UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE MESTRADO EM SAÚDE E MEIO AMBIENTE JOSÉ ANTÔNIO FERREIRA MARTINS DEMANDA DE PACIENTES COM CONDIÇÕES CARDIOLÓGICAS SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA EM UM SERVIÇO DE SAÚDE TERCIÁRIO PÚBLICO DE PARANAGUÁ, PR. JOINVILLE, 2012. JOSÉ ANTÔNIO FERREIRA MARTINS DEMANDA DE PACIENTES COM CONDIÇÕES CARDIOLÓGICAS SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA EM UM SERVIÇO DE SAÚDE TERCIÁRIO PÚBLICO DE PARANAGUÁ, PR. Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde e Meio Ambiente da Universidade da Região de Joinville. Orientadora: Profa. Dra. Selma Cristina Franco. JOINVILLE, 2012. José Antônio Ferreira Martins “UTILIZAR A FOLHA ASSINADA ANEXO. ________________________________ AGRADECIMENTOS A Deus. Aos meus colegas de mestrado: alunos, professores e técnicos da UNIVILLE. Á Professora e orientadora Dra. Selma Cristina Franco. Aos meus pais. Aos meus amigos: Palhares e Adriano, sobrinhos: Maycon e Matheus e funcionários: Rosemeri, Kelly e Juliana. Dedico esta pesquisa e minha vida aos meus dois amores: Sérgia e Maria Eduarda. RESUMO A análise do fluxo de pacientes dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) permite avaliar indiretamente a qualidade dos diferentes níveis de atenção à saúde e sugerir reorientações aos gestores do SUS. O objetivo geral deste trabalho é quantificar a demanda de pacientes ao serviço de saúde terciário de Paranaguá - PR, independentemente de internamento, por Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP). Para isto, foi realizado no Hospital Regional do Litoral (HRL) em Paranaguá, PR, um estudo transversal entre novembro/2010 a abril/2011, em serviço terciário para atenção às doenças cardiológicas. Foram incluídos pacientes com idade igual ou superior a 20 anos, residentes em Paranaguá e que demandaram o Pronto Socorro do HRL por CCSAP. As variáveis analisadas foram: gênero (masculino/feminino), idade (em anos completos distribuídos em faixas etárias), CCSAP (HAS,IC e Angina), bairro de residência (conforme descrito na ficha de identificação), tipo de referência (espontânea, Unidade Básica de Saúde, Pronto Atendimento, Bombeiro, Clínica Privada e outros hospitais), decisão pelo internamento (sim e não), data de entrada e alta, tipo de alta (domiciliar, óbito e transferido, óbito), visita ao médico no ano anterior (sim/não), modelo de atenção primária no bairro de residência (PSF/não PSF). Os dados foram tabulados no Epidata e analisados utilizando Test T de Student e Qui-quadrado. Considerou-se o nivel de significância estatística de 5%. Foram incluídos 276 pacientes, ocorrendo predomínio do sexo feminino (51,1%) com idade média de 55,95 anos (DP14,9), com elevado percentual de pacientes idosos (44,2%), 57,6% demandaram espontaneamente o HRL e 61,2% tiveram consulta médica em serviço de saúde no ano anterior. Dentre os pacientes, 97,2% receberam alta domiciliar, 1,8% foram a óbito e 1,1% transferidos, sendo que, apenas 18,8% foram internados. As variáveis associadas à internação foram a IC (p=0,000), paciente idoso (p=0,001) e gênero masculino (p=0,043). Não houve associação entre as variáveis estudadas e o modelo de atenção, PSF e não PSF. A proporção de internamentos por CCSAP para Insuficiência Cardíaca, Angina e Hipertensão Arterial foram, respectivamente, de 1,6%, 14% e 0,2%. O Coeficiente de internamento por 10.000 habitantes ajustado para Insuficiência Cardíaca, Angina e Hipertensão Arterial foi respectivamente de 5,7; 4,9 e 0,8. Conclui-se que os internamentos por CCSAP representaram apenas uma parte minoritária da demanda de pacientes por CCSAP ao serviço terciário, colocando em discussão sua validade como indicador indireto de falhas na atenção ambulatorial, especialmente na atenção primária no município de Paranaguá. Palavras-chave: Qualidade da Assistência à Saúde; Atenção Primária à Saúde; Hospitalização; Avaliação em Saúde; Regionalização. ABSTRACT The quality of Brazilian Health System (SUS) can be evaluated by the patients outflow throughout to different complexity level assistance and to suggest reorientations SUS managers action. The overall goal of this research is to quantify the number of patients to tertiary health care center of Paranaguá - PR, regardless of hospitalization for Cardiac Care Sensitive Conditions Primary (CCSAP). A crosssectional study was conducted from November/2010 to April/2011, held at the Hospital Regional Litoral (HRL) in Paranaguá PR, icluding patients aged 20 years or more years, living in Paranaguá who demanded the HRL due to CCSAP. The variables were gender (male / female), age (in years into age groups), CCSAP (hypertension, heart failure and angina), adress of residence, reference type (spontaneous, Primary ambulatory, Emergency Room, Pre-hospital service, Private ambulatory and other hospitals), the hospitalization decision (yes or no), date of admission, type of discharge (home, death and transferred), visit to the doctor in the previous year (yes / no) model of primary care assistance (PSF / no PSF). Data were tabulated and analyzed using the Epidata, Test Student's t and chi-square. It was considered the level of significance of 5%. It included 276 patients, predominantly female (51.1%), mean age of 55.95 years (SD 14, 9) with a high percentage of elderly patients (44.2%), 57.6% spontaneously demanded the HRL and 61.2% had medical consultation on health services in the previous year. Among the patients 97.2% were discharged home, 1.8% died and 1.1% downloaded, and only 18.8% were hospitalized. Variables associated with hospitalization were HF (p = 0.000), elderly patients (p = 0.001) and male gender (p = 0.043). There was no association between variables and the model of care (PSF or not). The proportion of hospitalizations for heart failure, Angina and Hypertension was respectively 1.6%, 14% and 0.2%. The coefficient of hospitalization per 10,000 population adjusted for heart failure, angina and Hypertension was respectively 5.7, 4.9 and 0.8. We conclude that the admissions for CCSAP represented only a minority of patient demand for CCSAP to HRL, discussing the effectiveness of Preventable hospitalization indicator, especially in primary care in the city of Paranaguá. Keywords: Quality of Health Care; Primary Health Care; Hospitalization; Health Evaluation; Regional Health Planning. LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADRO 1 – LISTA DE CONDIÇÕES CARDIOLÓGICAS SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA (CCSAP) COM CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS - 10A. REVISÃO. ....................................................................................... 32 TABELA 1 – CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICO DE DOS CCSAP PACIENTES NO ATENDIDOS HOSPITAL COM REGIONAL DO LITORAL,PARANAGUÁ, DE NOVEMBRO/2010 A ABRIL/2011. ............ 38 TABELA 2 - COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES INTERNADOS E NÃO INTERNADOS SEGUNDO CCSAP, IDADE, SEXO E TIPO DE REFERÊNCIA AGRUPADO, ÁREA DE RESIDÊNCIA E VISITA MÉDICA PRÉVIA. ..................................................................................... 39 TABELA 3 - COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES RESIDENTES EM ÁREA ATENDIDAS PELO PSF E NÃO PSF SEGUNDO IDADE, SEXO E TIPO DE REFERÊNCIA AGRUPADO E VISITA AO MÉDICO ANO ANTERIOR................................................................................................ 40 TABELA 4 - COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES ENCAMINHADOS E DEMANDADOS ESPONTANEAMENTE SEGUNDO IDADE, SEXO E ÁREA DE RESIDÊNCIA E VISITA PRÉVIA AO MÉDICO. ....................... 41 TABELA 5 - COMPARAÇÃO DOS PACIENTES COM ANGINA OU NÃO SEGUNDO ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E ASSITENCIAIS. .................................. 42 TABELA 6 - COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM HAS OU NÃO SEGUNDO ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E ASSISTENCIAIS. ................................ 43 TABELA 7 - COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM IC OU NÃO EM RELAÇÃO AOS ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E ASSISTENCIAIS. ....................... 45 TABELA 8 - PROPORÇÃO DE INTERNAMENTO E COEFICIENTE DE INTERNAMENTO POR CCSAP, SEGUNDO CADA PATOLOGIA. .......... 46 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACSC Ambulatory Care Sensitive Conditions AIH Autorização de Internamento Hospitalar ANS Agência Nacional de Saúde APCSS Appropriateness of Primary Care Service Scales APS Atenção Primária à Saúde CAHPS Consumer Assessment of Healthcare Providers and Systems CAA Coordenação de Acompanhamento e Avaliação CAA/DAB Coordenação de Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica CCSAP Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária CID Classificação Internacional de Doenças CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CPCI The Components of Primary Care Instrument CSAP Condições Sensíveis à Atenção Primária DATASUS Departamento de Informação do SUS EACS Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde ECG Eletrocardiograma ESF Estratégia de Saúde da Família HAS Hipertensão Arterial Sistêmica HRL Hospital Regional do Litoral IC Insuficiência Cardíaca INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social MHFS The Medical Home Family Survey MHIQ The Medical Home IQ NOAS Norma Operacional de Assistência à Saúde NOB Norma Operacional Básica OMS Organização Mundial da Saúde PAB Piso da Atenção Básica PCATool Primary Care Assessment Tool PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde PSF Programa de Saúde da Família SHU Serviço Hospitalar de Urgência SIH Sistema de Informação Hospitalar SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde SUS Sistema Único de Saúde TFAM Teto Financeiro de Assistência ao Município UBS Unidade Básica de Saúde US Unidade de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11 2 REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................... 16 2.1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: BREVE HISTÓRICO ............................................... 16 2.2 SISTEMAS DE SAÚDE NO BRASIL ........................................................................ 19 2.3 FLUXO DE PACIENTES NO SUS ........................................................................... 21 2.4 QUALIDADE EM SAÚDE ......................................................................................... 22 2.4.1 Qualidade no SUS ................................................................................................. 23 2.4.2 Internamento por CSAP ........................................................................................ 25 2.5 CCSAP ..................................................................................................................... 26 2.5.1 Hipertensão Arterial Sistêmica .............................................................................. 27 2.5.2 Insuficiência Cardíaca ........................................................................................... 27 2.5.3 Angina ................................................................................................................... 28 2.6 A REGIONALIZAÇÃO DA ATENÇÃO ÀS DOENÇAS CARDÍACAS ........................ 28 3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 31 3.1 UNIVERSO DO ESTUDO ........................................................................................ 31 3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO..................................................................................... 32 3.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ................................................................................... 33 3.4 FONTES DE DADOS ............................................................................................... 33 3.5 COLETA DE DADOS ............................................................................................... 34 3.6 REGISTRO DOS DADOS ........................................................................................ 36 3.7 AMOSTRA E ANÁLISE DOS DADOS ...................................................................... 36 4 RESULTADOS ............................................................................................................ 37 5 DISCUSSÃO ............................................................................................................... 47 6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 57 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 58 APÊNDICE A - ROTEIRO DE COLETA DE DADOS DOS PACIENTES ...................... 64 APÊNDICE B – AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DO ESTUDO NO HRL ....... 65 APÊNDICE C – MODELO DE FICHA CLÍNICA ............................................................ 