9 1. INTRODUÇÃO Apresentação do objeto de estudo. O sistema imunológico, além de ter uma função tradicional de defender o organismo humano contra agressões internas e endógenas, é visto também, em um campo mais amplo de caráter homeostático. Assim, participa de vários mecanismos fisiológicos, dentre os quais se inclui a reprodução humana, onde tem um importante papel desde a deposição dos espermatozóides até o nascimento do feto. A imunidade da mucosa do trato genital feminino é composta de tecidos imunologicamente reativos, capazes de produzir respostas locais contra antígenos estranhos, de maneira semelhante a outras superfícies imunologicamente ativas. As áreas indutivas para a imunidade da mucosa do trato reprodutor incluem o colo uterino, a vagina, o intestino grosso e o reto, os linfonodos obturadores ilíacos e inguinais que drenam estas estruturas. A gravidez é uma condição fisiológica, na qual, ocorrem várias mudanças imunoendócrinas com a finalidade de facilitar a imunossupressão e a tolerância aos antígenos paternos e fetais. O estudo da imunologia da reprodução humana é importante, pois mecanismos de autoimunidade podem interferir na capacidade de fertilização de um casal ou na manutenção de uma gestação. Justificativa Com o avanço da medicina reprodutiva e dos exames laboratoriais é possível avaliar a presença de auto – imunidade, quadro que dificulta a gravidez normal como também a realização de tratamentos para fertilização. O organismo pode desenvolver auto-anticorpos contra estruturas próprias. É importante conhecer quais são esses auto-anticorpos e como atuam. Os fatores auto-imunes representam uma porcentagem significativa das causas de infertilidade e abortos. Os estudos relativos aos mecanismos imunopatogênicos dos autoanticorpos envolvidos nos casos de infertilidade, podem auxiliar no diagnóstico e na prevenção da infertilidade e dos abortos de repetição. 10 Problema O que diz a literatura sobre as características do sistema imunológico durante a reprodução humana, e qual a importância desse estudo na prevenção da infertilidade e aborto? Objetivo Evidenciar a partir da literatura as características e princípios básicos das respostas imunológicas na reprodução humana, importantes na capacidade de fertilização de um casal ou na manutenção de uma gestação. Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória do tipo bibliográfico porque segundo Godoy (1995, p.58) pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados, envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo. Godoy (1995, p.58) explicita algumas características principais de uma pesquisa qualitativa, o qual embasa também este trabalho: considera o ambiente como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento chave; possui caráter descritivo; o processo é o foco principal de abordagem e não o resultado ou o produto; a análise dos dados foi realizada de forma intuitiva e indutivamente pelo pesquisador; não requereu o uso de técnicas e métodos estatísticos; e, por fim, teve como preocupação maior a interpretação de fenômenos e a atribuição de resultados. É uma pesquisa exploratória do tipo bibliográfico, pois este tipo de estudo visa proporcionar um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas por estudos posteriores (GIL, 1999, p. 43). As pesquisas exploratórias, segundo Gil (1999, p. 43) visam proporcionar uma visão geral de um determinado fato, do tipo aproximativo. 11 Estrutura do trabalho Esse estudo está constituído de uma revisão da literatura que está distribuída da seguinte forma: No primeiro momento, apresenta a anatomia e imunologia do trato reprodutor masculino e feminino citando os principais órgãos destes sistemas, suas funções, revestimentos epiteliais, bem como a resposta imunológica característica dos tecidos destes órgãos através de antígenos específicos próprios. Aborda com mais ênfase o papel do sistema imunológico da mucosa do trato genital feminino, barreira anatômica e imunológica de grande importância para a defesa do organismo contra múltiplas doenças sexualmente transmitidas. Posteriormente o estudo aborda as características fisiológicas, morfológicas e principalmente imunológicas dos sujeitos do processo de fecundação e consolidação da gravidez como: penetração dos espermatozóides no trato genital feminino (antígenos e anticorpos espermáticos), implantação do blastocisto no endométrio uterino e o papel da placenta e da decídua na conjugação íntima entre a mãe e a criança. Todos estes fatores são preponderantes para que todo o processo de reprodução seja efetivo e as reações imunológicas que neles acontecem são de grande importância para o acontecimento bem sucedido da gravidez. Mostra ainda como se apresenta o sistema imunológico materno na gestação normal levando em consideração que o período gestacional é um modelo único na natureza e que também vem sendo um desafio explicar do ponto de vista imunológico quais os mecanismos de não rejeição da placenta pelo sistema imunológico feminino, já que a mesma possui material genético tanto materno quanto paterno, que são geneticamente estranhos a mãe e que poderiam desencadear respostas de intolerância imunológica nos tecidos envolvidos no processo. Neste momento relacionam-se as células envolvidas na resposta imune periférica pelo efeito da gravidez. Por fim o estudo aborda a relação do sistema imunológico com alguns processos que estão ligados diretamente e indiretamente com o interrompimento precoce da gravidez como o aborto recorrente e a endometriose e também a relação com o processo de não fecundação, caso da infertilidade relacionada a fatores imunológicos. Relaciona os principais auto – anticorpos ligados a infertilidade, quais os testes laboratoriais para o diagnóstico do problema e cita a terapêutica mais adequada para o tratamento deste problema. 