Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. Revista Brasileira de Geografia Física ISSN:1984-2295 Homepage: www.ufpe.br/rbgfe Análise Comparativa do Fluxo de Calor no Solo em Profundidade e na Superfície Willames de Albuquerque Soares1 ¹Prof. Adjunto da Escola Politécnica de Pernambuco - Universidade de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil, [email protected] Artigo recebido em 09/07/2013 e aceito em 27/09/2013. RESUMO O objetivo deste estudo é comparar os resultados do fluxo de calor no solo, na superfície e em profundidade, encontrados por sensores de fluxo de calor no solo e pelo método harmônico, em cultivo de mamoneira. No dia sem chuvas, a pouca quantidade de água no solo diminuiu a sua difusividade térmica, provocando um maior acúmulo de energia no solo, e, consequentemente, a elevação na temperatura nas camadas mais próximas à superfície. As principais diferenças entre os valores medidos e estimados aconteceram nos horários de maior insolação, principalmente nos dias em que o céu estava encoberto por nuvens. A presença da vegetação cobrindo o solo influenciou diretamente nos valores medidos e modelados. As estimativas tanto em profundidade como para a superfície do solo se mostraram bastante satisfatórias, tanto em dias de céu claro como para dias de céu encoberto. Palavras-chave: método harmônico, temperatura do solo, fluxímetro. Brazil Comparative Analysis of Soil Heat Flux in Depth and Surface ABSTRACT The aim of this study was to compare the results of soil heat flow, in the surface and depth, found by sensors soil heat flux and by harmonic method, in castor crop . On days without rainfall, the small amounts of water in the soil decreased its thermal diffusivity, causing a higher energy accumulation in the soil and consequently an increase at a temperature on the layers nearest the surface. The main differences between the measured and estimated values occurred at times of intense sunlight, especially on days when the sky was obscured by clouds. The presence of vegetation covering the soil directly influenced the values measured and modeled. Estimates both in depth and to the soil surface proved very satisfactory, both in clear sky conditions as for overcast days. Key-Words: Harmonic Method, Soil temperature, soil heat flux plates. Soares, W. A. 665 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. O fluxo de calor no solo (G) pode ser Introdução A temperatura do solo é essencial para medido usando técnicas calorimétricas, de a caracterização climática da superfície do gradientes ou combinadas que requerem solo, tornando-se fundamental conhecer a sua medidas relativamente precisas e complicadas variação, para um melhor entendimento dos da temperatura e das propriedades térmicas do fenômenos balanços solo. Não obstante, muitos dos estudos energéticos. Também é um dos fatores que recentes têm utilizado sensores de fluxo de influenciam no desenvolvimento das plantas, calor para medir G. Os sensores de fluxo de bem como a decomposição da matéria calor do solo são pequenos discos rígidos, de orgânica presente. propriedades térmicas constantes, que relacionados aos As transferências de massa e de calor conhecidas são e colocadas nas camadas superficiais do solo, assim como horizontalmente no solo próximo à superfície. as Alguns dos aspectos que podem incidir em trocas na condicionam interface que erro na utilização dos sensores de fluxo de a calor no solo são: distorção do fluxo de calor produtividade agrícola. Em particular, o fluxo próximo a placa; fluxo de água e vapor de calor na superfície constitui um dos termos divergentes e subestimativa de G devido ao da equação do balanço de energia na mau contato entre a placa e a matriz do solo superfície e sua estimativa possibilita a (Sauer et al 2003). afetam, numerosos solo-atmosfera, direta e fenômenos indiretamente, avaliação da evaporação e do fluxo de calor sensível no ar (Antonino et al, 1997). O fluxo de calor no solo é controlado pela sua condutividade térmica e pelos O fluxo de calor no solo G representa gradientes de temperatura. Os gradientes a fração do saldo de radiação que foi térmicos transferida nos níveis inferiores do solo e determinados experimentalmente, instalando- depende da condutividade térmica e da se sondas térmicas a várias profundidades. A temperatura diferentes condutividade térmica, que é função da profundidades. Em estudos de balanço de umidade, pode ser calculada