Significados de câncer de próstata e aderência ao exame de toque retal para usuários do SUS e de serviços suplementares de saúde Bruna Suelen Raymundo Luz; Fabíula Carvalho Corrêa; Marcos Mesquita Filho. -Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVAS) Pouso Alegre-MG. RESUMO INTRODUÇÃO: O homem apresenta pequena adesão às medidas de prevenção do câncer de próstata, pois o toque retal é um procedimento que envolve preconceitos. OBJETIVO: Conhecer o significado para usuários do SUS e serviços de saúde suplementar de câncer de próstata e do toque retal. METODOLOGIA: Estudo do tipo qualitativo e exploratório. A partir de protocolo de dados sócio-demográficos e de saúde e de um questionário semiestruturado sobre os significados do câncer de próstata e do exame de toque retal, foram entrevistados 20 usuários do SUS e 20 de saúde suplementar. Foi utilizada a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. RESULTADOS: Os dois grupos foram semelhantes. Observaram-se preconceitos quanto ao autocuidado e desconhecimento da neoplasia. A principal idéia encontrada foi que ela é “doença que mata”. A maior parte informou que valia à pena preveni-lo para evitar complicações. A maioria (65%) já tinha se submetido ao toque retal alguma vez, por indicação médica. A razão informada para não gostar da realização do toque retal, foi “por vergonha”. CONCLUSÕES: A visão masculina sobre um procedimento rotineiro como o toque retal está impregnada por preconceitos sexistas e conceitos errôneos. É fundamental que sejam desenvolvidas ações educativas para superação de comportamentos equivocados e prejudiciais. Os discursos dos usuários do SUS e dos serviços suplementares foi semelhante. PALAVRAS-CHAVE: Neoplasias da Próstata, Saúde do Homem, Atenção Primária, Saúde Coletiva. ABSTRACT. INTRODUCTION: The man has little adherence to preventive measures of prostate cancer, because the digital rectal examination is a procedure that involves prejudice. OBJECTIVE: To understand the significance for users of SUS services and supplemental health of prostate cancer and rectal examination. METHODS: A qualitative and exploratory study. Using a socio-demographic and health questionnaire and a semi structured instrument on the meanings of prostate cancer and the digital rectal examination, were interviewed 20 users of SUS and 20 of supplementary health. The technique of Collective Subject Discourse was used. RESULTS: Both groups were similar. There are prejudices about self care and unknown about prostate cancer. The main idea was found that it is "a disease that kills." Most said it was worth it to prevent prevent complications. The majority (65%) had undergone the rectal ever medically indicated. The reason reported for most men do not like the realization of digital rectal examination, was "a shame". CONCLUSIONS: The male vision on a routine procedure as the digital rectal exams permeated by sexist prejudices and misconceptions. It is essential that educational activities are developed to overcome the mistaken and harmful behaviors. The speeches of SUS and supplementary services were similar. KEYWORDS: Men's Health, Prostatic Diseases, Primary Care, Public Health Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br INTRODUÇÃO A partir dos anos 1990 a temática de ações de atenção integral à saúde do homem começou a ser abordada sob uma nova perspectiva. A discussão passou a refletir, dentre outros aspectos, a singularidade do ser saudável e do ser doente entre segmentos masculinos1. Segundo o Ministério da Saúde a política de ações de atenção integral à saúde do homem, visa estimular o autocuidado e, sobretudo, o reconhecimento de que a saúde é um direito social básico e de cidadania de todos os homens brasileiros2. Em estudos comparativos, os homens são mais vulneráveis às doenças, sobretudo às enfermidades graves e crônicas, morrem mais cedo que as mulheres, recorrem menos aos serviços de atenção básica, internam-se mais gravemente e procuram a emergência quando já não suportam mais a doença 3. Além disso, os serviços e as estratégias de comunicação privilegiam as ações de saúde para a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, não havendo um serviço especializado para os homens2,4. Outra explicação para a não busca de cuidados médicos por parte dos homens é a vergonha de ficar exposto a outro homem ou a uma mulher4. Estes aspectos dificultam a promoção de medidas preventivas. Entre elas, podemos focalizar a atenção para a prevenção do câncer de próstata5. No Brasil, o câncer de próstata é um grave problema de saúde pública. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA)6, as altas taxas de incidência e a mortalidade dessa neoplasia fazem com que o câncer de próstata seja o segundo mais comum entre a população masculina, sendo superado apenas pelo câncer de pele não-melanoma5. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia - SBU7, um em cada seis homens com idade acima de 45 anos pode apresentar a doença de maneira assintomática. Por isso recomenda que todos os homens acima de 50 anos e aqueles de 40 anos ou mais com histórico familiar de câncer de próstata devem “anualmente comparecer ao urologista para check-up da próstata”, mesmo na ausência de sintomas urinários8. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) 6 recomenda que seja realizado o rastreamento oportunístico (case finding), ou seja, a sensibilização de homens com idade entre 50 e 70 anos, que procuram os serviços de saúde por motivos outros que não o câncer da próstata, sobre a possibilidade de detecção precoce deste câncer [...]8. A triagem, para detecção precoce do câncer de próstata, em indivíduos sem sintomas é feita através do toque retal e do teste PSA (antígeno prostático específico) sérico anuais, a partir de 50 anos de idade9. O toque retal é, relativamente, uma medida preventiva de baixo custo. No entanto, é um procedimento que mexe com o imaginário masculino, afastando inúmeros homens da prevenção do câncer de próstata10. Nesse sentido, mesmo tendo consciência dos possíveis problemas, nem sempre os profissionais de saúde envolvidos na prevenção deste agravo estão devidamente preparados para lidar com os aspectos simbólicos envolvidos nessa prevenção. Pode-se dizer isso não só para aqueles que realizam o toque retal, mas também para aqueles que planejam as campanhas de prevenção5. O objetivo deste estudo foi conhecer o significado para homens de 45 a 70 anos, do câncer de próstata e da sua prevenção por toque retal, comparando os discursos de usuários exclusivos do SUS com os dos que utilizam exclusivamente os serviços suplementares de saúde. Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br MÉTODOS Delineamento: Estudo do tipo transversal, qualitativo, descritivo e exploratório. Cenário do estudo: Os entrevistados foram abordados em locais onde existe a freqüência de homens, como: ruas, igrejas, serviços de saúde, academias, supermercados, e outros na cidade de Pouso Alegre-MG. População de estudo: Homens de 45 a 70 anos, usuários exclusivos do SUS ou dos Serviços Complementares de Saúde. Amostra: Composta por 40 homens, 20 usuários exclusivos do SUS e 20 que utilizam exclusivamente os serviços complementares de saúde. A amostragem foi do tipo não probabilística. Critérios de inclusão: a) Aceitar participar da pesquisa e assinar ou realizar impressão digital do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); b) Ser do sexo masculino; c) Estar na faixa etária de 45 a 70 anos; d) Ser usuário exclusivo do SUS ou de Serviços Suplementares de Saúde. Instrumentos: Foram utilizados dois instrumentos: 1) Instrumento de perguntas fechadas para coleta de dados Sociodemográficos e Clínicos: Características pessoais dos entrevistados: idade, etnia, estado civil, escolaridade e religião; Doenças existentes e pregressas; passado ou historia familiar de câncer de próstata; História Social: tabagista, etilista, se realiza atividade física e o valor de sua renda. 2) Questionário semi-estruturado composto por 4 perguntas abertas a respeito dos significados do câncer de próstata e da aderência aos exames para sua prevenção: 1. O que é para o Sr o Câncer de Próstata? 