12 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 ANATOMIA E IMUNOLOGIA DO TRATO REPRODUTOR 2.1.1 Trato reprodutor masculino A natureza do epitélio da uretra peniana varia em diferentes locais. A porção mais distal da uretra situa-se na glande do pênis e recebe a denominação de fossa navicular. Nessa região, a mucosa uretral é revestida de epitélio escamoso estratificado. A parte restante da uretra peniana (pars cavernosa) é composta de epitélio colunar pseudo-estratificado. Ambas as partes são circundadas por uma submucosa altamente vascular. O tecido periuretral peniano contém numerosas glândulas secretoras de muco (glândula de Littré), que podem sofrer infecção crônica após a ocorrência de uretrite. Mais próximo da bexiga, a uretra é revestida de epitélio de transição característico da própria bexiga (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). Na anatomia masculina, os túbulos seminíferos são formados por múltiplas junções entre as células de Sertolli. O rompimento dessas junções aumenta a interação dos espermatozóides com o sistema imune, podendo provocar o surgimento dos auto-anticorpos (SILVA, UTIYAMA, 2004). Portanto, também pode haver formação de anticorpos antiespermatozóides após uma vasectomia, torção do testículo, trauma, homossexualismo e infecção. Como exemplo desta última pode-se citar a caxumba (RIALE, 1992). Os testículos são os órgãos produtores dos espermatozóides, sendo que a partir da puberdade produzem também hormônios, que são responsáveis pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Em número de dois, ovóides, facilmente palpáveis dentro da bolsa que os aloja (escroto), onde o esquerdo está em geral em um nível inferior ao direito. (DANGELO, FATTINI, 1995). O testículo é revestido por uma membrana fibrosa-túnica albugínea. Delicados septos dividem incompletamente o testículo em lóbulos cuneiformes - são os lóbulos do testículo. Os ápices destes lóbulos em forma de cunha convergem e formam o mediastino do 13 testículo, que é uma massa de tecido fibroso contínuo com a túnica albugínea. Nos lóbulos localiza-se o parênquima do testículo: consiste de túbulos seminíferos contorcidos, ao nível dos quais tem lugar a espermatogêneses. À medida que estes túbulos se aproximam do ápice dos lóbulos tornam-se retilíneos e passam a ser denominados túbulos seminíferos retos. Estes, por sua vez vão se anastomosar, formando a rede testicular, que atravessa o mediastino do testículo. Desta rede formam-se quinze a vinte canais, os dúctulos referentes do testículo que penetram no epidídimo (DANGELO, FATTINI, 1995). As observações de que os antígenos das células germinativas podem comportar-se mais como estranhos do que como “próprios”, e a constatação de que, no sexo masculino, as células germinativas haplóides só se desenvolvem na puberdade, muito tempo depois do período fetal ou neonatal quando se estabelecem a tolerância ao próprio, levaram a formular a teoria de que os auto-antígenos dos espermatozóides são seqüestrados atrás de uma forte barreira hematotesticular. Embora se possa demonstrar a existência de barreiras juncionais estreitas entre as células de Sertoli de sustentação, que circundam as células envolvidas na espermatogênese, o privilégio imunológico usufruído pelas células germinativas masculinas nos testículos não é completo. O testículo normal contém numerosos macrófagos residentes classe-II negativos nos espaços intersticiais entre os túbulos seminíferos (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). Porém, as respostas imunológicas na mucosa genital masculina não estão adequadamente caracterizadas. É razoável supor que, com o estudo mais detalhado da transmissão de doenças sexualmente transmitidas, serão descritos mecanismos semelhantes de defesa imunológica da mucosa no sexo masculino (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). 2.1.2 Trato reprodutor feminino Segundo Dangelo e Fattini (1995), do ponto de vista da reprodução, o organismo feminino é mais complexo que o do homem, pelo fato de possuir mais um órgão e consequentemente mais uma função, ou seja, a de abrigar e propiciar o desenvolvimento do novo ser vivo. 14 A mucosa da vagina e da porção mais externa do colo uterino (ou ectocérvix) é constituída de submucosa altamente vascularizada e epitélio escamoso estratificado surpeficial, não queratinizado. Este epitélio escamoso transforma-se abruptamente em epitélio colunar estratificado simples na zona de transição, que marca o início da porção interna do colo (ou endocérvix). Trata-se do local de secreção de muco especializado, regulado por hormônios que facilitam o transporte dos espermatozóides. A endocérvix termina na cavidade uterina, cujo revestimento é denominado endométrio, no estado não grávido ou decíduo, durante a gravidez. Dependendo da estimulação hormonal, o endométrio tem uma espessura que varia de 1 a 6 mm, sendo constituído de várias camadas glandulares. A camada mais interna, o estrato funcional, cresce e sofre espessamento antes e depois da ovulação (STITES, TERR, PARSLOW 2000). O local de fertilização é a trompa de Falópio, uma estrutura membranosa muscular revestida por mucosa altamente vascular (endossalpinge), que consiste em células ciliadas e secretoras. A endossalpinge apresenta numerosas pregas longitudinais delgadas e ramificadas e mostra-se idealmente apropriada para a manutenção, a nutrição e o transporte do produto de concepção durante o seu trânsito de cinco dias para o útero (STITES, TERR, PARSLOW 2000). 2.1.3 O sistema imunológico do trato reprodutor feminino Os mecanismos imunológicos de defesa são compostos pela imunidade natural e pela imunidade adquirida. A imunidade natural decorre de mecanismos imunológicos congênitos inespecíficos que conferem, em condições favoráveis, resistência do organismo a agentes agressores (WEINBERG, 1984; ZANON, LORIAN, 1987). A imunidade adquirida é conseqüência da exposição do organismo a determinados agentes agressores, que induzem a produção de anticorpos que o protegem destes agentes (WEINBERG, 1984). A mucosa do trato genital feminino é uma barreira anatômica e imunológica de grande importância para a defesa do organismo contra múltiplas doenças sexualmente transmitidas, incluindo a infecção por HIV. É composta de tecidos imunologicamente ativos capazes de produzir respostas locais contra antígenos estranhos, de maneira semelhante a 15 outras superfícies imunologicamente ativas, como as vias respiratórias e o trato gastrintestinal. As áreas indutivas para a imunidade da mucosa do trato reprodutor incluem o colo uterino, a vagina, o intestino grosso e o reto, os linfonodos obturadores, ilíacos e inguinais que drenam estas estruturas (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). A deposição dos espermatozóides no trato genital inferior faz com que eles entrem em contato íntimo com a mucosa vaginal e suscitem o primeiro estímulo à resposta imune durante o processo reprodutivo. A mucosa vaginal, integrante do sistema imunológico das mucosas, é de grande importância para a proteção contra germes transmitidos sexualmente. Nesse sistema, ocorre