A IMPORTÂNCIA DO TEMPO E DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE EMERGÊNCIA NO ATENDIMENTO A PACIENTES ACOMETIDOS PELO AVC ISQUÊMICO E SUA RELAÇÃO COM A GRAVIDADE DAS SEQUELAS RESULTANTES Thaiane Cardoso Silveira* Ana Márcia Chiaradia Mendes Castillo** RESUMO O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é atualmente considerado como a primeira causa de incapacidade motora, sensitiva e cognitiva no mundo, sendo também a primeira causa de morte no Brasil e a segunda causa de morte na maioria dos paises desenvolvidos. O objetivo desse artigo científico foi realizar uma revisão da literatura afim de estabelecer uma relação entre o tempo de atendimento aos pacientes acometidos por essa patologia e a gravidade das sequelas resultantes. Para tal revisão, foram consultados periódicos indexados ao Scielo, Medline, Bireme, Pubmed e Datasus, através de uma pesquisa literária de artigos científicos publicados sobre as temáticas: Doenças Cardiovasculares, Acidente Vascular Cerebral, Emergências Neurológicas e Cuidados de Enfermagem aos pacientes acometidos pelo AVC. Concluiu-se dessa revisão que se faz necessária a capacitação de equipes multidisciplinares, com formação especializada, para rapidamente reconhecer a existência do AVC, através dos sinais e sintomas apresentados, no momento da entrada do paciente na unidade de emergência, direcionando-o o mais rápido possível para sua propedêutica, tentando assim evitar ou minimizar suas sequelas. Palavras-chave: AVC. Cuidados de enfermagem. Doenças Cérebro-vasculares. Emergências neurológicas. Mortalidade. Pós-Graduanda em Enfermagem em Emergência **Co-Autora e Orientadora do Artigo Científico Atualiza Pós-graduação E-mail: [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO A doença vascular é um problema mundial, pois representa uma causa frequente de morte, incapacidade permanente e custos relacionados ao seu tratamento. O Acidente Vascular Cerebral (doravante AVC) é a terceira maior causa de morte no mundo, sendo responsável por quase seis milhões de mortes por ano, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (doravante OMS). As doenças cérebro-vasculares têm um grande impacto sobre a saúde da população, situando-se, conforme o ano e o estado da federação, entre a primeira e a terceira principal causa de mortalidade no Brasil. A cada cinco minutos um brasileiro morre de doença cérebro-vascular, e o AVC responde por 95% desses casos. Os cálculos são da Academia Brasileira de Neurologia, a partir de dados do Ministério da Saúde recolhidos entre 1999 e 2008. “No Brasil, o AVC é a causa de morte mais frequente e dados do Ministério da Saúde revelam que, em 2005, ocorreram 90.006 mortes relacionadas a ele (10% de todos os óbitos). Além disso, o AVC é a principal causa de incapacidade, com mais de 50% dos sobreviventes permanecendo com graves sequelas físicas e mentais, com enorme impacto econômico e social.” (MARTINS et al. 2009). A OMS têm divulgado orientações sobre o manejo das doenças cérebro-vasculares. Todas chamam a atenção para a necessidade de uma mudança de atitude com relação a essas doenças, tanto para a população, como para os profissionais e as instituições de saúde, no sentido de considerar a fase aguda como uma situação ameaçadora a vida. Há também a necessidade de treinamento dos profissionais de saúde, especialmente os que trabalham em serviços de atendimento pré-hospitalar e intrahospitalar, para o diagnóstico e manejo inicial adequado para esses pacientes. O caminho ideal para assistir os pacientes com essa patologia é através de unidades especializadas em neurologia, onde os mesmos são conduzidos de uma maneira rápida aos exames de imagem, hemodinâmica e centro cirúrgico, caso seja necessário; ou serem encaminhados para unidades hospitalares com serviços de imagem e centro cirúrgico atuante. 