Saudação aos participantes

Propaganda
SAUDAÇÕES AOS PARTICIPANTES
por Dra. Christina de Rezende Rubim
Inicialmente gostaria de desejar boas vindas a todos os nossos convidados,
aos alunos e demais participantes da IX JORNADA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, que pela
primeira vez está homenageando um antropólogo – ROBERTO CARDOSO DE
OLIVEIRA – e a antropologia no Brasil.
Vocês chegaram com a primavera, mas não trouxeram as chuvas que nesse
final de mês já deveriam ter se iniciado, abrandando um pouco este calor insuportável.
Apesar de seca, no entanto, a cidade está florida e ruidosa, com os ipês roxos,
amarelos e brancos colorindo a paisagem e as maritacas, que com suas algazarras, nos
fazem acordar mais cedo.
Como a maioria de vocês, inclusive nossos alunos que vêm de várias outras cidades
brasileiras, eu não sou de Marília, mas fui seduzida pelo seu cotidiano e me encanto em
descobri-la nos textos de Lévi-Strauss (Tristes Trópicos) e Pierre Mombeig (Pioneiros e
Fazendeiros em São Paulo).
Os dois autores, franceses, estiveram no Brasil dando aulas na USP. Lévi-Strauss
entre 35 e 37. Mombeig, cerca de dez anos depois. Os dois fizeram pesquisa no interior do
país, se apaixonaram pelo que viram e viveram. Encontramos igualmente em seus relatos
informações sobre as dificuldades em transitar por essas estradas do interior, o calor
insuportável, a escasez das fontes estatísticas, e ao mesmo tempo a velocidade em que os
nomes dos municípios eram modificados por decretos públicos.
Pierre Mombeig se assusta ao descobrir que algumas de nossas cidades com
setenta/oitenta anos são tidas como “velhas” (Ribeirão Preto). Lévi-Strauss reclama da
“feiúra” do cimento de São Paulo, uma cidade jovem. Os dois se assustam com as
distâncias geográficas.
Marília está presente no texto de ambos. Como tantos outros municípios, é fruto da
“marcha para o oeste” que seguiu a trajetória do café que cobriu inicialmente as partes
montanhosas do Rio de Janeiro no início do século IX, avançando pelo vale do Rio Paraíba
do Sul, chegando a São Paulo na segunda metade do mesmo século e se embrenhando pelo
interior adentro, acompanhando os rios e já no século XX, trazendo as ferrovias.
1
Inicialmente território dos índios Kaigang, foi aos poucos se transformando em
fazendas de café. O Município de Marília foi criado em 1928 a partir de três núcleos
populacionais: Alto Cafezal (Bendo de Abreu), Marília (Antônio Pereira) e Vila Barbosa
(“Mama Mia”), com uma forte presença de japoneses e italianos.
A cidade é cercada de itambés, grotões e espigões, como nos ensina Mombeig e
Lévi-Strauss.
Aos poucos, a partir dos anos quarenta, o café vai cedendo lugar ao algodão e ao
amendoim, o que favoreceu a industrialização local que a partir dos setenta tomou impulso.
Hoje o município possui um parque industrial considerável. É tida como a capital
nacional do alimento. Temos aqui várias indústrias de biscoitos e confeitos, além da
metalurgia. A TAN e o BRADESCO nasceram em Marília.
Como parte desse contexto sócio-econômico, em 1959 foi criada a Faculdade de
Filosofia como instituto ligado a USP, que em 1976 é transformada em Faculdade de
Filosofia e Ciências da recém-criada UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO
DE MESQUITA FILHO”, com vinte e quatro campi espalhados pelo Estado de São Paulo.
Atualmente, Marília pode também ser chamada de cidade universitária. Cerca de
dez por cento dos cerca de 200 mil habitantes são universitários, distribuídos entre três
universidades (UNESP, UNIMAR e UNIVEN) e duas faculdades (FAMEMA e FAJOPA).
O curso de ciências sociais começou a funcionar em 1964, completando em 2004,
40 anos. Em 1999 iniciamos o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Mestrado,
sendo que está em processo o projeto de Doutorado.
As "Jornadas", realizadas a cada dois anos pela UNESP, campus de Marília,
iniciaram-se em 1986, inspiradas em eventos similares, promovidos por centros de estudos
e universidades européias e norte-americanas, em que a obra de um autor é analisada e
serve de ponto de partida para a discussão atual dos temas por ela tratados.
