UNIJUÍ-UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DHE-DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO PEDAGOGIA DORÁLIA LAURINDA GONÇALVES PEREIRA ESCOLARIDADE EM CICLOS: PERCURSOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS IJUÍ/RS 2014 UNIJUÍ-UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DORÁLIA LAURINDA GONÇALVES PEREIRA ESCOLARIDADE EM CICLOS: PERCURSOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia do Departamento de Humanidades e Educação-DHE, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do SulUNIJUI, para fins de aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso II. Orientadora: Profª. Ms. Maridalva Bonfanti Maldaner Ijuí/RS 2014 ESCOLARIDADE EM CICLOS: PERCURSOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS Elaborada por DORÁLIA LAURINDA GONÇALVES PEREIRA Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia do Departamento de Humanidades e Educação-DHE, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do SulUNIJUI, para fins de aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso II. BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Profª. Ms. Maridalva Bonfanti Maldaner Orientadora __________________________________________ Profª Ms. Lídia Inês Allebrandt Examinadora Ijuí/RS 2014 4 Escolaridade em Ciclos: Percursos, desafios e perspectivas1 Dorália Laurinda Gonçalves Pereira2 Resumo O presente artigo tem como objetivo revisitar o percurso da organização dos ciclos no Brasil, bem como as diferenças e aproximações das abordagens que os fundamentam e que tomam lugar no debate político e pedagógico contemporâneo. Os estudos realizados permitiram compor uma compreensão do conceito de ciclo, com destaque em sua complexidade, que se expressa por meio das experiências já realizadas e em andamento. Apresentam-se as principais abordagens que resultaram em base para a implantação dos ciclos, com destaque nos ciclos de aprendizagem e de formação, sem deixar de abordar questões que anunciam a (re)significação da escola quanto a sua função social, no direito à educação e à aprendizagem. Aponta-se para questões que colocam a avaliação como ponto fundamental na proposta de ciclos e suas implicações na organização da escola e nas práticas pedagógicas. A pesquisa de caráter bibliográfico dialogou com autores e pesquisadores que apontam os desafios políticos e pedagógicos da escolaridade em ciclos, com reflexões críticas sobre as teorias e práticas que embasam as experiências não seriadas do país. Palavras-chave: Escolaridade em Ciclos, Ciclo de Aprendizagem, Ciclo de Formação e Avaliação Introdução Ao longo de décadas têm-se implantado políticas públicas de educação com o objetivo de reverter o quadro de evasão e repetência das escolas públicas de nosso país. Tais políticas apresentaram-se em alternativas diversas como a promoção automática, progressão continuada, ciclos básicos para as duas primeiras séries do Ensino Fundamental e, a partir de 1990, os ciclos de formação e os ciclos de aprendizagem. Essas propostas precisam ser consideradas e analisadas a partir dos contextos em que Trabalho de Conclusão de Curso – 2014 Acadêmica do 9º. Semestre do Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI. 1 2 5 foram implantadas, do envolvimento dos docentes e de sua formação e das concepções das políticas educacionais que orientam a gestão desde o nível mais amplo até os programas de organização da escola em ciclo. Pesquisas realizadas foram informando sobre a necessidade de rever o tempo da organização escolar e políticas educacionais foram implantadas por inúmeras secretarias de ensino tanto municipais quanto das redes estaduais, resultando em experiências e propostas, com peculiaridades diversas e, em comum, era necessário no ensino fundamental um sistema de avaliação que não excluísse o estudante da escola. As justificativas para a implantação dos ciclos consideram o princípio de que o ensino aprendizagem articula-se a um processo contínuo, sem retrocessos, buscando construir metodologias e uma avaliação que considere esse foco. E, mais recentemente, com a proposta de ciclos para os primeiros anos do Ensino Fundamental coloca-se a aprendizagem como direito da cidadania. A opção por estudar esse tema é rever, de forma breve, esse percurso situando as principais abordagens que influenciaram as proposições de ciclo, bem como sua articulação com as propostas de avaliação. 1. Ciclos: uma trajetória em construção Estudos indicam que a grande maioria das escolas no Brasil, até o final do século XIX, funcionava em Igrejas, fazendas, em casa das famílias, escolas construídas por comunidades, com estudantes em variados níveis de ensino em um único espaço. Com a criação dos grupos escolares, consolida-se o ensino seriado e a promoção por séries. A noção de série, inspirada na divisão do trabalho Pós-Revolução Industrial, tem como um dos objetivos a otimização do tempo, oferecendo a um grande número de pessoas o mesmo ensino. Sob o domínio do tempo físico, impondo-se aos processos e as rotinas educacionais, dividem-se os conhecimentos em séries e algumas séries em disciplinas; a atividade escolar constitui-se em repassar conhecimentos seriados a uma massa