1 A FÍSICA E O UNIVERSO Todos os conteúdos apresentados neste texto se encontram disponíveis em www.hugo.pro.br/astronomia.htm, com pequenas adaptações para se adequar ao formato de hipertexto e com recursos adicionais. Sumário Apresentação 3 Aos alunos (e a todos os interessados em conhecer o universo) 3 Aos professores de física do ensino médio 5 Unidade 1 – Qual é o tamanho do universo? 7 1. Olhando para o céu 7 2. O Sistema Solar – noções básicas 9 3. O Sistema Solar – comparando tamanhos 10 4. As estrelas - comparando tamanhos 13 5. Tamanhos reais e aparentes 16 6. Distâncias astronômicas 19 7. Como conhecemos as distâncias astronômicas? 22 8. Sistemas planetários 24 9. Vida fora da Terra 26 10. A Via Láctea 29 11. O universo 31 12. Referências e créditos 33 13. Respostas das questões 35 Unidade 2 – Os corpos celestes se movimentam? 36 1. Os movimentos vistos no céu 36 2. O lugar da Terra no universo 41 2 3. Movimentos no Sistema Solar 42 4. Movimentos da Terra e da Lua 45 5. Entendendo os movimentos no céu 48 6. Por que não sentimos os movimentos da Terra? 51 7. “Em cima” e “embaixo” no espaço 53 8. As leis dos movimentos 56 9. A Lei da Ação e Reação e os ônibus espaciais 58 10. A Lei da Inércia e os ônibus espaciais 61 11. A Lei da Inércia no espaço e na Terra 64 12. O Princípio Fundamental da Dinâmica e os ônibus espaciais 66 13. A Lei da Gravitação Universal 69 14. O que é um satélite 72 15. Por que os satélites não caem na Terra? 73 16. Tudo no universo se movimenta 77 17. Referências e créditos 80 18. Respostas das questões 83 3 Apresentação Aos alunos (e a todos os interessados em conhecer o universo) A física é uma ciência que estuda os mais diversos fenômenos observados em nosso dia-a-dia, como a queda de uma maçã de uma árvore, a ebulição da água em uma chaleira, um raio em um dia chuvoso etc. A física também se propõe a responder a perguntas que despertam nossa curiosidade, como por exemplo, “como os aviões e pássaros permanecem no ar?”, “por que o céu é azul?”, “como funcionam os vários tipos de televisões?”. Nos textos a seguir, a física é apresentada de uma forma um pouco diferente da que costumamos encontrar em livros didáticos. A física é utilizada como uma espécie de FERRAMENTA, para nos ajudar a responder a questões do nosso interesse. Uma das atividades que mais fascinaram o homem ao longo de toda a sua história foi a observação do céu. E a partir dessas observações surgiram muitas questões: “por que ocorrem eclipses?”, “do que são formadas as estrelas?”, “de onde surgiu o universo?”, “existe vida fora da Terra?”. Apesar de essas questões atualmente serem estudadas com mais profundidade por astrônomos, através da ciência conhecida como astronomia, suas respostas também exigem muitos conhecimentos de física. A Terra fotografada da superfície da Lua, a 384 000 km de distância, em 1969. Até hoje, esse foi o local mais distante da Terra que um ser humano já pisou. Entretanto isso nunca impediu o ser humano de se perguntar sobre o que existe além. (Imagem obtida em http://educar.sc.usp.br/licenciatura/1999/missao.htm.) 4 Nos textos a seguir, veremos como a física e a astronomia se unem para nos revelar o que existe no universo e explicar o seu funcionamento. Veremos também como o homem se utiliza desses conhecimentos para desenvolver tecnologia, colocando satélites em órbita, mandando robôs para Marte etc. A quantidade de temas sobre o universo é quase tão grande quanto o próprio universo. Por isso, pelo menos por enquanto, vamos estudar apenas dois temas principais, divididos em dias unidades: Unidade 1 – Qual é o tamanho do universo? Nessa unidade, teremos uma visão geral de nosso “endereço” dentro do universo como um todo. Veremos que nosso Sistema Solar, tão estudado nas aulas de ciências, é apenas um pequeno cantinho de nosso universo. Unidade 2 – Os corpos celestes se movimentam? Nesta unidade, vamos entender como ocorrem e porque ocorrem os movimentos no universo, desde o movimento do nascer e pôr do Sol até movimentos de foguetes espaciais. Vamos entender, por exemplo, que nem todos os movimentos que vemos é o que achamos que vemos, e que nem tudo o que sobe desce. Ao longo da leitura, você verá muitos conceitos que estudou ou irá estudar em suas aulas de física, como velocidade, referenciais, forças, leis de Newton etc. Espero que este material contribua para despertar um maior interesse por esta disciplina tão incompreendida... Rio de Janeiro, janeiro de 2012. Hugo Henrique 5 Aos professores de física do ensino médio Este material é produto de uma dissertação de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática do CEFET/RJ, realizado por mim com orientação do professor Sérgio Duarte. A ideia do projeto é disponibilizar um material motivador para os alunos, apresentando conceitos de física dentro do contexto da astronomia e astronáutica, que possa enriquecer as aulas de física de acordo com a realidade de cada rede de ensino, sem que para isso sejam necessárias grandes mudanças curriculares. O material é dividido em duas unidades, descritos sucintamente na apresentação aos alunos. Vamos descrevê-las novamente, focando agora na contribuição de cada unidade ao ensino de física. Unidade 1 – Qual é o tamanho do universo? O objetivo desta unidade é apresentar uma espécie de “mapa do universo”, desde a Terra até os aglomerados de galáxias. Essa unidade inclui conceitos de física tradicionalmente conhecidos como “introdução à física”, como unidades de medida, escalas de tamanho e distância etc. Ela pode ser utilizada como uma introdução ao estudo de física ou apenas como uma introdução à Unidade 2. Unidade 2 – Os corpos celestes se movimentam? Nesta unidade, discute-se questões sobre movimentos de corpos celestes, desde os movimentos vistos a olho nu no céu até os movimentos de galáxias. Também discute-se exemplos de movimentos dentro da astronáutica, como as órbitas de satélites e lançamentos de foguetes espaciais. Os movimentos discutidos são trabalhados tanto do ponto de vista da cinemática (referenciais, velocidade, trajetória etc), quanto da dinâmica (forças e leis de Newton), utilizando quase que exclusivamente a Mecânica Clássica. É, portanto, uma unidade apropriada para ser inserida em cursos de mecânica do ensino médio. Estas unidades foram aplicadas por mim em uma turma de física de segundo ano do ensino médio noturno, da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, ao longo de todo o primeiro bimestre do ano letivo de 2010. Nessa ocasião, foram necessárias 5 aulas de 80 minutos para a aplicação de todo o conteúdo. Considerando que o texto possui um total de 27 seções, isso nos dá uma média de 5 ou 6 seções por aula. 6 Apesar de, a princípio, o material possa parecer muito grande para 5 aulas, o texto se estende apenas para se tornar mais preciso. Não devemos nos esquecer que o objetivo não é o ensino de astronomia, mas sim a motivação para a aprendizagem de física. Apesar de minha escolha em aplicar todo o conteúdo no primeiro bimestre, nada impede que outros professores acrescentem apenas os temas que achem mais relevantes, em qualquer etapa do ano letivo. Os textos foram produzidos para servir como material didático para os alunos e também como material instrucional para os professores. Em especial, para os professores, existem alguns quadros com sugestões, com o título “para o professor”. Existem ainda os quadros intitulados “saiba mais”, que servem de aprofundamento para professores e alunos. Além disso, a maioria das referências foi tirada da internet, facilitando a consulta como forma de aprofundar os conhecimentos do docente. Na versão eletrônica do texto, os links para as referências foram espalhados ao longo das páginas. Os quadros com as “questões” também podem ser aproveitados para discussões em sala de aula. Estão disponíveis para download as apresentações em Power Point utilizadas na aplicação do projeto, um artigo descrevendo a aplicação do projeto e o texto completo da dissertação de mestrado, em www.hugo.pro.br/astronomia_downloads.htm. Recomendo a apresentação de todos os conteúdos em Power Point, projetada por datashow, para que se possa aproveitar todo o potencial didático das imagens. Espero que esse trabalho contribua para tornar suas aulas ainda mais atrativas. Rio de Janeiro, janeiro de 2012. Hugo Henrique 7 Unidade 1 - Qual é o tamanho do universo? 1. Olhando para o céu Tente lembrar do que você pode ver ao olhar para o céu em um dia com poucas nuvens. Se for possível, olhe para o céu agora. De dia, o que mais nos chama a atenção no céu é o Sol, como na foto abaixo. Figura 1 - O Nascer do Sol na praia de Tibal - RN (Foto de Izabela Morais). Durante o dia, a luz do Sol é tão intensa que ofusca a luz dos outros astros no céu. Apesar disso, mesmo com a luz do dia é possível ver a Lua no céu, dependendo apenas do horário e da fase da Lua, como nas fotos a seguir (se você nunca reparou na Lua de dia, procure-a no céu quando tiver oportunidade, especialmente no início das manhãs e no final das tardes). Figura 2 - Lua de dia. Figura 3 - Lua de dia. 8 À noite, com a ausência da luz do Sol, podemos ver outros astros com muito mais facilidade. Em especial, podemos ver a Lua e os pontinhos brilhantes conhecidos como “estrelas”, como na imagem abaixo. Figura 4 - Céu do Rio de Janeiro, no dia 20/07/2011, às 22h40min (imagem produzida com o programa Stellarium). SAIBA MAIS: Na verdade, nem todos os pontos brilhantes vistos no céu a noite são estrelas. Alguns desses pontos são planetas, outros são satélites artificiais, e outros são conjuntos de estrelas tão próximas que, observadas sem a ajuda de instrumentos, aparentam ser apenas uma. Em apenas um ponto luminoso visto no céu podem estar concentradas milhões de estrelas [1]. Ao observar o céu, principalmente à noite, temos a sensação de um grande espaço. Mas, será que só o que vemos a olho nu (ou seja, sem a ajuda de instrumentos como binóculos e telescópios) é capaz de nos dar uma noção do tamanho do universo e da quantidade de coisas que existem fora da Terra? Ao longo desse texto, você verá que o planeta Terra, quando comparado a todo o universo conhecido pela ciência atualmente, não passa de um pequeno grão de poeira em um cantinho escondido do universo. 9 NÃO ESQUEÇA! Ao longo do texto, sempre que falarmos sobre observação a olho nu estaremos nos referindo a observação apenas com nossos olhos, ou seja, sem a ajuda de nenhum tipo de instrumento, como binóculos e telescópios. Em astronomia, são comuns os termos “astro” e “corpo celeste”. Um astro, ou um corpo celeste, é qualquer objeto no espaço que não foi criado pelo homem, como os planetas, as estrelas, os satélites naturais, os cometas etc. PARA O PROFESSOR: Para apresentar essa seção em aula, sugerimos a utilização do programa Stellarium, projetada por datashow. Este programa mostra um céu realista em três dimensões, igual ao que se vê a olho nu, com binóculos ou telescópio. O programa pode ser baixado gratuitamente em http://www.stellarium.org/pt/. Nesse site também existe um manual do usuário, mas a utilização do programa é muito intuitiva (obs.: use a barra de rolagem do mouse para aproximar as imagens, simulando observações por telescópio). 2. O Sistema Solar – noções básicas Para termos uma noção do “tamanho do universo”, vamos começar com aquilo que você provavelmente já estudou em suas aulas de ciências ou geografia. Se você lembra alguma coisa sobre o Sistema Solar, certamente deve se lembrar de uma figura desse tipo: Figura 5 - O Sistema Solar. 10 Primeiro, vamos relembrar o que representa essa figura. Ela mostra a Terra e os outros planetas do Sistema Solar girando em volta do Sol: A Terra leva aproximadamente 365 dias (1 ano) para dar uma volta completa em torno do Sol. Cada um dos outros planetas leva um tempo diferente para completar uma volta em torno do Sol. A Terra também gira em volta de si mesma, dando uma volta completa em aproximadamente 24 horas (1 dia). Cada um dos outros planetas também gira em volta de si mesmo, levando tempos diferentes pra completar uma volta. SAIBA MAIS: Os dias e as noites existem por causa do movimento da Terra em torno de si mesma. Como a Terra não possui luz própria, um lado da Terra é iluminado pelo Sol e o outro lado permanece no escuro. No lado iluminado é dia e no lado escuro é noite. A medida em que a Terra gira em volta de si mesma, passamos do lado iluminado da Terra (dia) para o lado escuro (noite), e vice-e-versa. Veremos mais detalhes sobre isso na “Unidade 2 – os corpos celestes se movimentam?” Essas coisas você já deve ter estudado. Vamos então tentar ir um pouco além. Olhe a figura da página anterior atentamente e se pergunte: será que está tudo certo com essa figura??? (pense primeiro, e depois continue a ler.) PARA O PROFESSOR: Questione os alunos e use a discussão como gancho para a próxima seção. 3. O Sistema Solar – comparando tamanhos Figura 6 - O Sistema Solar. 11 Existem vários aspectos da figura da página anterior que não correspondem à realidade. Vamos citar alguns deles: Plutão deixou de ser chamado de planeta, logo, ele não deveria aparecer com os outros planetas do Sistema Solar. Isso não significa que Plutão não existe mais. Ele apenas passou a ser conhecido como um “planeta anão” [2]. As distâncias entre o Sol e os planetas não está correta. Pela figura, parece que dá pra “pular” de um planeta a outro, de tão próximos. Dizemos que a figura não está em escala de distância Os tamanhos entre o Sol e os planetas não está correta. Dizemos que a figura não está em escala de tamanho. Uma figura que mostra melhor a comparação entre os tamanhos do Sol e dos planetas é esta: Figura 7 – O Sol e os planetas do Sistema Solar em escala de tamanho. Não se esqueça que nessa figura as distâncias entre o Sol e os planetas ainda está incorreta (se essas fossem as distâncias reais, Mercúrio já teria sido “torrado”). Dizemos que a figura está em escala de tamanho, mas não está em escala de distância. Vamos ver mais algumas figuras de objetos do Sistema Solar, em escala de tamanho: 12 Figura 8 – Alguns planetas e satélites naturais do Sistema Solar, em escala de tamanho. Figura 9 – O Sol, os planetas e alguns satélites naturais do Sistema Solar, em escala de tamanho. 13 Figura 10 – Alguns astros do Sistema Solar, em escala de tamanho. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de escala de tamanho, importante não só para a disciplina de física, como para outras disciplinas escolares, como a geografia, por exemplo. 4. As estrelas – comparando tamanhos As figuras da seção anterior nos deram uma noção dos tamanhos reais dos planetas do Sistema Solar. Mas e em relação às estrelas vistas à noite, qual será seus tamanhos reais? Será que todas as estrelas possuem o mesmo tamanho? Antes de falarmos sobre isso, tente responder à seguinte questão: QUESTÃO 1 - Qual é o nome da estrela mais próxima de nós? (resposta na página 128) Você já deve ter aprendido em suas aulas de ciências que o Sol é uma estrela. Nas aulas de ciências, aprendemos que uma das diferenças entre as estrelas e os planetas está no fato de as estrelas gerarem sua própria luz, diferente dos planetas. O Sol, além de ser uma estrela, é a estrela mais próxima de nós. 14 Apesar de aprendermos que o Sol é uma estrela, ao olharmos para o céu, ele nos parece muito diferente dos pontinhos luminosos que vemos no céu à noite. Então pense na seguinte questão: QUESTÃO 2 - O Sol é a maior estrela que existe? (resposta na página 128) O Sol é só mais uma estrela com as outras que vemos à noite, existindo, portanto, estrelas menores que o Sol e estrelas maiores também. As figuras a seguir dão uma ideia dos tamanhos de algumas estrelas, incluindo o Sol. A maioria dessas estrelas podem ser observadas no céu a olho nu. Figura 11 – Estrelas em escala de tamanho (e também o planeta Júpiter). 