a comunicação de linfócitos, presentes na superfície da mucosa, com outros, encontrados no espaço subepitelial, uma vez que estes linfócitos migram através do sistema linfático (KELLER, 1992). Na camada basal do epitélio vaginal humano encontram-se macrófagos, linfócitos, plasmócitos, células de Langerhans e eosinófilos, mesmo na ausência de processo inflamatório e sofrendo influência dos esteróides sexuais (MONTELEONE, VALENTE, 1997). Foi demonstrada a presença de plasmócitos contendo imunoglobulina A (IgA) na lâmina própria da trompa de Falópio, endométrio, endocérvix e vagina, confirmando um papel efetor imunológico para estas estruturas. Em amostras cirúrgicas da Trompa de Falópio, colo uterino, vagina e vulva normais, foram constatadas distribuições peculiares de células de Langerhans, células dendríticas, linfócitos TCD4 e CD8 e plasmócitos (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). Utilizou-se a técnica de imunofluorescência para analisar o tecido do útero, das trompas de Falópio, do ovário, da encocérvix, ectocérvix e vagina. Trompa de Falópio e a endocérvix constitui os locais fortemente positivos para a presença de IgA, cadeia J e componente secretor (SC) (KUTTEH et al., 1993). (Figura 01) O maior número de linfócitos intra-epiteliais e subepiteliais são observados na zona de transição do colo uterino, sugerindo ser este local uma área de maior atividade imunológica, semelhante a outras superfícies mucosas expostas ao ambiente externo. Como no caso do íleo, as células T intra-epiteliais das trompas de Falópio e do colo uterino 16 consistem predominantemente, em células CD8, enquanto as populações subepiteliais são CD4 (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). A imunização vaginal resulta no aparecimento de IgA e IgG específica na secreções vaginais e IgG dentro da cavidade uterina. Imunizações nasofaringeais e intramusculares induzem baixos níveis de IgG, mas não de IgA, na vagina e no útero concomitantemente com o aumento dos níveis de IgG no plasma (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). Ao contrário dos testículos, o ovário, claramente, não é um local de privilégio imunológico. Em primeiro lugar, a meiose só se completa após a penetração do espermatozóide no óvulo, de modo que os antígenos dos gametas femininos têm pouca oportunidade de ser expressos. (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). No interior dos ovários, os macrófagos residentes constituem importante componente do compartimento ovariano intersticial; verifica-se um influxo de leucócitos na época da ovulação e são observados numerosos macrófagos no corpo lúteo, após ruptura do folículo. Foi constatado que os produtos secretórios dos macrófagos influenciam as células ovarianas in vitro: o fator de necrose tumoral alfa (TFNα) inibe a secreção de esteróides pelas células da granulosa ovariana, enquanto a interleucina-1b (IL-1b) é citotóxica para células ovarianas em dispersão. Foi identificada a expressão do gene do IL-1b gonadotrofinadependente no ovário humano antes da ovulação, juntamente com a expressão do receptor de IL-1 e o antagonista do receptor de IL-1. (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). Estas e outras observações levaram alguns pesquisadores a descrever a ovulação como uma reação de tipo inflamatório, atuando a IL-1b como elemento central. (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). Não se pode ignorar os mecanismos de defesa não específicos, como as barreiras físicas formadas pelas células epiteliais e mucina, o pH, a fagocitose por granulócitos ou macrófagos, a liberação de substâncias com propriedades antimicrobianas (oxigênio reativo e proteases) e a presença de fatores que destroem ou inibem o crescimento ou a atividade de bactérias e vírus (zinco, lisozima, transferrina e outros) (SOUZA, VOLTARELLI, FERRIANI, 1997). 17 Figura 01: Sistema imunológico secretor do trato genital feminino. –, negativo; +, fracamente positivo; + +, fortemente positivo. Fonte: KUTTEH et al., 1993. 2.2 ESPERMATOZÓIDES Segundo Dangelo e Fattini (1995), as vias condutoras dos gametas são vias percorridas pelos gametas masculinos (espermatozóides) desde o local onde são produzidos (nos testículos) até sua eliminação nas vias genitais femininas: túbulos e dúctulos dos testículos, epidídimo, ducto deferente, ducto ejaculatório e uretra. O órgão de cópula (pênis), ou seja, o órgão que vai penetrar nas vias genitais femininas, é o responsável pelo lançamento nelas dos espermatozóides. Num coito depositam-se centenas de milhões de espermatozóides na vagina. Nas melhores condições, milhares deles entram no colo uterino e permanecem neste local. Somente algumas centenas sobem rapidamente até a trompa de Falópio, mas estes não têm capacidade fecundante. Aqueles que ficaram no colo do útero deixam gradativamente o local 18 em grupos e sobem até as trompas nos dias sucessivos. Desses grupos, alguns espermatozóides aderem-se, durante horas, às células da mucosa tubária, onde adquirem a capacidade fecundante. Após adquirirem a capacidade fecundante liberam-se das células da trompa e mantêm a capacidade fecundante por poucas horas ou minutos, nos quais devem encontrar o óvulo e penetrá-lo. Por isso é necessário que continuem chegando novos espermatozóides que os substituam até que aconteça a ovulação (CROXATTO, 2001). Apesar da inoculação regular e repetitiva de milhões de espermatozóides estranhos em mulheres sexualmente ativas, o sistema imunológico do trato reprodutivo feminino tipicamente não responde aos antígenos dos espermatozóides. Foram sugeridos vários fatores para explicar esta não resposta. Em primeiro lugar, o ejaculado contém fatores que inibem as respostas imunológicas. Além disso, acredita-se que características peculiares da imunidade da mucosa genital feminina possam desempenhar um papel essencial na tolerância aos antígenos dos espermatozóides (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). 