pelo produto energia a quantificação do G torna-se entre a capacidade térmica volumétrica do importante, pois representará a entrada/saída solo, que depende da composição deste, e a de difusividade térmica (Antonino et al, 1997). energia do solo de em determinado meio, podem, em princípio, ser contribuindo, assim, para o aumento e/ou Nos experimentos de campo com redução nos fluxos de calor latente e sensível balanço de energia, as medições do fluxo de e, conseqüentemente, aumentar e/ou reduzir calor no solo são realizadas com dois a três as taxas de evaporação e transpiração fluxímetros, inseridos de 0,05-0,10 m de (Galvani et al., 2001). profundidade Soares, W. A. e com várias sondas de 666 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. temperatura, inseridas em múltiplas difusividade térmica foi bastante sensível a profundidades acima dos fluxímetros, para se erros de posicionamento do sensor térmico. E calcular o armazenamento de calor acima dos recomendam bastante cuidado na instalação fluxímetros por meio do método calorimétrico de sensores térmicos, com a finalidade de (Kustas et al., 2000). estimar o fluxo de calor na superfície. Ainda O fluxo de calor no solo pode ser segundo os autores, é possível reduzir a medido por meio de um fluxímetro que possui influência uma condutividade térmica constante e possui posicionamento sensores de temperatura, numa configuração adotando-se maior distância entre eles. adequada para se fazer leituras diferenciais (Fuchs, 1986). de eventuais dos erros sensores de térmicos, Para se estimar o G na superfície do solo, utilizando sensores tipo placa, são Horton & Wiereng (1983) propuseram necessários, além dos sensores de fluxo de um método para estimar o fluxo de calor no calor no solo, a determinação da temperatura solo, designado harmônico, com base no em diferentes profundidades e a determinação ajuste dos dados de temperatura a solução por da a capacidade térmica volumétrica do solo séries de Fourier da equação de calor e o (MJm-3 oC-1), que é fortemente influenciada compararam calorimétrico, pela variação da umidade do solo. Para a obtendo uma boa concordância entre ambos. determinação do G pelo método harmônico Antonino et al, (1997) analisaram a influência são necessários os mesmos sensores de do posicionamento das sondas, empregando temperatura e de umidade, dispensando o uma distância nominal de 0,025 m entre as sensor de G, e fazendo uso de uma rotina sondas, na determinação da difusividade numérica. Desta forma, o objetivo deste térmica e na estimativa do fluxo de calor na estudo é comparar os resultados do fluxo de camada superficial, em distintas condições de calor umidade, comparando cinco métodos de profundidade, encontrados por sensores de determinação da difusividade térmica e fluxo de calor no solo e pelo método analisando a sensibilidade em relação a harmônico, determinados para em uma cultura eventuais erros de posicionamento do sensor de mamona. ao método no solo, na superfície e em térmico. Segundo eles os estimadores de difusividade térmica obtidos mostraram-se Material e Métodos sensíveis as condições hídricas do solo estudado, apresentando valores coerentes. Descrição da área experimental Dentre os métodos estudados o harmônico forneceu os estimadores de difusividade Os dados utilizados no estudo foram obtidos térmica mais consistentes. A determinação de entre os meses de abril a outubro de 2007 em Soares, W. A. 667 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. um plantio de mamona, em uma área de 4 ha Para a medida do fluxo de calor no solo, da Fazenda Experimental Chã de Jardim, foram instalados fluxímetros em dois locais, pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da um entre linhas e o outro entre plantas, numa Universidade no profundidade de 0,05 m, juntamente com um município de Areia, situado na microrregião sensor de umidade do solo na mesma do Brejo Paraibano, a 6°58’12” S e 35°42’15” profundidade, além de duas sondas térmicas O, com altitude de aproximadamente 620 m. instaladas horizontalmente nas profundidades O clima na região, pela classificação de de 0,02 m e 0,08 m. Köppen, é do tipo As’ (quente e úmido), com O fluxo de calor na superfície do solo (Gsup) estação chuvosa no período outono-inverno, foi dado de acordo com Kustas et al. (2000): Federal da Paraíba, com maiores precipitações nos meses de Junho e Julho (Brasil, 1972). O solo da área é classificado, de acordo