15 Figura 12 – Estrelas em escala de tamanho (e as órbitas de alguns planetas). Compare a estrela Arcturus nessa figura e na figura anterior. Figura 13 – Estrelas em escala de tamanho (e as órbitas de alguns planetas). Compare a estrela Gama Cruxis (uma das estrelas do Cruzeiro do Sul) nessa figura e na figura anterior. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, continua-se a trabalhar o conceito físico de escala de tamanho, iniciado na seção anterior. 16 5. Tamanhos reais e aparentes As figuras anteriores certamente não se parecem com o que nós observamos todos os dias no céu. Ao observarmos o céu, as estrelas vistas à noite aparentam ser muito menores do que o Sol, mas pela figura vemos que existem muitas estrelas maiores que o Sol. Como podemos explicar essa diferença entre a realidade e o que nós vemos? O tamanho com que vemos um objeto qualquer depende de duas coisas: de seu TAMANHO REAL e de sua DISTÂNCIA em relação ao observador. É fácil entendermos isso ao observarmos a foto abaixo. Repare que na foto existem dois aviões, um bem perto do fotógrafo e outro bem distante, no céu. Os dois aviões possuem mais ou menos o mesmo tamanho, mas o avião mais distante aparenta ser bem menor que o avião mais próximo do fotógrafo. Figura 14 – Aviões com tamanhos aparentes. O mesmo acontece com todos os corpos celestes observados no céu. O tamanho dos objetos vistos por nós é apenas um TAMANHO APARENTE. Será que só com esse exemplo você já é capaz de responder à questão do início da seção: QUESTÃO 3 – Se existem estrelas maiores que o Sol, por que todas as estrelas vistas a noite aparentam ser muito menores que o Sol? (resposta na página 128) Para entendermos a resposta da questão anterior, vamos usar como exemplo a estrela visível a olho nu mais próxima de nós, depois do Sol: a estrela Alpha Centauri. Essa estrela pode ser observada facilmente no céu noturno, pois, quando vista da Terra, é uma das estrelas mais brilhantes no céu e está localizada perto da constelação do Cruzeiro do Sul (figura 15). 17 Apesar de a estrela Alpha Centauri aparentar ser apenas um único pontinho luminoso, uma observação com um telescópio simples mostra que na verdade ela é um conjunto de DUAS estrelas, Alpha Centauri A e B, tão próximas entre si que a olho nu aparentam ser uma só (figura 16). As estrelas Alpha Centauri A e B são um pouco MAIORES que o Sol (figura 17), entretanto, vistas da Terra, elas aparentam ser BEM MENORES, por se encontrarem 273 MIL vezes mais distantes de nós do que o Sol! [3] Figura 15 - Simulação do céu do Rio de Janeiro em 6/6/2011, às 22h, produzida com o programa Stellarium. Figura 16 - Alpha Centauri A e B vistas por um telescópio. (Autor: Dario Pires.) Figura 17 – Comparação entre os tamanhos reais das estrelas do Sistema Alpha Centauri e o Sol. Existe uma estrela um pouco mais próxima de nós do que Alpha Centauri, que se chama Proxima Centauri (ou Alpha Centauri C), mas, por ser muito pequena (figura 17), essa estrela não pode ser vista a olho nu. Depois do Sol, Proxima Centauri é a estrela mais próxima da Terra (daí vem o nome “Próxima). 18 SAIBA MAIS: Próxima Centauri se encontra a uma distância 270 MIL vezes maior de nós do que o Sol. Além dessa enorme distância, essa estrela é cerca de 20 vezes menor do que o Sol (figura 17), e por isso só conseguimos observá-la com a ajuda de telescópios potentes [3]. Só para verificar se você realmente entendeu a ideia de tamanho aparente, tente responder a mais uma questão: QUESTÃO 4 – Se o Sol é muito maior do que a Lua, por que os dois aparentam ter o mesmo tamanho no céu? (resposta na página 128) Tente agora responder a uma última questão: QUESTÃO 5 - Será que as estrelas vistas a noite fazem parte do Sistema Solar? (resposta na página 128) Para entendermos a resposta da questão acima, devemos saber o que é o Sistema Solar. De uma forma bem simplificada, o Sistema Solar é o conjunto de objetos astronômicos (planetas, satélites, planetas anões etc.) que se movimentam ao redor do Sol. Plutão, mesmo não sendo mais chamado de planeta, continua sendo um dos objetos do Sistema Solar mais distantes do Sol. A estrela mais próxima do Sol (Proxima Centauri) se encontra 7 MIL vezes mais distante do Sol do que Plutão! [4] As outras estrelas vistas no céu à noite se encontram ainda mais distantes. SAIBA MAIS: Fazendo uma comparação, se todo o universo fosse reduzido até o planeta anão Plutão ficar a uma distância de 1 metro do Sol, a estrela Próxima Centauri ainda ficaria a uma distância de 7 quilômetros do Sol! Com essas enormes distâncias entre o Sol e as outras estrelas, você deve imaginar que as estrela vistas a noite NÃO fazem parte do Sistema Solar, por se encontrarem MUITO mais distante do que qualquer objeto astronômico que se movimenta ao redor do Sol. Isso significa que a única estrela pertencente ao Sistema Solar é o próprio Sol. 19 SAIBA MAIS: Veremos, na “Unidade 2 – os corpos celestes se movimentam?” que o Sol mantém todos os astros do Sistema Solar girando ao seu redor devido à sua atração gravitacional. As outras estrelas estão tão distantes de nós que sua força gravitacional sobre os astros do Sistema Solar é desprezível. PARA O PROFESSOR Nesta seção trabalha-se o conceito físico de escala de distância, importante não apenas para a física, mas também para outras disciplinas escolares, como a geografia, por exemplo. Os valores numéricos e detalhes do sistema Alpha Centauri só devem ser usados em aula se houver tempo disponível e interesse por parte da turma. O mais importante nessa etapa é a compreensão do conceito de “tamanho aparente” e o entendimento de que o Sol é a única estrela do Sistema Solar. Antes da aula, você pode verificar no programa Stellarium como estará a visualização de Alpha Centauri a noite. Caso a época esteja apropriada para sua visualização e o tempo não esteja nublado, você pode propor que os alunos observem essa estrela em suas casas. Existe ainda a possibilidade de observação do céu na própria escola, em especial se for um colégio noturno. Você pode usar distâncias conhecidas dos alunos para comparar a distância do Sol até Plutão e até Alpha Centauri (último “Saiba Mais” da seção). Por exemplo, para uma órbita de Plutão de 1 metro de raio, procure no Google Maps um local conhecido a aproximadamente 7 quilômetros do colégio, e diga que, nessa escala de distâncias, Próxima Centauri deveria se encontrar nesse local. 6. Distâncias astronômicas Você já deve ter reparado que, ao falarmos em distâncias entre objetos astronômicos sempre temos que usar números enormes. Só para servir de exemplo, podemos citar a distância da Terra ao Sol [4], e a distância da Terra à estrela Alpha Centauri [3]. Astros Distância em quilômetros (aproximado) Da Terra ao Sol. 150 000 000 km Da Terra à Alpha Centauri. 41 000 000 000 000 km Figura 18 – A Terra se encontra a uma distância do Sol de aproximadamente 150 000 000 km (150 milhões de quilômetros). Figura 19 – A Terra se encontra a uma distância da estrela Alpha Centauri de aproximadamente 41 000 000 000 000 km (41 trilhões de quilômetros). 20 Você deve imaginar que não é muito prático trabalhar com esses números. Imagine você tendo que fazer contas com eles em uma prova! Em geral, a distância entre estrelas é tão grande que é difícil medir em quilômetros. Por isso, foi criada uma outra forma de medidas de distâncias: o ano-luz. O ANO-LUZ É A DISTÂNCIA PERCORRIDA PELA LUZ EM 1 ANO. Imagine que você ligue uma lanterna, aponte para o céu, e a luz dessa lanterna viaje pelo espaço por 1 ano. Nesse tempo, a luz da lanterna percorreria a distância de 1 ano-luz. Isso significa que o ano-luz é uma MEDIDA DE DISTÂNCIA, e não de tempo, como alguns costumam achar. Para verificar se você realmente entendeu o conceito de ano-luz, tente responder às seguintes questões: QUESTÃO 6 - Imagine que uma estrela está a 10 anos-luz de nós. Quanto tempo a luz da estrela leva para chegar até nós? (resposta na página 128) QUESTÃO 7 - Se a estrela da questão anterior explodisse, quanto tempo levaríamos para ver a luz da explosão? (resposta na página 128) DESAFIO – Sabendo que a luz percorre 300 000 km a cada segundo, faça os cálculos e mostre que em 1 ano a luz percorre aproximadamente 9 800 000 000 000km (essa é a medida do ano-luz em quilômetros). (resposta na página 128) Trabalhando com a ideia de ano-luz, fica muito mais fácil escrevermos as distâncias astronômicas. Nos exemplos que demos no início da seção, temos: Distância em quilômetros Distância em anos-luz (aproximado) (aproximado) Da Terra ao Sol 150 000 000 km 8 minitos-luz De Alfa Centauri ao Sol 40 000 000 000 km 4 anos-luz Astros 21 Figura 20 – O Sol se encontra a uma distância da Terra de aproximadamente 8 minutos-luz. Figura 21 – A estrela Alpha Centauri se encontra a uma distância da Terra de aproximadamente 4 anos-luz. No caso da distância entre Alpha Centauri e o Sol, surge também o minuto-luz. A ideia do minuto-luz é a mesma do ano-luz: O MINUTO-LUZ É A DISTÂNCIA PERCORRIDA PELA LUZ EM 1 MINUTO. QUESTÃO 8 – O que é o segundo-luz? (resposta na página 128) Isso significa que a luz do Sol leva 8 minutos para chegar até nós e a luz da estrela Alfa Centauri leva 4 anos para chegar até nós. Ou seja, se o Sol explodisse, levaríamos 8 minutos para ver a explosão; por outro lado, se Alfa Centauri explodisse, levaríamos 4 anos para ver a explosão. Existem objetos astronômicos que podem ser observadas a olho nu no céu noturno e que se encontram a MILHÕES de anos-luz da Terra [5]. De certa forma, ao olharmos para o céu vemos o passado, já que o que estamos vendo agora é a luz que levou certo tempo para chegar nossos olhos. Como vimos, o tempo que a luz leva para chegar até nós pode durar de alguns minutos (como a luz do Sol) até milhões de anos (como as galáxias distantes). Podemos ver coisas no céu noturno que nem existem mais... SAIBA MAIS: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de unidade de distância, usando como exemplo o quilômetro e o ano-luz. Também é dado um exemplo do motivo da existência de unidades diferentes para um mesmo tipo de medida. 22 7. Como conhecemos as distâncias astronômicas? Na seção anterior, falamos de distâncias entre estrelas, mas nenhum ser humano viajou até uma estrela (nem mesmo até o Sol) e também nunca mandou naves, sondas ou robôs até lá (como já foi feito com Marte, por exemplo). Podemos então nos perguntar: Se não conseguimos viajar até as estrelas, como conhecemos as distâncias que as separam de nós? Existem muitos métodos para determinarmos distâncias entre objetos sem precisarmos ir até eles. Vamos descrever apenas um deles, chamado método da paralaxe. Para entendermos o que é a paralaxe, se imagine olhando a paisagem pela janela de um automóvel em movimento. Sabemos que, à medida que o automóvel se movimenta, vemos toda a paisagem ficando para trás, como árvores, postes etc. A paralaxe é essa mudança aparente de posição de um objeto, produzida por uma mudança de posição do observador [6]. Você já deve ter notado que, ao observarmos uma paisagem em um automóvel em movimento, os objetos mais próximos vão ficando para trás mais rapidamente que os objetos mais distantes. Por exemplo, postes e árvores na beira da estrada ficam para trás rapidamente, enquanto morros e montanhas vão ficando para trás mais lentamente, e nuvens e corpos celestes como a Lua praticamente não ficam para trás. Isso significa que, quanto MAIS DISTANTE um objeto se encontra de nós, MENOR é o efeito da paralaxe, conforme as imagens a seguir: Figura 22 – Vídeo gravado pela janela de um ônibus em movimento, em três momentos consecutivos. Repare que o poste possui um movimento aparente mais rápido que o orelhão atrás dele, e ainda mais rápido que a árvore mais atrás. 23 ATIVIDADE – 1 Assista ao vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=LihvAZhkUhQ, filmado da janela de um ônibus em movimento. Repare que os objetos mais próximos do ônibus vão ficando para trás mais rapidamente que os objetos mais distantes (a figura acima é uma sequencia de imagens desse vídeo). Conhecendo o efeito da paralaxe, temos um método para saber se um objeto se encontra mais distante do que outro: se estivermos observando dois objetos e mudarmos de posição, aquele que tiver MAIS DISTANTE terá a MENOR mudança de posição aparente. Se medíssemos a mudança de posição aparente dos objetos, poderíamos inclusive calcular as distâncias entre nós e os objetos. Ao observarmos corpos celestes em posições diferentes, eles também sofrem deslocamentos aparentes, devido à paralaxe: quanto MENOS eles se deslocam, MAIOR é a distância de nós. Medindo esse deslocamento aparente, é possível calcular as distâncias entre nós e os corpos celestes. No caso das estrelas, também existe um deslocamento aparente, devido à paralaxe, mas, como as estrelas estão muito distantes de nós, esse deslocamento é bem pequeno, e não é possível observá-lo dando apenas alguns passos. Na prática, o que os astrônomos fazem é medir a posição de uma estrela em um determinado dia e local e medir a posição da mesma estrela no mesmo local, mas alguns meses depois. Depois de alguns meses, a Terra irá se encontrar em uma posição diferente da que se encontrava anteriormente, e nós teremos mudado de posição junto com a Terra. Dessa forma, o deslocamento aparente das estrelas será muito maior do que o que vemos dando apenas alguns passos (figura 23). Medindo o deslocamento aparente da estrela, os astrônomos calculam sua distância [6]. Figura 23 – Deslocamento aparente de uma estrela (paralaxe) em diferentes dias do ano. 24 SAIBA MAIS: Na verdade, esse método só é usado para as estrelas mais próximas de nós, pois para as estrelas mais distantes, a paralaxe é tão pequena que não pode ser medida nem mesmo com instrumentos poderosos [6]. Nesse caso, existem outros métodos para medir a distância das estrelas, mas todos os métodos são feitos de forma indireta, através de instrumentos de observação e cálculos. Depois que a distância de uma estrela é conhecida, através da luz emitida por ela podemos calcular seu tamanho, sua composição química e até mesmo a velocidade de seu deslocamento. PARA O PROFESSOR: A discussão sobre o método da paralaxe em sala de aula pode servir como um exemplo do método científico, que geralmente é discutido como uma introdução à física. Nesta seção, ao invés de apenas passarmos informações baseadas em estudos científicos, exemplificamos os métodos utilizados pelos cientistas para chegarem em suas conclusões. Esta seção não foi apresentada durante a aplicação do projeto, mas foi incluída aqui devido aos frequentes questionamentos por parte dos alunos. Na apresentação das seções anteriores, é comum ouvirmos perguntas do tipo: “Como a gente conhece a distância entre as estrelas? Alguém já foi lá?”. Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=LihvAZhkUhQ (o vídeo da atividade 1) em sala de aula. 8. Sistemas planetários Nas seções anteriores, vimos que o Sol é apenas uma estrela como as outras que vemos no céu noturno. Entretanto, para nós, o Sol possui uma importância especial, pois todos os planetas do Sistema Solar giram em volta dele. Agora pense na seguinte questão: QUESTÃO 9 - Será que o Sol é a única estrela que possui planetas girando ao seu redor? (resposta na página 128) Atualmente, novos planetas são descobertos frequentemente, orbitando OUTRAS estrelas diferentes do Sol. Para servir de exemplo, leia a notícia a seguir, publicada em 23/4/2009: Planeta descoberto é o "mais similar à Terra", diz astrônomo Santiago do Chile, 21 de abril de 2009 - O menor planeta conhecido até o momento (fora do sistema solar), batizado como Gliese 581e e cuja descoberta foi anunciada hoje, é o "mais similar à Terra até hoje", afirmou Gaspare lo Curto, astrônomo do Observatório Europeu Austral (ESO, em inglês) no Chile. O novo planeta orbita ao redor da diminuta estrela Gliese 581, na constelação de Libra, localizada a 20,5 anos-luz da Terra e em cuja órbita já foram descobertos outros três planetas. (notícia retirada de http://oglobo.globo.com, publicada em 23/4/2009, texto adaptado) 25 Vamos entender a notícia acima. Ela fala sobre a descoberta de um planeta orbitando (ou seja, girando em volta) de uma estrela diferente do Sol, chamada de Gliese 581. Esse não é o único planeta que gira em volta dessa estrela, já que a notícia informa que já haviam sido descobertos três outros planetas orbitando essa estrela. Essa estrela, junto com seus planetas, se encontra a uma distância de 20,5 anos-luz de distância de nós. QUESTÃO 10 – Quanto tempo a luz da estrela Gliese 581 leva desde o momento em que é emitida pela estrela até chegar em nossos olhos? (resposta na página 128) QUESTÀO 11 – Se a estrela Gliese 581 explodisse, quanto tempo depois veríamos o brilho da explosão? (resposta na página 128) Como já vimos, a distância de 20,5 anos-luz significa que a luz leva 20,5 anos para percorrer essa distância. A figura a seguir é uma representação simplificada do significado da notícia, para facilitar a visualização: Figura 24 – Descoberta do planeta Gliese 581e, orbitando a estrela Gliese 581. (as escalas de tamanho e distância não estão sendo respeitadas). 26 Esse é só um exemplo de planeta descoberto fora do nosso Sistema Solar, ou seja, orbitando outra estrela diferente do Sol. Atualmente, já foram descobertos mais de 600 planetas girando em volta de outras estrelas, e esse número continua aumentando [7]. Esses novos planetas são conhecidos como planetas extra-solares, ou exoplanetas (“exo” significa “de fora”, ou seja, “exoplaneta” significa “planeta de fora”). O conjunto formado por uma estrela com planetas girando em volta é chamado de “sistema estelar” ou “sistema planetário”, sendo o nosso Sistema Solar apenas um exemplo de sistema estelar ou planetário. Figura 25 – Representação artística de planeta um planeta extra-solar. Figura 26 – Representação artística de um planeta extra-solar. Depois de sabermos tudo isso, podemos nos perguntar: com tantos planetas descobertos e outros ainda não descobertos, será que o nosso planeta é o único a possuir vida? Continue a ler para entender um pouco mais sobre essa questão. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se a competência relacionada à interpretação de notícias de caráter científico. Apesar de nem todas as estruturas curriculares abordarem a questão do desenvolvimento de competências, sabemos que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) seguem essa linha. . 9. Vida fora da Terra A notícia da seção anterior diz que Gliese 581e foi o planeta descoberto (fora do Sistema Solar), “mais similar à Terra até hoje (no dia 21 de abril de 2009)”. Essa informação é importante, pois os astrônomos acreditam que quanto mais parecidos com a Terra forem os planetas descobertos, maiores serão as chances de esses planetas possuírem vida parecida com a da Terra. Nos planetas do Sistema Solar diferentes da Terra, os cientistas já descartaram a possibilidade de existência de vida inteligente. O que se procura hoje no Sistema Solar são formas de vida microscópicas que poderiam existir nos planetas mais parecidos com a Terra, 27 como Marte, por exemplo. Entretanto, fora do Sistema Solar, existem planetas ainda totalmente desconhecidos, girando em volta de outras estrelas, que poderiam possuir qualquer tipo de vida, inclusive vida inteligente, como os seres humanos [8]. Isso significa que a procura por planetas fora do nosso Sistema Solar também é a procura por vida fora da Terra, em especial a procura por vida inteligente. No momento em que você admira uma estrela à noite, como um pontinho luminoso no céu, é possível que existam seres inteligentes como nós, vivendo em um planeta girando em volta dessa estrela, vendo o Sol de seu planeta como mais um pontinho luminoso no céu. Figura 27 – Cena do filme “E.T., O Extraterrestre” (1982). Você já deve ter ouvido falar em seres extraterrestres visitando o nosso planeta em discos voadores. Inclusive, existem pessoas que juram já ter visto objetos estranhos sobrevoando os céus e até mesmo pessoas que afirmam ter tido contato direto com os visitantes extraterrestres. Será que existe alguma base científica que torne possível a visita de tais seres à Terra? QUESTÃO 12 – Imagine uma nave espacial fazendo uma viagem de 3 anos-luz de distância. Quanto tempo a nave levaria na viagem? (resposta na página 128) QUESTÃO 13 – Na questão anterior, se a nave espacial fizesse a viagem de 3 anos-luz viajando com a metade da velocidade da luz, quanto tempo levaria na viagem? (resposta na página 128) 28 Em primeiro lugar, se existirem seres inteligentes o suficiente para construírem naves espaciais, provavelmente eles serão originários de uma estrela diferente do Sol. Vamos então imaginar a existência de seres extraterrestres vivendo em um planeta orbitando a estrela mais próxima do Sol, ou seja, Proxima Centauri. Como já vimos, essa estrela se encontra a mais ou menos 4 anos luz de distância do Sol. Isso significa que, mesmo que os seres extraterrestres construíssem uma nave espacial que viajasse na velocidade da luz, eles ainda levariam 4 anos durante a viagem. Na verdade, construir uma nave espacial que viaje na velocidade da luz é uma tarefa impossível, de acordo com o que conhecemos hoje sobre a Teoria da Relatividade. Então, por mais que essa civilização fosse tecnologicamente avançada, eles ainda levariam MAIS de 4 anos para chegar até nós, o que tornaria tal viagem muito difícil. Obviamente, podemos imaginar uma civilização extraterrestre com conhecimentos físicos mais evoluídos que o nosso, capazes de desenvolver formas de viagem espacial mais rápidas que a luz. Vemos isso com muita frequência dentro da ficção científica, em filmes como “Guerra nas Estrelas”, ou “Jornada nas Estrelas”. Entretanto, com nossos conhecimentos científicos ATUAIS, não existem evidências da possibilidade de viagens espaciais mais rápidas que a luz e nem provas definitivas de visitas extraterrestres a nosso planeta [8]. É claro que isso é o que a ciência acredita HOJE... o que não significa que será assim no futuro... Figura 28 – Nave Enterprise, da série “Jornada nas Estrelas”. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, reforça-se o conceito de ano-luz, já trabalhado na seção 6. Também é feita uma citação à Teoria da Relatividade. Apesar de a Teoria da Relatividade estar pouco presente na estrutura curricular de física do ensino médio, sabemos que existe uma tendência à inclusão de tópicos de física moderna no ensino médio. Entre as referências sobre a inserção da Teoria da Relatividade no ensino médio, podemos citar: BRAGA, M.; GUERRA, A.; FREITAS, J.; REIS, J. C. Einstein e o universo relativístico. Atual Editora, 5ª ed., 2005. GUERRA, A.; BRAGA, M.; REIS, J. C. Teoria da Relatividade Restrita e Geral no programa de mecânica do ensino médio: uma possível abordagem. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 29, n. 4, p. 575-583, 2007. 29 10. A Via Láctea Como já vimos, da mesma forma que o Sol é uma estrela que possui planetas se movendo ao seu redor, cada uma das estrelas que vemos no céu a noite também pode possuir planetas, e cada um desses planetas pode possuir vida, inclusive vida inteligente como nós mesmos. Isso significa que quanto maior for o número de estrelas que existem no universo, maiores são as chances de existir vida inteligente fora da Terra. Isso então nos leva a seguinte questão: Qual é a quantidade de estrelas que existe no universo? Não é possível sabermos exatamente qual é a quantidade de estrelas que existe no universo, mas podemos chegar a um valor aproximado. Para respondermos a essa pergunta, a primeira coisa que temos que entender é que as estrelas costumam se manter agrupadas, em conjuntos de milhões ou bilhões de estrelas chamadas de galáxias [5]. O nosso Sol, por exemplo, faz parte de uma galáxia chamada de Via Láctea. A Via Láctea possui pelo menos 200 BILHÕES de estrelas, e o Sol é só uma entre essas bilhões de estrelas [5]. Em nossa galáxia, essas estrelas são agrupadas de tal forma que possuem um formato achatado (como um enorme disco), além de braços em forma de espiral [9] como mostram as figuras a seguir. Figura 29 – A Via Láctea. (concepção artística). Figura 30 – Visão lateral da Via Láctea. (fotografia em infravermelho). 30 Nas figuras acima, não é possível diferenciarmos umas estrelas das outras, vemos apenas a luz emitida pelas bilhões de estrelas ao mesmo tempo. A figura abaixo mostra a Via Láctea “vista de cima” e a posição do Sol dentro da Via Láctea: o Sol é apenas um pontinho imperceptível no meio das outras bilhões de estrelas. Figura 31 – O Sol dentro da Via Láctea (concepção artística). Quando observamos o céu em uma noite sem nuvens podemos observar milhares de estrelas, mas elas representam apenas uma pequena parte do total de estrelas da Via Láctea. O restante da Via Láctea também pode ser visto a olho nu (pelo menos parte dela), como uma tênue faixa brilhante no céu, em noites bem sem lua e longe da iluminação e poluição atmosférica das grandes cidades [5], como na figura a seguir. Figura 32 – A Via Láctea observada a olho nu. 31 11. O universo Você deve achar que a quantidade de estrelas na nossa galáxia é muito grande, mas a Via Láctea é apenas uma entre bilhões de outras galáxias que existem no universo visível [10]. Existem algumas pequenas galáxias “próximas” da Via Láctea, mas a GRANDE GALÁXIA mais próxima da Via Láctea se chama Galáxia de Andrômeda, a uma distância de aproximadamente 3 MILHÕES de anos luz [11]. Isso significa e a luz dessa galáxia, usada para obter a imagem abaixo, levou 3 milhões de anos para chegar até nós! (só conseguimos ver a galáxia de Andrômeda com um atraso de 3 milhões de anos!). A galáxia de Andrômeda se encontra tão distante de nós que conseguimos observá-las apenas como um leve borrão no céu, em locais com pouca poluição e iluminação [5]. Figura 33 – Galáxia de Andrômeda. A foto a seguir foi obtida pelo telescópio espacial Hubble em dezembro de 1995. Cada mancha na foto representa uma galáxia: Figura 34 – Foto de galáxias, obtida com o telescópio Hubble. 32 ATIVIDADE 2 - Assista ao vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=b06ZBgU670, que simula uma viagem pelo universo, desde a Terra até o espaço intergaláctico. No total, existe mais de 1 TRILHÃO de grandes galáxias no universo visível (além de um número ainda maior de pequenas galáxias) [10]. Considerando que cada galáxia possui em média pelo menos 100 BILHÕES de estrelas, isso da uma quantidade total de estrelas no universo de pelo menos: 100 000 000 000 000 000 000 000 de estrelas. Esse é um número difícil de imaginar. Só para você ter um pouco mais de noção do que esse número significa, estima-se o número de estrelas no universo visível seja maior que a quantidade de grãos de areia de todas as praias do mundo! O número de estrelas no universo pode ser ainda maior, até mesmo infinito, já que nesse cálculo só consideramos o UNIVERSO OBSERVÁVEL, ou seja, a parte do universo ao alcance dos equipamentos de observação [12]. Só pra ficar claro, cada uma dessas estrelas pode possuir planetas, e cada um dos planetas pode ter vida, inclusive vida inteligente como nós mesmos. Depois de ler isso tudo, pergunte a si mesmo: Será que nessa imensidão, nosso planeta é o único a possuir vida? Muitos acham que a ciência possui respostas para tudo, mas existem muitas questões que até hoje a ciência não consegue responder. Na verdade, é possível que muitas questões NUNCA sejam solucionadas pela ciência. A questão acima é um exemplo de pergunta que a ciência ainda não conseguiu responder. Apesar disso, com a procura de novos planetas em ritmo acelerado e com as pesquisas em nosso Sistema Solar, essa resposta pode estar muito próxima... PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de ordem de grandeza. Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=b06ZBg-U670 (o vídeo da atividade 2) em sala de aula. 33 12. Referências e créditos REFERÊNCIAS: [1]http://eternosaprendizes.com/2010/04/03/10-milhoes-de-estrelas-no-aglomerado-globular-alienigenaomega-centauri/ [2] http://astro.if.ufrgs.br/comast/index.htm [3] http://www.uranometrianova.pro.br/astronomia/AA002/alphacen.htm [4] http://www.zenite.nu?astro-escala [5] http://www.observatorio.ufmg.br/dicas06.htm [6] http://astro.if.ufrgs.br/dist/dist.htm [7] http://astro.if.ufrgs.br/esp.htm [8] http://astro.if.ufrgs.br/vida/index.htm [9] http://atlas.zevallos.com.br/galaxy.html [10] http://www.observatorio.ufmg.br/pas08.htm [11] http://atlas.zevallos.com.br/sattelit.html [12] http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,6752,OI122931-EI302,00.html CRÉDITOS: Figura 1 - http://vilamulher.terra.com.br/izabellamorays/o-nascer-do-sol-na-praia-de-tibaurn-10-9033477579-pf.php Figura 2 - http://www.panoramio.com/photo/54365824 Figura 3 - http://www.milouskablog.com/2009/03/tarde-de-lua.html Figura 4 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 5 - http://aprenderbrincando.no.sapo.pt/sistema_solar.htm Figura 6 - http://aprenderbrincando.no.sapo.pt/sistema_solar.htm Figura 7 - http://arcageografica.blogspot.com/2009/06/aprendendo-fazer-maquetes-do-sistema.html Figura 8 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 9 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 10 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 11 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 12 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 13 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 14 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Avi%C3%A3o_Presidencial_Brasileiro Figura 15 - Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 16– http://www.techs.com.br/users/dariopires/duplas.htm Figura 17 – http://www.uranometrianova.pro.br/astronomia/AA002/alphacen.htm Figura 18 – http://graciabarradas.blogspot.com/2009/08/ceu-e-sol.html Figura 19 - Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 20 – http://graciabarradas.blogspot.com/2009/08/ceu-e-sol.html 34 Figura 21 - Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 22 – Montagem com imagens obtidas em http://www.youtube.com/watch?v=LihvAZhkUhQ Figura 23 - http://www.geocities.ws/saladefisica5/leituras/paralaxe.html Figura 24 – Imagem produzida pelos autores do projeto. Figura 25 – http://pt.wikinoticia.com/cultura%20cient%C3%ADfica/Ci%C3%AAncia/10541-exoplanetas Figura 26 – http://elorodelosdioses.blogspot.com/2010/05/mundos-extraterrestres-exoplanetas.html Figura 27 - http://blig.ig.com.br/distaks/2010/04/26/afinal-et-existe-ou-nao/ Figura 28 - http://royalcomqueijo.wordpress.com/tag/j-j-abrams/ Figura 29 - http://buscandoaverdade2808.blogspot.com/2010/01/era-de-aquario-o-que-e-isso.html Figura 30 - http://atlas.zevallos.com.br/galaxy.html Figura 31 - http://teatrodaverdade.blogspot.com/2009_09_01_archive.html Figura 32 - http://taminogruber.com/serra/observacoes.htm Figura 33 - http://www.observatorio.ufmg.br/dicas06.htm Figura 34 - http://atlas.zevallos.com.br/universe.html 35 13. Respostas das questões Questão 1 - O Sol. Questão 2 - Não, existem estrelas maiores e menores que o Sol. Questão 3 – por que elas se encontram muito mais distantes de nós do que o Sol. Questão 4 – Por que o Sol está mais distante da Terra do que a Lua (o Sol é 400 vezes maior do que a Lua, mas em compensação se encontra 400 vezes mais distante de nós) [3]. Questão 5 - Não. A única estrela que faz parte do Sistema Solar é o Sol. Questão 6 – 10 anos, já que a luz leva o tempo de 1 ano para percorrer a distância de 1 ano-luz. Q uestão 7 – 10 anos, já que a luz da explosão precisa viajar da estrela até nossos olhos para podermos vê-la. Questão 8 – O segundo luz é a distância percorrida pela luz em 1 segundo. Questão 9 – Não. Existem outras estrelas com planetas girando ao seu redor. Q uestão 10 – 20,5 anos, já que a luz leva o tempo de 1 ano para percorrer a distância de 1 ano-luz. Questão 11 – 20,5 anos, já que a luz da explosão precisa viajar da estrela até nossos olhos para podermos vê-la. Questão 12 – 3 anos, já que uma nave na velocidade da luz percorre 1 ano-luz a cada ano. Questão 13 – 6 anos, pois com a metade da velocidade da questão anterior, a nave levaria o dobro de tempo. Desafio Primeiro, vamos descobrir quantos segundos 1 ano possui: 1 ano = 365 dias x 24 horas x 60 minutos x 60 segundos = 32536000 segundos A distância percorrida pela luz em uma ano é igual a distância que ela percorre em 1 segundo, vezes a quantidade de segundos em 1 ano: 1 ano-luz = 300 000 km/s x 32536000 segundos = 97 608 000 000 000 km 36 Unidade 2 - Os corpos celestes se movimentam? 1. Os movimentos observados no céu Ao olharmos rapidamente para o céu a olho nu (ou seja, sem a ajuda de instrumentos como binóculos e telescópios), vemos o Sol, a Lua e as estrelas como em uma fotografia, ou seja, os vemos aparentemente parados. Tente então se imaginar observando o céu durante alguns minutos, ou mesmo durante horas. Será que à medida que o tempo passa, as posições dos corpos celestes no céu não se alteram? ATIVIDADE 1 – Em uma noite com Lua, tente decorar a posição aproximada da Lua no céu em uma certa hora da noite. Depois de uma hora ou mais, procure a Lua novamente no céu. Verifique se, ao longo desse tempo, a Lua permaneceu ou não em sua posição. As figuras a seguir representam o céu da cidade do Rio de Janeiro entre às seis horas da manhã do dia 6/6/2011 e às seis horas da manhã do dia 7/6/2011. Repare como as posições de TODOS os corpos celestes visíveis mudam ao longo do tempo. Figura 1 – dia 6/6/2011, 6 horas da manhã O Sol está nascendo. Alguns planetas podem ser vistos a olho nu (parecidos com estrelas). 37 Figura 2 – dia 6/6/2011, 10 e meia da manhã. O Sol subiu no céu e a Lua está nascendo (os planetas não são mais visíveis devido à luz do sol). Figura 3 – dia 6/6/2011, 4 horas da tarde. A Lua subiu no céu e o Sol desceu. 38 Figura 4 – dia 6/6/2011, 8 e meia da noite. A Lua está se pondo. A estrela Arcturos se encontra na direção Norte (N). Figura 5 – dia 7/6/2011, 1 e meia da manhã. A estrela Arcturos está se pondo. 39 Figura 6 – dia 7/6/2011, às 6h. O Sol nasce novamente. Como todos os corpos celestes mudam de posição no céu ao longo do tempo, isso significa que todos eles SE MOVIMENTAM no céu. Não conseguirmos perceber esses movimentos diretamente, apenas pelo fato de esses movimentos serem mais lentos do que o que estamos habituados, mas sabemos que existem movimentos, pois toda MUDANÇA DE POSIÇÃO é produzida por um MOVIMENTO. Isso significa que, se pudéssemos “acelerar o tempo”, perceberíamos todos os corpos celestes fazendo curvas no céu. ATIVIDADE 2 – Todas as imagens acima foram obtidas com um programa chamado Stellarium, que simula uma observação do céu, em qualquer hora ou local. Caso você tenha computador com acesso à internet em casa, acesse http://www.stellarium.org/ e instale esse programa em seu computador. Em seguida, simule algumas observações do céu, avançando o tempo para facilitar a visualização dos movimentos. Repare na parte de baixo das figuras como existem botões de controle de tempo, como os de controles de aparelhos de DVD. Uma forma de estudar movimentos é através de suas trajetórias, ou seja, as curvas mostrando todas as posições de um determinado objeto em movimento. As figuras a seguir mostram as trajetórias do Sol e das estrelas no céu ao longo de um dia (a Lua e os planetas seguem trajetórias parecidas com a do Sol ao longo de 24 horas, mas com horários diferentes para nascer e se pôr). 40 Figura 7 – Trajetória do Sol na cidade do Rio de Janeiro, no primeiro dia da primavera e de outono. Figura 8 – Trajetória das estrelas no céu, ao longo de uma noite inteira, obtida mantendo o filme fotográfico exposto ao céu durante toda a noite (fotografia de longa exposição). NÃO ESQUEÇA! Conforme já foi dito na Unidade 1, existem alguns termos que aparecem com freqüência em astronomia. Vamos recordá-los: Observação a olho nu: observação apenas com nossos olhos, sem a ajuda nenhum tipo de instrumento, como binóculos e telescópios. Astro ou corpos celeste: qualquer objeto no espaço que não foi criado pelo homem, como os planetas, as estrelas, os cometas etc, incluindo o planeta Terra. 41 PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se os conceitos físicos de movimento e trajetória. Em especial, trabalhase a ideia de que qualquer mudança de posição representa um movimento, por mais lenta que seja essa mudança. Para apresentar essa seção em aula, sugerimos a utilização do programa Stellarium, projetada por datashow. Este programa mostra um céu realista em três dimensões igual ao que se vê a olho nu, com binóculos ou telescópio. O programa pode ser baixado gratuitamente em http://www.stellarium.org/pt/. Nesse site também existe um manual do usuário, mas a utilização do programa é muito intuitiva. Nesta aula em específico, sugerimos afastar a imagem até mostrar os pontos cardeais norte e sul (com a barra de rolagem) e acelerar o tempo para mostrar a passagem de um dia e uma noite (com um controle na parte inferior da tela semelhante ao de um aparelho de DVD). 2. O lugar da Terra no universo Durante toda a Antiguidade e Idade Média, a maioria das pessoas acreditava que a Terra se encontrava parada no centro do universo, com todos os outros corpos celestes se movendo em torno da Terra [1]. Galileu Galilei foi um dos pensadores da época do Renascimento (aproximadamente entre os séculos XV e XVII) que defendeu uma ideia diferente: ele afirmou que Terra se encontrava em movimento. Figura 9 – Galileu Galilei mostrando seu telescópio e suas observações para membros da Igreja. Ao construir um telescópio simples, em 1609, Galileu Galilei conseguiu ver além do que conseguimos ver apenas com nossos olhos. Ele viu, por exemplo, quatro luas girando em volta do planeta Júpiter. Sua observação foi aproximadamente a da figura da página seguinte: 42 Figura 10 – Nesta fotografia, obtida com o auxilio de telescópio, o disco central é o planeta Júpiter e os quatro “pontinhos” são suas maiores luas (fotografia de João Clérigo). As luas girando em volta de Júpiter mostraram que nem todos os corpos celestes giravam em volta da Terra. Essa e outras observações levaram Galileu a afirmar que a Terra não se encontrava no centro do universo, mas que na verdade a Terra e todos os outros planetas conhecidos SE MOVIAM EM VOLTA DO SOL [2]. PARA O PROFESSOR: Sugerimos a inscrição do seu colégio na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica – OBA (http://www.oba.org.br/site/index.php). Com essa inscrição, além de os alunos terem a oportunidade participar da olimpíada, o colégio recebe um pequeno telescópio da comissão organizadora (geralmente no ano seguinte à inscrição), conhecido como Galileoscópio (http://www.astronomy2009.org/globalprojects/cornerstones/galileoscope/). Com esse telescópio, é possível fazer as mesmas observações de Galileu, com qualidade de imagem melhor que a de sua época. As quatro luas de Júpiter observadas por Galileu, por exemplo, são facilmente observáveis com o Galileoscópio. Dessa forma, existe a possibilidade de organização de seções de observação do céu com os alunos, em especial se o colégio for noturno. 3. Movimentos no Sistema Solar Atualmente, sabemos que o Sistema Solar é formado por 8 planetas (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), além das luas desses planetas (os satélites naturais), de planetas anões (como Plutão, por exemplo), entre outros corpos celestes [3], e que TODOS ESSES CORPOS CELESTES SE MOVIMENTAM AO REDOR DO SOL, como nas figuras da página seguinte: 43 Figura 11 – As trajetórias dos quatro planetas mais próximos do Sol (curvas azuis) e de vários asteróides e planetas anões (linhas vermelhas), todos girando em volta do Sol. (As figuras estão fora de escala de tamanhos.) Figura 12 – As trajetórias dos oito planetas do Sistema Solar (os mais próximos do Sol com curvas azuis e os mais distantes com curvas verdes), e as trajetórias de vários outros asteróides e planetas anões (linhas vermelhas), todos girando em volta do Sol (As figuras estão fora de escala de tamanhos). Além de se moverem ao redor do Sol, os planetas do Sistema Solar também giram em volta de si mesmos, ou seja, giram em torno de seus eixos. Alguns planetas possuem luas (satélites naturais), como a Terra, que possui uma lua, e Júpiter, com mais de 60 luas [4]. Todas as luas giram em volta de seus planetas, conforme as figuras da página seguinte: 44 Figura 13 – Planeta Terra com seu único satélite natural – a Lua – girando ao seu redor (a curva em azul representa o movimento da Terra ao redor do Sol, e a curva em verde o movimento da Lua ao redor da Terra). Figura 14 – Planeta Júpiter com 5 luas girando a sua volta (a curva em azul representa o movimento de Júpiter ao redor do Sol, e as curvas em verde representam os movimentos das luas de Júpiter ao seu redor). Atualmente, sabemos também que existem muitos outros “sistemas solares”, onde outros planetas giram ao redor de outras estrelas. PARA O PROFESSOR: Para apresentar essa seção em aula, sugerimos a utilização do programa Celestia, projetada por datashow. Este programa simula uma viagem espacial entre planetas, estrelas e até mesmo galáxias, com imagens muito realistas em 3D. O programa pode ser baixado gratuitamente em http://www.shatters.net/celestia/. Com o programa Celestia é possível produzir animações equivalentes as figuras desta seção, com a vantagem do movimento dos astros e a visualização em vários ângulos. Em espacial, as imagens 13 e 14 foram produzidas com esse programa. Apesar de a utilização do programa não ser complicada, todos os comandos podem ser consultados em ajuda comandos, na parte superior da tela do programa. 45 4. Movimentos da Terra e da Lua Nas seções anteriores, vimos que a Terra se movimenta continuamente no espaço. A Terra realiza vários movimentos, mas dois deles se destacam: a rotação e a translação (também chamado de revolução). A rotação é o movimento da Terra em torno de si mesma, ou seja, em torno de seu próprio eixo. Já a translação é o movimento da Terra em torno do Sol [5]. Apesar de estudarmos esses dois movimentos de forma separada, eles ocorrem simultaneamente, como mostra a figura a seguir: Figura 15 – Movimento de rotação da Terra (setas encurvadas), e de translação (linha pontilhada). SAIBA MAIS: Na verdade, a Terra possui apenas um ÚNICO movimento que, por ser muito complicado, é dividido em vários movimentos simultâneos, como a rotação, a translação, entre outros [5]. ATIVIDADE 3 – Se você tiver dificuldade em imaginar os movimentos de rotação e translação ocorrendo simultaneamente, assista a um vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=qc1rzryczdw. Como já vimos, a Lua se movimenta em torno da Terra, da mesma forma que outros satélites naturais se movimentam em torno de seus planetas. Além disso, como a Lua acompanha a Terra, ela também realiza um movimento em torno do Sol [6], como mostra a figura a seguir: Figura 16 – Ao mesmo tempo em que a Terra (esfera azul) gira em volta do Sol (esfera amarela), a Lua (esfera cinza) gira em volta da Terra. (a figura está fora de escala de tamanho e distância). 46 ATIVIDADE 4 – Acesse http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html e veja a imagem anterior (figura 16) em movimento. Conte quantas voltas a Lua dá ao redor da Terra ao longo de 1 ano. Todos esses movimentos ocorrem simultaneamente, mas, para facilitar, vamos estudálos separadamente, de forma um pouco mais detalhada. Rotação da Terra A Terra completa uma volta em torno de si mesma (movimento de rotação) em 23 horas, 56 minutos e 4 segundos [5]. A velocidade de rotação da Terra, na linha do equador, é de aproximadamente 1700 km/h, ou seja, um objeto fixo no equador da Terra (por exemplo, uma árvore plantada na cidade de Macapá) se desloca 1700 km a cada hora! [7] O movimento da Terra em torno de si mesma dá origem aos dias e as noites. A figura a seguir representa o Sol iluminando a Terra. No lado iluminado da Terra é dia, enquanto do outro lado é noite. À medida que a Terra gira em volta de si mesma, uma pessoa no lado iluminado (dia) passa para o lado escuro (noite), e vice-e-versa. Por isso, a duração de um dia completo (24 horas), corresponde aproximadamente ao tempo que a Terra leva para dar uma volta completa em torno de si mesma. Figura 17 – Nesta figura, a lanterna representa o Sol. O lado esquerdo do globo terrestre representa o dia, pois é iluminado pela lanterna (Sol), e o lado direito representa a noite, pois não é iluminado pela lanterna (Sol). Nesta representação, o bonequinho de papel se encontra no lado da Terra iluminado pelo Sol (dia). SAIBA MAIS: A duração de um dia completo possui exatamente 24 horas, enquanto que o período de rotação da Terra é um pouco mais curto que isso (3 minutos e 56 segundos mais curto). Essa pequena diferença existe porque, em parte, a alternância entre os dias e as noites também é produzida pelo movimento de translação da Terra [8]. 