2.2.1 Antígenos e Anticorpos espermáticos A expressão de antígenos no esperma é fundamental para a consideração da sua imunogenicidade nas vias reprodutivas, fato muito parecido com a presença de antígenos no trofoblasto placentário. Os antígenos do esperma poderiam, teoricamente, desencadear a auto ou aloimunidade e qualquer um desses tipos poderia resultar em infertilidade parcial ou completa. Alternativamente, esses antígenos poderiam ser não-imunogênicos no ambiente normal das vias reprodutivas (STITES, TERR, 1992). Para Antunes e Matos (1992), antígenos espermáticos variam na sua imunogenicidade ou, como alguns antígenos embriônicos, podem induzir a imunossupressão. O antígeno mais importante do espermatozóide é uma glicoproteína hidrossolúvel que se encontra no acrossoma. De modo geral, os principais antígenos são intracelulares. As diversas regiões anatômicas do espermatozóide, assim como os antígenos e as respectivas classes de imunoglobulinas têm afinidade à determinantes antigênicos dentre eles o complexo de histocompatibilidade (HLA), que constitui um fraco determinante. (Figura 02) 19 Figura 02: Localização das regiões do espermatozóide com seus respectivos antígenos e ainda a classe de imunoglobulinas que se liga a estes antígenos. Fonte: ANTUNES, MATOS, 1992. O único antígeno específico do esperma bem caracterizado, no presente, é a LDHX, uma isoenzima de LDH (desidrogenase lática) restrita principalmente ao esperma. Antígenos de grupos sanguíneos ABO são expressos no esperma somente em secretores, fato importante que sugere que ele são absorvidos a partir do plasma seminal. Se esses antígenos são expressos na ausência de tal absorção é uma questão clinicamente controvertida, visto que não foi encontrada evidencia do papel dos anticorpos para antígenos ABO na infertilidade (STITES, TERR, 1992). 20 [...] existem determinantes antigênicos tanto nos espermatozóides quanto no liquido seminal (fosfatase ácida e lactoferrina); muitas vezes, os espermatozóides tornam-se imunogênicos quando são recobertos pelo plasma seminal e estes são conhecidos como SCA (spermatozoa coating antigen), ou mesmo o plasma seminal tem a capacidade de inibir naturalmente os antígenos existentes nos espermatozóides. (ANTUNES, MATOS, 1992). Os espermatozóides são considerados potencialmente antigênicos tanto para o homem quanto para a mulher. Os anticorpos são estruturas que podem se ligar especificamente à cauda e a cabeça dos espermatozóides e podem interferir com a mobilidade, penetração no muco cervical e também na capacidade de fertilizar o óvulo, mesmo que a contagem de espermatozóides esteja normal (RIALE, 1992). Uma alta incidência de anticorpos que reagem com o esperma foi detectada nos soros de homens homossexuais. O sexo oral ou a deposição de esperma no reto durante a relação pode resultar em imunização a antígenos espermáticos. A distribuição de isótopos de imunoglobulina dos anticorpos que reagem com esperma nos soros desses homossexuais é bem diferente daquela vista em homens heterossexuais de casais férteis (STITES, TERR, 1992). [...] no caso dos homossexuais prevalecem os IgM devido a maior incidência de sexo oral e anal (atos traumatizantes), já que os casais inférteis apresentam títulos mais expressivos de IgG e IgA. [...] A principal função dos anticorpos encontrados no soro, fluido cervical e no plasma seminal é impedir à migração do espermatozóide e conseqüente a penetração no óvulo. (ANTUNES, MATOS, 1992). 2.3 ENDOMÉTRIO Segundo Dangelo e Fattini (1995), o útero é o órgão que aloja o embrião e no qual este se desenvolve até o nascimento. Na sua estrutura, ele apresenta três camadas: a interna ou endométrio, a média ou miométrio e a externa ou perimétrio. Mensalmente, o endométrio se prepara para receber o embrião. Para tanto, há um aumento do volume do endométrio com formação de abundantes redes capilares, além de outras modificações. Não ocorrendo a fecundação, isto é, na ausência de embrião, toda esta camada de endométrio que se preparou 21 sofre descamação, com hemorragia e conseqüente eliminação sanguínea através da vagina e vulva, fenômeno conhecido com o nome de menstruação. O endométrio humano é um tecido dinâmico, que ao se preparar para a implantação do óvulo, passa por ciclos bem definidos de proliferação, diferenciação e degradação em resposta à prevalência hormonal do meio. A população leucocitária dentro do estroma endometrial também varia durante o ciclo menstrual e ao longo da gravidez. Leucócitos endometriais incluem células T e B, mastócitos, macrófagos e neutrófilos, além de células natural killer (uNK) uterinas. (HENDERSON et al., 2003). Os principais tipos de células imunes no endométrio secretório são as células T, células uNK e os macrófagos. As células T compreendem aproximadamente 45% dos leucócitos na fase proliferativa do endométrio, e esse número permanece constante em toda a fase secretória e na gestação. Contudo, seu número aparentemente diminui em decorrência do grande aumento das células uNK durante a fase secretória e no início da gravidez (LOBO et al., 2004). O endométrio desempenha um importante papel imunológico no desenvolvimento fetal através da presença de granulócitos qualificados de “leucocytes-like” descrito como células mononucleadas muito particulares, diferenciando-se na mulher não grávida durante a segunda metade do ciclo menstrual e, ao contrário, presentes durante todo o primeiro trimestre da gravidez, no seio da decídua. Tais granulócitos são verdadeiras células imunocompetentes, marcadas por um anticorpo que reconhecem um antígeno comum dos leucócitos, são encontrados, na gestante, em duas regiões diferentes: - Nas regiões ricas em trofoblastos mais pobres em glândulas endometriais e em arteríolas espiraladas, portam um HLA-DR e são reconhecidas por anticorpos marcando os linfócitos B ou T ativados sobre tudo supressores. - À distancia do trofoblasto e na proximidade de glândulas e das arteríolas espiraladas, onde se encontram em proporções iguais, há dois tipos celulares: macrófagos e linfócitos T, mas portando o antígeno das células T imaturas OKT 10. (RODELLE, 1987) 22 No endométrio de mulheres não grávidas na fase secretória tardia e na decídua, durante o primeiro trimestre da gestação, predomina uma população peculiar de linfócitos, denominada de linfócitos grandes granulares (LGL). Estas células apresentam um fenótipo antigênico não usual e correspondem a 70 % das células locais e 5 a 15% dos linfócitos do sangue periférico. No endométrio, elas expressam marcadores celulares CD2 e CD7 (prétímico), CD56 (marcador NK) e CD38 (linfócito T ativado), mas não têm CD3 e CD5 (marcadores de linfócitos T maduros) e CD16 (RFcIgG de células NK). Os LGL podem ter papel no controle da implantação e na transformação da vasculatura uterina pelo trofoblasto. (Figura 3) (KING, LOKE, 1990; BULMER, 1992). Figura 03: Fatores imunológicos envolvidos na reprodução humana. Sptz = espermatozóide. LGL = linfócitos grandes granulares. Fonte: Fay, Grudzinskas, 1991. 