de alunos em um tempo definido pelo ano civil (FETZNER, 2007, p 54). Com o ensino seriado consolidado, apresentando elevados índices de reprovação iniciam debates que apontavam possibilidades para combater a repetência. É a partir de 1920, que a promoção automática ou em massa se apresentou como alternativa à 6 superação da situação de reprovação e evasão. Silva e Botler (2010) ao indicar pesquisa de Almeida Junior (1957), com base em dados estatísticos de 1951, apresentam os números referentes à repetência de alunos de outros países em comparação ao caso brasileiro. Enquanto que em países europeus a cada 100 alunos, 71 chegavam à quarta série, no Brasil, a correspondência era de cada 100 alunos, somente 16 atingiam aquele nível de ensino. Baseado ainda no trabalho desse autor identifica que autoridades educacionais paulistas aconselhavam promover todos os alunos do primeiro ano para o segundo ano com o objetivo de reduzir as taxas de reprovação e o desperdício de recursos financeiros por causa da falta de vagas no ensino primário. (Silva e Botler, 2010, p.74). Houve um intenso debate a respeito das práticas de não retenção durante a década de 50, principalmente pela Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (Mainardes, 2007; Mainardes, 2012). Autores alertavam para os problemas que poderiam surgir com a implantação da promoção automática, como uma política de não retenção, sem se atentar para os aspectos de infraestrutura das escolas e do envolvimento dos professores no processo. A preocupação não era somente com a redução dos índices de reprovação ou a redução dos gastos financeiros, compreendiam que a proposta só poderia obter sucesso se houvesse “plena adesão do professorado, a fim de modificar a concepção vigente do ensino primário, rever programas e critérios de avaliação, aperfeiçoar o professor, e a melhoria da infraestrutura escolar” (Almeida Junior apud Silva e Botler, 2010, p.75). Nesse contexto começam a surgir as primeiras experiências da política de não retenção no ensino público no Brasil. Em 1958 no Rio Grande do Sul e em 1959, em São Paulo. Nas décadas de 1960 e 1970, ocorreu a organização em níveis, em Pernambuco (1968), o sistema de Avanços Progressivos, em Santa Catarina (19701984), o Bloco Único no Estado de São Paulo (1968-1972) e o Bloco Único no Rio de Janeiro (1979-1984). Os debates realizados no final da década de 1970 e início dos anos de 1980 revelaram que a escola pública excluía as crianças das classes menos favorecidas da população tanto social quanto economicamente. A partir dessa década várias redes de ensino implantaram o Ciclo Básico de Alfabetização, que emergiu como uma política de inovação no contexto da redemocratização do país. O principal objetivo desse projeto era reverter o quadro de reprovação e evasão das séries iniciais do Ensino Fundamental, 7 como também rever as concepções de alfabetização vigentes e a avaliação da aprendizagem baseada na abordagem classificatória e excludente. Em 1983, na rede estadual de São Paulo, instituiu-se o Ciclo Básico de Alfabetização para todas as escolas públicas, evidenciando esse caráter político-pedagógico de reorganizar a escola e alterar o sistema de seriação. As duas séries iniciais transformaram-se em um ciclo de dois anos, sendo que o aluno não poderia ser reprovado no primeiro ano. No Estado de Minas Gerais, o Ciclo foi implantado em toda a rede estadual a partir de 1985, em nível experimental, e, em 1990, torna-se oficialmente implantado. No Rio de Janeiro, os ciclos foram implantados nas escolas públicas de 1º grau no final da década de 70 e início dos anos 80, chamados de Bloco Único, sendo que os dois primeiros anos da alfabetização como um único ciclo e sem a reprovação. O Estado de Santa Catarina e o de Goiás tiveram as suas experiências na década de 80 e, no Paraná, o Ciclo Básico foi implantado entre 1988 e 1989 e, em 1990 teve a adesão de todas as escolas estaduais. (Fernandes, 2009; Mainardes, 2001; Mainardes, 2007). A implantação do Ciclo Básico foi uma experiência relevante para a educação brasileira, pois introduziu mudanças relevantes em redes inteiras, o que, de várias formas, subsidiou a criação de políticas de ciclos mais abrangentes (nos oito anos do Ensino Fundamental) e mais consistentes, a partir da década de 90 (MAINARDES, 2007, p.114). Essas diferentes experiências tiveram suas particularidades nos contextos em que foram constituídas, mas todas apontavam para algo em comum, indicavam para um ensino fundamental e seus processos de avaliação que não excluíssem os alunos da escola e por uma escola mais democrática e de melhor qualidade para o ensino público. As justificativas para a implantação dos ciclos eram semelhantes: o processo ensino-aprendizagem deveria ser contínuo e sem retrocessos e desenvolver-se por meio de metodologia que contemplasse esses princípios, sendo assim, a avaliação deveria ser também um processo contínuo (FERNANDES, 2009, p. 27). Vale ressaltar que as questões sobre a avaliação estão presentes nessas experiências na tentativa de superação do fracasso escolar e volta-se para soluções indicando novas práticas avaliativas, mais ligadas às práticas de promoção. Segundo Fernandes, as