47 Translação da Terra A Terra completa uma volta em torno do Sol em 365, 6 horas, 9 minutos e 10 segundos [5]. Esse período corresponde, de forma aproximada, aos anos de 365 dias dos nossos calendários. SAIBA MAIS: Na verdade o ano dos nossos calendários é igual ao tempo de repetição das estações do ano (ano tropical), que ocorre em um período de tempo ligeiramente menor que o período de translação da Terra: 356 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Como o ano oficial possui 365 dias, para incluir o tempo do ano tropical que fica de fora do calendário (5 horas, 48 minutos e 46 segundos), alguns anos possuem 366 dias, e são chamados de anos bissextos [9]. A velocidade de translação da Terra é de aproximadamente 30 km/s, ou seja, a cada segundo a Terra se desloca 30 km ao redor do Sol! [7]. Movimentos da Lua A Lua completa uma volta em torno da Terra em 27 dias, 7 horas, 43 minutos e 12 segundos. A velocidade da Lua em torno da Terra é de aproximadamente 1 km/s, ou seja, a cada segundo a Lua se desloca 1 km em torno da Terra! [10]. Como a Lua é um astro que não gera sua própria luz, vemos apenas as partes de Lua iluminadas pelo Sol (figura 18). À medida que a Lua se movimenta, vemos diferentes partes iluminadas pelo Sol, ou seja, vemos diferentes fases da Lua. A cada 29 dias e meio, a Lua repete a mesma fase [11]. A observação das repetições das fases da Lua deu origem, de forma aproximada, aos meses de 30 dias dos nossos calendários (figura 19) [12]. Figura 18 – Lua em fase crescente. Figura 19 – Fases da Lua em março de 2010. 48 SAIBA MAIS: A Lua leva 27 dias, 7 horas, 43 minutos e 12 segundos para completar uma volta em torno da Terra, mas as fases se repetem a cada 29 dias e meio. Essa pequena diferença é explicada porque, em parte, as alterações nas fases da Lua também são produzidas pelo seu movimento em torno do Sol. ATIVIDADE 5 - Acesse http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html e verifique que à medida que a Lua se movimenta vemos partes diferentes da Lua iluminadas pelo Sol. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de velocidade, além de alguns exemplos de unidades de velocidade, como o km/h e ou km/s. Os períodos de tempo exatos apresentados nesta seção foram colocados apenas para tornar o texto mais preciso. O principal nessa parte é fazer uma revisão de conceitos básicos sobre o Sistema Solar, que muitas vezes os alunos já esqueceram ou nunca aprenderam de forma significativa. Caso os conhecimentos prévios dos seus alunos sejam mais sólidos, pode valer a pena entrar em mais detalhes. Apesar disso, achamos interessante trabalhar com as velocidades da Terra e da Lua, para servir de exemplo de unidades de velocidade de para servir de gancho para a seção 7. Sugerimos a utilização da animação disponível em http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html (atividade 5) em sala de aula, projetada por datashow. Sugerimos também que o professor faça a demonstração dos dias e das noites de acordo com a figura 17. Caso não haja disponível um globo terrestre no colégio, existem globos terrestres infláveis disponíveis em papelarias e outras lojas de variedades. A desvantagem do globo terrestre inflável é um contraste menor entre o lado iluminado e o lado escuro, pois a luz da lanterna penetra pelo plástico do globo. 5. Entendendo os movimentos no céu A partir do que estudamos até agora, podemos nos fazer algumas perguntas: Se é a Terra que se move em torno do Sol, por que vemos o Sol se deslocando no céu? As estrelas vistas a noite giram em volta da Terra? Se a Lua leva cerca de 27 dias para completar uma volta em torno da Terra, por que ela nasce e se põe no céu em menos de 24 horas? Só podemos responder a essas perguntas se entendermos que qualquer tipo de movimento observado DEPENDE DE QUEM VÊ, ou seja, DEPENDE DO REFERENCIAL. Em outras palavras, observadores diferentes podem ver movimentos diferentes. Inclusive, o que se encontra em MOVIMENTO para um observador pode se encontrar em REPOUSO para outro. 49 NÃO ESQUEÇA! O termo repouso, em física, significa ausência de movimento. Não confunda repouso, dentro da física, com “descanso”, ou “ato de dormir”. Para entender melhor o que a afirmação acima significa, se imagine em um brinquedo de parque de diversões como o da figura a seguir, que pode fazê-lo girar em várias direções (para cima e para baixo, de “cabeça para baixo” etc). Figura 20 – Brinquedo Evolution, no Londri Park (Paraguaçu Paulista - SP). ATIVIDADE 6 – acesse http://www.youtube.com/watch?v=I6QT-aBeCCQ&feature=related e assista a um vídeo filmado por uma pessoa dentro de um brinquedo de parque de diversão. Repare como, no vídeo, todo o parque de diversão gira. Em um brinquedo desse tipo, à medida que o brinquedo gira as pessoas dentro dele, elas vêem todo o parque de diversão girar. Em nosso cotidiano, diríamos que o movimento do parque de diversão é apenas um movimento aparente, já que são as pessoas dentro do brinquedo que se movimentam, e não o parque. Entretanto, fisicamente, dizemos que o parque de diversão está girando EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS QUE ESTÃO DENTRO DO BRINQUEDO, por que a definição de movimento e repouso depende de quem está observando, ou seja, depende do REFERENCIAL. Da mesma forma que as pessoas em um brinquedo de parque de diversão, nós vivemos em um planeta que gira constantemente em torno de si mesmo e em torno do Sol. Isso significa que, do mesmo jeito que as pessoas no brinquedo do parque de diversão vêem o parque girar, nós, que estamos na Terra, vemos todos os astros no céu girarem. Fisicamente, 50 podemos dizer que os astros no céu se movimentam EM RELAÇÃO AOS OBSERVADORES DA TERRA. O movimento do Sol visto no céu, desde o momento que nasce até o momento em que se põe, é uma consequência do movimento da Terra em torno de si mesma. Se fosse possível vermos a Terra em um local próximo ao Sol (no referencial do Sol), veríamos a Terra dar uma volta em torno de si mesma em aproximadamente 24 horas. Entretanto, como estamos na Terra, vemos o contrário, ou seja, vemos o Sol dar uma volta em torno da Terra em 24 horas. Em outras palavras, EM RELAÇÃO AO SOL, a Terra se move, mas EM RELAÇÃO À TERRA, é o Sol que se move. Todos os movimentos dos corpos celestes observados ao longo de 24 horas, como o nascer e o pôr do Sol, o nascer e o pôr da Lua, o nascer e o pôr das estrelas etc., são conseqüências do movimento de rotação da Terra. Ao longo dos meses, também podemos observar o céu se alterar, como as constelações que vão mudando de posição a cada noite, devido ao movimento de translação da Terra. Todos esses movimentos são conhecidos como “movimentos aparentes” para lembrar que são consequências do movimento da Terra [13]. SAIBA MAIS: Em parte, o nascer e pôr do Sol, da Lua e das estrelas também são explicados pelo movimento de translação da Terra, pois, em 24 horas, a Terra realiza um movimento de aproximadamente 1 grau em torno do Sol. Além de “movimentos aparentes”, a Lua e os planetas também possuem “movimentos próprios”, mas esses movimentos são melhor observados apenas ao longo de semanas ou meses [13]. É o “movimento próprio” da Lua que produz, por exemplo, suas mudanças de fase ao longo de um mês. SAIBA MAIS: Fisicamente, todo movimento depende do referencial, mas existe um referencial especial, que é o referencial das estrelas distantes. Quando um objeto está em movimento em relação às estrelas distantes, como a Terra, a Lua e os outros planetas do Sistema Solar, dizemos que esses objetos possuem um “movimento próprio”; caso contrário, dizemos que eles possuem de um “movimento aparente” [14]. Agora você já deve estar em condições responder às questões do início da seção: QUESTÃO 1 – Se é a Terra que se move em torno do Sol, por que vemos o Sol se movendo em torno da Terra? (resposta na página 176) 51 QUESTÃO 2 – As estrelas vistas a noite giram em volta da Terra? (resposta na página 176) QUESTÃO 3 - Se a Lua leva cerca de 27 dias para completar uma volta em torno da Terra, por que ela nasce e se põe no céu ao longo em menos de 24 horas? (resposta na página 176) Resumindo, O MOVIMENTO E REPOUSO SEMPRE DEPENDEM DO REFERENCIAL!!! PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de referencial. Esse conceito é reforçado na seção 6 e na seção 7. O objetivo nesta seção é trabalhar o conceito de referencial, ou seja, a ideia de que não existe movimento absoluto. Entretanto, o termo “movimento próprio”, para quem não entende o conceito de referencial, pode ser entendido como “movimento absoluto”. Recomendamos que este termo seja utilizado o mínimo possível em aula. Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=I6QTaBeCCQ&feature=related (atividade 6) em sala de aula. 6. Por que não sentimos os movimentos da Terra? Já vimos que a Terra se movimenta pelo espaço a grande velocidade. Agora faça uma pergunta a si mesmo: você consegue sentir os movimentos da Terra? Se formos pensar apenas em nossa experiência de vida, nós não sentimos nenhum tipo de movimento da Terra. Existem alguns experimentos que mostram que a Terra possui movimentos [15], mas em nosso cotidiano, vemos quase tudo ocorrer como se a Terra estivesse em repouso. Poderíamos então nos perguntar: Por que não sentimos os movimentos da Terra? Para responder a essa pergunta, vamos pensar em outros exemplos em que não sentimos movimentos. Imagine que você está em um ônibus de viagem bem confortável, com as janelas fechadas com cortinas, mantendo a mesma velocidade durante a viagem e em uma estrada reta e sem buracos. Imagine então que você pega no sono nesse ônibus e de repente acorda. Você acha que seria capaz ter ideia da velocidade do ônibus sem olhar pela janela? Nós costumamos “sentir” o movimento de um ônibus por causa das constantes mudanças de velocidade, das irregularidades nas pistas etc., mas se viajássemos em um veículo mantendo a mesma velocidade e em linha reta, nós não sentiríamos esse movimento. 52 Se as janelas estivessem fechadas com cortinas, como na imagem abaixo, não teríamos nem ao menos como saber se o ônibus estaria em movimento ou em repouso. Figura 21 – Pessoa dormindo dentro de ônibus. O ônibus está em movimento ou em repouso? Podemos pensar em exemplos melhores que o do ônibus em que não sentimos o movimento. Em um vagão de metrô, no meio entre duas estações, a viagem se dá em linha reta e a velocidade praticamente não muda, por isso, podemos até deixar nossas mãos soltas sem cairmos. Em aviões comerciais, entre a decolagem e a aterrissagem, a velocidade se mantém praticamente constante e o movimento é feito em sua maior parte em linha reta, por isso os passageiros podem tirar os cintos de segurança e andar pela cabine sem sentir a grande velocidade do avião, que pode chegar a 900 km/h em aviões a jato [16]. Figura 22 – Mesmo dentro de um avião em movimento, a comissária de bordo não precisa se apoiar em nada para ficar em pé, e o lanche não cai de sua bandeja. Quando viajamos em um veículo mantendo a mesma velocidade e em linha reta, tudo dentro dele permanece com a mesma velocidade (essa tendência recebe o nome de lei da inércia – ver seção 10). Isso significa que os objetos dentro de em veículo nessas condições, como as poltronas, o motorista etc., não se movimentam uns em relação aos outros, ou seja, eles permanecem parados EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS DENTRO DO VEÍCULO. 53 Da mesma forma, podemos considerar que a Terra viaja sempre com a mesma velocidade e, para nós, com trajetória aproximadamente reta. Desse modo, nós viajamos no “veículo Terra” sem sentirmos seu movimento. SAIBA MAIS: Quando estamos em um carro mantendo a mesma velocidade e em LINHA RETA, não sentimos seu movimento. Entretanto, quando o veículo FAZ UMA CURVA, nos sentimos empurrados no sentido oposto ao da curva. Sabemos que a Terra realiza um movimento circular (movimento de rotação), ou seja, podemos considerar a Terra como um “veículo” fazendo uma curva. Então podemos nos perguntar: porque não sentimos os efeitos do movimento circular da Terra, como em um carro? Na verdade, nós SENTIMOS os efeitos do movimento circular da Terra, mas são efeitos tão pequenos que não percebemos. Podemos considerar que, para nós, a Terra realiza curvas “muito abertas”, ou seja, o movimento da Terra é aproximadamente retilíneo. Apesar disso, o movimento circular da Terra tem influência em grandes movimentos e movimentos com grandes velocidades, como os movimentos das correntes de ar e de aviões. No caso das correntes de ar, por exemplo, o movimento circular da Terra pode produzir uma circulação do ar, gerando aquilo que chamamos de ciclones [17]. 7. “Em cima” e “embaixo” no espaço A imagem abaixo representa o planeta Terra (globo terrestre), com uma pessoa em pé no Rio de Janeiro (boneco de papel colado no globo). Essa imagem já foi usada na seção anterior, ao falarmos dos dias e das noites, mas repare agora que a pessoa no Rio de Janeiro está “de cabeça para baixo” na imagem, ou seja, a cabeça do boneco está voltada para a mesa onde o globo terrestre se apóia. Figura 23 – Representação do planeta Terra (globo terrestre) com pessoa em pé no Rio de Janeiro (boneco de papel colado no globo). 54 Apesar do que está representado na imagem acima, uma pessoa no Rio de Janeiro não se sente de forma alguma de “cabeça para baixo”. Podemos então nos perguntar: Por que não sentimos quando estamos “em cima” e “embaixo” na Terra? De uma forma resumida, podemos dizer que os conceitos de “em cima” e “embaixo” dependem de quem está vendo, ou seja, DEPENDEM DO REFERENCIAL. Para entender melhor essa afirmação, observe as imagens a seguir: Figura 24 – Astronauta nas proximidades da Terra. Figura 25 – Astronauta nas proximidades da Terra. Como você deve ter percebido, na verdade não temos duas imagens, apenas uma, observada de ângulos diferentes (a segunda imagem foi girada em um ângulo de 1800 em relação à primeira). Nessa situação, o astronauta está de cabeça para cima ou de cabeça para baixo? É claro que, EM RELAÇÃO AO LEITOR, o astronauta está de cabeça para cima na primeira imagem e de cabeça para baixo na segunda, mas isso não corresponde à situação real do astronauta no momento da fotografia, pois o que o leitor está vendo depende apenas do ângulo de observação da imagem. Se considerássemos o solo da Terra (ao fundo na foto) como “embaixo”, poderíamos dizer que em ambas as fotos o astronauta está de cabeça para baixo, já que sua cabeça está voltada para o solo terrestre. Ou seja, EM RELAÇÃO À TERRA, o astronauta está de cabeça para baixo. Nas fotos anteriores, se não existisse a Terra ao fundo para servir como referencial, não seria possível afirmar se o astronauta estaria de cabeça para cima ou de cabeça para baixo. Isso significa que nossa percepção de “em cima” e “embaixo” depende do referencial. Como vivemos no planeta Terra, costumamos usar a Terra como referencial. Nesse caso, consideramos o solo terrestre como “embaixo” e o céu como “em cima”. Para uma pessoa que está no hemisfério norte da Terra, por exemplo, o que está “em cima” e o que está “embaixo” é 55 diferente do que está “em cima” e “embaixo” para uma pessoa no hemisfério sul, como mostra a imagem abaixo: Figura 26 – Em relação à Terra, o que está “em cima” e o que está “embaixo” depende do local de observação. E em relação ao espaço, o que está “em cima” e o que está “embaixo”? Algumas pessoas, ao observarem a imagem acima, poderiam imaginar a pessoa no hemisfério sul caindo para o espaço vazio na parte de baixo da imagem. Não existe risco de isso acontecer, pois a Terra atrai tudo o que está em suas proximidades para o seu centro, devido a sua gravidade (ver seção 10). Na verdade, não faz sentido dizermos que alguém pode cair na parte de baixo do espaço vazio, pois no espaço vazio NÃO EXISTE “parte de baixo” e nem “parte de cima”. Só podemos definir “em cima” e “embaixo” se tivermos um REFERENCIAL para isso. ATIVIDADE 7 – Acesse http://www.youtube.com/watch?v=I6QT-aBeCCQ&feature=related e assista novamente ao vídeo filmado por uma pessoa dentro de um brinquedo de parque de diversão (seção 5). Repare que, no final do vídeo (aproximadamente no instante 3:17 do vídeo), os dois garotos filmados se encontram de “cabeça para baixo” em relação ao parque, mas só é possível perceber isso porque o cordão de um dos garotos é atraído pela gravidade da Terra. SAIBA MAIS: No caso de uma pessoa de cabeça para baixo em um brinquedo de parque de diversões, a pessoa “sente” que está de cabeça para baixo apenas porque a gravidade a atrai para o solo. Já no caso de um astronauta no meio do espaço, não existiria gravidade para atraí-lo para lugar nenhum, e portanto ele não teria nenhum referencial de “em cima” e “embaixo”. 