2.4 FERTILIZAÇÃO A fecundação é a fusão dos gametas masculinos e femininos que ocorrem na ampola da tuba uterina. Esta é a região mais ampla do órgão, localizada junto ao ovário. Enquanto o espermatozóide pode permanecer vivo no aparelho reprodutor feminino cerca de 23 24 horas, supõe-se que o ovócito secundário morre 12 a 24 horas após a ovulação se não for fecundado (SHETTLES, 1970 apud LANGMAN, 1985). A fusão dos gametas deve exigir um reconhecimento mútuo e espécie - específico de antígenos de superfície, bem como uma etapa de adesão inicial. O contato dos gametas induz à reação do acrossoma, através da qual o revestimento da cabeça do espermatozóide é dissolvido, ativando sistemas enzimáticos que permitem a penetração do espermatozóide na massa celular (cúmulos oophorus) e na espessa camada acelular mucopolissacarídica (zona pelúcida) que circundam o óvulo (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). 2.5 IMPLANTAÇÃO A implantação dos blastos no útero materno é regulada por uma série de mecanismos endócrinos e imunológicos extremamente relacionados, que levariam ao êxito da implantação do ovo fecundado (MARGNI, 1996). Em torno de seis a sete dias após a fertilização, inicia-se o processo de implantação do embrião. Neste momento, ocorre a aposição, adesão e invasão do trofoblasto ao epitélio uterino, à decídua materna e às artérias espiraladas. O sucesso da implantação dependerá de uma comunicação apropriada entre blastocisto e endométrio e de um útero adequadamente preparado pela ação hormonal, principalmente da progesterona (SIMON et al, 1995). A secreção de progesterona pelo corpo lúteo do ovário constitui um componente crítico destas interações e é necessária para a manutenção e o desenvolvimento da decídua. A gonadotropina coriônica humana (HCG), que é secretada pelos tecidos embrionários no primeiro dia após a implantação, é responsável pela transformação do corpo lúteo do ciclo menstrual em corpo lúteo da gravidez (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). O HCG apresenta receptores no epitélio uterino, podendo, assim, regular diretamente a função do endométrio e permitir uma implantação normal. Sua detecção só se torna possível, com o estabelecimento da comunicação materno-fetal após a implantação (COULAM, FAULK, MCINTYRE, 1992). 24 O fator ativador de plaquetas derivado do embrião (EDPAF) é também sintetizado pelo embrião no período perimplantação. O EDPAF, produzido pelo embrião, estimula a produção do fator de gestação precoce (EPF) pelo ovário, que pode ser observado 6 a 48 horas após a fertilização, o qual passa a ser produzido pelo trofoblasto após a implantação do embrião. O EPF atua sobre os linfócitos, favorecendo a liberação de fatores supressores da resposta imunológica, mas seu papel ainda é muito discutível (COULAM, FAULK, MCINTYRE, 1992). Normalmente o blastocisto humano se implanta no endométrio, na parte alta da parede posterior ou anterior do corpo uterino onde ele se fixa entre as aberturas das glândulas endometriais, ou as vezes, no óstio de uma delas ( LANGMAN, 1985). A interação blastocisto-endométrio está, pelo menos em parte, sob controle de mediadores imunológicos como as citocinas. Tanto o blastocisto quanto o endométrio apresentam receptores para citocinas e são capazes de produzi-las. A expressão, no endométrio materno, de pelo menos três citocinas parece ser fundamental para a implantação: o fator estimulador de colônias (CSF-1), o fator inibidor de leucemia (LIF) e a interleucina 1 (IL-1) (SIMON et al., 1995). O CSF-1 é uma glicoproteína que estimula a proliferação e diferenciação das células mononucleares. Esta citocina pode ser encontrada no epitélio uterino e no embrião. Tem sua função regulada pela ação sinérgica do estradiol e da progesterona ( SOUZA, VOLTARELLI, FERRIANI, 1997). O LIF é um polipeptídeo que regula, in vitro, a proliferação e diferenciação de células hematopoiéticas, embrionárias, neurais, osteoblásticas e da linhagem endotelial. Esta citocina é produzida, principalmente, na fase secretória do ciclo menstrual (CHAOUAT et al., 1995). A IL-1 é uma família de peptídeos que compreende as formas alfa (IL-1α) e beta (IL-1β) e um inibidor, o antagonista do receptor de IL-1 (IL-1ra). Dois recptores para IL-1 foram identificados, o tipo 1 (IL-1R tI), encontrado em muitas células e importante na 25 tradução da ação da IL-1, tendo sua expressão máxima na fase lútea precoce e tardia, e o tipo 2 (IL-1R tII), encontrado, primariamente, nos linfócitos B, neutrófilos e monócitos e cuja função é desconhecida. A bioatividade da IL-1, no soro humano, atinge níveis máximos após a ovulação. (SIMON et al, 1995) A IL-1 inibe a fixação do blastocisto murino, porém aumenta o desenvolvimento do trofoblasto (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). 2.6 PLACENTA Segundo Schluter (19_ _), a placenta é um órgão que estabelece a conjugação íntima entre a mãe e a criança. A placenta se compõe de uma parte infantil e de uma parte materna. Ela começa a se desenvolver a partir do sétimo dia após a fecundação, ou melhor, a partir do momento em que o óvulo fecundado se implanta na parede interna do útero. A placenta é um órgão complexo e singular. Sua existência biológica é curta. Seus elementos estruturais são heterogêneos, e seus tipos celulares funcionalmente ativos incluem séries trofloblásticas, linfocíticas e eritróides. Assim como o feto, a placenta consiste em um tecido derivado de dois genótipos parenterais diferentes. Ela produz proteínas e hormônios esteróides que regulam as atividades fisiológicas da gravidez. Em paralelo, ela atua como pulmão, rins, intestino e fígado fetais. Tem-se tornado evidente um papel imunológico para este órgão, poder ser de importância capital para a manutenção bem sucedida da gravidez em mamíferos (STITES, TERR, 1992). A placenta exerce várias funções. Através da placenta o sangue venoso do feto cede CO2 (Gás carbônico) ao sangue materno e se abastece novamente de O2 (oxigênio). Também há passagem de certas substâncias nutritivas tais como água, açúcares, aminoácidos, vitaminas etc. Fundamentais para a nutrição fetal. A placenta constitui também, uma barreira de proteção para determinados microorganismos patógenos que podem ser encontrados no sangue materno. Entretanto, certos vírus como sarampo e varíola atravessam a placenta deixando o feto exposto aos mesmos (MARGNI, 1996). A placenta humana e de alguns vertebrados permitem a passagem de anticorpos produzidos pelo sistema imune da mãe. No homem, os anticorpos do tipo IgG são os que 26 atravessam a placenta mantendo a proteção fetal já que o feto ainda não é capaz de produzilos (MARGNI, 1996). 