Universidade Federal de São Carlos Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia Departamento de Matemática Conjuntos innitos Autor: Alan Henrique de Jesus Orientadora: Disciplina: Curso: Profa. Dra. Cláudia Buttarello Gentile Moussa Trabalho de Conclusão de Curso Licenciatura em Matemática Professores Responsáveis: Karina Shiabel Silva Sadao Massago Vera Lúcia Carbone São Carlos, 19 de agosto de 2013. Conjuntos Innitos Autor: Alan Henrique de Jesus Orientadora: Disciplina: Curso: Profa. Dra. Cláudia Buttarello Gentile Moussa Trabalho de Conclusão do Curso Licenciatura em Matemática Professores Responsáveis: Karina Shiabel Silva Sadao Massago Vera Lúcia Carbone Instituição: Universidade Federal de São Carlos Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia Departamento de Matemática São Carlos, 19 de agosto de 2013. Alan Henrique de Jesus (aluno) Profa. Dra. Cláudia Buttarello Gentile Moussa (orientadora) Aos meus pais, Manoel e Glória. Agradecimentos Primeiramente agradeço à minha família pelo apoio incondicional durante toda minha vida, em especial durante este curso de Licenciatura em Matemática. Agradeço também a professora Cláudia Buttarello Gentile Moussa, que me orientou neste Trabalho de Conclusão de Curso, pelo apoio, a juda e paciência durante o desenvolvimento deste, além do suporte dado durante toda a minha graduação. Agradeço também a todos os professores que acrescentaram algo a minha formação , em especial aos professores João Carlos Vieira Sampaio, Marcelo José Botta, Pedro Luiz Aparecido Malagutti. Agradeço aos meus amigos do Kiko's Flat e de curso Caio Evaristo, Caroline Raimundo, Diogo Melo, Gabriela Maria Machado, Grazielle Alves, Gustavo Sales Barbosa, Jéssica Poelnitz Melo, Lucas Zago, Maykon Santana, Marcela Santos Santana, Naiara Ap. Carneluti, Raphael Fernandes, Renata Oliveira, Richard Valefuego, pelos momentos de convivência durante estes quatro anos de graduação . Agradeço em particular a ajuda dada por Diogo Melo e Marcos Paulo em alguns momentos de diculdades durante o desenvolvimento deste trabalho. Um agradecimento especial à minha namorada Tamyris Marconi pelos muitos momentos vividos durante estes anos e principalmente pela ajuda dada durante a confecção deste trabalho. Resumo Neste trabalho estudamos o conceito de números cardinais com particular interesse nos cardinais transnitos. Combinando alguns elementos da Teoria dos Conjuntos com no- ções de estruturas algébricas, apresentamos modelos matemáticos para os conjuntos numéricos N, Z, Q, R e C, que são importantes exemplos de conjuntos innitos. Caracterizamos conjuntos enumeráveis e não enumeráveis e apresentamos uma demonstração para o Teorema de Cantor, resultado importante na Teoria de Conjuntos que garante a existência de innitos números cardinais transnitos. Palavras chave: Números cardinais; conjuntos numéricos; conjuntos enumeráveis; cardinais transnitos, Teorema de Cantor. ix Sumário Prefácio xi 1 Números cardinais 1 1.1 O cardinal de um conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 Operações com cardinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.3 Conjuntos nitos e os números naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2 Conjuntos numéricos 2.1 O conjunto 2.2 O conjunto 2.3 O conjunto 2.4 2.5 7 N dos números naturais . Z dos números inteiros . Q dos números racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 2.3.1 Construção do corpo de frações de um anel de integridade . . . . . 10 2.3.2 Corpo dos números racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 O Conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.4.1 Corpos ordenados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.4.2 Números reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 O Conjunto R C do números reais dos Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Conjuntos nitos e innitos 3.1 16 19 Conjuntos enumeráveis e não enumeráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 4 Números cardinais transnitos 29 5 Apêndice 35 5.1 Algumas noções topológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 xi Prefácio Este trabalho é, essencialmente, um estudo inicial sobre conjuntos innitos e algumas de suas principais propriedades, que podem parecer espantosas quando as conhecemos pela primeira vez. Os conjuntos numéricos nos fornecem os principais exemplos de conjuntos innitos e, portanto, gastamos algum tempo construindo modelos matemáticos abstratos para os números criados a partir da experiência humana com os procedimentos de contagem e medida. A um leigo pode parecer que há muitos mais números"em toda a reta do que há no intervalo [0, 1]. O que dizer então, quando comparamos um pequeno intervalo com todo o espaço tridimensional? São denitivamente intrigantes os resultados que garantem que o número cardinal de [0, 1] e de Rn são os mesmos, não importando qual seja o n. Também é impactante a percepção de que, muito embora o denso conjunto dos números racionais pareça ser tão maior que o discreto conjunto dos naturais, existe uma correspondência um a um entre os elementos de N e Q. Diante de tais fatos, é difícil imaginar a existência de conjuntos com número cardinal maior que o de R, mas podemos provar de forma razo- avelmente simples que existe uma sequência innita e ordenada de cardinais transnitos. Isto é o que arma o Teorema de Cantor, com o qual encerramos o nosso estudo. Este texto está organizado da seguinte forma: no primeiro capítulo introduzimos a noção de números cardinais, algumas de suas propriedades e um pouco da aritmética cardinal. No segundo capítulo estudamos os conjuntos numéricos N, Z, Q, R e C. No terceiro capítulo caracterizamos conjuntos nitos e innitos e, entre estes, os enumeráveis e os não enumeráveis. No quarto capítulo tratamos de números cardinais transnitos, culminando com o Teorema de Cantor. Acrescentamos a este trabalho um pequeno apêndice onde constam algumas noções elementares da topologia da reta que, apesar de não estarem de forma alguma conectadas com os capítulos anteriores, foram bastante utilizadas ao longo das discussões que precederam a formalização dos resultados apresentados neste trabalho. 1 Capítulo 1 Números cardinais Neste capítulo estudamos o conceito de número cardinal de um conjunto. Iniciamos denindo conjuntos equipotentes pois, a grosso modo, pode-se dizer que a cardinalidade de um conjunto é a característica que ele tem em comum com todos os conjuntos com os quais é equipotente. A principal referência para esta primeira parte é [1], mas também nos referiremos aos textos [5, 7]. Dizemos que um conjunto X em Y. X é equipotente a um conjunto Y se existir uma bijeção de A relação X é equipotente a Y que é denotada por Eq(X, Y ), é uma relação de equivalência quando a ambientamos em um conjunto de conjuntos. Mais especicamente, temos que se por: XRY se e somente se equivalência em X Ξ e é um conjunto de conjuntos e R é a relação em Y pertencem a Ξ e Eq(X, Y ), então R Ξ dada é uma relação de Ξ. Teorema 1.1. Sejam X, Y dois conjuntos. Temos que uma das seguintes sentenças é verdadeira: 1. X é equipotente a um subconjunto de Y , 2. Y é equipotente a um subconjunto de X . Além disso, se ambas as armações são verdadeiras, então X é equipotente a Y . 1.1 O cardinal de um conjunto A cada conjunto do conjunto X X ou vamos associar um ob jeto Card(X) x que chamaremos de número cardinal de tal modo que para que dois conjuntos equipotentes é necessário e suciente que Card(X) = Card(Y ). X e Y sejam 2 1. Números cardinais Assim o ob jeto matemático que x = Card(X). x é um número cardinal se existir um conjunto X tal Os números cardinais associados a conjuntos são denotados pelos mesmos símbolos que representam os números ordinais 0, 1, 2, . . . e temos que 0 = Card(∅) é o cardinal do conjunto vazio. Veja que não há conjunto equipotente a ∅ que não seja o próprio conjunto vazio. Desta forma, o único conjunto com número cardinal igual a 0 é ∅. 