66 11 1. INTRODUÇÃO A organização do Sistema Único de Saúde (SUS) está baseada em doutrinas e princípios filosóficos que norteiam a gestão e o acesso ao sistema de saúde, tais como a universalidade, equidade e integralidade. Além deles, há os princípios operacionais, regionalização e hierarquização, que preveem que o acesso à saúde deve ser organizado em níveis de complexidade tecnológica crescente e delimitado em áreas geográficas definidas, visando propiciar o acesso da população de cada área a toda tecnologia necessária para a resolubilidade adequada. (BRASIL, 1990; TOSO, 2011). A preocupação com o monitoramento da qualidade dos níveis de atenção, em especial a atenção primária, está prevista na Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS) do Ministério da Saúde (BRASIL, 1996; COSTA et al., 2010a). Diversos indicadores são apresentados para avaliar os diferentes níveis de atenção de acordo com os resultados, recursos e demanda de cada nível. Várias categorias de indicadores são propostas, dentre elas, os indicadores de efetividade, eficácia, governabilidade e sustentabilidade, envolvendo mais de 150 indicadores apresentados aos gestores para avaliação do SUS (VIANA et al, 2006). Os indicadores de efetividade dos níveis de atenção permitem a identificação de falhas e a reorientação de ações, visando à harmonia do fluxo de pacientes nos diferentes níveis. No âmbito da atenção primária, o monitoramento é realizado através de uma coordenação específica do Ministério da Saúde, a Coordenação de Acompanhamento e Avaliação (CAA). Toda estratégia de avaliação pretende cumprir o objetivo de fornecer subsídios aos gestores municipais, estaduais e federais para o fortalecimento e melhorias na consolidação do SUS (ALFRADIQUE et al, 2009). O foco na avaliação da atenção primária deve-se ao fato deste nível assistencial, além de ser a principal porta de entrada dos pacientes do SUS, ser também considerado reordenador das ações de saúde. (CONILL, 2002). Nesse aspecto, ressalta-se um programa específico de atenção à saúde básica, a Estratégia de Saúde da Família (ESF). Estes atributos somados ao grande investimento realizado pelo governo federal na atenção básica exigem dos gestores a busca pela efetividade das ações neste nível e a avaliação das políticas implementadas. (MARQUES, 2002). A avaliação da atenção primária recai 12 principalmente sobre o grau de resolutividade e efetividade das ações realizadas, enfocando a área e população abrangidas, condições de atendimento, imunizações, mortalidade, entre outros. Uma das formas também para avaliar a efetividade da atenção primária é analisar como suas ações podem reduzir a ocorrência de eventos evitáveis, mais especificamente, diminuindo o risco de internação hospitalar por doenças preveníveis ou por agudização de condições crônicas. Esta abordagem propõe assim a avaliação da atenção primária a partir da demanda no serviço de maior complexidade por determinadas condições de saúde. Este conceito foi proposto na década de 90 nos Estados Unidos por Billings (1996) e chamado de Ambulatory Care Sensitive Conditions (ACSC), sendo que, através da análise dos internamentos por ACSC, seria possível avaliar indiretamente o acesso dos indivíduos aos níveis de menor complexidade do sistema de saúde e sua efetividade. (BILLINGS, ANDERSON, NEWMAN, 1996; COSTA et al, 2010a; MORENO, 2009; PAPPAS, 1997). No Brasil, a tradução deste conceito seguiu a mesma lógica – Condições Sensíveis à Atenção Primaria (CSAP) – a partir do qual se propôs o desenvolvimento de um indicador de avaliação da atenção de nível primário do SUS, a partir do fluxo de pacientes em hospitais. Diversos estudos validaram a aplicação deste indicador no Brasil e demonstraram que serviços de atenção primária, mais efetivos e atuantes, estariam relacionados a um menor nível de internamento por CSAP. (BLUSTEIN, HENSON, SHEA 1998; COSTA, 2008; NEDEL et al, 2008; NEDEL, 2010; FONTANIVE, 2009). A principal fonte de dados para construção deste indicador é o Sistema de Informação Hospitalar (SIH) do SUS. Este indicador fornece dados referentes a pacientes que acessaram o serviço terciário, hospitalar, e permaneceram internados para tratamento ou procedimentos. O SIH é um sistema desenvolvido com o objetivo de auxiliar no gerenciamento de pagamentos de contas referentes aos internamentos hospitalares para serviços de saúde que prestam assistência ao SUS. Além da finalidade administrativa, através da recuperação de dados contidos no SIH, é possível obter-se informações sobre os serviços prestados e as estatísticas de atendimento. Diversas limitações são apontadas por Caldeira et al (2011), pelo fato do instrumento fonte do SIH, que são as Autorizações de Internamentos Hospitalares (AIH), estarem incompletas ou duplicadas para pacientes que se 13 internam no mesmo serviço várias vezes, mas algumas ferramentas estatísticas permitem relacionar o SIH com outras bases de dados, com objetivo de aumentar a fidelidade dos dados. (MORENO, 2009; PORTELA et al, 1997). Mesmo assim, o indicador de internamento por CSAP, baseado no SIH, pode apresentar limitações na sua análise. (ALFRADIQUE et al, 2009). O fluxo de pacientes em um hospital geral decorre do internamento eletivo e do atendimento de urgência e emergência do hospital. Este último, por sua vez, representa, em hospitais da rede pública, a principal porta de entrada de pacientes para o hospital, já que nos últimos anos a procura pelas emergências hospitalares tem aumentado gerando superlotação destes setores. O atendimento nos serviços de emergências hospitalares que deveriam ser para patologias graves e traumas acaba também cobrindo uma demanda inapropriada. Estima-se que 65% do atendimento em emergências hospitalares poderiam ser solucionados em ambulatórios. Este direcionamento ao setor terciário hospitalar deve-se a vários fatores, entre eles as deficiências na atenção de baixa e média complexidade. (O’DWYER, OLIVEIRA, SETA, 2009). As deficiências geradas pela superlotação das emergências hospitalares são não apenas de ordem biomédica, mas também administrativa, pois diversos pacientes acabam ficando em “observação na emergência” enquanto aguardam a resolução do problema, e muitos deles recebem alta ou transferência hospitalar antes mesmo de serem efetivamente internados em um leito de hospital. O período compreendido entre o atendimento e o internamento com preenchimento de AIH, consiste no status: observação. Este período de observação tem um limite máximo de 24 horas, após o que o paciente deve ser internado e uma AIH emitida. Estudo realizado em oito hospitais do Rio de Janeiro mostrou que cinco hospitais não respeitavam este prazo, permitindo que o paciente que acessou o serviço terciário não fosse contabilizado no SIH. (O’DWYER, OLIVEIRA, SETA, 2009). Este contingente de pessoas que são atendidas em serviço terciário sem figurarem no SIH revela a necessidade de um registro e análise dos atendimentos por CSAP que acessam o serviço terciário. Faz-se necessária a real mensuração do acesso de pessoas por CSAP ao serviço de saúde terciário. Os dados referentes a esta demanda oferecem informações mais precisas sobre a totalidade do acesso de pacientes com determinadas CSAP, dentre elas, as Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP), que consistem nos grupos de doenças 14 cardíacas, não infecciosas agudas, que constam na lista das CSAP: grupo 9 (hipertensão), grupo10 (angina) e grupo 11 (insuficiência cardíaca) agrupadas pela Classificação Internacional de Doenças 10ª. Revisão (CID) I10, I11, I20, I50 e J81. As CCSAP figuram no grupo das doenças cardiovasculares que são as principais causas de óbito no país, com possibilidade de prevenção e controle se abordadas adequadamente. (BATISTA et al, 2012). Sendo assim, a obtenção de dados acerca da demanda das CCSAP e seu relacionamento com informações do SIH permitirão aperfeiçoar as análises sobre a qualidade do atendimento na atenção primária e sobre a real demanda de pacientes que acessam o serviço terciário pelas diferentes CSAPs. Assim, o objetivo geral deste trabalho é quantificar a demanda de pacientes ao serviço de saúde terciário de Paranaguá (PR), independentemente de internamento por Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP). Os objetivos específicos são: a) Determinar a proporção entre o número de consultas na urgência do serviço terciário devido a CCSAP e o número de hospitalizações por CCSAP em Paranaguá; b) Verificar a proporção de hospitalizações por CCSAP em relação ao total de hospitalizações de adultos; c) Descrever características demográficas e de utilização dos serviços de saúde dos pacientes que acessaram o serviço terciário por CCSAP; d) Comparar as CCSAP a partir das características dos pacientes. Para tanto, o presente trabalho está dividido nas seguintes seções: Introdução, que apresenta o trabalho, contextualiza e delimita o assunto geral; Revisão da literatura, que destaca os principais temas e argumentos explorados no trabalho, apresentando os pontos de vista de diversos autores nacionais e internacionais sobre o assunto estudado, revisando os assuntos relacionados ao Sistema Único de Saúde, Qualidade em Saúde, Indicadores e Doenças Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária; Metodologia, que apresenta o recurso metodológico utilizado para desenvolver o trabalho e obter os dados que responderão aos objetivos propostos; Resultados e Discussão, que apresentam os resultados obtidos, bem como as análises e associações estatísticas das variáveis 15 estudadas. Seguindo os elementos textuais, há as Referências Bibliográficas e Apêndices. 16 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: BREVE HISTÓRICO O Sistema Único de Saúde (SUS) surgiu a partir do movimento da reforma sanitária, promovida no Brasil nas décadas passadas de 1970 e 1980. Esta reforma foi resultado de uma articulação da sociedade organizada com pouca participação do setor governamental, propulsionada por uma discussão internacional como a carta de Alma Ata, da qual o Brasil foi signatário em 1979. (SANTOS, 2007; VICTORIA et al, 2011). Naquela época, o Brasil, em meio à ditadura militar, oferecia uma assistência à saúde desigual, e em sua maioria privada, restando poucos planos ou seguros de assistência e um atendimento filantrópico inconstante e limitado aos menos favorecidos. A organização e articulação de diversas entidades assistenciais, acadêmicas e sociais culminaram com um movimento inicialmente de ruptura com o modelo vigente então, biologicista e centralizado no atendimento médico-hospitalar, para uma proposta de política de saúde baseada em pressupostos e princípios precursores do SUS. (RIBEIRO, 2009; VICTORIA et al, 2011). Esta articulação resultou na aprovação da saúde, durante a 8ª. Conferência Nacional de Saúde em 1986, como sendo um direito de todo cidadão, além de uma série de medidas que formaram a base para a implantação do SUS. O debate se estendeu até a constituinte de 1988 que, apesar de ter enfrentado a oposição de outros setores da saúde, definiu a base legal para a criação do SUS. Apresenta-se então um novo sistema de saúde que sucede temporalmente o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), inserido em uma concepção avançada de direito social (BRASIL, 1990) e baseado em princípios, doutrinas e diretrizes que orientam sua gestão, planejamento e execução. (MATTOS, 2009). As doutrinas do SUS são preceitos constitucionais que orientam sua organização no Brasil: a universalidade é a garantia de acesso à saúde a todo e qualquer cidadão, passando o usuário a ter direito de utilizar todos os serviços ofertados pelo SUS, bem como aqueles contratados pelo SUS em todas as esferas de governo; a equidade é uma doutrina que estabelece que o acesso aos serviços será oferecido de acordo com as necessidades dos indivíduos e segundo o nível de complexidade, sem privilégios ou discriminação, até o limite que o sistema possa 17 oferecer a todos os cidadãos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que "equidade em atenção à saúde implica em receber atenção, segundo suas necessidades, ou seja, as pessoas são diferentes entre si e demandam tratamentos diferentes para diminuir estas diferenças”. (VIANNA, 2006); a integralidade é a terceira doutrina do SUS, entendida como conjunto articulado e continuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do SUS. (TOSO, 2011). Além destas doutrinas filosóficas, foram definidos princípios para organizar as ações do SUS. Tais princípios são motivos dos principais debates e de diversas regulamentações para realizar a sua real aplicação. (MATTOS, 2009). Os princípios da hierarquização e regionalização fundamentam a ideia de que o atendimento seja oferecido em níveis de complexidade tecnológica crescente, que permitam a otimização da resolutividade, bem como a definição da área geográfica a ser atendida pelos diferentes níveis de complexidade. (BRASIL, 1990). Este princípio, além de permitir a efetividade das ações, possibilita a abordagem de problemas locais específicos de cada região. Este princípio gera uma lógica do fluxo de atendimento do cidadão na qual a atenção primária constitui a porta de entrada preferencial do cidadão ao sistema de saúde, com a atribuição de resolver os problemas de saúde mais prevalentes e encaminhar para outros níveis de atenção os casos mais complexos. (BRASIL 1990; NEDEL et al, 2008). O princípio da resolubilidade refere-se justamente à capacidade de cada nível de complexidade oferecer ao cidadão atenção adequada, oportuna e suficiente quantitativamente para solucionar os problemas de saúde das pessoas em cada nível de atenção. O princípio da descentralização caracteriza-se pela distribuição de responsabilidades aos governos municipais, estaduais e no âmbito federal a respeito da oferta das ações de saúde à população. Este processo culminou com a ideia da municipalização da saúde, tendo em vista a responsabilidade do município e a proximidade dos problemas para facilitar a resolução dos mesmos. (ANDRADE, SOARES, JUNIOR, 2001; BRASIL, 1990). O controle social é um dos princípios do SUS que prevê a participação ativa do cidadão de maneira organizada nas decisões e planejamento da saúde de sua comunidade, sendo os Conselhos de Saúde as entidades de representação da comunidade. (BRASIL, 1990; SANTOS, 2007). 