2.6.1 Invasão dos tecidos maternos pelo trofoblasto O desenvolvimento do embrião humano exige o seu rápido acesso à circulação materna. Uma vez fixada ao endométrio, um subgrupo distinto de células do citotrofoblasto (que neste estágio circundam os tecidos embrionários do blastocisto e são destinadas a diferenciar-se na placenta e na camada externa das membranas fetais) sofre rápida diferenciação, dando origem ao trofoblasto altamente invasivo (STITES, TERR, PARSLOW 2000). O trofoblasto invasivo degrada inicialmente o estroma do endométrio e, a seguir, invade as arteríolas endometriais com 12 semanas de gestação no ser humano; a seguir, substitui o endotélio materno e o músculo liso vascular, estabelecendo a circulação úteroplacentária revestida por trofoblasto fetal, de dilatação máxima. (Figura 4) Apesar de os leucócitos maternos estarem em contato contínuo com estes tecidos fetais que revestem os vasos maternos da decídua e placenta, todas estas estruturas continuam a transportar nutrientes e eliminar detritos do feto durante a gravidez, sem qualquer rejeição ou ataque pelo sistema imunológico do feto ou da mãe (STITES, TERR, PARSLOW 2000 ). 27 Figura 04: Invasão do trofoblasto na interface materno-fetal na placenta humana de 10 semanas. Fonte: DAMSKY, FITZGERALD, FISHER, 1992. 2.6.2 Tipos de células da placenta Há vários tipos de células trofoblásticas que desencadeiam uma homeostase imunológica ou uma patologia imune com a mulher. O primeiro é o sinciciotrofoblasto. Ele se desenvolve a partir do citotrofoblasto (células mais primordiais) por agregação e então fusão em um sincício (BOYD, HAMILTON, 1960; PIJNENBORG et al., 1980; SASAGAWA et al., 1987; SESSION, HORWITZ, 1981). Tanto os componentes maternos como os paternos dos antígenos de transplantação fetal são expressos em elementos celulares da placenta. Entretanto, do ponto de vista imunológico, a questão-chave é que antígenos de transplantação podem ser demonstrados em membranas de trofoblastos. Essas membranas são a interface, em aposição direta, a circulação hemocorial humana. Como tal, elas apresentam um desafio direto tanto 28 para o tronco aferente quanto para o tronco eferente da resposta imune por linfócitos maternos imunologicamente competentes (STITES, TERR, 1992). Outras células e tipos de tecidos na placenta incluem: 1) o citotrofoblasto que se agrupa em forma de colunas e ancora a placenta a decídua que são porções terminais das vilosidades coriônicas. 2) o citotrofoblasto extraviloso, que migra e reside no tecido uterino materno. Este trofoblasto invasor expressa HLA-G (MCMASTER et al., 1995). O gene da HLA-G foi originalmente isolado de uma linhagem celular linfoblastóide humana, porém, é expresso em qualquer tipo celular humano, à exceção do trofoblasto, onde aparece na superfície do citotrofoblasto extraviloso sendo secretado em sua forma solúvel. Trata-se de um gene não polimórfico, associado à β2-microglobulina, que pode interagir com CD8. Entretanto ele é encontrado em maiores níveis durante o primeiro trimestre de gravidez e diminui acentuadamente no trofoblasto no do terceiro trimestre (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). 3) o trofoblasto endovascular que promove erosão e altera a estrutura das arteríolas que nutrem a placenta, este trofoblasto também exibe o HLA-G (KABAWAT et al., 1985; BULMER et al., 1988) e transformam estes vasos em aneurismas sem contratilidade, substituindo-lhes as camadas íntima e média.; os linfócitos grandes e agranulares (LgLs) encontrados nessa área sintetizam óxido nitroso (NO) potente vasodilatador que promove o relaxamento do tecido muscular liso (HUNT et al., 1997). 4) o trofoblasto amniocoriônico, (CAULFIELD et al., 1992) estas células servem para aderir a membrana amniótica a decídua uterina. 2.6.3 Papel imunológico para a placenta 2.6.3.1 Trofoblasto O tecido trofoblástico serve como barreira anatômica entre tecidos maternos e fetais e, portanto, serve como a primeira linha de defesa contra aloimunidade antifetal materna. Linfócitos maternos sensibilizados com antígenos fetais poderiam ser excluídos especificamente, como o são certos anticorpos ou inespecificamente, por uma barreira generalizada ao tráfego celular. Durante o início da gestação, o trofoblasto invade ativamente e prolifera na decídua materna. (STITES, TERR, 1992). Segundo Stites, Terr e Parslow (2000), este modelo em si não foi suficiente para explicar a tolerância materna aos tecidos fetais. O trofoblasto secreta citocinas que foram 29 primariamente associadas a fagócitos mononucleares, como o CSF-1 e seu receptor c-fms, IL3 e GM-CSF. Como os macrófagos, o trofoblasto expressa altos níveis do receptor de LIF, que tem a capacidade de fagocitar e de formar sincícios e expressa FcR, CD4 e CD14. O trofoblasto expressa um antígeno polimórfico do MHC, o HLA – G (OBER et al., 1996) e outros antígenos da classe I; estes determinam e coordenam muitas funções imunológicas que incluem supressão imunológica e produção de citocinas e fatores de crescimento. Isto torna a placenta um órgão privilegiado, resistente ao ataque linfocitário, anticorpos citotóxicos e complexos antígenos-anticorpo na maioria das situações (BARINI, 2004). Todavia, a ausência total de expressão de HLA polimórfica no trofoblasto na presença da expressão singular de HLA-G não polimórfico levou muitos pesquisadores a sugerir que esta molécula desempenhe importante papel na invasão e interação do trofoblasto com os tecidos maternos (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). A identificação de m RNA HLA-G em toda a população de trofoblasto extraviloso, incluindo as colunas celulares de citotrofoblastos, trofoblasto intersticial, trofoblasto endovascular e células gigantes do leito placentário estão bem documentadas. Além disso, o citotrofoblasto viloso e o mesênquima viloso contém transcrições de HLA-G. O sinciciotrofoblasto viloso é sempre negativo (CHUMBLEY et al., 1993). O citotrofoblasto de placenta atermo, que apresenta reduzida capacidade invasiva in vitro, também apresenta menor capacidade de expressar a proteína HLA-G. A produção do HLA-G é um componente crítico da diferenciação no citotrofoblasto para o sucesso de sua atividade invasiva. (MCMASTER et al., 1995). O trofoblasto forma uma barreira física para a maioria dos efetores imunológicos exceto as imunoglobulinas IgG. Estes anticorpos se ligam aos receptores Fc placentários e são transportados para o feto desde estágios mais precoces da gestação (BARINI, 2004). O HLA-G também é identificado nos macrófagos isolados da placenta. O tratamento destas células com INFγ eleva os níveis de expressão do mRNA HLA-G na superfície celular bem como na expressão citoplasmática. Esta produção e expressão podem influenciar o repertório de peptídeos estranhos apresentados à mãe durante a placentação e também em condições inflamatórias auto imunes na mulher. O HLA-G solúvel pode 30 dramasticamente influenciar tanto as respostas imunes maternas quanto fetais (YANG et al., 1996). 