caderno de conceitos

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CADERNO DE CONCEITOS
IMAGINE UMA CASA.
COMO ELA SERIA?
TERIA QUARTOS,
BANHEIROS, COZINHA,
SALA, QUINTAL...?
AGORA TENTE FAZER UM
DESENHO DELA.
Quando crianças, fazemos um desenho de casa com uma forma bem simples, que
mostra sua parte externa, ou fachada1, e que geralmente possui telhado, porta,
janela, poucas paredes e até mesmo chaminé. O terreno é espaçoso, colocamos
algumas árvores e, muitas vezes, um caminho que nos leva à porta de entrada.
Não nos importamos com o tamanho de um elemento em relação ao outro, ou
seja, com a proporção2.
Mesmo fora de uma dimensão real, isso é um plano, uma intenção, ou seja,
um projeto3.
O arquiteto trabalha da mesma forma, com a imaginação, com o planejamento,
com o projeto, mas possui um diferencial: o conhecimento das normas e das
técnicas adequadas para a concretização de uma construção – que pode ser uma
casa, um prédio, uma área de lazer e até uma cidade. Ele cuida de todos os detalhes: faz um desenho que é a base da estrutura, ou seja, a planta da construção,
adapta as dimensões, escolhe os materiais que a compõem e também pode planejar o interior da casa.
Além disso, o arquiteto precisa observar outros fatores, como o tipo de terreno – se
é plano ou não, se é grande, estreito, se o prédio terá andares, subsolo etc. Além
das relações humanas no local – se na construção terá um jardim, uma área de lazer,
garagem, entrada de luz e sol etc. –, bem como os itens relacionados a acessibilidade, como rampas e corrimãos, banheiros e mobiliários adaptados, piso tátil etc.
Como um artista, cada arquiteto tem um estilo pessoal, uma maneira de pensar
tanto a funcionalidade da construção quanto a estética do local, as formas, se terá
ornamentos4 ou se seguirá uma linha mais limpa e sóbria, de que tipo de material
serão feitas as paredes, a forma das janelas e das portas, ou mesmo se conterá ou
não esses elementos.
Vamos agora conhecer um pouco da obra de um arquiteto: Oscar Niemeyer. Você
já ouviu falar dele?
Nascido no Rio de Janeiro em 1907, formou-se “engenheiro-arquiteto”, nome dado
à sua profissão na época. Viveu 104 anos e, em meados da década de 1930, já
trabalhava com o então renomado arquiteto e urbanista Lucio Costa, com quem
colaborou em vários projetos importantes.
1 Fachada: qualquer uma das faces de uma construção. A face da frente é denominada fachada principal.
A que se volta para as construções ao lado é denominada fachada lateral; e a que se volta para os fundos,
fachada posterior.
2 Proporção: relação entre coisas; comparação. O conjunto das relações geométricas que ocorrem com
as partes de um edifício e com o ambiente no qual ele está inserido.
3 Projeto: ideia, plano para executar ou realizar algo no futuro, seguindo determinado esquema. Plano
geral de uma construção, reunindo plantas, cortes, elevações, pormenorização de instalações hidráulicas
e elétricas, previsão de paisagismo e de acabamentos. O projeto arquitetônico precisa ser previamente
aprovado no Departamento de Edificações (DED), não podendo ser modificado sem o seu conhecimento.
2
4 Ornamento: tudo o que enfeita ou adorna. Em arquitetura, parte de uma obra que, embora não seja um
elemento essencial, participa da sua decoração.
Oscar Niemeyer realizou os mais diversos projetos arquitetônicos5 – moradias,
escritórios, clubes, bibliotecas, museus, parques, áreas de lazer, catedrais e, em
escala mais modesta, esculturas, gravuras e móveis.
O QUE ELE FEZ?
Projetou edifícios que ficaram muito conhecidos, sobretudo por suas formas inusitadas, como o conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte; o Museu
de Arte Moderna de Niterói, no Rio de Janeiro; o Memorial da América Latina, em
São Paulo; e os monumentais prédios do governo em Brasília.