18 Apesar de as doutrinas e diretrizes expressarem claramente a direção que o SUS deve tomar, diversas dificuldades de implantação resultaram em um descontentamento do usuário em relação aos serviços prestados e baixa resolutividade, exceto em algumas ilhas de excelência que geralmente estão associadas a modelos de gestão diferenciados ou ligados a centros de ensino. (SANTOS, 2007). Algumas causas são apontadas como responsáveis pelas dificuldades na implantação do SUS e suas consequências negativas, com destaque para a falha da atenção primária em atender e resolver a demanda do usuário, gerando um fluxo aumentado de pacientes para os prontos-socorros e prontos atendimentos. Consequentemente, identifica-se um descrédito da atenção primária e gera-se superlotação e desumanização do atendimento no nível secundário e terciário de complexidade, mais especificamente nos Prontos Atendimentos e Prontos-Socorros Hospitalares. Outro aspecto refere-se à gestão do SUS, com o atraso na implementação da Norma Operacional Básica 96 (NOB-96) e o estabelecimento de teto de repasse de verbas federais sem considerar o aumento da demanda (SANTOS, 2007), gerando um financiamento insuficiente ou pouco estável do sistema. (VICTORIA, 2011). Também, em relação à gestão, destaca-se a burocratização do financiamento com excessiva regulamentação pelo Ministério da Saúde, em parte, desfigurando as legislações e deliberações da Conferência Nacional de Saúde. (MATTOS, 2009; SANTOS, 2007). Além disso, existe ainda o fluxo de pacientes de operadoras de saúde para o SUS, principalmente nos serviços de maior complexidade, desonerando as operadoras e gerando custo excessivo para o sistema público sem o adequado reembolso das operadoras em relação aos tratamentos efetuados. (HEIMANN, 2005; MATTOS, 2009; VICTORIA, 2011). As dificuldades apontadas retardam o pleno funcionamento dos diversos níveis de atenção do SUS. A OMS e as normas operacionais do SUS salientam que a atenção primária deve ser o eixo orientador principal do sistema de saúde. (MATTOS, 2009; NEDEL, 2008). Entretanto, diversas destas falhas estão relacionadas com o fluxo de pacientes entre os diferentes níveis de complexidade, sendo motivo de avaliações e gerando informações para análise e desenvolvimento de ações estratégicas. 19 2.2 SISTEMAS DE SAÚDE NO BRASIL O desafio da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil envolve diversas questões que não se resumem a uma visão baseada na falta de recursos financeiros. A complexidade das relações que envolvem os processos de prevenção, tratamento e reabilitação suscita que o SUS seja visualizado como uma rede assistencial nacional que faz interface com diversas áreas governamentais, não governamentais e privadas. (VICTORIA et al, 2011). Sem dúvida, o subfinanciamento caracteriza-se como um dos aspectos determinantes do lento avanço do SUS em diversas regiões e áreas. Porém, aspectos como heterogeneidade na distribuição da assistência, incertezas quanto à qualidade assistencial, subplanejamento das estratégias de atenção à saúde, formação profissional, aspectos geopolíticos e falta de pesquisa aplicada ao SUS também constituem dificuldades na sua efetivação. A macroanálise do processo de atendimento à saúde da população evidencia que o paciente está inserido em um contexto assistencial que não se limita ao SUS, mas envolve outros setores de assistência à saúde. Sendo assim, o sistema de saúde do Brasil é composto por três subsetores: o setor público, que é financiado pelas três esferas governamentais (federal, estadual e municipal), o subsetor privado, que inclui todas as organizações com ou sem fins lucrativos que possuem financiamento tanto público como privado, e o subsetor de saúde complementar composto por diferentes planos e seguros saúde. Os subsetores permitem que o usuário utilize isoladamente ou simultaneamente todos eles de acordo com sua necessidade e disponibilidade financeira. (VICTORIA et al., 2011). A atenção ofertada pela rede pública pode ser subdividida em diferentes níveis de complexidade, atenção primária, secundária e terciária e na rede privada, consultórios, clinicas especializadas e hospitais. (PIRES et al., 2010; VICTORIA et al., 2011). A atenção primária caracteriza-se por um conjunto de ações, multidisciplinares que visam à promoção, prevenção, diagnóstico e tratamento da saúde de uma população delimitada territorialmente, utilizando tecnologia de elevada complexidade e baixa densidade para resolver os problemas de maior prevalência na população. A atenção secundária é composta por ambulatórios especializados, serviços diagnósticos e hospitais de menor complexidade. Os serviços terciários caracterizam-se por serem serviços hospitalares de maior 20 complexidade e densidade tecnológica com caráter regional ou estadual. (SIMONS, 2008). Este modelo de atenção hierarquizado é organizado a partir da atenção primária que é responsável por procedimentos básicos e de maior demanda com distribuição ampla em todas as comunidades. (TOSO, 2011). Pondera-se que o nível primário de atenção à saúde deve acolher e resolver aproximadamente 85% das demandas de saúde da população (SAÚDE, 2011), correspondendo aos problemas que demandam menor densidade tecnológica para serem solucionados. As relações que definem a demanda por serviços de diferentes complexidades no setor brasileiro de saúde permitem que o usuário trafegue entre o sistema público e privado em busca de assistência e resolutividade. O SUS é responsável por 75% dos estabelecimentos de média complexidade no Brasil (PIRES et al., 2010; VIANNA et al, 2001), ao passo que conta com apenas 40% da oferta de leitos hospitalares em território nacional. (VIANNA et al, 2011). Parte dos 60% dos leitos restantes e pertencentes aos subsetores não públicos são contratados pelo SUS para atender às necessidades dos usuários do subsetor público. (PIRES et al., 2010). O investimento do SUS com os níveis de media e alta complexidade representou 52% dos gastos federais com saúde, ao passo que na atenção primária foi investido 14,3% em 2010. (VICTORIA et al., 2011). Apesar do investimento desigual, não há garantia de qualidade de atendimento ou resolutividade ao usuário, tanto no nível de menor quanto no de maior complexidade, acarretado por uma continuidade do modelo que centra nos hospitais o foco da atenção à saúde e um planejamento estratégico similar, perpetuando a hipertrofia relativa do sistema de alta complexidade. (MATTOS, 2009). Um modelo assistencial possui características referentes à infraestrutura, financiamento, gestão e práticas de atenção que o definem. É possível notar que dois modelos são aplicados em larga escala no Brasil, o modelo sanitarista e o modelo médico-assistencial; o primeiro, hegemônico nos níveis de atenção de menor complexidade do SUS, e o segundo, com maior intensidade no setor privado. (TOSO, 2011). O usuário, por sua vez, transita entre os modelos para resolução de problemas. Diante da complexidade e magnitude do SUS, o fluxo de pacientes nos diferentes subsistemas e diferentes níveis de complexidade permite analisar indiretamente sua efetividade e qualidade, lembrando que a utilização dos serviços de saúde é influenciada por fatores como o tipo de morbidade e sua gravidade, 21 disponibilidade de médicos, perfil demográfico da população, características organizacionais dos serviços de saúde e o modelo de financiamento. 2.3 FLUXO DE PACIENTES NO SUS A importância do fluxo do paciente dentro do SUS está presente nas principais regulamentações do SUS que preconizam a atenção primária como o nível de atenção preferencial para o cidadão, estimulando assim a hierarquização com complexidade crescente. (BRASIL, 1990; BRASIL, 1996; SANTOS, 2007; VIANA et al., 2006). Sobrepondo o principio da resolutividade e em busca da efetivação da atenção primária, surgiram duas estratégias no Brasil em 1994, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), e a Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (EACS). Esta reorientação do modelo assistencial, focando-o na atenção primária, fortaleceu a descentralização das ações de saúde e a municipalização, alterando a cadeia de financiamento e o controle social da saúde. (CONILL, 2002). Os resultados, porém, não são uniformes ou constantes na qualidade da atenção primária, sendo que diversas dificuldades retardaram a implantação dos programas no Brasil. Falta de financiamento, de profissionais com perfil adequado e de entendimento dos gestores são algumas das dificuldades encontradas que impedem o pleno desenvolvimento da atenção primária. (ALFRADIQUE et al., 2009). O termo atenção primária possui significado amplo que envolve diversas ações de prevenção e promoção à saúde. No Brasil, a atenção primária à saúde é o nível de atendimento que se aproxima, e por vezes, iguala-se ao da atenção básica, por possuir características e elementos em comuns. Diante destes pressupostos, de início do fluxo do paciente da atenção primária para níveis de maiores complexidades no SUS, bem como da APS reordenar a rede assistencial tendo como estratégias principais a ESF e EACS, a avaliação deste nível de complexidade torna-se necessária para direcionar o planejamento e as ações que irão possibilitar a efetivação do SUS. (NEDEL et al., 2008). Como objeto de análise, a atenção primária organiza-se a partir de programas e investimentos específicos para este nível de atenção. As estratégias EACS e ESF figuram com destaque no investimento na saúde diretamente na atenção primária. O 22 Piso da atenção básica (PAB) e o Teto financeiro de assistência ao município (TFAM) são as principais fontes de financiamento da atenção primária do SUS. Além do financiamento próprio, a atenção primária possui características e atribuições específicas que a define enquanto porta de entrada preferencial para o SUS. (HARZHEIM, STEIN, DARDET, 2004; UCHIMURA, BOSI, 2002). Alguns atributos são característicos da atenção primária: o primeiro contato do usuário com o sistema de saúde, a continuidade, a integralidade, a coordenação da atenção dentro do sistema, foco da atenção na família, a orientação comunitária e a competência cultural. Os quatro primeiros atributos foram apresentados por Starfield (2002) e são considerados essenciais para a existência da atenção primária. (CUNHA, 2009; HARZHEIM, STEIN, DARDET, 2004;). No Brasil, a atenção primária possui outros atributos que a diferenciam de outros países, como equipe multidisciplinar, população adstrita por território, presença do agente comunitário de saúde e inclusão da saúde bucal. (HARZHEIM, STEIN, DARDET, 2011). Destina-se, portanto, à atenção primária a função de receber o usuário do sistema e oferecer os recursos necessários para resolução dos problemas no âmbito da prevenção, tratamento ou reabilitação e referenciá-lo para um serviço de maior complexidade, caso seja necessário. A partir destas atribuições é possível analisar os resultados da atenção primária do SUS, bem como o seu grau de resolução e efetividade das ações. 2.4 QUALIDADE EM SAÚDE A difícil tarefa em determinar a melhor forma de avaliar a qualidade de um serviço de saúde inicia-se no fato da complexa definição de qualidade quando se refere à atenção à saúde. O termo “qualidade” possui vários conceitos, sendo que na área da saúde, poucas definições expressaram um conceito próximo do real. (MALIK, 1996). Um deles tenta expressar de maneira global a qualidade do serviço de saúde: o melhor cuidado é o que maximiza o bem-estar do paciente, levando em conta o balanço dos ganhos e perdas esperadas que acompanhem o processo do cuidado em todas as etapas. (ADAMI, 1995). Este enfoque expõe um dilema que se perpetua nas estratégias da avaliação de qualidade em saúde, focar no processo ou no resultado da atenção. Outros pontos em discussão referem-se aos aspectos 23 centrais a serem valorizados num processo avaliativo, aqueles voltados para o usuário e sua relação com os prestadores, ou aqueles direcionados para o sistema de saúde em seu todo, elegendo aspectos como acessibilidade, equidade e cobertura. (SILVA, 1994). Diante da necessidade de analisar os serviços de saúde, várias estratégias e metodologias são propostas e apresentadas como ferramentas para padronizar a análise da qualidade, entre as principais estão: - Acreditação: método aplicado na America Latina desde a década de 1990, que visa avaliar os serviços hospitalares oferecidos, buscando a garantia de qualidade da assistência a partir de padrões de qualidade previamente aceitos. (ADAMI, 1995); - Auditoria de enfermagem: um método de avaliação da qualidade a partir das notas de evolução de enfermagem e do estado do paciente o qual possui três categorias: retrospectiva, plano de trabalho e operacional; - Observacional: trata-se de observação e registros do estado do paciente e comparação com padrões validados; - Método do processo traçador: que avalia a qualidade de todo o serviço a partir de análises de um ou mais processos específicos. (ADAMI, 1995). Diversas abordagens são propostas na avaliação de serviços de saúde, sendo que, a maioria delas se baseia em indicadores validados. No SUS, a análise de qualidade pode-se dar a partir de vários critérios: o nível de complexidade, esferas de governo (federal, estadual e municipal), tipo de estruturação, nível de satisfação, entre outros. A avaliação multidimensional propõe-se a analisar o problema a partir de três aspectos: processo, estrutura e resultado. O processo corresponde à forma com que o serviço é prestado, a estrutura expõe os aspectos de materiais, recursos e insumos utilizados e o resultado busca avaliar o impacto da medida sobre a população e satisfação da população. (FIGUEIREDO, 2011). 