3 2 JUSTIFICATIVA Atualmente, diversos estudos têm demonstrado a ocorrência crescente de casos relacionados as doenças cérebro-vasculares com ênfase para o acidente vascular cerebral (AVC). A maioria dos profissionais de saúde, preocupados em garantir o reestabelecimento vital do paciente, acabam não observando os sinais e sintomas claros apresentados pelo mesmo, muitas vezes por desconhecê-los. O conhecimento prévio destas complicações pela equipe multiprofissional permite uma detecção precoce, favorecendo assim um melhor norteamento para a terapêutica dos pacientes com AVC. O interesse deste estudo surgiu a partir da observação de um familiar acometido por essa patologia (AVCi), me permitindo acompanhar de perto a assistência multiprofissional e verificando o quão despreparados e mal qualificados estão esses profissionais para tal assistência, levando o paciente a um péssimo prognóstico. Estudos vêm sendo publicados sobre a importância de identificar precocemente os sinais e sintomas do AVC, para que assim sejam encaminhados para a sua propedêutica levando a um melhor prognóstico. Percebe-se a necessidade de capacitação não só da equipe de saúde que lida diariamente com essa patologia, mas tambem a população, pois a mesma necessita de informações mais amplas sobre o que é o AVC, seus sintomas e a importância de encaminhar esse paciente o mais rápido possível para um hospital com recursos para atender a essa patologia. 4 3 OBJETIVO O objetivo desse artigo é evidenciar a importância do tempo na assistência de pacientes acometidos pelo AVC isquêmico em unidades de emergência, descrever sua fisiopatologia, manifestações clínicas e tratamento, utilizando como referencial a assistência de enfermagem para o cuidado desses pacientes, identificando seus fatores de risco e ressaltando a importância da capacitação técnico-cientifica da equipe multidisciplinar envolvida. 4 METODOLOGIA Para a construção desse artigo foi realizada uma busca em bases de dados científicos, tais como Scielo, Medline, Bireme, Pubmed e Datasus. A pesquisa literária teve foco em artigos científicos publicados entre 1999 e 2010, nos idiomas português e inglês, sobre as temáticas assistência de enfermagem ao paciente com AVC, tipos de AVC e assistência de enfermagem ao paciente com AVC na emergência. A escolha foi feita inicialmente através da seleção de resumos e posterior leitura e análise completa dos textos. Após o mapeamento dos conteúdos, os artigos foram identificados e agrupados de acordo com a sua abordagem. Para a obtenção desta revisão bibliográfica foram utilizadas as palavras-chave acidente vascular encefálico, obesidade, sedentarismo e hipertensão. 5 5 RESULTADOS Em suas diversas formas de apresentação, o AVC constitui uma emergência neurológica. “A perda de tempo para a abordagem destes pacientes significa uma pior evolução, tendo assim a necessidade de ser tratado imediatamente por uma equipe médica conduzida por um neurologista clínico.” (ADAMS 1994; LESSA 1999; CAPLAN 2000; GINSBERG 2000). O atendimento e reconhecimento do diagnóstico para o AVC proporcionam uma grande diferença no resultado do tratamento. O paciente diagnosticado clinicamente, tomograficamente e submetido a tratamento medicamentoso nas primeiras horas após o início do acometimento tem maior chance de minimizar as sequelas decorrentes do AVC. A maior parte do atendimento de pacientes com AVC no Brasil é realizada em hospitais secundários, que muitas vezes não dispõem de uma infraestrutura adequada para o atendimento completo deste tipo de patologia. 