2. Vale à pena prevenir o Câncer de próstata? Por quê? 3. O Senhor já fez o exame preventivo do tipo toque retal para o Câncer de próstata? Por quê? 4. Por que a maioria dos homens não gosta de fazer o exame de toque retal? Procedimentos: Em um local previamente escolhido e preparado, que respeitou a privacidade do pesquisador e do pesquisado, o entrevistador solicitou a anuência do entrevistado, explicando-lhe que suas respostas seriam gravadas e que na finalização do trabalho estas gravações seriam apagadas para preservação do sigilo do entrevistado. Havendo a concordância de participação o sujeito deverá assinar ou deixar sua impressão digital no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Em seguida foi aplicado o questionário Sociodemográfico e Clínico e por último foram feitas as perguntas abertas. Durante a entrevista o entrevistador deixou o entrevistado à vontade, mantendo a informalidade e não realizou gestos de concordância ou discordância, para não criar qualquer indução ao sujeito entrevistado11. Depois de realizadas todas as entrevistas, perfeitamente gravadas, os discursos foram transcritos em arquivos do programa computacional Word. Posteriormente foram apagadas as gravações, respeitando o sigilo absoluto dos pesquisados. Tabulação e Análise de dados: Foi construído um banco de dados através do programa computacional Excel para os dados sociodemográficos e de saúde. Estes foram analisados Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br através de procedimentos de estatística descritiva. Para as variáveis numéricas utilizou-se de média, mediana e desvio padrão e para as categóricas proporções. As entrevistas dos dois grupos foram tabuladas e analisadas separadamente, de acordo com a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), segundo a metodologia proposta por Lefèvre11. De acordo com as diretrizes do DSC, foram adotadas neste trabalho três figuras metodológicas: Expressão – Chave (ECH), Idéia-Central (IC) e Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Para análise dos dados foi seguida rigorosamente, a ordem das seguintes etapas: 1a Etapa: Completo conhecimento dos dados originários do gravador que foram ouvidas várias vezes até que se obtivesse uma idéia panorâmica e melhor compreensão das falas. A partir dos discursos, foi realizada a transcrição literal dos mesmos em arquivos do programa computacional Word. As entrevistas foram gravadas e arquivadas, sob os cuidados dos pesquisadores, e posteriormente, foram deletadas. 2a Etapa: a- Foi realizada a leitura da entrevista de cada sujeito na sua totalidade; bCada resposta foi lida isoladamente, ou seja, a de número um de todos os respondentes, a segunda em seguida, depois a questão três e por último a questão quatro; 3a Etapa: Após leitura integral do conteúdo de todas as respostas inerentes à questão um de cada respondente, foi aplicado do Instrumento de análise de Discurso 1 (IAD1), representando as Expressões Chave (ECH), que são trechos do discurso que revela a essência do depoimento, encontradas em itálico ou sublinhas. De posse das ECHs e após a leitura de cada uma, foram identificadas as Idéias Centrais (IC), que descreve de uma maneira mais sintética e fidedigna possível, o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de ECH, que formaram posteriormente o DSC11. Este mesmo procedimento foi realizado em seguida com todas as demais questões que compõem o trabalho, de cada individuo dos dois grupos entrevistados. 4a Etapa: Foi elaborado o Instrumento de Análise do Discurso 2 (IAD2), que representará separadamente, cada IC com suas respectivas ECHs, semelhantes ou complementares. 5a Etapa: Finalmente, foi construído o discurso coletivo para cada agrupamento realizado no IAD2. Torna-se necessário sequenciar as ECHs de cada grupo formado, obedecendo a uma esquematização que deve conter começo, meio e fim. A ligação das ECHs foi feita com o uso de conectivos gramaticais, mantendo a coesão do discurso. Não houve particularismos e repetições de idéias, exceto quando expressa de modos ou expressões distintas11. Segundo Lefèvre11: “O DSC será enunciado em primeira pessoa do singular, justamente para sugerir uma pessoa coletiva falando como se fosse um sujeito individual de discurso.” 