2.4.1 Qualidade no SUS 24 O desenvolvimento do SUS e as definições estratégicas são baseados nas avaliações dos diferentes serviços. Prevista nas Normas Operacionais, a avaliação do Sistema ocorre não apenas no âmbito de processo ou prestação de serviço, mas também na gestão e aplicação de recursos. (BRASIL, 1990; BRASIL, 1996). Uma das estratégias propostas está na análise das bases de dados de registro das informações do SUS. (PORTELA et al., 1997). Porém, diversas limitações ocorrem quando se utiliza esta estratégia devido a não confiabilidade dos dados, dados incompletos ou atrasados. As principais bases que oferecem informações dos serviços de saúde são Sistema de Informação Hospitalar do SUS (SIH), IBGE, apresentando dados demográficos, e dados de programas e órgãos específicos, como o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e Agência Nacional de Saúde (ANS). As grandes bases de dados nacionais foram criadas pelo Departamento de Informação do SUS (DATASUS), e são gerenciadas pelo mesmo, sendo a alimentação realizada pelos municípios. Os dados do DATASUS expõem informações sobre gestão, abrangência, internamentos, nascimentos e mortalidade. Não há dados amplos sobre a atenção primária no aspecto de resolubilidade deste nível de atenção. Apesar de a atenção primária ter recebido investimento crescente desde o final da década de 1990 com a criação de programas específicos para este nível de atenção, como o PSF e o PACS (MARQUES, MENDES, 2002), questiona-se sua qualidade (GOMES et a.l, 2011; SANTOS, 2007), uma vez que os dados disponibilizados não oferecem, com segurança, conclusões sobre sua resolubilidade. Sendo assim, indicadores de qualidade da atenção primária ficam limitados a estudos que demandam coleta de dados fora das bases de dados oficiais e geralmente realizados no meio acadêmico. Na literatura internacional diversos instrumentos de análise da APS que abordam diferentes aspectos dos processos e resultados da APS: APCSS avalia a partir dos registros médicos, exames e prescrições; CAHPS avalia as opiniões do usuário; CPCI avalia os atributos da APS; MHFS tem o foco nos cuidados à saúde da criança; MHIQ tem o foco nos processos contínuos; P3C avalia a opinião dos pais a respeito do atendimento aos filhos, e outros métodos apresentam indicadores para analise da APS. Dentre os instrumentos que apresentaram validação consistente nos resultados, o Primary Care Assessment Tool (PCATool) foi o que utiliza 25 ferramentas baseadas nos atributos essenciais de Starfield (FIGUEIREDO, 2011), também com versão para o Brasil. No Brasil, diversos trabalhos acadêmicos e análises administrativas têm sido realizados para avaliação da APS no SUS. Diversos métodos foram aplicados para avaliar o PSF e a atenção primária. O Ministério da Saúde, através da Coordenação de Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica (CAA/DAB) definiu uma Política Nacional de avaliação e monitoramento da APS no Brasil, sendo o conjunto de indicadores mais expressivos o Pacto de Indicadores da Atenção Básica que propõe a estados e municípios seguimento de indicadores e estabelecimento de metas. (FIGUEIREDO, 2011). Uma das formas propostas para análise de qualidade da atenção primária utilizando as bases de dados, é a analise do fluxo de pacientes para níveis de maior complexidade. A partir do acesso de pacientes a um nível de maior complexidade é possível inferir graus de resolubidade ao serviço que o antecede na complexidade. A partir deste raciocínio, desenvolveu-se um indicador de qualidade que avalia este fluxo do paciente de um nível de menor complexidade (ambulatórios, atenção primária) para o nível hospitalar de maior complexidade (hospitalar), denominado internamento por condições sensíveis à atenção primária (CSAP), indicador que compõe o Pacto de Indicadores da Atenção Básica. (TOSO, 2011). 2.4.2 Internamento por CSAP Este indicador inicialmente foi apresentado por Billings na década de 1990, denominado preventable hospitalization, com o objetivo de avaliar, através do fluxo de pacientes ambulatoriais da atenção primaria para níveis hospitalares, possíveis problemas na qualidade do atendimento primário. (BINDMAN et al., 1995; BILLINGS, ANDERSON, NEWMAN, 1996). Os estudos apresentam diversas patologias passíveis de serem atendidas e solucionadas na atenção primária, e que terão reduzido o número de internamentos quando este atendimento primário for adequado. (BINDMAN et al, 1995; BLUSTEIN, HANSON, SHEA, 1998; NEDEL et al., 2010). Em diversos países, este indicador tem sido utilizado como forma de aferir indiretamente a qualidade e resolubilidade da atenção primária ou ambulatorial. (NEDEL et al., 2010; WEISSMAN, GATSONIS, EPSTEIN, 1992). No Brasil, este indicador ainda é pouco utilizado e não há dados suficientes que permitam 26 consolidar valores padrões de referência, também possui por parte dos prestadores médicos, pouco conhecimento da lista de CSAP, fato que diminui a visualização do indicador na rotina do SUS, (ALFRADIQUE et al., 2009; CARNEIRO, CALDEIRA, SANTANA, 2011; MORENO 2009). Os estudos que aplicaram este indicador no Brasil direcionaram-se para analisar prevalências de internamento por CSAP e comparação da incidência de internamento por CSAP após intervenções no modelo de atendimento do SUS na atenção primária. (COSTA, 2008; MOURA et al., 2010). Os estudos demonstraram diferenças na incidência de internamentos por CSAP comparando modelos de APS em periodos diferentes ou locais diferentes. (CALDEIRA et al., 2011; FIGUEIREDO, 2011). Os estudos que utilizaram este indicador basearam sua fonte de dados, em sua grande maioria, no Sistema de Informação hospitalar do SUS (SIH- SUS), que é um sistema desenvolvido para gestão financeira do SUS, este fato é destacado como limitante por autores. (BATISTA et al., 2012; RABETTI, FREITAS 2011). A partir de 2008, uma resolução federal definiu uma lista de patologias que caracterizam as condições sensíveis à atenção primária como instrumento de base para avaliação da qualidade da atenção primária e da utilização hospitalar no SUS. (BRASIL, 2008). A lista foi organizada em 19 classes de doenças, divididas por etiologia, órgão afetado ou tipo de prevenção. Nela, identificam-se três classes de CSAP e seu CID correspondente que se referem diretamente a doenças cardíacas: a classe 9, denominada hipertensão, que engloba a hipertensão essencial (I10) e doença cardíaca hipertensiva (I11); a classe 10, denominada angina, que se refere a angina pectoris (I20) e a classe 11, denominada insuficiência cardíaca, que engloba a insuficiência cardíaca (I50) e o edema agudo de pulmão (J81). Estas três classes serão denominadas Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP). 2.5 CCSAP As três classes de doenças cardiológicas estão diretamente relacionadas ao sistema cardíaco com diagnóstico e tratamento específicos e comprovados cientificamente. O impacto das doenças cardiovasculares na morbi-mortalidade da população tem sido estudado exaustivamente nas últimas décadas, sendo a 27 principal causa de morte em países desenvolvidos. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010). No Brasil, o impacto destas doenças relaciona-se não apenas com a mortalidade, mas também com os custos à saúde, sendo que a principal causa de internamento em pessoas com idade superior a 60 anos no Brasil foi a insuficiência cardíaca. (VICTORIA et al., 2011). Caracterizadas como doenças crônicas não transmissíveis, as CCSAP apresentam grande importância no planejamento do SUS. No caso da HAS, existe um programa específico no nível primário para atendimento e seguimento destes pacientes (CUNHA, 2009), sendo foco de avaliação da atenção primária similar a um traçador de qualidade. Diversos aspectos são avaliados em relação ao atendimento à HAS para avaliar a eficiência deste atendimento (recursos financeiros, insumos, ações de controle e diagnóstico, força de trabalho, vinculação, número de atendimento individual e visitas domiciliares), permitindo desenvolver medidas que garantam o adequado tratamento da HAS na APS. (RABETTI; FREITAS, 2011). 2.5.1 Hipertensão Arterial Sistêmica A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença crônica não transmissível, definida como a elevação anormal da pressão arterial do indivíduo em repouso. Trata-se de uma patologia que o controle é o principal mecanismo de reduzir o impacto na população. A HAS é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares, apresentando uma prevalência na população em geral, que varia de 22 a 43 % em estudos nacionais. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010). Diversos fatores estão envolvidos no tratamento da HAS e no sucesso terapêutico: adesão ao tratamento, seguimento ambulatorial, mudança de estilo de vida, entre outros, inclusive com projetos e programas específicos do MS como o HIPERDIA, um sistema de cadastramento do paciente portador de HAS e diabetes com o objetivo de gerar informações e otimizar o tratamento desta patologia. 2.5.2 Insuficiência Cardíaca A insuficiência cardíaca (IC) é a consequência da maioria das cardiopatias, caracterizada pela falência em diferentes graus da função cardíaca. Dentre as principais causas estão: Doença isquêmica do coração, Valvopatias, HAS, Doença de Chagas. Em 2007, dados indicam que a IC foi responsável por 2,6% dos 28 internamentos do SUS, 6% dos óbitos e 3% dos recursos utilizados nos internamentos do SUS. (BOCCHI et al., 2009). O seu caráter crônico e complexo demanda recursos diagnósticos avançados para o adequado estadiamento e consequente aplicação do tratamento adequado e manutenção do paciente compensado em nível ambulatorial, sem necessidade de internamento. 2.5.3 Angina A angina ou angina pectoris caracteriza-se por dor ou desconforto na região torácica e adjacências, com carateriscas próprias, e que tem origem em alterações cardiológicas como a doença coronariana, miocardiopatias ou HAS não controlada. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2004). Diversas condições não cardiológicas podem causar dor torácica como, por exemplo, doenças do esôfago, estômago, pulmonar ou muscular. É uma síndrome clínica que alerta sobre a descompensação cardiológica e risco de infarto ou outras consequências. Seu diagnóstico diferencial é inicialmente clínico, porém demanda exames complementares como eletrocardiograma (ECG) e exames laboratoriais para diferenciar-se de um Infarto Agudo do Miocárdio. 2.6 A REGIONALIZAÇÃO DA ATENÇÃO ÀS DOENÇAS CARDÍACAS Conforme estabelece a legislação vigente, o Plano Diretor de Regionalização (PARANÁ, 2009) constitui um instrumento de ordenamento da hierarquização e regionalização da assistência à saúde nos estados (BRASIL, 2001), definindo polos estaduais, macrorregiões, regiões e microrregiões de saúde juntamente com suas atribuições, competências, fluxos operacionais e referências. Segundo o Pacto de Gestão, “As regiões de Saúde são recortes territoriais inseridos em espaços geográficos contínuos, identificados pelos gestores municipais e estaduais a partir de identidades culturais, econômicas e sociais, de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados do território”. (BRASIL, 2006). A região de saúde deve organizar a rede de ações e serviços de saúde a fim de assegurar o cumprimento dos princípios constitucionais de universalidade do acesso, equidade e integralidade do cuidado, por meio de pactuação entre todos os 29 gestores envolvidos. (BRASIL, 2006). Dessa forma, o fluxo de pacientes dentro de uma região ou entre regiões deve ocorrer conforme o que foi pactuado. O desenho do último PDR do Estado do Paraná, definido em 2009, estabeleceu 47 microrregiões, 22 regiões de saúde, 6 macrorregiões e 2 polos estaduais. Os municípios das microrregiões têm a atribuição de atender todos os procedimentos de Atenção Primária de Saúde, devendo as microrregiões, além disso, atender a um conjunto mínimo de procedimentos de média complexidade, como primeiro nível de referência intermunicipal. As regiões de Saúde devem resolver a maior parte da demanda para consultas, exames e procedimentos de média complexidade (especialmente os mais complexos), podendo atender também parte dos serviços e procedimentos de alta complexidade. As macrorregiões devem ter resolução para toda a média complexidade, e para a grande maioria dos serviços e procedimentos de alta complexidade. (PARANÁ, 2009). O município de Paranaguá é sede da 1ª região de saúde e, juntamente com mais 6 municípios totalizam cerca de 255 mil habitantes dentro da macrorregião Leste. Possui gestão plena de saúde, tendo uma rede de serviços públicos organizada em atenção primária, de média e alta complexidade. A atenção primária conta com dezenove equipes organizadas segundo o modelo de Programa de Saúde da Família (PSF), com áreas de abrangência delimitadas, distribuídas em nove unidades, contemplando 55% de cobertura no município. (PARANAGUÁ, 2010). Além do PSF, a atenção primária de Paranaguá conta com três equipes de agentes comunitários de saúde (EACS), sete unidades básicas de saúde convencionais com atendimento médico e duas unidades de saúde em duas ilhas pertencentes a Paranaguá apenas com atendimento de enfermagem. A atenção de média e alta complexidade é composta por dois centros de atenção à saúde, um hospital dia, três unidades de prontos atendimentos com exames complementares – eletrocardiograma, exames radiológicos e exames laboratoriais – disponíveis. Conforme definido pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2006), o fluxo de pacientes, no SUS em Paranaguá, inicia-se na atenção primária ou no pronto atendimento, sendo os casos resolvidos ou encaminhados para os serviços especializados ambulatoriais da própria Prefeitura ou para o nível terciário de atenção que é o Hospital Regional do Litoral. Excepcionalmente, pode ocorrer a 30 demanda direta de pacientes a um nível de maior complexidade, dependendo da patologia, urgência ou dificuldade de acesso nos níveis de menor complexidade, neste caso, também os pacientes que utilizam de serviços de resgate acessam diretamente o hospital. O Hospital Regional do Litoral é um serviço de média e alta complexidade sob gestão estadual, para atenção de diversas especialidades, entre elas a cardiologia. Conta atualmente com 184 leitos SUS, sendo 48 clínicos (5 dos quais são cardiológicos), 59 cirúrgicos, 9 de UTI adulto, 7 de UTI neonatal, 5 de unidade intermediária, 2 de isolamento, 22 obstétricos e 32 pediátricos, compreendendo 16 especialidades médicas. (BRASIL, 2010). É o único serviço de referência em alta complexidade do SUS de todo litoral paranaense atendendo a sete municípios e figura como única unidade hospitalar do SUS no município de Paranaguá, excluído o hospital dia. 31 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal que descreve a demanda de pacientes ao Hospital Regional do Litoral, serviço terciário de saúde do SUS de Paranaguá, por CCSAP, durante 180 dias consecutivos, entre 1.