5.1 FISIOPATOLOGIA DO AVC “O AVC é uma doença crônico-degenerativa causada por uma diminuição ou interrupção do fluxo sanguíneo em uma determinada área do encéfalo, provocando déficits neurológicos e consequentemente gerando uma alta incidência de incapacidade física e até mesmo o óbito.” RADANOVIC (2000); OLIVEIRA & ANDRADE (2001); VELOSO et al. (2007). As equipes médicas devem estar cientes de que a determinação do intervalo de tempo desde o início dos sinais e sintomas neurológicos é importante, pois definirá a escolha do tratamento. “Os AVCs podem ser divididos em duas categorias principais: Os que acometem mais, cerca de 85% dos casos, são definidos como isquêmicos (doravante AVCi); e os hemorrágicos (doravante AVCh), que alcançam os outros 15%.” (BARE & SMELTZER 2004). 6 Em uma classificação mais detalhada, segundo CARDOSO (2006): Isquêmicos (85%). Trombótico (oclusão primária de artéria, raramente de veia); Embólico (paciente apresenta fonte reconhecida de êmbolo); Progressivo (déficit com instalação gradual ou com flutuações, chamado AVC em evolução); e Acidente Isquêmico Transitório (AIT) – recuperação total do déficit geralmente em minutos ou 1 a 2 horas). Um terço dos AITs evolui para infarto cerebral, a maioria no primeiro ano, 5% no primeiro mês, e 20% falecem em um ano por AVC ou por obstrução coronariana. Hemorrágicos. Hemorragia subaracnóidea (HSA), 5% dos casos, ou intraparenquimatosa (HIP), 10%. Os sinais e sintomas do AVCi, de acordo com ZIVIN (2005), vão depender da área privada do fluxo. BARE & SMELTZER (2004) acrescentam o tamanho da área afetada pela perfusão inadequada e a quantidade de fluxo sanguíneo colateral, apresentando sintomas como dormência ou fraqueza da face, braço ou perna, principalmente em um lado do corpo, confusão ou alteração no estado mental, problema ao proferir ou compreender a fala, distúrbios visuais, dificuldade em caminhar, tontura, perda do equilíbrio ou coordenação e cefaléia intensa. Qualquer paciente que adentra uma unidade de saúde apresentando déficits neurológicos necessita de uma história cuidadosa e exames físicos e neurológicos complexos. “A primeira avaliação visa focalizar a permeabilidade da via aérea, que pode estar deteriorada devido a perda dos reflexos de tosse ou ânsia e padrão respiratório alterado, e o estado cardiovascular, incluindo pressão arterial, ritmo e frequência cardíacas, além do sopro carotídeo.” BARE & SMELTZER (2004). “O AVC geralmente possui o seu início num momento identificável, ou seja, no começo dos sintomas, onde o paciente deve ser tratado como uma emergência aguda, quando as alterações tiverem iniciado nas três horas precedentes.” (ZIVIN 2005). BARE & SMELTZER (2005) ainda enfatizam a importância da realização de Tomografia Computadorizada (doravante TC) sem contraste, cujo caráter emergencial se destaca pela determinação da terapêutica, onde é observada a necessidade da administração do tratamento trombolítico. Segundo ZIVIN (2005): A terapêutica medicamentosa utilizada para o controle agudo do AVCi de causa típica, ou seja, aterosclerótico e embólico é a administração de agentes trombolíticos, cujo respaldo acontece se os pacientes forem tratados em até três horas do inicio dos sintomas. Contudo, antes da administração deste, deve-se ter a realização de uma TC sem contrastes para excluir um possível caso de hemorragia intracraniana. Deve-se também estar atento para os limites máximos da pressão arterial, que são de 185mmHg para sistólica (PAS) e/ou 110 para diastólica (PAD). A 7 dosagem do ativador do plasminogênio tecidual intravenoso (t-PA) é de 0,9mg/Kg até no máximo de 90mg/Kg, administrados 10% como bolus inicial e o restante no período de 60 minutos. Ainda para ZIVIN (2005), os fatores de risco estão baseados nos não-modificáveis e modificáveis, cujos cuidados adentram na prevenção primária. São eles: Hipertensão: é o fator de risco que mais se destaca para o AVCi, onde o objetivo é reduzir a PAS para menor ou igual a 140mmHg e a PAD para menor ou igual a 90mmHg, destacando a importância do tratamento antihipertensivo ser individualizada. Doença cardíaca: a fibrilação atrial não-valvular torna-se um risco ainda maior quando associado a idade avançada. A terapêutica medicamentosa é realizada com Warfarina ou Ácido Acetilsalicílico. Tabagismo: o risco de AVC em pacientes fumantes é quase o dobro em relação aos não fumantes. Diabetes Mellitus: o risco é de duas a seis vezes maior para portadores de diabetes tipo I. Doença Falciforme: a transfusão sanguínea para diluir as hemácias anormais é o tratamento habitual para prevenir AVC nos portadores dessa patologia. 