diversas experiências têm enfocado mais as mudanças nos sistemas de 8 avaliação e promoção dos alunos do que em alterações mais significativas nos currículos, “seja na organização do tempo e espaço, na seleção, na reorganização ou na sequenciação dos conteúdos” (Fernandes, 2009, p.29). Entretanto, [...] a variedade de propostas para os sistemas de avaliação como a promoção automática, progressão continuada, avaliação continuada, classes de aceleração/turmas de progressão, conselhos participativos, sistema de dependência, recuperação nas férias, dentre outras- têm sido, atualmente, mais frequentemente conjugada às mudanças na organização da escolaridade em ciclos, como as adotadas pelas secretarias de diferentes estados e municípios: SEE/SP, SEE/MG, SEED/PR, SME/SP, SMEC/POA, SME/BH, SME/DF, SME/FME/Niterói, SEDUC/CE, SME/DF, dentre as principais (FERNANDES, 2009, p.29). A partir da década de 1990, a política de ciclos incorpora uma maior articulação com abordagens teóricas e, em vários municípios e estados, passou a abranger o Ensino Fundamental completo. Em 1992, o Projeto de Ciclos de Aprendizagem foi implantado na rede municipal de São Paulo. Em seguida, iniciou-se a implementação dos programas chamados de Ciclos de Formação, a exemplo de Belo Horizonte (Escola Plural), em 1995, em Porto Alegre (Escola Cidadã), a partir de 1996, e em outros vários municípios. Nessas propostas, a referência de idade provoca a reestruturação curricular, tendo como objetivo o desenvolvimento integral do educando, considerando, também, a heterogeneidade da turma como uma força motriz da aprendizagem escolar. A organização escolar por ciclo propõe a superação do agrupamento proposto pela escola seriada, com base no conhecimento anterior proposto (FETZNER, 2007). Ainda, na década de 90, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) no. 9394/96 referendou as experiências em andamento e as já existentes nas diferentes redes de ensino acerca da escolarização em ciclos e promoção. Foram previstos como uma das possíveis formas de organização escolar do ensino fundamental. Segundo Mainardes (2012), a implantação do Ensino Fundamental de Nove Anos reacendeu a discussão da organização da escolaridade em ciclo, principalmente nos três primeiros anos de escolaridade. Destaca que muitas das propostas, 9 implementadas a partir da segunda metade de 1990, continham em suas proposições a inclusão das crianças de seis anos no primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Os pareceres CNE/CEB n. 7/2007 e 4/2008 indicam e justificam a relevância de se garantir que os três primeiros anos sejam entendidos como um processo contínuo (BRASIL, 2007, 2008). As Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental ((RESOLUÇÃO no. 7 de 14 de dezembro de 2010) também mencionam os ciclos enquanto uma possibilidade de organização do ensino Fundamental (BRASIL, 2010) (MAINARDES, 2012, p. 5).3 Segundo Fetzner (2007), os ciclos hoje podem ser compreendidos por perspectivas diferentes e, em comum, pela proposta de rompimento com a possibilidade de reprovação dos alunos ano a ano, contrapondo-se com a lógica da série. O conceito de ciclo tem pelo menos três abordagens, os agrupamentos por idade (Ciclo de Formação), por conteúdo anterior adquirido (Ciclos de Aprendizagem), e uma conjugação dessas duas primeiras perspectivas. 2. Abordagens nas proposições dos ciclos A partir dos anos de 1970 e 1980 as teorias e abordagens com relação aos ciclos e as discussões em torno deles, passam a ser referenciadas sob o olhar de teóricos de orientação construtivista, a partir dos estudos de Piaget, Vygotsky, Teberosky e Ferreiro, dando base para propostas de alfabetização e fortalecendo a implantação dos Ciclos Básicos de Alfabetização, como já foi abordado anteriormente. É na década seguinte que essa orientação toma maior abrangência e passa a predominar as propostas curriculares em quase todos os níveis de ensino. “Pode-se dizer que essa hegemonia incrementa a formulação de políticas educativas, que, fundamentadas nos princípios construtivistas, encontram respaldo teórico para justificar a organização da escolaridade em ciclos” (Fernandes, 2009, p.38). A mesma autora destaca que essa abordagem foi sustentada, primeiramente, por princípios cognitivistas, e foi se configurando outra, que teve maior adesão, baseada em perspectiva sociointercionista. 3 Esse autor aborda no trabalho quais os principais fatores que influenciam a retomada e o revigoramento da alternativa do ciclo e quais as condições e implicações na retomada dos mesmos como organização da escolaridade. 