1 = Card({∅}) é o cardinal do conjunto {∅} e de todos os conjuntos unitários. 2 = Card({∅, {∅}}) é o cardinal do conjunto cujos elementos são o conjunto vazio ∅ e o unitário do vazio {∅}. Prosseguindo desta forma, podemos associar recursivamente aos algarismos que denotam os números naturais números cardinais de conjuntos de tal forma que, um conjunto tem n elementos se e somente se seu número cardinal for n. Podemos denir uma relação de ordem entre números cardinais. Sejam x, y dois nú- meros cardinais. Escrevemos x≤y se houver conjuntos X, Y tais que x = Card(X), y = Card(Y ) Y , para x, y , temos equipotente a um subconjunto de Para todo número cardinal x≤y de tal forma que uma escolha particular de ou X e X é Y. y≤x e também x≤y Além disso, é claro que se x, y, z Y no conjunto Z, f y ≤ x ⇒ x = y. são três cardinais, temos x≤y pois se existir uma injeção e e y ≤ z ⇒ x ≤ z, do conjunto X temos que existe uma injeção de A principal propriedade da relação Y , e uma injeção g do conjunto X em Z , que se denota g◦f . no conjunto x ≤ y entre cardinais está contida no seguinte teorema cuja demonstração pode ser encontrada em [1], pg 91. Teorema 1.2. Seja E um conjunto de cardinais. Então existe um e somente um cardinal a com a seguinte propriedade: 1. x ≤ a (resp x ≥ a) para ∀ x ∈ E ; 2. Se o cardinal b é tal que x ≤ b (resp x ≥ b) para ∀ x ∈ E , então b ≥ a (resp b ≤ a). 1.2. Operações com cardinais 3 1.2 Operações com cardinais x, y dois números cardinais e denotemos x = Card(X) e y = Card(Y ). x por y é o número cardinal Sejam de O produto xy = Card(X×Y ) e permanece inalterado se substituirmos a denição de xy X ou Y por um conjunto equipotente. Ou seja, é independente da escolha dos conjuntos X e Y. Esta operação possui as seguintes propriedades: xy = yx; x(yz) = (xy)z; 0x = 0; 1x = x; As propriedades acima são consequências imediatas da denição. a segunda por exemplo, é suciente notar que, dados três conjuntos X×(Y ×Z) é equipotente a (X×Y )×Z já que podemos (a, (b, c))∈X×(Y ×Z) o elemento ((a, b), c) de (X×Y )×Z . tão Observação 1: Para demonstrarmos X, Y e Z, en- associar a cada elemento Apesar do que nossa intuição nos induz a pensar, é falso que xz = yz ⇒ x = y , z 6= 0, conforme o seguinte contra-exemplo - Card({1} × N) = Card(N) = Card({1, 2} × N) - que discutiremos apropriadamente após introduzirmos o conceito de caso tenhamos conjunto enumerável. Agora deniremos dois conjuntos X, Y soma x, y dois números cardinais e escolha x = Card(X) e y = Card(Y ). A soma de x com y de cardinais. disjuntos, tal que Sejam é o cardinal x + y = Card(X ∪ Y )(onde X ∩ Y = ∅). Não é difícil vericar que a soma é independente da escolha de X e Y. E além disso, valem as seguintes propriedades: x + y = y + x; x + (y + z) = (x + y) + z; 0 + x = 0. Vale também a propriedade distributiva x(y + z) = xy + xz X, Y e Z quaisquer tais que Y ∩ Z = ∅, o conjunto X×(Y ∪ Z) é equipotente a (X×Y ) ∪ (X×Z). Finalmente, sejam x, y números cardinais com x = Card(X) e 0 6= y = Card(Y ). que pode ser provada observando-se que dados três conjuntos Denimos xy = Card(X Y ) onde XY é o conjunto de todas a funções de Y em X. A operação é chamada de nencial de um cardinal e satisfaz as seguintes condições: expo- 4 1. Números cardinais xy+z = xy xz ; (xy)z = xz y z ; (xy )z = xyz ; x0 = 1; x1 = x; X, Y e Z são tais que Y ∩ Z = ∅, Y 6= ∅ = 6 Z , e x = Card(X), y = Card(Y ) e z = Card(Z), então os conjuntos X Y ∪Z e X Y × X Z são equipotentes. De fato, a cada par (f, g) de funções f : Y → X e g : Z → X , podemos associar a função f ∪ g : Y ∪ Z → X dada por Para se provar a primeira propriedade, notemos que se ( f ∪ g(w) = f (w) g(w) se se w∈Y w∈Z Os detalhes desta vericação, bem como as demonstrações da boa denição de xy e das demais propriedades acima podem ser encontradas em [5]. 1.3 Conjuntos nitos e os números naturais A seguir vamos enunciar e demonstrar um resultado através do qual poderemos caracterizar e diferenciar conjuntos nitos e innitos. Teorema 1.3. Dado um conjunto X , as seguintes propriedades são equivalentes: 1. O único conjunto contido em X e equipotente a X é o próprio X . 2. Card(X) 6= Card(X) + 1 Demonstração. i)Suponha que vez que podemos decompor X X X 0 estritamente contido em X . Uma S 0 disjunta X = X (X − X 0 ) , então temos é equipotente a na reunião Card(X) = Card(X 0 ) + Card(X − X 0 ); como Card(X − X 0 )≥1, pois X − X0 não é vazio, segue-se que Card(X) ≥ Card(X 0 ) + 1. Agora, como X0 é equipotente a X, então Card(X) = Card(X 0 ) e portanto Card(X) ≥ Card(X) + 1. Por outro lado, temos que Card(X) + 1 ≥ Card(X) Card(X) + 1 = Card(X ∪ {a}) para concluímos que que Card(X) = Card(X) + 1. já que algum a não pertencente a X. Assim, ii) Suponha agora que Card(X) = Card(X)+1 e seja a um elemento que não pertence S a X . Seja f uma bijeção de X {a} em X . Então a imagem de X por f é evidentemente equipotente a X e está estritamente contida em X . 1.3. Conjuntos nitos e os números naturais Dizemos que um conjunto X do Teorema 1.3 e dizemos que é nito innito é 5 se o conjunto possuir as propriedades caso contrário. nito se x 6= x + 1 e innito se x = x + 1. Analogamente, o cardinal Por exemplo, os cardinais anteriormentes são nitos. Um cardinal nito é também chamado de um cardinal innito de x Se (xi )i∈I e y 1) número transnito. 0, 1, 2, . . . 2) xé e denidos número natural e x + y , xy e xy . Generalizando, se família (xi )i∈I é nita se o conjunto são números naturais, então já denimos é uma família nita de números naturais (a de índices for nito), então os cardinais Y X xi i∈I xi i∈I são novamente nitos. Se único x é um número natural, cardinal z tal que cada cardinal y tal que y ≤ x é também nito, e existe um x = y + z; z é nito e é chamado de diferença entre x e y, e é escrito da seguinte forma z = x − y. Se x = Card(X) e y = Card(Y ) com Y ⊂ X; então teremos z = Card(X − Y ). Observemos que a situação problema descrita na Observação 1, não ocorre com números cardinais nitos. Para ser mais exato, a igualdade x+z =y+z implica que x=y se z é nito, e a igualdade xz = yz implica que x=y se z é nito e diferente de zero. No que segue, usaremos frequentemente o seguinte resultado cuja demonstração pode ser encontrada na página 96 em [1]. Teorema 1.4. Seja X um conjunto nito e f : X→X uma função. Então as seguintes propriedades são equivalentes: 1. f é injetiva 2. f é sobrejetiva 3. f é bijetora 6 1. Números cardinais 7 Capítulo 2 Conjuntos numéricos Neste capítulo apresentaremos construções matemáticas que são modelos abstratos para os conjuntos numéricos N, Z, Q, R e C criados a partir da necessidade de se traduzir formalmente quantidades observadas através da experiência humana. 2.1 O conjunto N dos números naturais A existência de conjuntos nitos decorre a partir das considerações anteriores, porque os conjuntos ∅, {∅}, {∅, {∅}}, {∅, {∅}, {∅, {∅}}, . . . são claramente nitos de acordo com o Teorema 1.3 e se baseia na idéia bastante intuitiva de que existe um conjunto vazio. A existência de um conjunto vazio é enunciada como um axioma na construção da Teoria dos Conjuntos. Por outro lado a existência de conjuntos innitos não é óbvia. Este ponto de vista pode parecer estranho e contrário a nossa intuição, mas devemos recordar que a matemática formal utiliza a prova lógica para provar suas armações, e que, em particular a palavra "existência"na matemática não tem o mesmo signicado que na física ou na teologia, a existência para os matemáticos deve ser mostrada usando a lógica e não apenas a crença que algo existe. Mostraremos a seguir que o conjunto dos números naturais é innito. Antes enunciamos o seguinte Teorema 2.1. Seja X um conjunto innito. Então cada conjunto nito é equipotente a um subconjunto próprio de X . Demonstração. cardinal x Temos que mostrar que y < x y e para cada x ≤ y , então x para cada cardinal nito transnito. Mas de fato, caso tivéssemos o contrário, ou seja, seria nito como visto anteriormente, o que contraria nossa hipótese. 