5.2 DIAGNÓSTICO DO AVC ISQUÊMICO Segundo GOLDMAN & AUSIELLO (2005), os sinais e sintomas de um AVC dependem da região privada do fluxo. Se essa privação ocorrer lentamente, haverá tempo para a formação de uma circulação colateral sendo evitado o AVC. Se a oclusão for abrupta, segue-se o AVC e o grau de dano irá depender da extensão da irrigação colateral disponível para o território atingido. Os sintomas para o diagnóstico do AVC são clássicos. Tontura, cefaléia, perda de equilíbrio, alterações visuais, formigamento ou fraqueza de algum membro, disfagia e falta de sensibilidade em um dos lados do rosto ou corpo. Esses sintomas são comuns a outras patologias, dificultando o diagnóstico de AVC. O AVCi não causa 8 dor, pois a lesão atinge o parênquima que não possui receptores de dor e os sintomas só aparecem quando o paciente acorda pela manhã. Diante desta dificuldade de diagnóstico, é necessária a utilização de exames complementares, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. “Contudo, se o AVC for de origem hemorrágica poderá ser necessário uma angiografia com o auxílio de exames laboratoriais, como dosagens de proteína C, S, antitrombina III, viscosidade do sangue e da função plaquetária, além de testes para a homocisteinúria, doenças vasculares do colágeno, amiloidose e sífilis.” (GOLDMAN & AUSIELLO 2005). “A avaliação de um paciente com AVC deve necessariamente ter a participação do neurologista, e visa fundamentalmente confirmar a suspeita clínica, identificar o tipo de AVC e sua localização, estabelecer a conduta, conferir os critérios de inclusão e exclusão para o uso de trombolítico, determinar as demais terapêuticas e obter os parâmetros para o acompanhamento evolutivo do paciente." (KASTE et al. 2000). Fonte: www.scielo.br Figura 1: Ressonância Nuclear e Angiografia Cerebral de AVC. 9 Fonte: USP-São Carlos Figura 2: Tomografia computadorizada cerebral de paciente com AVC Na avaliação clínica inicial e sequencial é necessário também o uso de um método de monitorização do nível de consciência e do déficit neurológico. Recomenda-se para este fim a aplicação da Escala de Coma de Glasgow (doravante ECG), onde é avaliada a melhor resposta para abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. São consideradas as três respostas separadamente, assim como a sua soma. Fonte: ppavesi.blogspot.com Figura 3: Escala de Coma de Glasgow. 10 Outra escala bastante utilizada no atendimento pré-hospitalar é a Escala Préhospitalar para AVC de Cincinnati. Com o nome oriundo da localidade onde foi desenvolvida, utiliza a avaliação de 3 achados físicos (Figura 2 e Tabela 1) em menos de um minuto: 1. Queda facial 2. Debilidade dos braços 3. Fala anormal Um paciente com aparecimento súbito de 1 destes 3 achados tem 72% de probabilidade de um AVC isquêmico. Se os 3 achados estiverem presentes a probabilidade é maior que 85%. Fonte: Ilustração feita por Fabrício Fontolan Figura 2: Esquerda: normal. Direita: Paciente com queda facial e debilidade motora do braço direito. 