6ª Etapa – Cada discurso foi analisado buscando-se seu significado e confrontando-o com a literatura disponível sobre o assunto. Os discursos foram analisados de modo a responder as questões da pesquisa. Ética do Estudo: O estudo obedeceu aos preceitos contidos na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Vale do Sapucaí. Todos os participantes manifestaram sua anuência em participar do estudo com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br RESULTADOS Os dois grupos apresentaram homogeneidade para as variáveis sociodemográficas e de saúde. A média de idade foi de 59,7 anos com Desvio padrão (DP) de 7,7 e mediana de 60. As informações a respeito das características da amostra se encontram na Tabela 1. Tabela 1- Dados sociodemográficos e de saúde dos indivíduos entrevistados. VARIÁVEL Cor Branco Não Branco Estado civil Casado Outros Escolaridade Analfabeto De 1 a 4 anos De 5 a 8 anos Mais de 8 anos Religião Não tem Católica Evangélica Está doente Não Sim Câncer de próstata Não Sim Sintomas urológicos Não Sim Medicação Não Sim Vida sexual ativa Não Sim Consulta anual ao urologista Não Sim Toque retal Não Sim PSA Não Sim Última consulta Não se lembra Igual ou menor a 6 meses Mais de 6 meses Tipo de consulta Não lembra Clínico geral - rotina Especialista Tabagismo Não Sim Etilismo Não Sim Atividade Física Não Sim Renda Não tem Um salário mínimo 2 a 3 salários mínimos Mais de 3 salários mínimos FREQUÊNCIA 36 4 31 9 6 10 9 15 7 30 3 7 33 30 10 30 10 13 27 12 28 22 18 15 25 6 34 11 25 4 5 21 14 32 8 33 7 27 13 2 17 8 13 PERCENTAGEM 90,0 10,0 77,5 22,5 15,0 25,0 22,5 37,5 17,5 75,0 7,5 17,5 82,5 75,0 25,0 75,0 25,0 32,5 67,5 30,0 70,0 55,0 45,0 37,5 62,5 15,0 85,0 27,5 62,5 10,0 12,5 52,5 35,0 80,0 20,0 82,5 17,5 67,5 32,5 5,0 42,5 20,0 32,5 Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br Para cada questão aberta foram apresentadas algumas Ideias Centrais (IC) que deram origem aos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) a seguir. QUESTÃO 1: O que é para o Sr o Câncer de Próstata? IC1- Doença ruim (SS1, SS4, SUS4, SUS10, SUS18, SUS19) DSC: É câncer é uma doença horrível, muito ruim né?! Pra mim, é uma feição muito ruim, devemos sempre lembrar que qualquer um esta sujeito a ter, por isso, sendo necessário prevenir. IC2- Doença que mata (SS1, SS4, SS13) (SUS5, SUS9, SUS11, SUS13, SUS15, SUS19) DSC: O câncer de próstata é uma doença com risco de morte. De certo é uma doença que mata! Segura muita gente. É uma coisa de mortandade, acaba... levando-o a morte. IC3- Não sei (SS7, SS9, SS20, SUS1, SUS3, SUS 6, SUS7, SUS13) DSC: Não sei falar. Eu desconheço a respeito. Antes não tinha essas coisas! Acho que nunca falaram nada não, o médico nunca falou nada não. Sei lá o que é. De câncer de próstata eu não entendo é nada. Já tive e não entendo, porque não dói, não faz nada. É uma doença! IC4- É um tumor (SS3, SS5, SS6, SS17, SUS5, SUS8, SUS20) DSC: O que que é? É um tumor que da na próstata. Eu penso que é um tumor de células. É um tumor neh?! É igual um câncer mesmo, é um tumor lá e acaba...matando! É uma doença neoplásica, que no início pode ser curada. Ah, é um crescimento das glândulas da próstata, que quando saem fora do padrão viram o câncer. Para mim, bem, é um tumor que cresce na próstata e que quando cresce, comprime todos os órgãos. Ureter, bexiga, bem... Já acompanhei alguns casos porque trabalho na área da saúde. Só isso que eu sei. 1C5- Uma doença incurável (SS2, SS4, SS10, SS15) DSC: Não há de ser uma coisa incurável? Perigosa! é uma doença incurável! Eu penso que é uma doença irrecuperável. IC6- Causa vários problemas no organismo (SUS1, SUS2, SUS8, SUS9, SUS13, SS12) DSC: Para mim é uma doença que dá no organismo, na barriga da gente que brocha o homem, emagrece, tira todo o animo, acaba com a saúde física e mental. Eu acho que é um câncer que dá, como é que fala, uma doença que vai dar ali no testículo, uma infecção que dá no canal da uretra, na próstata, né? É uma inflamação que transforma, e em vez de sair, ele sobre, e vai para a bexiga e para os órgãos internos, acabando com tudo. IC7- Coisa perigosa (2, 8, 11, 19) DSC: O que é? Não há de ser uma coisa perigosa?! Nossa... acho que é uma coisa muito perigosa! Câncer de próstata...é perigoso!! É um perigo para a saúde que tem que ser cuidado. IC8- Doença que é preciso se fazer o tratamento 3 (3, 14, 16) DSC:O que que é? Eu entendo, eu acho, eu penso que tem que tratar, mas eu nunca tive. Ah, não sei falar bem...acho que é uma doença que atinge os homens. É uma coisa que deve tratar o mais rápido, para curar rápido e ter mais chances, né?! Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br IC9-Doença comum na maturidade (SS17, SS18) DSC: Comum na maturidade. IC10- Câncer de maior incidência no homem (SS12) DSC: Ele é um dos tipos de câncer de maior incidência no sexo masculino. IC11- Doença que preocupa o homem (SS14) DSC: Sabe, é o câncer que preocupa o homem. IC12- Doença hereditária (SS16) DSC: Uma doença, ah... uma doença hereditária. IC13- Doença grave (SS17) DSC: É uma doença grave! IC14- Doença que precisa ser prevenida (SS18) DSC: Que devemos sempre lembrar que qualquer um esta sujeito a ter, por isso, sendo necessário prevenir. QUESTÃO 2- Vale à pena prevenir o Câncer de próstata? Por quê? IC1- Porque é melhor prevenir para evitar complicações (SS19, SS11, SS16, SS7, SS6, SS5, SS4, SS3, SS2, SS1, SS 10, SUS3, SUS4, SUS5, SUS6, SUS7, SUS8, SUS9, SUS10, SUS11, SUS12, SUS14, SUS17, SUS18, SUS19) DSC: Vale muito à pena. Porque quanto mais cedo achar, detectar o problema mais cedo, mais fácil de tratar, mais rápido consegue a cura também. Esta doença pode ser curável em estágios iniciais. Porque quando descoberto no início, existe tratamento com alto índice de cura. Fazendo os exames, pode evitar, sendo melhor do que ficar pior depois, prefiro isto do que curar.Compensa prevenir, é melhor prevenir do que remediar! Porque prevenindo você ta sabendo o que ta acontecendo, ele é curado antes.. Porque o câncer, no inicio ainda é silencioso, quando você descobre, a coisa já ta feia! Vale, porque já vi gente que descuidou e quando foi vendo nao teve recurso mais, não preciso operar, nem nada mais. Depois que eu vi um colega de profissão morrendo com esse problema. Ele era alto, 1,80m, gordo e forte e chegou a ficar mais ou menos com uns 30 quilos, foi muito triste ver o fim dele. porque o mal é que ela pode causar pode ser muito grande e irreversível. IC2- Porque é importante (SS20, SS18, SS9, SUS20) DSC: Sim, nossa, claro...importantíssimo! Como qualquer câncer a gente tem que acabar com esse também. Acho. Porque precisa, é muito importante. IC3- Para ficar tranqüilo depois (SS8, SUS13) DSC: Vale muito a pena... Porque pode ficar tranqüilo depois. Porque para ter uma vida mais saudável e não ficar sofrendo. IC4- Porque o câncer pode matar (SS17, SS14, SS20) DSC: Vale a pena sim. Porque se você descuidar e aparecer um câncer você está praticamente liquidado. Porque a gente pode morrer. Ah, é perigoso né?! Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br IC5- Para não deixar para a família (SUS16) DSC: Sim, Pra eliminar o câncer, e não deixar para a família e para os futuros filhos. IC6- Para aumentar a sobrevida (SUS15) DSC: Vale sim, para aumentar a sobrevida. IC7- Porque é necessário atender ao médico (SS12) DSC: Sim. Tem que fazer quando o médico pede. IC8- Porque todo mundo fala que tem que fazer. (SUS1) DSC: Sim, porque todo mundo fala que tem que fazer, e todo mundo ta com isso agora. Antigamente não se falava isso, hoje eu ate ouvi no rádio... IC9- Não sei (SS13) DSC: Não sei te dizer... vale, né? IC10- Para o próprio bem (SS10, SUS2) DSC: Sim. Para o bem pessoal. Vale a pena. Porque da o bem pra você. IC11- Não vale a pena (SS15) DSC: Acho que não vale a pena prevenir o câncer de próstata. Porque a gente fica com medo dos resultados, quando vai ao médico você sai com um tanto de doença que antes não tinha. QUESTÃO 3: O Senhor já fez o exame preventivo do tipo toque retal para o Câncer de próstata? Por quê? IC1- Porque o médico disse que era importante (SS20, SS18, SS15, SS12, SS10, SS9, SS6, SS5, SS3, SS2, SUS7, SUS9, SUS10, SUS13, SUS19) DSC: Ah, é que eu tava indo no banheiro e não conseguia fazer xixi, ai o médico falou que era importante né?! Foi pra saber... pensava que era de próstata. Porque o médico achou que fosse mais viável. Com mais certeza é as vezes mais importante que o exame de sangue. Na consulta, o médico quis saber o que tava acontecendo na próstata. Porque... uai, porque o medico pediu! IC2 – Porque não precisou (SS13, SS11, SS7, SS1, SUS4, SUS5, SUS8, SUS15, SUS16, SUS17, SUS18) DSC: Nunca fiz. Porque ainda não precisou, não foi necessário, eu não sentia nada. Nunca precisei