10 As propostas de ciclos decorrentes dessas orientações procuram romper com a seriação, passam a ter como foco principal o aluno e a sua aprendizagem, compreendendo-o como sujeito que aprende na interação com o outro e com o objeto de conhecimento, evidenciando uma aprendizagem que se constitui mediante a internalização de novos significados aos já apropriados, mediante tempos e ritmos diversos para aprender. Essa organização em ciclos mostra-se complexa, pois além de procurar romper com a cultura do ensino seriado, questiona a fragmentação dos conteúdos, por ano, com a adequação do período letivo ao ano civil, com a avaliação vista como mecanismo de reprovação/aprovação, com o trabalho individualizado dos professores por série, com o ritmo da aprendizagem estabelecido previamente de forma inflexível. Segundo Fernandes (2009, apud Krug, 2001; Dalben, 2003, Arroyo, 1999, 2000; Abramowics, 1999) A perspectiva construtivista, que passou a ser predominante nas propostas educacionais, sustenta as justificativas para a implantação dos ciclos: os sujeitos aprendem em tempos e ritmos diferenciados; o tempo contínuo na escola em ciclos respeita o tempo de formação do próprio desenvolvimento humano. Para estudiosos envolvidos com a implantação de sistemas de ciclos, é consenso que os ciclos privilegiam o que é mais significativo em cada período de formação do sujeito, consideram os saberes e os valores que os alunos levam consigo para o espaço escolar, são coerentes com uma avaliação mais contínua e formativa dos alunos; favorecem a formação da identidade dos sujeitos na medida em que a composição das turmas toma como referência as idades dos alunos (FERNANDES, 2009, p. 39-40). As propostas curriculares passam a ter hegemonia de abordagens enriquecidas pelas contribuições da sociolinguística, da psicolinguística, do sociointeracionismo e de abordagens de cunho socioantropológico e da dialética, com destaque em Paulo Freire, sendo elas trazidas, sobretudo, pelos estudos da alfabetização. Com relação à temática em discussão Sousa (2012) destaca: Como podemos ver, todas essas perspectivas trouxeram novas contribuições para o entendimento do ser humano como um ser integral e seu processo de aprendizagem. Nada mais é possível, hoje sustentar que a criança é como uma página em branco a ser escrita pelos adultos (empirismo); que ela já traz inatas condutas, ideias que serão desenvolvidas em seu processo de 11 maturação pela educação (inatismo); nem que ela é produto de estímulo e resposta em sua relação com o meio (behaviorismo). A criança é, pois, um ser humano complexo, ativo que interage com as pessoas e o ambiente e, nessa interação, que é contraditória, conflituosa e dinâmica, examina, seleciona, recorta, aprende aquilo que atende às suas necessidades, a partir daquilo que o ambiente cultural e sua biologia permitem que o faça, refazendo-se permanentemente (SOUSA, 2012, p. 115). Diante disso é possível entender a criança e sua relação com o mundo, que é capaz de produzir gestos, significados, palavras, que busca interação com os outros, estabelece novas formas de mediação para o seu próprio comportamento via processos cognitivo-linguísticos e socioculturais. Porém, esses processos não estão restritos somente à infância, mas presentes ao longo de toda vida, do nascimento à velhice. Todos esses estudos e pesquisas justificam a implantação dos ciclos, que passaram a predominar nas propostas educacionais, com a centralidade na aprendizagem dos sujeitos e em propostas de novas compreensões dos tempos pedagógicos, ou seja, o tempo contínuo na escola em ciclos deve respeitar o tempo de formação do próprio desenvolvimento humano. Nos anos 1990, o debate e as novas questões em torno do campo da aprendizagem continuam apontando que o sujeito aprende em todos os momentos da vida e não somente na escola. Desde então se busca uma relação dessas questões com reconstruções curriculares com a implantação de um currículo coerente com um regime de ciclos, que leve em conta as mudanças quanto à hierarquia dos tempos escolares instituídos e que inaugure um período de maior liberdade da escola e dos professores na construção e desconstrução do currículo. Os estudos e proposições de autores estrangeiros têm servido como fundamentos para as propostas de ciclos. Dentre eles, Perrenoud defende a implantação do sistema de ciclos nas escolas que tem como um dos seus pressupostos a formação dos ciclos de aprendizagem plurianuais. Segundo Fernandes (2009, p. 41), ao citar esse autor, afirma que ele “tece justificativas relacionadas a teorias de aprendizagem como também às práticas escolares, à organização do trabalho docente, à estruturação da escola e do sistema escolar”. O ciclo de aprendizagem e o ciclo de estudos são citados pelo autor por configurar-se em um “polo mais conservador”, pois consideram “uma série de etapas anuais, com programas do mesmo tipo, com grades horárias e divisões disciplinares 12 análogas, que exigem um mesmo status de professores e, muitas vezes, são aplicados nos mesmos prédios...Com relação aos ciclos de aprendizagem a diferença é posta em relação ao sistema de promoção, “proíbe-se a repetência no interior do ciclo, exceto em seu último ano”. Analisa que na prática é mantida a mesma lógica de organização escolar e das práticas pedagógicas da seriação e da avaliação classificatória. (Perrenoud 2000b, apud Fernandes, 2009, p. 37). As mudanças de forma mais profunda na organização do currículo e das práticas pedagógicas seriam propostas pelos ciclos de aprendizagem plurianuais, pois rompem com as etapas anuais e, assim, as repetições perdem sentido. Os alunos têm três, quatro ou mais anos (conforme duração do ciclo) para alcançar os objetivos de final do ciclo e nessa relação, o acompanhamento das progressões pelos