com Gsup Gp TsCD t (1) Latossolo sendo Gp a medição do fluxo de calor pelo Amarelo. A camada de solo entre a superfície fluxímetro, ΔTS a variação na temperatura e apresenta média do solo (°C) durante o período de classificação textural Franco Argilo Arenosa e medição, C a capacidade térmica volumétrica a camada de solo entre 0,4 e 0,8 m é do solo (MJ m-3 oC-1), D é a profundidade do classificada como Argilo Arenosa (Lima, fluxímetro (m) e t é a duração do período de 2004). medição (s). Fluxímetro Método Harmônico EMBRAPA 0,4 m (2006), de como profundidade O fluxo de calor no solo não pode ser Trata-se do método mais utilizado, por medido diretamente na superfície devido à ser fácil de programá-lo no computador e por exposição à radiação dos sensores, nem pode sua adaptação às regiões temperadas, devido que ser feita muito próximo à superfície do as suas hipóteses. Em regiões tropicais, este é solo, devido à modificação induzida no sensor constantemente avaliado. O método considera pelo de movimento de umidade. Quando os como hipótese que a difusividade térmica é, sensores de fluxo de calor são instalados a ao longo de um período, constante no tempo e poucos centímetros abaixo da superfície do na solo, o método proporciona uma combinação teoricamente infinita. A solução analítica da correção produzindo estimativas do fluxo de equação da condução do calor não necessita calor do solo na superfície (Passerat de Silans das condições iniciais sobre o perfil vertical et al. 1997). de temperatura, uma vez que a hipótese de vertical, até uma profundidade estabilidade da periodicidade para todas as Soares, W. A. 668 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. harmônicas é considerada, ou seja, a onda da longo tempo, até mesmo anterior ao período temperatura examinado. na superfície conserva a periodicidade de suas diversas harmônicas por Figura 1. Esquema de instalação dos sensores de fluxo de calor no solo, de umidade e temperatura no solo. Assim, o perfil inicial não apresenta aparente foi introduzido por De Vries (1963). mais influência sobre os perfis verticais de Esse autor analisou em detalhe o processo de temperatura transferência de calor no solo e mostrou que, Teoricamente, nos este períodos fato estudados. admite ser a além de um processo essencialmente temperatura média diária a mesma em todas condutivo pelos contatos físicos entre as fases as profundidades. sólida, A equação unidimensional vertical da condução de calor no solo é dada por: líquida e gasosa, nos espaços intraporais, existe transferência de calor por convecção associada a processos de evaporação-condensação. A condutividade T 2T 2 t z (2) térmica e a difusividade térmica medidas in loco representam esses processos, motivo pelo qual elas são chamadas de aparentes. Sendo T a temperatura do solo, t o A difusividade térmica do solo () tempo, z a profundidade e α é a difusividade representa a capacidade do solo em difundir térmica aparente do solo (m2 s-1). O termo as influências térmicas. Ela controla a Soares, W. A. 669 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. velocidade com que as ondas de temperatura profundidade à qual a onda de calor penetra se movem e a profundidade de influência durante o período P/i. Os termos da equação térmica da superfície ativa, ou seja, representa uma medida exigida para que as variações de z exp Dn temperatura se propagarem, as quais são respectivamente, afetadas especialmente pela umidade. defasagem para cada harmônica. z Dn e o representam, amortecimento e a As condições de fronteira superior e O fluxo de calor no solo pode ser obtido por inferior, respectivamente, para a equação 1, meio da condutividade térmica aparente e do são: gradiente de temperatura em função da profundidade, por: N T 0,t Tt A0 n s i n nt 0 n (3) n 1 G e limT z,t T T z (8) (4) z Diferenciando a equação 4 com respeito a z, e A solução analítica desta equação, considerando α constante, pelas séries de Fourier é dada por: N com o fato de que C , temos: N z z G z, t A0 nC n exp sen nt on D 4 Dn n 1 n T z, t Tt A0 n e z / Dn sin nt 0 n z / Dn n 1 combinando o resultado com a equação 7 e (9) (5) Esta equação representa o fluxo de calor, Com positivo para baixo, em um perfil de solo homogêneo, com a temperatura superficial 2 P (6) descrita por uma série de Fourier. A capacidade térmica volumétrica de um solo (C) é definida como a quantidade de 2 Dn n (7) calor necessária para variar a temperatura