8 2. Conjuntos numéricos Teorema 2.2. Existe um único conjunto N tal que a relação "x ∈ N" é equivalente a relação "x é um número natural". O conjunto N é innito. Demonstração. A = B A unicidade de N resulta do fato que se x ∈ A se e somente se as relações existência de conjunto Xn como intuitiva. N tal que e Suponha que Card(Xn ) = n. A, B x ∈ B são N é nito, e são dois conjuntos, então equivalentes. Aceitaremos a n ∈ N escolha um n ∈ N, Xn é nito, então é para cada Desde que para cada nito o conjunto X= [ Xn n∈N Desde que cada Xn X , segue-se que n ≤ x para todo n está contido em existe um número natural x = Card(X) com a propriedade de que nito. Mas sendo x nito, então x + 1 é nito e portanto x + 1 ≤ x. Contudo temos sempre x ≤ x + 1, logo x = x + 1, contrariando a nitude de x. Temos assim uma contradição, portanto N é innito. Resumindo : As seguintes sentenças são equivalentes: 1. Existe um conjunto innito; 2. Existe um conjunto cujos elementos são os números naturais; Diremos que um conjunto X é enumerável se ele for equipotente a existir uma bijeção do conjunto dos números naturais N em N, ou seja, se X. 2.2 O conjunto Z dos números inteiros Além dos números naturais, a matemática necessita de números com "sinais contrários" , ou seja, necessita dos números inteiros que iremos construir a seguir. A idéia fundamental é a de que, se x e y são dois números naturais quaisquer, existe um inteiro z tal que x + z = y. Os inteiros negativos foram inventados para tornar possível a subtração em todos os casos. Para construirmos o conjunto Z dos números inteiros, partimos do conjunto N×N que são pares ordenados de números naturais, e denimos uma relação de equivalência neste conjunto, dizendo que dois pares ordenados equivalentes módulo R (x, y) se, e somente se, x + y 0 = x0 + y . Então denimos o conjunto Z por Z = (N×N)/R e (x0 , y 0 ) R de números naturais são 2.2. O conjunto Z dos números inteiros e os elementos de Z 9 são chamados números inteiros. Podemos considerar o conjunto dos números naturais um subconjunto do conjunto dos números inteiros associando a cada n natural a classe de equivalência de (a, b) indicaremos por (n, 0). Se (a, b) a classe de equivalência módulo é um elemento qualquer de R determinada por (a, b), N×N isto é, (a, b) = {(x, y) ∈ N × N | (x, y)R(a, b)} Ainda resta denir as operações algébricas sobre os inteiros. Denimos a soma e produto z e z 0 da seguinte z 0 = (x0 , y 0 ), logo de dois números inteiros tais que z = (x, y) e forma, escolhemos pares (x, y), (x0 , y 0 ) ∈ N×N z + z 0 = (x, y) + (x0 , y 0 ) := (x + x0 , y + y 0 ) e z·z 0 = (x, y)·(x0 , y 0 ) := (xx0 + yy 0 , xy 0 + yx0 ). Pode-se mostrar que as operações estão bem denidas, ou seja, não dependem dos representantes escolhidos para as classes de equivalência. Teorema 2.3. O conjunto Z dos números inteiros munido da operação de adição, tem a estrutura de um grupo comutativo. Demonstração. • Sejam (x, y), (x0 , y 0 ) e (x00 , y 00 ) elementos quaisquer de Z, valem comutatividade: (x, y) + (x0 , y 0 ) = (x + x0 , y + y 0 ) = (x0 + x, y 0 + y) = (x0 , y 0 ) + (x, y). • associatividade: ((x, y) + (x0 , y 0 )) + (x00 , y 00 ) = (x + x0 , y + y 0 ) + (x00 , y 00 ) = ((x + x0 ) + x00 , (y + y 0 ) + y 00 ) = (x + (x0 + x00 ), y + (y + y 00 )) = (x, y) + (x0 + x00 , y 0 + y 00 ) = (x, y) + ((x0 , y 0 ) + (x00 , y 00 )). • existência de elemento neutro: módulo R. consideremos a classe de equivalência Temos que para todo elemento de 00 = (0, 0) z ∈ Z, z = (x, y), z + 00 = (x, y) + (0, 0) = (x + 0, y + 0) = (x, y) = z . logo • 00 = (0, 0) é o elemento neutro da adição no conjunto existência de elemento inverso: seja mos 0 z = (y, x). z = (x, y) Z. elemento qualquer de Z e considere- Temos z + z 0 = (x, y) + (y, x) = (x + y, y + x) = (x + y, x + y) = (0, 0) = 0, 10 2. Conjuntos numéricos logo , (y, x) é o oposto de (x, y) Denimos assim a subtração em que será denotado por Z, denotada por −, −z 0 . da seguinte forma: Se z, z 0 ∈Z, então: z − z 0 = z + (−z 0 ). Assim a subtração z − z0 nada mais é do que a soma de z com o simétrico de z0. 2.3 O conjunto Q dos números racionais Nesta seção vamos apresentar uma construção do conjunto dos números racionais como corpo frações do anel dos inteiros e detalhes de demonstrações omitidos no texto a seguir podem ser encontrados em [4]. b quaisquer, com b 6= 0, existe um único inteiro x tal que bx = a se, e somente se, a|b. Portanto, só podemos considerar quocientes ou frações a/b quando a é múltiplo inteiro de b e b 6= 0. Para contornarmos esta restrição mostraremos que podemos contruir um corpo Q, uma amplicação do conjunto Z, onde sempre será possível considerar o quociente a/b de dois números inteiros quaisquer desde que b 6= 0. Dados dois números interios 2.3.1 a e Construção do corpo de frações de um anel de integridade Antes de começarmos a contruir o corpo de frações, vamos introduzir algumas denições. Denição 2.4. Chama-se anel de integridade a todo anel comutativo com elemento unidade 1 6= 0, que não possui divisores próprios de zero. Assim, dado um conjunto A com pelo menos dois elementos, dizemos que anel de integridade se estão denidas em A (a, b) 7−→ a + b e (a, b) 7−→ ab, e que satisfazem as seguintes condições: (a + b) + c = a + (b + c) 2. a+b=b+a 3. a+0=a 4. a + (−a) = 0 é um duas operações binárias que chamaremos de adição e de multiplicação 1. A (associatividade da adição ) (comutatividade da adição ) (elemento neutro da adição ) (elemento inverso da adição ) 2.3. O conjunto Q dos números racionais 5. (ab)c = a(bc) 6. ab = ba 7. a1 = a 8. ax = ay 9. a(b + c) = ab + ac 11 (associatividade da multiplicação ) (comutiviade da multiplicação ) (elemento neutro da multiplicação ) e a 6= 0 =⇒ x = y (lei do cancelamento) (distributividade) Denição 2.5. Seja A um anel e seja B um subconjunto de A; diz-se que B é um sub-anel de A se, e somente se, são válidas as seguintes condições : 1. B é fechado em relação à adição e em relação à multiplicação denidas sobre A. 2. As operações induzidas sobre B pelas operações de A denem uma estrutura de anel sobre o conjunto B . Denição 2.6. Diz-se que um anel comutativo K , com elemento unidade 1 6= 0, é um corpo se, e somente se, todo elemento não nulo de K é inversível com respeito à multplicação . Em outras palavras, um conjunto K é um corpo se satisfaz os 9 axiomas de um anel de integridade vistos anteriormente e o seguinte axioma: 1. aa−1 = 1 Sejam de b a e b (elemento inverso da multiplicação ) dois elementos de um anel de integridade se, e somente se, existe o elemento c a fração tal que a b ou a/b. de elementos de A, b diz-se que a é um múltiplo b 6= 0, então denominado quociente de a por b e será a se b é inversível, tem-se = ab−1 . Neste b Se Em particular, é chamado de numerador e a , b a = bc. é único; este elemento passa a ser indicado pela notação caso c A; a é um múltiplo de b e se de denominador. Portanto, tem sentido considerar a se, e somente se, b6=0 e a é múltiplo de b. Observamos que A é um corpo, então existe sempre o quociente de a por b 6= 0 e a temos = ab−1 . b ∗ Seja A um anel de integridade e consideremos o produto cartesiano E = A×A dos ∗ conjuntos A e A = A − {0}. Deniremos uma relação R sobre o conjunto E do seguinte se o anel de integridade modo: Denição 2.7. Se (a, b) e (c, d) são dois elementos quaisquer de E , então, colocaremos (a, b)R(c, d) se, e somente se, ad = bc A demonstração do teorema que será anunciado a seguir, pode ser encontrado na página 200 do livro [4]. Teorema 2.8. A relação R, introduzida pela denição anterior é uma relação de equivalência sobre E . 