alimentos não leva ao ganho excessivo de peso e que não afetará negativamente sua saúde (MOURA, 2010; MIOTTO e OLIVEIRA, 2006). e tão precioso que é a saúde física, torna-se relevante uma avaliação do entendimento contemporâneo dos jovens no estágio de formação da personalidade sobre alimento seguro e a importância de consumi-lo. Tendo isso em mente, o objetivo geral desta pesquisa foi examinar qual é o entendimento dos alunos do 4º e 5º anos sobre um alimento saudável e o que influencia nas suas escolhas, estabelecendo um paralelo entre as crianças que residem no meio rural e os que moram em áreas urbanas. Também se buscou avaliar a importância da merenda escolar na vida desses jovens e suas preferências individuais por um ou outro alimento. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Na pesquisa foi considerada a circulidade do método científico, que tem por fluxograma: problema → planejamento amostral → planejamento redação do questionário → realização de campo → obtenção dos dados → análise estatística → discussão dos resultados (MANZATO, 2012). Nessa perspectiva, a vulnerabilidade dos adolescentes às influências externas é fator relevante nas suas escolhas. Tanto moda, linguagem, comportamento e alimentação estão entre os campos que a interferência do meio é vividamente observável. A televisão é um dos fatores que inclina esse grupo etário a consumir cada vez mais lanches e alimentos industrializados, como assegura Moura (2010). Figura 1: Circulidade do método científico As crianças, de modo geral, definem seus conceitos e preferências tendo por base características dos produtos, entre elas: aparência, doçura, textura, diversão, figuras de heróis, mágicas e ofertas de brindes. De importância secundária, figuram as informações sobre a composição dos alimentos, que são diretamente ligados à sua qualidade nutritiva e, desta forma, ligados à saúde de quem os consomem (MOURA, 2010). Os alimentos industrializados são, sem dúvida, uma causa de real preocupação. Quando se consome de maneira excessiva açúcares, gorduras animais, ácidos graxos saturados, gordura trans, sódio e redução dos carboidratos complexos e fibras, quanto mais em paralelo ao sedentarismo, incidem do aparecimento precoce de doenças, assevera Toloni (2011). Somado a isso, são dotados de aditivos e conservantes artificiais que, embora atendam os limites máximos que a legislação permite, ainda não tiveram seus efeitos devidamente avaliados quanto ao uso em longo prazo (SCHUMANN, 2008). Sendo assim, Sichieri (2000) reforça que se torna cada vez mais importante a elaboração de uma proposta voltada para o consumo de alimentos saudáveis, ao alcance das pessoas em geral. FONTE: Adaptada de Manzato (2012). Para o desenvolvimento da metodologia proposta, procurou-se seguir o seguinte Cronograma: outubro de 2014 (formulação dos questionários) – 1ª quinzena de novembro de 2014 (aplicação dos questionários) – 2ª quinzena de novembro e 1ª semana dezembro de 2014 (compilação dos dados e discussão dos resultados) – 2ª quinzena de dezembro de 2014 (apresentação dos resultados à Secretaria Municipal de Educação) e defesa de monografia. 2.1 O PROBLEMA Em países que se encontram em fase de desenvolvimento, citando apenas como exemplo o México, as comunidades rurais já adotaram hábitos alimentares muito parecidos com aqueles próprios da população de áreas urbanas, inclusive com consumo considerável de alimentos industrializados (ricos em gorduras, açúcares e pobres em fibras). No Brasil, há ainda uma escassez de dados referentes às preferências e hábitos alimentares na área rural (Rivera e Souza, 2006). Desta forma, esta lacuna existente se pretendeu preencher, pelo menos em parte, com a presente pesquisa. Desconhecimento a respeito dos conceitos e tendências alimentares, além de possíveis fatores que influenciam as escolhas dos jovens no município de Três Passos/ RS. 2.2 PLANEJAMENTO AMOSTRAL O presente trabalho foi realizado em Três Passos/RS. A amostra foi escolhida a esmo ou sem norma. A fim de simplificar o processo, o pesquisador procurou ser aleatório, não realizando um sorteio por meio de algum dispositivo aleatório confiável (MANZATO, 2012). Para que seja possível tomar as medidas necessárias em virtude da preservação de um bem único 100 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 O público alvo da investigação científica foi os alunos das Escolas Municipais de Ensino Fundamental Bispo Pedro Fernandes Sardinha, Coroinha Daronchi, Dom João Becker, Guia Lopes, João Padilha do Nascimento, São José e Wally Elisa Hartmann. Entre essas sete escolas da rede municipal de ensino do município de Três Passos, quatro estão localizadas na área rural, sendo que 45 alunos de 4º e 5º anos responderam às perguntas. Foi necessário englobar dois anos em cada escola por estarem em regime seriado. As quatro escolas têm aulas no turno da tarde. Na área urbana do município 60 alunos, de três escolas diferentes foram incluídos. Uma dessas escolas é de período integral, em regime de seriado de 4º e 5º anos e duas com aulas em turno inverso, uma no da manhã e outra no da tarde. Nessas duas escolas as turmas que contribuíram com a pesquisa eram apenas as de 5º ano. Desta forma, um total de 105 alunos responderam ao questionário. investigação, tendo a reponsável concordado e fornecido os contatos das escolas. Foram agendadas com as escolas participantes o dia, a hora e quais os alunos que seriam submetidos ao questionário, sendo que os alunos foram previamente comunicados a respeito da presença do entrevistador, facilitando, desta forma, sua recepção (GÜNTHER, 2003). Deu-se atenção ao modo de vestir do entrevistador, que usou uma camiseta com a identificação da Universidade na qual é pós-graduando (MANZATO, 2102), deixando clara a instituição conhecida e legitimada a qual está ligado (GÜNTHER, 2003). O entrevistador demonstrou apreciação antecipada para estimular a confiança dos respondentes, teve também consideração para com os jovens, fazendo com que a tarefa parecesse breve, o esforço físico e mental fosse reduzido e eliminou a possibilidade de embaraços (GÜNTHER, 2003). Foram 45 meninas e 60 meninos, sendo 13 com nove anos, 57 com a idade de dez anos, 28 com a idade de onze anos, 4 com doze anos, 2 com treze anos e um com catorze anos. Desta forma, mais de 93% dos alunos tem idade entre 9 e 11 anos. As instruções apresentadas pelo entrevistador, que envolveram uma breve explicação a respeito do objetivo da sua presença no local e dos pontos do instrumento investigativo, foram padronizadas e claras o suficiente para que não fossem necessárias perguntas por parte dos entrevistados, seguindo sugestão metodológica de Günther (2003). A aplicação do questionário foi composta de um período máximo de cinco minutos para as devidas explicações e um tempo para preenchimento de vinte minutos, sendo posteriormente recolhidos. Poucas perguntas surgiram, e quando apareceram, as explicações foram dadas sobre os pontos mencionados para todo o grupo, tomando-se o cuidado para que os alunos não fossem influenciados a dar uma resposta diferente da que dariam. 2.3 PLANEJAMENTO DO QUESTIONÁRIO Na formulação do questionário deu-se atenção à lógica interna na estrutura de aplicação e a interpretação. A primeira parte deixou visível a identificação de quem fazia a pesquisa: Universidade, curso, entrevistador e número do questionário (MANZATO, 2012; GÜNTHER, 2003). As perguntas foram desenvolvidas de modo a serem claras e objetivas, evitando interpretação errônea e não invasivas. Apresentou perguntas para confirmação e checagem de respostas de forma indireta, tendo sido usadas poucas questões abertas e tomando-se o cuidado para que as questões não fossem indutivas, respeitando sempre o ponto de vista do respondente (MANZATO, 2012). Embora fosse pequena, uma recompensa pela sinceridade esperada nas respostas ao questionário (GÜNTER, 2003), sendo esta uma camiseta com identificação da Universidade sorteada por classe participante. Foram sorteadas 10 camisetas com identificação da Universidade com o objetivo de estimular respostas sinceras por parte dos investigados. O questionário foi composto de 13 questões, das quais as primeiras nove tiveram como foco o objetivo principal da investigação, parte esta composta de cinco itens fechados com a quantidade de três até nove alternativas, de acordo com Günther (2003); também apresentou uma questão semiaberta e três abertas nessa parte. As outras quatro proposições convergem para sexo, idade, escola e turno de estudo. No questionário não foi solicitado nome do respondente, visto que não interfere no objetivo da análise investigativa. Depois de respondidos os questionários em cada classe, agradeceu-se a valiosa colaboração dos respondentes, atitude esta considerada relevante por Manzato (2012) e Günther (2003). Depois da formatação das questões, o instrumento de pesquisa foi submetido a um pré-teste com 37 alunos de dois cursos de graduação da UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) com o objetivo de detectar falhas, perguntas dúbias e avaliar o grau de dificuldade das questões, tendo em mente a capacidade compreensiva do público alvo. As sugestões pertinentes e relevantes foram aplicadas na adequação do questionário, sugestão esta apresentada por Manzato (2012). Os resultados obtidos foram extraídos dos questionários e catalogados. As questões abertas tiveram as respostas agrupadas de acordo com as expressões espontâneas dos alunos quanto ao que consideram um alimento saudável, exemplos de alimentos que consideram saudáveis e suas preferências pessoais dentre os alimentos fornecidos na merenda escolar. 2.4 REALIZAÇÃO NO CAMPO 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Entrou-se em contato com a Secretária Municipal de Ensino do município, expondo-se o objetivo da atividade e a forma como a investigação seria realizada, além de identificação de quem participaria na O presente estudo identificou as preferências alimentares, fatores que influenciam essas escolhas e os conceitos que eles têm sobre alimentos saudáveis. Foram avaliadas as opiniões de 105 crianças, com 93% deles 2.5 OBTENÇÃO DOS DADOS 101 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 estando com idade entre 9 e 11 anos. cardápios diários. Cada aluno pôde optar por até três alimentos entre as nove alternativas propostas; desta forma, não devem ser somadas as porcentagens dentro de cada um dos grupos de alunos, pois se trata da proporção de alunos que fez menção àquele alimento. É marcante a preferência por alimentos que não passaram por processo de industrialização, exceto o pão. Na comparação entre os alunos que frequentam as escolas na zona rural e o da zona urbana, notou-se pequena maior preferência por saladas pelos alunos da área rural, enquanto que a maior preferência por frutas é mais considerável na área urbana. Quando se fez referência a alunos da área rural, foram englobados 45 alunos que residem e estudam na área rural. Ao mesmo tempo, quando se citou alunos da área urbana, faz jus a 60 alunos que residem e estudam na área urbana do município. A primeira questão procurou contemplar as preferências que os sujeitos da pesquisa teriam por certas bebidas, o que está demonstrado no gráfico abaixo: Figura 2: Preferências por bebidas pelos alunos com sede, Três Passos/RS, 2014 Acreditando-se numa possível interferência dos colegas sobre os hábitos alimentares, a Figura 4 permite avaliar até que ponto o convívio escolar influencia os hábitos alimentares do público alvo. Figura 4: Preocupação dos alunos sobre o que os colegas pensam sobre seus hábitos alimentares, Três Passos/RS, 2014 Na Figura 2, é possível visualizar que não houve diferenças relevantes nas preferências dos alunos de escolas da zona rural quando comparadas às dos alunos que frequentam escolas na área urbana, exceto quanto aos refrigerantes, que apresentam maior índice de preferência entre os alunos que residem e estudam na área urbana do município. Figura 5: Fatores que influenciam os alunos a decidirem por um ou por outro alimento, Três Passos/RS, 2014 Para avaliar as tendências dos jovens quanto aos alimentos que mais os atraem, julgou-se relevante questionar que tipo de alimento não poderia faltar na alimentação diária dos sujeitos pesquisados, o que podemos verificar na Figura 3. Figura 3: Alimentos que não poderiam faltar no cardápio diário dos alunos, Três Passos/RS, 2014 Embora haja alguma diferença entre os alunos das escolas urbanas e das escolas em área rural, as diferentes respostas convergem para certo grau de equilíbrio no que tange a serem ou serem um pouco influenciados, mas é marcante que quase a metade dos alunos, independentemente se da área rural ou urbana, são sempre ou às vezes influenciados pelo que imaginam A Figura 3 apresenta as opções dos sujeitos com relação aos alimentos que não poderiam faltar em seus 102 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 que os colegas podem pensar. Isso está de acordo com Moura (2010), que destaca que na idade de 8 a 12 anos, quando passam à pré-adolescência, há um aumento da influência da opinião dos colegas. informações apresentadas. Ao contrário do desejável, desde 2003, quando se tornou obrigatória a rotulagem nutricional, as informações contidas nos rótulos se tornaram mais complexas, dificultando seu entendimento (PONTES, 2009). Os altos investimentos feitos na promoção de alimentos industrializados, na maioria das vezes não podendo ser considerados saudáveis, entendeu-se como pertinentes questionar os alunos sobre o que os leva a fazer suas escolhas por determinado item, o que pode ser avaliado na Figura 5. A Figura 7 teve como base de construção dados provenientes de uma pergunta aberta, em que os alunos puderam expressar, de forma espontânea, com base em suas próprias convicções, o que entendem a respeito do que é um alimento saudável. Figura 7: Características inerentes a um alimento saudável no conceito dos alunos, Três Passos/RS, 2014 Na Figura 5 visualiza-se que as motivações que levam à escolha dos alimentos estão quase que alinhados entre os dois grupos de alunos, mesmo assim, notamos que embalagens bonitas e a possibilidade de ganhar um brinde influenciam um maior número de alunos do meio urbano, enquanto que o preço gera maior sensibilidade dos alunos no meio rural. A influência da televisão, embora tenha sido apontada por alguns, apresentou tendências pouco significativas. De acordo com o já descrito por Miotto (2006), não houve considerável associação entre as preferências alimentares e a mídia. As escolhas de alimentos, como vimos, com 60% dos alunos se dá por já terem provado esse alimento e terem gostado dele. Porém, o simples fato de ter um sabor agradável e uma bela aparência não caracteriza necessariamente um alimento que se classifique como saudável; por isso, compreendeu-se como fundamental avaliar o entendimento e a preocupação dos alunos em relação aos ingredientes contidos nos diferentes alimentos, o que é ilustrado pela Figura 6. A Figura 7 mostra que, apesar da explicação dada pelo aplicador dos questionários, entre os alunos de escolas da área rural e os de escolas da área urbana citaram em 33,33% e 28,33% dos questionários, respectivamente, exemplos de alimentos que consideram saudáveis, principalmente frutas. É possível atribuir à forma da pergunta dentro do questionário essa dificuldade de entendimento do ponto. Porém, as demais respostas dão ênfase ao razoável entendimento que os alunos têm sobre o que é um alimento saudável. Figura 6: Importância que os alunos dão à composição nutricional dos alimentos, Três Passos/RS, 2014 Entre os pontos mencionados, as expressões “sem veneno”, “limpo” e “nutritivo”, apresentam uma diferença considerável entre os alunos que moram e estudam na área rural e na urbana. Há claras evidências que os alunos de escolas da área rural possuem maior clareza no que se refere aos alimentos saudáveis, embora seja necessário dar atenção aos 8,33% de alunos da área urbana que mencionaram alimentos naturais (não industrializados). Uma das respostas dadas por um aluno de 11 anos da Escola Coroinha Daronchi, localizada na área urbana do município, foi incomum, tendo ele usado as palavras: “limpinho, saudável, gostoso e faz bem para minha saúde e de todo mundo da minha vila”. A Figura 6 mostra que os que se importam pouco com os ingredientes que possam estar nos alimentos foram de similar proporção entre alunos dos meios rural e urbano, sendo que os que mencionaram que se importam foram em maior número no meio rural. Ao contrário, um número maior de alunos das escolas urbanas prefere não se importar. Para que se pudesse avaliar a relação estabelecida pelos alunos entre o que para eles é um alimento saudável e o que eles consideram que esteja entre eles, achou-se próprio pedir que exemplificassem. Os resultados estão apresentados na Figura 8. Atualmente, mais de 70% das pessoas consultam os rótulos dos alimentos no momento da aquisição; porém, mais da metade dos que o fazem, não tem compreensão adequada do que significam as Nesse gráfico, os alimentos citados foram distribuídos nas categorias da Pirâmide Alimentar, já com 103 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 as alterações feitas nela em 2013, conforme anexo A. As porcentagens expressas se referem ao índice de prefência entre os alunos pelo alimento, portanto não devem ser somadas. Levando em conta que a grande maioria dos alunos usufrui da merenda oferecida pelas escolas, foi considerado importante analisar quais são os alimentos preferidos pelos alunos dentre aqueles ofertados a eles. A Figura 10 apresenta a predileção dos alunos. Figura 8: Alimentos citados pelos alunos como sendo exemplos de alimentos saudáveis, Três Passos/RS, 2014 Figura 10: Preferências dos alunos da zona urbana e rural Ao observar os resultados obtidos a respeito das preferências alimentares do alunos, apresentados na Figuras 10, que foram obtidos através de pergunta aberta, sendo que as porcentagens não devem ser somadas, pois mostram a porcentagem dos alunos que expressaram essa preferência, é possível perceber que há uma diferença bem considerável entre os alunos das áreas rural e urbana; o que pode ser vinculado a diferentes tipos de alimentos e à frequência com que esses são oferecidos aos alunos. Entretanto, é digno de nota que a maioria dos alunos, independentes de onde moram e onde estudam, preferem frutas, sanduíches, cachorros-quentes e salada-de-frutas. Na Figura 8, tendo em mente que esta foi uma questão aberta, com possibilidade de múltiplas respostas, vários pontos chamam a atenção: nenhum aluno citou alimentos que estão no alto da pirâmide alimentar, como óleos e gorduras, açúcares e doces; os alunos do meio rural citaram alimentos dos grupos de carnes e ovos, feijões e leguminosa, legumes e verduras e do grupo das frutas aproximadamente o dobro de vezes que os alunos da área urbana. As instituições de ensino fundamental, de modo geral, oferecem merenda escolar aos alunos e, sob a orientação de nutricionistas, são feitos cardápios que possam ajudar a atender as necessidades físicas das crianças, sendo a maior parte desses alimentos considerados saudáveis. O próprio consumo da merenda escolar muitas vezes influencia a formação dos hábitos alimentares. Dito isso, julgou-se importante avaliar o índice e a frequência como que os alunos fazem uso dessa oferta de alimento, estando os resultados expostos na Figura 9. 4. CONCLUSÃO Com esta pesquisa foi possível concluir que o grupo de sujeitos que contribuíram com suas respostas já têm razoável entendimento sobre o conceito do que seria considerado um alimento saudável; isto é, um padrão alimentar que atenda às necessidades biológicas e socioculturais do indivíduo, além de seguro, não permitindo que a mídia os influencie como tem feito com outras crianças menores e/ou da mesma idade. Figura 9: Proporção de alunos que consomem merenda escolar, Três Passos/RS, 2014 Com relação às suas tendências, observou-se a preferência por alimentos como frutas, verduras e legume, feijão, pão e carne. Sendo assim, seus hábitos alimentares poderiam ser considerados saudáveis e equilibrados. Outra variável considerada foi os alunos estudarem na zona urbana ou rural. Com relação a isso, os resultados demonstraram que, embora o ambiente diferente, as concepções e as escolhas alimentares são similares. É provável que os hábitos alimentares desses alunos não sejam parâmetro confiável a ser atribuído de modo geral aos alunos nessa faixa etária, mas a pesquisa mostra um importante indicativo de que a família e a escola estão exercendo uma influência mais significativa do que os meios de comunicação. A pressão que os colegas exercem, muitas vezes passiva, é vista nesse grupo como o principal fator externo que influencia suas decisões. A Figura 9 ajuda a observar que há uma diferença considerável entre os alunos da área urbana e os da área rural, tendo resultados inversamente proporcionais entre os alunos no consumo constante e esporádico de merenda na escola, o que pode se dar em virtude das características físicas da área em que moram e os hábitos alimentares dos pais e a rotina da família. Torna-se cada vez mais significativo que se façam trabalhos envolvendo a educação e reeducação alimentar nas escolas, bem como a intervenção de políticas públicas que abordem a segurança alimentar. 104 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 REFERÊNCIAS GÜNTER, Hartmunt. Como Elaborar um Questionário. Série: Planejamento de Pesquisa na Ciências Sociais, 2003, Nº 1, Institudo de Psicologia. Laboratório de Psicologia Ambiental, Universidade de Brasília. HERCULANO, Thuany Bento et al. Alimentação Saudável: O Papel da Escola na Construção de Novos Hábitos. XIV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e X Encontro Latino Americano da PósGraduação – Universidade do Vale do Paraíba. <www.inicipg.univap.br/cd/INIC_2010/anais/arquivos/058 2_0698_01.pdf> Acesso 03/10/2014 17h. MANZATO, Antonio José; Santos, Adriana Barbosa. A elaboração de questionários na pesquisa quantitativa. Departamento de Ciências de Computação e Estatística – IBILCE – UNESP.<www.inf.ufsc.br/~verar/Ensino_2012_1/ELABO RAÇÃO_QUESTIONÁRIOS_PESQUISA_QUANTITATI VA.pdf> Acesso 03/10/2014 18h50min. MIOTTO, Ana Cristina; OLIVEIRA, Ana Flávia. A influência da mídia nos hábitos alimentares das crianças de baixa renda do Projeto Nutrir. Rev Paul Pediatra 2006; 24(2): 115-20. MOURA, Neila Camardo de. Influência da mídia no comportamento alimentar de crianças e adolescentes. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 17(1): 113-122, 2010. Pirâmide Alimentar. Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimasnoticias/redacao/2013/07/13/piramide-alimentar-eredesenhada-para-melhorar-a-dieta-dos-brasileiros.htm Acesso 28/11/2014. PONTES, Tatiana Elias et al. Orientação nutricional de crianças e adolescentes e os novos padrões de consumo: propagandas, embalagens e rótulos. Rev Paul Pediatra 2009; 27(1): 99-105. RIVERA, Flávia Sá Rovis; Souza, Elizabeth Maria Talá de. Consumo alimentar de escolares de uma comunidade rural. Com Ciên Saúde 2006; 17(2): 111119. SCHUMANN SPA, Polônio MLT, Gonçalves EVBA. Avaliação do consumo de corantes artificiais por lactantes, pré-escolares e escolares. Ciência Tecnol. Aliment. 2008: 28(3):534-9. SICHIERI, Rosely et al. Recomendações de alimentação e nutrição saudável para a população brasileira. Arq Bras Endocrinol Metan, Jun 2000, vol. 44, no.3, p.227-232. TOLONI, NHA, Silva GL, Goulart RMM, Taddei JAAC. Introdução de alimentos industrializados e de alimentos de uso tradicional na dieta de 400 crianças de creches públicas no município de São Paulo. Rev. Nutr., Fev 2011, vol 24, no. 1, p. 61-70. ISSN 1415-5273. 105 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 COMPOSTAGEM NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE FERRAMENTA PEDAGÓGICA NO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Silvia Da Silva¹ Luciane Sippert² Robson Evaldo Gehlen Bohrer³ 4 UERGS RESUMO A Educação Ambiental (EA) na escola emerge como um importante componente de transformação social, tornando-se fundamental no processo de conscientização. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo mobilizar a comunidade escolar de uma escola privada do município de Três Passos RS, para a separação e destinação mais adequada dos resíduos sólidos, especialmente a fração orgânica dos resíduos produzidos em casa e na escola. Participaram do projeto crianças do Ensino Fundamental, do 1° ao 5º ano. Tratase de uma pesquisa-ação. Para tanto, foi ministrada palestra de sensibilização e conscientização, bem como apresentação de vídeo sobre o tema. Além disso, foi realizada oficina de compostagem, durante a qual foi construída uma composteira de tijolos, em que posteriormente os alunos puderam acompanhar todo o processo de transformação da matéria orgânica. Para avaliar a repercussão do projeto nas famílias, foram encaminhados questionários. Os resultados sugerem que a utilização de uma composteira como prática ambiental sensibiliza, não apenas os alunos, mas toda comunidade escolar, para os cuidados com a conservação dos recursos naturais, mostrando-se como instrumento que pode ser explorado e desenvolvido de modo a se tornar uma ferramenta útil na promoção da EA. A repercussão do projeto, embora tenha sido positiva, não foi a esperada, o que sinalizou a necessidade de realização de novas atividades, com maior regularidade, a fim de atingir práticas mais sustentáveis e auxiliar na promoção da EA. Palavras-chave: Resíduos sólidos. Ambiental. Compostagem. ABSTRACT The environmental education (EE) at school emerges as an important component of social change, becoming crucial in the process of awareness. In this context, this study aimed to mobilize the school community, a private school in the city of Três Passos/RS, to separate and more appropriate disposal of solid waste, especially the organic fraction of the waste produced at home and at school. Elementary school children, from the 1st to 5th grade participated on this project. It is about an action research. Therefore, a lecture about sensitization and awareness was given, as well as video presentation on the topic. In addition, composting workshop was held, during it a compost bricks was built, where later the students were able to follow the whole process of transformation of organic material. To assess the impact of the project on families, questionnaires were sent. The results suggest that the use of compost as environmental practice raises awareness, not only students, but the whole school community, for the care and conservation of natural resources, showing up as a tool that can be explored and developed to become a useful tool in promoting EE. The impact of the project, although it was positive, was not expected, and signaled the need to perform new activities, more regularly in order to achieve more sustainable practices and assist in the promotion of EE. Keywords: Solid waste. Environmental Education. Composting. Educação 1. INTRODUÇÃO ameaçando toda a biodiversidade e as necessidades das gerações futuras. Segundo Vital et al., “O lixo tem grande importância na degradação do solo. Devido a sua grande quantidade e composição, contamina o solo chegando até mesmo a degradar os lençóis de água subterrânea” (2012. p. 83). A busca desenfreada pelo desenvolvimento econômico, paralelo ao crescimento desordenado das cidades, levou o ser humano a uma relação conflituosa com o meio ambiente. Muitos são os problemas relacionados a esse progresso e a geração de resíduos sem a adequada separação e destinação são vistos como uma das principais causas de contaminação, comprometendo os recursos naturais e, com isso, São grandes os desafios em busca de alternativas que visem à diminuição dos impactos ambientais provocados pelas diversas atividades da ¹ Graduada em Alimentos, UNIJUÍ; Especialista em Segurança Alimentar e Agroecologia, Uergs, Unidade em Três Passos. Email: [email protected] ² Orientadora. Licenciada em Letras, com habilitação para Língua Portuguesa e respectivas literaturas, UNIJUÍ; Especialista em Ensino-aprendizagem de línguas, UNIJUÍ; Mestre em Educação nas Ciências, com ênfase em Letras, UNIJUÍ: Doutoranda em Letras, na área de Teorias Textuais, Discursivas e Enunciativas, UFRGS, Professora Assistente de Língua Portuguesa da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs. Email: [email protected] ³ Coorientador. Graduado em Engenharia Ambiental, UNISC; Mestre em Tecnologia Ambiental, UNISC; Professor Assistente em Gestão Ambiental nos Cursos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs - Unidade Três Passos. Email: [email protected] 4 UERGS, Unidade em Três Passos. Rua Cipriano Barata, 47 - bairro Érico Veríssimo. CEP: 98600-000. Fone: (55) 3522-2895. 106 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 A compostagem é o processo de transformação de materiais grosseiros, como vegetais e estrume, em materiais orgânicos utilizáveis na agricultura (NETO, 2002). Para Santos (2008), trata-se de um método controlado de decomposição biológica de materiais orgânicos, devido à ação de uma população mista de microrganismos do solo, sendo influenciada pela co mp o si çã o d o ma te ri a l d e p a rti d a (re l a çã o carbono/nitrogênio – C/N, idealmente 30/1), aeração (fornecimento de oxigênio) e umidade (GROSSI; VALENTE, 2002). Para este autor, os resíduos que podem ser ou não podem compostados e são classificados conforme a tabela abaixo: sociedade moderna. A abordagem desse tema no meio escolar se faz necessária já nas séries iniciais de ensino. Santos (2013) enfatiza a faixa de 4 a 6 anos como momento crucial para a criança vivenciar e assimilar valores, especialmente os relacionados ao meio ambiente, pois se trata da realidade na qual está inserida. Na conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, foi criado a Agenda 21, importante documento que contempla ações que visam o desenvolvimento sustentável do planeta. O capítulo 21, que trata do manejo dos resíduos sólidos, chama atenção para urgência em encontrar alternativas que promovam a redução e a disposição final adequada aos resíduos sólidos. Quadro1: Resíduos compostáveis e não compostáveis [...] a Assembleia afirmou que o manejo ambientalmente saudável dos resíduos se encontrava entre as questões mais importantes para a manutenção da qualidade do meio ambiente da Terra e, principalmente, para alcançar um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os países [...]. (AGENDA 21, 1992). FONTE: Adaptado de Grossi;Valente (2002). A produção de resíduos sólidos urbano faz parte da rotina da sociedade moderna, gerando a cada dia um volume maior de descarte em aterros sanitários e lixões das pequenas e das grandes cidades (DALLES E TEIXEIRA, 2010). Conforme o capítulo 21 da Agenda 21 (1992, p.1): “Os resíduos sólidos, para os efeitos do presente capítulo, compreendem todos os restos domésticos e resíduos não perigosos, tais como os resíduos comerciais e institucionais, o lixo da rua e os entulhos de construção”. A compostagem como ferramenta pedagógica, além de demonstrar aos alunos a adequada destinação dos resíduos, tem como resultado final o composto orgânico que, segundo Oliveira (2005, p.1) “[...] quando adicionado ao solo, melhora as suas características físicas, físico-químicas e biológicas [...]”, podendo ser adicionado a hortas e quintais agroecológicos. Atualmente, a preocupação com o consumo de alimentos saudáveis, aqueles livres de contaminantes, como agrotóxicos, e com a conservação do meio ambiente, resultou em mudanças nos hábitos alimentares de muitas famílias. Tais mudanças também fizeram com que a população urbana voltasse a realizar o cultivo agroecológico de hortaliças. A contribuição dos quintais para a produção global de alimentos geralmente é ignorada nas estatísticas de consumo alimentar, porém, tanto ao nível nacional como internacional, este sistema contribui significativamente para a economia local e para a segurança alimentar (MARSH e HERNÁNDES, 1996). Entre os diversos constituintes do material coletado nos resíduos sólidos urbanos, a matéria orgânica merece destaque, pois corresponde a 52% do total gerado. (GUIDONI, 2013). No Brasil, percebe-se um avanço em relação ao tratamento destes resíduos, conquistado através de algumas políticas públicas em andamento; no entanto, somente em 2010 é que surge uma lei específica sobre o assunto, a Lei n° 12.305, de 02 de dezembro de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e estabelece, entre outros, as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, citando a Educação Ambiental (EA) como um importante instrumento para o alcance dos objetivos. A agricultura urbana é realizada em pequenas áreas dentro da cidade, ou no seu entorno e destinada à produção de cultivos para o consumo próprio ou para a venda em pequena escala, em mercados locais (ROESE, 2008). Além dos benefícios ambientais, o mesmo autor cita como vantagens desta prática agrícola a promoção da segurança alimentar, a utilização da farmácia caseira a partir das plantas medicinais, a educação ambiental, a atividade ocupacional da comunidade, a geração de renda e a diminuição da pobreza. A separação adequada dos resíduos possibilita a utilização dos métodos de compostagem de resíduos orgânicos, sendo a compostagem considerada uma ferramenta que pode ser facilitadora no desenvolvimento da educação ambiental (CARVALHO et al., 2012). Segundo Vital (2012), esta é uma prática bastante antiga, como está destacado na citação abaixo: Nesta perspectiva agroecológica, Santos e Fehr (2007) realizam um trabalho voltado especificamente para a EA e com compostagem, em duas escolas públicas de Araguari-RS, o qual foi desenvolvido com intuito de envolver a comunidade escolar nas questões ambientais, principalmente na problemática que envolve a inadequada disposição de resíduos sólidos. Os resultados demonstraram que a compostagem se mostrou uma A prática da compostagem é bastante antiga; por toda a história das civilizações há relatos de que, desde muito tempo é utilizada pelo homem do campo, onde o(a) agricultor(a) utiliza restos de produtos orgânicos (VITAL et al., 2012, p. 84). 107 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 ferramenta estratégica e eficaz na difusão da EA nestas escolas. Isto foi verificado por meio da grande receptividade ao projeto proposto e dos resultados obtidos. Nesse sentido, sentiu-se o interesse em realizar uma pesquisa-ação voltada a esta temática em uma escola privada com alunos do Ensino Fundamental. com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual ospesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2009, p. 16). Para tanto, foi realizada uma reunião com o corpo pedagógico da escola para apresentação da proposta de uma composteira, com fins didáticos – pedagógicos nas atividades de EA já existentes. A sequência das atividades contemplou a realização de palestra e apresentação de vídeo sobre alimentação saudável e impactos ambientais causados pelo homem, bem como abordou a destinação de resíduos produzidos tanto nas residências quanto no ambiente escolar. Além disso, foi realizada uma oficina de compostagem, durante a qual foi construída uma composteira, na qual os alunos puderam acompanhar as etapas da decomposição da matéria orgânica. Por fim, para avaliar a repercussão do projeto, foi encaminhado um questionário (conforme Apêndice A) às famílias de 147 alunos participantes. O questionário apresenta 6 questões com resposta fechada e 3 questões com resposta aberta. A EA, segundo o “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global” assinado durante a conferência Rio 92, refere-se a um processo de aprendizagem constante, que tem como base o respeito a todas as formas de vida. É pela educação que se promovem valores morais e ações que contribuem para que haja mudanças humanas e sociais, contribuindo para o crescimento de sociedades mais justas e ecologicamente equilibradas, que mantenham entre si relação de interdependência e diversidade. Dessa forma, como destaca Pereira et al. (2014, p. 105), “a responsabilidade surge em nível individual, prosseguindo para a coletividade em nível local, nacional e planetário”. A qualidade de vida das futuras gerações depende diretamente do tipo de EA que for promovida pelas famílias e demais instituições. Isso, no entanto, não depende apenas do querer ou não querer, especialmente das escolas, uma vez que, de acordo com a Lei de nº. 3325, de 17 de dezembro de 1999, que instituiu a Política Estadual de Educação Ambiental, em seu artigo 2º - “A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação estadual e nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (BRASIL, 1999). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A primeira atividade desenvolvida neste projeto foi a realização de uma palestra, durante a qual foram apresentadas imagens da situação atual do planeta em relação aos impactos ambientais causados pelo homem, abordando diferentes temas como, o ciclo da matéria orgânica, alimentação saudável, cuidados com o solo relacionando as informações à geração de resíduos orgânicos e compostagem. Também foi exibido um episódio da série animada Peixonalta, intitulado “O caso do cheiro esquisito” no qual os personagens abordam o tema compostagem, demonstrando a importância e apresentando as etapas do processo. O real motivo da realização da mesma se deve para posteriormente ser realizada uma discussão inicial sobre resíduos sólidos, compostagem e agroecologia. O comportamento e os comentários das crianças durante a palestra evidenciaram o interesse pelo assunto. As crianças contribuíram com relatos do que já fazem em casa, como separação dos resíduos, consumo diário de frutas, legumes e verduras, compostagem, demonstrando, também, um certo entendimento da situação atual do planeta em relação à exploração do homem e o os impactos ambientais causados pelas diversas atividade da sociedade moderna. Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo mobilizar e sensibilizar toda comunidade escolar de uma escola privada do município de Três Passos - RS, para a separação e destinação mais adequada dos resíduos sólidos, especialmente a fração orgânica dos resíduos produzidos em casa e na escola. Desta maneira, os resíduos sólidos, que seriam destinados aos aterros sanitários já superlotados, poderão ser convertidos em recursos, como propõe Gliessman (2001). 2. MATERIAL E MÉTODOS O projeto foi desenvolvido em uma escola privada de Ensino Fundamental, situada no município de Três Passos, Noroeste do Rio Grande do Sul, Brasil, que, segundo dados do último Censo Demográfico (IBGE, 2010), possui uma área territorial de 268,396 km², com aproximadamente 24.000 habitantes. As atividades transcorreram no período de novembro de 2013 a agosto de 2014. Após a atividade de assistir ao vídeo “O caso do cheiro esquisito”, a grande maioria contribuiu com comentário evidenciando o envolvimento na atividade proposta. Isso pode também ter se dado em virtude das imagens ilustrativas que despertam o interesse e a atenção das crianças. Considerou-se significativo apresentar tal vídeo por considerar que o mesmo contribui para a aprendizagem de uma forma lúdica, pois, como destaca Neves (2001), o lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na Educação Infantil e Adolescência o lúdico é essencialmente pedagógico. A criança ou o jovem opõe resistência à escola e ao ensino, pois. acima de tudo, ela não é lúdica, não é prazerosa. Nesta perspectiva, também se considerou significativo oportunizar uma oficina de compostagem aos participantes do projeto, a qual foi Participaram do projeto crianças do Ensino Fundamental do 1° ao 5º ano e seus familiares, professores e funcionários da escola. O trabalho foi estruturado com base na pesquisa – ação, pois este modelo de projeto necessita de uma investigação de problemas in loco com o objetivo de solução de um problema coletivo. Segundo Thiollent: É uma pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação 108 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 desenvolvida em consonância com as orientações de Grossi e Valente (2002). Figura 3: Monitoramento do processo Para compreensão do sistema de compostagem de resíduos orgânicos foi construída, na escola, uma composteira de tijolos, com as seguintes dimensões (66cm altura x 60cm profundidade x 193cm comprimento) dividida em três partes, modelo adequado para o local escolhido e as necessidades da escola. A Figura 1 ilustra o local em que foi construída a compostagem e o envolvimento dos participantes na oficina. Figura 1: Alunos do 4º ano durante a oficina de compostagem A Figura 4 apresenta as etapas finais da compostagem. Seguindo as orientações de Vital et al. (2013), o composto somente estará pronto quando seu volume for aproximadamente 1/3 do volume original, não sendo possível identificar os componentes iniciais. Para a produção do composto, os alunos trouxeram os restos de alimentos produzidos em casa e os produzidos na escola durante a hora do recreio, que são ricos em nitrogênio (N), um nutriente importante para que o processo bioquímico da compostagem aconteça, bem como resto de corte de grama e folhas de árvores, material rico em carbono (C), gerados no período de manutenção do pátio da escola, como mostra a figura acima. A escola não possui refeitório, por isso a necessidade de introduzir na composteira resíduos vindos da casa dos alunos. A coleta dos resíduos orgânicos e a deposição dos mesmos na composteira ocorreram durante um período de 30 dias. Conforme Figura 2, o material recebido foi distribuído em camadas alternadas, uma camada de resíduo orgânico e outra de folhas ou restos de grama, sempre molhando a cada adição de camadas, até atingir a capacidade da composteira. Figura 4: Etapas finais da compostagem Após um período de 4 meses o composto foi peneirado, separando o material grosseiro como pedaços grandes de matéria orgânica, para ser utilizado como base para uma segunda compostagem. A escola não possui horta, sendo o produto final destinado à jardinagem da escola. Figura 2: Distribuição das camadas de resíduos na composteira Para avaliar a repercussão do projeto, foi elaborado um questionário semiestruturado (APÊNDICE A) aplicado junto às famílias. A seguir, estão as 9 questões aplicadas, como também a discussão sobre os resultados obtidos nas respostas dos estudantes. A primeira questão se refere ao tipo de residência da família, cujos dados estão apresentados na Figura 5. Seguindo as recomendações de Grossi; Valente, (2002), as etapas foram monitoradas sempre observando temperatura e umidade, como mostra a Figura 3. De acordo com dados do IBGE, censo demográfico de 2010, em Três Passos, cerca de 7% da polução vive em apartamentos e 93% em casas. Os resultados obtidos no questionário, embora evidenciem uma grande proporção de pessoas que residem em casas apresenta uma grande diferença em relação ao que foi constatado pelo censo. Tal diferença pode estar relacionada ao tipo de público que frequenta a escola, que por ser privada, prevalece uma classe social privilegiada 109 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 economicamente. No entanto, a partir desta constatação, pode-se destacar a relevância de se trabalhar com a compostagem, uma vez que, embora em porcentagem menor do que a apresentada pelo Censo 2010 do IBGE, 77% das famílias residem em casas. propor atividades que envolvam mais efetivamente as famílias e sejam realizadas com uma frequência maior. Outro fator que pode ter interferido foi o tempo existente entre o início do projeto, construção da composteira e a aplicação dos questionários. A Figura 8 apresenta o resultado da porcentagem de alunos que comentou sobre o projeto em casa. Figura 5: Tipo de residência Figura 8: Realização de comentário em casa sobre o projeto Também se procurou saber o número de membros de cada família ou número de pessoas que residiam em cada casa ou apartamento. As respostas do questionário revelam uma variação. O grupo apresenta, na sua maioria, famílias compostas por 3 pessoas, o que corresponde à média apresentada pelo Censo 2010, que também constatou que cerca de 30% das famílias do município de Três Passos são compostas por 3 pessoas, 29% por 2 pessoas e 23% por 4 pessoas. Os dados referentes à presente pesquisa estão apresentados na Figura 6. Os dados acima relacionados à realização de comentários sobre o projeto em casa, em relação aos dados da Figura 7, são um pouco divergentes. Percebese assim que, embora os pais não tivessem conhecimento do projeto, mais alunos comentaram a respeito do mesmo, chegando a quase metade dos participantes; no entanto, isso ainda dificulta um trabalho de redução dos resíduos orgânicos destinados à coleta, como também, aponta para a necessidade de discussões e ações que promovam a ampliação dessa informação, o que envolve diretamente ações relacionadas à EA. A relevância de tal trabalho fica demonstrada nas respostas apresentadas pelas famílias ao serem questionadas se acreditavam ser importante abordar temas como tratamento de resíduos sólidos já nas séries iniciais. Figura 6: Número de membros por residência Figura 9: Relevância da abordagem do tema “tratamento de resíduos sólidos” nas séries iniciais A Figura 7 apresenta um dos dados mais importantes para esta pesquisa, pois diz respeito à repercussão das atividades desenvolvidas na escola. Figura 7: Conhecimento do Projeto pela família Diante do resultado apresentado na Figura 9, é possível afirmar que quase 100% das famílias consideram o tema relevante, demonstrando com isso a necessidade de incluir nas práticas pedagógicas projetos como este, que promovam transformações socioambientais e culturais. Na Figura 10, as respostas obtidas demonstram que 95% das famílias, ou seja, a maioria tem a preocupação em separar o resíduo seco do resíduo úmido, indicando que existe uma consciência em relação à destinação dos resíduos. Os dados apresentados na Figura 7 demonstram que apenas 40% das famílias tiveram conhecimento do projeto em desenvolvimento na escola. Tais dados demonstram a necessidade de se repensar a continuidade do mesmo, bem como a necessidade de Fato este que se deve também à existência de um Consórcio Intermunicipal de Gestão Multifuncional (CITEGEM), antigo Consórcio Intermunicipal dos Resíduos Sólidos Urbanos (CITRESU), para o qual os 110 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 municípios encaminham os resíduos sólidos. Tal prática, hoje, está sendo realizada como fruto de um trabalho de conscientização que iniciou há vários anos, provavelmente entre os anos de 1999 e 2000, quando tiveram início as atividades do CITRESU envolvendo alguns municípios da Região Celeiro (SCHEREN e SIPPERT, 2013); dentre estes, o município de Três Passos. Porém, estes resultados entram em contradição com os dados apresentados por Junges (2013), a qual constatou que nos dias de coleta de resíduos secos, chegaram até ao CITEGEM cerca de 37 % de resíduos orgânicos. Neste caso, pode-se questionar até que ponto o que se afirmou no questionário está realmente acontecendo. As 147 famílias, de classe média alta, envolvidas no projeto, representam menos de 2% da p o p u l a ç ã o d e Tr ê s P a s s o s . L o g o , n ã o h á representatividade suficiente para comparar os dados com os resultados para todo o município. Sendo assim, reafirma-se a necessidade de se continuar com este trabalho de conscientização que há mais de quinze anos já vem sendo realizado, mas ainda não conseguiu atingir seus objetivos plenamente. hortas ou quintais que prezem pelos princípios agroecológicos e também para a redução dos volumes de resíduos destinados aos aterros sanitários, aumentando assim sua vida útil. Por outro lado, embora as famílias tenham afirmado que realizam a separação seletiva dos resíduos sólidos, a grande maioria ainda não realiza tratamento do lixo orgânico através da compostagem, o que está demonstrado na Figura 11. Percebe-se, pelos resultados, que apenas 17% das famílias realizam compostagem. Apesar de Vital (2012) destacar que esta é uma prática antiga, conforme mencionado na introdução deste trabalho, tal prática foi se perdendo ao longo dos anos. Sente-se, portanto, a necessidade de trazer novamente à tona tais questões, para dar uma destinação mais adequada aos resíduos orgânicos. Para tanto, torna-se relevante analisar os motivos apresentados pelos sujeitos desta pesquisa para a não realização de uma composteira em suas residências, os quais são apresentados na Figura12. Figura 10: Realização da separação seletiva dos resíduos doméstico Figura 12: Motivos para não realização da compostagem Os dados demonstram que o principal motivo apresentado pelas famílias é a falta de espaço adequado para composteira e o segundo principal motivo é justamente o desconhecimento da possibilidade de vir a praticar a compostagem. Percebe-se que embora existam estudos e manuais como o de Meira et al. (2003), que apresentam alternativas de criação de composteiras até em apartamentos, em caixas de madeira, lareiras, kits de plástico, entre outros, estas ideias ainda não fazem parte do conhecimento da população em geral. O que justificaria também o motivo da falta de tempo apresentada por alguns dos sujeitos pesquisados, que viria ao encontro do que se mencionou anteriormente, que na verdade seria também desconhecimento do assunto. Outro dado relevante é a quantidade de resíduos orgânicos que são encaminhados para o CITEGEM que, segundo Junges (2013), corresponderiam a 62% do total de resíduos recolhidos na área urbana do município, dado este que é inclusive maior que a média nacional que seria de 52%. Figura 11: Existência do tratamento dos resíduos orgânico através de compostagem Por fim, questionou-se de quem seria a responsabilidade de trabalhar a EA, o que está apresentado na Figura 13. Figura 13: Instituições responsáveis pela EA Tendo esses dados, torna-se ainda mais significativa uma ação efetiva de EA, que promova uma conscientização para a adequada destinação dos resíduos orgânicos, os quais poderão ser destinados para compostagem, cujo produto final pode ser utilizado como fertilizante, vindo, portanto, a incentivar também a criação de 111 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Os dados acima apresentados demonstram uma consciência de que trabalhar a EA não seria tarefa apenas de uma ou outra instituição, quer seja familiar, educacional ou governamental, mas que esta é uma responsabilidade que deveria ser compartilhada, como foi afirmado por 76% das famílias. Tais pressupostos estão expressos na legislação brasileira. percebeu-se que os resultados ficaram muito aquém do esperado, ou seja, menos da metade das famílias participantes conheciam o projeto. Além disso, este percentual se refere apenas a 80 famílias das 147 famílias pesquisadas. Dessa forma, novas atividades podem e devem ser desenvolvidas a fim de atingir práticas mais sustentáveis e auxiliar na promoção da educação ambiental. Com isso, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, tem como princípio a EA em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. A Lei nº. 9.795 de 1999 que dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, trata em seu texto os princípios da EA, que deve ser ampla e ter um enfoque humanista e transdisciplinar, com o enfoque holístico, democrático e participativo, com uma concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade (BRASIL, 1999). REFERÊNCIAS AGENDA 21- Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992. Disponível em: http://www.mma.gov.br/responsabilidadesocioambiental/agenda-21/agenda-21-global. Acesso em 05 nov.2014. BRASIL. Agenda 21 Nacional. Ministério do Meio Ambiente. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 1992. Estes são exemplos dentre outros documentos de relevância mundial como é o caso da Agenda 21, que reforçam o compromisso em buscar medidas de mitigação, ou seja, diminuição dos impactos ambientais causados pelo homem. ______. Lei n.º 9.795, 27 de abril de 1999. Política Nacional de Educação Ambiental.1999. ______. Lei 12.305 de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e da outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2010. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ______. Lei 3.325/99 de 17 de dezembro de1999. Rio de Janeiro. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a política estadual de Educação Ambiental, cria o programa estadual de Educação Ambiental e complementa a lei federal Nº 9795/99 no âmbito do estado do Rio de Janeiro, 1999. A utilização de uma composteira como prática ambiental sensibiliza, não apenas os alunos, mas toda comunidade escolar, para os cuidados com a conservação dos recursos naturais. Sendo assim, a compostagem se mostra como instrumento que pode ser explorado e desenvolvido de modo a se tornar uma ferramenta útil na promoção da EA. _____. Lei n.º 6.938 de 31 de agosto de 1981. Política Nacional do Meio Ambiente. . Diário Oficial da União, Brasília, 2010. Os resultados do questionário indicam que existe uma preocupação por parte dos entrevistados desta pesquisa com as questões ambientais, visto que 95% das famílias afirmam realizar a separação seletiva dos resíduos. Resultado que surpreende e estimula a uma reflexão sobre alguns fatores que possam ter contribuído para tal comportamento. CARVALHO, R.R; et al. A compostagem como ferramenta de educação ambiental no instituto federal do maranhão campus Codó. VII Congresso NorteNordeste de Pesquisa e Inovação (CONNEPI) Palmas, Tocantins, 2012. Levantou-se a hipótese de que as ações de políticas públicas municipais estão contribuindo para este processo de conscientização, uma vez que a família que não fizer a separação não tem seus resíduos recolhidos e encaminhados ao CITEGEM. O que não pode ser considerado uma regra, pois conforme trabalho de Junges (2013), a quantidade de resíduos orgânicos que chegam ao Consórcio de Tratamento nos dias de coleta de resíduos secos é muito grande, demonstrando uma falta de conscientização sobre a separação correta dos resíduos. DALLES, R.N; TEIXEIRA, I.R.V. Processamento de adubo orgânico, a partir de resíduos domésticos, em uma comunidade rural: uma proposta ecológica e viável. REMPEC - Ensino, Saúde e Ambiente, v.3 n 3, 2010. GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2001 GROSSI, M.G.L; VALENTE, J.P.S. Compostagem Doméstica de Lixo. São Paulo: Fundacentro, 2002. Outro resultado relevante está relacionado à mobilização que se pretendia fazer com esta pesquisaação, visando à separação e destinação mais adequada dos resíduos sólidos urbanos. Essa mobilização e sensibilização aconteceram durante a palestra e a construção da composteira; no entanto, pela dificuldade em se manter a continuidade das atividades relacionadas ao tema na escola, quando foi aplicado o questionário para verificação da repercussão do mesmo nas famílias, GUIDONI, L.L.C. COMPOSTAGEM DOMICILIAR: IMPLANTAÇÃO E AVALIAÇÃO DO PROCESSO, 2013. D i s p o n í v e l e m : https://online.unisc.br/seer/index.php/tecnologica/article/v iew/3640. Acesso em 05 set. 2014. 112 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 MARSH, R.; HERNÁNDEZ, I. El papel del huerto casero tradicional en la economia Del hogar: casos de Honduras y Nicaragua. Agroforesteria en las Américas, 1996, p.8-16. MEIRA, A. M, et al. Manual básico de compostagem – série: conhecendo os resíduos. Piracicaba, USP Recicla, 2003. NETO, João Francisco Manual de horticultura ecológica: guia de autossuficiência em pequenos espaços. São Paulo: Nobel, 2002. OLIVEIRA, A. M. G. et al. Compostagem caseira de lixo orgânico doméstico. Cruz das Almas:[s.n.], 2005. Circular Técnica. Embrapa, 76. PEREIRA, Aline Ferreira de Souza et al. Conscientização e educação na escola pública: o descarte indevido do óleo e seus efeitos no meio ambiente. Revista Brasieira de Educação Ambiental. São Paulo, V. 9, No 1:102-115, 2014. ROESE, A. D. Agricultura urbana. Disponível em: www.cpap.embrapa.br. Acesso em: 25/10/2014. SANTOS, G. A. Et al. Fundamentos da matéria orgânica do solo: ecossistemas tropicais & subtropicais. 2. ed. Porto Alegre: Metrópole, 2008. SANTOS, Helaine M. N. dos; FEHR, Manfred. Educação ambiental por meio da compostagem de resíduos sólidos orgânicos em escolas públicas de AraguariMG. CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line. Disponível em: file:///C:/Users/user/Downloads/1571959058-1-PB.pdf. Acesso em 02 dez.2014. SANTOS, S. P. dos; CASTRO, F.C. de. Cine Ambiental: Educando para Sustentabilidade, educação ambiental nas escolas Municipais de São José dos Campos. 2013. Disponível em: http://www.redevale.ita.br/iisrhps/documentos/paraibuna/ IISRHPS_sessao_tecnica_I_3.pdf. Acesso: 15 nov.2014. SCHEREN, Mara Adriane e SIPPERT, Luciane. A integração da Educação Ambiental e a Administração Municipal na gestão de resíduos sólidos no município de Sede Nova/RS. Anais do XIV EPEA – Encontro Paranaense de Educação Ambiental. Cascavel – PR, 2013. p. 161-171. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2009. 132p. VITAL, A.F.M et al. IMPLEMENTAÇÃO DE UMA COMPOSTEIRA E DE UM MINHOCÀRIO COMO PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL VISANDO A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DO CDSA. Revista Didática Sistêmica. Rio Grande-RS, v.14, n.2, p 78-94, 2012. 113 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 O REGIONALISMO PRESENTE NA OBRA DE SAVIO MOREIRA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS Eufrázia Nenê Miranda¹ Luciane Sippert² UERGS³ RESUMO O presente artigo trata das variações linguísticas que acontecem em virtude dos rearranjos linguísticos feitos pelos falantes para atender as suas necessidades comunicativas, uma vez que o princípio fundamental da língua é a comunicação. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é analisar como as variedades étnico-culturais e regionais podem modificar, influenciar e particularizar a fala e a escrita de um grupo, a partir da análise de tiras e charges produzidas por Savio Moreira, publicadas no Jornal “A Notícia”, no período de 2011 e 2012. Os resultados demonstram que os dados analisados apresentam marcas de uma variedade linguística presente no Rio Grande do Sul, especialmente na Região das Missões. Além disso, reforça-se o que vem sendo discutido pela Sociolinguística de que os diferentes falares devem ser considerados como variações e não como erros. Quando tratamos as variações como erro, incorremos no preconceito linguístico que associa, erroneamente, a língua ao status. O português falado em algumas regiões do Brasil, por exemplo, pode ganhar o estigma pejorativo de incorreto ou inculto, mas, na verdade, essas diferenças enriquecem esse patrimônio cultural que é a nossa Língua Portuguesa. Conhecer as peculiaridades da nossa língua permite ampliar a nossa competência linguística e as habilidades relacionadas à leitura em diferentes contextos. ABSTRACT This article deals with the linguistic variations that take place due to linguistic rearrangements made by speakers in order to meet their communication needs, since the fundamental principle of language is communication. In this sense, the objective of this research is to analyze how the ethnic, cultural and regional varieties can modify, influence and individualize the speech and writing of a group, from the analysis of cartoons written by Savio Moreira and published in the newspaper "A Notícia ", in the period of 2011 and 2012. The results show that the analyzed data present aspects of a linguistic variety from Rio Grande do Sul, spoken mainly in the region called Missões. In addition, the data demonstrate a Sociolinguistics principle, which asserts that different dialects and variations should not be regarded as errors. Considering linguistic variation as error is a linguistic prejudice that mistakenly associates language to social status. The Portuguese variety spoken in some regions of Brazil, for example, can be pejoratively considered as incorrect or uneducated, but, in fact, such differences enrich the cultural heritage that is the Portuguese language. Knowing the peculiarities of a language allows for the expansion of language skills and reading-related skills in different contexts. Keywords: Regionalism. Linguistic variation. Sociolinguistics. Palavras-chave: Regionalismo. Variação linguística. Sociolinguística. A Sociolinguística é uma das subáreas da Linguística e o seu estudo é a língua em uso dentro das comunidades de fala, correlacionando aspectos sociais e linguísticos. Quanto ao conceito de Sociolinguística, afirmam Votre e Cezário (2009, p. 141): 1. INTRODUÇÃO A fala e a escrita fazem parte de nosso cotidiano e não devem ser confundidas, porque a fala é natural à pessoa, enquanto a escrita pode ou não ser aprendida. A língua escrita e a língua falada são diferentes. Tais diferenças são encaradas muitas vezes de forma preconceituosa por alguns membros da sociedade, que consideram um desrespeito à norma culta qualquer tipo de variação linguística que não esteja de acordo com a gramática normativa. Apesar da enorme diversidade e variabilidade apresentada pela língua, no uso cotidiano, falada no Brasil as pessoas tendem a transformar a variedade linguística utilizada pelo outro em “erro”. Tais questões têm sido estudadas atualmente pela Sociolinguística. A sociolinguística é uma área que estuda a língua em seu uso real, levando em consideração as relações entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e culturais da produção linguística. Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente de contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação. ¹ Licenciada em Letras com habilitação para o Espanhol e respectivas Literaturas, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Santo Ângelo/RS; Pós-graduanda em Educação de Jovens e Adultos UERGS, São Luiz Gonzaga-RS; Professora da área das linguagens (Língua Portuguesa) das Séries finais do Ensino Fundamental e Modalidades finais do Ensino Médio EJA, da Rede Estadual de Ensino Pú[email protected] ² Orientadora. Licenciada em Letras, com habilitação para Língua Portuguesa e respectivas literaturas, UNIJUÍ; Especialista em Ensino-aprendizagem de línguas, UNIJUÍ; Mestre em Educação nas Ciências, com ênfase em Letras, UNIJUÍ: Doutoranda em Letras, na área de Teorias Textuais, Discursivas e Enunciativas, UFRGS, Professora Assistente de Língua Portuguesa da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs. Email: [email protected]. ³ UERGS, Unidade em São Luiz Gonzaga, Rua Marechal Floriano Peixoto nº. 4557, São Luiz Gonzaga - RS/ Brasil 114 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Todavia, esse conceito toma como alvo a sociedade. Assim sendo, é importante que se enfatiem as diferentes variações que se processam na língua e se dê um espaço para o estudo das situações e fatores que ocasionam tais mudanças. histórica e política, porém seus estudos se voltaram essencialmente para o organismo linguístico interno, uma vez que ele concebia a língua como um produto homogêneo e sua análise partia da observação como comportamento linguístico de um indivíduo. O princípio da homogeneidade linguística foi adotado pelos estudiosos da glossemática e do gerativismo. Delimitar o campo de pesquisa da sociolinguística não foi tarefa fácil, já que muitos teóricos do assunto levantavam questões envolvendo a linguagem humana e todas as hipóteses possíveis de formulação para o estudo da Sociolinguística eram rejeitadas. Mas foi Bright (1966) um dos pioneiros na definição do objeto de estudo do sociolinguista; definiu que a diversidade linguística era o foco principal de estudo dessa nova disciplina, a Sociolinguística. Indo além, delimitando três ângulos fundamentais para esse estudo: a identidade social do emissor, a identidade social do receptor e as condições comunicativas. (BRIGHT, 1966 apud MONTEIRO, 2000, p.15). As primeiras investigações acerca de estudos sociolinguísticos surgiram a partir de William Bright (1966) e Fishman (1972), os quais passaram a incorporar os aspectos sociais nas descrições linguísticas. Bright afirmava que "a diversidade linguística" é precisamente a matéria de que trata a Sociolinguística. Segundo ele, as dimensões desse estudo estão condicionadas a vários fatores sociais, com os quais a diversidade linguística se encontra relacionada nas identidades sociais do emissor e receptor e na situação comunicativa. Essa área de estudo linguístico, denominada sociolinguística, surge confusa e desprovida de um grande marco teórico. Preti (1987) afirma que a Sociolinguística pode desempenhar um papel de investigadora e fornecer uma excelente metodologia para os estudos da oralidade em diferentes locais. Com esse método de investigação é possível registrar diversos tipos de falas em diversas localidades na mesma região, traçando o perfil sociológico, econômico e cultural desse falante. Dando prosseguimento aos estudos de Bright, Labov (1972), que passa a descrever a heterogeneidade linguística, pois para ele, todo fato linguístico se relaciona a um fato social, e que a língua sofre implicações de ordem fisiológica e psicológica. Labov ficou conhecido por ser o representante da teoria da variação linguística. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo analisar as variedades étnico-culturais e regionais que podem modificar, influenciar e particularizar a fala e a escrita de um grupo a partir da análise de tiras e charges produzidas por Savio Moreira, publicadas no Jornal “A Notícia”, no período de 2011 e 2012. Dessa forma, a Sociolinguística é uma área da linguística que estudará a língua através de fatores externos, os quais caracterizarão a diversidade e a heterogeneidade linguística. 2.1.1 Papel da sociolinguística 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA De acordo com Gadet (1987, p. 4), a Sociolinguística é uma área da Linguística que estuda as relações entre as variações linguísticas e sociológicas. O sociolinguista tenta mostrar a variação da linguagem de um falante para outro, como e por que está assim determinada. Desde então, estudos foram avançando, novos teóricos descrevem essa nova ciência – Sociolinguística – que vem conquistando uma visão mais ampla acerca da linguagem. 2.1 SOBRE A SOCIOLINGUÍSTICA A Linguística, como é conhecida contemporaneamente, tomou formas em tomo da década de 1950, quando foi instituída como ciência, sob grande influência dos estudos de Saussure. Apesar disso, é sabido que essa área do conhecimento foi sendo explorada, analisada e difundida desde os gramáticos gregos e romanos e, por esse motivo, acabou influenciando outras ciências como a Antropologia, a Psicologia, a História, a Sociologia, dentre outras. Além disso, para Baylon (2000 apud MONTEIRO. 2000), a Sociolinguística se preocupa essencialmente em descrever as diferentes variedades coexistentes dentro de uma comunidade de fala. Hoje ela engloba praticamente tudo o que diz respeito ao estudo da linguagem em seu contexto sociocultural. Segundo o autor, entende-se por sociolinguística “o estudo sistemático do uso da língua na vida social, não há como deixar de considerar a etnografia da comunicação como uma subdisciplina da sociolinguística" (op.cit, p. 29). Ainda, nesse sentido, a sociolinguística delineia e revela a língua viva capaz de sofrer todas as modificações possíveis, indo da política ao campo educacional, envolvendo todas as ciências pré-existentes, a descrição minuciosa de cada palavra gesticulada, expondo os pormenores por mais imperceptível que possa parecer. No entanto, qualquer comunidade formada por indivíduos socialmente organizados dispõe de recursos e métodos para os processos comunicativos que lhes são próprios. Estes se valem das mais diversas possibilidades significativas para facilitar este processo entre seus constituintes e tornar possível a interação. Desde os estudos mais remotos feitos acerca da linguagem buscouse encontrar respostas para entender a relação linguagem e sociedade, haja vista que esses elementos estão intimamente ligados, pois em qualquer período o homem sempre utilizou uma forma de comunicação: nos primórdios a comunicação oral e em seguida, a escrita. Essas duas modalidades fazem parte de um sistema linguístico de uma comunidade linguística, o qual permite ao ser humano estabelecer contato com o outro e interagir. O homem é um ser social. Essa afirmação já bastante comentada desde Aristóteles, não há nada mais verdadeiro do que ela. Afirmar que o homem é um ser social nos faz pensar na lógica de que, consequentemente, ele necessita se comunicar, e isso Saussure, precursor da corrente estruturalista, reconhecia a importância de natureza etnológica, 115 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 vem de forma espontânea, através da fala individual do usuário da língua. Entretanto, como destaca Infante: "[...] toda a nossa vida em sociedade supõe um problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de que dispomos para tal" (INFANTE, 1995, p 17). é quando ele, o pesquisador, depara com a variação fonológica, no sentido de perceber a pronúncia de certas palavras, levando sempre em consideração o ambiente em que se encontra o informante. Em relação a isso, Monteiro afirma: O ambiente e a ocasião em que a linguagem é usada, acarretará algumas consequências. Em palestras acadêmicas e ocasiões cerimoniosas, por exemplo, é provável que o falante selecione uma linguagem mais formal do que em festinhas infantis ou almoços em família. (MONTEIRO, 2000, p.71). Portanto, essa língua passa por várias modificações em sua trajetória e esta não chega intacta até o seu receptador ou vice-versa, daí provoca a tão estudada e comentada variação linguística, que, por ser mal compreendida, gera desconforto e o preconceito linguístico, que mede a "capacidade intelectual" do falante nato da língua materna, como se esta fosse homogênea. Jesperson, citado por Preti (1987, p.12) considera que a fala de um indivíduo que esteja isolado dentro de um grupo nem sempre é a mesma. "Seu tom na conversação e, com ele, a escolha de palavras muda segundo a cada meio social em que se encontra no momento". O autor vai além dessa explicação, colocando também as diversas formas e estilos de linguagem utilizadas pelo falante em ocasiões diferentes. "A isto se acrescente que a linguagem toma diferente colorido segundo o tema da conversação: há um estilo para declaração de amor, outro para a declaração oficial, outro para a negativa ou reprimenda". 