O primeiro evento que lhe rendeu notoriedade foi o projeto do Palácio Gustavo
Capanema, prédio do Ministério da Educação e Saúde (MES), realizado em 1936.
Esse projeto foi um marco para a arquitetura6, pois foi o primeiro edifício do governo a ser planejado de acordo com os mais novos conceitos de modernização,
tais como: o uso racional dos materiais, métodos econômicos de construção, linguagem formal sem ornamentos e diálogo com a tecnologia industrial. Para que
essa obra tivesse impacto internacional, Lucio Costa, o arquiteto mais comprometido com os valores dos movimentos modernos, foi chamado pelo então ministro
da Educação, Gustavo Capanema, para desenvolver o projeto.
Costa sentiu necessidade de convidar como consultor o arquiteto franco-suíço Le
Corbusier – um dos expoentes da arquitetura moderna no começo do século XX,
por ter introduzido o uso revolucionário do concreto armado (mistura de cimento,
areia, pedra e água, com armações feitas com barras de aço no seu interior), possibilitando a construção do que era, então, o mais difícil na arquitetura: grandes
espaços livres.
Uma equipe de arquitetos também foi chamada: Affonso Eduardo Reidy, Carlos
Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcellos e Oscar Niemeyer, que, a princípio, frequentava o escritório de Lucio Costa como aprendiz e teve uma participação muito importante, pois foi quem sugeriu as modificações adotadas no fim no projeto.
5 Projeto arquitetônico: projeto para uma construção, feito por um arquiteto, com as várias etapas de
execução que sempre passarão pela aprovação prévia do cliente:
a. Levantamento de dados de acordo com as necessidades do cliente com base nas características do
terreno.
b. Estudo preliminar das informações obtidas na etapa 1, no qual o arquiteto esboçará a planta juntamente com o cliente.
c. Anteprojeto contendo a elaboração da planta baixa de cada pavimento, mais as informações de cada
ambiente, dos pilares, do cálculo das áreas, da estrutura e das instalações gerais.
d. No projeto legal é feito um desenho da estrutura da construção de acordo com as normas indicadas
pelos órgãos competentes, para ser aprovado pela prefeitura.
e. No projeto executivo são incluídos os sistemas elétrico, hidráulico, estrutural, telefônico etc., para a
plena execução da obra.
6 Arquitetura: arte de compor e construir edifícios para qualquer finalidade, tendo em vista o conforto humano, a realidade social e o sentido plástico da época em que se vive ou que se quer copiar. Uma das artes
mais antigas. Escritos medievais são ilustrados com Deus segurando um compasso e um esquadro, numa
alusão ao arquiteto do universo. Disposição das partes ou dos elementos de um edifício ou espaço urbano.
3
OBSERVANDO A FOTO
AO LADO, VOCÊ ACHA
QUE ESTE PRÉDIO É
REALMENTE INOVADOR?
PODE SER QUE,
OBSERVANDO COM OS
OLHOS DE HOJE, NÃO
PERCEBAMOS NADA
INCOMUM. MAS O QUE
ESSE PRÉDIO TINHA DE
MODERNO?
VISTA NORTE DO EDIFÍCIO GUSTAVO CAPANEMA, Rio de Janeiro, RJ, Brasil [2004]
foto: Marcos Leite Almeida
»» As formas simples e geométricas e a utilização de volumes simples. São dois prédios em forma retangular que se cruzam – um na horizontal e outro na vertical.
»» O térreo é vazado e composto de colunas (pilotis7), integrando os espaços interno e externo do terreno. Duas paredes externas são decoradas por painéis de
azulejos assinados por Candido Portinari e fabricados pela empresa de azulejaria de Paulo Rossi, a Osiarte.
4
7 Pilotis: conjunto de colunas de sustentação de prédio ou edificação que deixa livre o pavimento térreo.
Leia mais sobre a participação de Oscar
Niemeyer no projeto do prédio do MES no
site da Fundação Oscar Neimeyer – FON
[http://www.niemeyer.org.br/obra/
pro003].