e não fui atrás. Não tive a oportunidade, é só em casos extremos que é feito, e tem uma evolução A medicina que faz ultrassom e exame de sangue primeiro, e só em casos extremos que precisa do toque. Pretendo iniciar aos 50 anos. IC3 - Para Prevenção (SS15, SS17, SS8, SS20, SS19, SS16, SS14, SS4, SUS3, SUS6, SUS11, SUS14, SUS20). DSC: Sim. Não sei, acho que pra prevenir, estava na hora e eu fiz numa boa.. Já fiz, pra ver como que tava o desenvolvimento, ver se não tinha nenhum problema. Justamente para ver o tamanho que estava. Geralmente o médico vê o tamanho da próstata pelo toque, confirma com o PSA e depois pedem o Ultra som. No meu caso, fez o toque, achou que a próstata tava grande, fez o Ultra som e deu a inflamação. Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br IC4 - Para ver se não tinha algum problema (SS19, SS14, SS16, SS4, SS8) DSC: Já fiz. De câncer não. Fiz o toque, mas não de câncer. Tive que ir no médico...aquele lá...é, urologista. Tava urinando muitas vezes à noite. Ai foi lá que eu fiz. Fiz pra ver se eu tinha algum problema no canal. O medico tava com suspeita de câncer. IC5 - Não, porque ninguém pediu. (SUS2) DSC: Não, ninguém falou nada... IC6 - Não, por falta de cuidado. (SUS1) DSC: Não, por falta de cuidado. IC7 - Não, porque não me agrada (SUS12) DSC: Não. Porque não me agrada a me submeter neste tipo de teste. QUESTÃO 4 - Por que a maioria dos homens não gosta de fazer o exame de toque retal? IC1- Por Vergonha, constrangimento (SS13, SS17, SS16, SS14, SS13, SS12, SS11, SS6, SS4, SS2, SS1, SUS7, SUS9, SUS12, SUS14, SUS19) DSC: Acho que eles tem vergonha! Tem muito que é bobo, tem vergonha. Ah, eu não vou tirar roupa na frente do médico, tem mais gente junto...o que é melhor, fazer exame ou morrer da doença? Ai.....por acanhamento Pelo constrangimento. Porque este exame é constrangedor e deveria haver outros exames para o diagnostico como por exemplo, os de imagens.! Eles ficam com cerimônia, pensam que é bobagem, isso é muita malícia, isso sim. Não sei se é vergonha, mas nós não gostamos. Depois que passou a ser feito alterações dos exames de sangue ficou mais confortante. IC2- Por machismo e educação que receberam (SS10, SS5, SS3, SUS2, SUS3, SUS9, SUS14, SUS15, SUS16, SUS17, SUS19, SUS28) DESC: Ahhh.....machismo demais! Os homens que não gostam, acho que por machismo, pela educação que tiveram e que recebem por ai..., puro machismo! Haha...porque ele é machão! Tem muito que não aceita mesmo. Não sei se é por machismo, mas nós não gostamos. São por vários motivos, hombridade, por a masculinidade em prova. Acredito por ser um problema cultural. é um desafio cultural que devemos entender. Eu acho que mudou isso, depois que passou a ser feito alterações dos exames de sangue ficou mais confortante. : Muitos eu ouvi comentar, mas nunca falaram o motivo porque não gosta, mas a maioria não gosta destas coisas. Eu pensava assim, o exame parece meio nojento.. IC3- Por preconceito (SS18, SUS1, SUS5, SUS8, SUS11) DSC: Por preconceito, puramente por preconceito, mas na hora do aperto vai né?! Os homens não gostam de fazer porque são preconceituosos. IC4- Por ser ruim (SS20, SS10) DSC: De fato, é muito ruim, pior que é o exame é câncer. Alias, eu nunca tomei um remédio gostoso e nunca fiz um exame também que de alguma forma não me desagradasse. Este é o custo para se ter saúde. IC5- Por ser desconfortável (SS15, SS9, SUS17) Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br DSC: Porque acham desconfortável. Risos....é desconfortável demais! Acho que por isso! IC6- Por medo (SS15, SS7, SUS14,) DSC: Porque tem medo do resultado. Os homens não gostam de ir ao médico, porque tem medo de doença! Os homens tem receio... IC7- Por bobeira (SS19, SS13) DSC: Eu acho que é bobeira, bobeira ué... porque tem que deixar a inibição de lado um pouco e cuidar da saúde. IC8- Por falta de conhecimento (SS11) DSC: Por falta de conhecimento... IC9- Porque é chato (SS16) DSC: Ah, é chato né?! Chato até de falar... IC10- Não é nada engraçado (SUS4) DSC: Porque levar o dedo naquele lugar é nada engraçado não...risos..... 