As "Jornadas de Estudos de Ciências Sociais" têm tido como característica principal
privilegiar o estudo da obra de autores brasileiros, contando muitas vezes com sua presença
e contribuição ao ciclo de debates, palestras e mesas-redondas. As Jornadas talvez possuam
como mérito maior o fato de constituírem um espaço de reflexão crítica, não apenas das
contribuições dos autores estudados, como de atualização das discussões por eles propostas
no plano do debate acadêmico, cultural e político do país. Foram homenageados pelas
2
Jornadas os professores Florestan Fernandes (1986), Caio Prado Jr. (1988), Antônio
Cândido (1990), Octávio Ianni (1992), Maria Isaura Pereira de Queiroz (1994), Leandro
Konder (1998), Gilberto Freyre (2000) e Nelson Werneck Sodré (2002).
Quando cheguei em Marília e na UNESP há seis anos, fiquei um pouco preocupada
com a situação da antropologia no imaginário coletivo. Somos poucos na instituição e
espalhados por várias unidades acadêmicas, distantes geograficamente. Essa situação, no
entanto, está se transformando, felizmente. As últimas jornadas tiveram cerca de 160
inscritos. A IX Jornada até agora, chegou a 250 inscrições.
A IX Jornada de Estudos de Ciências Sociais, pela primeira vez, tem como objetivo
dialogar com a obra de um antropólogo. O professor Roberto Cardoso de Oliveira, autor
fundamental na construção institucional da antropologia brasileira, é responsável pela
formação de várias gerações de antropólogos, atuantes hoje em todos os cantos do Brasil e
exterior. Conseqüentemente, discutir a obra de Cardoso de Oliveira é também repensar
criticamente a história da disciplina entre nós, abordando os aspectos fundamentais do seu
pensamento, de sua trajetória acadêmica, influências e polêmicas ao qual o autor não ficou
isento.
Formado em Filosofia pela USP em 1954, foi para o Museu do Índio no Rio de
Janeiro convidado por Darcy Ribeiro, quando ambos ministraram o primeiro curso de
extensão em Antropologia em 1955. Desde então, tem publicado ininterruptamente sobre
temas como etnologia, identidade étnica e teoria antropológica. São 49 anos de atuação no
campo da antropologia brasileira.
Em 1960, 61 e 62, juntamente com Luiz de Castro Faria, organizou os Cursos de
Especialização no Museu Nacional. Foram seus alunos nessa época, Roberto Da Matta,
Roque de Barros Laraia e Cecília Helms, entre outros.
Em 1968, foi responsável pela criação do primeiro Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social no Museu Nacional/UFRJ. Foi professor, nesse período, de vários
antropólogos que hoje são fundamentais no pensar antropológico do país, como por
exemplo, Otávio Velho e Ivonne Maggie.
Em 1972 transferiu-se para a UNB, onde contribuiu na formação de Carlos
Rodrigues Brandão, Mariza Peirano e Gustavo Lins Ribeiro.
3
Chegou à UNICAMP em 1985, quando ajudou na construção do Doutorado em
Ciências Sociais. Neste ano fui pela primeira vez sua aluna em um curso que dividia com
Luiz Eduardo Soares e Hugo Lovisolo. Em 1996, juntamente com Octávio Ianni, Otávio
Velho, Roque de Barros Laraia e Mariza Corrêa – minha orientadora – compôs a banca de
doutoramento na qual era eu candidata. Uma situação inusitada, onde meus argüidores eram
também meus sujeitos de pesquisa, e quase todos, segundo Cardoso de Oliveira,
sexagenários e precisando de um coffe break nas quase oito horas de defesa.
Atualmente, Roberto Cardoso de Oliveira é Professor Emérito do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, Doutor Honoris Causa da UFRJ,
Colaborador Emérito do Museu Paraense Emílio Goeldi, Professor da UnB e Membro da
Academia Brasileira de Ciência, além de ter recebido vários prêmios internacionais e
presidido a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) entre 1984-86.
Gostaria de agradecer a presença de todos vocês – convidados, alunos, ex-alunos e
colegas – e espero que tenham uma semana agradável e produtiva.
Agradeço também o empenho do Escritório de Pesquisa nas pessoas da Silvia e
Mariza; do SAEPE, Lúcia, Edvaldo e Rogério; da Marlene, nossa recepcionista, e da
Clarisse, pelo cafezinho e a água; à Pós-Graduação, especialmente ao professor Giovanni,
que por outros compromissos não está presente; aos dois departamentos: Sociologia e
Antropologia, Ciências Políticas e Econômicas; ao Conselho de Curso de Ciências Sociais;
e ao Grupo de Pesquisa Social do qual sou coordenadora e que basicamente, com os seus
integrantes – alunos de graduação, pós- graduação e até mesmo aqueles que já se formaram
– estão trabalhando para que este evento aconteça.
Obrigada.
4
Download