Pesquisar como era a arquitetura adotada no Brasil nas décadas anteriores pode
ajudar a entender melhor esse conceito
de modernidade. Consulte nossas sugestões de bibliografia no fim deste caderno.
DETALHES DO PALÁCIO GUSTAVO CAPANEMA
Aquarela de Raphael Giannini
»» Possui um terraço-jardim (jardins na cobertura) localizado no prédio mais baixo
que cruza o principal, feito pelo paisagista Roberto Burle Marx.
»» A fachada sul é envidraçada e a fachada norte, que é orientada diretamente para
o sol, é composta de lâminas móveis – os brise-soleil 8. Foi um dos primeiros
prédios no mundo a utilizar esse recurso.
8 Brise-soleil: (do francês) quebra-sol produzido com peças de madeira, concreto, plástico ou metal,
disposto vertical ou horizontalmente diante das fachadas ou dos muros para atenuar ou impedir a ação
direta do sol, sem perder a ventilação e a iluminação.
5
VOCÊ SE LEMBRA DE
ALGUMA OUTRA OBRA
DE NIEMEYER?
SE SIM, QUAL A
PRIMEIRA QUE VEM
À SUA MENTE?
Talvez as suas obras mais conhecidas sejam os prédios do governo, localizados
em Brasília. A cidade não existia até 1957, data de início de sua construção, durante o mandato do presidente Juscelino Kubitschek, e foi pensada para ser a nova
capital do Brasil.
A primeira capital foi a cidade de Salvador, na Bahia, ainda na época do Brasil Colônia, e a última antes de Brasília foi o Rio de Janeiro. O pensamento de transferir
a capital para o centro do país remonta à metade do século XVIII, partindo de um
imaginário sobre a criação de uma nova civilização:
“A mitologia do Novo Mundo complementa a fundação de Brasília como um instrumento
político e econômico. Desde o último quartel do século XVIII, reformadores, revolucionários
e estadistas propunham a transferência da capital para o interior como meio de povoar,
desenvolver e assegurar a posse do vasto sertão brasileiro.” (HOLSTON, James. Cidade modernista – uma crítica de Brasília e sua utopia. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 24 p.)
IMAGINE CRIAR
UMA CIDADE INTEIRA
EM UM TERRITÓRIO
COMPLETAMENTE
DESABITADO.
POR ONDE VOCÊ
COMEÇARIA?
A cidade de Brasília foi construída em um local desabitado e, então, teve de ser
criada, planejada. Seu território foi demarcado no centro do chamado Planalto
Central – que compreende atualmente parte dos estados de Goiás, Minas Gerais,
Mato Grosso, Tocantins e Mato Grosso do Sul.
O início de sua construção baseou-se num projeto urbanístico9, ou seja, num desenho que continha em escala menor toda a sua estrutura principal. Esse desenho,
ou plano, contém a orientação do espaço de todos os edifícios da cidade, bem
como de suas ruas e de todas as vias ao redor.
Lucio Costa ganhou o concurso promovido pelo governo para realizar o projeto
urbanístico – o “plano piloto” de Brasília – com um desenho que demarcava a cidade na forma de uma cruz e com as ruas e as edificações percorrendo os dois eixos
dela. Vista de cima, Brasília se assemelha também à forma de um avião, com os
prédios dispostos em quarteirões bem demarcados na largura da “asa”. Veja imagens do plano piloto de Lucio Costa aqui [http://www.museuvirtualbrasilia.org.br/
PT/plano_piloto.html].
Oscar Niemeyer foi o arquiteto escolhido diretamente por Juscelino Kubitschek
para projetar os edifícios do governo. Com base no projeto urbanístico, Niemeyer
planejou cada prédio separadamente, independente um do outro, dentro de suas
intenções formais como arquiteto. Ele comenta:
“Minha preocupação era encontrar – sem limitações funcionalistas – uma forma bem clara e
bela que definisse e caracterizasse os edifícios principais – os palácios propriamente ditos
– dentro do critério de simplicidade e nobreza, indispensável.” (NIEMEYER, Oscar. Minha
experiência em Brasília, 14 p. apud KATINSKY, Júlio. Brasília em três tempos – a arquitetura
de Oscar Niemeyer na capital. Rio de Janeiro: Revan, 1991.)