12 2. Conjuntos numéricos (a, b) a classe de equivalência módulo R detertemos que (a, b) = (c, d) se, e somente se, (a, b)R(c, d). O conjunto relação de equivalência R será indicado por K , isto é, Como anteriormente, indicaremos por (a, b), e de E pela minada por quociente K= A×A∗ E = . R R Deniremos a soma e o produto de dois elementos quaisquer (a, b) + (c, d) = (ad + bc, bd) e (a, b) e (c, d) de K, por (a, b)(c, d) = (ac, bd). Necessitamos vericar se estas denições são de fato indepentes das escolhas dos repre- (a, b) e (c, d) das classes de equivalência (a, b) e (c, d), isto é, precisamos mostrar (a, b) = (a0 , b0 ) e (c, d) = (c0 , d0 ), então, sentantes que se (ad + bc, bd) = (a0 d0 + b0 c0 , b0 d0 ) e (ac, bd) = (a0 c0 , b0 d0 ). De fato, temos pela denição de R que, ab0 = ba0 e cd0 = dc0 , logo, (ad + bc)(b0 d0 ) = (ab0 )(dd0 ) + (cd0 )(bb0 ) = (ba0 )(dd0 ) + (dc0 )(bb0 ) = bd(a0 d0 + b0 c0 ) e (ac)(b0 d0 ) = (ab0 )(cd0 ) = (ba0 )(dc0 ) = (bd)(a0 c0 ) portanto, (ad + bc, bd)R(a0 d0 + b0 c0 , b0 d0 ) e (ac, bd)R(a0 c0 , b0 d0 ). Mostramos assim que as operações de adição e de multiplicação ((a, b), (c, d)) 7−→ (ad + bc, bd) e ((a, b), (c, d)) 7−→ (ac, bd) sobre o conjunto quociente K= (A×A∗ ) R estão bem denidas. Com isso temos o seguinte resultado: Teorema 2.9. As operações acima denem uma estrutura de corpo comutativo sobre o conjunto K . As demonstrações do teorema acima e dos próximos podem ser encontradas em [4]. Teorema 2.10. O subconjunto A0 = {(a, b) ∈ K | b = 1} é um sub-anel unitário de K e, além disso, o corpo de frações de A0 em K é o próprio K . 2.3. O conjunto Q dos números racionais 13 Teorema 2.11. A aplicação f : A→A0 , denida por f (a) = (a, 1), é um isomorsmo de A em A0 . A0 pelo teorema acima e, além disso, A passa a ser considerado um sub-anel unitário de K . Desta forma, diremos que um elemento (a, b) de K é o quociente dos elementos (a, 1) e (b, 1) Temos que o anel A será identicado como um sub-anel de (a, b) = e, como (a, 1) = a e (b, 1) = b, quociente de dois elementos de os elementos de O corpo K de integridade K, denotaremos A. (a, 1) ; (b, 1) (a, b) = a . b Ou seja, todo elemento de K é o Daqui por diante só usaremos esta representação para isto é, todo elemento (a, b) de K será indicado por a b ou a/b. que acabamos de construir acima é denominado corpo de frações do anel A. Resumindo o que foi expôsto acima, dado um anel de integridade A K que contém A como um sub-anel unitário e tal que a a c todo elemento de K seja da forma , com a e b em A e b6=0. Temos que = se, e b b d a = 0, para todo a em A e as operações denidas sobre K podem somente se, ad = bc; 1 pode-se sempre construir um corpo ser colocadas da seguinte forma a c ad + bc + = b d bd e ac ac = . bd bd b a , com a6=0, é . Além disso, se a e b são dois elementos quaisquer b a a de A, com b6=0, existe o quociente de a por b que é o elemento de K . Assim, podemos b sempre determinar o quociente de dois elementos de A, desde que o divisor seja diferente O inverso do elemento de zero. 2.3.2 Corpo dos números racionais Denição 2.12. Chama-se corpo dos números racionais ao corpo de frações do anel de integridade Z. O corpo dos números racionais será denotado pela letra pode ser escrito na forma a , b A soma e o produto de dois Q. Todo número racional a c com a e b inteiros e b6=0 e = , se, e somente se, ad = bc. b d a c números racionais quaisquer e são denidos por b c a c ad + bc + = b d bd e ac ac = . bd bd 14 2. Conjuntos numéricos Temos ainda que um número racional a, inteiro se, e somente se, a −b a x= . b é nulo se, e somente se, é um múltiplo de e todo número racional não nulo inteiros quaisquer, com a b b6=0, b. a , a6=0, b a = 0, e a b é um número O oposto do número racional tem inverso b . a existe um único número racional a Se x e b a b é −a b ou são dois números tal que bx = a e temos 2.4 O Conjunto R do números reais Nesta seção seguiremos a referência [2], e apresentaremos uma caracterização dos números reais a partir de 2.4.1 Q. Corpos ordenados K, Dado um corpo diremos que ele é um corpo ordenado se existe P ⊂K satisfazendo as seguintes condições : 1. x, y ∈ P ⇒ x + y ∈ P 2. Dado x ∈ K, e xy ∈ P é válido uma das seguintes alternativas: x = 0, ou x∈P ou −x ∈ P K = P ∪ (−P ) ∪ {0}, e denominamos P o conjunto dos elementos positivos e −P o conjunto dos elementos {−x, x ∈ P } que chamaremos de conjuntos dos elementos negativos. A relação a ≤ b ⇔ b − a ∈ P é uma ordem total em K . Num corpo 2 ordenado, se a 6= 0 então a ∈ P . Em particular temos que num corpo ordenado 1 = 1·1 é sempre positivo e que −1 não é quadrado de nenhum elemento. Então temos 2.4.2 Seja K Números reais um corpo ordenado e b∈K X em K . X⊂K um subconjunto limitado superiormente. Dizemos X quando ele é a menor das cotas que b ∈ K seja supremo do conjunto que um elemento é supremo do subconjunto superiores de Mais precisamente para X⊂K , é necessário e suciente que satisfaça as seguintes condições : 1. Para todo 2. Se c∈K x ∈ X, tem-se é tal que x≤c x ≤ b; para todo x ∈ X, então b ≤ c. b e b0 pertencentes a K cumprem as condições 1 e 2 acima, devemos 0 0 0 ter b ≤ b e b ≤ b, logo b = b . Portanto quando existe o supremo de um conjunto, ele é único e o denotamos por sup X . As condições que caracterizam o elemento supremo de Se dois elementos um conjunto podem ser escritas da seguinte maneira: 1. x ∈ X ⇒ x ≤ sup X ; 2.4. O Conjunto R do números reais 2. c≥x 3. Se para todo c < sup X x ∈ X; ⇒ c ≥ sup X ; então existe x∈X tal que Analogamente chamamos um elemento limitado inferiormente, quando ção 15 a c < x. a ∈ K de ínmo de um conjunto é a maior das cotas inferiores de K. Y ⊂ K, Usamos a nota- a = inf Y. A necessidade de construção dos números reais vem a partir do fato que alguns con- juntos limitados de números racionais não possuem supremo ou ínmo em Q. Este fato está extremamente ligado à inexistência de raízes quadradas racionais de certos números inteiros. Este fato tem uma demonstração extremamente simples que apresentamos a seguir. Lema 2.13. Não existe nenhum número racional p tal que p2 = 2 Demonstração. m ∈ Q tal que p2 = 2. Podemos supor p= n m é irredutível, isto é m e n não são ambos fração p = n De fato, suponha que existe sem perda de generalidade que a pares (múltiplos de 2). Então m2 = 2 ⇔ m2 = 2n2 ⇒ m2 n2 é par ⇒m é par (por que se o quadrado de um número é par , então o próprio número é par). Mas se é divisível por 4. E como assumimos que m n m2 = 2n2 , temos que n2 m é par ⇒ m2 é par, o que é uma contradição, pois é irredutível. Denição 2.14. Um corpo ordenado K é chamado de completo quando todo subconjunto não vazio, limitado superiormente com X ⊂ K , possui supremo em K . Analogamente denimos para o ínmo. Assumiremos a partir de agora, o Axioma Fundamental da Análise Matemática: Axioma 2.15. Existe um corpo ordenado completo, R, chamado o corpo dos números reais. Lema 2.16. Para todo número real positivo a existe um único número real positivo b tal que b2 = a. Demonstração. Se a = 0 números reais positivos). unicidade de b. Se b e c é imediato, logo podemos supor que O caso a ∈ −P é análogo. a ∈ P (conjuntos dos Primeiramente vamos provar a são números reais positivos tais que b2 = a = c 2 . Logo temos (b − c)(b + c) = 0, como b + c > 0, conjunto então temos que b = c, logo b é único. Agora consideremos o seguinte 16 2. Conjuntos numéricos S = {x ∈ R | 0 ≤ x e x2 ≤ a}. S é não vazio, pois x ≤ 0 e S é majorado (por a + 1), logo temos que 2 existe b = sup S e b > 0, pois R é um conjunto completo. Armamos que b = a. De 2 fato, se b 6=a, teríamos os seguintes dois casos para examinar: É imediato que 1. b2 < a; 2. b2 > a; Vericando o caso 1: temos que b2 < a ⇒ b3 < ab ⇒ b3 + ab < 2ab ⇒ b < logo b1 ∈ S , por que, 4a2 b2 ≤a (a − b2 )2 + 4ab2 (b1 )2 = o que é um absurdo. Vericando 2: x∈S tal temos que a + b2 = b2 , b > a ⇒ 2b > a + b ⇒ b > 2b 2 2 que b2 < x ≤ b ⇒ (b2 ) < x ≤ a, por outro lado 2 logo existe 2ab = b1 a + b2 2 2 (b2 )2 = temos que (a − b2 )2 + 4ab2 ≥a 4b2 o que é um absurdo. Se a é um número real positivo, então, o único número real positivo é denominado raíz quadrada de do conjunto R − Q, chamaremos de √ 2, √ √ 3, 5 . . . a e será indicado pela notação √ a. b tal que b2 = a Assim, aos elementos isto é, os números reais que não são racionais, a partir de agora números irracionais. Acabamos de ver que eles existem: por exemplo, são números irracionais. O fato de que os números irracionais se acham espalhados por toda parte entre os números reais e que há (em um sentido que precisaremos mais tarde) mais números irracionais do que racionais, serão discutidas mais para frente. 