professores é de fundamental importância, que, em princípio, devem trabalhar em equipe (Perrenoud, 2002b, apud Fernandes, 2009, p.42). Os ciclos plurianuais se constituem em etapas mais coerentes com os objetivos de aprendizagens mais duradouras e não simples memorização de fatos. Para que as aprendizagens se realizem de fato, elas não podem ser construídas em um ano, mas em um período de tempo maior. É fundamental ter uma proposta curricular que considere a continuidade das aprendizagens e que tenha uma concepção em espiral, ou seja, muitas aprendizagens devem aparecer mais de uma vez no currículo, e não só em um ano-série, como acontece. As aprendizagens têm níveis crescentes de complexidade e abstração (FERNANDES, 2009, p. 42). Um dos aspectos a destacar nessa proposta de ciclo é que todos os estudantes podem atingir os mesmos objetivos, mas que sejam considerados os percursos diferenciados ao longo do tempo do ciclo e que, em determinado momento, os estudantes possam estar juntos novamente. Desse modo, não é o tempo de formação que varia, mas a diferenciação no trabalho por meio do acompanhamento dos percursos individuais, com destaque na atuação da “equipe de ciclo”, que trabalham juntos acompanhando uma quantidade de alunos. Segundo Fernandes (2009) o que é individualizado são os percursos de formação e não o ensino. Em sentido mais amplo, segundo David (2006), os ciclos de aprendizagem partem da compreensão de que a aprendizagem e o desenvolvimento das competências são necessárias para instrumentalizar o sujeito para uma efetiva inclusão social. E, ao 13 desenvolver essas competências, tem mais oportunidades de conquistar a sua inclusão social, que “potencializará o processo de formação humana, de desenvolvimento emocional, social, cognitivo, cultural e, desse modo, será garantido um dos princípios dos ciclos de aprendizagem, qual seja, combater o fracasso escolar” (DAVID, 2006, p.3). Em diversas experiências de ciclos implantadas em nosso país, a grande maioria apresenta a proposta dos ciclos de formação. David (2006) identificou que os ciclos de formação têm como ponto de partida e de sustentação na formação humana, no desenvolvimento social, cognitivo, cultural e afetivo, sem a preocupação explícita com as conquistas no campo do mercado de trabalho. Ainda, segundo David (2006), a ênfase recai na formação para a cidadania, sendo que essa realização integral do sujeito poderá remetê-lo a buscar seus caminhos, identificar as suas possibilidades e lutar pela sua realização tanto pessoal quanto profissional. “Trata-se de uma proposta que está vinculada a projetos mais amplos, de transformação social, que inclui a educação como um dos eixos importantes do processo” (DAVID, 2006, p.4). Os ciclos de formação têm como princípio a organização dos processos educativos considerando as temporalidades do desenvolvimento humano em suas especificidades e possibilidades. Entender esse processo de desenvolvimento pelo qual passam todos os seres humanos, considerados ciclos de vida, ajuda a compreender as mudanças e as transformações que os seres humanos passam ao longo da vida. Esses tempos-ciclos são a infância, adolescência, juventude e idade adulta, como definem Arroyo (Arroyo, 1999), entre outros. Porém, esses períodos da vida são complexos, dinâmicos, articulados e, muitas vezes, contraditórios, “envolvem inúmeros fatores intraorgânicos e extraorgânicos: biológicos, psicológicos, ambientais, históricos e sociais em interinfluência mútua e em transformações sucessivas, deixando marcas de suas trajetórias em cada pessoa” (Sousa, 2012). Segundo a mesma autora, Podemos afirmar, então, que o Desenvolvimento Humano é um processo de construção contínua, complexa, multidirecional e multidimensional que ocorre desde o nascimento até a morte, em que as inúmeras transformações por que passam os indivíduos são resultantes da dialética entre biologia e cultura (SOUSA, 2012, p.106). Uma das maiores dificuldades, que se apresentam no cotidiano das práticas educativas, é que pouco ou nunca são levadas em consideração, seja na organização dos 14 trabalhos ou dos saberes, os tempos de desenvolvimento dos educandos. O que se coloca na grande maioria das vezes é que os alunos tenham o mesmo nível de percepção, em que todos aprendam da mesma forma, não considerando assim o que eles já sabem. Há autores (David 2006, Barreto e Souza, 2004, Almeida, 2003) que salientam a influência de Wallon na concepção dos ciclos de formação. De acordo com os preceitos wallonianos, os ciclos guardavam uma correspondência com as fases de desenvolvimento do aluno, sendo que o processo de ensino e aprendizagem deveria assumir características próprias em cada uma dessas fases e basear-se nos princípios de justiça, direito do aluno ao seu desenvolvimento completo, igual dignidade atribuída a todas as ocupações, orientação escolar e profissional, bem como acesso de todos à cultura geral (DAVID, 2006, p. 4). Por isso, é preciso entender o processo de desenvolvimento, para que se tenha clareza e compreensão da ideia dos ciclos de formação. É importante um estudo em torno desta temática, pois exige estudos articulados de forma interdisciplinar entre as várias áreas