6
9 Projeto urbanístico: é um projeto que trabalha no nível da construção coletiva, edificando ou reestruturando a área de toda uma cidade, levando em conta as relações humanas nesse espaço e as suas vias
de circulação, como ruas e avenidas.
CONGRESSO NACIONAL NA ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, Brasília, DF, Brasil [2009]
foto: Rodolfo Stuckert
Para dar unidade ao conjunto arquitetônico da cidade, usou elementos entre os
edifícios com formas semelhantes, como nos dois abaixo:
PRÉDIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,
Brasília, DF, Brasil [2007]
FACHADA DO PALÁCIO DO PLANALTO,
Brasília, DF, Brasil [2011]
foto: banco de imagens do STF
foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Observe como nos edifícios acima as formas são simples e puras dentro de uma
ampla estrutura geométrica retangular e como as colunas externas têm um desenho semelhante.
7
Outros edifícios famosos de Brasília também possuem essa forma simples e bem
definida. Vejamos alguns exemplos.
A catedral de Brasília
Seu desenho foi definido por uma forma básica circular, e ela é cercada por estes
pilares curvos que se alongam para o alto, chamados de “montantes” – os responsáveis pela sustentação do prédio e da enorme superfície de vidro. No início, os vidros
eram transparentes, mas depois ganharam um colorido com os vitrais feitos pela artista franco-brasileira Marianne Peretti [http://www.marianneperetti.com.br/], que
se revelam ao visitante pelo lado de dentro da catedral, após entrar por uma rampa
de acesso localizada abaixo do prédio.
CATEDRAL DE BRASÍLIA e DETALHE DE SEU INTERIOR, Brasília, DF, Brasil [2014]
fotos: Thiago Borazanian
O Congresso Nacional
Seus prédios são o símbolo máximo de Brasília e talvez sejam a imagem mais
marcante da obra de Niemeyer. Sua geometria pura e simples domina a paisagem,
como ele descreve:
“No Palácio do Congresso, por exemplo, a composição se formulou em função desse critério, das conveniências da arquitetura e do urbanismo, dos volumes, dos espaços livres, da
oportunidade visual e das perspectivas e, especialmente, da intenção de lhe dar o caráter
de monumentalidade, com a simplificação de seus elementos e a adoção de formas puras
e geométricas. Daí decorreu todo o projeto do Palácio e o aproveitamento da conformação
local, de maneira a criar no nível das avenidas que o ladeiam uma monumental esplanada e
sobre ela fixar as cúpulas que deviam hierarquicamente caracterizá-lo.” (NIEMEYER, Oscar.
Minha experiência em Brasília. 4. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2006. p. 28)
8
CONGRESSO NACIONAL, Brasília, DF, Brasil [2009]
foto: Rodolfo Stuckert
O formato das cúpulas, apesar de sua aparência simples, requereu cálculos complexos para ser construído. As formas arrojadas e novas eram uma das principais
premissas desde a idealização da cidade, como conta Oscar Niemeyer no livro
Minha Experiência em Brasília:
“Preocupava-me, fundamentalmente, que esses prédios constituíssem qualquer coisa de
novo e diferente, que fugisse à rotina em que a arquitetura atual vai melancolicamente se
estagnando, de modo a proporcionar aos futuros visitantes da Nova Capital uma sensação
de surpresa e emoção que a engrandecesse e caracterizasse.” (NIEMEYER, Oscar. Minha
experiência em Brasília. 4. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2006. p. 10)
O próprio Le Corbusier, referência mundial para os arquitetos da modernidade, em
sua visita a Brasília em 1963, diz ao subir a rampa do Congresso Nacional: “Aqui
tem invenção. E isso que é arquitetura”.
Você sabia?
O primeiro planejamento urbano para a capital do Brasil foi feito em 1955, durante o governo do
presidente Café Filho, pelo marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que sugeria que o
nome da cidade fosse Vera Cruz.