2.2 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA X SOCIOLINGUÍSTICA A variação linguística, segundo alguns teóricos, acontece em todos os níveis de elaboração da linguagem, em função do emissor e do receptor, sempre levando em conta região em que encontra (emissor ou receptor), faixaetária, classe social e profissão, sendo eles responsáveis por essa variação. No caso do Brasil, pelo fato de ser um país extenso e com uma população diversificada, utilizando a mesma língua materna, sempre haverá a heterogeneidade linguística dentro do mesmo estado ou comunidade linguística. Segundo Pretti (op.cit), embora essas teorias sejam bastante relevantes, nem sempre é possível relacionar com exatidão que um indivíduo de uma determinada região, cultura, posição social, raça, idade, sexo, etc., optaria de antemão, por uma ou outra estrutura. Coloca, ainda, que "nem sempre é possível estabelecer padrões de linguagem individual, de acordo com uma variedade muito grande de situação que pudesse servir de ponto de referência para uma classificação mais perfeita dos níveis de fala". Assim, pesquisas sociolinguísticas voltadas para a diversidade linguística devem ser realizadas com muito cuidado, principalmente se ao delimitar o campo de pesquisa e seus reais objetivos. Valendo-se desses parâmetros, o pesquisador obterá os bons resultados. Por isso, o campo da pesquisa Sociolinguística está delimitado ao estudo dos problemas que envolvem a relação língua/sociedade. Sua principal tarefa é mostrar a variação sistemática linguística da estrutura social e o relacionamento causal em uma direção ou outra. Deste modo, tanto a Sociolinguística como a Pesquisa Sociolinguística trabalham com o mesmo objeto: a diversidade linguística, descrevendo o falar em sua magnitude, levando em conta a origem, idade, sexo, escolaridade, aspectos financeiros... não para demarcar os limites dos desníveis sociais, mas, para demonstrar que o homem é um ser sociável e em qualquer situação é capaz de se fazer entender e compreender a mensagem proposta. Assim, na área dos estudos linguísticos ela se articula com outras correntes da Linguística Aplicada: a Psicolinguística e a Etinolinguística. Bagno, em sua obra Sociolinguística, publicada em 1997, "A língua de Eulália", procura mostrar que o uso de uma linguagem "diferente", nem sempre pode ser considerado um "erro de português". Esse modo diferente das pessoas falarem pode ser explicado por algumas ciências como a Linguística, a História, a Sociologia e até mesmo a Psicologia. Tarallo (1994), em Pesquisa Sociolinguística, mostra que os falares regionais podem ser descritos e mapeados com base em uma metodologia da linguagem que subsidie o trabalho do linguista. Assim, a Sociolinguística estudaria as relações entre as variações linguísticas e as variações sociológicas, descrevendo o falante em toda sua essência, não desprezando o contexto em que se encontra, mas, levando em consideração todo aspecto em que se encontra no momento em que emite uma mensagem. Nesse mesmo contexto, ele afirma que a língua, por ser um marcador que identifica usuários ou grupos a qual pertence, pode também ser o delimitador das diferenças sociais no seio de uma comunidade. Embora a nossa tradição educacional negue a existência de uma pluralidade dentro do universo da Língua Portuguesa e não aceite que a norma culta seja uma das muitas variedades possíveis no uso do português, a "Língua Portuguesa" está em constante modificação e recebe notadamente a influência de palavras pertencentes a outros idiomas, principalmente dos imigrantes que chegam a todo o momento ao Brasil; entre eles, portugueses, americanos, japoneses, alemães e italianos. Nos discursos proferidos pelo falante há uma préelaboração por mais simples que seja, sendo que: o casual, a linguagem utilizada é aquela do dia-a-dia, sem prévia elaboração. Já no discurso cuidado, o falante se limita a responder as perguntas utilizando uma linguagem mais elaborada. No estilo de leitura envolve mais atenção. O pesquisador solicita do pesquisado a leitura de textos, e Entre outras coisas, o Livro "A Língua de Eulália" (BAGNO, 2003) mostra que na comparação entre o português-padrão e o português–não-padrão o maior preconceito apontado não são exatamente as diferenças linguísticas que prevalecem, mas sim, as diferenças sociais, mostrando que esses preconceitos são comuns, 116 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 como por exemplo, o étnico: o índio "preguiçoso", o negro "malandro", o japonês "trabalhador", o judeu "mesquinho", o português "burro"; o sexual: a valorização do "macho"; o cultural: o desprezo pelas práticas medicinais caseiras, além dos socioeconômicos como a valorização do rico e o desprezo pelo pobre; entre outros. Considerando esse lugar, de excesso e de falta que a fala ocupa em relação á língua na fundação da linguística, é possível, pelo menos, assinalar com Saussure, que “sem dúvida, esses dois objetos estão estreitamente ligados e se implicam mutuamente(...)” (op.cit.p.27). Muitos mitos e preconceitos ainda existem em relação à língua. Mas o pior preconceito é o que o próprio falante tem de si mesmo, de seu modo de falar, de sua variedade e cultura. Ainda se tem a visão de que a forma correta de falar é que está nas gramáticas e de que para se “falar corretamente” é preciso estudar bastante. Todos esses preconceitos são um grande equívoco. Nenhum ser humano é igual, seja na aparência física, moral ou intelectual, cada um tem sua essência. Nesse percurso podemos apreender o que é a fala em relação à língua bem como as relações entre uma e outra e, mais do que isso, empreender uma reflexão sobre o lugar da fala na constituição da linguística. Segundo Silveira (2007), os manuscritos saussureanos, presentes na Biblioteca pública de Genebra e mesmo os Escritos de Linguística Geral, trazem algumas informações importantes sobre o processo de escrita de Saussure, em especial no que diz respeito aos 'conceitos incompletos', como é o caso da fala. 2.2.1 Fala, Dialeto e Signo Linguístico A noção de incompletude, nessa reflexão, é recuperada a partir da perspectiva própria da Psicanálise em que a considera como essencial na constituição do sujeito e, dessa forma, presente em suas manifestações. A fala é a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua personalidade, o ambiente sociocultural em que vive, etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo, além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros falam; é por isso que somos capazes de dialogar com pessoas dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a linguagem delas seja exatamente como a nossa. É considerando a importância de um conceito como fala, especialmente quando se trata da pesquisa linguística que trabalha com a noção de sujeito a partir de Lacan (1901-1980), que seguiremos a trilha saussuriana. Na elaboração lacaniana, apoiada na reflexão freudiana, o estatuto da fala ganha importância ao longo da sua reflexão visto que é somente na fala que é possível ao ser advir como sujeito. Do ponto de vista estritamente linguístico não há nada que distinga língua de dialeto. Ambos os sistemas têm léxico (um inventário de palavras) e gramática (conjunto de regras de como as palavras se combinam para formar frases, parágrafos e textos). Quem fala um idioma nacional e um dialeto regional é tão bilíngue quanto quem fala dois idiomas. Então por que alguns sistemas são chamados de idiomas e outros não? Em tempo, a fala é a materialização da Língua na variante fônica, sendo realizada através de um processo de articulação de sons. Traduz-se no meio de comunicação mais comum e eficaz por constituir a forma que exige menos esforço e ser mais facilmente compreendida pelas pessoas. Contudo, existe um número significativo de população que apresenta dificuldades em se comunicar através da fala (BEUKELMAN & MIRENDA, 1998). Hoje, costuma-se chamar de dialeto qualquer expressão linguística que não seja reconhecida como língua oficial de um país. Assim, um dialeto pode ser tanto uma variedade linguística regional do idioma oficial quanto uma língua sem qualquer parentesco com ele. Na produção saussuriana o conceito de língua tem sido capital. É a partir dele que se pode dizer da fundação da chamada linguística moderna; é a partir dele que a noção de sistema é elaborada e tem seus efeitos em outras áreas de conhecimento. Ao realizar tal formulação Saussure distingue língua e fala. Saussure chega a estabelecer qual seria a Linguística da Língua e a Linguística da Fala (cf. cap.IV da Introdução do Curso de Linguística Geral de Ferdinand de Saussure). Mas, ele é capaz de reconhecer a dificuldade dessa diferenciação: “Cumpre reconhecer, porém, que no domínio do sintagma não há limite categórico entre o fato de língua, testemunho de uso coletivo, e o fato de fala, que depende da liberdade individual” (SAUSSURE, 2008, p.145). Na concepção da linguística estruturalista, o signo linguístico é uma entidade psíquica indivisível, composta por dois elementos: o significado ou conceito e o significante ou a forma linguística na sua realização fonética ou gráfica. O signo linguístico é arbitrário porque não pretende assemelhar-se ao seu referente. Diversas línguas atribuem diversos significantes a um significado idêntico. As onomatopeias e as exclamações são consideradas o único vestígio do signo motivado. Atualmente nenhuma escola linguística contesta o princípio da arbitrariedade. O sistema linguístico organiza os signos em relações paradigmáticas e sintagmáticas. Em comparação com outros signos, o signo linguístico é praticamente imutável. A sua eventual modificação resulta dos mecanismos da evolução da língua e não da volição de um utente. Mas como ele define fala? O conceito de fala na elaboração saussuriana é um dos mais controversos. O Curso de Linguística Geral o traz de forma negativa, ou seja, ao construir o conceito de língua, Saussure deixa surgir o que vem a ser a fala enquanto o que não é a língua. A fala aparece enquanto excesso da língua. Saussure também a situa como secundária nos estudos linguísticos. Ela por si não seria capaz de ocupar o lugar de objeto da linguística. A fala está em lugar de falta para a linguística. Signo = significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do signo) + significante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas 117 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 letras e seus fonemas). Logo, o signo linguístico é um elemento representativo que apresenta dois aspectos: o significado e o significante (SAUSSURE, 2008). como os que se poderia exigir desse mesmo falante ao proferir um discurso de posse em um cargo eletivo. A conversa familiar teria caráter informal, livre, com pouca elaboração. Já o discurso proferido por ocasião da posse em um cargo público, forçosamente teria caráter mais formal, elaborado e controlado. 2.2.2 Fala x escrita Na linguagem, as modalidades oral e escrita se completam, guardando cada uma suas propriedades distintas. O fato de possuírem formas características não pode nos levar à falsa noção de que são modalidades destituídas de pontos de integração. Como podemos ver, tanto os textos da modalidade oral quanto os da escrita apresentam, em determinadas circunstâncias de realização, traços de formalidade ou de informalidade, elaboração e controle, de acordo com o uso que se quer fazer. Falar e escrever são formas diferentes de dizer e expressar significados construídos na linguagem e pela linguagem, dentro de uma situação interativa social. Nesse sentido, Halliday (1989 apud MAC-KAY, 2000) propõe que falar e escrever, enquanto formas diferentes de dizer e modos diferentes de se expressar em significados linguísticos, apresentam uma interface: a analogia entre fala e escrita sustentada por três princípios. Um deles é que a escrita não incorpora todos os potenciais de significação da fala, pois deixa de lado as participações para linguísticas e prosódicas e a fala não apresenta os limites da sentença e do parágrafo; estas diferenças, porém, são de sinais e não de conteúdo. O outro é que não há necessidade de duas linguagens para a mesma função, pois uma seria a duplicação da outra. 2.2.3 Da variação da língua: regionalismos Ao se estudar a língua, os contextos socioculturais em que ela ocorre são elementos básicos e, muitas vezes, determinantes de suas variações, explicando e justificando fatos que apenas linguisticamente seriam difíceis ou até impossíveis de serem determinados, pois, no dizer de Barbosa (1981 apud ARAGÃO,1990): “Língua, sociedade e cultura são indissociáveis, interagem continuamente, constituem, na verdade, um único processo complexo...”Percebemos esse processo, ao analisarmos o “Regionalismo” na fala e na escrita. Antes, convém esclarecer, que o regionalismo é o conjunto das particularidades linguísticas de uma determinada região geográfica, decorrentes da cultura lá existente. Uma de suas principais expressões é o dialeto. Pode-se dizer que Linguagem Regional é o conjunto de características de uma língua - vocabulário próprio do lugar, pronúncia, sintaxe - que tornam o falante de uma dada região identificável a partir de seu discurso. Linguagem regional não é erro ou defeito, nem indica superioridade de uns ou inferioridade de outros. São fenômenos que acontecem em qualquer língua e fazem parte da riqueza cultural de um país e de um idioma. Logo, cada modalidade serviria para uma finalidade mais específica, sem perder sua característica fundamental de ser “linguagem”. Por último, fala e escrita suscitam diferentes aportes para a experiência: a escrita cria o mundo das coisas/objetos e a fala, o dos acontecimentos. No entanto, quando se trata de oralidade e escrita nos vêm à mente duas formas tão distintas da língua que, a princípio, não podemos conceber uma relação entre elas. Isto porque durante toda a nossa vida ouvimos que a escrita deve ser correta, regular, formal, perfeita enfim, e que a fala é lugar de informalidade, de erros, de flexibilidade excessiva. Visão persistente e difícil de ser modificada. Uma definição geral sobre a variação linguística se torna necessária para um melhor aproveitamento dos textos inicialmente postos. Podemos entender por dialeto as variações de pronúncia, de vocabulário e de gramática pertencentes a uma determinada língua. Os dialetos não ocorrem somente em regiões diferentes, pois numa determinada região existem também as variações dialetais etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e feminino e estilísticas. Marcuschi (2001, p.25) estabelece que a “A oralidade seria uma prática social interativa para fins comunicativos que se apresenta sob variadas formas e gêneros textuais fundados na realidade sonora”. Apesar da oralidade ser uma prática social interativa, o privilégio que a modalidade escrita da língua desfrutou (e ainda desfruta) por largo período de tempo, relegou a modalidade oral a um lugar não condizente com a sua importância nas aulas de Língua Portuguesa. Alguns dialetos são usados com diferentes sotaques regionais como ocorre na norma culta da língua portuguesa. Os sotaques então, não podem ser confundidos com dialeto, pois o que caracteriza o sotaque é apenas a diferença de pronúncia dos falantes. A questão é que certas diferenças fonéticas entre sotaque podem ser estigmatizadas pela sociedade, da mesma forma como certas diferenças lexicais e gramáticas entre os dialetos o são. O sotaque e o dialeto de uma pessoa variam sistematicamente segundo a formalidade ou informalidade da situação em que se encontra. Acerca da importância de uma e outra modalidade de uso da língua, destaca-se a posição de Marcuschi que afirma: “Oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos nem uma dicotomia” (2001, p. 17). Os usos a que se reporta o autor dizem respeito aos diversos gêneros textuais necessários às diversas situações de interação, que se dão tanto na modalidade oral como na escrita. Não se pode, portanto, exigir de um falante que em uma conversa íntima com seus familiares observe rigorosamente os aspectos formais da língua A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme. Dependendo da 118 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua. 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Nas charges analisadas predominam nove personagens, quais sejam: Nessa dimensão, incluem-se as diferenças linguísticas observadas entre pessoas de regiões distintas, em que se fala a mesma língua. Exemplos claros desta variação são as diferenças encontradas entre os diversos países de língua portuguesa (Brasil, Portugal, Angola, por exemplo) ou entre regiões do Brasil (Região Sul, com os falares gaúcho, catarinense, por exemplo, e Região Nordeste, com os falares baiano, pernambucano, etc.). Ÿ Chiru velho, vaqueano experiente, profundo conhecedor das lidas de campo, embora um tanto atrapalhado... Ÿ Dona Palometa, conheceu Chiru Velho em um baile do rincão, casaram-se em 1950, é prenda louvada a quatro ventos pelo Chiru velho... Para elucidar a teoria até então esplanada, analisaremos as influências que as variedades étnicoculturais e regionais podem exercer sobre a fala e a escrita de um grupo. O que nos levará a possíveis identificações de como essas diferenças étnico–regionais estão arraigadas à cultura e aos costumes de uma região específica. Ÿ Virso, não tem parentesco, parece se tratar de um agregado, meio atrapalhado, pois lhe falta experiência, que busca aprender com Chiru velho... Ÿ Juracema, chinoca que o Virso conheceu no Baile da Mariquinha, moça da cidade, que se assusta com o vocabulário campeiro de Virso... 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Ÿ Porco batizado bento leitão de los libres. É adversário ferrenho do Chiru Velho, leva ao pé da letra o lema “não podemos se entregar pros home...” O estudo realizado se caracteriza como uma pesquisa teórico-empírica, de cunho qualitativo, exploratória e interpretativa. Para tanto, serviremo-nos da pesquisa bibliográfica para explicar e analisar o problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos, buscando conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas existentes sobre o assunto. A pesquisa bibliográfica procura retomar e analisar a bibliografia tornada pública em relação ao tema em estudo. Segundo Lakatos e Marconi: Ÿ Cavalo crioulo, “Flato”, é descendente do cavalo de Bento Gonçalvez, segundo o próprio. Ÿ Coruja, na verdade é o corujo, doutor, psicólogo, ministro, que usa sua sabedoria para explicar aos animais as atitudes dos humanos... Ÿ Galo, Rei do Galinheiro, seu nome é “Pedro”, é uma espécie de braço direito do porco. Também é companheiro de mateadas ao amanhecer do Chiru Velho... [...] é um procedimento reflexivo, sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos dados ou fatos, relações ou leis, em qualquer campo de conhecimento. Esta pesquisa implica o levantamento de dados de variadas fontes, quaisquer que sejam os métodos ou técnicas empregadas. Os dois processos pelos quais se podem obter os dados são a documentação direta ou indireta (1997, p. 43). Figura 1: Personagens criados por Sávio Moura Além da revisão bibliográfica, faremos a análise de tiras e charges produzidas por Sávio Moura, a fim de analisar como as variedades étnico-culturais e regionais podem modificar, influenciar e particularizar a fala e a escrita de um grupo. O referido autor nasceu em São Luiz Gonzaga, em 1965. Formado em Administração de Empresas pela URI, então bancário; cresceu em ambiente impregnado pela cultura missioneira. Em 1994, passou a colaborar como chargista do Jornal “A Notícia”, de São Luiz Gonzaga e, hoje se dedica à conceituada e bem humorada tira “É dura a vida no campo”, criada em 2006 para participar de 2ª Mostra de Artes do Altelier Los Libres. Marco fundamental que impulsionou a carreira artística deste chargista, Levando Savio e seus personagens cômicos a ter publicações em Jornais de renome, como ZH, Jornal do Comércio e Folha de São Paulo. FONTE: http://www.saviomoura.com.br/index.php?origem =blog acesso em 18 de maio de 2015. Tanto na criação dos personagens quanto na produção das tiras observadas, texto escrito e imagético é possível perceber o poder da variação linguística para marcar uma identidade. Essa identidade pode ser de um local, um gênero, uma etnia, ou qualquer outro grupo social. No caso das tiras abaixo predomina a referência ao campo, mais especificamente ao Rio Grande do Sul. Figura 2: Cancha Reta Os dados analisados se referem a tiras e charges produzidas por Sávio Moura e publicadas no Jornal “A Notícia”, periódico que circula às quartas e sextas no Município de São Luiz Gonzaga, no período de 2011 / 2012, disponíveis no Blog do Sávio. FONTE: Savio Moura (2015). 119 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 porque as sociedades são divididas em grupos […]. O uso de determinada variedade serve para marcar a inclusão em um desses grupos, dá uma identidade para os seus membros”. (PLATÃO & FIORIN, 2006, p. 110). Figura 3: Gibi Chirú Velho & Virso No Brasil, hoje, bem como no Rio Grande do Sul, é irreal a equiparação da língua devido a muitos fatores como: social, histórico, geográfico e cultural. Portanto, necessitamos aceitar as mutabilidades e estudar o que as provoca para entendermos o processo evolutivo linguístico, pois a língua é um sistema vivo e pode ser modificada por seus falantes de acordo com a situação vivida e a adequação, via de regra, será regida pelo contexto e pelos seus falantes. A partir da análise das tiras de Sávio Moura foi possível perceber o poder das variantes linguísticas que marcam uma identidade. O uso de expressões que, a grosso modo, dificultaria a compreensão de leitores de outra região, pois expressões como “boca aberta”, “mariamole”8, são particularidades da fala de quem é nato dos pampas do Rio Grande do Sul. Todavia, quem não possui um bom conhecimento do contexto em que esta “tira” circula, terá uma certa dificuldade para interpretar o gênero textual. O conhecimento prévio do leitor é muito relevante para interpretação de “tiras”, de “charges” e de outros gêneros compactos. A leitura, apesar da individualidade do ato realizado, é um ato social, pois existe um processo de comunicação e de interação entre o leitor e o autor do texto, ambos com objetivos estabelecidos anteriormente dentro do contexto de cada um. FONTE: Savio Moura (2015). A fala possui algumas peculiaridades que não são encontradas na escrita e são referentes à funcionalidade e outros fatores que a escrita usa do outro modo para se fazer entender. Assim, a linguística atual revela que uma língua não é homogênea e deve ser entendida justamente pelo que caracteriza o homem – a diversidade, a possibilidade de mudanças. É preciso, portanto, compreender que tais mudanças, como se pensava no início, não se encerram somente no tempo, mas também se manifestam no espaço, nas camadas sociais e nas representações estilísticas. Se eu sou de um local ou de uma etnia que fala um dialeto (ou socioleto ou etnoleto)7 característico, próprio do grupo, e vou para a escola em que a variedade padrão é ensinada, não é só por causa dos valores pregados pela escola que eu vou me identificar com essa nova variedade a ponto de querer aprendê-la. Posso ter motivos mais fortes para não perder as ligações afetivas e culturais que me sustentam no meu grupo de origem. E isso, via de regra, está intrinsicamente ligado à minha identidade. A língua está inserida em práticas sociais, e a sociedade não é uniforme. Além das regiões, diferem as pessoas, as situações, as intenções comunicativas, as experiências sociais, etc. Por essa visão, percebemos que as pessoas não são vítimas da sua origem – porque não conseguem se livrar dela – e nem são vítimas de um sistema que tem o poder absoluto de mudá-las. Contexto este, que se torna um fator essencial, tanto na escrita, quanto na leitura. Principalmente nas tiras, que muitas vezes utilizam recursos linguísticos singulares, como a Pantomina9. Assim, é interessante que no processo interativo da leitura, haja a manifestação dos conhecimentos preliminares. No entanto, se o ledor não conhecer o mínimo acerca dos arranjos linguísticos que compõem um texto, provavelmente não conseguirá fazer ilações relevantes entre o texto e sua “cultura”. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho realizado teve como objetivo analisar como as variedades étnico-culturais e regionais podem modificar, influenciar e particularizar a fala e a escrita de um grupo, a partir da análise de charges produzidas por Savio Moreira. Nesse sentido, constatamos que o fenômeno “variação linguística” está presente a todo o momento da formação e da estruturação de nossa língua, pois, ao retornarmos à língua-mãe, o latim, percebemos Ou seja, os falantes podem usar as diversas variações nos seus repertórios verbais para marcar identidades diferentes em situações diferentes, como também para estabelecer a natureza das suas interações com outras pessoas. “As línguas têm formas variáveis 7 Socioleto - Conjunto de traços linguísticos que caracterizam e identificam um grupo ou um estrato social. A formação de socioletos decorre de fatores sociolinguísticos, como a idade, o sexo, o estatuto socioeconômico de um grupo, o nível de instrução que alcançou e a proveniência étnica. Etnoleto é uma variação de uma linguagem falada por uma certa etnia/subgrupo cultural e serve como uma marca diferenciadora de identidade social. O termo combina os conceitos de um grupo étnico e de um dialeto. 8 Senecio brasiliensis Lees. Maria-mole, berneira, flor-das-almas, vassoura-mole. Família: Asteraceae (compositae).Característicasgerais:Planta perene, herbácea, ereta, de 80-160 cm de altura. Folhas com a face inferior branco e pequenas pétalas na cor amarelo – pubescente e a superior glabra, de 10-25 cm de comprimento. Reprodução por sementes. Muito comum nos campos da fronteira e campanha/RS. 9 É a arte de contar histórias (algumas situações do cotidiano) utilizando apenas gestos, sem nenhuma palavra. Nas tiras do “É dura a vida no campo” a pantomina é pouco utilizada, mas podemos observar algumas situações, o que torna a interpretação ainda mais complexa, para quem não conhece o contexto. 120 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Augmentative and Alternative Communication: management of severe communication disorders in children and adults. 2.ed. Pensylvania: Paul H. BrookesPublicationCo que desde então, até os dias atuais, tivemos mudanças renovadoras da língua. Além disso, percebemos o quanto a língua sofre influências não apenas linguísticas, mas especialmente de fatores socioculturais, geográficos e etnográficos. CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da Língua Portuguesa. 12. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1992. As tiras e charges analisadas demonstram o quanto as variedades étnico-culturais e regionais particularizam a fala e a escrita de um grupo. O que por um lado permite a identificação de uma variedade linguística, reforçando a importância da análise do contexto para a construção de sentidos durante a leitura, por outro lado, traz à tona o preconceito linguístico que tem sido um importante aspecto da exclusão social, mas que não se justifica, de acordo com Bagno, uma vez que: FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. 5 ed. São Paulo: Ática, 2006. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores associados. Cortez, 1983. INFANTE. Ulisses. Curso de Gramática Aplicada Aos Textos. Ed. Scipione. 1995. não existe nenhuma justificativa ética, política, pedagógica ou científica para continuar condenando como 'erros' os usos linguísticos que estão firmados no português brasileiro há muito tempo, inclusive na fala e na escrita dos cidadãos privilegiados. É preciso reconhecer essas formas novas e permitir o seu convívio tranquilo com as formas consagradas pela gramática normativa (2007, p. 161) LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991. MAC-KAY, A.P.M.G. Atividade verbal: processo de diferença e integração entre fala e escrita. São Paulo, Plexus, 2000, p.13-19. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividade de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001. Obviamente, do ponto de vista da sociolinguística, não existe um estágio melhor ou pior de uma língua, desde que ela esteja sendo usada com veemência por uma comunidade de utentes, servindo todas as suas conveniências comunicativas e eloquentes. Para o linguista, o único estado ruim para uma língua é quando ela começa a perder falantes nativos e entra em processo de oclusão. MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de Linguística, 1ª ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2009. MONTEIRO, José Lemos. Para Compreender Labov. Petrópolis - RJ: Vozes, 2000. PRETI, Dino. Sociolinguística: Os Níveis da Fala. São Paulo: Cia Editora Nacional. 1987. Nesse sentido, Freire (1983) ressalta que “o ato de ler não se esgota na decodificação da palavra escrita pura, ele se antecipa e se alonga na inteligência do mundo” (FREIRE, 1983, p.11). Podemos dizer, então, que o que está escrito em um texto e/ou gênero textual (tira), é o marco inicial para construirmos diálogos e reconstruir significados sociais e pessoais, pois o texto e o contexto devem interagir para que ocorra a produção de sentidos. SAVIO MOURA. Cancha Reta. Disponível em: http://www.saviomoura.com.br/index.php?origem=blog. Acesso em: 18 de maio de 2015. ______. Gibi Chirú Velho & Virso. Disponível em: http://www.saviomoura.com.br/index.php?origem=blog. Acesso em 18 de maio de 2015 REFERÊNCIAS BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália. Novela Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 1997. SILVEIRA, Eliane Mara. A Fala: um ‘conceito incompleto’ em Saussure. In: SEMINÁRIO DO GEL, 56., 2008, Programação... São José do Rio Preto (SP): G E L , 2 0 0 8 . D i s p o n í v e l e m : <http://www.gel.org.br/?resumo=5031-08>. Acesso em: 09 set. 2014. ______. Preconceito Linguístico: O que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999. TARALLO, Fernando. A pesquisa Sociolinguística. 4.ed. São Paulo: Ática, 1994. ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. A linguagem regional popular na obra de José Lins do Rego. João Pessoa: FUNESC, 1990. ______. Português ou Brasileiro? Um convite à Pesquisa. São Paulo: Parábola, 2001. ______Língua Materna: Letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002. ______Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: editorial, 2007. BEUKELMAN, D. R. & MIRENDA, P. (1998). 121 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 MULHERES EM MOVIMENTO: UM ESTUDO SOBRE A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA MULHER TRABALHADORA RURAL BRASILEIRA¹ Rita de Cássia Maciazeki Gomes² Lissandra Baggio³ 4 Lilian Ester Winter 5 Tania Tornquiste 6 SETREM RESUMO Este artigo objetivou mapear a participação das mulheres trabalhadoras rurais nos movimentos sociais do campo, com ênfase no estado do Rio Grande do Sul. Para tanto, realizou-se uma revisão da literatura com pesquisas no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde com os seguintes descritores: movimento social, rural, mulher e gênero. Também, foram considerados estudos oriundos da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. Os estudos destacaram o surgimento do Movimento de Trabalhadoras Rurais atrelado às lutas pela terra e melhores condições de trabalho em meados dos anos 80. A pauta de gênero emergiu junto ao movimento sindical rural, alicerçado a comunidades eclesiais de base religiosa ou laica. Entre as primeiras reivindicações estavam as lutas pelos direitos sociais e previdênciários. Mais tarde, as bandeiras associadas às questões de gênero, relações hierárquicas, divisão sexual do trabalho e a não constituição da mulher enquanto trabalhadora rural foram incorporadas pelo movimento. Mais de trinta anos depois de seu surgimento, o Movimento de Trabalhadoras Rurais continua sua caminhada, agregou-se a outros movimentos do campo e segue sua trajetória de lutas pelos direitos das mulheres. Para estudos futuros, recomenda-se o avanço de pesquisas que estabeleçam conexões entre o conhecimento produzido acerca do rural, em especial da mulher do campo em sua dimensão política, através de uma abordagem da subjetividade, avançando em um campo interdisciplinar, complementar àqueles já estudados. E ainda, a implementação de estudos que compreendam e auxiliem no protagonismo das mulheres na luta social desenvolvida no meio rural brasileiro. RESUMEN Este artículo tuvo como objetivo trazar la participación de las trabajadoras rurales en los movimientos sociales rurales, haciendo hincapié en el estado de Rio Grande do Sul. Por lo tanto, llevó a cabo una revisión de la literatura sobre la investigación en el sitio web de la Biblioteca Virtual en Salud con las siguientes palabras clave: movimiento social, rural, mujer y género. Asimismo, consideraron que viene estudios de la Biblioteca Digital de Tesis y Disertaciones. Estudios destaram la aparición de lo Movimiento de las Trabajadores Rurales vinculado a las luchas por la tierra y mejores condiciones de trabajo en los años 80. La agenda de género surgió con el movimiento de mano de obra rural, fundó las comunidades cristianas de base religiosa o secular. Entre las primeras demandas eran luchas por los derechos sociales y de pensión. Cuestiones más tarde, las Banderas asociados de género, las relaciones jerárquicas, la división sexual del trabajo y el hecho de no establecer la mujer como trabajador rural se han incorporado por el movimiento. Más de treinta años después de su creación, el Movimiento de los Trabajadores Rurales continúa su caminar, se ha añadido a otros movimientos en el campo y sigue su camino de la lucha por los derechos de las mujeres. Para estudios futuros, se recomienda el avance de la investigación para establecer conexiones entre el conocimiento producido sobre el país, sobre todo el campo de la mujer en su dimensión política, a través de un enfoque de la subjetividad, avanzando un campo interdisciplinario, complementario a los ya estudiados. Y, sin embargo, la realización de estudios para comprender y ayudar en el papel de la mujer en la lucha social desarrollado en el Brasil rural. Palavras-chave: Movimento Social. Espaço Rural. Gênero. Palabras clave: Género. Medio Rural. Movimiento Social. nossa história social, política, econômica, cultural e, portanto, marca como nossas subjetividades têm sido produzidas” (IENO, 2013, P.17). 1. INTRODUÇÃO Na história do Brasil, a questão da terra sempre foi motivo de disputas, produzindo opiniões e posicionamentos da população (MARTINS, ROCHA, AUGUSTO & LEE, 2010; ALBUQUERQUE, 2002). O espaço rural, além de configurar um lugar pacato e tranquilo de se viver, também é palco de embates e de lutas. Deste modo, “a questão da terra, também no Brasil, marca direta ou indiretamente Um breve panorama sobre o meio rural brasileiro aponta, basicamente, o predomínio da produção agrícola e o sistema de trabalho atrelado a dois modelos: a pequena propriedade familiar, voltada para a produção de alimentos e o assalariamento em grandes propriedades ¹ Projeto de pesquisa Cidade e Utopia: narrativas da vida no campo, desenvolvido com apoio do Programa de Incentivo a Pesquisa SETREM (PIPS) da Faculdade Três de Maio, RS, no ano de 2012. ² Psicóloga, Mestre em Psicologia Social e Intitucional, Doutoranda em Psicologia Universidade do Porto, Bolsista CNPq. ([email protected]) ³ Psicóloga, Mestre em Saúde Coletiva, Professora do curso de Psicologia da Setrem. ([email protected]) 4 Psicóloga, Mestre em Desenvolvimento, Professora do curso de psicologia da Setrem. ([email protected]) 5 Graduanda do curso de Psicolgia da Setrem ([email protected]) 6 Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM 122 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 monocultoras, com a produção voltada para a exportação. Configuração esta que, mesmo com esta dupla função na qual a agricultura familiar está integrada ao mercado interno e a grande produção está integrada aos mais modernos sistemas do capitalismo global - o espaço rural, ainda, nos dias atuais carrega um conjunto de adjetivos que o identificam como um local antiquado, fora de uso e desatualizado. Ao ocupar um lugar marginalizado no imaginário social, por muitos passa a ser visto como sinônimo de homogêneo e simplista. Caraterísticas estas que contribuem para que seja pouco priorizado nos estudos que investigam questões associadas aos modos de vida instaurados neste espaço. movimentos sociais do campo, com ênfase no estado do Rio Grande do Sul. 2. MÉTODO Trata-se de um estudo teórico com ênfase no mapeamento da literatura cujo foco do delineamento voltou-se para historização do processo de participação política das mulheres trabalhadoras rurais nos movimentos sociais do campo, com ênfase no estado do Rio Grande do Sul. Para tanto, utilizou-se de pesquisa no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde – Psicologia Brasil (BVS-Psi) com os seguintes descritores: “movimento social”, “rural”, “mulheres” e “gênero”. Também, foram considerados estudos oriundos de teses e dissertações acessados pela Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (IDTD). A trajetória histórica do movimento de mulheres trabalhadoras rural no Brasil e no RS guiou o norte das discussões propostas no estudo. Assim, toma-se o rural brasileiro como um espaço de diversidade, em que se encontram desde crianças até velhos, desde trabalhadores eventuais até grandes empresários e fazendeiros, homens e mulheres de várias etnias. Sujeitos em interações e relações nem sempre equânimes em que se desenvolvem modos de existência, aprendizagens, lutas e perdas pela terra e pela sobrevivência, espaço em constante transformação (MARTINS, ROCHA, AUGUSTO & LEE, 2010). Compreendem-se os modos de vida, no meio rural, permeados por simbolismos e significados, que ultrapassam os limites territoriais em que se colocam em questão crenças, normas de conduta e expectativas de cada indivíduo que se tramam exigindo mudanças de comportamento, e através das experiências vividas, das exigências múltiplas e conflitantes que vão constituindo a identidade do sujeito que vive no meio rural (PAULILO; SILVA, 2007). Distante de outro modo, do espaço rural como sinônimo do bucólico e edílico, outra faceta, presente no imaginário social. 2.1 A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO DE MULHERES TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL A produção da literatura sobre o processo organizativo das mulheres trabalhadoras rurais no Brasil se mostra fragmentada e, por vezes, dificultada pela escassa sistematização acadêmica. Fato esse que, de antemão, aponta para a necessidade da produção de estudos que forneçam visibilidade a partir do registro da trajetória da mulher junto às diferentes realidades brasileiras: do campo, da floresta, do sertão e das águas. Ao escolher trabalhar com as produções acadêmicas publicizadas, reconhece-se que este estudo não abrange a totalidade das discussões e produções das diferentes regiões do país. Apresenta, assim, uma discussão e análise a partir dos artigos e dissertações que se referem às experiências de Pernambuco, Ceará, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A mulher, por sua vez, ao longo do tempo esteve associada a discursos, teorias, visões relacionadas à sua capacidade de reprodução (NOGUEIRA, 2001). A produção escrita tradicional, ainda hoje associa a mulher a elementos essencialistas atrelados às coisas da casa, da maternidade, dos filhos e da família, circunscrevendo-a, assim, predominantemente na instância privada do lar. Além disso, no que se refere aos contextos rurais, os estudos apontam que as mulheres agricultoras, ao mesmo tempo em que têm grande participação na produção agrícola, principalmente de alimentos, nas estatísticas oficiais seu trabalho e dedicação se mantêm tendo pouca visibilidade (BRUMMER E PAULILO, 2004). Segundo Paulilo e Silva (2007), na trajetória das mulheres rurais está ligada ao trabalho com a terra, inicialmente, invisibilidade e falta de remuneração. As mulheres com as questões da propriedade se envolviam no cuidado com a horta e com os pequenos animais, no beneficiamento de alimentos e de artesanatos, sendo responsabilizadas prioritariamente com o cuidado da família e os afazeres domésticos, atividades naturalmente associadas ao enredo da vida familiar. Ainda, segundo as autoras, apesar do trabalho da mulher na terra ser diário, a invisibilidade do seu fazer contribui para a pouca participação na gestão econômica da família, baixa autoestima, pouco conhecimento, dependência, opressão e discriminação. Por entender que o meio rural agrega especificidades próprias a um modo de vida, no qual está incluída a participação política, voltamo-nos, neste estudo, para uma breve análise das pesquisas em diferentes campos de estudo, sobre as mulheres trabalhadoras rurais que participam dos movimentos sociais do campo. Sendo o rural um espaço permeado por uma cultura patriarcal, de dominação masculina, o homem aparece, por um lado, como companheiro ao estar presente nas reivindicações das bandeiras de lutas, mas também como o opressor ao ocupar um lugar delegado pela sociedade capitalista que hierarquiza as posições de “ser homem e de ser mulher” atreladas por relações de forças e poder. Nesse sentido, é significativo o papel político que a mulher trabalhadora rural teve ao longo da história e ainda tem nas lutas sociais. Lutas essas em prol da melhoria das condições de vida das mulheres e dos homens trabalhadores do campo. Ao longo dos anos, a superação da invisibilidade A dimensão política da vida no campo aqui é caracterizada pelas lutas e mobilizações sociais intrínsecas a esse espaço de contradições econômicas, sociais, culturais e de gênero. Contradições estas que se processam de complexo, em suas significações e precisam ser compreendidas à luz das configurações que lhe são próprias, nas especificidades locais em que se produzem. Tendo em vista esta contextualização apresentada, este artigo objetivou mapear a participação política das mulheres trabalhadoras rurais nos 123 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 das mulheres rurais e de seu reconhecimento como sujeito político tem sido verificado em organizações sociais mistas, como os sindicatos, as associações e cooperativas, pela instituição de espaços específicos como as secretarias, coordenações e grupos de mulheres. Constata-se que na última década, um conjunto de políticas públicas direcionado às mulheres rurais foi elaborado possibilitando a sua inclusão como beneficiárias diretas, promovendo sua autonomia econômica, através do acesso à documentação, políticas de apoio à produção e à comercialização, além dos direitos igualitários à titularidade da terra (MOURÃO, 2011). A inserção das mulheres em movimentos sociais do campo possibilitou espaços de reflexão e de discussões sobre as ações e modos de vida naturalizados no cotidiano, bem como possibilidade de repensar posições discursivas associadas à opressão e à violência dentro do contexto familiar e comunitário (PAULILO E SILVA, 2007). trabalhadoras rurais. Já na década de noventa, destaca as discussões voltadas para as desigualdades de gênero nas mais diversas esferas sociais. E o lançamento, em 1990, pela igreja católica da Campanha da Fraternidade com o tema “Deus quer homem e mulher como companheiros, iguais nos direitos porque os dois são imagem e semelhança d'Ele” que incentivou o debate sobre as condições de vida da mulher, tanto na cidade, como no campo. O movimento de mulheres rurais no nordeste, para Sales (2007), constitui-se na multiplicidade de ideias expressas nos grupos organizados; entre eles, o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), os Coletivos Estaduais de Mulheres das Federações de Trabalhadores Rurais dos Estados, a Rede de Mulheres Trabalhadoras do Nordeste, o Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco e o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MTR), sendo que no Ceará, o movimento de trabalhadoras rurais teve forte ligação com o MST e na FETRAECE. Assim, os grupos de produção de mulheres rurais no Ceará, em geral, são antecedidos por uma formação política. Para a autora, à medida em que as mulheres começam a se organizar em comissões, em coletivos, elas percebiam que, embora não tivessem renda, desenvolviam atividades produtivas semelhantes às dos homens. A década de 80 marcou a efervescência dos movimentos sociais de mulheres trabalhadoras rurais. No contexto brasileiro, têm-se notícias de diferentes partes do país de organizações de mulheres que se reuniram para reivindicar seus direitos. Reivindicações estas, que passaram a ser compartilhadas pelo movimento de mulheres, movimentos populares e Movimento Sindical Rural. Sendo uma das maiores conquistas alcançadas, a inclusão na Constituição de 1988 para as trabalhadoras rurais o direito ao título da terra independente do estado civil, a extensão dos direitos trabalhistas dos segmentos urbanos para as trabalhadoras do campo e o direito à Previdência (CARDONA e CORDEIRO, 2010). A participação em movimentos contribuiu para que as mulheres pudessem romper com divisão de papéis, os lugares predeterminados na família, no trabalho, ao ocupar espaço no campo político. Sendo que, ao “experimentar uma atividade produtiva rentável, as mulheres não são as mesmas, já não se sentem tão prisioneiras, estão mais abertas às multiplicidades do mundo, sonham com liberdade e, assim, contagiam outras mulheres, afetando e sendo afetadas por esses desejos” (SALES, 2007, p. 442).A p a r t i c i p a ç ã o d a s mulheres em movimentos produz tensionamentos nos modos cristalizados no cotidiano da vida privada e pública da comunidade. No que se refere ao contexto nordestino, Cardona e Cordeiro (2010) no texto “A previdência rural e a constituição de modos de ser mulher trabalhadora rural no Sertão de Pernambuco” apresentam a luta histórica da mulher para a conquista da categoria de trabalhadora rural. As autoras, ao realizarem uma cartografia das linhas que constituíram o dispositivo “mulher trabalhadora rural” a partir da década de 80, salientam os seguintes pontos elementares: (1) o “surgimento” do trabalho feminino na agricultura familiar aliado às lutas femininas contra desigualdades de gênero e pela ampliação dos direitos sociais para mulheres; (2) a criação de espaços e de articulações sociais para discussão sobre a vida das mulheres que vivem e trabalham na área rural, como Movimento Sindical Rural, as agências de cooperação internacional e ONGs feministas; (3) a constituição da mulher agricultora como mulher trabalhadora rural; (4) produção de textos, documentos, imagens da nomeação mulher trabalhadora rural para além das fronteiras regionais; (5) a implementação de políticas públicas, serviços e legislação voltadas para as trabalhadoras rurais. Conforme as autoras, o conjunto desses pontos encadearam forças que possibilitaram o reconhecimento na Constituição Brasileira da mulher como trabalhadora rural. No sudeste, de acordo com Prado, Campici e Pimenta (2004) no artigo “Identidade coletiva e política na trajetória de organização das trabalhadoras rurais de Minas Gerais: para uma psicologia política das ações coletivas” o movimento de mulheres esteve associado a uma matriz religiosa. Para os autores, a experiência político-organizativa das mulheres do campo não começou no domínio político-trabalhista da prática sindical, mas sim em pequenos grupos, de matriz religiosa ou laica. Espaços de encontros, nos quais as mulheres começaram a refletir e questionar valores femininos socialmente naturalizados, e debater sobre sua condição de cidadãs excluídas e oprimidas. Segundo o mapeamento realizado pelos autores, percebe-se que na década de 50 emergiram as organizações trabalhadoras do campo que deram origem ao Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais. Movimento que agregava uma diversidade unida na luta contra a exploração da classe trabalhadora, tendo como pauta a regularização fundiária, a defesa de melhores salários, direitos trabalhistas e previdenciários. Ainda, no que se refere ao nordeste, Sales (2007), no artigo “Mulheres rurais: tecendo novas relações e reconhecendo direitos” aponta a presença importante dos eventos e lutas no contexto cearense. Entre os acontecimentos marcantes nesta trajetória, destaca: (1) a criação da década da mulher entre 1975 a 1985; (2) a instalação do Ano Internacional da Mulher em 1975; (3) em 1985, realização de doze encontros de mulheres trabalhadoras rurais em diversas regiões do país; (4) em 1986, em Brasília, o primeiro encontro nacional de As mulheres trabalhadoras rurais, historicamente excluídas do espaço sindical, aparecem como figuras centrais nesse 124 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 processo pelo seu protagonismo nas questões e demandas, sobretudo aquelas vinculadas às relações de gênero e participação da juventude e, especialmente, por sua capacidade articulatória e de mobilização no âmbito do movimento e dos contextos políticos mais gerais (PRADO, CAMPICI e PIMENTA, 2004, p. 302). Segundo as autoras, em Santa Catarina o movimento de mulheres rurais desde seu início contou com influências das CEBs. Ao seguir o mapeamento realizado no artigo constata-se que, nas décadas de 1980 e 1990, as lutas empreendidas pelo MMA/SC articulavam em torno de gênero e classe pela conquista de direitos trabalhistas e previdenciários. Quanto à cronologia em relação às conquistas do movimento de mulheres as autoras elencam: (a) 1991 a conquista da aposentadoria aos 55 anos para a mulher, e aos 60 para o homem; (b) em 1992 os benefícios por acidente de trabalho; (c) em 1994 o acesso ao salário-maternidade destinado à trabalhadora rural, (d) 1997 realização da campanha “Nenhuma Trabalhadora Rural sem Documentos”, promovida pela Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais (ANMTR); (e) em 2003, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), foi implantado o Programa Nacional de Documentação, que remonta a campanha de 1997. Em relação à trajetória das mulheres trabalhadoras rurais, em Minas Gerais, os autores ainda ressaltam: (1) o início da organização em nível nacional das mulheres trabalhadoras rurais em 1985, por ocasião do 4° Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais; (2) o início da articulação do movimento e das lutas sindicais oficializada a partir de 1989, associado ao 1° Encontro Estadual das Mulheres Trabalhadoras Rurais, que marca o delineamento de questões da mulher trabalhadora rural na família, no trabalho e no movimento sindical; (3) 5º. Congresso Nacional de Trabalhadoras Rurais, em 1994 a primeira mulher é eleita como diretora efetiva da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). De modo geral, a participação em Congressos Estaduais e Nacionais serviu como âncoras de mobilização, ampliação e conquistas da pauta das mulheres enquanto trabalhadora rural. Para as autoras, o Movimento de Mulheres Camponesas reforça lutas de classe e de gênero que estavam em curso; insere-se, também, em contextos de lutas na direção a um processo e se faz na direção da unificação e do fortalecimento de lutas históricas. Em âmbito nacional, a pauta se volta para a defesa da consolidação do MMC, a partir da ótica feminista e camponesa fortalecendo, assim, a luta dos trabalhadores e trabalhadoras. A identidade política configura-se, assim, como aquele elemento que, ao mesmo tempo, é possibilitado e constituído no interior do processo mobilizatório e revela-se como elemento mediador da consistência interventiva dos grupos envolvidos na luta e, nessa medida, promove transformações subjetivas e objetivas tanto em indivíduos particulares como nas diversas esferas (espaço, lógica e prática) da vida cotidiana; realiza, pois, a potência emancipatória das formas de ação coletiva em diferentes espaços da cotidianidade. (PRADO, CAMPICI e PIMENTA, 2004, p. 314). Nas diferentes regiões do país pode-se associar o surgimento do Movimento das Trabalhadoras Rurais às lutas das mulheres em prol dos direitos sociais e previdenciários. Bem como as bandeiras de visibilidade do trabalho da mulher e de sua atuação na esfera pública para além do espaço restrito do ambiente familiar. Remete ainda ao repensar das próprias mulheres sobre si mesmas e de seu lugar no mundo. A participação política é tomada, assim, como um agente de mudança da condição pessoal e das relações comunitárias. A participação do movimento social contribuiu para o repensar sobre os modos de ser mulher. A seguir, o estudo remete ao delineamento do movimento de mulheres rurais do Estado do Rio Grande do Sul. 2.2 A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO DE MULHERES