º de novembro de 2010 e 30 de abril de 2011, compreendendo todos os pacientes consultados que se enquadraram nos critérios de inclusão, independente da emissão de AIH. 3.1 LOCAL DO ESTUDO O Hospital Regional do Litoral (HRL), localizado em Paranaguá, foi o local onde se deu o presente estudo. Caracterizado como hospital geral, o fluxo de pacientes é predominantemente composto por pacientes referenciados das unidades básicas de saúde, outros serviços ambulatoriais e preferencialmente dos 3 prontos atendimentos 24h existentes no município ou serviço de resgate dos bombeiros. Excepcionalmente ocorre demanda espontânea de pacientes sem avaliação prévia de um serviço de menor complexidade. Os pacientes clínicos ou cirúrgicos são atendidos no serviço do Pronto-Socorro pela equipe médica de plantão, os pacientes pediátricos são atendidos no setor de Pediatria e os obstétricos na maternidade, alas existentes no HRL. Após o atendimento, o médico de cada área decide sobre o internamento ou alta. Este primeiro atendimento consiste, na maioria das vezes, de uma avaliação clínica, realização de exames complementares, aplicação de medicamentos e realização de procedimentos (gesso, suturas ou curativos). Vale ressaltar o atendimento do serviço de Ortopedia que assume um papel exclusivo da região, como único serviço nesta área, confundindo sua atuação como alta, média e baixa complexidade da área de ortopedia, e por consequência, distorcendo a posição do HRL como atenção terciária, uma vez que o paciente usuário do SUS que necessita de atendimento ortopédico necessariamente irá procurar o HRL. O internamento do paciente atendido é realizado quando indicado pelo médico plantonista do ProntoSocorro, direcionado à especialidade de acordo com a patologia suspeitada e encaminhado para leitos de internamento no PS ou nas enfermarias, e assim permanece aos cuidados dos internistas ou especialistas até a alta, óbito ou transferência. Os pacientes com curta permanência que ficam em observação, com 32 limite máximo de até doze horas, por vezes após o atendimento, são liberados para acompanhamento ambulatorial. Estima-se que ocorra cerca de 50 atendimentos por mês relacionados às CCSAP. O Pronto-Socorro possui uma equipe permanente de 2 médicos plantonistas clínicos, 1 cirurgião e 1 ortopedista e o suporte das especialidades ocorre na forma de plantão ou sobreaviso, com profissionais que não estão no Pronto-Socorro, mas podem ser acessados pela equipe sempre que necessário. A população estudada pertence ao município de Paranaguá, situado no Litoral paranaense, com uma população estimada em 140 mil habitantes (BRASIL, 2010), sendo que 90.140 pessoas encontram-se na faixa etária acima de 20 anos. Ainda nesta faixa etária, cerca de 25.000 (27,5%) pessoas são beneficiadas com planos ou seguros-saúde e 65.000 (72,5%) consideradas SUS dependentes. 3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Para inclusão do paciente no presente estudo, consideraram-se as patologias constantes da lista de CSAP do MS relacionadas às doenças cardíacas, chamadas Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP), cujos CIDs ou diagnósticos foram identificados nas fichas clínicas dos pacientes após seu atendimento no pronto-socorro. O quadro 1 lista as CCSAP e seus respectivos CIDs – 10ª. Revisão (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1997). Quadro 1 – Lista de Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP) com Código Internacional de Doenças - 10a. revisão. Grupo Patologia/CID - 10 9 Hipertensão 9.1 Hipertensão essencial I10 9.2 Doença cardíaca hipertensiva I11 10 Angina 10.1 Angina pectoris I20 11 Insuficiência Cardíaca 11.1 Insuficiência Cardíaca I50 11.3 Edema agudo de pulmão J81 Fonte: Portaria 221 de 17 de abril de 2008, Ministério da Saúde, Brasil. Foram incluídos os pacientes que constavam residentes na ocasião do estudo no município de Paranaguá, com idade igual ou superior a 20 anos, que foram atendidos no serviço de urgência do Hospital Regional do Litoral e tiveram como 33 diagnóstico principal e motivo da procura ao pronto-socorro do HRL uma das CCSAP durante o período da pesquisa. O critério para identificação do diagnóstico de CCSAP foi a análise de cada ficha ou prontuário no campo diagnóstico, não sendo considerado somente a CID, já que na maioria das fichas não constava este dado, situação diferente dos formulários de AIH, onde a CID aparecia na grande maioria das vezes. O diagnóstico apresentado na ficha de atendimento da emergência, por vezes sindrômico, demandou uma análise completa das fichas e de outros documentos anexos ao prontuário para definição correta do diagnóstico de CCSAP. 3.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Os pacientes que apresentavam dúvida diagnóstica, com a descrição de mais de um diagnóstico na ficha de atendimento ou AIH, foram criteriosamente avaliados pelo pesquisador a fim de identificar o principal motivo do atendimento no HRL e, nos casos de dúvida diagnóstica, foram excluídos da pesquisa. Também foram excluídos os pacientes que não realizaram registro em ficha de atendimento ou internamento. Para exemplificar esta situação, pode-se mencionar os pacientes oriundos das unidades de saúde apenas para realização de exames complementares e que retornaram para conclusão do atendimento nas unidades de saúde de origem. 3.4 FONTES DE DADOS Os dados do roteiro de coleta do estudo (Apêndice A) foram obtidos do documento fonte: ficha de atendimento de emergência ou prontuário, compondo as seguintes variáveis: gênero (masculino/feminino), idade (em anos completos distribuídos em faixas etárias), CCSAP (HAS, IC e Angina), bairro de residência (conforme descrito na ficha de identificação), tipo de referência (espontânea, Unidade Básica de Saúde, Pronto Atendimento, Bombeiro, Clínica Privada e outros hospitais), decisão pelo internamento (sim e não), tipo de alta (domiciliar, óbito e transferido, óbito), visita ao médico no ano anterior (sim/não), modelo de atenção primária no bairro de residência (PSF/não PSF). 34 A partir do endereço de residência fornecido pelo paciente ou familiar no momento da admissão no HRL, foi possível identificar a unidade de atenção primária responsável pela atenção, segundo os dados de territorialização existentes na Secretaria Municipal de Saúde de Paranaguá. Assim foi possível conhecer os modelos de atenção primária nos quais cada um dos pacientes estava adscrito, Programa de Saúde da Família (PSF), Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (EACS) ou modelo convencional. Para definir se o paciente havia sido internado ou não, considerou-se a situação do paciente no momento da alta da unidade de emergência do HRL, ou seja, se no momento da alta o paciente estava com a AIH preenchida, considerou-se o internamento ou, caso o paciente tenha realizado o atendimento e permanecido em observação sem emissão de AIH, considerou-se como não internado. Quando o mesmo paciente foi recorrente na busca ao hospital no período do estudo por CCSAP idênticas ou diferentes, foram considerados todos os registros. O coeficiente de internamento por CCSAP foi calculado dividindo-se o número de pacientes com idade ≥ 20 anos, internados por CCSAP no período estudado pela população do município de Paranaguá com idade ≥ 20 anos no mesmo período multiplicado pela constante 10.000. Como o período de tempo do estudo deu-se em 6 meses, foi realizado um ajuste para anualizar este coeficiente, dividindo-se o denominador por 2. Tal procedimento levou em consideração que o total de pessoas-tempo observadas correspondeu ao total da população no período multiplicado por meio ano de observação. (COSTA; KALE, 2009). A proporção de internamentos por CCSAP foi calculada dividindo-se o número de pacientes com idade ≥ 20 anos, internados por CCSAP no período estudado pelo número total de internamentos entre pacientes com idade maior ou igual a 20 anos no mesmo período multiplicado por 100. Os dados sobre internamentos ocorridos no período, excetuando os internamentos obstétricos, foram obtidos junto ao Serviço de Arquivo Médico e Faturamento do HRL. Desse modo, foram incluídos os pacientes residentes em Paranaguá com 20 anos ou mais, exceto os internamentos que figuravam como procedimentos obstétricos. 3.5 COLETA DE DADOS 35 A coleta de dados foi realizada diariamente no Pronto-Socorro do HRL pelo próprio pesquisador no inicio da manhã e no final da tarde, a partir de dois documentos que constituíram a fonte de dados do paciente: ficha de atendimento da emergência ou prontuário clínico. O fato de a Unidade de Emergência do HRL ser a única porta de entrada de pacientes ao hospital, associado à dupla visita diária, permitiu reduzir ao máximo a perda de pacientes elegíveis para a pesquisa. Também se levou em conta o fato de que o setor de faturamento recolhia as fichas de pacientes de alta da emergência no inicio da manhã. A visita diária permitiu revisar a situação clínica e a evolução de cada paciente incluído na pesquisa. No caso de decisão por internamento, o pesquisador manteve atualização diária da situação do paciente registrado até concluir o tipo de alta. Foram incluídos neste estudo, todos os pacientes cuja entrada no hospital ocorreu dentro do período estipulado, mesmo que, nos casos de internamento, a alta hospitalar tenha se dado posteriormente. A ficha de atendimento (Apêndice C) possui 5 campos de interesse direto do pesquisador: o campo de identificação e dados sociodemográficos (sexo, idade, bairro de residência) e data de admissão do paciente; o segundo campo compreende a história descrita pelo médico com sintomas e achados de exame físico do paciente; o terceiro é o campo diagnóstico; o quarto, o campo de procedimentos realizados no paciente (exames e medicamentos) e o quinto campo, o desfecho do paciente (alta, internamento, transferência ou óbito). Devido a eventual escassez de dados na ficha clinica incompleta ou rasurada, o pesquisador buscou informações em outros documentos referentes ao atendimento prestado, tais como a ficha de triagem da enfermagem, folha de prescrição e exame, formulário de encaminhamento no caso de pacientes oriundos de outros serviços e ficha de atendimento do bombeiro que transportou o paciente. No caso dos pacientes internados, todo o prontuário foi examinado a fim de garantir a fidelidade das informações registradas. Dados como receituário ou exames prévios trazidos pelos pacientes e anexados ou descritos no prontuário permitiram descrever o acesso ou não do paciente a serviço médico no ano anterior. Os exames solicitados pelo médico da emergência do HRL associados à descrição clínica também permitiram, por exemplo, classificar a dor torácica como angina ou dor torácica muscular não cardíaca. Diversas informações descritas ou anexas à 36 ficha de emergência ou ao prontuário foram consideradas para possibilitar a coleta de todos os dados necessários ao estudo. O processo de coleta dos dados foi exclusivamente realizado pelo pesquisador, permitindo a criteriosa análise dos dados no momento da coleta, evitando a inclusão de pacientes que não obedeciam aos critérios de inclusão. 3.6 REGISTRO DOS DADOS O banco de dados foi gerado a partir da digitação dos dados coletados no programa Epidata versão 3.1. A digitação foi realizada pelo pesquisador com auxílio de um assistente. Para facilitar a digitação e minimizar a ocorrência de erros, foi criado no Epidata um formulário com critérios predefinidos para a inserção das respostas. Os campos nos quais, eventualmente, não foram obtidas as respostas, permaneceram em branco. Após o registro, os dados foram revisados pelo pesquisador, classificados e tabulados para a realização das análises estatísticas. 3.7 AMOSTRA E ANÁLISE DOS DADOS Apesar de ter sido utilizada amostra de conveniência (consecutiva), ressaltase que o número de casos estudados no período de pesquisa seria suficiente para garantir um poder de 90% (β=0,1), se fosse resultante de amostra aleatória. (MEDRONHO, 2009). Para a descrição das características gerais da casuística utilizou-se a média e desvio padrão para a variável idade e as frequências absolutas e relativas para as variáveis qualitativas. Na análise de possíveis associações entre a variável de desfecho (internação) e as variáveis categóricas utilizou-se o teste Qui-quadrado e Teste t de Student para as variáveis contínuas. Foi considerado o nível de significância de 5%. Após a tabulação dos dados, foi utilizado o software SPSS (v13.0) para análise das associações. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIVILLE (Processo n.º 141/2010). 37 4. RESULTADOS Durante o período de 180 dias compreendidos, entre novembro de 2010 e abril de 2011, foram registrados e incluídos 276 atendimentos de adultos residentes em Paranaguá com idade de 20 ou mais anos no Pronto-Socorro do Hospital Regional do Litoral, com diagnóstico principal de uma das patologias consideradas CCSAP. Do conjunto das 3 patologias que compuseram o grupo das CCSAP estudadas, verificou-se um nítido predomínio da angina (48,5%), seguida da hipertensão arterial (38,8%) e da insuficiência cardíaca (12,7%). As características dos pacientes atendidos com diagnóstico de CCSAP estão mostradas na tabela 1. Observa-se um predomínio do sexo feminino (51,1%) para o conjunto das três patologias, porém quando se analisa cada uma delas, nota-se que este predomínio se mantém apenas para a hipertensão arterial, mas não para a angina e insuficiência cardíaca, nas quais predomina o sexo masculino A variação da idade dos pacientes incluídos foi de 20 anos, a mínima; até 91 anos, a máxima, tendo como média de idade 55,95 anos (DP= 14,9). Chamou a atenção o elevado percentual da ocorrência de idosos (44,2%),sendo importante relembrar que a ocorrência das CCSAP aumenta progressivamente conforme aumenta a idade dos pacientes, acumulando morbidades neste grupo. Chama a atenção o achado de que 57,6% dos pacientes demandaram o serviço terciário espontaneamente, ou seja, sem ter recebido atendimento em outros níveis de atenção do SUS disponíveis na cidade, como as UBS ou Prontos Atendimentos, recursos possíveis para a resolução de seu caso. Além disso, somente 61,2% dos pacientes tiveram consulta em serviço de saúde no ano anterior, o que sugere falha no seguimento destes pacientes portadores de doenças crônicas. Quase a metade dos pacientes (47,8%) reside em área adstrita a unidades de Saúde da Família. Do total de pacientes atendidos com CCSAP, apenas 18,8% foram internados devido a esta condição, sendo a grande maioria, atendido e liberado para retorno ao domicílio. Após o internamento, 97,2% dos pacientes receberam alta para retornarem a seu domicílio, havendo um baixo percentual de letalidade (1,8%) e de transferência para outros serviços (1,1%). 