O nome Brasília já havia sido sugerido no ano da Independência do Brasil, em 1822, em uma proposta de reivindicações redigida por José Bonifácio de Andrada e Silva na primeira Constituinte
do império brasileiro.
9
COMO SERÁ MORAR
EM UMA CIDADE
PLANEJADA?
Cada parte da cidade de Brasília possui sua área própria: as zonas da Esplanada dos Ministérios, a residencial, a comercial, a da rodoviária etc., determinando,
então, os locais de convívio independentemente da classe social dos moradores,
como ocorreria na maioria das cidades. Isso se deu porque o projeto urbanístico
de Brasília levou em conta a sua organização funcional aliada à forma, conceito
moderno adotado como premissa para a fundação da nova capital.
O que aconteceu, entretanto, no caso de Brasília, foi uma uniformização da cidade, pois muitas fachadas de edifícios são iguais, sendo que eles possuem funções
diferentes. Por exemplo, as fachadas envidraçadas tanto de prédios residenciais
quanto de comerciais, dando a sensação de não separação do local de trabalho da
residência, fato criticado pelos moradores.
Brasília também foi criticada por ser uma cidade onde as distâncias a ser percorridas são demasiadamente grandes, o que obrigaria o uso de transportes. Para chegar de uma zona à outra a pé, nem sempre se encontra uma área arborizada pelo
caminho. Por outro lado, dentro de uma área específica, como na área residencial,
os prédios possuem os pilotis, permitindo encurtar o caminho ao se passar por
baixo deles, e há maior concentração de áreas verdes.
Já outro projeto de Niemeyer – feito em 1964 para uma cidade no deserto de
Negev, em Israel, em uma área desabitada – propunha que as distâncias fossem
muito mais curtas, sendo possível ir a pé da casa para o trabalho, para as áreas
de lazer e de comércio, passando por caminhos arborizados e pitorescos. Esse
projeto nunca saiu do papel.
OS EDIFÍCIOS DA
CIDADE, PÚBLICOS OU
PRIVADOS, DEVOLVEM
ÀS PESSOAS ESPAÇOS
DE INTERAÇÃO? O QUE
VOCÊ ACHA?
No Caderno de Atividades da exposição Oscar Niemeyer: clássicos e inéditos, propomos a construção de habitações e posteriormente de uma cidade.
Para conferir, acesse aqui.
REFLITA SOBRE ESSE
ASSUNTO E OBSERVE
TAMBÉM COMO AS
OUTRAS PESSOAS
VEEM A SUA CIDADE.
CADERNO DE ATIVIDADES
10
Por ocasião dos festejos dos 400 anos da cidade de São Paulo, o IV Centenário,
em 1954, Niemeyer foi chamado pelo industrial e mecenas Ciccillo Matarazzo para
projetar o complexo arquitetônico do Parque Ibirapuera. Ele o fez em associação
com uma equipe de arquitetos: Hélio Cavalcanti, Zenon Lutofo e Eduardo Kneesse
de Mello, com a colaboração de Gauss Estelita e Carlos Lemos.
E SE NA SUA CIDADE
IMAGINÁRIA HOUVESSE
UM PARQUE? O QUE
VOCÊ COLOCARIA NELE?
O projeto original, de 1951, descrevia que o complexo do Ibirapuera compreenderia
a marquise10, os pavilhões – da Agricultura, das Indústrias, dos Estados, das Exposições – e um auditório. Passou por algumas modificações até 1954, não sendo realizado completamente, pois faltava a construção do auditório, finalizada em 2005.
Apesar de alguns desses prédios terem funções diferentes do proposto inicialmente, puderam se adaptar às mudanças, pois suas estruturas são como grandes caixas
vazias, graças ao uso do concreto armado. Se temos um grande espaço vazio como
estrutura principal, podemos dividir o ambiente interno de diversas maneiras.
Para expressar a unidade do conjunto, Niemeyer utilizou formas simples e livres
e considerou para os prédios três volumes puros como suas formas principais: o
círculo, o retângulo e o triângulo, todos unidos por uma forma sinuosa, a estrutura da marquise.