TRABALHADORAS RURAIS NO RS Na região sul do Brasil, no artigo “Mulheres agricultoras e mulheres camponesas: lutas de gênero, identidades políticas e subjetividades”, Salvanaro, Lago e Wolf (2013) analisam o movimento de mulheres trabalhadoras rurais em Santa Catarina. Segundo as autoras, no início da década de 80 foi criado o Movimento de Mulheres Agricultoras de Santa Catarina (MMA/SC). Anos depois, em 2004, associado a outros movimentos rurais autônomos de mulheres do Brasil, consolidou-se num movimento autônomo e nacional, o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC). No estado do Rio Grande do Sul, o movimento de mulheres trabalhadoras rurais em sintonia com o que aconteceu no restante do Brasil tomou força no início da década de 80. Momento em que as mulheres que viviam no campo se uniram e começaram a se mobilizar em prol de seus direitos sociais e previdenciários. Segundo Falkembach (2007), no texto “MST, escola de vida em movimento”, o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) teve importante papel na emergência do processo de politização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. O movimento é tomado, pela autora, como uma escola da vida, que, a partir de uma política formativa, propiciou um repensar no modo de ser de homens e de mulheres excluídos dos processos capitalistas de produção e acúmulo de riqueza. A fase inicial do movimento foi marcada pela organização de agricultores/as em torno da conquista da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Chapecó e, no dia 1º de maio de 1983, no distrito de Itaberaba, 28 mulheres, juntamente com religiosos e agentes de pastoral, definiram os rumos iniciais do movimento. Naquele contexto, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e as Comunidades Eclesiais de Base(CEBs) se constituíram como espaços para a reflexão/organização das mulheres agricultoras (SALVANARO, LAGO; WOLF, 2013, p.80). Daron (2003) em sua dissertação “Educação, cultura popular e saúde: experiências de mulheres trabalhadoras rurais” destaca o protagonismo das mulheres rurais do Rio grande do Sul na construção da 125 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 mobilização nacional das mulheres, no período. Segundo a autora, no sul do país, formavam-se caravanas de mulheres da região, que mesmo em condições precárias e com poucos recursos, reuniam-se a mulheres de outras regiões, em marcha em direção a Brasília, para fazerem ouvir suas vozes e suas pautas de luta. Reivindicações estas, que passaram a ser compartilhadas pelo movimento de mulheres, movimentos populares e Movimento Sindical Rural. pela emancipação, com base na troca de informações, no convívio entre vários grupos de mulheres rurais. Entre os eventos marcantes da época, Darón (2003), recordará: a 1ª Assembleia Estadual do MMTR realizada em 10, 11 e 12 de agosto de 1989 em Passo Fundo/RS, com o lema: “Mulher que luta organizada gera a nova sociedade”, em que foi criado o movimento de Organização das Mulheres da Roça passa a ser Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do RS (MMTR/RS). No que se refere às pautas, a “previdência e saúde foram definidas como lutas prioritárias, desdobradas nas bandeiras de luta por reconhecimento da profissão de trabalhadora rural, aposentadoria aos 55 anos para as mulheres e aos 60 para os homens da roça, saláriomaternidade e saúde pública”. (DARON, 2003, p. 67) As várias organizações populares, como as oposições sindicais, que davam passos importantes na conquista de novos sindicatos, o Movimento Sem Terra, a Comissão Pastoral da Terra, as pastorais sociais, especialmente a Pastoral da Juventude Rural e a Pastoral Rural, o Movimento dos Atingidos por Barragens, na época chamado Comissão Regional dos Atingidos por Barragens (Crab), já tinham mulheres militantes e, ao mesmo tempo, foram abrindo novos canais de participação para elas do meio rural (DARON, 2003, p. 63). O movimento da igreja associando a teologia à libertação também contribuiu para a organização e fortalecimento do movimento de mulheres. Para Schaaf, as religiosas davam “consolo e esperança àquelas que, na vida cotidiana, enfrentavam grande desigualdade e fornecia-lhes argumentos da Bíblia para que se levantassem contra a opressão e alcançassem a “libertação” (SCHAAF, 2013, p. 415). Dessa forma, de um lado, as religiosas passaram a incentivar a participação das mulheres rurais nos movimentos sindicalistas e as feministas reivindicavam vez e voz nas articulações e decisões políticas. As religiosas desenvolveram junto às agricultoras uma religião igualitária que serviria de alternativa à vivência religiosa hierárquica liderada pelos homens, inspiradas na Teologia de Libertação. Para Brumer (2002) em “Previdência social rural e gênero” o movimento de mulheres, já na década de 70, tinha como bandeiras de lutas o movimento nacional pela democracia e os direitos das mulheres em nível nacional propulsores para as mobilizações das trabalhadoras rurais. Nesta perspectiva, Schaaf (2003), em “Jeito de mulher rural: a busca de direitos sociais e da igualdade de gênero no Rio Grande do Sul” considera a Igreja Católica e os movimentos feministas como elementos cruciais no processo de formação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais–RS (MMTR-RS), sendo que foi através destes movimentos que as trabalhadoras rurais passaram a ter representatividade e visibilidade política. Assim, conforme Schaff (2013), o movimento teve maior possibilidade de desenvolvimento e crescimento nos municípios em que havia uma maior liberdade de atuação das religiosas bem como o apoio da Igreja. Conte (2008), em “Um diálogo sobre as mulheres a partir de Freire”, em relação à década de 70, pondera que mesmo muitas mulheres já tendo participado de atividades que saíam do âmbito privado e tomavam a dimensão pública, o fato de ocuparem postos de trabalho, questionarem poderes, direitos e empoderamento constituía-se em algo bem mais complexo para a época. Fato este que não foi aceito tranquilamente, por mais progressistas que se diziam alguns partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais mistos, sendo apoiado ao fortalecimento dos movimentos feministas que os avanços em relação aos direitos foram possíveis. Assim, o questionamento do lugar historicamente instituído à mulher foi se dando aos poucos em meio a um campo de disputas. Quando, entre 1984 e 1987, o sindicato trocou o discurso religioso por um discurso socialista, desapareceu a base ideológica da organização em torno de assuntos femininos. Nessa época, foi fundada a Central Única de Trabalhadores no Estado - CUT-RS, e se procurou uma base de apoio no campo. As lideranças do sindicato identificavam-se com o Partido dos Trabalhadores (PT), e o espaço sindical formava parte da campanha em vários municípios. A ligação do sindicato de cunho combativo ao PT levou a um distanciamento com a Igreja e foi recebida pelos colonos com certa suspeita. (SCHAAF, 2013, p. 415) Na década de 80, o movimento de mulheres trabalhadoras rurais uniu forças “com o objetivo primeiro de obtenção de direitos referentes à previdência social, tais como aposentadoria e salário-maternidade, mas, à medida que o movimento avançava, esses direitos se subordinavam ao reconhecimento de sua condição profissional de trabalhadoras rurais” (Brumer, 2002). No que tange à organização do movimento, Darón (2003) irá recordar que foi fundado por três grupos regionais de Mulheres da Roça. O MMTR-RS se tornou um movimento estadual e autônomo de agricultoras em 1989, embora já existissem desde 1986. O MMMT- RS tinha como principal objetivo a emancipação das mulheres rurais, através da igualdade social e política na vida destas trabalhadoras rurais no convívio com outras mulheres, ou seja, busca Mesmo com a renovação dos sindicatos, as agricultoras não tinham liberdade de participação formal e os assuntos femininos dificilmente eram incluídos na agenda dos sindicatos. A resistência masculina, em contraste com o intenso envolvimento feminino, fez com que essas trabalhadoras percebessem ainda mais a desigualdade de gênero e reivindicassem sua autonomia, não sendo mais subordinadas a qualquer entidade rural, nem mesmo à Igreja. O embate de forças na constituição e sustentação do movimento de mulheres trabalhadoras rurais atravessou os anos e ainda se apresenta como uma questão elementar para o movimento. Tedeschi (2007) no estudo “Do silêncio a palavra: 126 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 identidades e representações sociais de mulheres camponesas no Noroeste do RS” afirma que as relações de poder existentes e combatidas pelas agricultoras acabam sendo perpetuadas por elas mesmas. Assim, muitas vezes, as agricultoras que não exerceram liderança no MMTR, não identificavam em seu discurso a discriminação de gênero, a subordinação ao masculino e nem ao movimento. Em seu estudo, os relatos das mulheres apontaram para uma postura de aceitação e consentimento da realidade vivida no campo. Ainda, segundo o autor, as trabalhadoras não mencionaram os novos desafios ou a necessidade de ir além dos benefícios sociais, ou até mesmo de ir em busca do “empoderamento”, sem se aperceberem das relações de gênero que atravessam a luta pela conquista de direitos. situação de vida no meio rural na época e à cultura histórica patriarcal instituída no Brasil rural desde o período da colonização” (DARON, 2003, p. 64). Daron (2003), ainda relata que entre as importantes conquistas do MMTR-RS estão: a) Programa de Documentação e Valorização da Mulher Trabalhadora Rural, cujo objetivo era promover o reconhecimento da profissão e a viabilização dos seus documentos; b) implantação do bloco da família produtora rural, no qual entram o nome da mulher, do homem e dos filhos; c) Plantando Saúde, projeto que visa à consolidação do trabalho realizado pelos grupos de mulheres do MMTR/RS na área de plantas medicinais, alimentação saudável e agroecologia; d) Mova – Movimento de Alfabetização de Adultos, pelo qual milhares de trabalhadoras rurais foram alfabetizadas; e) Programa RS Rural, dirigido às mulheres trabalhadoras rurais, possibilitando o financiamento para exercerem sua capacidade empreendedora com autonomia e melhorar a renda da família; f) Programa estadual de reforma agrária, que possibilitou a posse da terra tanto para casais quanto para mulheres solteiras; g) Programa de Crédito Rural, que trabalha com financiamento a fundo perdido ou subsidiado para produção agrícola, aberto a mulheres e homens; g) Programa Rio Grande Ecológico, que destinava recursos para produção, industrialização e comercialização de produtos ecológicos; h) Programa Estadual de Agroindústria, com apoio à geração de renda e aproveitamento do potencial produtivo de agroindústrias familiares. com algumas mulheres líderes, o sindicalismo masculino ganhou força no campo, legitimando-se. A conquista de “pseudo-espaços de igualdade” na esfera pública acabou-se instalando pequenas elites de mulheres a serviço do sistema patriarcal, que assumem cada vez mais o discurso masculino, e por outro lado, as mulheres que não exercem mais a liderança ou que participaram do MMTR estão imbuídas de representações sociais que asseguram a persistência das tradicionais relações de gênero, poder e trabalho no campo (TEDESCHI, 2007, p.8). As reflexões apontadas por Tedeschi (2007) problematizam o lugar que as discussões de gênero ocupam dentro do movimento e apontam para a necessidade de visibilidade e enfrentamento desta questão pelas mulheres, bem como pelos homens. Para Mourão (2011), em “Organizações Produtivas de Mulheres Rurais” a sustentação e criação de grupos de mulheres ao longo dos anos pode estar vinculada à implementação de políticas públicas como o Pronaf (1996), ao Pronaf Mulher (2003); à retomada dos serviços de assistência técnica (ATER/ATES) e à criação da Política Setorial de Mulheres (2004); bem como as ações de compra dos produtos da agricultura familiar, como o PAA (2003) e a realização de feiras da agricultura familiar (2004). Entre os avanços nas políticas para agricultura familiar estão os indicativos para a adoção do enfoque de gênero e ampliação da participação das mulheres. Sendo que, “apesar de estas políticas terem impulsionado a organização de mulheres, o acesso destes grupos a elas ainda precisa ser ampliado e fortalecido (MOURÃO, 2011, p.9)” No que se refere à caracterização dos grupos de mulheres trabalhadoras rurais, Mourão (2011) dirá que os grupos de mulheres rurais, em geral, eram pequenos. Variavam entre 5 a 20 integrantes e na maioria, embora tenham intenção de formalização, optam pela não formalização e legalização devido a exigências burocráticas, alguns custos e devido ao fato de não possuírem sede própria. Assim, embora várias políticas públicas tenham sido implementadas em benefício às mulheres trabalhadoras rurais, considera-se a garantia dos direitos sociais (aposentadoria, saláriomaternidade e auxílio-doença) na Constituição de 1988, como a mudança de maior impacto relacionada à categoria das trabalhadoras a partir da fundação do movimento, ainda que tivessem entrado em vigor apenas no início da década de 90. O próprio movimento MMTRRS considera que essa inclusão na Constituição foi uma “recompensa” por seu esforço de vários anos. Por sua vez, os avanços e conquistas, ao longo dos anos, impressas pelo movimento são inegáveis. A força do movimento de mulheres rurais, conforme Brummer (2002), foi crescendo através da forte pressão junto aos parlamentares e com a garantia de direito ao saláriomaternidade apenas em 1993, tendo sido regulamentado no ano seguinte, embora já fosse um direito adquirido na Constituição de 1988 às trabalhadoras urbanas. Schaaf (2003), a partir dos relatos de mulheres trabalhadoras rurais, aponta que as mulheres reconhecem a importância da participação no movimento à medida que puderam refletir questões ligadas ao corpo e ao valor da mulher, informarem-se e repensar seu lugar ocupado de geração em geração, em que geralmente corpo e sexo eram atrelados ao pecado. A inserção e discussão desses assuntos no MMTR-RS provocou instabilidade às tradições consideradas dominantes no campo. Daron (2003) salienta, ainda, que nesse processo de discussões de problemas, as trabalhadoras rurais acabaram se deparando com duas lutas: a primeira seria referente à busca pelos seus direitos e melhores condições de vida no campo e a segunda luta seria por valorização enquanto mulheres que eram desvalorizadas, discriminadas muitas vezes até mesmo violentadas. Ou seja, lutas pelo direito de ser reconhecida como trabalhadora rural e não continuar sendo sombra do marido, já que na maioria das vezes nem documentos pessoais e profissionais elas tinham. “Essa condição de vida das mulheres agricultoras estava associada à Partindo dessas reflexões, é possível afirmar, com base nos estudos apresentados, que as discussões de gênero, em que pesem os avanços e conquistas ao 127 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 longo dos anos, ainda permanecem como um desafio. Um dos focos está na integração e criação de novas políticas para as mulheres que promovam arranjos de gestão participativa, que possibilitem o fortalecimento de seu papel no desenvolvimento territorial. Políticas públicas que também sejam apoiadas pelo Estado e possam estabelecer estratégias que promovam a afirmação da identidade da trabalhadora rural, bem como da socialização do trabalho doméstico e do cuidado, fortalecendo, assim, a organização produtiva com a perspectiva da autonomia tanto econômica quanto de soberania alimentar. intervenção que contribuam no processo do movimento político das mulheres trabalhadoras rurais. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Francisco José Batista de. 2002. Psicologia Social e Formas de Vida Rural no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 18(1), 037-042. BRUMER, Anita. 2002. Previdência social rural e gênero. Sociologias (UFRGS), Porto Alegre, v. 7, p. 5081. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS BRUMER, Anita, PAULILO, Maria Ignez. 2004. As agricultoras do Sul do Brasil. Dossiê Revista Estudos Feministas.12(1): 360,Florianópolis. Os estudos destacaram que o protagonismo das mulheres no meio rural se deu em grande parte através de dois movimentos. O engajamento à luta mais geral por direitos trabalhistas e previdenciários, que imprimiram condições mais dignas para se viver no campo e a luta, em pautas específicas relacionadas às mulheres, entre elas: (a) sindicalização das mulheres; (b) disputa da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais; (c) reconhecimento da profissão; (d) aposentadoria; (e) auxílio-acidente de trabalho; (f) auxílio-doença; (g) salário-maternidade. CONTE, Isaura Isabel. 2008. Um diálogo sobre as mulheres a partir de Freire. Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (UNIJUI) Revista Eletrônica de Ciências da Educação, Campo Largo, v. 7, n. 2, nov. CORDEIRO, Rosineide de L. M.; CARDONA, Milagros C. García. A Previdência Rural e a constituição de modos de ser mulher trabalhadora rural no Sertão de Pernambuco. In: SOUZA, Solange Jobim e; MORAIS, Maria (org.) 2010. Tecnologias e Modos de ser no Contemporâneo. Editora PUC RIO: 7 letras, Rio de Janeiro. Constata-se que os avanços na organização dos trabalhadores rurais, nas décadas de 70, 80 em diante, tiveram forte influência das organizações comunitárias, religiosas, sindicatos e movimentos, entre eles o Movimento dos Sem Terra (MST). Dentre as pautas mais gerais, nas quais as mulheres já eram protagonistas, identificou-se a necessidade de uma auto-organização com foco nas questões de gênero, pautando no contexto da luta geral, questões específicas da vida das mulheres trabalhadoras. Fato esse que incidiu nas conquistas obtidas no campo dos direitos sociais para as mulheres, principalmente no contexto da Constituinte de 1988. DARON, Vanderléia Laodete Pulga. 2003. Educação, cultura popular e saúde: experiências de mulheres trabalhadoras rurais. Dissertação apresentada no curso de pós-graduação em Educação, da Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo, RS. FALKEMBACH, Elza Maria Fonseca. 2007. MST, “escola de vida” em movimento. Cad. Cedes, Campinas, vol. 27, n. 72, p. 137-156, maio/ago. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Após as conquistas da constituinte, como mostram os autores pesquisados, a luta do movimento de mulheres do campo se ampliou em direção à efetivação dos direitos conquistados. Entre os desafios a serem alcançados estão as discussão das questões de gênero, em diferentes espaços, e a conscientização das mulheres quanto ao lugar ocupado no rural brasileiro. Ainda, a conquista de seu lugar enquanto proprietárias de terras, ocupando um espaço público e de direito que hoje ainda é ocupado, na maioria das vezes, pelos homens. IENO, Genaro. Prefácio. In: LEITE, J. E DIMENSTEIN, M (orgs) 2013. Psicologia e Contextos Rurais. EDUFRN, Natal. MARTINS, A.M., ROCHA, M.I.A. e LEE, H.O. 2010. A formação em psicologia e a percepção do meio rural: um debate necessário. Psicologia: Ensino & Formação, Brasília, 1(1), 83-98. MOURÃO, Patrícia. 2011. Organizações Produtivas de Mulheres Rurais. Disponível em: http://www.iica.int/Esp/regiones/sur/brasil/Lists/Document osTecnicosAbertos/DispForm.aspx?ID=390. Acessado em: 20 de novembro de 2013. As pesquisas, estudos e análises sobre as especificidades da “mulher militante do movimento social do campo”, em diferentes áreas do conhecimento, em especial, na sociologia rural e nos estudos feministas têm avançado. Ainda que pese, este tema ainda se configure incipiente no campo da Psicologia. NOGUEIRA, Conceição. 2001. Feminismo e ‘Discurso’ do Gênero na Psicologia Social. Psicologia & Sociedade : revista da Associação Brasileira de Psicologia Social".13:1 107-128. ISSN 0102-7182 No que se refere aos estudos futuros, aponta-se a necessidade de conexões entre o conhecimento produzido acerca do rural, em especial da mulher do campo em sua dimensão política, através de uma abordagem da subjetividade, avançando em um campo interdisciplinar, complementar àqueles já estudados. Salienta-se, ainda, a necessidade de estudos que compreendam o protagonismo das mulheres na luta social desenvolvida no meio rural brasileiro. E na operacionalização de estratégias reflexivas e de PAULILO, Maria Ignez, SILVA, Cristiani Bereta da. 2007. A luta das mulheres agricultoras: entrevista com Dona Adélia Schmitz. Revista Estudos Feministas, vol. 15, n.º 2, 399-403. PRADO, M.; CAMPICI, C. PIMENTA, S. 2004. Identidade coletiva e política na trajetória de organização das 128 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 trabalhadoras rurais de Minas Gerais: para uma psicologia política das ações coletivas. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 10, n. 16, p. 298-317, dez. SCHAAF, Alie Van Der. 2003. Jeito de mulher rural: a busca de direitos sociais e da igualdade de gênero no Rio Grande do Sul. Sociologias, Porto Alegre, ano 5, nº 10, 412-442. SALVARO, Giovana Ilka Jacinto; LAGO, Mara Coelho de Souza; WOLFF, Cristina Scheibe. 2013. "Mulheres agricultoras" e "mulheres camponesas": lutas de gênero, identidades políticas e subjetividades. Psicol. Soc., Belo Horizonte, v. 25, n. 1. SALES, Celecina de Maria Veras. Mulheres rurais: tecendo novas relações e reconhecendo direitos. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 15, n.2, 2007. TEDESCHI, Losandro Antônio. 2007. Do silêncio a palavra: identidades e representações sociais de mulheres camponesas no Noroeste do RS. Associação Nacional de História – ANPUHXXIV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA. 129 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 MELHORES PRÁTICAS EM TI BASEADO EM ITIL PARA PROVEDORES DE ACESSO À INTERNET NO VALE DO SINOS Edson Inácio Wobeto¹ Samuel Henrique Hartmann² RESUMO No Brasil, o constante crescimento da demanda por acesso à Internet fomentou o surgimento de novas empresas que provem este serviço, aumentando assim a concorrência neste mercado. Em paralelo, a convergência de serviços para a Internet e a gama de opções que os usuários de Internet possuem no mundo on-line, tem os tornado cada vez mais dependentes deste acesso e também mais exigentes, querendo um serviço cada vez melhor. Para auxiliar a garantir a qualidade dos serviços e gerenciar os processos operacionais de TI (Tecnologia da Informação) foram criados modelos de melhores práticas como o ITIL (Information Technology Infrastructure Library). Com base neste contexto, este trabalho visa analisar a aplicabilidade do ITIL em pequenos provedores de Internet no Vale do Sinos, bem como avaliar as dificuldades enfrentadas pelas empresas deste ramo e região que já tenham feito a implantação destes processos. ABSTRACT In Brazil, the constantly growth of demand for Internet access promotes the emergence of new companies that provide this service, increasing competition in this market. Related to this, the convergence of Internet services and the range of options that the Internet users have in the online world, has left them increasingly dependent and exacting on this access, looking for a better service. To help ensure the quality of services and manage the operational processes of IT (Information Technology) best practices models were created as the ITIL (Information Technology Infrastructure Library). Based on this context, this research analyzes the applicability of ITIL in small Internet service providers in the Vale do Sinos, as well as assess the difficulties faced by companies in this sector and region that have already made the implementation of these processes. Keywords: Governance. IT. ITIL. Palavras- chave: Governança. TI. ITIL. regiões vizinhas ao Vale do Sinos, que também operam nas cidades deste vale, aumentando ainda mais a concorrência. Na grande maioria das cidades do vale há pelo menos uma grande operadora, como OI, GVT, NET ou EMBRATEL e, em algumas delas, é possível ter as quatro competindo com os provedores locais. 