1C11- Desconhecer a importância (SUS6) DSC: Porque eles desconhecem a importância. IC12- Desagradável (SUS13) DSC: Ah.... é uma coisa meio desagradável, muita gente é preconceituoso e não vai mesmo, prefere morrer do que fazer. DISCUSSÃO Neste estudo foi dada voz aos homens para que se buscasse compreender as questões envolvidas no significado do câncer de próstata e da sua prevenção por toque retal. Foram comparados os discursos de usuários exclusivos do SUS com os dos que utilizam exclusivamente os serviços suplementares de saúde. A preocupação com a saúde do homem tem sido deixada de lado e só recentemente vem sendo motivo de pesquisas e debates3. Em relação à primeira pergunta: O que é para o senhor o câncer de próstata? As principais idéias centrais encontradas foram: Doença que mata e Não sei. Entre o grupo de SS, chamou-se atenção para uma idéia central, sendo a mais comum entre este grupo: É Uma Doença Incurável. Este desconhecimento da doença e até mesmo seu conceito errôneo pode ser explicado pelo fato do homem ter dificuldade de aceitar a doença física, considerando-a como um sinal de fragilidade2 e por outro lado, os serviços e as estratégias de comunicação privilegiam as ações de saúde para a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, não havendo um serviço especializado para os homens2,4. A importância em mudar estes conceitos sobre câncer de próstata, principalmente entre a população masculina, esta baseada na alta incidência e mortalidade dessa neoplasia, fazendo com que o câncer de próstata seja o segundo mais comum entre a população masculina, sendo superado apenas pelo câncer de pele não-melanoma5,6, tornando-se um grave problema de saúde pública. Ao ser questionado: Vale a pena prevenir o câncer de próstata? Por quê? A maioria disse que sim, para evitar complicações. Neste momento, foi possível observar a existência da noção da gravidade da doença, mas por considerá-la como um sinal de fragilidade2, somente recorrem ao serviço de Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br saúde em situações extremas e de emergência3. Os homens têm medo de buscar um diagnóstico precoce para o câncer prostático muitas vezes por associar o câncer à morte12. Entre os entrevistados, 65% haviam realizado exame de toque retal alguma vez, e o principal motivo foi: “Porque o médico indicou”. A partir desta idéia central, observa-se a grande importância do papel dos profissionais da saúde neste contexto, mostrando que ainda existe uma relevante credibilidade ao médico e às suas condutas. Nesse sentido, mesmo tendo consciência dos possíveis problemas, nem sempre, os profissionais de saúde estão devidamente preparados para lidar com os aspectos simbólicos envolvidos nessa prevenção. Pode-se fazer esta afirmativa não somente a rspeito daqueles que realizam o procedimento, mas também para os que atuam em todos os níveis do Sistema de Saúde inclusive os responsáveis pelas definições das políticas públicas do setor5. Não há uma época ideal para iniciar o rastreamento do câncer de próstata. O Instituto Nacional de Câncer (INCA)6 recomenda que seja realizado o rastreamento em homens de 50 e 70 anos que procuram os serviços de saúde por motivos outros que não o câncer da próstata sobre a possibilidade de detecção precoce deste câncer. Além disso a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)7, por sua vez, recomenda que os homens que têm acima de 50 anos e os que têm 40 anos, com histórico familiar de câncer de próstata, pensem na possibilidade de “ir anualmente ao urologista para fazer check-up da próstata”, mesmo que não tenha sintomas urinários8. Alguns homens nunca haviam se submetido ao toque retal, e alguns afirmaram já ter realizado o PSA, sem toque. O DSC formado por estes entrevistados, demonstra o além de descaso e desconhecimento pela prevenção do câncer de próstata, uma provável posição de desinformação e desinteresse que mascaram o preconceito e o medo: Nunca fiz. Porque ainda não precisou, não foi necessário, eu não sentia nada. Nunca precisei e não fui atrás. Não tive a oportunidade, é só em casos extremos que é feito, e tem uma evolução A medicina que faz ultrassom e exame de sangue primeiro, e só em casos extremos que precisa do toque. Pretendo iniciar aos 50 anos. A triagem para detecção precoce do câncer de próstata em indivíduos sem sintomas deve ser feita pelo toque retal e