A marquise é a estrutura central do projeto, uma enorme área livre coberta, feita
em concreto armado. Ela liga vários prédios por meio de formas curvas e irregulares, o que a diferencia das outras construções. Trata-se de uma imensa cobertura
sustentada por 120 colunas.
VOCÊ JÁ ESTEVE NO
PARQUE IBIRAPUERA?
VAMOS VER A SEGUIR
ALGUMAS FOTOS DELE.
DETALHE DA MARQUISE DO PARQUE IBIRAPUERA, São Paulo, SP, Brasil [2014]
foto: Claudia Malaco
10 Marquise: espécie de alpendre ou cobertura saliente na parte externa de um edifício, destinada a
servir de abrigo.
11
O círculo está representado no prédio do Pavilhão Lucas Nogueira Garcez (Palácio
das Exposições), mais conhecido como Oca. Foi o primeiro prédio a ser construído e, antes de ser um espaço destinado a grandes exposições, como propunha o
projeto de Niemeyer, abrigou o Museu do Folclore e o Museu da Aeronáutica de
São Paulo, a partir de 1959, sendo desocupado no fim dos anos 1990 para abrigar
a Mostra do Descobrimento, na comemoração dos 500 anos do Brasil. Desde 2010,
é administrado pelo Museu da Cidade de São Paulo.
PAVILHÃO LUCAS NOGUEIRA GARCEZ, Parque Ibirapuera, São Paulo, SP, Brasil [2014]
foto: Claudia Malaco
A forma retangular é usada em três prédios.
O maior deles é o do Pavilhão Armando de Arruda Pereira (Palácio das Indústrias),
construído para abrigar grandes exposições da indústria paulista. Ficou mais conhecido como “prédio da Bienal”, por sediar definitivamente a Bienal Internacional
de São Paulo em 1957, ano em que foi rebatizado oficialmente como Pavilhão
Ciccillo Matarazzo, em homenagem a seu fundador.
PAVILHÃO CICCILLO MATARAZZO, Parque Ibirapuera, São Paulo, SP, Brasil [2014]
12
foto: Claudia Malaco
O segundo é o espaço do Pavilhão Francisco Matarazzo Sobrinho (Palácio dos
Estados). Sediou eventos durante a década de 1950, como a Bienal de Arte de São
Paulo (1953), e, a partir dos anos 1970, abrigou repartições públicas, como a sede
da Prodam, a Companhia de Processamento de Dados do Município, até 2006. No
ano seguinte, a Secretaria Municipal da Cultura determinou a reforma do prédio
para readaptá-lo ao seu uso museológico, como no projeto original.
PAVILHÃO FRANCISCO MATARAZZO SOBRINHO,
Parque Ibirapuera, São Paulo, SP, Brasil [2014]
foto: Claudia Malaco
O terceiro é o prédio do Pavilhão Manoel da Nóbrega (Palácio das Nações). Inaugurado em 1953, já foi sede da prefeitura de São Paulo entre 1961 e 1991 e, desde
2004, abriga o Museu Afro Brasil.
PAVILHÃO MANOEL DA NÓBREGA, Parque Ibirapuera, São Paulo, SP, Brasil [2014]
foto: Claudia Malaco
13
A forma triangular foi adotada no segundo projeto para o Auditório Ibirapuera,
já em 2002, diferentemente do desenho anterior, que propunha a forma circular.
Visto de cima, o auditório tem a forma quadrangular e suas duas laterais maiores
formam os triângulos ao nível do chão. Apesar de integrar o projeto original nos
anos 1950, sua construção foi iniciada apenas em 2003.
Veja o Material Lúdico da exposição, no
qual propusemos a montagem de uma
miniatura do Auditório Ibirapuera.
AUDITÓRIO IBIRAPUERA, Parque Ibirapuera, São Paulo, SP, Brasil [2014]
foto: Claudia Malaco
IMAGINE UM EDIFÍCIO
RESIDENCIAL TÃO
GRANDE QUE MAIS
PARECE UMA CIDADE...