do conhecimento, como a biologia, psicologia, sociologia e antropologia, entre outras, para que se possa ter uma visão ampliada, integrada da trajetória de vida do sujeito, integrando-se a uma “perspectiva totalizante do desenvolvimento capaz de integrar os múltiplos subsistemas (o cognitivo, emocional, fisiológico, morfológico, conceitual etc.) do indivíduo” (Sousa, 2012, p. 107). Sousa (2012,p.107) destaca que as principais abordagens sobre o desenvolvimento humano situam-se na perspectiva psicogenética de Piaget e Wallon, a sociogenética e histórico-cultural de Vygosky e, em estudos mais recentes, a históricocultural de Valsiner, a dialética de Riegel e bioecológica de Bronfenbrenner. Sem pretender situar cada uma dessas abordagens, mas apenas destacar que permitem a discussão de outros pressupostos que propõe rever a escola e as práticas pedagógicas influenciadas e definidas pela lógica da seriação. Destaca-se a perspectiva de considerar o ser humano único a partir de suas experiências, saberes, histórias, possibilidades e diferenças e assumi-las com um valor, uma riqueza, pois nos potencializa a atuar socialmente, articulando novos sentidos para o diálogo, rompendo com a homogeneidade. Considerar o ciclo de vida com suas características e dominâncias que precisam ser plenamente vividas para serem desenvolvidas afastando- 15 se da cronologia e linearidade como iguais para todos. Ter presente que as relações e as interações partilhadas entre pessoas é que permitem conhecer e apropriar-se do mundo e sua tecnologia, construir significados da realidade e de si mesmo, influenciando em sua socialização e desenvolvimento. Nessa visão de Desenvolvimento Humano, o conhecimento é compreendido como uma construção, reconstrução permanente, do qual os sujeitos participam ativamente, porque é mediação, construto sociocultural dinâmico, do qual os sujeitos se apropriam em interação. Não é algo meramente transmissivo, transferido, estanque, linear, pronto, acabado, dado. A aprendizagem, assim, é a socialização de aprendizados, que fizemos e fazemos, que a sociedade construiu, que nós construímos como indivíduos e como coletivos; no convívio com os pais, mães, irmãos, avós, parentes, na escola, com amigos, nos movimentos sociais, etc. Não pode ser vista como ensino cognitivo, mas um processo de construção de práticas sociais e culturais envolvendo o corpo, a mente, a experiência, o sentimento, a emoção os valores, o ambiente, o contexto, enfim, a totalidade do ser “aprendente". A cultura é, pois constitutiva dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem (SOUSA, 2012, p.116). Considera-se a proposição do ciclo de formação como uma forma de pensar a organização dos processos educativos ao levar em conta as temporalidades da formação e desenvolvimento humano, bem como as atividades escolares que lhes são necessárias, de como propor um ensino que englobe de forma ampla estes sujeitos, ou seja, como se relacionam no seu meio, a forma com que elaboram suas hipóteses, percebam o seu corpo, o seu espaço, suas interações com a família e com a escola, suas curiosidades, suas crises no desenvolvimento. Vale salientar que essas características não são iguais em todos os alunos, porém cada um deles se transforma com aprendizagens, o que lhes é peculiar (Fetzner, 2007). Essas concepções fundamentam os ciclos de formação e que se espera sejam ainda estudadas, aprofundadas, socializadas para chegar mais próximas às formações dos professores e, ainda, resgatadas pelo processo de reorientação dos currículos, onde foram e serão implantadas. Pois, como afirma Sousa (2012), sem elas os ciclos se deformam e não superam a antiga lógica seriada. 3. Sobre avaliação: uma breve explicação 16 Na perspectiva em considerar a escola como formadora, à medida que está centrada no desenvolvimento dos sujeitos, no direito à aprendizagem, na apropriação e significação da cultura, impõe-se um novo modo de entender os processos avaliativos, superando a promoção ou a reprovação. Junto a isso está também à necessidade de se repensar a escola, o conhecimento, o envolvimento de todos os sujeitos implicados nas aprendizagens, os espaços e tempos pedagógicos e a avaliação. Os ciclos não são um método de ensino nem tampouco um sistema de ensino. Os ciclos dizem respeito à forma de distribuição /organização dos anos que os estudantes passam na escola. [...]. Tal distribuição diferenciada (por ciclos) traz implicações não só na forma de avaliar, mas também na forma de organizar o conhecimento escolar ao longo do tempo, na relação entre professor e aluno, nas relações entre família e escola, na cultura escolar. Portanto, falar em ciclos é falar de uma mudança estrutural na escola e na sua organização interna (FERNANDES, 2008, p. 53, 54). A escola organizada em ciclos exige certas mudanças, pois várias questões são postas em discussão como: a avaliação com relação ao aluno, a maneira de se entender esse conhecimento, o planejamento do professor, a organização dos tempos e espaços da escola para envolver o aluno na sua aprendizagem. Necessita buscar o envolvimento dos professores, pais e da sociedade em geral, para mobilizá-los a encontrar soluções para eventuais