11 Tabela 1 - Escala Pré-hospitalar para AVC de Cincinnati 5.3 PAPEL DO ENFERMEIRO NA UNIDADE DE EMERGÊNCIA O AVC é considerado a patologia que mais leva a óbitos no Brasil, e a que mais leva à incapacitação em todo o mundo. É uma doença que leva a alterações cognitivas e neuromusculares, ocasionando problemas psico-emocionais e sócio-econômicos. Por conta disso, NEVES et al. (2004) relata que é imprescindível a atuação dos profissionais da saúde para oferecer uma assistência adequada e integral diante desta patologia. Para ROCHA et al. (2005), a enfermagem é uma das profissões da área da saúde que possui como foco e especificidade o cuidado com o ser humano, seja de forma individual, familiar ou na comunidade, realizando atividades como a promoção da saúde, a prevenção de doenças, a reparação e a reabilitação da saúde, atuando com a participação de equipes multiprofissionais. 12 Os autores ainda afirmam que a enfermagem é responsável pelo conforto, acolhimento e bem estar de seus pacientes, independentemente de sua posição profissional, seja prestando o cuidado ou seja coordenando outros setores, no intuito de prestar assistência e realizar educação e saúde. "O papel do enfermeiro na unidade de emergência consiste em obter a história do paciente, fazer exame físico, executar tratamento, aconselhando e ensinando a manutenção da saúde e orientando-os para uma continuidade do tratamento e medidas vitais." FINCKER (1980). O enfermeiro desta unidade é responsável pela coordenação da equipe de enfermagem e é uma parte vital e integrante da equipe de emergência. "Os enfermeiros das unidades de emergência aliam a imprescindível fundamentação teórica a capacidade de liderança, ao trabalho, ao discernimento, a iniciativa, a habilidade de ensino, a maturidade e a estabilidade emocional." GOMES et al. (1994). A constante atualização destes profissionais é necessária, pois assim desenvolvem com a equipe médica e de enfermagem habilidades importantes para que possam atuar em situações inesperadas de forma objetiva e sincronizada na qual estão inseridos. O enfermeiro que atua nesta unidade necessita ter "conhecimento científico, prático e técnico, afim de que possa tomar decisões rápidas e concretas, transmitindo segurança a toda equipe e principalmente diminuindo os riscos que ameaçam a vida do paciente." (MARTIN 1988). Para o correto atendimento de um paciente em regime de emergência ou urgência não bastam apenas um senso apurado para o diagnóstico e a habilidade técnica para a realização de procedimentos propedêuticos e terapêuticos, uma vez que o paciente não é apenas um ser acometido por uma enfermidade, mas acima de tudo uma pessoa com aspirações e vontade de viver. Assim sendo, “é fundamental para o profissional de enfermagem ter sensibilidade e conhecimento, além de respeitar os valores e crenças do paciente, da sua família e da equipe, sabendo lidar com suas próprias emoções.” (GOMES, MENDONÇA & PONTES 2002). 13 5.4 SELEÇÃO DOS ARTIGOS A partir dos descritores utilizados para a minha revisão literária, foram encontrados diversos artigos dentre os quais, foram selecionados para a discussão 29 artigos; 13 artigos (45%) relacionados as Doenças Cerebro Vasculares, 11 artigos (38%) relacionados ao Acidente Vascular Cerebral e 5 artigos (17%) relacionados a importância da assistência de enfermagem aos pacientes acometidos pelo AVC. Este quantitativo refere-se a artigos com abordagem distintas, já que a maioria dos artigos encontrados descreviam sobre os mesmos aspectos. 5.5 DISCUSSÃO Nas últimas décadas, em todo o mundo, uma enorme quantidade de recursos tem sido investido em pesquisa na tentativa de reduzir a morbidade e mortalidade dos pacientes acometidos de AVC. Várias modalidades terapêuticas têm sido preconizadas, todas objetivando minimizar o grau de lesão neuronal que ocorre após uma oclusão ou sangramento arterial. No entanto, vivemos uma realidade em que a maior parte dos pacientes com AVC recebe o primeiro atendimento em centros onde não existem especialistas ou serviços de neurologia. Este atendimento é realizado, em grande parte, pelo clínico geral, que não possui os conhecimentos específicos para