56 PARA O PROFESSOR: Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=I6QTaBeCCQ&feature=related em sala de aula, o mesmo vídeo da seção 5, mas agora dando ênfase ao garoto de “cabeça para baixo”, no instante 3:17 do filme (atividade 7). 8. As leis dos movimentos Até agora, você já conheceu alguns movimentos dos corpos celestes e entendeu que esses movimentos também dependem de quem está vendo. Alguns desses movimentos, como os movimentos dos planetas observados da Terra, foram observados desde a Antiguidade, muito antes da invenção dos telescópios. Ao observarem esses movimentos, muitos pensadores se perguntaram o porquê desses movimentos acontecerem [18]. Atualmente, sabemos que a Terra, a Lua e os outros planetas do Sistema Solar se movem, mas por que eles se movem? Será que os corpos celestes se movem por vontade própria? Será que algum dia eles irão parar de se movimentar ou alterar seus movimentos? Um dos grandes pensadores que contribuiu para entendermos por que os corpos celestes se movimentam foi Isaac Newton, através de sua principal obra, os “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, publicados no ano de 1687. Nessa obra, Newton propôs que todo movimento obedece a certas regras, conhecidas atualmente como as três leis de Newton do movimento e a Lei da Gravitação Universal [19]. Essas leis da natureza [20] são os fundamentos de uma teoria que atualmente é conhecida como Mecânica de Newton (mecânica significa estudo do movimento). Atualmente, sabemos que nem tudo o que se movimenta obedece às leis da Mecânica de Newton, mas a maioria dos objetos que observamos em nosso cotidiano se movimenta obedecendo a essas leis. SAIBA MAIS: Pelos conhecimentos científicos atuais, sabemos que os movimentos que não obedecem às leis da Mecânica de Newton obedecem a outras leis, que estão incluídas dentro da Teoria da Relatividade de Albert Einstein. 57 Figura 27 – Isaac Newton. Através da compreensão dessas leis, associada a outros conhecimentos, cientistas e engenheiros conseguem, por exemplo, calcular trajetórias de objetos do Sistema Solar, lançar foguetes no espaço, colocar satélites em órbita etc. Para entendermos a Mecânica de Newton, vamos estudar suas leis separadamente. Vamos começar com as três leis de Newton do movimento, usando como exemplo o movimento de foguetes espaciais. As três leis de Newton do movimento estão listadas abaixo: Lei da Ação e Reação; Lei da Inércia; Principio Fundamental da Dinâmica; Em seguida, vamos estudar a Lei da Gravitação Universal, vendo como ela consegue explicar os movimentos de planetas, satélites naturais e artificiais. Todas as leis da Mecânica de Newton usam o conceito físico de força. Para Newton, os tipos de movimentos realizados pelos corpos dependem da força total aplicada no corpo. SAIBA MAIS: A força total aplicada em um corpo, mais conhecida como força resultante, depende da direção e do sentido de cada uma das forças aplicadas no corpo. Por exemplo, para um corpo sofrendo a ação de duas forças de mesmo sentido, como no caso de duas pessoas empurrando um carro, a intensidade da força total será a soma das duas. Entretanto, se um corpo sofrer a ação de duas forças opostas, como em um cabo de guerra, a intensidade da força total será a diferença entre as duas. 58 Ao pensarmos em forças, é mais comum pensarmos em algum tipo de contato entre corpos, como um empurrão, um puxão, um soco etc. (figura 28), mas também existem forças mesmo sem a existência de contato físico, como as forças magnéticas (figura 29) e gravitacionais (figura 30). Figura 28 – Exemplo de força de contato. Figura 29 – Força magnética. 9. Figura 30 – força gravitacional. A Lei da Ação e Reação e os ônibus espaciais A figura a seguir mostra um ônibus espacial sendo lançado para o espaço. Repare que durante o lançamento, o combustível é atirado violentamente para fora. Figura 31 – Lançamento de ônibus espacial. 59 SAIBA MAIS: Na verdade, no lançamento de um foguete espacial, o que é atirado para fora não é o seu combustível, mas sim os gases produzidos pela queima do combustível. Como o volume desses gases é muito maior que o volume do combustível inicial, os gases são expelidos do foguete, como na figura anterior. ATIVIDADE 8 – Acesse http://www.youtube.com/watch?v=IJNw7HH-9fY e veja um vídeo sobre uma missão do ônibus espacial Discovery. A partir da imagem acima, pense na seguinte questão: QUESTÃO 4 - Com os conhecimentos que possuímos hoje sobre as leis da física, seria possível a construção de um foguete que utilizasse o mesmo tipo de combustível que o da foto, e que fosse lançado sem que o combustível fosse atirado para fora do foguete? (resposta na página 175) Para entendermos a resposta da pergunta anterior, vamos usar como exemplo os ônibus espaciais. Um ônibus espacial é um veículo espacial projetado para levar pessoas ao espaço e retornar com elas em períodos entre uma e duas semanas. O nome ÔNIBUS espacial é uma comparação com os ônibus da Terra, que também fazem viagens de ida e volta com passageiros. Na figura da página seguinte, vemos que a maior parte do volume de um ônibus espacial se deve ao tanque de combustível externo (de cor avermelhada na figura), ou seja, o local onde fica armazenado a maior parte do combustível do veículo. Ainda existem os foguetes propulsores a combustível sólido, nas laterais do tanque principal, que também armazenam uma grande quantidade de combustível [21]. Figura 32 – Partes de um ônibus espacial. 60 No lançamento de um ônibus espacial, o fato de o combustível ser jogado para baixo ocorre devido a uma das leis de Newton, chamada de Lei da Ação e Reação. Você já deve ter ouvido algumas pessoas citarem essa lei, dizendo que “toda ação possui uma reação” para falar dos mais diversos fatos da vida. Entretanto, a Lei da Ação e Reação é uma lei FÍSICA, e fisicamente falando, “ação” e “reação” referem-se a forças aplicadas em corpos. De forma simplificada, a lei da ação e reação diz o seguinte: LEI DA AÇÃO E REAÇÃO: Sempre que um corpo produz uma força (ação), ele também sente uma força com a mesma intensidade e sentido oposto (reação). [22] SAIBA MAIS: Vamos enunciar a Lei da Ação e Reação de uma forma mais precisa. Imagine dois corpos quaisquer interagindo. Vamos chamar esses corpos de A e B, como na figura abaixo: Figura 33 – Esferas A e B colidindo. Cada uma das esferas exerce uma força na outra. As duas forças são conhecidas como par ação-reação. Nessa situação, a Lei da Ação e Reação diz que: Se um corpo A exerce uma força em um corpo B, então o corpo B exerce uma força em um corpo A com a mesma intensidade, mesma direção e sentido oposto. Só para servir de exemplo, imagine um carro batendo em um poste: durante a batida, o carro exerce uma força no poste (ação), mas, como reação, o poste também exerce uma força no carro (reação), com a mesma intensidade e sentido oposto. Como resultado final, os dois corpos (o carro e o poste), sofrem a ação de forças e se danificam. No caso do lançamento do ônibus espacial, o combustível é constituído de material altamente inflamável, que entra em combustão e explode. Com a explosão, o combustível faz uma força no foguete para cima (ação). Como reação, o foguete faz uma força no combustível com a mesma intensidade, mas com sentido oposto, ou seja, para baixo (reação), conforme a figura a seguir. 61 Figura 34 – Forças de ação e reação no lançamento de um ônibus espacial. SAIBA MAIS: Na Lei da Ação e Reação, na verdade não faz diferença sabermos qual das forças é a ação e qual é a reação. Por exemplo, no caso do lançamento do ônibus espacial, o importante é entendermos que existe uma “troca de forças” entre o foguete e o combustível, onde as forças ocorrem simultaneamente. PARA O PROFESSOR: Nesta seção trabalha-se a Lei da Ação e Reação. Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=I6QTaBeCCQ&feature=related (atividade 8) em sala de aula. Sugerimos também a realização do experimento do “foguete de garrafa pet”, descrito em detalhes no site do Ponto Ciência: http://www.pontociencia.org.br/experimentosinterna.php?experimento=121#top. 10. A Lei da Inércia e os ônibus espaciais Na seção anterior, estudamos o lançamento de uma nave espacial. Pense agora em uma nave já no espaço e tente responder à questão a seguir: QUESTÃO 5 - Imagine uma nave espacial em uma viagem rumo à Marte. Quando esta nave já está bem longe da Terra, mas ainda distante de Marte, acaba seu combustível. O que aconteceria com a nave ao acabar o combustível? (resposta na página 176) 62 Mesmo sem combustível, é possível um foguete (ou qualquer outro veículo) continuar seu movimento. Isso ocorre devido a uma lei da natureza chamada de Lei da Inércia, que, de forma simplificada, diz o seguinte: LEI DA INÉRCIA: Na ausência de forças, um corpo em repouso continua em repouso e um corpo em movimento move-se em linha reta mantendo a mesma velocidade. [22] Em outras palavras, existe uma tendência de qualquer corpo em PERMANECER com o mesmo ESTADO DE MOVIMENTO, ou seja, existe uma RESISTÊNCIA a qualquer MUDANÇA DE MOVIMENTO. Essa resistência à mudança de movimento, dentro da física, é chamada de inércia. Só é possível ir contra a inércia de um corpo através da ação de forças. No caso das naves espaciais, devido ao efeito da inércia, existe uma tendência a continuarem em movimento, mesmo sem combustível. Para servir de exemplo, vamos ver com um pouco mais de detalhes o que ocorre com os ônibus espaciais após seu lançamento. Na seção anterior, vimos que durante o lançamento de um ônibus espacial, uma grande quantidade de combustível entra em combustão e é expelido. Na figura a seguir podemos ver que o combustível continua a ser atirado para fora, em combustão, mesmo após seu lançamento. Figura 35 – Ônibus espacial logo após seu lançamento. Figura 36 – Ônibus espacial logo após seu lançamento. Nove minutos após o lançamento do ônibus espacial, todo o combustível do tanque externo e dos foguetes propulsores é consumido, e eles se esvaziam. Após esse tempo, o tanque externo e os foguetes propulsores se tornam um grande peso desnecessário para a nave espacial, e por isso eles são descartados. Os foguetes caem de pára-quedas no mar, 63 para serem reutilizados, enquanto que o tanque externo queima na atmosfera, como mostram as figuras a seguir [23]. Figura 37 – Separação do tanque de combustível externo e dos foguetes propulsores. Figura 38 – Separação dos foguetes propulsores. Mesmo sem tanque de combustível externo e foguetes propulsores, o ônibus espacial permanece em movimento, sem a ação de nenhuma força na direção de seu movimento, como na figura a seguir. Isso só é possível por que o ônibus espacial obedece à lei da inércia, ou seja, ele permanece com a mesma velocidade, já que no espaço não existe nenhuma força para alterar sua velocidade. Figura 39 – Ônibus espacial Discovery com os motores desligados, sobrevoando a região da China. 64 SAIBA MAIS: Nesta seção trabalha-se a lei da inércia. No caso da figura acima, existe a força da gravidade da Terra atuando no foguete, apontando para o centro da Terra. Essa força não é a responsável por manter a velocidade do foguete, pois ela não atua na direção de seu movimento. Na verdade, a força da gravidade está mantendo o foguete em um movimento circular em torno da Terra, pois, segundo a lei da inércia, se não tivesse NENHUMA força atuando no foguete, ele se moveria EM LINHA RETA, e acabaria se afastando da Terra. 11. A Lei da Inércia no espaço e na Terra Temos muitos outros exemplos de objetos se movendo sem ação de nenhuma força, o que é explicado pela Lei da Inércia. Existem, por exemplo, sondas espaciais lançadas para o estudo dos planetas, que já passaram pelas proximidades de vários planetas do Sistema Solar praticamente sem a utilização de combustível, mantendo sua velocidade apenas pela ação da inércia. Nesses casos, uma pequena quantidade de combustível é utilizada apenas para a realização de manobras. Dois exemplos de sondas espaciais em funcionamento são as sondas Voyager 1 e Voyager 2, lançadas ao espaço em 1977 e que já ultrapassaram todos os planetas do Sistema Solar, mandando informações para a Terra até hoje. As duas sondas estão prestes a atravessar a fronteira do Sistema Solar, rumo a outras estrelas. Estima-se que todo seu combustível e energia se esgotem por volta de 2020, mas mesmo assim essas sondas permanecendo em movimento com velocidades acima de 48 000 km/h, para sempre, devido apenas à ação da inércia [24]. Figura 40 – Sonda espacial Voyager 1. Astronautas livres no espaço também se movimentam sem a ação de nenhuma força, apenas pela ação da inércia. Por isso, os astronautas devem tomar muito cuidado ao saírem de suas naves, pois eles não podem alterar seus movimentos sozinhos. Não é possível, por exemplo, “nadar” no espaço, pois para nadarmos precisamos de água, o que obviamente não existe no espaço. Na maioria das operações fora das naves, os astronautas se mantêm ligados a nave através de cabos, mas alguns trajes espaciais também possuem pequenos foguetes a 65 gás para permitir que os astronautas realizem manobras. Se um astronauta se soltasse de sua nave a certa velocidade, e não tivesse nenhum tipo de foguete para fazer a manobra de retorno, ele permaneceria com a mesma velocidade para sempre, sem poder retornar à nave [25]. Figura 41 – Astronauta flutuando no espaço separado de sua nave. Nesse caso, sua grande mochila possui foguetes de gás para permitir sua manobra de retorno (foto cedida pela Nasa). Figura 42 – Um astronauta sem cabos para prendê-lo à nave e sem foguetes a gás poderia se perder no espaço. Na Terra, costumamos pensar que os objetos param naturalmente, quando não existe nenhuma força para manter o movimento, mas na verdade, os objetos só param QUANDO EXISTEM FORÇAS CONTRÁRIAS AO MOVIMENTO. Por exemplo, achamos que, ao desligarmos o motor de um carro em movimento, ele é capaz de parar “sozinho”, mas na verdade o carro para devido à força de resistência que o solo produz em suas rodas, chamada de força de atrito. Se houver óleo na pista, por exemplo, mesmo acionando o freio do carro ele pode derrapar, ou seja, ele pode continuar em movimento em linha reta com a mesma velocidade. Isso pode ocorrer porque o óleo elimina a força de atrito na pista, não havendo mais nenhuma força contrária ao movimento para fazê-lo parar. Figura 43 – Óleo em uma pista é capaz de eliminar a força de atrito nas rodas de um carro. Com isso, o carro não é capaz de alterar seu movimento, permanecendo com a mesma velocidade e em linha reta, pela ação de sua inércia. 