pelo teste PSA (antígeno prostático específico) sérico anuais a partir de 50 anos de idade9. A grande parte dos homens que associam o Câncer de Próstata à morte e a outros fatores negativos e reconhecem a importância do toque retal, da prevenção, mas não a praticam ou se constrangem com isto. Estes aspectos dificultam a promoção de medidas preventivas. Quando questionados sobre a razão da maioria dos homens não gostar de fazer o exame de toque retal, a principal idéia central levantada nos dois grupos foi por vergonha. Uma explicação para a não busca de cuidados médicos por parte dos homens é a vergonha de ficar exposto a um outro homem ou a uma mulher4. Segundo Gomes: “O toque retal, não pode ser visto apenas como um exame físico que pode diagnosticar precocemente o cancêr de próstata, ele é um procedimento que mexe com o imaginário dos homens, toca em aspectos simbólicos do ser masculino que, se não trabalhados, podem não só inviabilizar essa medida de prevenção secundária como também a atenção à saúde do homem em geral12,10. Os homens, independente do seu grau de escolaridade, partilham de sentidos comuns que são construídos por influência do imaginário social. Seguindo esse raciocínio, observamos que o exame de toque retal pode suscitar interdições, violações e excitação.” Nesse sentido, o toque retal não toca apenas a próstata, mas também toca na masculinidade, podendo arranhá-la12. CONSIDERAÇÕES FINAIS Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br A visão masculina sobre um procedimento simples e rotineiro como o toque retal está impregnada por preconceitos sexistas que constrangem ao sujeito na busca da defesa de sua saúde. Além disto, seus conceitos sobre a doença são errôneos. O fato de ser usuário do Sistema Público ou do Suplementar não resultou em visões diferenciadas quanto ao significado e à adesão ao exame de próstata. O preconceito foi idêntico entre usuários dos dois sistemas de saúde. É fundamental que sejam desenvolvidas ações educativas a curto e a longo prazo, em todas as faixas etárias visando a mudança e a superação de comportamentos equivocados extremamente prejudiciais. REFERÊNCIAS 1. Gomes R, Nascimento EF. Public health research output related to males and health: a bibliographical review. Cad. Saúde Pública. 2006; 22(5):901-11. 2.Brasil. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral a saúde do homem: princípios e diretrizes, nov. 2008. [online]. Avaiable from URL <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2008/PT-09-CONS.pdf.> 3.Braz M. The construction of the masculine subjectivity and its impact on man’s health: bioethics reflection on distributive justice. Ciênc Saúde Coletiva, 2005; 10(1):97-104. 4.Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Why do men use health services less than women? Explanations by men with low versus higher Education. Cad Saúde Pública. 2007; 23(3):56574. 5.Gomes R. A discussion about masculine sexuality and men’s health. Ciênc Saúde Coletiva. 2003; 8(3):825-9. 6.Instituto Nacional de Câncer. Programa Nacional de Controle do Câncer da Próstata: documento de consenso. Rio de Janeiro: INCA; 2002. 7.Sociedade Brasileira de Urologia. Doenças da próstata: vença o tabu. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Urologia; 2003. 8.Gomes, R. The touched masculinity: a discussion about the digital rectal exam for prostate cancer prevention. Ciênc Saúde Coletiva. 2008; 13(6):1975-84. 9.Miranda PSC, Côrtes MCJW, Martins ME, Chaves PC, Santarosa RC. Práticas de diagnóstico precoce de câncer de próstata entre professores da faculdade de medicina – UFMG. Rev Assoc Med Bras. 2004; 50(3): 272-5. 10.Vieira LJES, Santos ZMSA, Landim FLP, Caetano JA, Sa Neta CA. Prevenção do cancer de prostate sob a ótica do usuário portador de hipertensão e diabetes. Ciênc Saúde Coletiva. 2008; 13(1):145-52. 11.Lefèvre F, Lefèvre AMC. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: EDUCS; 2005. Convibra Saúde – Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção da saúde saude.convibra.com.br 12.Gomes R, Rebello LEFS, Araújo FC, Nascimento EF. Prostate cancer prevention: a review of the literature. Ciênc Saúde Coletiv., 2008; 13(1):235-46. 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