um diagnóstico adequado. Os resultados de um levantamento feito por MASSARO (2006) mostram que, em relação ao diagnóstico, a equipe médica apresentou alguma dificuldade em manusear adequadamente os conceitos necessários para categorizar os AVCs. Em 62% dos casos o diagnóstico final do paciente foi de doença cerebrovascular mal definida, mesmo levando-se em consideração que grande parte dos pacientes nesta categoria havia realizado TC de crânio. Outro dado que chama atenção em relação ao procedimento diagnóstico é o fato de que 19% dos pacientes não realizaram TC de crânio, sendo o diagnóstico atribuído com base apenas em critérios clínicos. Tal fato certamente tem impacto negativo sobre o tratamento do AVC na fase aguda, bem como sobre a possibilidade de 14 orientar adequadamente o paciente do ponto de vista da profilaxia de novos eventos, dada a dificuldade de se estabelecer qual o tipo e etiologia do AVC sem exame de neuro-imagem. Em um outro levantamento realizado por WEIR et al. (2004), em um grupo de 1.059 pacientes com suspeita de AVC apenas 4 demonstraram a ineficácia de escores baseados apenas em dados clínicos para diferenciar quadros isquêmicos ou hemorrágicos, mesmo quando as variáveis clínicas analisadas incluíram dados epidemiológicos, fatores de risco e histórico de doença cardiovascular pregressa extremamente detalhados, além do quadro clínico apresentado pelo paciente. Segundo MASSARO (2006): A relação tempo e cérebro foi redefinida nos ensaios clínicos atuais, com base na fisiopatologia da penumbra, não mais como um conceito universal, mas sim individual, dependente de variáveis clínicas, como suprimento colateral e viabilidade neuronal. O diagnóstico diferencial entre AVC isquêmico e hemorrágico é outra etapa fundamental para o tratamento na fase aguda, devendo ser confirmado obrigatoriamente e no período mais rápido possível pela TC de crânio. Algumas características demográficas e fatores de risco, bem como as formas de apresentação clínica são mais frequentes entre os pacientes que apresentam AVC isquêmico quando comparados ao AVC hemorrágico, o que pode ser avaliado através de escalas clínicas que auxiliam na triagem até a confirmação diagnóstica por imagem. Muitos pacientes e seus familiares não reconhecem os sinais e sintomas de AVC e, quando o fazem, não os caracterizam como uma emergência médica. Estes fatos sugerem a necessidade de uma política de educação pública para o reconhecimento e transporte destes pacientes as unidades hospitalares capacitadas para o tratamento do AVC. “Programas educacionais para alertar os sinais e sintomas para o reconhecimento do AVC pela população devem ser priorizados.” (MASSARO 2006). A eficiência do tratamento do paciente com AVC agudo depende diretamente do conhecimento dos seus sinais e sintomas pela população, da agilidade dos serviços de emergência, incluindo os serviços de atendimento pré-hospitalar e das equipes clínicas, que deverão estar conscientizadas quanto a necessidade da rápida 15 identificação e tratamento desses pacientes, do transporte imediato para o hospital indicado e de unidades de tratamento do AVC. “O conceito Tempo é cérebro significa que o tratamento do AVC deve ser considerado como uma emergência. Assim, o objetivo principal na fase préhospitalar dos cuidados agudos no AVC deve ser evitar atrasos. Isto tem implicações importantes em termos do reconhecimento de sinais e sintomas do AVC pelo doente, por familiares ou por testemunhas, na natureza do primeiro contato médico e no meio de transporte para o hospital.” (FONSECA 2008). A educação deve ser também dirigida as equipes de atendimento pré-hospitalar para melhorar a precisão da identificação do AVC e acelerar a transferência para o hospital, diminuindo os atrasos pré-hospitalares. 