A CULTURA DA PITAYA Dra. Adriana de Castro Correia da Silva

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A CULTURA DA PITAYA
Dra. Adriana de Castro Correia da Silva
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Qual a origem do nome PITAYA?
A palavra pitaya é originada do idioma Taíno (língua falada na região das
Antilhas, na época da conquista espanhola) e significa fruta escamosa. Na
língua inglesa, a fruta é conhecida como “Dragon fruit”, em uma alusão às
escamas da fruta às escamas da figura do dragão.
Qual a importância do centro de origem para o melhoramento?
O centro de origem de uma espécie é onde encontramos a maior diversidade
de material genético, que pode ser útil para o melhoramento da cultura,
principalmente no que diz respeito à resistência a pragas e doenças, tolerância
à estresses abióticos, etc. Assim, é onde podemos buscar material que
apresente características desejáveis em algum aspecto de cultivo, como, por
exemplo, resistência à pragas e doenças, tolerância à estresses abióticos, etc.
No Brasil, quem são os maiores produtores?
O cultivo no Brasil é recente – tem pouco mais de 15 anos, e se destacam,
como maiores produtores, os estados de São Paulo, Minas Gerais, Ceará,
Paraná e Goiás, sendo que o estado de São Paulo é responsável por 92 % da
quantidade comercializada na CEAGESP em 2013. Em São Paulo, a pitaya é
produzida em 49 municípios, sendo as regiões de Amparo, Presidente
Prudente e São José do Rio Preto as mais importantes. As cidades de Socorro,
Narandiba, Cedral, Arthur Nogueira e Ourinhos, juntas, são responsáveis por
mais de 50% da produção do estado.
Principais regiões produtoras de pitaya do estado de São Paulo. Fonte:Prohort,
2014.
A luz em excesso é prejudicial ao desenvolvimento das plantas, como
conduzi-las?
Apesar de ser uma cactácea, a pitaya não tolera alta intensidade luminosa.
Quando cultivada sob luminosidade excessiva os ramos amarelam e o
crescimento é prejudicado, podendo levar à morte da planta. O contrário
também é prejudicial: em excesso de sombra as plantas ficam estioladas e a
produção de flores é muito reduzida. Assim, recomenda-se que as plantas
sejam cultivadas de forma a imitar o habitat de origem, e isto pode ser obtido
utilizando-se telas de sombreamento, entre 30 a 60 % de sombra, dependendo
do local de cultivo. O sombreamento também pode ser obtido utilizando-se
como tutores algumas espécies arbóreas, que fornecerão o sombreamento
necessário no período de maior intensidade luminosa. Porém deve-se atentar à
necessidade de poda destes tutores, para que o sombreamento não seja
excessivo.
Trabalhos realizados mostram que a pitaya é auto-incompatível, qual a
importância desse relato?
É extremamente importante, quando da instalação do pomar, que o produtor
tenha informação quanto à auto-incompatibilidade do clone que está plantando,
que pode ser total ou parcial – no caso da parcial, há frutificação, porém de
frutos sem valor comercial (os frutos são muito pequenos e com grande
quantidade de casca). Quando uma planta é auto-incompatível é necessário,
para que ocorra frutificação, a presença de pólen externo, ou seja, de outra
espécie ou clone. O ideal para se reduzir a baixa frutificação e a ocorrência de
frutos pequenos, sem valor comercial, seria o plantio de diversos genótipos e a
realização da polinização cruzada, manualmente.
Quais são os agentes polinizadores?
Em muitos países onde a cultura da pitaya foi introduzida, é relatado que a
polinização é pobre, devido à falta de polinizadores naturais, encontrados em
seu ambiente nativo. A pitaya apresenta florescimento noturno, de modo que
morcegos, mariposas e abelhas são polinizadores naturais das pitayas. No
Brasil, tem sido que apenas as abelhas atuam como polinizadores e devido ao
seu tamanho são muito menos eficientes que os morcegos, além de atuarem
num período menor de abertura das flores, uma vez que o fechamento destas
ocorre logo pela manhã. Assim, a polinização manual torna-se uma prática
necessária para a obtenção de frutos comerciais.
Como fazer a polinização manual?
A polinização manual pode ser realizada facilmente removendo-se as anteras
de uma flor e tocando com ela o estigma de outra flor, ou então se coletando o
pólen e utilizando-se um pincel para polinizar múltiplas flores. A polinização
pode ser realizada no fim da tarde ou no início da manhã. Recomenda-se cobrir
as flores que serão polinizadas (com saquinhos de TNT, papel ou plástico) para
que em caso de chuva não ocorra lavagem do pólen.