2.5 O Conjunto C dos Números Complexos b2 = a x ∈ R tal Vimos na seção anterior que a equação tem solução se, e somente se, número positivo, ou seja, não existe que x2 = −1. dos números reais de modo que esta equação obtenha solução. dos números reais e seja (a, b) e (c, d) C = R×R C Consideremos o corpo R R por si mesmo; se deniremos as seguintes operações (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) e for um Ampliaremos o conjunto o produto cartesiano do conjunto são dois elementos quaisquer de a 2.5. O Conjunto C dos Números Complexos 17 (a, b)(c, d) = (ac − bd, ad + bc) Denimos assim as operações de adição e multiplicação sobre o conjunto C. A seguir enunciaremos um teorema cuja demonstração pode ser encontrada na página 270 em [4]. Teorema 2.17. As operações de adição e de multiplicação enunciadas anteriormente, denem uma estrutura de corpo comutativo sobre o conjunto C. A partir de agora, todo elemento do corpo complexo e diremos que C C passa a ser denominado como número munido com as operações de adição e multiplicação é o corpo dos números complexos. Indicaremos por todo i o número complexo (0, 1). Como (b, 0)(1, 0) = (0, b), teremos para (x, y) ∈ C: z = (x, 0) + (0, y) = (x, 0) + (y, 0)(1, 0) = x + yi. Portanto, se identicarmos os números reais respectivamente, todo número complexo com x e y e y (x, 0) e (y, 0) forma z = x + yi, com os elementos pode ser representado sob a i = (0, 1). O número i é denominado unidade imaginária 2 2 equação x = −1, já que i = (0, 1)(0, 1) = (−1, 0) = −1. reais e solução para a z x e é uma 18 2. Conjuntos numéricos 19 Capítulo 3 Conjuntos nitos e innitos Neste capítulo discutiremos algumas propriedades de conjuntos nitos e innitos, enumeráveis e não enumeráveis, e por m estudaremos números cardinais transnitos. As principais referências bibliográcas para o que segue são [1, 5, 6, 7]. Já denimos conjuntos nitos e innitos no Capítulo 2. Equivalentemente temos, Denição 3.1. Dado um conjunto X, dizemos que ele é innito quando possui um subconjunto próprio Y , tal que existe um bijeção entre X e Y . Um conjunto é nito caso contrário. Dito de outra forma, um conjunto X→ X tal que f (X) X é innito se, e somente se, existe um injeção é um subconjunto próprio de f: X. Denição 3.2. O conjunto X é um superconjunto do conjunto X se e somente se Y ⊂ X Teorema 3.3. 1. Todo superconjunto de um conjunto innito é innito. 2. Todo subconjunto de um conjunto nito é nito. Demonstração. X um conjunto innito e Y um seu superconjunto, ou seja, X ⊂ Y . Então como X é innito, existe um conjunto Z propriamente contido em X e uma bijeção f : X → Z . Consideremos a seguinte função g : Y → g(Y ) tal que 1. Seja ( g(y) = f (y) y se se y∈X y ∈Y −X g é injetora, pois f é injetora e, quando y ∈ Y −X , g(y1 ) = g(y2 ) ⇔ y1 = y2 . Já se y1 ∈ X e y2 ∈ Y − X , então g(y1 ) = f (y1 ) ∈ X mas g(y2 ) = y2 ∈ Y − X , logo g(y1 ) 6= g(y2 ). Como f não é sobrejetora em X , temos que g(Y ) 6= Y pois f (X) 6= X . Portanto o superconjunto Y é innito. Temos que 20 3. Conjuntos nitos e innitos 2. Agora vamos supor que o conjunto X. Então temos que X X é nito e é um superconjunto de X anteriormente demonstrada, temos que nito. Portanto Y Y Y, é innito. é um subconjunto innito de e pela parte 1 deste teorema Absurdo, pois supusemos X é nito. Teorema 3.4. Seja g : X → Y bijeção. Se o conjunto X é innito, então Y é innito. Demonstração. Por hipótese o conjunto X é innito, então por denição existe uma in- f (X) 6= X . Como g é suposta bijetora temos que g −1 : Y → X −1 é também bijetora. Então a função h = g◦f ◦g de Y em Y é injetora, porque composta de funções injetoras é injetora. Mas h(Y ) 6= Y porque f (X) 6= X ou seja, e portanto Y é jeção f : X → X, tal que um conjunto innito. Corolário 3.5. Seja g : X → Y bijeção. Se o conjunto X é nito, então Y é nito. Demonstração. g −1 :Y →X Suponha que Y é innito. Temos que também é bijetora e pelo teorema anterior for nito então Y g : X → Y é X seria innito. bijeção , então Portanto se X também será. Teorema 3.6. Seja X um conjunto innito e seja x0 ∈ X . Então X − {x0 } é innito. Demonstração. X, então denimos 1. Se f : X → Z é uma injeção e Z é um subconjunto g : X − {x0 } → X − {x0 } da seguinte forma: De fato, se f −1 (x0 ) = x0 , denimos g(x) = f (x), para todo próprio de x ∈ X − {x0 }. f −1 (x0 ) 6= x0 e x1 = f −1 (x0 ), denimos g(x) = f (x), para todo x ∈ X − {x0 , x1 }, g(x1 ) = f (x0 ). 2. Se e Em qualquer caso teremos Portanto X − {x0 } g injetora e g(X − {x0 }) propriamente contido em X − {x0 }. é innito. Notemos que o teorema acima conrma a equivalência entre a denição de conjunto innito dada nesta seção e a que se baseia no Teorema 1.3, segundo a qual um conjunto é innito se a seguinte relação é verdadeira: Card(X) = Card(X) + 1. Corolário 3.7. Seja X um conjunto innito e Y um subconjunto nito de X , então X − Y é innito. Demonstração. Como Y é nito, mostrar por indução nita que se n = 1, temos que X − {x1 } então X Y possui n é innito, então elementos, X−Y é innito pelo teorema anterior. a armação seja verdadeira para n = k com n ∈ N. Vamos é também innito. Para Agora vamos supor que e vamos mostrar que vale para n = k + 1. 3. Conjuntos nitos e innitos 21 n = k , ou seja, A = X − {x1 , x2 , x3 , . . ., xk } é innito. Seja Y = {x1 , x2 , x3 , . . ., xk , xk+1 } = {x1 , x2 , x3 , . . ., xk } ∪ {xk+1 }, então X − Y = X − {x1 , x2 , x3 , . . ., xk } − {xk+1 } = A − {xk+1 }, e novamente pelo teorema anterior temos que A − {xk+1 } é innito. Portanto X − Y é innito. Então como a armação é válida para Teorema 3.8. Se A é um conjunto innito, então A × A também é innito. Demonstração. Por hipótese propriamente contido em A A é innito. Com isso, por denição existe um conjunto B f : A → B . Queremos provar que seguinte função g : A × A → B × B dada por claramente bijetora e g(A × A) = B × B é um e uma função bijetora A × A é innito, então tomemos g(x, y) = (f (x), f (y)). A função g subconjunto próprio de A × A. a é No que segue, usaremos a notação Nk para indicar o conjunto {0, 1, 2, 3, . . ., k}, k ∈ N. Lema 3.9. Para cada k ∈ N, o conjunto Nk é nito. Demonstração. Utilizaremos indução nita para provar este lema. k = 1, temos próprio é ∅ e não há Se que N1 = {1}, que é um conjunto nito, pois o único subconjunto nenhuma função bijetora entre Agora vamos supor que Nk é nito para algum Considere Nk+1 = Nk ∪ {k + 1}, vamos supor por pelo teorema anterior temos que Nk+1 − {k + 1} é temos que Nk = Nk+1 − {k + 1} é nito. Portanto k ∈ N. {1} e ∅, k∈Ne logo é nito. provemos que absurdo que innito. N1 Nk+1 Nk+1 é nito. é innito. Então Absurdo pois por hipótese todo conjunto Nk é nito para cada Teorema 3.10. Um conjunto X é nito se, e somente se, X = ∅ ou existe uma função bijetora do conjunto X sobre Nk . Demonstração. (⇒) Vamos supor por absurdo que o conjunto X nenhuma bijeção com nenhum então existe x1 ∈ X Nk é não vazio e não possui k ∈ N. Como X é diferente de vazio, X − {x1 } é diferente de vazio, porque caso qualquer que seja e temos também que contrário existiria uma bijeção entre X e N1 . Procedendo desta forma sucessivamente temos que podemos selecionar k elementos x1 , x2 , x3 , . . . , xk ∈ X , e X − {x1 , x2 , x3 , . . . , xk } não é vazio qualquer que seja k ∈ N, pois caso contrário existiria uma bijeção entre este conjunto e Nk . Logo existe xk+1 em X − {x1 , x2 , x3 , . . . , xk } e, assim existe uma sequência {xn }n∈N de elementos distintos em X . Assim podemos denir a seguinte função f : X → X − {x1 } dada por f (xk ) = xk+1 . O conjunto X − x1 é um subconjunto próprio de X , e f (xk ) = f (xn ) ⇔ xk+1 = xn+1 ⇔ k = n. Além disso para todo xk+1 existe xk tal que f (xk ) = xk+1 . Logo f é uma função bijetora entre X e seu subconjunto próprio X − {x1 }. Assim temos que X é innito, o que contraria a hipótese que X é nito. Portanto X = ∅ ou existe uma bijeção entre X e algum Nk . (⇐) Se X = ∅, então X não possui nenhum subconjunto próprio e portanto X não pode ser innito. Se X 6= ∅ e existe uma função bijetora f : X → Nk , supondo por absurdo 22 3. Conjuntos nitos e innitos que o conjunto X é innito, então teríamos que lema anterior. Portanto o conjunto X Nk também seria innito, contrariando o é nito. Teorema 3.11. Sejam A e B dois conjuntos quaisquer tais que A ∪ B é innito. Então ao menos um dos dois conjuntos A ou B é innito. Demonstração. 