1. INTRODUÇÃO A publicação do Market Share (quota de mercado) de 2014 feita pela Anatel mostra que pequenos provedores de serviços de Internet somam 9,35% do mercado de acessos fixos no Rio Grande do Sul (RS). O baixo percentual do mercado atendido pelos provedores de pequeno porte, evidencia que estes têm um desafio muito grande na concorrência com as grandes operadoras, que normalmente fazem parte de grupos empresariais internacionais e possuem um alto poder de investimento tanto em expansão de sua rede, como em marketing, além de terem um maior poder de barganha nas negociações com os clientes. A governança dos processos de TI dentro dos provedores de menor porte pode se tornar o diferencial competitivo perante seus concorrentes de igual classificação, visto que gerindo seus processos podem reduzir custos operacionais e serem mais eficientes no suporte técnico a seus clientes, agregando valor ao seu produto. A crescente demanda por acesso à Internet em residências e empresas, em parte, tem sido fomentada pela convergência de serviços ofertados de forma online por empresas privadas, públicas e também pelos governos estaduais e federal. Pode-se ainda citar que, além da grande quantidade de conteúdo de entretenimento e cultura disponível nas páginas da web, as redes sociais e sistemas de ensino a distância têm tido grande colaboração para difundir o uso da Internet. Segundo a pesquisa TIC Provedores de 2011, disponível em http://www.cetic.br/pesquisa/provedores/ publicacoes, do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), a classificação de porte das empresas de provimento de acesso à Internet seria a seguinte: grande se possuir mais de 900 mil clientes, médio se possuir entre 20 e 900 mil clientes e pequenos se tiver menos de 20 mil clientes. Já a ANATEL, em suas resoluções, considera pequeno o provedor que possuir menos que 50 mil clientes. A tabela 1 abaixo, ilustra a composição do mercado de acessos fixos a Internet no RS. De acordo com o site da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), são 37 empresas com sedes nas cidades do Vale do Sinos que estão registradas e possuem licença para exploração de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), nomenclatura dada pela agência para transmissão de dados e provimento de acesso à Internet. Existem ainda outras tantas empresas deste ramo, com sedes em ¹ Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria, Professor da Faculdade de Administração e da Faculdade de Tecnólogo em Redes de Computadores do Instituto Evangélico de Novo Hamburgo – IENH [email protected]. ² Gerente Técnico – [email protected] 130 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Tabela 1: Composição de mercado no RS 2. REFERENCIAL TEÓRICO FONTE: ANATEL 2014. Para GASPAR;GOMEZ;MIRANDA (2010), os negócios têm grande dependência da TI, fazendo com que as boas práticas sejam adotadas com objetivo de trazer resultados positivos, como redução de custos e agilidade em seus processos, visto que estes independem de fornecedores e tecnologias. 2.1 GOVERNANÇA DE TI A pesquisa do Censo 2010, realizada pelo IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta que no Vale do Sinos a média de residências em zona urbana com acesso à Internet é de cerca de 34% do total. A pesquisa aponta também que nas empresas esta média fica próxima a 99%. De olho nesse mercado, além das grandes operadoras, ou seja, aquelas que atuam em diversos estados do país, estão as empresas locais de provimento de acesso à Internet, que, segundo dados da ANATEL, a quantidade de empresas licenciadas para exploração de SCM, cresceram 412% desde 2010 no Vale do Sinos. Segundo Weill e Ross (2006) a Governança de TI consiste em um ferramental para a especificação dos direitos de decisão e responsabilidade, visando encorajar comportamentos desejáveis no uso da TI. A ISO/IEC 38.500 (ABNT 2009), diz que a Governança de TI "é o sistema pelo qual o uso atual e futuro da TI são dirigidos e controlados. Significa avaliar e direcionar o uso da TI para dar suporte à organização e monitorar seu uso para realizar planos. Inclui a estratégia e as políticas de uso da TI dentro da organização". De acordo com a classificação do Cadastro de Empresas do IBGE (2008), pequenas e médias empresas no Brasil têm as características a segui. Fernandes e Abreu (2012), após analisarem estes conceitos, concluíram que a Governança de TI, como disciplina, busca o direcionamento da TI para atender ao negócio e ao monitoramento para verificar a conformidade com o direcionamento tomado pela administração da organização. Afirma, ainda, que a governança de TI não é somente de modelos de melhores práticas como ITIL, CobiT, etc. Pequenas empresas têm entre 5 a 99 empregados. Médias empresas têm entre 100 e 499 empregados. 2.1.1 Fatores Motivadores da Governança de TI Estão concentradas no setor de serviços. São os maiores empregadores do país. Considera-se a maior transparência da administração o principal fator motivador da Governança de TI, porém a mesma é motivada por vários fatores como pode-se ver na figura 3.2: "Os dirigentes dessas empresas são, geralmente, pequenos empreendedores e self-made men (homens que se fazem por si, com esforço próprio), muitos sem uma trajetória de estudos formais e bastante intuitivos"(FERNANDES; ABREU, 2012, p. 561, tradução livre). Figura 1: Fatores motivadores da Governança de TI Quando considera-se que os provedores locais, normalmente empresas com poder de investimento limitado, concorrem com grandes operadoras, muitas delas multinacionais, estima-se que para se manter ou crescer neste mercado estas pequenas operadoras tenham que buscar um diferencial, algo que atraia e retenha clientes. Tendo em vista que o departamento de TI em empresas de provimento de acesso à Internet é um setor chave para o sucesso do negócio, a pressão por executar seus processos de forma ágil e menos onerosa possível para a empresa torna-se uma constante. Perante este cenário, surgiu o problema de pesquisa: de que forma a governança e as melhores práticas em TI, aplicadas a pequenos provedores de Internet do Vale do Rio dos Sinos, podem contribuir para o crescimento, diferenciação e qualificação em prestação de serviços? FONTE: Fernandes; Abreu (2012). Este trabalho apresentará apenas as duas mais relevantes para o mesmo, que seguem: Dependência do negócio em relação à TI, em que Fernandes e Abreu (2012) afirmam que quanto mais as operações diárias e as estratégias chave corporativas dependem da TI, maior é o papel estratégico da mesma para a organização. Assim, o objetivo geral deste trabalho é identificar dentre as melhores práticas em TI, baseado em ITIL, os modelos de processos aplicáveis a pequenas empresas de provimento de acesso à Internet na região do Vale do Sinos. A TI como prestadora de serviços: Atender a 131 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Figura 2: Distribuição dos livros da ITIL expectativa que os usuários têm em relação à TI é entregar projetos dentro do prazo e orçamento, disponibilidade das aplicações e infraestrutura, capacidade de expansão do negócio e resolução rápida de incidentes. Isto requer postura e organização orientadas à prestação de serviços e para que os centros de serviços sejam eficazes e eficientes, necessita-se da implantação de um sistema de Governança de TI (Fernandes; Abreu, 2012). 2.2 BIBLIOTECA DE INFRAESTRUTURA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO - ITIL 2.2.1 O que é ITIL? FONTE: o autor. Segundo Gaspar, Gomez e Miranda (2010), ITIL é um framework que reúne as boas práticas para o gerenciamento de serviços de TI mais aceitas em todo o mundo. ITIL é composta por um conjunto das melhores práticas para a definição dos processos necessários ao funcionamento de uma área de TI (MAGALHÃES;PINHEIRO, 2007, p. 64), garantindo o alinhamento entre TI e negócio, gerando assim valor à organização. 3. METODOLOGIA DE PESQUISA 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO O estudo foi desenvolvido na perspectiva qualitativa, descritiva e interpretativa, buscando compreender a importância das Melhores Práticas em TI e suas aplicações para os provedores de serviços e acesso à Internet no Vale do Sinos. Como ela não é uma receita de bolo, a ITIL apenas demonstra as melhores práticas que podem ser implementadas, e o como fica a critério de cada organização. Nesta pesquisa, fora usado como instrumento de coleta de dados um questionário enviado, com algumas perguntas fechadas e pré-definidas e outras abertas às considerações dos respondentes, a empresas do ramo de provimento de acesso à Internet do Vale dos Sinos, assim como a pesquisa documental, buscando adquirir informações necessárias para responder ao problema desta pesquisa. 2.2.2 História da ITIL Ao final da década de 1980 o governo britânico sentiu a necessidade de disciplinar e permitir a comparação de serviços de TI contratados de terceiros, conhecido como outsourcing; desta forma, a Agência Central de Comunicações e Telecom (CCTA), atualmente conhecida por OGC, Office of Government Commerce, montou alguns livros com descrições de melhores práticas em TI. 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ALVO DA PESQUISA As empresas do ramo de provimento de acesso e serviços de Internet estabelecidas no Vale do Sinos, que incluem as cidades de Araricá, Campo Bom, Canoas, Dois Irmãos, Estância Velha, Esteio, Ivoti, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Portão, São Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul, são todas consideradas de pequeno porte, segundo a categorização da ANATEL, que se baseia no número de clientes. Mesmo que algumas delas sejam parte de grupos empresariais maiores, foi considerada como relevante apenas a classificação supracitada. Magalhães e Pinheiro (2007), além de citarem uma pesquisa da Forester Research que dá conta de uma estimativa de que 80% das empresas com faturamento igual ou superior a US$ 1 bilhão, até 2008, estariam adotando a ITIL. Os autores ainda apontam alguns fatores motivadores para essa corrida de adoção das práticas da ITIL, tais como, custos na entrega e manutenção dos serviços de TI, medição de custo/benefício por parte das empresas, frente aos serviços de TI, avaliação de retorno dos investimentos feitos nas áreas de TI, agilidade e quantidade de mudanças nos serviços de TI. A escolha desta delimitação de empresas para a aplicação deste trabalho se deu em função dos seguintes itens: Ÿ redução da amostragem, frente à grande quantidade de empresas do ramo no estado e no país; 2.2.3 Estrutura da ITIL Ÿ as pesquisadas possuírem portes semelhantes; A ITIL está dividida em cinco livros que tratam todos aspectos da gestão de infraestrutura de tecnologia da informação e comunicação. Na figura 2 pode-se ver como estes livros estão distribuídos, abordando de forma mais específica cada um deles mais à frente: Ÿ surgimento de novas empresas do ramo nesta região. 3.3 INSTRUMENTOS E PLANOS DE COLETA DE DADOS Como a metodologia escolhida para a presente pesquisa foi a qualitativa, optou-se por utilizar 132 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 instrumentos comuns a ela, como: pesquisa aplicada no método indutivo. Através deste método o autor pode delimitar o universo de coleta de dados, tornando-o mais reduzido e objetivo, porém extremamente relevante ao estudo proposto, que, interpretados de forma integrada, pressupõem uma abordagem mais adequada para entender e analisar a realidade a ser investigada. sócios proprietários atuar ativamente na área técnica/operacional, aqui tratada por TI. Ainda com intuito de conhecer mais sobre os pesquisados, foi lhes questionado sobre a percepção quanto ao que consideraram como fundamental para o crescimento da empresa, em que 50% apontou que um serviço de qualidade seria a chave do negócio. Conforme o gráfico 1, nenhuma empresa citou o marketing como fundamental e 25% apontaram que a união de preço competitivo, excelência no atendimento e serviço de qualidade são o que consideram de suma importância para o crescimento do seu negócio. Vergara (2005) indica que ao realizar a coleta dos dados, o leitor deve ser informado de como o entrevistador pretende obter as informações que necessita para conseguir responder o problema. O plano de coleta de dados foi construído com base nos objetivos desse trabalho. Sendo assim, a coleta de dados foi dividida em 2 (duas) partes: Gráfico 1: Fundamental ao crescimento 1) bibliografia; 2) questionário. Primeiramente, foi examinado o referencial teórico sobre o assunto, através de livros, artigos e revistas da área estudada. Em seguida, foi desenvolvido um questionário de pesquisa na forma qualitativa. Objetivando finalizar o processo de planejamento de coleta de dados, contextualiza-se o plano de análise de dados. FONTE: O Autor. As questões a seguir, referem-se ao mesmo questionário aplicado aos provedores de Internet do Vale do Sinos, e por serem de resposta aberta, fez-se uma interpretação dos seus dados. 3.4 PLANO DE ANÁLISE DE DADOS A análise de dados foi desenvolvida com base no modelo descritivo, utilizando gráficos e tabelas como apoio para a análise. O universo pesquisado se concentrou em empresas com sede nas cidades do Vale do Sinos e que possuem licença SCM, totalizando 37 empresas. Destas, o questionário foi enviado a 25 empresas, as demais o autor não conseguiu contato pois os dados estavam desatualizados no cadastro que a ANATEL disponibiliza livremente no seu site. Então, do total, apenas 24,32% responderam à pesquisa que foi aplicada durante o mês de julho de 2014. Imagine a seguinte situação: Seu melhor técnico recebe uma proposta e sai da empresa. Como fica sua área técnica? Análise: 62,5% dos pequenos provedores possuem documentação das atividades da TI, o que evidencia a importância dada pelas empresas a este processo de gestão do conhecimento, tratado pela ITIL como Gerenciamento do Conhecimento. Tabela 2: Aplicação Questionário A estratégia do negócio e a TI(operacional) estão alinhadas? Descreva brevemente como. FONTE: O Autor. Análise: 7 das 8 empresas que responderam à pesquisa afirmaram existir este alinhamento. Sendo que algumas das respostas focaram mais em regras de negócio, direcionadas a operação. 3.5 ANÁLISES DOS DADOS Sua área técnica (TI/Operacional) possui medições de desempenho? Quais os itens avaliados? De forma resumida, as informações obtidas através das respostas do questionário aplicado aos provedores do Vale do Sinos dão conta de que 62% das empresas respondentes geram mais que 20 empregos e que 63% possuem mais de 7 anos de existência da empresa. Outros dados interessantes obtidos se referem ao crescimento da base de clientes, em que 87% das empresas afirmaram ter crescido mais que 10% no período entre 2013 e 2014 e que apenas 38% dos respondentes não tem o provimento de acesso como atividade principal da empresa. Análise: Apenas um provedor afirmou não possuir indicadores de desempenho. Dentre os itens mais apontados como avaliados está a quantidade de chamados. A maioria cita sistemas de informação como ferramentas auxiliares na geração dos indicadores. Na área de TI/Operacional, através de medições de desempenho, são detectados problemas antes que seja tarde demais? A relação do self-made men apontada no item 1 deste trabalho é evidenciada pelo fato de 38% das empresas respondentes possuírem menos ou até 20 empregados e em 50% do total de respondentes um dos Análise: Com certa frequência, foi o que afirmaram 6 dos respondentes. Os indicadores de 133 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 desempenho podem gerar um impacto significativamente positivo para a TI, à medida que servem como uma radiografia da estrutura atual, possibilitando intervenções programadas, antecipando atualizações estruturais e de softwares, evitando falhas no serviço ou a percepção de problemas pelos seus clientes. As medições de desempenho podem ser associadas ao processo de gerenciamento da capacidade abordado na ITIL, onde Gaspar; Gomez e Miranda (2010) dizem que é preciso garantir a performance acordada com o cliente agindo de forma proativa para sua melhoria, além de dar apoio aos demais processos. Considerando que apenas 25% dos respondentes informaram que poucas vezes detectam problemas a partir dos seus indicadores, é possível afirmar que entre os pesquisados, os indicadores trazem benefícios ao negócio. Análise: 75% informaram que os serviços estão de acordo com as prioridades do negócio, e os outros 25% apontaram que eventualmente ocorrem atrasos ou mudanças, o que remete a um alto índice de comprometimento da TI com as prioridades do negócio, e indica um elevado nível de maturidade neste processo. Sua empresa possui algum processo de boas práticas do ITIL implantado? Análise: Apenas uma empresa apontou que possui processos da ITIL implantados. Em contrapartida, todas afirmaram ter interesse em implantar os processos da ITIL. Para esta pergunta foram considerados os processos tais quais são descritos pela biblioteca. Entende-se que outros processos já citados anteriormente fazem parte da ITIL, porém podem não estar em concordância com as boas práticas apontadas na biblioteca. Considerando o interesse geral nas boas práticas da ITIL, é possível afirmar que todas as empresas respondentes compreendem a importância deste framework para o seu negócio e esperam com a sua implantação colher os benefícios que a ITIL pode lhes trazer. Sua área de TI possui um processo de gerenciamento de mudanças? Análise: 37,5% dos pesquisados não possui um processo de mudança. "O objetivo do gerenciamento de mudanças é garantir que as mudanças sejam analisadas, registradas, autorizadas, priorizadas, planejadas, testadas, instaladas, documentadas e revisadas sempre de maneira controlada" (GASPAR; GOMEZ; MIRANDA, 2010, p.227). As mudanças realizadas sem um processo definido podem implicar em grande prejuízo a TI/Operacional, pois podem envolver uma interrupção nos serviços, gerando um impacto negativo sobre a percepção de qualidade que os clientes têm da empresa. Caso tenha implantado um ou mais processos da ITIL em sua empresa, discorra sobre as dificuldades enfrentadas e benefícios obtidos. Análise: A empresa que respondeu o questionário informando que já possui processos da ITIL implantados apontou como benefícios: organização das áreas, rollback (desfazer a ação) efetivo e informação a todos os afetados por mudanças ou interrupções. Outra empresa informou que já realizou um mapeamento de processos e vem trabalhando na implantação da ITIL e aponta a falta de conhecimento e o tempo de aprendizado como dificuldades para tal implantação. Esta empresa e a empresa que já possui processos da ITIL apontaram também como dificuldades a mudança cultural necessária, sendo que uma delas expôs as seguintes palavras: "as áreas enxergam inicialmente como uma simples burocracia". Esta mudança cultural está de certa forma atribuída ao perfil da alta administração da empresa. O ciclo PDCA é aplicado aos processos da TI? Análise: O PDCA é um dos facilitadores na tomada de decisões, e quando sua aplicação envolve toda a equipe os resultados são extremamente satisfatórios. Seis dos respondentes apontaram aplicar este ciclo sobre os processos da TI, o que permite concluir que nestas empresas os processos da área operacional/TI estão bem definidos e seguidamente passam por ajustes e melhorias. A empresa aplica alguma prática de transferência de conhecimento? Se sim, como é feito? Os processos operacionais estão mapeados e suas regras de negócio devidamente documentadas? Análise: Treinamentos, Wiki e reuniões periódicas foram os itens mais apontados nas respostas, o que evidencia a preocupação com a formação dos colaboradores e a nivelação técnica dos mesmos. Outro dado importante é que 87,5% das respostas apontaram os treinamentos como uma das principais formas de transferência de conhecimento e 75% apontaram ferramentas online de documentação do conhecimento. Nas palavras de Probst, Raub e Romhardt (2002, p. 186): A palavra falada é mais poderosa que os registros escritos. É a melhor maneira de preservar e fixar experiências de grupo. A fala está mais perto de nós do que a palavra escrita. Isto auxilia na compreensão pela preferência em treinamentos, conforme é possível observar nos números acima expostos. Análise: Foram obtidas 5 respostas positivas para esta questão. As considerações acerca de regras de negócio foram referentes à importância desta documentação e da disseminação desta informação entre os colaboradores da empresa, onde um dos participantes aponta que isto inclusive colabora na curva de aprendizagem dos novos colaboradores. Dos demais, 2 apontam que esta documentação se encontra em fase de construção e melhoria e 1 apontou simplesmente não ter, sem fazer considerações a respeito. O mapeamento de processos, bem como a definição das regras de negócio são imprescindíveis para a automatização dos mesmos, bem como para sua adaptação a sistemas da informação que possam ser utilizados dentro das empresas. Os serviços da TI / Operacional estão sendo entregues com alinhamento às prioridades do negócio? 134 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 A empresa fornece e gerencia os Acordos de Níveis de Serviço (ANS ou Service Level Agreement SLA)? da cultura da organização, além de imprescindível este envolvimento para garantir o alinhamento do negócio com a TI. Análise: O SLA pode ser fator decisivo na contratação de um serviço de Internet, principalmente quando se fala em clientes corporativos. Conforme citado no item 1, serviços como nota fiscal eletrônica, pagamentos e serviços bancários online e outros serviços como hospedagem de sites de comercialização de produtos via Internet tornam as empresas dependentes dos serviços prestados pelos provedores de serviços e acesso à Internet. Assim, acordar e gerenciar os níveis de serviço com o cliente é fundamental para conquistar a confiança dele, gerando para o mesmo amparo legal sobre o que ele contrata. Dos respondentes, 5 afirmaram fornecer e gerenciar o SLA, os outros 3 informaram que não adotam esta prática. 3.5.1 Analisar a aplicabilidade dos frameworks ITIL às características dos pequenos provedores. Com base nas informações coletadas através da pesquisa aplicada aos pequenos provedores do Vale do Sinos é possível perceber algumas características que somadas às atividades de operação de um provedor de serviços e acesso à Internet, agregam relevância para a aplicabilidade dos frameworks ITIL. "O advento da ITIL V3 trouxe ao modelo uma grande gama de possibilidades de aplicação nas organizações, das grandes corporações até as empresas de pequeno porte, das empresas com alto grau de maturidade em seus processos até aquelas que ainda estão iniciando seus passos na busca da qualidade de serviços"(FERNANDES; ABREU, 2012, p. 286). Chiavenato (2010), afirma ainda que muitas vezes empresas com enormes recursos financeiros e tecnológicos não conseguem se viabilizar no médio ou longo prazo e que dispor de recursos é uma vantagem, mas não garante a sustentabilidade da empresa. 3.5.2 ITIL To d a s e m p r e s a s q u e r e s p o n d e r a m o questionário possuem mais que 3 anos de empresa, sendo que apenas uma apontou não ter tido crescimento superior a 10% no ano anterior. Esta relação comprova que pequenos provedores, bem organizados, conseguem se manter no mercado e até crescer, mesmo enfrentando concorrentes de grande porte. Gerenciamento de incidentes "Um incidente pode ser uma falha de hardware, falha de software, falha em um link, etc."(GASPAR; GOMEZ; MIRANDA, 2010, p. 93). Estes incidentes devem ser comunicados à central de serviços que é responsável pelo registro e o acompanhamento até o fechamento, que se dá com o recebimento da confirmação de funcionamento pelo usuário. Estes autores definem ainda que o escopo do gerenciamento de incidentes é qualquer evento que pare ou possa parar um serviço, citando que o registro até o fechamento é denominado ciclo de vida do incidente. Atentos também às evoluções e às sansões dos governos, que cada vez mais têm direcionado as empresas em geral a utilizarem a Internet para fazer declarações, emitir notas fiscais e demais tarefas burocráticas, percebe-se que o foco no segmento corporativo é consideravelmente superior ao foco dado por estas empresas ao mercado residencial. De acordo com Fernandes e Abreu (2012) o gerenciamento de incidentes o processo básico de Gerenciamento de Incidentes consiste em nove passos, que são fundamentais para a correta transição durante o ciclo de vida do incidente, são eles: Em consequência desta dependência de acesso à Internet que o mercado corporativo passou a ter, estes clientes passaram a exigir maior qualidade, disponibilidade e estabilidade nos serviços que lhes são prestados por parte dos provedores de acesso, ficando evidente a preocupação dos provedores em suprir estas necessidades, em que 50% dos respondentes, quando perguntados sobre o que consideram fundamental para o crescimento da sua empresa, indicaram a opção serviço estável e de qualidade e outros 25% consideraram uma união de preço competitivo, excelência no atendimento e serviço estável e de qualidade, conforme apresentado no gráfico 1 acima. Identificação: Inicia-se o trabalho assim que um incidente é identificado. Registro: Todos os incidentes devem ser registrados em algum sistema de informação, em que deverão ficar armazenadas, além de outras informações relevantes, data e hora do registro. Classificação: É imprescindível que se registre todos os tipos de chamadas. Esta classificação será útil ao processo de Gerenciamento de Problemas na identificação de quais são os tipos de incidentes mais recorrentes. Com relação à estrutura organizacional os pesquisados tiveram de responder uma pergunta sobre a existência de um ou mais sócios/fundadores atuantes na área operacional/TI. 50% das empresas o cargo de Diretor Técnico é ocupado por um dos sócios ou fundadores. Os fundadores da organização e, ao longo do tempo, os seus dirigentes estabelecem uma maneira própria de agir e interagir, ao criarem estruturas internas para responder a interações externas, e ao transacionar com o meio ambiente (ALMEIDA; FREITAS; SOUZA, 2011, p.21). Esta atuação direta dos sócios ou fundadores junto à área da TI é fundamental na influência Priorização: Inserir um código de priorização determinado pelo impacto e urgência do incidente auxilia a equipe de TI a priorizar a resolução de incidentes. Diagnóstico: Inicialmente é executado pela Central de Serviços, que tenta descobrir possíveis sintomas e o que não está funcionando corretamente. Caso a central não descubra, deve escalar para um próximo nível. 