2.6.4 Células de Hofbauer As células de Hofbauer, semelhante a um macrófago é encontrada na porção fetal da placenta (vilosidade coriônica no tecido do estroma que circunda os vasos fetais do centro viloso). Surge no início da gestação e provavelmente é de origem fetal. No início da gravidez, esta célula pode desempenhar importante papel na dinâmica do fluxo no interior da vilosidade fetal. Posteriormente, torna-se ativamente fagocítica. Entretanto, sua função no desenvolvimento, na fisiologia e na imunidade da placenta ainda não está totalmente caracterizada (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). 2.7 DECÍDUA A decídua é a parte materna da placenta em que há um contato próximo entre células maternas e fetais. Conseqüentemente, as células deciduais podem ter um papel importante na aceitação do feto e no controle da invasão do trofoblasto. A decídua contém uma população diversa das células, incluindo células decidualizadas do estroma, linfócitos, células uterinas de NK (células desconhecidas), monócitos e células epiteliais. Há variações significantes no número dos leucócitos no tecido endometrial. Tipicamente, menos de 10% das células deciduais são leucócitos na fase proliferativa, mas esta aumenta 20% na fase secretora atrasada e a 40% na gravidez adiantada (BULMER et al., 1991; OZENCI et al., 2001). Estes aumentos são principalmente devido a uma ascensão nos números das células desconhecidas, que compreendem 60% dos leucócitos. Granulócitos e as células B são incomuns no endométrio e na decídua (BULMER et al., 1991; OZENCI et al., 2001). 2.7.1. As células imunes da decídua As células linfóides encontradas na decídua materna nos estágios precoces da gravidez são compostas de células NK, CD56+ (80%); células T CD3+ (10%) e macrófagos CD14+ (10%). (KING, GARDNER, LOVE, 1996) Estes leucócitos se acumulam no sítio de 31 implantação em grande número e densidade. Seu papel é importante em direcionar uma resposta citotóxica Th-1 ou uma resposta supressiva Th-2 e determinante de crescimento dirigida à placenta (CHAOUAT, TRANCHOT, VOLUMENIE, 1997). 2.7.1.1 Células NK A principal população de linfócitos encontrados na decídua humana são células tipo-NK com um fenótipo distinto, CD56 brilhante CD16- CD3-. Possuem uma morfologia diferente dos LGLs.(HAYNES et al., 1995; KING et al., 1996; KING, JOKHI, BURROWS, 1996) Ao contrário das células NK CD56+ encontradas no sangue periférico, as células da decídua não aprestam receptores Fc III (CD16) e não apresentam níveis significativos tanto de receptores FcR tipo I (CD64) como FcR tipo II (CDw32). (CLARK et al., 1994) Quase todas as células da decídua CD56+ LGLs expressam o antígeno tardio 1 (VLA-1, CD49a) enquanto que quase nenhuma das células NK CD56+ do sangue periférico o apresentam. (GEISELHART et al., 1995) Os linfócitos granulares grandes (LGLs) são particularmente abundantes no início da gestação e no local do sítio de implantação. Sua associação com duas moléculas da classe I do HLA, HLA-G e HLA-C, na superfície do trofoblasto extraviloso está bem documentada. Há considerável evidência para documentar a comunicação do HLAG com estas células NK no momento da implantação. (KING et al.,1996) De fato, essas células parecem acompanhar o trofoblasto invasor. Está claro que em mulheres com aborto recorrente e em mulheres com falhas repetidas em fetilização in vitro e transferência de embrião (FIVETE) que o trofoblasto e mesmo a decídua se comportam como alvos citotóxicos de células NK locais. A gravidez falha repetidamente nestas mulheres e a terapia imunológica melhora significativamente o resultado reprodutivo (BEER, KWAK, RUIZ, 1996; KWAK et al., 1996). Recentemente foi relatada a expressão de receptores inibidores/ativadores das células NK (KIR/KAR) e os receptores CD94 nas células NK da decídua. (KING et al., 1997) Especula-se se a expressão dos antígenos HLA-I, HLA-G e HLA-C por estas células trofoblásticas possam permitir que as células NK da decídua maternas reconheçam e respondam às células trofoblásticas fetais por ativação dos receptores KIR (Killing Inhibitory Receptor) ou KAR (Killing Activating Receptor). O reconhecimento do HLA-G/HLA-C pelos KIR/KAR e CD94 podem fornecer os mecanismos pelos quais s células NK da decídua controlam a migração trofoblástica. (KING et al., 1997) Portanto a interação materno–fetal e, 32 por conseguinte o sucesso reprodutivo pode depender de um sistema de reconhecimento aloimune das células NK (KING, BURROWS, LOKE, 1996). As células NK da decídua estão sempre em associação próxima com as células trofoblásticas que invadem o útero. Tem sido relatado que membrana citoplasmática do sincício trofoblasto inibe a atividade citolítica dos linfócitos citotóxicos T (CTL) e células NK contra suas células alvo. (DEGENNE, KHALFOUN, BARDOS, 1986; DEGENNE et al., 1991) A expressão antigênica das moléculas não clássica HLA-1 também se correlacionam com a resistência às células NK na mesma maneira uma molécula clássica HLA classe I. Células transfectadas HLA-G e HLA-A2 utilizando células LCL 721.221 HLA-nulas são resistentes aos efetores NK isolados da decídua ou do sangue periférico (CHUMBLEY et al., 1994). Pouca importância se deu aos achados de que os peptídeos HLA-G funcionam como moléculas de adesão para os LGL CD8+ que tenham migrado para a decídua uterina no período pré-implantação (SANDERS, GIBLIN, KAVATHAS, 1991). Desta maneira o trofoblasto pode selecionar um exército de células supressoras que o acompanham e que fazem uma interface que interage com o hospedeiro materno. Além disso, linhagens de linfócitos granulares CD3- CD8+ CD56++ são um subtipo de células CD3- CD56++ mais inertes no que diz respeito à produção de citocinas. Linhagens de linfócitos granulares deciduais CD3- CD8- produzem quantidades muito mais significativas de TNF-a, GM-CSF, e IFN-g, em contraste com células CD3- CD8+ que produzem pouco ou quase nada destas interleucinas (JOHNSON et al., 1993). 