problemas que venham a surgir no decorrer do ano letivo, bem como mediar estratégias, repensar valores, gerir situações curriculares, assim como decidir o que, por que, como e quando ensinar e avaliar o aluno. Tais estratégias envolvem todos de maneira democrática, o contexto da sala de aula, da escola e a parceria com os pais e familiares, todos com o compromisso na construção do projeto da escola. Sendo assim, a escola em ciclos, está relacionada a uma escola que necessita de mudanças, uma escola inquieta, onde não se pode abrir mão do seu papel social. Em diferentes manifestações sobre a implantação dos ciclos, observou-se sua complexidade e diversidade de ideias quanto a não reprovação dos alunos no período do desenvolvimento do ciclo. Surgiram algumas dúvidas, principalmente, quanto à promoção e não retenção dos alunos. Como proposta surge a partir de políticas que tentaram romper com os altos índices de evasão e repetência, ao longo da trajetória em que surgiram os ciclos, no entanto, as críticas recaiam a ela, por estar apenas 17 preocupada com aspectos econômicos e políticos. Como promoção automática pode melhorar as estatísticas de aprovação escolar, mas, em experiências realizadas, mostrouse deficiente por não questionar o processo de ensino, sem reflexão e problematização do seu desenvolvimento e ao atendimento às necessidades das aprendizagens dos alunos. Alguns estudos marcam o atrelamento entre promoção automática e progressão continuada. Ambas apontam que a reprovação escolar não faz com que alunos aprendam mais e que o ensino oferecido melhore. Diferenciam-se pela forma de condução do processo pedagógico e pelas medidas de apoio e ou reorientação pedagógica. Nesse caso, a promoção automática “poderia ser entendida como uma medida em que o tempo solucionaria as deficiências do processo ensino aprendizagem, ou seja, simplesmente seguir adiante na escolaridade já seria suficiente para o estudante aprender com qualidade...” (Fetzner, Rocha, p.123). Por outro lado, a progressão continuada, dentre as políticas de não reprovação escolar, “têm se preocupado em defender a continuidade (a progressão) dos estudantes, respaldadas em medidas de acompanhamento pedagógico, tanto às professoras e os professores quanto aos estudantes...” (idem, p.125). Segundo as autoras citadas: As políticas de não reprovação tomadas com seriedade pedagógica, e entre estas a progressão continuada, exigem mais da escola, dos professores e dos estudantes: a escola precisa organizar-se para contribuir na potencialização da diversidade de aprendizagens manifestas pelos estudantes, considerando cada um com parâmetro de si mesmo, ao mesmo tempo, dar respostas às necessidades diferenciadas que cada um traz e, ainda, assegurar que os estudantes e seus familiares possam acompanhar e qualificar o processo de aprendizagem, colocando na busca de alternativas para a superação das necessidades coletivamente constatadas (FETZNER, ROCHA, 2012, p.125). É importante destacar que embora se afirme que ciclo é o mesmo que progressão continuada, elas são ideias e práticas distintas. Isso advém das muitas propostas implantadas adotarem concomitantemente essas duas formulações. Jacomini (2008) elabora essa distinção: Os ciclos implicam uma concepção de organização do ensino respaldado nas teorias sobre desenvolvimento e aprendizagem que questionam uma visão linear em tempos predeterminados do processo de ensino e aprendizagem. Os ciclos opõem-se ao 18 sistema seriado, propõem uma nova forma de organizar os conteúdos, os procedimentos metodológicos, as avaliações e os tempos de aprendizagens, resguardando os ritmos diferenciados e a heterogeneidade característica dos processos de aprendizagens humanos. [...], os ciclos buscam responder à problemática criada pelo processo de democratização do acesso à escola. [...] A progressão continuada opõe-se às práticas de reprovação anual e propõe um processo educativo contínuo, sem o aluno repetir de série. Assim, os ciclos dizem respeito a uma nova forma de organizar o processo de ensino aprendizagem, enquanto a progressão continuada propõe o fim da reprovação entre os anos de escolaridade, mantendo-a, no caso das redes ou das escolas que organizam o ensino em ciclos, ao final de cada ciclo (JACOMINI, 2008, p.83-84). Essas propostas aparecem em publicações como alternativas para superar a cultura da reprovação. Mas há um alerta para a ambiguidade que essas propostas possam conter, pois ainda contém níveis progressivos, mantendo uma lógica sequenciada, o que pode levar a classificação novamente (Arroyo, 2007). Uma escola que projete o desenvolvimento e a formação do sujeito, orientada por pressupostos que buscam romper a lógica da avaliação classificatória e excludente, selecionando os alunos em períodos predeterminados, ingressa na desconstrução da lógica e dos valores da organização seriada. Ao considerar que nem todos os estudantes têm o mesmo tempo para aprender e nem sempre com as mesmas condições e que, as suas experiências produzem uma circularidade de saberes, as práticas avaliativas devem considerar essa heterogeneidade, impondo-se a uma nova ética de avaliação e a uma pluralidade metodológica que considere os processos, os sujeitos, o diálogo e o trabalho coletivo, compartilhando saberes e ampliando possibilidades de aprendizagens e inclusão. Com relação a essa perspectiva de avaliação: A temática avaliação destacou, fundamentalmente, seu caráter emancipatório. Para viabilizar o trabalho nessa perspectiva, os princípios elaborados apresentaram como desafios à prática, dentre outros aspectos: a observação, o registro e a reflexão constantes; a concepção de erro construtivo como uma referência necessária; a auto avaliação e o conselho de classe participativo como processos de construção da corresponsabilidade no processo no processo educativo (FREITAS, 2007, p. 66). 