de 1 cm3 de solo de 1 ºC e indica a capacidade do Sendo Tt a temperatura média do perfil de solo, n a ordem da harmônica considerada; N, o número total de harmônicas, A0n e on a amplitude e a fase da harmônica n, frequência fundamental, P o a solo em armazenar e liberar calor, isto é, expressa a variação de temperatura resultante por ganho ou perda de calor. Uma forma de estimar a capacidade térmica volumétrica do solo é somar as capacidades caloríficas dos período fundamental do ciclo térmico no solo e Dn a Soares, W. A. 670 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. vários constituintes do solo, ponderados de equação linear da capacidade térmica em acordo com suas frações de volume. função da umidade: C Cm f m Co f o Cw Ca f ar (10) C 0,994 4,19 (12) Sendo Cm, Co, Cw e Ca as capacidades Para estimar a difusividade térmica do térmicas dos minerais do solo, da matéria solo, empregou-se o método harmônico orgânica, da água e do ar, respectivamente, e, (Horton et al., 1983), com seis harmônicas e fm a fração de volume dos minerais, f0 a fração um período igual a um dia (86400 s). Para se de volume da matéria orgânica e a umidade determinar os valores de Tt , A0n e on volumétrica do solo e far a fração de ar no utilizou-se uma função objeto, minimizando solo. Quanto maior a quantidade de água no as diferenças entre os valores medidos e solo, maiores serão os valores de C, pois a estimados da temperatura a 0,02 m, que foram adição considerados de água expulsa um volume proporcional de ar de dentro do solo, e, como -1 iguais aos valores da temperatura na superfície do solo: -3 a capacidade térmica do ar (0,0015 MJK m ) é muito menor do que a dá água (4,19 MJK1 m-3). Um valor médio para Cm é 1,93 Jm-3K-1 6 T 0,t Tt A0 n sen nt 0 n (13) n 1 e para Co é 2,51 Jm-3K-1, desta forma uma razoável aproximação para a capacidade Para a obtenção dos valores diários de térmica volumétrica do solo é (de Vries, , utilizaram-se os dados de temperatura 1963; Hillel, 1998): obtidos a 0,08 m. A função objeto utilizada para a minimização da diferença entre os C 1,93 f m 2,51 fo 4,19 (11) valores medidos e estimados de temperatura foi da seguinte forma: A capacidade térmica do solo foi estimada pela soma das capacidades k F ts ts 2 (14) i caloríferas dos constituintes do solo. A fração de volumes de sólidos do solo foi estimada Resultados e Discussão em 0,45, uma vez que a porosidade media do Temperatura do solo solo foi de 0,50 e a fração de matéria orgânica do solo foi de aproximadamente 0,05 (Lima, Observa-se pelos perfis de temperatura 2004). Desta forma, a substituição dos valores do solo em um dia de céu claro (5/4) e um dia constantes na Equação 11, obtém-se uma com o céu encoberto (19/4), apresentados na Figura 2a e 2b, respectivamente, que o Soares, W. A. 671 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. sombreamento nuvens solo e a elevação na temperatura nas camadas influência a temperatura do solo. No dia sem mais próximas a superfície. Resultados chuvas, a pouca quantidade de água no solo semelhantes podem foram encontrados por diminuiu Passerat de Silans et al., (2006). a causado sua pelas difusividade térmica, provocando um maior acúmulo de energia no . Figura 2. Perfil de temperatura do solo em um dia de a) céu claro e b) céu encoberto. As temperaturas no dia sem chuvas A influência da cobertura do céu pelas (Figura 2a) sofrem grande variações no nuvens nas variações térmicas do solo é decorrer do dia até 0,2 m de profundidade. A facilmente observada (Figura 3b). A 0,02 m 0,02 m de profundidade, as 12:00 horas, a de profundidade, as 12:00 h solo encontra-se temperatura do solo está a 37°C, valor logo a superado as 13:00, atingindo 38,6 °C. Às temperatura não sofreu alteração. Às 14:30 h 14:30 h o valor máximo da temperatura do o solo diminuiu sua temperatura, atingindo solo é atingido, chegando a 39,2 °C. No meio 26,29°C, horário em que num dia sem chuva da tarde, às 16:30 h, o solo já está mais frio, atingiria seu valor máximo. Às 16:30 h e às com uma temperatura de aproximadamente 17:30 36°C, e finalmente termina o dia a 32,8 °C. temperatura s muito próximas uma das outras, No dia de céu claro, a temperatura a 0,02 m com 27,68°C. h o Passando-se solo valores uma apresenta de 24,64 hora valores e a de 24,17°C. variou cerca de 6 °C durante o dia. Soares, W. A. 672 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. Diferentemente do dia de céu claro, a variação