135 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 Escalação: Caso o incidente não seja resolvido pela Central de Serviço, ele deve ser escalado para outro nível de suporte, com maior conhecimento técnico, para que seja resolvido dentro do tempo hábil. Gerenciamento de eventos O conceito dado por Fernandes e Abreu (2012), é que este processo é responsável por monitorar todos os eventos que ocorrem na infraestrutura de TI, atestando a normalidade da operação. Caso uma exceção seja detectada, este processo deverá escalonar para resolução técnica ou até para uma atuação hierárquica. Definem ainda que eventos podem ser exceções como incidentes, mudanças e problemas, mas também podem ser advertências ou pedidos de informação. Investigação e diagnóstico: Determina a natureza da requisição, cada grupo de suporte por onde o incidente for escalado deverá investigar o que aconteceu de errado e fazer um diagnóstico. Resolução e recuperação: Assim que encontrada uma solução a mesma deve ser aplicada e testada. Este processo de gerenciamento está diretamente ligado à pergunta 8 listada no quadro do item 4.4.1, pois auxilia diretamente na prevenção de incidentes e problemas através de um trabalho proativo. Fechamento: A Central de Serviço deverá categorizar o motivo, documentar e fazer o fechamento formal do incidente junto ao usuário. Caso esteja implantada uma pesquisa de satisfação, a Central deverá solicitar ao usuário o preenchimento da mesma. Os eventos podem ser classificados como: Informativo - Ex.: quando uma tarefa agendada foi concluída. A seguir, uma representação gráfica dos passos supracitados e o fluxo do ciclo de vida do incidente. Alerta - Ex.: o uso do disco rígido do servidor X está em 85%. Figura 3: Fluxo do Gerenciamento de Incidente Exceção - Ex.: Quando o software de inventário detecta um software não homologado instalado em uma estação. Gerenciamento de problema Para Gaspar, Gomez e Miranda (2010), este processo é responsável por identificar a causa-raiz dos problemas, oferecendo soluções definitivas, que evitarão a recorrência de incidentes e minimizarão os efeitos negativos que os incidentes e os problemas podem gerar na visão que os clientes possuem da empresa. Cabe ressaltar que incidente não é um problema, e que também não poderá virar um, pois são registros diferentes com atividades diferentes. Manter informações sobre problemas e soluções, bem como soluções de contorno, são fundamentais para que a organização possa reduzir o impacto de incidentes. Esta função do Gerenciamento de Problemas tem relação direta com o Gerenciamento de Conhecimento, pois ferramentas como o banco de dados de erros conhecidos serão utilizados por ambos. FONTE: Apostila ITIL V3 Foundation - TI Exames. Existem dentro do gerenciamento de incidentes alguns papéis definidos como o do Gerente de Incidentes que tem nas suas obrigações a constante busca pela eficiência e eficácia do processo, produzir informações gerenciais e relatórios, gerenciar o trabalho das equipes de primeiro e segundo nível, gerenciar incidentes graves, desenvolver e manter processos e procedimentos. Outros papéis se referem às equipes de suporte, cujo primeiro nível é feito pela Central de Serviços e suas atividades incluem registro, classificação, escalação, resolução e fechamento de incidentes. Já o segundo e terceiro nível são responsáveis pela investigação, diagnóstico e recuperação dos incidentes. O segundo nível é normalmente uma equipe própria com maior conhecimento técnico e o terceiro nível podem ser fornecedores externos (terceirizados). Como um dos objetivos deste processo é identificar e facilitar a correção de erros antes que os clientes percebam, ele pode ser classificado como um elemento proativo e aliado ao Gerenciamento de Eventos corrobora a importância da monitoração e medição de desempenho. Gerenciamento de Nível de Serviço Este processo é muito importante para um provedor de serviços e acesso à Internet, conforme citado por Gaspar, Gomez e Miranda (2010), com ele conseguese manter um claro entendimento entre a organização e os clientes, melhorando a satisfação dos mesmos. Ele é responsável por garantir a existência de metas específicas para cada serviço, monitorar e aumentar a satisfação dos clientes, garantir que seja entregue o que o cliente contrata, assegurar a proatividade para melhorar Fazer um bom gerenciamento dos incidentes, sempre respeitando os Acordos de Nível de Serviço também é uma forma de agregar valor ao serviço prestado pelo pequeno provedor. Dar a devida importância e priorização ao incidente registrado, muitas vezes pelo usuário, poderá ser um dos fatores de decisão no momento de renovação de um contrato. 136 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 os serviços com custos justificáveis ao negócio e manter um relacionamento com o cliente a fim de conhecer melhor suas necessidades e expectativas. Faz parte do escopo desse gerenciamento: forma síncrona os ciclos de produção dos serviços (que consomem demanda) e os ciclos de consumo de serviços (que geram mais demanda) (FERNANDES; ABREU, 2012, p. 264). Para Gaspar, Gomez e Miranda (2010) este gerenciamento é responsável por analisar a necessidade de recursos de TI para acompanhar o negócio. Este processo deverá analisar, monitorar e documentar os padrões do negócio para que seja capaz de prever as demandas atuais e futuras. Ÿ levantar, documentar e acordar os requisitos de nível de serviço (RNS). Ÿ gerenciar o acordo de nível de serviço (ANS) e o acordo do nível operacional (ANO) com base no monitoramento do desempenho dos serviços que estão sendo entregues. Caso a demanda não seja gerenciada de forma eficiente, poderá ser uma fonte de risco para o provedor de serviço devido à incerteza da demanda. O excesso de capacidade pode acarretar custos que o negócio talvez não consiga recuperar, visto que o cliente não pagará por capacidade ociosa a menos que isto tenha algum valor para ele. Por outro lado, a insuficiência de capacidade poderá gerar insatisfação dos clientes pois certamente afetará a qualidade dos serviços. Ÿ revisar regularmente os serviços para desenvolver um programa de melhoria (Service Improvement Program -SIP) com base nas reclamações e elogios que recebidos dos serviços que estão sendo entregues. Importante também citar alguns conceitos básicos, relevantes a este gerenciamento, definidos pelos autores Gaspar, Gomez e Miranda (2010). Considerando que 7 dos 8 respondentes da pesquisa apontaram ter um crescimento superior a 10% no último ano, o gerenciamento da demanda se torna um processo indispensável para o provedor, que poderá, após realizar o levantamento do PAN, projetar a aquisição de recursos para suprir a crescente demanda. Requisitos de nível de serviço - são as necessidades dos clientes em relação ao serviço de TI. Acordo de nível de serviço - é um acordo documentado entre o cliente e a organização, onde são definidas as responsabilidades para ambos. Gerenciamento da capacidade "Assegura que a capacidade da infraestrutura de TI absorva as demandas evolutivas do negócio de forma eficaz e dentro do custo previsto, balanceando a oferta de serviços em relação à demanda[...]"(FERNANDES;ABREU, 2012, p. 269), em complemento, pode-se citar Gaspar, Gomez e Miranda (2010) que apontam que quando se fala em capacidade se pensa em performance, que precisa ser garantida da forma que foi acordada com o cliente, atuando de forma proativa e dando apoio aos demais processos. Acordo de nível operacional - é um contrato ou acordo com um fornecedor interno, regrando a entrega de um serviço. Este normalmente é informal. Contrato - É um acordo formal entre a organização e um fornecedor externo. Fornecedor - Empresa terceirizada que é responsável pelo provisionamento de serviços ou produtos necessários para que a organização (operação) possa entregar seus serviços aos clientes. O Gerenciamento da Capacidade possui três subprocessos, citados e conceituados por Gaspar, Gomez e Miranda (2010): Quando questionado aos pequenos provedores do Vale do Sinos se suas empresas fornecem e gerenciam o ANS, 5 empresas afirmaram fornecer e gerenciar o ANS com seus clientes; destas, apenas uma respondeu que teve um crescimento inferior a 10% no último ano. Com isso, pode-se observar que este gerenciamento, entre outras atividades, auxilia no crescimento da empresa, pois ao estreitar o relacionamento entre a empresa e o cliente e gerenciar as expectativas do mesmo através de indicadores que comprovam a eficiência dos serviços prestados, a probabilidade de fidelização dos clientes é aumentada devido à satisfação com os serviços recebidos. Em conjunto a isto, a organização deve ficar atenta na manutenção do alinhamento do planejamento estratégico do negócio com a TI, garantindo investimentos para que, além de suportar o crescimento, a TI continue respeitando as metas de serviços, trazendo uma vantagem competitiva à organização frente a concorrentes que não façam este gerenciamento e também não investem no mesmo. Gerenciamento da capacidade do Negócio: Responsável por analisar a necessidade e os planos da empresa e transformá-los em requisitos para a infraestrutura de TI para garantir a performance atual e futura. Gerenciamento da capacidade do Serviço: objetiva coletar informações sobre o uso dos serviços oferecidos aos clientes para entender se o desempenho dos serviços estão conforme o acordo firmado, mesmo em momentos de pico. Gerenciamento da capacidade do Componente: Este subprocesso foca nos componentes da infraestrutura de TI, com o objetivo de conhecer o seu uso, prevendo seu desempenho e permitindo a entrega dos serviços conforme o ANS. Os provedores de pequeno porte pesquisados apontaram crescimento na sua base de clientes, o que de certa forma pode ter refletido na capacidade de cada um deles, principalmente para os que disseram ter crescido mais que 10% no último ano, talvez então gerando um Gerenciamento da demanda Gerenciamento da demanda visa gerenciar de 137 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 investimento para alinhar a demanda à capacidade, tarefa esta que deve ser compartilhada com a alta gerência da organização e inserida no alinhamento estratégico. O processo de Gerenciamento de Demanda aliado ao Gerenciamento de Capacidade auxilia no equilíbrio do investimento, para que não se tenha desperdício de recursos, o que é muito importante para as empresas, principalmente as pequenas. infraestrutura de provedores de Internet podem gerar indisponibilidade. Porém, apenas um respondente apontou que possui o Gerenciamento de Mudança implantado baseado na ITIL. Gerenciamento do conhecimento O objetivo do gerenciamento do conhecimento é assegurar que a informação certa seja entregue até o local adequado ou pessoa competente, no momento certo para permitir que a decisão certa seja realizada. A meta da gestão do conhecimento é permitir que as organizações possam melhorar a qualidade da gestão de tomada de decisão, assegurando que a informação e os dados sejam confiáveis e seguros estando disponíveis durante todo o ciclo de vida (GASPAR;GOMEZ; MIRANDA, 2010, p. 238) Gerenciamento de disponibilidade Para Fernandes e Abreu (2012), este processo visa assegurar que os serviços de TI sejam projetados para atender e preservar os níveis de disponibilidade e confiabilidade requeridos pelo negócio, assim, minimizariam os riscos de interrupções através de atividades de monitoramento físico, solução de incidentes e também a constante melhoria da infraestrutura. Alguns dos benefícios da gestão do conhecimento: Os objetivos deste processo são: Ÿ capacitar o prestador de serviços para que seja mais eficiente e melhore a qualidade do serviço, aumentando a satisfação do cliente e reduzindo o custo do serviço. Ÿ desenvolver e manter um planejamento de disponibilidade, que reflita as necessidades atuais e futuras do negócio; Ÿ avaliar o impacto que cada mudança possa ter no planejamento da disponibilidade; Ÿ assegurar que os prestadores tenham uma compreensão clara e comum do valor que os seus serviços oferecem aos clientes e da forma que os mesmos são realizados. Ÿ implantar medidas proativas para melhorar a disponibilidade do negócio sempre que o custo seja justificável. Esta gerência, além de melhorar a qualidade no processo de tomada de decisões, facilita e agiliza a resolução de incidentes, auxilia também na iniciação de novos integrantes nas equipes técnicas. A documentação e a transferência de conhecimento é muito importante para o desenvolvimento do negócio. Todos os provedores que responderam à pesquisa citaram as formas como fazem hoje o compartilhamento de informações e conhecimento. Apenas 32,5% deles afirmaram que a sua área operacional ficaria um pouco afetada caso o melhor técnico saísse da empresa. Nestes casos, seria recomendável o Gerenciamento e disseminação do conhecimento. Conforme visto no gráfico 1 apresentado anteriormente, serviço estável e de qualidade é um dos principais itens apontados como fundamentais para o crescimento das empresas. No provimento de serviços e acesso à Internet, qualidade e estabilidade estão relacionadas diretamente com a disponibilidade dos serviços e podem ser fatores decisivos na contratação ou renovação dos serviços com o provedor. E, portanto devem ser monitorados e gerenciados. Gerenciamento de mudanças "Gerenciamento de mudanças visa assegurar o tratamento sistemático e padronizado de todas as mudanças ocorridas no ambiente operacional, minimizando assim os impactos decorrentes de incidentes/problemas relacionados a estas mudanças na qualidade do serviço e melhorando, consequentemente, a rotina operacional da organização"(FERNANDES; ABREU, 2012, p.273). 3.5.3 Avaliar as dificuldades enfrentadas na implementação e gestão processos aderentes ao ITIL Dentre as empresas pesquisadas, apenas duas apontaram dificuldades com relação à implementação dos processos da ITIL, pois foram as únicas entre as respondentes que já implementaram ou pelo menos iniciaram uma tentativa de implementar. Observa-se que a implantação e gestão dos processos da TI é um desafio às organizações, visto que somente duas empresas iniciaram este processo e relataram problemas. As seguintes respostas foram obtidas junto às empresas: "As maiores dificuldades foram a mudança cultural, falta de conhecimento no modelo e tempo de aprendizado". A outra empresa trouxe a seguinte resposta quando se referiu ao processo de Gerenciamento de Mudanças: " as áreas enxergam inicialmente como uma simples burocracia". O escopo do Gerenciamento de Mudança é bastante amplo pois cobre desde a base de ativos de serviço e itens de configuração, até o ciclo de vida do serviço. Assim, este gerenciamento pode ser utilizado inclusive para realizar melhorias no Gerenciamento de Serviços de TI. Como 62,5% dos pesquisados responderam que já possuem um processo de gerenciamento de mudanças, percebe-se a preocupação dos pequenos provedores do Vale do Sinos com o planejamento de suas ações, visto que boa parte das mudanças em A implantação da Governança de TI (e a sua 138 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 manutenção) é uma jornada sem fim. O sucesso da implantação da Governança de TI depende fundamentalmente de um gerenciamento da mudança organizacional (FERNANDES; ABREU, 2012, p.185). empresas. Entre os benefícios citados por Fernandes e Abreu (2012), está a redução de riscos. Caso ações de melhoria preventiva sejam tomadas em relação aos pontos negativos do processo, a redução de custos operacionais e melhoria da imagem perante os clientes corroboram através do aumento da confiabilidade e satisfação em relação aos serviços. "Todas as organizações desenvolvem uma cultura"(MAXIMIANO, 2005, p. 451). Este autor cita que existem dificuldades nas pessoas em compreender e processar mudanças ambientais, assim como uma resistência interna generalizada à necessidade de mudança. "Outros benefícios poderão ser percebidos indiretamente, tais como a redução do custo das oportunidades de negócio perdidas (as melhores práticas da ITIL têm sido utilizadas como embasamento técnico para análise e seleção de propostas de prestação de serviços) ou falta de capacitação para o atendimento dos serviços" (FERNANDES; ABREU, 2012, p.289). Rezende e Abreu (2013), colocam que há uma formação de grupos dentro das organizações e estes visam alcançar seus objetivos, criando uma cultura e um clima organizacional, e que a conciliação dos interesses destes grupos com os da empresa são muito importantes. Também é possível citar Wagner III e Hollenbeck (2006), que colocam que uma das funções básicas da cultura organizacional é ajudar os membros a dar sentido a seus ambientes, ajudando a explicar os motivos e a forma que as coisas acontecem. Estes são reflexos da cultura Mesoorganizacional. Medições feitas pelo Gartner Group mostram que a migração de uma situação em que não há qualquer processo de Gerenciamento de Serviços de TI para a adoção completa das melhores práticas poderá reduzir o custo total de propriedade (TCO) de uma organização em até 48% (fonte: www.itilsurvival.com). Conforme Gaspar, Gomez e Miranda (2010), no início da implementação sempre haverá muitas reclamações, dizendo até que a TI se burocratizou, mas que essas mudanças culturais não acontecem do dia para a noite e que devem ser feitas gota a gota. Ainda, conforme estes autores, esta visão de burocracia se transforma no momento que a organização passa a reconhecer a TI como uma geradora de valor em serviços. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os pequenos provedores de acesso têm crescido significativamente no Brasil nos últimos anos, e a cada ano surgem novas empresas neste ramo para concorrer por uma parcela, da também crescente, demanda por acesso à Internet. Essa concorrência hoje não se dá apenas entre os pequenos provedores. Estes já vêm há algum tempo concorrendo com as grandes operadoras. Os pequenos provedores têm se especializado e aumentado a capilaridade da sua rede, deixando de atender apenas as periferias, regiões que normalmente as grandes operadoras não atuam, em contrapartida as grandes operadoras passaram a atuar em regiões mais periféricas das cidades em busca de novos clientes. Quanto à dificuldade de aprendizado e o tempo que isto leva, Fernandes e Abreu (2012) recomendam que a implementação do modelo seja feita de forma gradual, partindo de um escopo reduzido de operações, e trabalhando novos processos à medida que os demais estiverem rodando. Ressaltam ainda que todos os modelos de melhores práticas podem precisar de adaptações em função das características de cada organização. Para o cliente que está cada vez mais exigente esta concorrência tem trazido bons resultados através de serviços mais qualificados e preços mais justos. 3.5.4 Analisar como Governança de TI pode suportar e contribuir com o crescimento de pequenos provedores. E é nesta qualificação dos serviços que entram as melhores práticas de TI, em que, através da ITIL, os pequenos provedores podem passar a gerenciar seus processos de TI, reduzindo custos e entregando serviços com maior disponibilidade e qualidade, batendo assim de frente com as grandes operadoras; porém, com um diferencial importante, os pequenos provedores estão próximos aos seus clientes. Para Kotler (2009), a empresa deve dar o máximo ao cliente, excedendo assim as expectativas de qualidade dos clientes. Ao atender suas expectativas, consequentemente, os clientes lembrarão das boas experiências em relação aos serviços prestados e indicarão a empresa, formando a conhecida divulgação boca a boca. Percebe-se dentre os respondentes da pesquisa um baixo nível de maturidade no gerenciamento de processos; porém, embora as empresas não utilizem o embasamento em ITIL ou até ambos em complemento, muitas delas já possuem, de um modo ou de outro, a gestão de alguns processos. Com isso, os objetivos propostos neste trabalho foram atingidos, embora que se o nível de maturidade fosse maior entre os respondentes, outras abordagens poderiam ser feitas. Os processos da TI em provedores de Internet estão diretamente relacionados ao produto destas organizações, que na realidade se trata de um serviço. Considerando a área de TI de um provedor como todo o corpo técnico operacional responsável pela implantação, gestão e manutenção do parque tecnológico da empresa, suas ações têm impacto direto no resultado operacional da organização. A Governança de TI, através dos modelos de melhores práticas, trazem benefícios diretos às Além da limitação do nível de gestão de 139 REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252 processos dos provedores respondentes, pode ter havido uma baixa adesão a respostas da pesquisa pelo fato do autor deste trabalho ter vínculo empregatício em uma empresa de provimento de acesso situada dentro do universo estudado. Outro fator limitante é que o autor deste não encontrou bibliografia ou estudos específicos do ramo de atividade que foi objeto de estudo. construtivos do sucesso. Porto Alegre: Bookman, 2002. SISTEMAS ANATEL. Lista de Prestadores de Serviço com SCM no RS. Disponível em: <http://sistemas.anatel.gov.br/stel/consultas/ListaPresta dorasServico/tabela.asp?pNumServico=045> Acesso em: 28 Abril 2014. O presente estudo trouxe significativos conhecimentos para o autor, que atua na área. Estima-se também que este trabalho possa colaborar com empresas do ramo no gerenciamento dos serviços de TI. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 6ª edição. São Paulo: Atlas, 2005. REFERÊNCIAS WAGNER III, John A.; HOLLENBECK, John R. Comportamento Organizacional. São Paulo: Saraiva, 2006. ALMEIDA, Mário de Souza; FREITAS, Claudia Regina; SOUZA, Irineu Manoel de. Gestão do Conhecimento para a tomada de Decisão. São Paulo: Atlas, 2011. WEILL, Peter; ROSS, Jeanne W. Governança de Tecnologia da Informação. São Paulo: M. Books do Brasil, 2006. ANATEL. Informações para outorga SCM. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/Portal > Acesso em: 12 Maio 2014. CETIC BR. Pesquisa TIC Domicílios 2010. Novembro 2 0 1 1 . D i s p o n í v e l e m : < http://www.cetic.br/media/analises/apresentacao-ticprovedores-2010.pdf>. Acesso em: 14 Abril 2014. CHIAVENATO, Idalberto. Iniciação a Sistemas, Organização e Métodos - SO&M. Barueri, SP: Manole, 2010. C E N S O 2 0 1 0 . D i s p o n í v e l e m : <http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopseporsetores/ > Acesso em: 20 Maio 2014. CGI.br. Pesquisa TIC Provedores 2011. Disponível em: http://www.cgi.br/ Acesso em: 24 Maio 2014. FERNANDES, Aguinaldo Aragon; ABREU, Vladimir Ferraz. Implantando a Governança de TI: da estratégia à gestão dos processos e serviços. Rio de Janeiro: Brasport, 2012. GASPAR, Marcelo; GOMEZ, Thierry; MIRANDA Zailton. T.I. Mudar e Inovar Resolvendo conflitos com ITIL® V3. Brasília: Senac, 2010. IBGE. Estatísticas do Cadastro Central de Empresas 2008. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, 2010. KOTLER, Philip, Administração de marketing: Análise planejamento, implementação e controle. São Paulo: Editora Atlas, 2009. MAGALHÃES, Ivan Luizio; PINHEIRO, Walffrido Brito. Gerenciamento de Serviços de TI na Prática Uma abordagem com base na ITIL®. São Paulo: Novatec Editora, 2007. MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo: Atlas, 2005. PROBST, Gilbert; RAUB, Steffen; ROMHARDT, Kai. Gestão do Conhecimento: os elementos 140