1. Se Vamos supor por absurdo que os conjuntos A e B sejam ambos nitos. A ∩ B = ∅. e B fA = A → Nk1 e Como supusemos que os conjuntos A são nitos, então pelo teorema anterior existem as seguintes funções bijetoras: Consideremos a seguinte função fB = B → Nk2 f : A ∪ B → Nk1 +k2 , ( f (x) = fA (x) fB (x) + k1 , se , se dada por x∈A x∈B Mostremos que esta função é bijetora. (a) Injeção De fato, sejam x, y ∈ A ∪ B . x, y ∈ A, então f (x) = fA (x) e f (y) = fA (y). fA (x) = fA (y) e x = y pois fA é injetora. i. Se ii. Se x, y ∈ B x∈A x 6= y . iii. Se e Logo f (x) = f (y) ⇒ a demonstração é análoga a do caso anterior. y ∈ B, então f (x) ≤ k1 , e f (y) > k1 , portanto f (x) 6= f (y) se (b) Sobrejeção Seja w ∈ Nk1 +k2 . w ≤ k1 , então w ∈ Nk1 , como fA f (a) = w. Portanto w = f (a). i. Se é bijetora então existe a∈A tal que w > k1 , então w = k1 + w com w ∈ Nk2 e, como fB é sobrejetora, existe b ∈ B tal que fB (b) = w . Portanto f (b) = fB (b)+k1 = w +k1 = w . ii. Se A ∩ B 6= ∅, então temos que A ∪ B = A ∪ (B − A), e esta última reunião é disjunta. Como B −A ⊂ B e B é nito por hipótese, segue-se que B −A é também nito. Logo, pelo exposto acima, A ∪ B = A ∪ (B − A) é nito e portanto A ∪ B 2. Se é nito. 3. Conjuntos nitos e innitos Assim concluimos que se A e B 23 forem ambos nitos, então A ∪ B é nito. Exemplo 3.12. Os conjuntos numéricos N, Z, Q, R e C estudados anteriormente são conjuntos innitos. Demonstração. Já foi provado no Teorema 2.2 que o conjunto N dos números naturais é innito. Para provarmos que o conjunto Z dos números inteiros é innito, consideremos a seguinte função f : Z → 2Z dada por f (x) = 2x (aqui 2Z indica o conjunto dos pares). Agora só resta vericarmos que esta função é bijetora. De fato, se f (x1 ) = f (x2 ) então 2x1 = 2x2 ⇔ x1 = x2 . Além disso dado a ∈ 2Z, temos que a = 2b, para algum b ∈ Z, portanto f (b) = 2b = a. Com isso provamos que esta função é bijetora, logo o conjunto dos números inteiros é innito. Mostraremos agora que Q é innito. Considere a seguinte x . Claramente se x for racional função f : Q → Q ∩ (−1, 1), denida por f (x) = 1 + |x| então f (x) também será racional e pertencerá ao intervalo (−1, 1). Por último precisamos mostrar que f é bijetora. 1. Injeção : Sejam x1 , x2 ∈ Q. y1 = −x1 , x1 > 0 e y2 = −x2 , x2 > 0 então −x1 −x2 temos que f (x1 ) = f (x2 ) ⇒ = ⇒ − x2 (x1 + 1) = | − x1 | + 1 | − x2 | + 1 −x1 (x2 + 1) ⇒ − x2 − x2 x1 = −x1 − x1 x2 ⇒ − x2 = −x1 ⇒ y2 = y1 . (a) Se y1 < 0 (b) O caso (c) Se e y2 < 0, x1 ≥ 0 x1 > 0 e e sendo que x2 ≥ 0 x2 < 0 ou é análogo ao caso anterior. x1 < 0 e x2 > 0, então f (x1 ) 6= f (x2 ), pois têm sinais contrários. (d) nalmente f −1 (0) = 0. 2. Sobrejeção a ∈ Q ∩ (−1, 1), Então se a > 0 f (b) = a. Logo f (x) é sobrejetora. Se e b = a , a−1 f (b) = a. Se a ≤ 0 e b = a , a+1 Portanto temos que o conjunto dos «umeros racionais é innito. Neste momento vamos mostrar que o conjunto dos números reais é também innito, e para tanto consideremos a função x f (x) = . 1 + |x| f : R → (−1, 1), denida como anteriormente por Claramente esta função é bijetora e portanto o conjunto dos números reais é innito. E para terminarmos a demonstração falta mostrarmos que o conjunto dos números complexos é innito. Pela construção realizada anteriormente deste conjuntos, vimos que C = R × R, então pelo Teorema 3.8, o conjunto dos números complexos é innito. 24 3. Conjuntos nitos e innitos 3.1 Conjuntos enumeráveis e não enumeráveis Acabamos de mostrar que os conjuntos númericos que estudamos são todos innitos. Agora veremos outra propriedade segundo a qual podemos classicar estes conjuntos. Denição 3.13. Um conjunto X é enumerável quando X é equipotente a N. Um conjunto contável é um conjunto nito ou enumerável. Em outras palavras se N. X é um conjunto enumerável então existe uma bijeção f :X → Se denotarmos f (1) = x1 , f (2) = x2 , f (3) = x3 , . . . , f (k) = xk , . . . então de X X pode ser escrito do seguinte modo podem ser ordenados pelo índice. {x1 , x2 , x3 , . . . , xk , . . . }. Com isso os elementos Agora, em relação ao termo "contável", se o conjunto for nito é teoricamente possível contar seus elementos. Agora se o conjunto for enumerável, embora a contagem de fato de um conjunto enumerável seja impossível, o conjunto está em correspondência biunívica com os números que são utilizados para a contagem, que são os números naturais. Teorema 3.14. Todo subconjunto innito de um conjunto enumerável, é também enumerável. Demonstração. innito de X. Suponhamos que X Queremos provar que é um conjunto enumerável e que Y Y é um subconjunto é enumerável. X é enumerável, então existe uma função bijetora f : X → N, onde f (xn ) = n para todo n ∈ N e xn ∈ X . Queremos denir uma função bijetora g : Y → N. Seja n1 tal que xn1 ∈ Y e xn ∈ Y ⇒ n ≥ n1 . Uma vez escolhidos xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xni−1 em Y , seja xni ∈ Y − {xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xni−1 }, e tal que se xn ∈ {xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xni−1 } então n ≥ ni . Desta forma, Y = {xn1 , xn2 , xn3 , . . . }. Dena g(y) = g(xnm ) = m para m ∈ N. Então temos que g é bijetora e Y é enumerável. Como Teorema 3.15. Seja f : X → Y injetiva. Se Y é enumerável então X também é. Demonstração. g : Y → N. Agora consideremos a seguinte função composta h = g◦f de X em N. Como f e g são injetivas segue-se que h também é injetiva. Portanto h : X → h(X) ⊂ N é uma bijeção. Como h(X) ⊂ N , h(X) é enumerável e portanto X é enumerável. Como Y é enumerável então existe uma bijeção Corolário 3.16. Seja f : X → Y sobrejetiva. Se X é enumerável então Y também é. Demonstração. ∈ Y seja n o menor índice tal que xn ∈ X tal que f (xn ) = y . Isto dene uma função g : Y → N dada por g(y) = n para y ∈ Y . Então g é injetiva. Pelo teorema anterior temos que Y é enumerável. Para cada y 3.1. Conjuntos enumeráveis e não enumeráveis 25 Corolário 3.17. Todo subconjunto de um conjunto contável é também contável. Demonstração. Se X é um conjunto contável então ou ele é nito ou enumerável. Se for nito, então pelo Corolário 3.5 todo subconjunto de Agora caso o conjunto X X é também nito, logo contável. seja innito e enumerável, pelo teorema anterior qualquer seu subconjunto innito será enumerável e portanto contável. Teorema 3.18. A união de dois conjuntos enumeráveis é enumerável. Demonstração. Sejam A e B dois conjuntos enumeráveis. Mostraremos que A ∪ B é enumerável nos dois seguintes casos: 1. Caso 1: A ∩ B=∅ A e B são enumeráveis, então existe uma função f : A → N bijetora. Também existe uma função bijetora g : N → Np , onde Np denota o conjunto dos números naturais pares dada por g(n) = 2n para ∀ n ∈ N. Logo existe uma função injetora h1 = g◦f de A em Np . Por argumentação análoga, temos que existe uma função k : B → N e l : N → Ni bijetoras tal que l(n) = 2n + 1. Logo h2 = l◦k é uma função injetora de B em Ni . Temos por hipótese que Agora consideremos a seguinde função : ( f (x) = Esta função está bem denida pois então A ∪ B 2. Caso 2: F : (A ∪ B) → (Np ∪ Ni ), h1 h2 se se x∈A x∈B A ∩ B = ∅ e como (Np ∪ Ni ) = N é enumerável, também é enumerável. A ∩ B 6= ∅ A ∪ B = C ∪ B e C, B disjuntos por construção. Temos pela parte 1 que C ∪ B é A ∪ B também é enumerável pois A ∪ B = C ∪ B . Seja C = A − B, um conjunto tal que Corolário 3.19. Sejam A1 , A2 , A3 , . . . , An . Então n [ k=1 é enumerável. dada por Ak são dois conjuntos enumerável, então 26 3. Conjuntos nitos e