Observa-se que o fluxo de calor no neste dia de céu encoberto foi de apenas 3 °C. solo no dia de céu claro apresenta valores A temperatura estimada para a máximos mais elevados do que os valores profundidade de 0,02 m se mostrou um pouco para o dia de céu encoberto, a uma mais eficiente do que a estimativa da profundidade de 0,05m (Figura 4). Em ambos temperatura a 0,08 m (Figura 3a e 3b). Os os dias os valores do fluxo de calor no solo valores nos dois casos apresentam comportamentos do coeficiente de determinação aproximaram-se bastante de um. semelhantes. Como esperado, os valores medidos nas entre linhas foram maiores aos 3.2 Fluxo de calor no solo medidos entre plantas. b Figura 3. Valores de temperatura medidos versus estimado nas profundidades de 0,02 e 0,08 m. Podemos observar que as temperaturas Na condição úmida, em função da apresentam comportamentos distintos. No dia maior capacidade térmica do sistema solo- de céu claro, a temperatura mais próxima à água e da maior quantidade de energia superfície apresenta maiores valores, tanto envolvida no processo de evaporação, as para medidas entre linhas, como para medidas variações de temperatura e, principalmente, as entre plantas. O mesmo não ocorre no dia de temperaturas máximas, foram menores do que céu encoberto, onde a temperatura a 0,08 m se na condição seca, ao longo de todo o período. sobressai. Soares, W. A. 673 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. Figura 5. Evolução da temperatura do solo medidas entre linhas e entre plantas, a 0,02 m (○, ) e 0,08 m (□, ■) de profundidade, em um dia de a) céu claro (20/10/2007) e b) céu encoberto (10/10/2007). No dia de céu claro, os valores as diferenças foram de 2°C, para a máximos a 0,02 m de profundidade chegaram profundidade de 0,02 m e de 2,5 °C, para 0,08 a ultrapassar os 40°C, enquanto que no dia de m, num dia de céu encoberto. As pequenas céu encoberto os valores máximos chegaram diferenças nos valores da temperatura do solo apenas aos 30°C. Durante todo o período, a mostram que a folhagem pouco adensada da temperatura é mamona diminui a energia disponível no solo. ligeiramente maior do que a temperatura do As evoluções do fluxo de calor no solo solo entre plantas, tanto para 0,02 m como (G) a 0,05 m de profundidade, determinado para 0,08 m de profundidade. A maior pelos fluxímetros entre linhas, entre plantas e diferença ocorre nos valores de pico, durante calculadas pelo método harmônico, em um o dia de céu encoberto, a 0,08 m de dia de céu claro diferem dos valores medidos profundidade. nos horários noturnos, em ambos os casos. Os do solo entre linhas Para a cultura de mamona, com uma valores máximos encontrados, para esse tipo cobertura parcial do solo, e com folhagem de vegetação, foram bem maiores do que os pouco densa, os valores encontrados nos encontrados durante o plantio de feijão horários de pico para a temperatura do solo determinados determinada entre linha e entre plantas, foram diferenças foram provocadas pela própria de apenas 1°C, para 0,02 m de profundidade e forma com que a mamona cobre o solo. por Soares (2009). Essas de 2°C, para 0,08 m, para o dia de céu claro, e Soares, W. A. 674 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. Figura 6. Evolução do fluxo de calor no solo a 0,05 m de profundidade, a) medidos entre linhas (), b) entre plantas (□) e calculado pelo método harmônico (), em um dia de céu claro (20/10/2007). Figura 1. Evolução do fluxo de calor no solo a 0,05 m de profundidade, a) medidos entre linhas (), b) entre plantas (□) e calculado pelo método harmônico (), em um dia de céu encoberto (10/10/2007). No dia de céu claro o valor máximo % inferior. Esta diferença foi um pouco determinado pelo método harmônico foi de menor (~14%), quando se compara os valores aproximadamente 118 Wm-2, enquanto o de pico encontrado pelo método harmônico e valor medido pelo fluxímetro instalado entre o sensor instalado entre plantas, 130 Wm-2 e linhas foi de aproximadamente 95 Wm-2, 20 112 Wm-2, respectivamente. Soares, W. A. Vale ressaltar 675 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. que o intervalo de medida do sensor é de ± coeficiente de correlação. Isto se deve a 100 Wm-2, o que o impossibilita de obter um menor perturbação na energia disponível no valor equivalente ao calculado pelo método solo, que sofre menos com as diferenças harmônico, provocadas pela passagem de nuvens. além de não produzir confiabilidade