66 SAIBA MAIS: Na verdade, é impossível eliminarmos totalmente o atrito entre superfícies na Terra, mas se existisse na Terra uma superfície plana e horizontal totalmente sem atrito, um objeto deslizando nela não pararia enquanto permanecesse na superfície. Em praticamente todo o local da Terra existem forças de resistência ao movimento. Um objeto deslizando no solo possui a força de atrito que o faz parar; um objeto em queda enfrenta a resistência do ar, que o faz cair mais lentamente; um objeto em movimento dentro da água enfrenta a resistência da água. Por outro lado, no espaço não existe nada que se oponha ao movimento, e por isso, no espaço temos tantos exemplos objetos se mantendo em movimento sem a ação de forças, devido à ação da inércia. QUESTÃO 6 – Sabemos que uma pessoa, ao viajar em um automóvel sem cinto de segurança, no momento de uma freada brusca vai em direção ao vidro do carro. Nesse caso, fisicamente, existe alguma força que joga a pessoa em direção ao vidro? (resposta na página 176) QUESTÃO 7 – Já sabemos que a Terra se movimenta ao redor do Sol com velocidade de aproximadamente 30 km/s. Se a Terra parasse de repente, o que aconteceria conosco? (resposta na página 176) PARA O PROFESSOR: Esta seção foi incluída aqui para que não fique a falsa impressão, por parte do aluno, de que as leis de Newton só funcionam no espaço. 12. O Princípio Fundamental da Dinâmica e os ônibus espaciais Na seção anterior, vimos que, quando NÃO EXISTE nenhuma força atuando em um corpo, NÃO EXISTE mudança de movimento. Por outro lado, o princípio fundamental da dinâmica diz que, quando EXISTEM forças atuando no corpo, EXISTE mudança de movimento. De forma simplificada, o Princípio Fundamental da Dinâmica pode ser descrito da seguinte maneira: PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DINÂMICA: As forças alteram o movimento dos corpos. Quanto maior é a intensidade da força total aplicada em um corpo, maior é a mudança em seu movimento. [22] 67 SAIBA MAIS: O Princípio Fundamental da Dinâmica é mais conhecido por sua fórmula matemática: F m a . Nesta fórmula, F é a força total aplicada no corpo, m é a massa do corpo e a é a sua aceleração. A aceleração a representa a mudança na velocidade do corpo. A massa m aparece na fórmula para indicar que, quanto maior é a massa do corpo, maior é a força necessária para produzir sua aceleração. As “setas” em cima das letras, na fórmula, indicam que a força e a aceleração possuem a mesma direção e sentido, ou seja, a mudança de velocidade possui a mesma direção e sentido da força. A MUDANÇA de estado de movimento, produzida pela ação de forças, pode ocorrer de formas diferentes. Os exemplos mais simples são os seguintes: se a força total for a favor do movimento, ocorre aumento no valor da velocidade; se a força total for contrária ao movimento, ocorre redução no valor da velocidade (freagem); se a força total apontar para a direita ou esquerda da direção movimento, ou seja, se a força for perpendicular ao movimento, ocorre mudança na direção da velocidade, ou seja, o objeto faz uma curva. No caso dos ônibus espaciais, precisamos de força total diferente de zero para ele: ganhar velocidade no momento do lançamento; alterar sua trajetória para voltar para a Terra; frear no momento da aterrissagem. Para entendermos o Princípio Fundamental da Dinâmica, devemos primeiro saber que o que produz a mudança de movimento é a força TOTAL aplicada no corpo. Considere, por exemplo, as forças aplicadas em um ônibus espacial no momento de seu lançamento: Figura 44 – Principais forças aplicadas em um ônibus espacial durante seu lançamento. Nesse caso, a força TOTAL no ônibus espacial é a força que o combustível exerce nele MENOS a força da gravidade e da resistência do ar, pois são forças com sentidos opostos. Isso significa que a força produzida pelo combustível precisa ser maior que a força de resistência do ar e a força da gravidade juntas, para que exista uma força TOTAL apontando 68 para cima. Essa força TOTAL tem a função de AUMENTAR A VELOCIDADE do ônibus espacial o suficiente para tirá-lo da atmosfera terrestre. SAIBA MAIS: Estamos usando o termo FORÇA TOTAL para indicar a composição de todas as forças aplicadas em um corpo. Entretanto, o termo “força total” NÃO deve ser confundido com “soma algébrica de forças”, pois, como vimos, a composição das forças aplicadas em um corpo nem sempre é uma soma algébrica. Para evitar essa confusão, muitos livros didáticos substituem o termo “força total” por FORÇA RESULTANTE ( FRES ). No espaço, o ônibus espacial ainda precisa guardar uma pequena quantidade de combustível, mas apenas para realizar as manobras necessárias, como se posicionar corretamente para voltar para a Terra [26]. Figura 45 – O módulo do ônibus espacial precisa guardar algum combustível apenas para realizar manobras. No caso da aterrissagem, como o ônibus espacial precisa perder velocidade, são necessárias forças contrárias ao movimento. Uma dessas forças é o atrito que o solo produz nas rodas da nave (o trem de pouso) que são baixadas momentos antes da aterrissagem (figura 45), como em um avião, mas a velocidade é tão grande que também são necessários paraquedas, para aproveitar a força de resistência do ar (figura 46) [26]. 69 Figura 46 – Ônibus espacial pousando (imagem cedida pela Nasa). Figura 47 – Paraquedas aberto para ajudar o ônibus espacial a parar (imagem cedida pela Nasa). PARA O PROFESSOR: Nesta seção trabalha-se o princípio fundamental da dinâmica. 13. A Lei da Gravitação Universal As imagens a seguir representam a Terra e alguns de seus satélites. A primeira imagem mostra a Terra e seu único satélite natural: a Lua; a segunda imagem mostra um dos muitos satélites artificiais da Terra. Figura 48 – Terra à esquerda e Lua (seu único satélite natural) à direita. Figura 49 – A Terra e um satélite de GPS (foto cortesia do Exército dos Estados Unidos). Sabemos que os objetos na Terra caem ao serem soltos por serem atraídos pala força da gravidade da Terra. Se soltássemos um objeto qualquer no espaço, distante de quaisquer corpos celestes, este objeto permaneceria “flutuando”, pois nesse caso a atração gravitacional no objeto poderia ser considerada igual a zero. A Lua se encontra a uma distância da Terra de aproximadamente 384 000 km [10], enquanto que os satélites artificiais se encontram a distâncias da Terra que variam, de forma aproximada, entre 500 km e 35 800 km [27]. Pense então nas seguintes questões: 70 QUESTÃO 8 – A Terra exerce atração gravitacional na Lua? (resposta na página 176) QUESTÃO 9 – A Terra exerce atração gravitacional em seus satélites naturais? (resposta na página 176) Para entendermos as respostas acima, temos que conhecer a lei da gravitação universal, que, de forma simplificada diz o seguinte: LEI DA GRAVITAÇÃO UNIVERSAL: Toda matéria atrai matéria. Quanto maior é a massa dos corpos, maior é a atração. Quanto maior é a distância entre os corpos, menor é a atração. [22] A palavra massa, que aparece na lei, representa a quantidade de matéria dos corpos, usualmente medida em quilogramas (kg). SAIBA MAIS: A intensidade da atração gravitacional pode ser calculada pela fórmula: F G. m1 m2 , onde F d2 é a força, m1 e m2 são as massas dos corpos que se atraem, d é a distância entre eles e G é uma constante universal. Na Lei da Gravitação Universal, não devemos confundir massa com peso. Enquanto a massa representa uma medida da quantidade de matéria do corpo, o peso é a força da gravidade que um objeto sente em um planeta ou satélite natural. Por exemplo, imagine um saco de açúcar de 1 kg no meio do espaço, em um local sem gravidade. Neste local, sua massa continuaria sendo igual a 1 kg, pois a quantidade de açúcar não mudaria, mas seu peso cairia a zero e ele flutuaria, devido à ausência de gravidade. Quando falamos que toda matéria atrai matéria, não estamos falando apenas de planetas e satélites naturais. Uma cadeira e uma mesa, por exemplo, possuem matéria, logo elas possuem atração gravitacional; todas as pessoas possuem matéria, logo todas as pessoas se atraem gravitacionalmente. É claro que nós não vemos mesas, cadeiras, pessoas etc. se atraindo como acontecem com ímãs com polaridades opostas, mas isso não significa que a atração não exista. Não conseguimos perceber essa atração apenas por ela ser muito pequena. Segundo a lei da gravitação universal, quanto MAIOR é a massa (quantidade de matéria) de um corpo, maior é a atração gravitacional, e por isso, só conseguimos perceber a atração gravitacional em objetos com muita massa (muita matéria), como planetas, estrelas e grandes satélites naturais. 71 Figura 50 – Existe atração gravitacional entre uma mesa e uma cadeira, mas ela é tão pequena que não percebemos. SAIBA MAIS: Fisicamente, a atração gravitacional é uma FORÇA que um objeto exerce em uma direção, que produz MUDANÇA DE MOVIMENTO. Não devemos confundir atração no SENTIDO FÍSICO com a atração no SENTIDO FIGURADO, como a atração de um casal de namorados ou a suposta atração de coisas boas pelo “pensamento positivo”. A lei da atração gravitacional é chamada de lei da gravitação UNIVERSAL, pois ela diz que todos os corpos com matéria do UNIVERSO atraem-se mutuamente. Apesar disso, como a atração gravitacional diminui com a distância, dependendo da distância entre determinados objetos, essa atração pode se tornar muito pequena. Por exemplo, sentimos a atração gravitacional da Terra, mas não percebemos a atração do planeta Marte, devido à distância que ele se encontra de nós. No caso da Lua e dos satélites artificiais da Terra, devido à distância que eles se encontram da Terra, eles sentem uma atração gravitacional menor do que se estivessem na superfície da Terra, mas mesmo assim a atração continua sendo considerável (veja a resposta das questões 8 e 9). Podemos agora nos fazer a seguinte pergunta: Se os satélites (naturais e artificiais) são atraídos pela Terra, por que eles não caem na Terra? Antes de respondermos a essa pergunta, vamos entender melhor O QUE É um satélite. PARA O PROFESSOR: Nesta seção trabalha-se a Lei da Gravitação Universal. 72 14. O que é um satélite? De um modo geral, um satélite é um objeto que se move em volta de outro. Por exemplo, podemos considerar todos os planetas do Sistema Solar como satélites do Sol, já que todos se movimentam em volta do Sol em seus movimentos da translação. Consideramos a Lua como um satélite natural da Terra, pois, além de ela se mover em volta da Terra, ela não foi criada pelo homem. Isso significa que um satélite artificial da Terra é QUALQUER OBJETO CRIADO PELO HOMEM que se movimenta ao redor da Terra [28]. SAIBA MAIS: Geralmente, chamamos de satélites artificiais somente aqueles objetos se movem ao redor da Terra com alguma utilidade prática. Já os satélites artificiais que não possuem utilidade prática (satélites de comunicação desativados, pedaços de estações espaciais etc.) costumam ser conhecidos como “lixo espacial”, e existem muitos deles movendo ao redor da Terra [27]. Existem vários tipos de satélites artificiais, com diferentes utilidades. Os satélites de comunicação, por exemplo, são aqueles que enviam sinais de TV, internet e celular via satélite; o sistema de posicionamento GPS só existe graças e um conjunto de satélites em volta do globo terrestre; existem satélites de observação que tiram fotos da Terra, como as que podem ser vistas no Google Maps; existem satélites que ajudam na previsão do tempo; existem até mesmo satélites que funcionam como telescópio, como o telescópio espacial Hubble [27]. Como veremos, todas essas tecnologias só existem graças à compreensão da Lei da Gravitação Universal. Figura 51 – Típica antena de TV via satélite. Já vimos que a Lua gira em torno da Terra a uma grande velocidade (aproximadamente 1 km/s, o que corresponde a 3 600 km/h). Todos os satélites artificiais também giram em volta da Terra a grandes velocidades, que variam, aproximadamente, entre 11 000 km/h e 27 000 km/h [29]. 73 A figura a seguir representa alguns objetos atraídos pela Terra, com algumas trajetórias representadas com linhas pontilhadas. A figura também mostra a trajetória da Terra ao redor do Sol. Figura 52 – Objetos sendo atraídos pela gravidade da Terra. As setas representam a direção e o sentido da atração gravitacional da Terra (a figura está fora de escala de tamanhos e distâncias). Podemos agora reformular a pergunta da seção anterior: Se os satélites são atraídos pela Terra, por que eles permanecem girando em volta dela, em vez de caírem em direção ao solo? Vamos responder a essa pergunta na próxima seção. 