DETALHE DA FACHADA DO EDIFÍCIO COPAN, São Paulo, SP, Brasil [2014]
14
foto: Thiago Borazanian
O Edifício Copan foi projetado na década de 1950 por Oscar Niemeyer, com a colaboração do arquiteto Carlos Lemos, num período em que a cidade de São Paulo
passava por mudanças e por crescimento econômico. O Copan, pela grandiosidade estrutural, representava esse período e foi projetado, assim como o Parque
Ibirapuera, na ocasião do IV Centenário da cidade de São Paulo.
A obra começou em 1952. Inicialmente teria 900 apartamentos, mas no fim foi
inaugurada com 1.160, pois os grandes foram substituídos por quitinete11 e apartamentos de um dormitório.
A área em que foi construído era, antigamente, parte de uma vila composta de
dois prédios de apartamentos e de um conjunto de quatro pares de casas geminadas12 – a Vila Normandia.
Substituir uma vila de casas por um grande prédio no qual todas as funções principais estão concentradas era também uma das características da arquitetura moderna que Niemeyer aplicou na cidade de São Paulo: um grande bloco onde menos
serviços fossem bem distribuídos de maneira a atender a todos, e não individualmente. Os espaços comerciais no piso térreo também eram uma premissa da arquitetura moderna de Niemeyer, pois devolviam os espaços públicos da cidade.
Até agora vimos projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer cuja estrutura nos
impressiona, seja pela monumentalidade ou pelas linhas arrojadas e modernas.
Vamos ver, então, um edifício projetado por ele que talvez até passe despercebido.
Você sabia?
O Edifício Copan é tão grande que o cargo de síndico do prédio é apelidado de
“prefeito”.
DE REPENTE,
PASSEANDO PELO
CENTRO DE SÃO PAULO,
SURGE UM PRÉDIO DO
NIEMEYER...
FACHADA DO EDIFÍCIO TRIÂNGULO,
São Paulo, SP, Brasil [2014]
foto: Thiago Borazanian
11 Quitinete: cozinha pequena ou reduzida; assim acaba também designado no modo popular (BR) o apartamento cuja cozinha é apenas um armário. Característica dos apartamentos de quarto e sala ou conjugados.
12 Casa geminada: referência a duas casas unidas por uma mesma parede central.
15
O Edifício Triângulo é um prédio comercial localizado na Rua José Bonifácio, 24,
no cruzamento com a Rua Quintino Bocaiuva. Assim como o Copan, começou a
ser projetado em 1952, no escritório de Niemeyer em São Paulo.
O Edifício Triângulo foi uma encomenda do Banco Nacional Imobiliário (BNI) a Oscar Niemeyer, entregue em 1955, com algumas modificações em relação ao projeto
original. Inicialmente, o edifício foi pensado para ser um bloco prismático (no qual
os andares superiores repetem a estrutura dos inferiores), como o Copan. Mas a
legislação da época exigia que, quanto mais alto o prédio, maior fosse o recuo
lateral13 nos andares superiores para que o prédio tivesse a sustentação necessária, causando uma impressão de “bolo de noiva”. Observe na foto como o último
andar do Edifício Triângulo é menor, formando uma espécie de degrau.
Posteriormente, os três tipos diferentes de vidros e os brise-soleil foram retirados,
expondo o edifício à incidência direta do sol. Por causa disso, foram colocados
cortinas e ares-condicionados, descaracterizando totalmente o projeto original
de Niemeyer.
No edifício há ainda dois painéis de pastilhas de Di Cavalcanti, tombados em 2004
como patrimônio histórico. Atualmente, o painel externo está bastante deteriorado e provavelmente quem passa pela região desconhece seu valor artístico. O
painel interno está mais preservado, porém nenhum dos dois já passou por algum
tipo de restauro.
Você sabia?
Em São Paulo, o escritório de Oscar Niemeyer era dirigido por Carlos Lemos e ficava num prédio no centro da cidade, na Rua
24 de Maio. Nesse mesmo prédio, o pintor
Di Cavalcanti mantinha um salão para a
produção de suas telas e de seus painéis.