38 Tabela 1 – Características dos pacientes atendidos com diagnóstico de CCSAP no Hospital Regional do Litoral, Paranaguá, de novembro/2010 a abril/2011. Características Sexo Feminino Masculino Faixa etária (anos) 20-29 30-39 40-49 50-59 60 + Tipo de referência Espontânea Pronto atendimento 24h US Bombeiro Clínica privada Outros hospitais Visita ao médico no ano anterior Sim Não Modelo de atenção PSF Não PSF Internação Sim Não Tipo de alta Domiciliar Óbito Transferência IC (N=35) (12,7%) HAS (N=107) (38,8%) ANGINA (N=134) (48,5%) Total (N= 276) (100,0%) % 14 21 65 42 62 72 141 135 51,1 48,9 0 01 01 07 26 03 12 30 22 40 13 13 18 34 56 16 26 49 63 122 5,8 9,4 17,8 22,8 44,2 11 15 06 0 02 01 73 18 12 04 0 0 75 41 11 04 03 00 159 74 29 08 05 01 57,6 26,8 10,5 2,9 1,8 0,4 25 10 70 37 74 60 169 107 61,2 38,8 22 13 39 68 71 63 132 144 47,8 52,2 26 09 04 103 22 112 52 224 18,8 81.2 31 03 01 106 01 0 131 01 02 268 05 03 97,1 1,8 1,1 Notas: HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica; IC – Insuficiência Cardíaca; PSF – Programa Saúde da Família; CCSAP – Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária. Fonte: Autoria Própria. A demanda de pacientes por CCSAP ao serviço terciário de Paranaguá gerou apenas 18,8% de internamento (52 pacientes) dentre os participantes da pesquisa. A comparação das características dos pacientes conforme os 2 grupos, internados e não internados, evidenciou haver diferença significativa em relação ao diagnóstico das CCSAP, havendo um predomínio de internamento por IC (p= 0,000). A idade, para esta análise foi dividida em dois grupos e também apresentou diferença significativa, com predomínio de internamento de pacientes idosos (p= 0,001). Em relação ao sexo, apesar do predomínio de mulheres na demanda ao serviço terciário por CCSAP, identificou-se maior proporção de pacientes do sexo masculino entre os 39 internados (p= 0,043). Não se encontrou diferença com relação ao tipo de referência (p= 0,766), modelo de atenção ao qual é adscrito (PSF e não PSF) (p= 0,114) e visita ao médico no ano anterior (p= 0,189) (Tabela 2). Tabela 2. Comparação entre pacientes internados e não internados segundo CCSAP idade, sexo e tipo de referência agrupado, área de residência e visita médica prévia. Característica Total N 276 CCSAP Angina HAS IC Idade (anos) 20 a 59 ≥60 Sexo Feminino Masculino Tipo de referência Espontânea Encaminhada Área de residência PSF NÃO PSF Visita ao médico no ano anterior Sim Não % 100,0 Internados N 52 % 18,8% Não internados N 224 p % 81,2% 0,000 134 107 35 48,6 38,8 12,7 22 04 26 16,5 3,7 74,3 112 103 09 83,5 96,3 25,7 0,001 154 122 55,8 44,2 18 34 11,7 27,8 136 88 88,3 72,8 141 135 51,1 48,9 20 32 14,2 23,7 121 103 85,8 76,3 0,043 0,766 159 117 57,6 42,4 29 23 18,2 19,6 130 94 81,8 80,4 0,114 132 144 47,8 52,2 30 22 22,7 15,3 102 122 77,3 84,7 0,189 169 107 61,2 38,8 36 16 21,3 15,0 133 91 78,7 85,0 Notas: CCSAP – Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária; HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica; IC – Insuficiência Cardíaca. PSF – Programa Saúde da Família. Fonte: Autoria Própria. Com relação ao modelo de atenção primária, ao qual os pacientes são adscritos segundo sua residência, identificou-se maior proporção de pacientes procedentes de áreas não PSF (52,2%). A comparação com o sexo e a idade dos pacientes e com variáveis relativas à atenção, tipo de referência e visita ao médico 40 no ano anterior não mostrou diferenças significativas entre os 2 grupos (Tabela 3). Tabela 3. Comparação entre pacientes residentes em Área atendidas pelo PSF e Não PSF segundo idade, sexo e tipo de referência agrupado e visita ao médico ano anterior. Característica Total PSF Não PSF p N % N % N % 276 Idade (anos) 20 a 59 ≥60ª Sexo Feminino Masculino Tipo de referência Espontânea Encaminhada Visita ao médico no ano anterior Sim Não 154 122 100,0 55,8 44,2 132 69 63 47,8% 44,8 51,6 144 52,2% 85 59 55,2 48,7 0,259 0,892 141 135 51,1 48,9 68 64 48,2 47,4 73 71 51,8 52,6 0,141 159 117 57,6 42,4 70 62 44 53 89 55 56,0 47,0 0,652 169 107 61,2 38,8 79 53 46,7 49,6 90 54 53,3 50,4 Notas: CCSAP – Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária; HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica; IC – Insuficiência Cardíaca; PSF – Programa Saúde da Família. Fonte: Autoria Própria. Houve um elevado percentual de pacientes que demandaram espontaneamente o HRL (57,6%), contrariamente ao que se esperava. Não se identificou diferença significativa ao se comparar o tipo de referência com o sexo (p=0,572), a idade dos pacientes (p=0,432), o modelo de atenção primária no qual os pacientes são adscritos (p=0,141), e a visita ao médico no ano anterior (p=0,873) (Tabela 4). As CCSAP diferem entre si por características epidemiológicas, clínicas e fisiopatológicas que interferem no curso natural da doença e, portanto, necessitam de ser analisadas individualmente em relação às variáveis estudadas. 41 Tabela 4. Comparação entre pacientes Encaminhados e Demandados espontaneamente segundo idade, sexo e Área de Residência e Visita prévia ao médico. Característica Idade (anos) 20 a 59 ≥60ª Sexo Feminino Masculino Área de residência PSF NÃO PSF Visita ao médico no ano anterior Sim Não N Total % Espontânea N % Encaminhado N % 276 100,0 159 57,6% 117 42,4% 154 122 55,8 44,2 91 68 59 55,7 63 54 41,0 44,3 p 0,572 0,432 141 135 51,1 48,9 78 81 55,3 60 63 54 44,7 40,0 0,141 132 144 47,8 52,2 70 89 53 61,8 62 55 47,0 38,2 0,873 169 107 61,2 38,8 98 61 58 57 71 46 42,0 43,0 Notas: CCSAP – Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária; HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica; IC – Insuficiência Cardíaca; PSF – Programa Saúde da Família. Fonte: Autoria Própria. Nos pacientes que demandaram o HRL por angina (48,8%) (Tabela 5), a maioria é do sexo masculino (53,3%) diferentemente do conjunto das outras duas CCSAP (IC e HAS), não havendo, porém, diferença significativa em relação ao sexo nesta comparação (p=0,148). Em relação à idade, a angina prevaleceu nas categorias entre 20 – 29 anos e 50 – 59 anos em relação ao conjunto das outras CCSAP (p=0,030), evidenciando tratar-se de adultos jovens e de idade mais elevada os que demandam o hospital de referência com quadro de angina. Com relação ao tipo de referência dos pacientes com angina, prevaleceram os encaminhados via Pronto-Socorro (55,4%), ao contrário das outras CCSAP que prevaleceram os pacientes de demanda espontânea e via UBS (52,8% e 62,1%, respectivamente), diferença, esta, sem significância (p=0,5210). 42 Tabela 5. Comparação dos pacientes com Angina ou não segundo aspectos demográficos e assistenciais. Características Total ANGINA p SIM N= 276 % N =134 NÃO % 48,8 N= 142 % 51,2 Sexo 0,148 Feminino 141 51,1 62 44,0 79 56,0 Masculino 135 48,9 72 53,3 63 46,7 Idade (anos) 0,030 20-29 16 5,8 13 81,2 3 18,8 30-39 26 9,4 13 50,0 13 50,0 40-49 49 17,8 18 36,7 31 63,3 50-59 63 22,8 34 54,0 29 46,0 >=60 122 44,2 56 45,9 66 54,1 Tipo de referência Espontânea 0,521 159 57,6 75 47,2 84 52,8 Pronto Atendimento 24h 74 26,8 41 55,4 33 44,6 US 29 10,5 11 37,9 18 62,1 Bombeiro 8 2,9 4 50 4 50,0 Clínica Privada 5 1,8 3 60,0 2 40,0 Hospital 1 0,4 0 0,0 1 100,0 Visita ao médico no ano anterior 0,046 Sim 169 61,2 74 43,8 95 56,2 Não 107 38,8 60 56,1 47 43,9 Cobertura pelo PSF 0,095 PSF 132 47,8 71 53,8 61 46,2 Não PSF 144 52,2 63 43,8 81 56,3 Tipo de alta Domicílio 0,361 268 97,1 131 48,9 137 51,1 Óbito 5 1,8 1 20,0 4 80,0 Transferência 3 1,1 2 66,7 1 33,3 Notas: CCSAP – Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária; HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica; IC – Insuficiência Cardíaca; PSF – Programa Saúde da Família. Fonte: Autoria Própria. Entre os pacientes que visitaram o médico no ano anterior, identificou-se predomínio dos pacientes com outras CCSAP (56,2%) e entre os que não visitaram, prevaleceu a angina (56,1%), diferença esta significativa (p=0,0466). Quando se compara os modelos de procedência dos pacientes, identifica-se predomínio da angina entre os pacientes oriundos do PSF (53,8%) e de outras CCSAP entre os oriundos de não PSF (56,3%), embora aqui também a diferença não tenha sido significativa (p=0,095). 43 O tipo de alta do paciente com Angina foi, em sua maioria, domiciliar (97,7%), com predomínio de óbitos no grupo da outras CCSAP (IC e HAS) (80,0%), embora não tenha se observado diferença significativa (p=0,361). A ocorrência de HAS no grupo de pacientes estudados foi de 38,7% (Tabela 6), havendo predomínio do sexo feminino, enquanto nas outras CCSAP, prevaleceu o sexo masculino, com diferença significativa entre os grupos (p=0,0106). Tabela 6. Comparação entre pacientes com HAS e não HAS segundo aspectos demográficos assistenciais. Características Total HAS SIM N =276 % N=107 p NÃO % 38,7 N= 169 % 61,3 Sexo 0,010 Feminino 141 51,1 65 46,1 76 53,9 Masculino 135 48,9 42 31,1 93 68,9 Idade (anos) 0,003 20-29 16 5,8 3 18,8 13 81,3 30-39 26 9,4 12 46,2 14 53,8 40-49 49 17,8 30 61,2 19 38,8 50-59 63 22,8 22 34,9 41 65,1 >=60 122 44,2 40 32,8 82 67,2 Tipo de referência Espontânea 0,017 159 57,6 73 45,9 86 54,1 Pronto atendimento 24h 74 26,8 18 24,3 56 75,7 US 29 10,5 12 41,4 17 58,6 Bombeiro 8 2,9 4 50,0 4 50,0 Clínica privada 5 1,8 0 0,0 5 100,0 Hospital 1 0,4 0 0,0 1 100,0 Visita ao médico no ano anterior 0,255 Sim 169 61,2 70 41,4 99 58,6 Não 107 38,8 37 34,6 70 65,4 Cobertura pelo PSF 0,002 PSF 132 47,8 39 29,5 93 70,5 Não PSF 144 52,2 68 47,2 76 52,8 Tipo de alta Domicílio 0,257 268 97,1 106 39,6 162 60,4 Óbito 5 1,8 1 20,0 4 80,0 Transferência 3 1,1 0 0,0 3 100,0 Notas: CCSAP – Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária; HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica; IC – Insuficiência Cardíaca; PSF – Programa Saúde da Família. Fonte: Autoria Própria. 44 A comparação da idade entre os grupos também apresentou diferença significativa (p=0,003), ocorrendo um predomínio de pacientes que acessaram o HRL por HAS na faixa etária de 40 a 49 anos, sendo que para as demais CCSAP prevaleceram as outras faixas de idade. Em todos os tipos de referência predominaram pacientes com outras CCSAP quando comparados com a HAS, sendo esta diferença significativa (p=0,017). Em relação à visita ao médico no ano anterior, não se identificou diferença significativa na comparação entre a HAS e as demais CCSAP (p=0,255). A maioria dos pacientes com HAS reside em áreas adstritas ao modelo não PSF, contrariamente às demais CCSAP, cujos pacientes residem em áreas de PSF, sendo esta diferença significativa (p=0,002). Não se observou diferença entre os pacientes com HAS e outras CCSAP com relação ao tipo de alta (p=0,257). A IC ocorreu em 12,6% dos pacientes do estudo (Tabela 7) e foi mais prevalente entre os homens, enquanto as demais CCSAP (HAS e angina) prevaleceram entre as mulheres, embora esta diferença não tenha sido significativa (p=0,160). Identificou-se uma concentração desta doença na faixa etária acima dos 60 anos de idade (74,2%), enquanto as outras CCSAP ocorreram também em outras faixas etárias mais jovens, sendo esta diferença significativa (p=0,001). Com relação ao tipo de referência, na IC observou-se um predomínio de pacientes oriundos do Pronto Atendimento 24h e nas demais CCSAP, o predomínio foi de demanda espontânea, com diferença significativa (p=0,001). A maior parte dos pacientes com IC consultou no ano anterior (71,4%), o mesmo ocorrendo para as demais CCSAP, sem diferença significativa (p=0,185). A comparação com o modelo de atenção evidenciou que a maior parte dos pacientes com IC reside em áreas de PSF (62,8%), contrariamente aos pacientes com as demais CCSAP que residem em áreas não PSF, diferença esta não significativa (p=0,056). Observou-se haver maior proporção de óbitos entre os pacientes com IC e de alta para o domicílio entre os pacientes com as demais CCSAP, sendo esta diferença significativa (p=0,003). 45 Tabela 7. Comparação entre pacientes com IC e não IC em relação aos aspectos demográficos assistenciais. Característica Total IC p SIM N 276 % N 35 NÃO % 12,6 N 241 % 87,3 Sexo 0,160 Feminino 141 51,1 14 9,9 127 90,1 Masculino 135 48,9 21 15,6 114 84,4 Idade (anos) 0,001 20-29 16 5,8 0 0,0 16 100,0 30-39 26 9,4 1 3,8 25 96,2 40-49 49 17,8 1 2,0 48 98,0 50-59 63 22,8 7 11,1 56 88,9 >=60 122 44,2 26 21,3 96 78,7 Tipo de referência Espontânea 0,001 159 57,6 11 6,9 148 93,1 Pronto atendimento 24h 74 26,8 15 20,3 59 79,7 US 29 10,5 6 20,7 23 79,3 Bombeiro 8 2,9 0 0,0 8 100,0 Clínica privada 5 1,8 2 40,0 3 60,0 Hospital 1 0,4 1 100,0 0 0,0 Visita ao médico no ano anterior 0,185 Sim 169 61,2 25 14,8 144 85,2 Não 107 38,8 10 9,3 97 90,7 Cobertura pelo PSF 0,056 PSF 132 47,8 22 16,7 110 83,3 Não PSF 144 52,2 13 9,0 131 91,0 Tipo de alta Domicílio 0,003 268 97,1 31 11,6 237 88,4 Óbito 5 1,8 3 60,0 2 40,0 Transferência 3 1,1 1 33,3 2 66,7 Notas: CCSAP – Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária; HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica; IC – Insuficiência Cardíaca. Fonte: Autoria própria. No período estudado, consta no Serviço de Arquivo Médico/Faturamento do HRL, que ocorreram 1630 internamentos de pessoas com idade igual ou superior a 20 anos residentes em Paranaguá, excetuando os internamentos obstétricos,. Deste total, apenas 3,2% foi devido a CCSAP, com maior participação da Insuficiência Cardíaca (1,6%), seguida da Angina (1,4%) e da Hipertensão Arterial (0,2%) (Tabela 8). 46 Tabela 8 - Proporção de internamento e coeficiente de internamento por CCSAP, segundo cada patologia.* . CCSAP IC Angina HAS Total Proporção de internamento por CCSAP (%) 1,6 1,4 0,2 3,2 Coeficiente de internamento / 10.000 hab** 5,7 4,9 0,8 11,4 Notas: CCSAP – Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária; HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica; IC – Insuficiência Cardíaca. * Exceto os internamentos obstétricos. ** Coeficiente ajustado para 1 ano. Fonte: Autoria própria. Contrariamente ao total de pacientes que acessaram o HRL por CCSAP em ordem de prevalência decrescente: Angina, HAS e IC, a IC apresentou a maior proporção de internamento. O coeficiente ajustado por cem mil habitantes indicou que o internamento por IC atinge de 57,6 pacientes para cada cem mil habitantes em um ano, seguido por 49 e 8,8 de angina e HAS respectivamente, considerando a população analisada neste estudo. 