innitos Demonstração. Utilizaremos o princípio da indução nita para mostrarmos este colorário. Pelo teorema anterior sabemos que o resultado é válido se que seja válido para n = m − 1, n = 2, então vamos supor ou seja, supomos que m−1 [ Ak k=1 é enumerável, e vamos mostar que a reunião de M conjuntos enumeráveis é enumerável. De fato, m [ Ak = k=1 m−1 [ Ak ∪ Am k=1 mas como a união de dois conjuntos enumeráveis também é enumerável, temos que m [ Ak k=1 é enumerável. Teorema 3.20. O conjunto N × N é enumerável. Demonstração. f (j, k) = 2j 3k (j, k) ∈ (N, N). f (N × N) ⊂ N. para é equipotente a f (N × N) Considere a seguinte função também é . f :N × N → N dada da seguinte forma Esta é uma função injetora, de modo que N × N é innito pelo f (N × N) é enumerável e Como Logo temos que N × N Teorema 3.8, então portanto N × N é enumerável. Corolário 3.21. O produto cartesiano de dois conjuntos enumeráveis é um conjunto enumerável. Demonstração. X e Y são dois conjuntos enumeráveis então existem sobrejeções f : N → X e g : N → Y , logo h : N × N → X × Y , dada por h(m, n) = (f (m), g(n)) é sobrejetiva. Como N × N é enumerável, temos que X × Y De fato, se também é. Exemplo 3.22. O conjunto dos números inteiros é enumerável Demonstração. N → Z, A demonstração consiste em considerar a seguinte função bijetora dada por n−1 2 f (n) = −n 2 ,se n ,se n par mpar f : 3.1. Conjuntos enumeráveis e não enumeráveis 27 Exemplo 3.23. O conjunto dos números racionais é enumerável. Demonstração. Como visto na construção do conjunto dos números racionais, cada nú- mero racional é representado de maneira única como p/q , com p ∈Z e q ∈N na forma irredutível. Temos que o conjunto (elementos negativos), sendo que Q+ (elementos positivos) é equipotente ao conjunto Q− Q = Q+ ∪ {0} ∪ Q− . Logo para mostrarmos que o conjunto Q+ é enumerável. Agora consideremos a seguinte função claramente bijetora f : Q+ → N × N, dada por f (p/q) = (p, q). Temos então que Q+ é equipotente a f (Q+ ) ⊂ N × N. Como o conjunto Q+ é um superconjunto de N que é um conjunto innito, então ele é innito e f (Q+ ) é um subconjunto innito de N × N, que é um conjunto enumerável como provado anteriormente. Portanto f (Q+ ) é enumerável e como f (Q+ ) é equipotente a Q+ , então Q+ é enumerável e consequêntemente Q também é enumerável. Q é enumerável, é suciente mostrar que Teorema 3.24. O intervalo aberto ]0, 1[ de números reais é um conjunto não enumerável. Demonstração. forma Todos os números 0, x1 x2 x3 . . ., x entre 0 e 1 têm como expansão decimal a seguinte ou seja, pode ser escrito como ∞ X xn = 0, x1 x2 x3 . . . . n 10 n=1 e representamos 0, 9 = 0, 89999 . . . porque temos que ∞ X 9 + 0.8 → 0.9. 10n n=1 Duas expansões decimais são x = 0, x1 x2 x3 . . . e xi = yi para todo i ∈ N. Assim, se para algum tivermos xk 6= yk então teremos que x 6= y . se, y = 0, y1 y2 y3 . . . k-ésima casa decimal diferir, ou seja, ]0, 1[ não é enumerável, vamos supor por absurdo bijeção f :]0, 1[ → N. Assim, podemos ordenar os elementos Agora para provarmos que o intervalo que seja. Então existe uma do intervalo ]0, 1[ da seguinte maneira f (1) = 0, a11 a12 a13 . . . f (2) = 0, a21 a22 a23 . . . f (3) = 0, a31 a32 a33 . . . . . . f (k) = 0, ak1 ak2 ak3 . . . . . . onde cada iguais se, e somente ajk ∈ {0, 1, 2, 3, . . . , 9}. 28 3. Conjuntos nitos e innitos z ∈ ]0, 1[, que não pode ser encontrado na lista acima. Seja z = 0, z1 z2 z3 . . . denido por zk = 3 se akk 6= 3 e zk = 1 se akk = 3 para cada k ∈ N. Temos que o número z está claramente entre 0 e 1, mas z 6= f (i) porque zi 6= aii qualquer que seja i ∈ N. Desta forma, f não pode ser sobrejetora, o que é uma contradição. Portanto o intervalo ]0, 1[ é não enumerável. Construiremos um número Exemplo 3.25. O conjunto dos números reais R é não enumerável. Demonstração. rável. Vamos supor por absurdo que o conjunto dos números reais seja enume- Então pelo Teorema 3.14 temos que todo subconjunto innito de enumerável, mas o intervalo ]0, 1[ ⊂ R R é também é não enumerável como foi mostrado no teorema anterior. Portanto o conjunto dos números reais é não enumerável. Exemplo 3.26. O conjunto dos números irracionais é não enumerável. Demonstração. De fato, temos que R = Q ∪ (R − Q). Pelo Exemplo 3.23 temos que enumerável. Se pois reunião Qé R−Q também fosse enumerável teríamos que R também seria enumerável, de conjuntos enumeráveis é enumerável. Mas pelo exemplo anterior R é não enumerável. Portanto o conjunto dos números irracionais é não enumerável. 29 Capítulo 4 Números cardinais transnitos No ínicio deste texto introduzimos o cardinal de um conjunto nito e um pouco da aritmética cardinal. Agora iremos estender este conceito para tratarmos da cardinalidade de conjuntos innitos. Acabamos de ver no capítulo anterior que o conjunto dos números naturais e o conjunto dos números reais são ambos innitos, então poderíamos esperar a princípio que os dois conjuntos tenham o mesmo "número de elementos", mas com o estudo de teoria dos conjuntos começamos ver que não é bem isso o que acontece. exemplo, o conjunto N é enumerável, ou seja, conseguimos ordenar seus elementos. Por Já o conjunto dos números reais é não enumerável, ou seja, não conseguimos ordenar seus elementos. Com isso percebemos que existem innitos com diferentes características. Será que há conjuntos innitos com número maior de elementos que outros conjuntos? Neste capítulo estudamos questões desta natureza. Teorema 4.1. Card(N) < Card(R). Demonstração. Temos que o conjunto N é um subconjunto de a um subconjunto de Logo R então N é equipotente f (n) = n para ∀ n ∈ N. R, pois basta tomar a função identidade Card(N) ≤ Card(R). Pela seção anterior sabemos que R é não enumerável, e como já foi provado que não existe bijeção entre conjunto enumerável e não enumerável, temos que Card(N) < Card(R). Seguindo Georg Cantor, os símbolos ℵo e c têm sido usados para denotar, respectiva- mente o número cardinal de um conjunto enumerável e o número cardinal do continuum ou cardinal do contínuo, ou seja, ℵ0 = card(N) e c = card(R). Teorema 4.2. Seja x1 um elemento qualquer de R e seja X = R − {x1 }. Então Card(R) = Card(X). Demonstração. Seja Card(R) = c e Card({x1 }) = 1. Como já foi provado, o conjunto Card(R) = Card(R) + 1, Card(X) = Card(R) − 1 = Card(R) = c. dos números reais é innito. Então pelo Teorema 1.3 temos que logo Card(R) = Card(R) − 1. Portanto 30 4. Números cardinais transnitos Corolário 4.3. Considere os conjuntos R e X = {x1 , x2 , x3 , . . . , xn }, e seja Y = R − X . Então Card(Y ) = Card(R). Demonstração. Vamos mostrar por indução nita que, Card(R) = c, sendo então Card(Y ) = c. n = 1. Agora para n = m + 1. Temos pelo teorema anterior que o resultado é válido para vamos supor n = m e vamos mostrar que vale A = R − {x1 , x2 , . . . , xn } e suponhamos que Card(A) = c. que seja válido para X = {x1 , x2 , . . . , xn , xn+1 } = {x1 , x2 , . . . , xn } ∪ {xn+1 }. A − {xn+1 }, e pelo teorema anterior temos que Card(Y ) = c. Seja Então Assim, seja Y = R−X = Denição 4.4. Denimos o conjunto de partes do conjunto A, como o conjunto de todos os subconjuntos de A e denotamos por ℘(A) Teorema 4.5. Seja A um conjunto, então 2Card(A) = Card(℘(A)). Demonstração. B = {0, 1}, Card(B) = 2, e consideremos o conjunto B A = {f, tal A card(A) quef : A → B}. Por denição, Card(B ) = 2 . Para cada X ⊂ A consideremos a seguinte função característica fX Seja ( fX (a) = 0 1 se se a ∈ X a ∈ A−X B A que associa a cada subconjunto X de A a função fX . Se X e Y são subconjuntos de A tais que g(X) = g(Y ) então fX = fY e, portanto X = Y pois, caso contrário haveria algum elemento w ∈ X − Y tal que fX (w) = 0 6= 1 = fY (w). Ou haveria algum elemento w ∈ Y − X tal que fY (w) = 0 6= 1 = fX (w). Para nalizarmos a prova resta mostrar que a função g é A sobrejetora. De fato, dado qualquer função ϕ ∈ B , seja X ⊂ A o subconjunto dado −1 pela imagem inversa de {1}, X = ϕ {1}. Então ϕ = fX = g(X) e podemos concluir que g é sobrejetora. Portanto 2Card(A) = Card(℘(A)). Então