19 Considerações Finais A trajetória dos ciclos no Brasil e as concepções produzidas fazem-se presentes nas diferentes propostas implantadas nas redes de ensino e escolas, sendo que, na maioria das vezes, estiveram relacionadas à tentativa de superação do fracasso escolar. A ideia de ciclos não foi algo inventado ou criado por alguém, mas de movimentos que buscaram alternativas para a democratização do acesso à escola. Mais precisamente, a centralidade advém de algumas mudanças nas concepções de organização escolar em função de viabilizar o direito à educação e à aprendizagem. Diante de uma “cultura de reprovação”, no sistema escolar, os ciclos seriam uma proposta mais radical, por uma escolaridade com menos reprovações, alterando a lógica da seriação. Outras questões devem ser levadas em conta na discussão sobre os ciclos para além das questões do fracasso ou sucesso escolar e ampliá-lo para situar a mudança na lógica da organização da escola, tanto em nível administrativo quanto pedagógico, bem como a importância em articular uma ampla participação de todos os sujeitos envolvidos nesse processo. A partir dos estudos realizados sobre a trajetória dos ciclos pode-se observar que algumas formulações teóricas cujo debate iniciou na década passada, tornaram-se senso comum no debate educacional, e passaram a compor as propostas de ciclo. Outros estudos apontam e alertam para o fato de que nem todas as propostas viabilizaram os mesmos pressupostos havendo diferenças quanto às concepções de conhecimento, de ensino aprendizagem, de avaliação e, sobretudo, concepções de educandos diferentes. O projeto da escola em ciclos lança o debate e impõe a necessidade de novas condições e de mudanças no que se refere aos tempos e espaços escolares, as formas de avaliação, ao currículo, a atuação do professor, ao funcionamento da escolaridade. Além disso, essa escolaridade necessita pensar vários fatores que envolvem a decisão de sua implantação, como a reorganização dos alunos em grupos para atender as suas necessidades de aprendizagem, nos tempos de formação e desenvolvimento, a articulação dos professores do ciclo com tempo para reuniões e planejamentos ao priorizar o trabalho coletivo na escola, a definição dos conhecimentos e aprendizagens básicas para cada ciclo, num currículo aberto e contextualizado, articulação da equipe pedagógica, de gestão com os professores, proposição de avaliação investigativa e formativa para acompanhar e dar visibilidade aos diferentes tempos das aprendizagens e informar os alunos e as famílias para esclarecer sobre o significado e condução da nova organização, entre outras. Ter presente que a formação dos professores deve ser 20 continuada e referenciada ao envolvimento com a proposta produzindo novos entendimentos na relação teoria e prática. Isso está colocado como um dos desafios aos professores na implantação dos ciclos nos três primeiros anos do Ensino Fundamental. Mainardes (2012, p. 9-10) coloca que os desafios a essa implantação apontam a necessidade do professor conhecer o projeto de ciclos da sua rede e os significados e implicações dessa política para o seu trabalho. O segundo desafio diz respeito às implicações pedagógicas dos ciclos, uma vez que a implantação implica em alterações significativas nos processos de avaliação e desenvolvimento curricular, muito diferenciado do regime seriado. Situa a necessidade de apoio da equipe da escola e secretarias de educação, criando espaço de formação sobre essas questões. E aos pesquisadores, além de produzir sínteses sobre os resultados obtidos, podem estar empenhados na qualificação das redes, dos professores e futuros professores para enfrentar os desafios na implantação dos ciclos, com maior participação e resultados de reflexões coletivas sobre os processos de ensino aprendizagem e formação dos alunos. Referências ARROYO, Miguel. Ciclos de formação. O que pesquisar e refletir? In: FETZNER, A. R. Implicações curriculares de uma escola não seriada. Ciclo em Revista, V.2, Rio de Janeiro: Wak Ed., 2007. _______________.Ciclos de desenvolvimento humano e formação de educadores, Revista Educação & Sociedade. Ano XX, n. 68. Dezembro, 1999. DAVID, Leila Nivea Bruzzi. Ciclos de Formação (e Desenvolvimento Humano) e/ou Ciclos de Aprendizagem: procurando entender essas propostas. Disponível em:<htpp://www.ie.ufmt.br/semiedu2006/. Acesso em: 03 de junho de 2014. FERNANDES, Claudia de Oliveira. Avaliação sem reprovação: elementos para o debate. 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