Realização da polinização manual na manhã posterior à abertura da flor. Os
estames de diversas flores são coletados em um recipiente plástico e, com o
auxílio de um pincel, o pólen é transferido para o estigma das flores,
realizando-se a polinização.
A produtividade brasileira é boa? Como melhorá-la?
A produtividade do estado de São Paulo, na região de Presidente Prudente, é
de 15 t/ha. Esse número é baixo, uma vez que pode alcançar 30 t/ha. Para
melhorá-la, o produtor deve lançar mão de técnicas como irrigação e
adubação, além da polinização manual.
A pitaya é uma fruta não climatérica, quais os cuidados na colheita?
Frutos não climatéricos são aqueles que, depois de colhidos, não continuam o
seu
amadurecimento.
Desta
forma,
devem
ser
colhidos
totalmente
desenvolvidos, quando apresentam o máximo de acúmulo de açúcares, ou
seja, seu sabor está totalmente acentuado. O ponto de colheita da pitaya é
determinado pela coloração da casca, que é característica do cultivar.
Um produtor interessado em plantar pitaya, deve formar suas mudas ou
compra-las de um bom viveirista?
O ideal, na implantação de um pomar, é utilizar material de procedência
conhecida, sadios e produtivos. Há pouca quantidade de material disponível
em viveiro, assim, o ideal para iniciar o plantio, seria a compra de material
vegetal de outro produtor, que apresente qualidade fitossanitária, e, a partir
deste material inicial, o produtor realizar a multiplicação de suas plantas.
Quais os principais problemas fitossanitários, observados na condução
dos seus experimentos?
A pitaya apresenta poucos problemas fitossanitários. Pragas também ocorrem
esporadicamente, em determinadas fases de crescimento. Com relação às
doenças, a principal observada foi a podridão bacteriana, principalmente em
condições de alta umidade e temperatura. A pulverização preventiva com
cúpricos pode ser uma forma de se evitar a ocorrência de problemas
fitossanitários.
Quais outras considerações que gostaria de fazer?
A pitaya é uma cultura rústica, porém responsiva à irrigação, adubação e
sombreamento. Para que o produtor consiga frutos de qualidade é necessária a
adoção de tecnologias que favoreçam o desenvolvimento dos frutos, para que
possam expressar o máximo seu sabor. A adoção destas práticas, juntamente
com a polinização manual, permitirá a obtenção de produção e produtividade
que facilitarão a permanência do produtor no mercado.
PROPAGAÇÃO DA PITAYA
Como a pitaya pode ser propagada?
A pitaya pode ser propagada tanto por via sexuada – utilizando-se sementes,
quanto por via vegetativa. De maneira geral, a propagação por sementes só é
utilizada em programas de melhoramento genético, uma vez que quando a
planta é propagada desta forma temos, além de grande período improdutivo,
variabilidade genética, ou seja, a planta pode se assemelhar ao pai, à mãe, ou
a nenhum deles, e isto não é desejável em pomares comerciais, onde se busca
precocidade de produção e uniformidade. Desta forma, para instalação de
pomares, recomenda-se que a propagação seja feita por via vegetativa, sendo
a propagação por estaquia dos cladódios a mais utilizada.
Por que não é recomendável plantar uma única planta?
Não
se
recomenda
o
plantio
de
apenas
uma
planta
devido
à
autoincompatibilidade polínica que pode ocorrer em alguns genótipos. Essa
autoincompatibilidade faz com que a frutificação não ocorra ou possa estar
severamente reduzida. Desta forma, recomenda-se o plantio de ao menos dois
genótipos, para que uma planta seja polinizadora da outra.
O seu trabalho mostra que polinizadores diferentes podem produzir
resultados diferentes, portanto quais os clones que deveriam ser
utilizados?
A polinização da pitaya apresenta um fenômeno conhecido como metaxenia,
que é o efeito do grão de pólen sobre os tecidos do ovário, ou seja, nas
características dos frutos. Esses efeitos podem ser refletidos no tempo
requerido para o desenvolvimento do fruto, coloração, formato, tamanho e
sabor. Em trabalhos realizados na UNESP Jaboticabal, foi observada que a
polinização de plantas de pitaya vermelha de polpa branca (Hylocereus
undatus) com pólen de pitaya de polpa roxa (H. polyrhizus) resultou em frutos
com maior massa e menor acidez do que os frutos polinizados com pólen de
pitaya do cerrado (H. setaceus).
Comente sobre a propagação da pitaya por estaquia.