O Edifício Triângulo nos apresenta um modelo de arquitetura diferente quando
pensamos em Oscar Niemeyer e também em suas parcerias e colaborações, como
no caso do painel de Di Cavalcanti. Percebemos aqui uma intersecção entre arquitetura e arte.
Outros artistas também fizeram obras para os prédios de Niemeyer, como Candido
Portinari, Burle Marx e Athos Bulcão, com quem manteve uma grande parceria.
Vimos neste caderno apenas alguns exemplos da obra de Niemeyer.
Você poderá consultar outros projetos do arquiteto no site da Fundação
Oscar Niemeyer [http://www.niemeyer.org.br/mosaico-assimetrico] e ver
cada um deles clicando em “Ver mais” à direita, acima do mosaico de obras.
Se você é professor, utilize este caderno em sala de aula antes ou depois
da visita à exposição.
Proponha ao seu grupo conversas sobre a obra de Oscar Niemeyer e
acesse também nosso Caderno de Atividades relativo à mostra.
Os nomes em azul direcionam para uma página específica no site da enciclopédia Itaú Cultural. Clique sobre eles para saber mais.
16
13 Recuo lateral: distância mínima obrigatória, estipulada por legislação, que as fachadas ou faces de
uma edificação devem manter em relação aos limites do terreno.
REFERÊNCIAS
Livros
FICHA TÉCNICA
Núcleo de Educação e Relacionamento
GERÊNCIA
Valéria Toloi
ANDREOLI, Elisabetta (Org.); FORTY, Adrian (Org.). Arquitetura moderna brasileira.
Londres: Phaidon, 2004.
HOLSTON, James. Cidade modernista – uma crítica de Brasília e sua utopia.
São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
KATINSKY, Júlio. Brasília em três tempos – a arquitetura de Oscar Niemeyer na capital.
Rio de Janeiro: Revan, 1991.
NIEMEYER, Oscar. Minha experiência em Brasília. 4. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2006.
COORDENAÇÃO
Samara Ferreira
CONCEPÇÃO DO MATERIAL
Isabela Quattrer
Paula Pedroso
Raphael Giannini
Sylvia Sato
NIEMEYER, Oscar. Oscar Niemeyer: minha arquitetura 1937-2004. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004.
TOLEDO, Benedito. São Paulo: três cidades em um século. 2. ed. aum. São Paulo: Duas Cidades, 1983.
Sites
Dicionário de Arquitetura:
http://www.arquitetando.xpg.com.br/dicionario%20de%20arquitetura.htm
Enciclopédia Itaú Cultural:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
Fundação Oscar Niemeyer:
http://www.niemeyer.org.br/
Parque Ibirapuera:
http://www.parqueibirapuera.org/
Prefeitura de São Paulo – Resolução de tombamento do Parque Ibirapuera:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/b6743_RES.%20SC%20N%2001%20-%20Parque%20
Ibirapuera.pdf
O Congresso Nacional e as Assembleias Estaduais:
http://ftp.interlegis.gov.br/interlegis/temp/CasasLegislativas.pdf
Museu Virtual de Brasília:
http://www.museuvirtualbrasilia.org.br
Marianne Peretti:
http://www.marianneperetti.com.br/
Artigos
Marcos Carrilho: Problemas de conservação do conjunto arquitetônico do Parque do Ibirapuera:
http://revistaparc.fec.unicamp.br/concrete5/files/1513/7130/0155/05_ID52_PARC4v3.pdf
Vanessa Correa: Painel de Di Cavalcanti no centro de SP sofre com deterioração:
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1130755-painel-de-di-cavalcanti-no-centro-de-sp-sofre-comdeterioracao.shtml
Luiz Sugimoto: Arquiteta investiga “fase renegada” de Niemeyer:
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornalPDF/217pag05.pdf
De acordo com o artigo 46, incisos III e VIII, e com o artigo 48 da Lei nº 9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais),
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capa: primeiro projeto para a sede da Companhia Energética de São Paulo
(Cesp), elaborado por Oscar Niemeyer em 1979 | Fundação Oscar Niemeyer
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