neste valor por ele estipulado. A evolução do fluxo de calor no solo Para o dia de céu encoberto, o método corrigido para a superfície, a partir dos dados harmônico apresentou uma pequena redução medidos entre linhas e entre plantas, e no de calculadas pelo método harmônico, num dia aproximadamente 109 Wm-2, enquanto que o com céu claro (20/10/2007) apresentou valor medido pelo fluxímetro instalado entre valores muito próximos aos valores medidos, linhas apresentou um diminuição bem maior, tanto para os valores ente linhas como para os com de cerca de 49 Wm-2. A diferença entre valores os métodos, que era de 20% no dia de céu resultado assemelha-se aos encontrados por claro, passou para 60 %. Pode-se ainda Hseieh, et al., (2009), observar uma diferença de 40% nos horários determinados para a superfície do solo são de pico, para as determinações entre plantas. melhor estimado ao encontrados para G a Estes 0,05 m de profundidade. valor máximo, resultados que foi assemelham-se aos entre plantas (Figura 9). Este onde os valores apresentados por Soares (2009), que estimou A evolução do fluxo de calor no solo G a partir do modelo Sispat em quatro corrigido para a superfície, a partir dos dados diferentes medidos entre linhas e entre plantas, e fases de uma plantação de Mamona. calculadas pelo método harmônico Observa-se que em ambos os casos os superestimou os valores medidos nos horários valores estimados para os fluxos de calor no de maior incidência solar, tanto para os solo medido entre linhas e entre plantas valores ente linhas como para os valores entre versus calculados pelo método harmônico plantas (Figura 10). Também ocorreram apresentam uma boa correlação com os subestimativas em horários noturnos. Este valores medidos (Figura 8). Estes valores são mesmo comportamento foi observado por melhores do que os encontrados por Hsieh et Hsieh et al., (2009) ao comparar o fluxo de al., (2009), ao comparar o G obtidos por calor no solo a 0,05 m em um solo coberto fluxímetros e pelo método analítico sinusoidal por pastagem, na Irlanda. e se equiparam aos resultados obtidos pelo método da derivada temporal meia-hora. Entretanto, a estimativa quando comparada com os valores medidos pelo fluxímetro instalado entre plantas tem um melhor Soares, W. A. 676 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. Figura 8. Fluxo de calor medido por fluxímetros instalados entre a) linhas e b) plantas versus calculado pelo método harmônico. Figura 9. Evolução do fluxo de calor no solo calculado pelo método harmônico () e corrigido à superfície a parti de medições a) entre linhas () e b) entre plantas (□), em um dia de céu claro. Soares, W. A. 677 Revista Brasileira de Geografia Física v.06, n.04, (2013) 665-679. Figura 10. Evolução do fluxo de calor no solo calculado pelo método harmônico () e corrigido à superfície a parti de medições a) entre linhas () e b) entre plantas (□), em um dia de céu encoberto (10/10/2007). Conclusões Agradecimentos Agradecimentos ao Conselho Nacional - A partir dos perfis verticais de temperaturas de Desenvolvimento Científico e Tecnológico no solo, determinou-se o comportamento do - CNPq (Processo no 484189/2011-5), pela fluxo de calor do solo em um Latossolo concessão de recursos financeiros. Amarelo da região do Brejo Paraíbano, em dias de céu claro e encoberto por nuvens. Referencias - Embora considerando a difusividade térmica Antonino, A. C. D. Lira, C. A. B. O. Dall’olio, A. Audry, P. Pinto, A.X.M., 997. Influência do posicionamento de sondas térmicas na determinação da difusividade térmica e do fluxo de calor do solo em condições de campo. R. Brasileira de Ciencia do Solo, Campinas, 21:165-172,1. constante no tempo e no espaço durante o período de aplicação, o método harmônico, no solo estudado, mostrou-se adequado para estimar o fluxo de calor no solo tanto na superfície do solo como a 0,05 m de profundidade. - Mesmo com a presença de nuvens, que reduziu em aproximadamente 30% os valores do fluxo de calor no solo, o método harmônico forneceu resultados satisfatórios. Soares, W. A. Brasil. 1972. Ministério da Agricultura. Equipe de Pedologia e fertilidade do Solo. Divisão de Agrologia – SUDENE. Levantamento exploratório – reconhecimento de solos do Estado da Paraíba. (Boletim Técnico,15). Rio de Janeiro. 670p. De Vries, D. A. 1963. Thermal properties of soils. In : VAN WIJIK, ed. Physics of plant environment. 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