A propagação por estaquia é a forma mais fácil e barata de se propagar a
pitaya. Consiste no enraizamento de ramos inteiros ou segmentos de ramos,
podendo ser utilizado materiais resultantes da poda da planta. O tamanho do
ramo a ser utilizado depende da quantidade de material disponível e, mesmo
pequenos segmentos enraízam facilmente, não havendo necessidade de
serem tratados com reguladores de crescimento nem efetuar cura prévia das
estacas. A estaquia pode ser realizada em leitos de enraizamento contendo
areia ou em saquinhos plásticos com terra ou substrato. Depois de enraizadas,
as estacas dos leitos de enraizamento devem ser transplantadas para os
saquinhos plásticos, onde são mantidas até que as brotações alcancem 0,5 m
de comprimento, quando já podem ser levadas para plantio definitivo à campo.
Comente sobre a propagação por enxertia.
A enxertia é uma prática muito utilizada na fruticultura que permite que haja
união de características favoráveis entre as duas partes a serem unidas, como
vigor e tolerância a fatores bióticos e abióticos. Nas cactáceas, é realizada
principalmente em espécies ornamentais, utilizando-se a pitaya como porta
enxerto para espécies mutantes que não são capazes de efetuar a
fotossíntese. Apesar de não usual, a enxertia em pitaya pode ser uma
estratégia no manejo da pitaya amarela (H. megalanthus), espécie suscetível a
nematoides do gênero Meloidogyne. Trabalhos conduzidos na Colômbia
indicam que a pitaya vermelha é tolerante ao nematóide Meloidogyne incognita,
desta forma poderia ser utilizada como porta enxerto para a pitaya amarela.
Plantas de pitaya amarela, conduzidas no mesmo local. A que apresenta ramos
amarelados (seta) foi propagada por estaca, enquanto a outra é enxertada. À
direita, detalhe da região da enxertia.
A enxertia da pitaya pode ser feita em porta-enxertos previamente enraizados
ou não. Neste segundo caso, o enraizamento do porta-enxerto e a união da
enxertia ocorrem ao mesmo tempo, o que é vantajoso, em relação à enxertia
convencional, devido à economia de tempo na produção da muda, uma vez
que não é necessário um tempo maior em viveiro para a obtenção dos portaenxertos.
Em experimentos realizados pela UNESP Jaboticabal foi verificada que tanto a
utilização do método de enxertia por inglês simples quanto por fenda cheia
resultaram em sucesso no pegamento, sendo, o mais importante, que a área
enxertada seja totalmente protegida. A união do enxerto com o porta-enxerto
pode ser feita por fita biodegradável, fita parafilme e fita veda rosca, sendo esta
última uma opção interessante, pois além da facilidade de ser encontrada no
mercado, é de baixo custo.
Enxertia de pitaya do tipo fenda cheia, utilizando-se arame e parafilme para
proteção da região da enxertia
Enxertia de pitaya do tipo inglês simples, protegendo-se a região da enxertia
com fita veda-rosca
Comente sobre sistemas de condução da pitaya?
Por ser uma planta de hábito escandente, incapaz de se suportar por si só, a
pitaya necessita de tutoramento para seu cultivo. No Brasil são utilizados
principalmente tutores artificiais, sendo os mais comuns mourões de madeira e
postes de concreto. Também podem ser utilizados tutores vivos (árvores),
utilizando-se vegetação pré-existente (algum plantio perene abandonado) ou
plantando-se os tutores, porém essa prática não é comum no país.
Na escolha de um tutor, deve-se levar em conta a vida útil da pitaya e do tutor,
o custo e a manutenção, atentando-se que ele deve ser forte o suficiente para
aguentar a massa verde produzida pela pitaya. No caso da escolha de tutores
vivos, deve-se dar atenção às podas de condução e de abertura da copa, para
que o sombreamento não seja excessivo. A vantagem do uso de tutores vivos
é que não há necessidade do uso de tela de sombreamento, além de ser
possível seu aproveitamento em sistemas agroflorestais (SAF).
A pitaya produz, ao longo do tempo, grande quantidade de ramos que, somada
também aos frutos produzidos, resulta em grande quantidade de massa verde.
Caso o tutor não suporte a planta, pode haver queda e quebra da planta, como
pode ser observada na foto, resultando em prejuízo, em plena época de
produção.
Quando se utiliza tutores artificiais, estes devem ter entre 1,5 e 2,0 m acima do
nível do solo e possuir, na parte extremidade superior, um suporte para os
ramos da pitaya. Esse suporte pode ter formas e ser feito de diversos
materiais, como madeira, arame, bambu e até pneus velhos. É importante que,
no caso da utilização de arame, estes sejam cobertos com canos, para que não
danifiquem os ramos da pitaya. De modo geral, se cultivam de duas a quatro
plantas por tutor.
Cultivo comercial de pitaya na cidade de Taiaçu, SP, utilizando-se como tutor
mourão de eucalipto e como suporte madeira e arame coberto por tubulação
plástica.
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