47 5. DISCUSSÃO O presente estudo analisou a demanda de pacientes a um serviço terciário de atenção por um grupo de doenças cardíacas classificadas neste estudo como Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP). Por se tratarem de doenças crônicas e por terem o processo de atenção ambulatorial quanto ao diagnóstico, tratamento e prevenção muito bem estabelecido com as tecnologias atualmente disponíveis no SUS, elas se tornam um marcador indireto da qualidade assistencial prestada no âmbito ambulatorial. Portanto, sua ocorrência gerando demanda aos serviços de maior complexidade como Pronto-Socorro hospitalar pode ser considerada evitável, em sua grande maioria, mediante seguimento ambulatorial efetivo, oportuno, adequado e suficiente. No presente estudo, a demanda de pacientes de Paranaguá, que teve diagnóstico de CCSAP ao acessarem o HRL, reflete a qualidade da atenção ambulatorial a estas doenças neste município, considerando a existência de regionalização com fluxos assistenciais previamente definidos entre os gestores da saúde. A coleta dos dados imediatamente após a ocorrência do evento, ou seja, o acesso ao Hospital por CCSAP se diferencia da utilização do SIH-SUS como fonte de dados. Deve-se, entretanto, ressaltar o fato de que os dados foram coletados durante o período de 6 meses, colocando limites à comparação com trabalhos que optaram por uma abordagem semelhante, mas por um período de 1 ano. Neste estudo, a maioria dos pacientes (57,6%), atendidos no HRL por CCSAP demandou o serviço terciário espontaneamente. A utilização das emergências terciárias como porta de entrada no SUS é apontada por Santos (2009) como uma das consequências da distorção e dos problemas enfrentados na implementação do SUS tendo em vista a dificuldade da atenção primária em acolher e assistir adequadamente a demanda de seu território com o apoio de uma retaguarda secundária de especialistas e exames para investigação diagnóstica. O predomínio de acesso direto ao setor de emergência hospitalar também foi observado por Barakat (2004) em hospital terciário em São Paulo – SP com predomínio de 56,2% dos pacientes que buscaram diretamente o pronto atendimento hospitalar, sendo que, destes, a maioria passou por pronto-socorro ou outros hospitais (73,6%) e a minoria veio de unidades de saúde (26,4%). Em 48 Maringá (PR) Oliveira e Scochi (2002) relataram 60,5% do grupo de pacientes analisados procuraram diretamente o pronto atendimento hospitalar. Diversas causas são apresentadas para justificar a ocorrência acentuada de procura direta dos serviços de emergências hospitalares, tais como a visão inadequada dos serviços de emergência hospitalares pela população, tendo neste um local que resolva o problema, falta de acesso a outros níveis de serviço e qualidade e resolubilidade dos serviços de menor complexidade. Consequentemente, ocorre um direcionamento de pacientes para atendimento no serviço terciário por queixas ou patologias que poderiam ser solucionadas na atenção primária, caracterizado como “falsa demanda” ou casos “não adequados” para atendimento em um serviço de emergência hospitalar. (OLIVEIRA E SCOCHI, 2002; SIMONS, 2008). Os resultados demonstram que a procura inicial dos pacientes atendidos no HRL por CCSAP, ocorreu no Pronto atendimento (26,8%) e nas UBS (10,5%), evidenciando que quase metade da demanda acessou a atenção primária e a rede articulada do município, sendo então encaminhados para o atendimento hospitalar, Cabe aqui considerar que em uma rede organizada, os pacientes portadores de CCSAP deveriam buscar primeiramente a atenção primária para que, depois, somente os casos mais graves e/ou complexos sejam encaminhados para níveis de maior complexidade. Entretanto, pode-se questionar o real enquadramento das CCSAP, conforme apresentadas na Lista de CSAP do MS, enquanto solucionáveis na atenção primária. Considerando que a Doença Cardíaca Hipertensiva (CID I11), Angina pectoris (I20) e Edema aguda de pulmão (J81) apresentam-se, por vezes, com quadro clínico agudo e exuberante, com risco de morte iminente, não havendo na atenção primária densidade tecnológica suficiente para reversão do quadro como: aplicação de medicação endovenosa, monitoramento cardíaco, suporte ventilatório, eletrocardiograma ou radiografia de tórax. Nestas situações, pode ser danoso ao paciente retardar a procura direta de um nível de complexidade maior. A demanda de pacientes que acessa o serviço terciário e os internamentos está diretamente ligada à qualidade e abrangência da atenção primária de saúde, em específico ao PSF. (COSTA et al., 2010b). O município de Paranaguá possui uma cobertura de aproximadamente 55% com PSF como estratégia de atenção primária. É importante considerar que a falha na atenção às doenças crônicas não deve recair unicamente sobre a atenção primária, uma vez que o controle adequado 49 destas patologias requer uma rede de atenção integrada composta pelos diversos níveis assistenciais, que ofereça acesso às tecnologias mais especializadas, tendo a APS o papel de coordenar a atenção. (MENDES, 2006). Observou-se o predomínio do sexo feminino em relação ao acesso ao Hospital Regional do Litoral. Porém, em relação aos internamentos, o predomínio significativo é do sexo masculino, contrariando os estudos de Alfradique et al (2009) e Nedel et al (2008), que analisaram os internamentos por CSAP, não apenas cardiológicos, mostrando haver uma prevalência maior do sexo feminino nas amostras analisadas. O resultado, no entanto, concorda parcialmente com os internamentos realizados em Curitiba-PR, no mesmo período de nov/2010 a abril/2011, nos quais se verificou uma maior prevalência de internamentos de homens para IC e Angina. (BRASIL, 2011). Sabe-se que há uma relação entre a maior frequência de utilização dos serviços de saúde pelas mulheres e consequente manutenção desta frequência nos atendimentos de maior complexidade. (BATISTA, 2012). É possível observar esta mesma tendência na busca por atendimento ao PS do HRL, no período analisado, sendo a maior prevalência de mulheres que acessaram o HRL por CCSAP, embora a diferença com os homens tenha sido pequena. Com relação à faixa etária dos pacientes que acessaram o HRL por CCSAP, o predomínio foi da faixa etária inferior a 60 anos, com concentração nas faixas etárias de 40 a 49 e 50 a 59 anos. Este aspecto foi observado em vários estudos na análise do perfil da clientela em uma emergência do Hospital em Pernambuco que buscou o serviço por qualquer causa. (FURTADO, ARAÚJO JUNIOR, CAVALCANTI, 2003). Furtado, Araújo Júnior e Cavalcanti (2003) apresentam a justificativa de maior ocorrência nesta faixa etária devido a uma maior exposição e vulnerabilidade das pessoas economicamente ativas a agravos à saúde. Torna-se de interesse público este achado, uma vez que o Pacto pela saúde determina a faixa etária menores de 59 anos para formulação dos indicadores de doenças crônicas como Diabetes Mellito e Acidente vascular cerebral. (BRASIL, 2011). Em relação à idade dos pacientes internados ocorreu a inversão da faixa etária prevalecendo pacientes com idade igual ou superior a 60 anos, fator que é destacado por Caldeira (2011) na aplicação do indicador de internamentos evitáveis, uma vez que as doenças infectocontagiosas são as de maior incidência na infância, 50 e por consequência, aproximam-se de um real marcador-traçador de qualidade de saúde desta faixa etária. Já na população idosa, as doenças crônicas e complicações, tais como as doenças cardiovasculares, são as principais causas de morbi-mortalidade e assumem a importância de refletir a qualidade da atenção à saúde da faixa etária adulta. Em estudo realizado na Austrália em 2001 e 2002, observou-se haver maior prevalência absoluta de internamento por angina em relação à IC e HAS nas faixas etárias menores, e maior prevalência de internamento por IC nos mais idosos, demonstrando como analisado, o aumento na incidência de internamento por CSAP proporcional à idade. (PAGE et al., 2007). A análise do tipo de alta demonstra claramente o predomínio da alta domiciliar em relação ao óbito e à transferência. A mortalidade hospitalar é apresentada como indicador de desempenho hospitalar tradicional, em estudo realizado por Junqueira no Distrito Federal, em 2008, analisando mais de cento e trinta e três mil internamentos, foi indicada uma taxa de mortalidade hospitalar geral de 4,2%, figurando entre as três principais causas a Insuficiência Cardíaca. (JUNQUEIRA, 2010). A insuficiência cardíaca é uma patologia amplamente revisada devido ao seu grande impacto econômico consequente à alta morbi-mortalidade hospitalar na população adulta em relação à HAS e Angina. (GAUI, KLEIN, OLIVEIRA, 2009; BATISTA et al., 2012). Em 2004, Tavares e colaboradores analisaram os internamentos por IC em Niterói e observaram a incidência de mortalidade intrahospitalar por IC de 9% nos hospitais públicos e 13% em hospitais privados. Outros estudos demonstraram mortalidade similar para IC, oscilando entre 9% e 16%.Uma análise do subgrupo dos pacientes que acessaram o HRL por IC, revela uma taxa de mortalidade destes pacientes de 8,57% para os que acessaram e 11,50% para os que se internaram por IC, sendo estas taxas similares às médias encontradas em outros estudos. (TAVARES et al., 2004). A maioria dos pacientes recebe alta domiciliar, sendo, portanto, devolvido aos serviços de menor complexidade do município. Este aspecto também demonstra uma fragilidade e inadequação do atendimento no nível terciário hospitalar como o HRL, pois a partir de uma demanda predominantemente espontânea, a contrarreferência formal deste pacientes para a atenção primária não ocorreu. Também o fato de a maioria dos atendimentos não gerarem internamento implica não ocorrer o fornecimento do resumo de alta hospitalar, impedindo ou dificultando o 51 posterior acesso às informações geradas neste atendimento hospitalar do paciente, seja pelo médico da atenção primária ou outro profissional. Durante a breve passagem no HRL o paciente por vezes realiza diversos exames complementares que poderiam auxiliar na conduta do médico nas unidades de saúde, porém, resta ao paciente solicitar cópia dos exames e prontuários para guardar estas informações, implicando na quebra do seguimento e dificultando o aspecto do atendimento longitudinal do paciente. Não houve, porém, nesta pesquisa, acompanhamento do seguimento destes pacientes após a alta. A variável “consulta médica no ano anterior” permitiu observar que na admissão destes pacientes por CCSAP no HRL, 38,80% não consultaram médico no ano anterior. Estudo realizado no serviço de nefrologia em hospital público de Salvador mostrou que 9,5% dos pacientes atendidos no período avaliado não haviam realizado visita médica no ano anterior. Há necessidade de se aprofundar a análise do perfil sociodemográfico, doenças prévias, tratamentos e seguimento do paciente pós-admissão ao HRL para melhor análise da atenção recebida por estes pacientes antes de acessar o HRL. Destaca-se que 50% dos pacientes que acessaram o HRL por HAS haviam consultado médico no ano anterior, apesar de o município possuir programa de atenção ao hipertenso e cardiologistas próprios do município. Outra característica dos pacientes portadores da HAS é a baixa aderência ao tratamento recomendado, gerando descompensações frequentes. (CAVALARI et al., 2012). Vale lembrar que é uma atribuição da atenção primária o cadastro, monitoramento e seguimento terapêutico do paciente com HAS. Estudo de Rapetti e Freitas realizado em 66 municípios catarinenses, onde 66% destes se mostraram ineficientes na produção de serviços direcionados à HAS. (RABETTI, FREITAS, 2011). Analisando os casos de internamento por CCSAP (18,8%), fica evidente o predomínio do internamento por IC em relação às demais, o que demonstra características próprias da doença em relação às demais CCSAP. O sexo também teve associação com o internamento dos pacientes por CCSAP no HRL, havendo predomínio de homens internados em relação às mulheres, aspecto que revela a maior gravidade clínica das doenças cardíacas entre os homens ao acessarem o HRL e seu consequente internamento, corroborando com o argumento já exposto do maior interesse pelas mulheres em frequentarem mais a atenção primária. (BATISTA et al., 2012; COSTA et al., 2010b). A idade esteve associada ao internamento no 52 HRL, achado também confirmado em internamentos por qualquer causa por Costa et al (2010b), refletindo a vulnerabilidade do idoso a internamentos por CCSAP. Dentre os aspectos assistenciais analisados, o tipo de referência, área de residência (PSF/não PSF) e visita ao médico no ano anterior, não houve associação significativa destas variáveis em relação ao desfecho internamento. Espera-se que o paciente encaminhado, previamente triado em relação à gravidade e encaminhado para um serviço terciário, deveria repercutir em mais internamentos que se buscam espontaneamente, o que não ocorreu nesta análise. Diversos estudos têm demonstrado a redução de internamento por CSAP, comparando temporalmente ou territorialmente a existência ou não do modelo PSF na atenção primária. (BATISTA et al., 2012; NEDEL et al., 2008). Refletindo a não homogeneidade deste grupo de patologias sobre as quais poderia haver distintos potenciais de intervenção da APS e mais especificamente do PSF. Outra possibilidade é que em Paranaguá, o modelo PSF ainda não esteja devidamente consolidado e produzindo resultados em termos de saúde para a população que o utiliza, ou seja, o PSF não está sendo efetivo. Contudo há necessidade de análise de outros parâmetros da atenção primária que possibilite tirar conclusões sobre a real efetividade das ações. A comparação das variáveis em relação à área de PSF ou não PSF também não revelaram diferenças significativas em relação a sexo, idade, tipo de referência e visita ao médico no ano anterior, caracterizando os grupos similares de PSF e não PSF nesta amostra. A análise das variáveis, considerando aspectos relativos à atenção prestada aos pacientes com CCSAP, tais como tipo de referência, a qual mostra se o paciente recebeu alguma atenção antes de chegar ao nível de maior complexidade assistencial, e visita ao médico no ano anterior, indica o seguimento destes pacientes a nível ambulatorial, possibilitam verificar o cumprimento de atributos colocados para a APS, quais sejam a longitudinalidade, integralidade e coordenação do cuidado. (TOSO, 2011; FIGUEIREDO 2011). A maior parte dos pacientes que foram internados havia comparecido à consulta médica no ano anterior, entretanto, esta variável não esteve associada como fator de risco para o internamento. Esta associação ocorreu também na análise de Costa et al. (2010a), que justificou este fenômeno pela capacidade do médico identificar complicações da patologia e indicar o internamento. 