6 CONCLUSÃO O atendimento adequado ao paciente com AVC ainda constitui um desafio pelo alto potencial de morbidade e mortalidade associados a este diagnóstico. O cuidado ideal deste paciente é caro, pois demanda a realização de exames subsidiários de alto custo para a confirmação do diagnóstico, etiologia e planejamento terapêutico (TC de crânio, arteriografia cerebral, ressonância magnética de encéfalo), pode requerer internação em UTI ou intervenção neurocirúrgica e necessita de equipe de reabilitação desde as fases mais precoces. O estudo também indicou que fatores de risco reconhecidos e modificáveis são os verdadeiros vilões de nosso meio. Ficou claro que os gastos públicos com saúde deveriam ser direcionados para campanhas e mutirões de detecção precoce de doenças potencialmente controláveis (ação proativa). Esta ação, ainda que isolada, provavelmente reduziria a incidência de AVC, evitando extensos e custosos programas de investigação diagnóstica, de característica reativa. Outros estudos deveriam ser realizados visando conhecer o impacto sócioeconomico que esta população sequelada causa em uma sociedade em desenvolvimento, além de suas implicações práticas. 16 Um estudo adicional populacional na vigência de um programa de controle dos fatores de risco comprovaria as conclusões deste artigo pela diminuição da incidência de AVC em pacientes jovens. Conclui-se, portanto, que a prevenção é o melhor tratamento, tornando-se importante a detecção precoce dos sinais e sintomas para o reconhecimento prévio da patologia, tratando-a de modo mais eficaz e evitando problemas secundários. Em adição, nota-se a importância de intervenções educativas aos profissionais de saúde no sentido de esclarecer e informar a população sobre os temas discutidos. Além disso, a assistência específica de enfermagem estruturada na forma de um plano de cuidados permitiria ao enfermeiro organizar seus objetivos e obter resultados eficientes a suas ações na busca da qualificação do serviço prestado a seus pacientes. Logo, o plano de cuidados desenvolvidos ao paciente pós AVC deveria visar a reabilitação e ajustamento psicossocial na promoção de melhor qualidade de vida e autonomia deste paciente. 17 THE IMPORTANCE OF THE TIME AND THE NURSING CARE IN EMERGENCY UNITS FOR PATIENTS AFFECTED BY CEREBRAL ISCHEMIC STROKES AND ITS RELATIONSHIP WITH THE GRAVITY OF THE RESULTANT CONSEQUENCIES ABSTRACT The Cerebral Vascular Accident (CVA) is currently considered the primary cause of motor, sensory and cognitive disability in the world, and also the leading cause of death in Brazil and the second leading cause of death in most developed countries. The aim of this paper was to review the scientific literature, in order to establish a relationship between the time of service to patients suffering from this disease and the severity of resultant consequences. For this review, indexed journals at Scielo, Medline, Bireme, Pubmed and Datasus were consulted, through a literature research of published scientific papers on the topics: Cardiovascular Disease, Stroke, Neurological Emergencies and Nursing Care to patients affected by stroke. It was concluded that is necessary to train multidisciplinary teams, with specialized training, to quickly recognize the existence of a stroke, through the presented signs and symptoms, upon the patient enter in the emergency unit, directing him as soon as possible for his treatment, thus attempting to avoid or minimize their consequences. Keywords: CVA. Nursing Care. Cerebral Vascular Emergencies. Mortality. REFERÊNCIAS Accident. Neurological 18 ADAMS, H.P.; BROTT, T.G.; CROWELL, R.M. Guidelines for the management of patients with acute ischemic stroke. Dallas : American Heart Association, 1994. ALMEIDA, M.C.P.; ROCHA, S.M.M. O trabalho de enfermagem. São Paulo: Cortez, 1997. BARE, B.G.; SMELTZER, C.S. 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