consideremos agora a função g de ℘(A) em Teorema 4.6. Sejam A e B conjuntos quaisquer. Se Card(A) = Card(B) então Card(℘(A)) = Card(℘(B)). Demonstração. Card(A) = Card(B), então g : ℘(A) → ℘(B) dada por g(X) = f (X) (a Vamos mostrar que g é bijetora. Se f : A → B . Seja conjunto X pela função f ). existe uma bijeção imagem do 1. Injeção g(X) = g(Y ) então f (X) = f (Y ) X = f −1 (f (X)) = f −1 (f (Y )) = Y . Se como conjuntos. Daí como f é bijetora, 4. Números cardinais transnitos 31 2. Sobrejeção Y ∈ ℘(B) e consideremos a imagem inversa −1 g(f (Y )) = f (f −1 (Y )) = Y pois f é bijetora. Seja Portanto g : ℘(A) → ℘(B) de Y f −1 (Y ) ∈ ℘(A). Então é bijetora. Teorema 4.7. Card(℘(N)) = Card(2N ) = Card(R). Demonstração. Card(R) cardinal Mostraremos que Card(R) ≤ Card(℘(N)) e também Card(2N ) ≤ e utilizaremos a seguinte propriedade de números cardinais : para todo número x, y , temos x≤y e y ≤ x ⇒ x = y. f : R → ℘(Q) denida por f (a) = {x ∈ Q : x < a} para cada a ∈ R. Sejam a, b ∈ R, a 6= b. Temos que existe um número racional r tal que a < r < b, logo r ∈ f (b) mas r 6∈ f (a) e, portanto, f é injetora. Logo temos que Card(R) ≤ Card(℘(Q)), pelo Teorema 4.6 temos que Card(℘(Q)) = Card(℘(N)). Portanto Card(R) ≤ Card(℘(N)). 1. Consideremos a função g : {0, 1}N → R , denida por g(f ) = 0, f (1)f (2)f (3)f (4) . . .. f é {0, 1}, então 0 ≤ g(f ) ≤ 0, 2 qualquer que seja f ∈ {0, 1}N . 2. Seja da Como a imagem f, g ∈ {0, 1}N , g(f ) = g(h). Então temos que 0, f (1)f (2)f (3)f (4) . . . = 0, h(1)h(2)h(3)h(4) . . . ⇔ f (n) = h(n) para ∀ n ∈ N, logo as funções f e g são iguais. Portanto Card(R) ≥ Card(℘(N)). Suponha que, para Assim podemos concluir que Card(℘(N)) = Card(2N ) = Card(R). Teorema 4.8. Se Card(R) = c, então cc = c. Demonstração. Como já foi provado, existe um bijeção entre o conjunto dos números reais e o intervalo aberto unitário mostrar que cc = c, ]0, 1[, então eles têm o mesmo número cardinal c. Para é suciente mostrar que existe uma injeção do produto cartesiano ]0, 1[ × ]0, 1[ no intervalo ]0, 1[. Para este propósito, usaremos o fato de que cada x ∈ ]0, 1[ é representado por sua expansão decimal innita, de forma que, por exemplo, o número 1 será 2 0, 4999 . . . mas não 0,5. Deste modo, teremos uma única expressão para cada número em ]0, 1[. Seja f :]0, 1[ × ]0, 1[ → ]0, 1[, dada por f (0, x1 x2 x3 . . . , 0, y1 y2 y3 . . .) = 0, x1 y1 x2 y2 . . .. Claramente esta função é injetora e portanto cc ≤ c. Agora resta mostrar que cc ≥ c. Considere a seguinte função g :]0, 1[ → ]0, 1[ × ]0, 1[ dada por g(x) = (x, 1/2). Se g(x1 ) = g(x2 ) ⇒ (x1 , 1/2) = (x2 , 1/2) ⇒ x1 = x2 . Portanto temos que cc = c. Corolário 4.9. Card(Rn ) = c. 32 4. Números cardinais transnitos Demonstração. Para provarmos este corolário vamos utilizar indução matemática. Card(R × R) = Card(R) = c. Agora vamos supor que Card(R ) = Card(R) = c. Temos que Card(Rn ) = Card(Rn−1 ×R) = Card(Rn−1 ) · Card(R) = Card(R) · Card(R) = Card(R) = c. Para n = 2, temos pelo teorema anterior que n−1 Teorema 4.10. Se A é um subconjunto enumerável de B e Card(B) = c, então Card(B− A) = c. Demonstração. B = R × R. Seja P = {x ∈ R : (x, y) ∈ A para algum y ∈ R}. Claramente Card(P ) ≤ Card(A). Como A é enumerável, então Card(A) = ℵ0 e temos que Card(P ) ≤ ℵ0 . Assim, existe x0 ∈ R tal que x0 6∈ P . Logo X = {x0 } × R é disjunto de A, ou seja, está contido em (R × R) − A. Além disso temos que Card(X) = Card(R), de onde concluímos que c ≤ Card((R × R) − A). Portanto Card(B − A) = c. Podemos assumir, sem perda de generalidade, que Analisando os resultados acima expostos percebemos que a cardinalidade de mesma cardinalidade do intervalo aberto unitário ]0, 1[, Rn é a o que é muito intrigante pois um "pequeno pedaço" da reta tem a mesma "quantidade de elementos" de todo o espaço. Assim, a princípio parece um pouco ímpossivel existir algum conjunto que tenha cardinalidade maior que a de Rn , mas Georg Cantor provou que podem existir innitos cardinais transnitos, muito maiores que a cardinalidade do conjunto dos números reais. Teorema 4.11. Teorema de Cantor Se X é um conjunto então Card(X) < Card(℘(X)) Demonstração. X = ∅ então Card(X) = 0 Card(℘(X)) = 1, logo Card(X) < Card(℘(X). Se Agora resta provar o caso em que X 6= ∅. e temos que ℘(X) = {∅}, Então consideremos a função ou seja, g :X → ℘(X) dada por g(x) = {x} que é claramente injetora. Logo, concluimos que o conjunto X é equipotente ao subconjunto {{x}|x ∈ X} de ℘(X), ou seja, existe uma bijeção de X em um subconjunto de ℘(X) e então temos que Card(X) ≤ Card(℘(X)). A partir disto, para mostrar que Card(X) < Card(℘(X)), é suciente mostrar que X não é equipotente a ℘(X). Então vamos supor por absurdo que exista uma função bijetora f de X em ℘(X). Seja S = {x ∈ X : x 6∈ f (x)}, que consiste daqueles elementos de X que não estão em suas imagens sob f . Como claramente S ∈ ℘(X) existe um elemento e ∈ X tal que f (e) = S . Então ou e ∈ S ou e 6∈ S . e ∈ S f (e) = S . 1. Se S, que e 6∈ f (e). S como f (e) = S , temos que e 6∈ denição de S , e ∈ S e portanto e ∈ f (e). Isto 2. Se e 6∈ segue da denição de Mas isto é impossível, pois f (e). Consequentemente, pela é novamente impossível. 4. Números cardinais transnitos 33 O resultado importante que este teorema nos trás, é o de que é possível construir uma longa sequência de novos números cardinais transnitos. Por exemplo, temos Card(N) < Card(R) < Card(℘(R)) < Card(℘(℘(R)) < Card(℘(℘(℘(R))) < . . . 34 4. Números cardinais transnitos 35 Capítulo 5 Apêndice Neste capítulo apresentamos brevemente algumas noções topológicas elementares e, como referência, indicamos [2, 3]. 5.1 Algumas noções topológicas Denição 5.1. Dizemos que um ponto a é aderente a um conjunto X⊂ R quando a é limite de alguma sequência de pontos xn ∈ X . Teorema 5.2. Um ponto a é aderente ao conjunto X se, e somente se, toda vizinhança de a contém algum ponto de X . Demonstração. ⇒) a = lim xn , onde xn ∈ X para todo n ∈ N. Dada uma vizinhança V qualquer com a ∈ V temos xn ∈ V para todo n suciente grande (pela denição de limite), logo temos V ∩ X6= ∅. ⇐) Se toda 1 1 , a + ), vizinhança de a contém pontos de X podemos escolher, em cada intervalo (a − n n 1 n ∈ N, um ponto xn ∈ X . Então |xn − a| < , logo limxn = a e a é aderente a X . n Denição 5.3. Dizemos que o fecho de um conjunto X é o conjunto X formado por todos os pontos aderentes a X . Seja a aderente a X. Então pela denição anterior Denição 5.4. Um conjunto X é fechado quando X = X , ou seja, quando todos os pontos aderentes a X pertencem ao próprio X . Denição 5.5. Sejam X, Y tais que X⊂ Y . Dizemos que o conjunto X é denso no conjunto Y quando Y ⊂ X , ou seja, quando todo b ∈ Y é aderente a X . Por exemplo, temos que Q é denso em R, pois os números reais estão contidos no fecho dos números racionais, que é o próprio conjunto dos números reais. Denição 5.6. Dizemos que a ∈ R é ponto de acumulação do conjunto X ⊂ R quando toda vizinhança V de a contém algum ponto de X diferente de a, ou seja, para todo ε > 0 dado, tem-se (a − ε, a + ε) ∩ (X − {a}) 6= ∅. Indicamos com X 0 o conjunto dos pontos de acumulação de X . 36 5. Apêndice Denição 5.7. Se a não é ponto de acumulação de X , dizemos que a é um ponto isolado de X , ou seja, existe ε > 0 tal que a é o único ponto de X no intervalo (a − ε, a + ε). Denição 5.8. Quando todos os pontos de um conjunto X forem isolados, X será chamado de um conjunto discreto. 37 Referências Bibliográcas [1] GODEMENT, R. Course d'Algébre, Hermann, Paris - 1963 [2] LIMA, E. L. Curso de Análise, vol.1, Rio de Janeiro - IMPA, 1978, 47p. [3] LIMA, E. L. Análise Real - Funções de uma variável, vol.1, Rio de Janeiro - IMPA, 2008, 49p. [4] MONTEIRO, L.H. Jacy, Elementos de Álgebra. Rio de Janeiro, Ao livro Técnico, 1969, 167p. [5] LIN, S.T. e Lin, Y.F. Set Theory: An Intuitive Approach, Houghton Miin Company, Boston, 1974. [6] JECH, T. e HRBACEK, K. Introduction to Set Theory, 1984. [7] HALMOS, P. R.; Teoria Ingênua dos Conjuntos. Ciência Moderna, 2001