15. Por que os satélites não caem na Terra? Para explicar o movimento da Lua em volta da Terra, Isaac Newton usou o exemplo a seguir: Imagine um canhão muito poderoso disparando projéteis na vertical, do alto de uma montanha. Sabemos que os projéteis irão atingir o solo após percorrerem uma certa distância, e quanto maior for a velocidade inicial do projétil, maior será a distância atingida. A figura abaixo mostra três projéteis lançados pelo canhão: no tiro A o projétil possui uma certa velocidade inicial; já no tiro B a velocidade inicial é maior. Tente imaginar então o que aconteceria se a velocidade inicial do projétil fosse ainda maior que a do tiro B. 74 Figura 53 – Tiros de um canhão “superpoderoso” (que não existe no mundo real), no alto de uma montanha. Newton imaginou que, se um projétil fosse atirado com uma velocidade inicial muito grande, ele iria dar uma volta na Terra antes de atingir o solo, como é mostrado no tiro C. Se isso acontecesse em um local onde não houvesse nenhum tipo de resistência ao movimento, como por exemplo, em um local sem resistência do ar, o projétil não pararia nunca, devido à Lei da Inércia, ou seja, ficaria dando voltas pela Terra eternamente. O projétil continuaria caindo, mas sua velocidade seria tão grande que ele daria uma volta em torno da Terra antes de atingir o solo [30]. Se não existisse resistência à esse movimento, o projétil continuaria dando voltas em torno da Terra, sem nunca parar. ATIVIDADE 9 – Acesse http://galileoandeinstein.physics.virginia.edu/more_stuff/flashlets/NewtMtn/NewtMtn.html. e realize o experimento imaginado por Isaac Newton (figura 53) através de uma simulação computacional. Na barra de rolagem da parte inferior da simulação, escolha uma velocidade (em metros por hora). Em seguida, aperte o botão Fire para lançar o projétil. Faça vários lançamentos, começando com pequenas velocidades e aumentando a velocidade aos poucos. Para um canhão dar um tiro que conseguisse dar uma volta na Terra, como no tiro C da figura acima, a velocidade inicial da bala teria que ser de aproximadamente 28 000 km/h! Com essa velocidade, a bala conseguiria dar uma volta completa em torno da Terra em aproximadamente 1 hora e 25 minutos! Obviamente, nenhum canhão no mundo conseguiria lançar um projétil com essa velocidade. Além disso, a resistência do ar reduziria a velocidade da bala até ela atingir o solo, e também poderia aquecer uma bala até ela queimar, como acontece com os meteoritos que chegam à Terra. Entretanto, um foguete espacial é capaz de lançar objetos a enormes velocidades, fora da atmosfera da Terra. Quando um objeto é 75 lançado com velocidade suficiente para dar uma volta em torno da Terra, dizemos que esse objeto foi colocado em órbita. A velocidade necessária para colocar um objeto em órbita depende da altitude desse objeto: quanto mais próximo da Terra estiver o objeto, maior será a velocidade. No caso de satélites artificiais, o que geralmente é feito é lançar um foguete com o satélite dentro, até a altitude desejada, e programar o foguete para lançar o satélite com a velocidade necessária para ele entrar em órbita [31], como nas figuras a seguir: Figura 54 – Lançamento de foguete carregando o satélite CBERS 2, realizado com uma parceria entre a China e o Brasil. Figura 55 – Sequência de lançamento do satélite CBERS – 2. Como vimos na seção anterior, os satélites permanecem em órbita com velocidade de milhares de quilômetros por hora (variando, de forma aproximada, entre 11 000 km/h e 27 000 km/h). Caso um satélite fosse lançado com velocidade menor que a mínima necessária para entrar em órbita, ele cairia na Terra e poderia provocar acidentes. Se ele fosse lançado com velocidade muito maior, escaparia da gravidade da Terra e se perderia no espaço. Figura 56 – a) Satélite lançado com velocidade abaixo da orbital; b) satélite lançado com a velocidade orbital; c) Satélite lançado com velocidade acima da orbital. 76 A Lua também permanece em órbita em torno da Terra devido à sua grande velocidade (aproximadamente 1 km/s, que corresponde a 3 600 km/h). Se a velocidade da Lua fosse muito mais baixa que a atual, ela cairia na Terra; se sua velocidade fosse muito mais alta, ela escaparia da gravidade da Terra e se perderia no espaço. Figura 57 - a) Lua com velocidade muito abaixo da atual; b) Lua com a velocidade atual (órbita quase circular); c) Lua com velocidade muito acima da atual. SAIBA MAIS: Diferente dos satélites naturais, obviamente nenhum ser humano colocou a Lua em órbita. Na verdade, a velocidade atual da Lua tem relação com a sua formação, mas essa formação ainda não é totalmente conhecida. Segundo a teoria mais aceita atualmente, a Lua se originou a 50 milhões de anos atrás, com um impacto entre a Terra e outro objeto do tamanho de Marte. Esse impacto arrancou um pedaço da Terra, que posteriormente se transformou na Lua. Isso significa que a velocidade inicial da Lua teria se originado desse grande impacto [32]. A atração gravitacional do Sol é sentida por todos os astros do Sistema Solar, em especial os planetas. A Terra permanece em órbita em torno do Sol devido à sua grande velocidade de translação (aproximadamente 30 km/s, que corresponde a 108 000 km/h). Se a velocidade da Terra fosse muito mais baixa, ela cairia no Sol; se a velocidade da Terra fosse muito mais alta, ela escaparia da gravidade do Sol e se perderia no espaço. O mesmo é válido para todos os outros planetas do Sistema Solar. Figura 58 - a) Terra com velocidade muito abaixo da atual; b) Terra com a velocidade atual (órbita quase circular); c) Terra com velocidade muito acima da atual. 77 QUESTÃO 10 – Se a Lua e os satélites artificiais da Terra não fossem atraída pela Terra, que tipo de movimento eles Teriam? (resposta na página 176) QUESTÃO 11 – Se a Terra não fosse atraída pelo Sol, que tipo de movimento ela teria? (resposta na página 176) Se os satélites da Terra, como a Lua e os satélites artificiais, não sentissem a atração gravitacional da Terra, não teria nenhuma força atuando nesses objetos e, pela Lei da Inércia, eles permaneceriam com movimento EM LINHA RETA e com a mesma velocidade. Isso significa que esses objetos se perderiam no espaço. O mesmo vale para os planetas do sistema solar: se eles não sentissem a atração gravitacional do Sol, todos eles se moveriam EM LINHA RETA com a mesma velocidade e se perderiam no espaço. SAIBA MAIS: Nesta seção, usamos o exemplo do canhão para explicarmos o movimento orbital, mas também podemos explicar esse movimento apenas lembrando das leis de Newton. De acordo com as leis de Newton, com a ausência de forças, todo corpo permanece em movimento retilíneo com velocidade constante, e o efeito das forças é ALTERAR esse estado de movimento. Quando uma força atua em uma direção diferente da trajetória de um corpo, ela ALTERA A TRAJETÓRIA do corpo, produzindo um movimento curvo no sentido da força. No caso de objetos orbitando um planeta, a força gravitacional aponta para o centro do planeta (figura 52), produzindo um movimento curvo em direção ao centro desse planeta (figuras 56 e 57). Dependendo da velocidade do objeto, esse desvio pode se transformar em um movimento circular. O mesmo vale para objetos orbitando uma estrela, como o Sol (figura 58). PARA O PROFESSOR: Nesta seção trabalha-se o conceito físico de movimento orbital. Para a explicação relativa à figura 52, recomendamos a utilização da animação disponível em http://galileoandeinstein.physics.virginia.edu/more_stuff/flashlets/NewtMtn/NewtMtn.html (atividade 9). Em vez de fazer uma longa explanação sobre o experimento mental de Newton, faça lançamentos de projéteis com a animação, com diferentes velocidades, começando das menores e aumentando aos poucos. Antes de cada lançamento, pergunte aos alunos o que eles acham que vai acontecer. Faça isso até o projétil dar a volta na Terra, e depois use esse exemplo para explicar as órbitas de satélites e planetas. 16. Tudo no universo se movimenta Como vimos, a Lei da Gravitação é uma lei UNIVERSAL, ou seja, tudo o que possui matéria no universo se atrai mutuamente. Isso significa que TODA a matéria do universo se encontra em movimento! Como já vimos, os movimentos dependem de quem está vendo (dependem do referencial), por isso, alguns corpos celestes se encontram parados em relação 78 a alguns observadores (por exemplo, a Terra está parada em relação às pessoas que vivem nela, e o Sol está aproximadamente parado em relação ao Sistema Solar). Entretanto, quando usamos O UNIVERSO COMO UM TODO como referencial, vemos que toda matéria que existe no universo se movimenta. As estrelas vistas à noite estão tão distantes de nós que não percebemos seus movimentos “próprios”, vemos apenas seus “movimentos aparentes”, devido à rotação e translação da Terra. Entretanto, todas as estrelas da Via-Láctea se movimentam ao redor do núcleo da galáxia. Como o Sol é uma estrela, ele também executa um movimento ao redor do núcleo da Via-Láctea, com velocidade de 225 km/s, dando uma volta completa a cada duzentos milhões de anos! Não percebemos esse movimento por que o Sol, em seu movimento, carrega todos os objetos do Sistema Solar com ele, ou seja, em relação a todos os astros do Sistema Solar, o Sol se encontra aproximadamente parado [33]. Figura 59 – Movimento do Sol na Via-Láctea. A própria Via-Láctea se movimenta, como todas as outras galáxias. Devido à atração gravitacional, existem, por exemplo, galáxias se encontrando e “se misturando”, como nas imagens a seguir: Figura 60 – Colisão entre duas galáxias espirais. Figura 61 – Penetração mútua de duas galáxias. 79 Segundo algumas teorias, a Via-Láctea e a galáxia de Andrômeda estão se atraindo com uma velocidade de aproximadamente 130 km/s e podem vir a se encontrar daqui a 3 bilhões de anos! [34] Na figura a seguir temos uma concepção artística do que você poderia ver no céu enquanto a galáxia de Andrômeda estivesse se misturando à Via-Láctea, se pudesse viver o suficiente para isso... Figura 62 – Concepção artística da colisão entre a galáxia de Andrômeda e a Via-Láctea, vista da Terra, daqui a 3 bilhões de anos. Em resumo, podemos dizer que: Tudo o que existe no universo se movimenta! 80 17. 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Figura 2 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 3 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 4 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 5 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 6 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 7 – Curso de aperfeiçoamento de professores da Fundação Planetário do Rio de Janeiro – 2009. Figura 8 – Curso de aperfeiçoamento de professores da Fundação Planetário do Rio de Janeiro – 2009. Figura 9 - http://fisikanarede.blogspot.com/2010_07_01_archive.html Figura 10 – http://fotografia.clerigo.net/2005/06/16/jupiter-e-as-suas-luas/ Figura 11 – http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/sistemasolar.html Figura 12 – http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/sistemasolar.html Figura 13 – Imagem produzida com o programa Celestia. Figura 14 - Imagem produzida com o programa Celestia. Figura 15 – http://www.vaztolentino.com.br/pages/92 Figura 16 – http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html Figura 19 – http://astro.if.ufrgs.br/lua/lua.htm Figura 20 - http://www.eparaguacu.sp.gov.br/noticias_listar.asp?cod_not=929 Figura 21 – http://blig.ig.com.br/marisa_monte/ Figura 22 - http://gordiceaholic.com/tag/servico-de-bordo/ Figura 24 – http://opiofagia.blogspot.com/2008/05/astronauta.html Figura 25 – http://opiofagia.blogspot.com/2008/05/astronauta.html (imagem editada) Figura 26 – http://blogdobanu.blogspot.com/2010/03/terra-planeta-agua.html (imagem editada) Figura 27 – http://curiosity.discovery.com/topic/physics-concepts-and-definitions/famous-physicistspictures1.htm Figura 28 – http://efisica.if.usp.br/mecanica/ensinomedio/2_lei_de_newton/experimento/ (imagem editada) Figura 29 – http://todaoferta.uol.com.br/comprar/imas-neodimio-neodimeo-neodimio-mais-forte-imaferrite-IEPQEVZX65#rmcl (imagem editada) Figura 30 - http://cursinhopreenem.com.br/fisica/acao-gravidade-queda-livre/ (imagem editada) Figura 31 – http://downloads.open4group.com/download/wallpapers/lancamento-do-foguete-9957.html Figura 32 – http://ciencia.hsw.uol.com.br/onibus-espaciais.htm (imagem editada) Figura 33 - http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/leis-de-newton/terceira-lei-de-newton-3.php Figura 34 - http://downloads.open4group.com/download/wallpapers/lancamento-do-foguete-9957.html (imagem editada) Figura 35 – http://profclaudenir.blogspot.com/2011/04/onibus-espacial.html Figura 36 - http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/lancamento-do-onibus-espacial-atlantis14.html Figura 37 – http://profclaudenir.blogspot.com/2011/04/onibus-espacial.html 82 Figura 38 – http://profclaudenir.blogspot.com/2011/04/onibus-espacial.html Figura 39 - http://noticias.uol.com.br/album/100407_album.jhtm#fotoNav=1 Figura 40 - http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/05/a-um-passo-das-estrelas Figura 41 – http://gaea-araujo.blogspot.com/2010_09_01_archive.html Figura 42 - http://ciencia.hsw.uol.com.br/trajes-espaciais1.htm Figura 43 – http://ratinhodaweb.blogspot.com/2011/11/primeira-lei-de-newton.html Figura 44 – http://downloads.open4group.com/download/wallpapers/lancamento-do-foguete-9957.html (imagem editada) Figura 45 – http://www.vigilia.com.br/vforum/viewtopic.php?t=598&sid=8f312b66f0ea3a842c754e85e3a7ed7 6 Figura 46 - http://ciencia.hsw.uol.com.br/onibus-espaciais4.htm Figura 47 - http://ciencia.hsw.uol.com.br/onibus-espaciais4.htm (imagem editada) Figura 48 http://www.apolo11.com/spacenews.php?titulo=Nasa_capta_cena_inedita_de_avalanche_em_M arte&posic=dat_20080304-103724.inc Figura 49 - http://informatica.hsw.uol.com.br/receptores-gps1.htm Figura 50 - http://decorabrasil.com.br/blog/index.php/tag/mesa-de-centro/ (imagem editada) Figura 51 - http://www.blogdomarcelo.com.br/v2/2011/02/ Figura 53 - http://www.fichariodematematica.com/2011/07/isaac-newton-o-triunfo-da-razao-parte.html (imagem editada) Figura 54 – http://tecgeoweb.blogspot.com/2007_09_01_archive.html Figura 55 http://www.apolo11.com/espaco_brasil.php?titulo=Tudo_pronto_para_o_lancamento_do_satelite _CBERS-2B&posic=dat_20070918-100426.inc Figura 59 – http://buscandoaverdade2808.blogspot.com/2010/01/era-de-aquario-o-que-e-isso.html (imagem editada) Figura 60 - http://canais.sol.pt/blogs/jmfc/archive/2008/05/14/A-colis_E300_o-de-gal_E100_xias.aspx Figura 61 - http://canais.sol.pt/blogs/jmfc/archive/2008/05/14/A-colis_E300_o-de-gal_E100_xias.aspx Figura 62 - http://caminhandoparaaluz.blogspot.com/2010/07/setima-dimensao-as-estradasgalacticas.html 83 18. Respostas das questões Questão 1 - EM RELAÇÃO AO SISTEMA SOLAR, o Sol se encontra aproximadamente parado, mas, devido ao movimento de rotação da Terra, EM RELAÇÃO AOS OBSERVADORES DA TERRA, o Sol realiza uma curva no céu (chamamos esse movimento de “movimento aparente”). Questão 2 – EM RELAÇÃO AO SISTEMA SOLAR, as estrelas NÃO giram em volta da Terra, mas, devido ao movimento de rotação da Terra, EM RELAÇÃO AOS OBSERVADORES DA TERRA as estrelas realizam curvas no céu (chamamos esse movimento de “movimento aparente”). Questão 3 – O nascer e o pôr da Lua só existem EM RELAÇÃO AOS OBSERVADORES DA TERRA, devido à rotação da Terra (chamamos esse movimento de “movimento aparente”). Questão 4 – Não. Para o combustível não ser atirado para fora, o foguete teria que desobedecer a lei da ação e reação. Questão 5 – Continuaria com a velocidade que tinha antes do combustível acabar! (considerando que entre a Terra e Marte a gravidade é praticamente igual a zero). Questão 6 – Não. Ao frear, o carro reduz sua velocidade até parar, devido à força de atrito na pista. No caso de uma pessoa sem cinto, não existe nenhuma força para fazê-la parar, e por isso, devido a sua inércia, ela CONTINUA COM O MOVIMENTO QUE O CARRO TINHA, em direção ao vidro. Se a pessoa estivesse com o cinto de segurança, ele exerceria uma força na pessoa contrária ao movimento, para fazê-la parar junto com o carro. Questão 7 – Nós continuaríamos em movimento com a velocidade que a Terra tinha. Da mesma forma que em uma freada de automóvel, se a terra “freasse” de repente, um observador na Terra veria todos os objetos soltos na Terra se moverem com a velocidade que a Terra tinha, ou seja, daria a impressão de que os objetos estariam sendo “empurrados” na direção do movimento da Terra. Questão 8 – Sim. Devido à distância entre a Terra e a Lua, a atração gravitacional entre elas é menor do que elas teriam se estivessem mais próximas, mas essa atração ainda é considerável. Questão 9 – Sim. Para servir de exemplo, a atração gravitacional que a Terra exerce em um satélite a 500 km de altitude é apenas 7% menor do que na superfície da Terra. Questão 10 - Eles se moveriam em LINHA RETA, com velocidade constante, e consequentemente iriam se afastar da Terra. Questão 11 - Ela se moveria em LINHA RETA, com velocidade constante, e consequentemente iria se afastar do Sol.