53 O mesmo se verificou com o tipo de referência, variável que também não esteve associada ao desfecho internamento. Apesar disso, é importante chamar a atenção para o fato de que a grande maioria dos pacientes demandou o serviço de maior complexidade assistencial aqui estudado de forma espontânea, indicando uma fragmentação na hierarquização da rede de atenção em Paranaguá. Considerando-se que apenas 18,8% dos atendimentos resultaram em internamento, percebe-se que o indicador internamento por CCSAP, nesta análise, retrata apenas parcialmente a quantidade de pacientes cujo tratamento realizado pela rede de atenção primária não foi efetivo, o que provoca questionamento sobre sua validade. Portanto, as conclusões advindas deste indicador podem não refletir adequadamente a qualidade da atenção primária, em modelos assistenciais similares ao estudado neste trabalho, o que relativiza o seu uso em termos de Saúde Pública. As internações evidenciam assim apenas parte da demanda da atenção terciária, a ‘ponta do iceberg’, composta por pacientes não atendidos oportuna e adequadamente pela APS e que revela a falta de efetividade da mesma. Além disso, na medida em que a grande maioria dos pacientes atendidos no serviço de urgência por CCSAP (81,2% no presente estudo) não aparece nas estatísticas oficiais, fica limitada a possibilidade de se realizar um dimensionamento adequado destes serviços hospitalares para atender, medicar e observar os pacientes antes de liberá-los para alta. Classificada como “falsa demanda” ou demanda imprópria dos serviços de urgência hospitalar, ela representa a dificuldade da APS em captar estes pacientes. Este atendimento hospitalar é mais custoso para o SUS e compreende, além da consulta médica, a realização de exames complementares e de medicação endovenosa, sendo que, muitas vezes, o paciente permanece em observação. Simons (2008) evidenciou que no Serviço de Urgência Hospitalar (SHU) de Maceió, 91,7% dos pacientes não permaneceram internados após o atendimento, sendo então considerados como “não adequados” para o SHU. (SIMONS, 2008). Quando se analisa o perfil das diferentes patologias que compreendem as CCSAP, identificou-se, em ordem decrescente de demanda ao HRL, a angina seguida pela HAS e, por último, pela IC. Entretanto, entre os internamentos predominou a IC seguida pela angina e, por último pela HAS, mostrando que a patologia mais grave, isto é, com maior risco de internamento, dentro deste grupo é a IC, a qual corresponde a menor demanda. Dentre os fatores apontados como 54 dificultadores do acesso à APS, menciona-se a baixa concentração tecnológica existente na APS. (SIMONS, 2008). No presente estudo é possível observar que as três CCSAP analisadas demandam recursos diferentes para o devido diagnóstico e acompanhamento imediato. Apesar da soberania da anamnese e exame físico, enquanto ferramentas para fornecer ao profissional médico a suspeição diagnóstica e estratificação da gravidade, na cardiologia, os exames complementares adicionam informações importantes na tomada de decisão clínica. Para a HAS, o esfigonomanômetro é fundamental para conduta e avaliação terapêutica; em relação à angina, o eletrocardiograma (ECG) é recomendado para diferenciação do diagnóstico de Síndrome Coronariana Aguda. (NICOLAU et al., 2007), e no caso da IC não só o recurso diagnostico como ECG, mas a realização de radiografia do tórax e o uso de medicação endovenosa são recomendados para tratamento de casos mais graves como no Edema agudo de Pulmão, manifestação cardíaca grave englobada pela CCSAP IC. (BOCCHI et al., 2009). Vale mencionar que as CSAP diferem entre si devido às diversas características dos grupos populacionais aos quais elas se aplicam. Assim, as doenças imunizáveis diferem-se das demais pelo aspecto de prevenção específica, com plano de ação e metas quantitativas; as doenças relacionadas à mulher que demandam ações e exames específicos; as doenças relacionadas a questões de saneamento básico, como as parasitoses; as doenças relacionadas à nutrição inadequada como anemia e desnutrição. No caso das CCSAP, embora se trate de doenças relacionadas à área cardiológica, foi possível identificar, nesta pesquisa, diferenças que sugerem necessidades específicas na rede assistencial para cada uma delas. Na comparação da Angina com o conjunto das demais CCSAP, observou-se diferença na faixa etária, sendo a angina mais prevalente na população com idade inferior a 60 anos, o que indica diretamente a vulnerabilidade da população economicamente ativa a patologias. (COSTA et al., 2010b). A Angina também difere no aspecto de visita ao médico no ano anterior, mostrando maior proporção de pacientes que não compareceram à consulta médica. O caráter inesperado e agudo desta patologia a diferencia em relação às demais CCSAP que possuem caráter mais insidioso e crônico, colocando para a APS o papel de encaminhar os pacientes com prioridade para outros níveis assistenciais que possuam maior concentração de tecnologias apropriadas para realizar uma atenção com qualidade e resolubilidade. 55 Em relação à HAS, diversas diferenças em relação ao conjunto das demais CCSAP foram observadas. O sexo predominante foi o feminino para HAS, concordando com levantamento de internamento por HAS realizado por Moreno (2009) entre 2002 e 2005, bem como a idade inferior a 60 anos. Ocorreu também diferença segundo a área de abrangência. Dentre as CCSAP, a demanda por HAS foi acentuadamente menor no grupo de residentes em áreas de PSF em relação às Não-PSF. Também houve diferença quanto ao tipo de encaminhamento da HAS, sendo a demanda espontânea dos pacientes por HAS ao HRL a mais prevalente. A maior demanda espontânea de pacientes associada à origem deste paciente de áreas não assistidas pelo modelo PSF, bem como o baixo internamento por HAS, permitem observar que o PSF interferiu na demanda de pacientes por HAS ao HRL neste período. Destaca-se que a HAS tem sido alvo de políticas públicas de investimento constante no país, sendo que, mais recentemente, foi lançado o Programa do Governo “Saúde não tem preço” que fomenta a oferta gratuita de medicamentos anti-hipertensivos. Alguns autores consideram a HAS como uma condição traçadora para avaliar o Programa de Saúde da Família (RABETTI, FREITAS, 2011), já que o cuidado a esta patologia está bem estabelecido por meio de medidas preventivas e curativas, exigindo baixa concentração tecnológica para seu diagnóstico e seguimento, além da disponibilização de medicamentos que permitem seu controle adequado. Tais características permitem analisar os atributos da atenção primária descritos por Starfield (2002), tais como primeiro contato, acessibilidade, integralidade e orientação comunitária e que são indicativos de boa qualidade da atenção fornecida. Provavelmente a HAS e suas características permitem que o paciente portador de HAS alcance oportunamente um tratamento integral de sua patologia na APS, entretanto, o elevado índice de demanda espontânea encontrado neste estudo aponta as dificuldades no atributo da integralidade na rede assistencial de Paranaguá. As características da IC comparadas às demais CCSAP mostram diferenças significativas em relação ao perfil da demanda de pacientes. A faixa etária acima de 60 anos, predominantemente, mostra a importância desta doença entre os idosos. (PAGE et al., 2007; TAVARES et al., 2004). Destaca-se, porém, o tipo de referência que predominou na IC, o encaminhamento via pronto atendimento, mostrando um perfil diferente das outras CCSAP. Não houve diferença na consulta ao médico no ano anterior, contudo, no momento de buscar o SUS para resolver o problema, os 56 pacientes com IC optaram por acessar um nível de menor complexidade, ao invés do HRL. Não se identificou associação entre a IC e o modelo de atenção primária, PSF e não PSF. Dentre as CCSAP, a IC é a doença em que ocorreu maior proporção de internamento e de óbitos, evidenciando ser uma patologia de maior gravidade. A IC é demonstrada também em outros estudos, como a doença com alta mortalidade hospitalar, corroborando com os dados encontrados. (GAUI, KLEIN, OLIVEIRA, 2009). A proporção dos internamentos por CCSAP total foi de 3,2%, menor da que foi encontrada por Alfradique et al (2008) de 5,7%, e por Junqueira (2010) no Distrito Federal, de 4,17%. Analisando separadamente as CCSAP, notou-se a proporção de 1,6%, 1,4% e 0,2%, respectivamente, para IC, Angina e HAS. Comparado com os estudos de Alfradique et al (2009) e Junqueira (2010) os quais obtiveram, respectivamente, 3,2%, 1,0%, 1,5% e 2,34%, 0,75%, 1,08% para IC, Angina e HAS, é possível verificar-se uma concordância da maior incidência de internamento por IC, porém uma inversão da incidência de internamento por Angina e HAS, com predomínio dos internamentos por HAS sobre a Angina. Tais diferenças poderiam ser explicadas pelo perfil de saúde destas diferentes localidades, por variabilidade no acesso e organização da rede assistencial, particularmente a APS. Estudo realizado na Austrália, em 2001, observou maior proporção de internamento por CCSAP, em qualquer idade, por IC, Angina e HAS, respectivamente, de 7,7%, 9,0% e 1,1%, havendo assim maior proporção de internamento por Angina. (PAGE et al., 2007). O coeficiente dos internamentos por CCSAP por 10.000 habitantes encontrados foi de 5,7%, 4,9% e 0,8% respectivamente para IC, Angina e HAS. Estes índices, ao serem comparados com estudos nacionais, mostram menor coeficiente de internamento para IC e HAS e maior para Angina, o que pode refletir um melhor controle daquelas patologias em nível ambulatorial, com menos descompensações e, por conseguinte, menor demanda de internamento no HRL, referência terciária única do SUS em Paranaguá. 57 6. CONCLUSÃO A demanda de pacientes com CCSAP ao serviço terciário de Paranaguá foi de 276 pacientes em 6 meses, resultando em um coeficiente de internamento ajustado para o ano de 11,4 por 10.000 habitantes, sendo de 5,7 para a IC, 4,9 para a Angina e 0,8 para a HAS. Os internamentos por CCSAP representaram 3,2% do total de internamentos ocorridos no HRL de Paranaguá no período do estudo, havendo predomínio da IC (1,6%) seguida pela Angina (1,4%) e pela HAS (0,2%). Apenas 18,8% dos pacientes atendidos na porta de urgências do hospital terciário estudado foram internados e, portanto, registrados no banco de dados do SIH, o que leva a questionamentos sobre a validade deste indicador para se avaliar indiretamente a qualidade da atenção ambulatorial, já que ele subestima, nesta pesquisa realizada em Paranaguá, a demanda real de casos descompensados por falhas no tratamento adequado. Identificou-se um predomínio de mulheres (51,1%), um aumento da ocorrência acompanhando o aumento da idade, maior proporção de demanda espontânea (57,6%), com elevado não comparecimento à consulta médica no ano anterior (61,2%), maior proporção de residentes em áreas com modelo de atenção primária não PSF (52,2%). A mortalidade foi baixa (1,8%) e a IC foi a patologia em que ocorreu mais internamentos, principalmente em pacientes idosos. Os homens foram mais internados que as mulheres. As CCSAP, nesta pesquisa, demonstraram-se diferentes no seu comportamento em relação ao fluxo de pacientes e com o modelo de APS. A HAS emanou mais de áreas não cobertas pelo PSF e na IC prevaleceu a referência não espontânea ao HRL. Apesar de o presente estudo ter coletado dados por um curto período de tempo (6 meses), encontra-se indícios de falhas na rede de atenção ambulatorial de Paranaguá, especialmente a APS, que deve coordenar os cuidados aos pacientes com doenças cardiovasculares, conforme preconiza o Ministério da Saúde. Novos estudos devem ser realizados no município estudado para permitir aprofundar a compreensão dos fluxos dos pacientes dentro da rede assistencial e dos fatores que determinam as demandas nos diversos níveis assistenciais. 58 REFERÊNCIAS ADAMI, N.P. ALBUQUERQUE, A. M. S. Qualidade Serviços de Saúde: Conceitos e Métodos Avaliativos. Acta Paulista de Enfermagem, v. 8, n. 4, p. 47-55 maio/dez 1995. ALFRADIQUE, M. E. et al. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP – Brasil). Cad. Saúde Pública, v. 25, n. 6, p. 1337-1349, 2009. ANDRADE, S. M.; SOARES, D. A.; JUNIOR, L. 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Este projeto prevê registrar e analisar os dados referentes aos pacientes que acessarem o Hospital Regional do Litoral com quadro de Hipertensão Arterial descompensada, bem como urgência e emergência hipertensiva no pronto-socorro do hospital. O projeto será desenvolvido entre o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2011, sendo que a coleta dos dados de fichas de atendimento e prontuários será realizada pelo próprio pesquisador, zelando pela confidencialidade dos dados e preceitos éticos. Os resultados serão analisados e serão utilizados na dissertação de mestrado do referido pesquisador. Paranaguá, 5 de julho de 2010. ___________________________________ José Antonio Ferreira Martins CRM 23745. Direção do Hospital Regional do Litoral Diante do exposto, concordo com o seguimento das atividades do projeto de pesquisa acima mencionado, destacando a responsabilidade do médico pesquisador sobre os assuntos relacionados à pesquisa. Paranaguá, ______de julho de 2010. 66 Apêndice C - Modelo de Ficha Clinica