2.7.1.2 Linfócitos T A maioria das células CD45+ que se encontram na decídua se localizam nos grandes grupamentos de células linfóides (LCC), próximo às glândulas endometriais ou como linfócitos intraepiteliais (IEL) no epitélio glandular. A maior população de células nos LCC são células CD56+T CR-γ δ+, células CD56+, células TCR-β +CD4+, e células TCR-α β+CD8. As células T derivadas do endométrio e da decídua são diferentes daquelas derivadas do sangue periférico. Tanto no endométrio como na decídua, mais células expressam marcadores de ativação (CD45RO, Kp43, CD69, CD71, antígenos CD38 e/ou HML-1) a 33 antígenos MHC classe II (HLA-DR, HLA-DP e/ou HLA-DQ) que aquelas encontradas no sangue periférico (GEISELHART, 1995; HO, 1996; MINCHEVA-NILSSON, 1994). As células T são ativadas regionalmente como resultado da estimulação antigênica fetal. Ainda que a compatibilidade HLA DQ entre a mãe e o feto se associe com estimulação citotóxica, os antígenos HLA DQ A não estão presentes no trofoblasto na implantação. Para estabelecer tolerância fetal, o endométrio mantém a proporção de linfócitos T CD8+ e a relação CD4: CD8. Quando esta proporção se rompe, a gravidez sofre em conseqüência de ativação auto-imune, provocando perdas gestacionais recorrentes. Em mulheres com aborto recorrente a porcentagem de linfócito T CD8+ endometrial está significativamente reduzida e a relação CD4: CD8 aumentada. (LACHAPELLE et al., 1996) A análise do DNA de gestações abortadas revelam uma significante proporção de compatibilidade HLA DQ A1 quando comparadas com gestações que evoluíram para termo (OBER et al., 1993). As subpopulações de células T no sangue periférico se modificam na gravidez e no puerpério. Desde o primeiro trimestre e ao longo da gestação, as contagens absolutas de células T (CD3) e dos subgrupos de células T (CD4, CD8) diminuem. Há também uma redução na contagem absoluta de linfócitos e uma redução na porcentagem de células T helper-indutoras (CD4) no decorrer do primeiro trimestre. As porcentagens e contagens absolutas de células T (CD3) aumentam transitoriamente no pós parto. Estas mudanças nas subpopulações de linfócitos podem indicar uma supressão imunológica na gravidez e uma elevação o período pós parto (IWATANI et al., 1988). 2.7.1.3 Macrófagos O útero contém um grande número de macrófagos no endométrio e no miométrio. (HUNT, 1994) Os hormônios ovarianos regulam suas concentrações e os macrófagos expressam receptores para estrógeno. (MILLER, HUNT, 1996) As células epiteliais e estromas endometriais respondem aos hormônios esteróides. Os fatores de crescimento uterinos estimulados pelo estrógeno atraem os macrófagos para o útero (HUNT, ROBERTSON, 1996). Bulmer, (1995) demonstrou que há um aumento de 45% dos macrófagos na região funcional próximo à região de implantação, comparando-se a fase proliferativa e a fase secretora inicial do ciclo menstrual humano (BULMER, 1995). 34 Os linfócitos deciduais produzem fatores estimuladores do crescimento de colônias de macrófagos-granulócitos espontaneamente e após estímulo antigênico paterno, enquanto os leucócitos periféricos não o fazem. (DUDLEY et al., 1990) Ainda que GM-CSF ou CSF-1 tenham atividade quimioativada não são essenciais para o processo pelo qual os macrófagos são atraídos para o local de implantação. (POLLARD et al., 1991) e se distribuem igualmente pelo endométrio durante o período pré-implantação. A seguir, com a implantação, os macrófagos são redistribuídos pela decídua secundária, distante do local de implantação, conforme observado em camundongos (BRANDON, 1993). Os linfócitos deciduais associados às membranas fetais são uniformemente positivos para os antígenos HLA classe II em todos os estágios da gravidez. (LESSIN et al., 1988) Os macrófagos expressam baixos níveis da proteína e de m-RNA HLA-G. O INF-γ eleva seletivamente a expressão destes genes HLA classe Ib em relação ao HLA classe Ia. Isto pode influenciar o repertório de peptídeos apresentados à mulher na embriogênese e na fase de implantação. (YANG et al., 1996) A ativação dos macrófagos se inicia por inflamação resultante da destruição tecidual e da INF-γ, uma citocina suprida pelas células NK. (ROITT, BROSTOFF, MALE, 1993) A ativação máxima é alcançada com o contato com lipopolissacárideos (LPS) proveniente de bactérias gram negativas. Na gravidez os níveis elevados de citocina secretados pelos macrófagos utero-placentáreos, ativados por endotoxinas bacterianas ou por ligação a receptores de citocinas, podem comprometer a gestação. Há referências específicas de que uma família de cotocinas esteja implicada na indução de parto prematuro associado a infecções (HUNT, 1989; ROMERO et al.,1989). 2.8 IMUNIDADE NA GESTAÇÃO NORMAL O período gestacional representa um modelo único na natureza. Compreende um estado imunológico altamente complexo, com freqüente exacerbação de enfermidades ou alterações pré-existentes. Do ponto de vista imunológico tem sido um grande desafio tentar entender quais os mecanismos envolvidos na não rejeição da placenta pelo sistema imunológico materno, já que a mesma, por ser de origem embriônica, contém material genético tanto materno como paterno. Assim sendo, apresenta potencial para expressar antígenos paternos, que são geneticamente estranhos à mãe e, portanto, poderiam incitar as 35 mesmas reações de intolerância imunológica observadas nos tecidos enxertados (NIEUWENHOVEN, HEINEMAN, FAAS, 2003). O desenvolvimento da gestação depende do estabelecimento de um sistema vascular eficiente, que supra oxigênio e nutrientes de forma adequada ao produto conceptual. Para o estabelecimento desse “novo” sistema vascular (placentação), o trofoblasto infiltra-se pela parede endometrial, até alcançar as artérias espirais uterinas. A seguir, o citotrofoblasto recobre a decídua com destruição da camada muscular arterial, transformando-a em vasos de baixa resistência. Durante esse processo, o citotrofoblasto substitui seu fenotipo originariamente epitelial, pelo fenótipo endotelial, recobrindo a camada endovascular das artérias espirais maternas (ZHOU et al., 1997). A placentação permite que a artéria uterina se expanda na medida em que a gestação progride, evitando a restrição de fluxo sanguíneo à unidade feto placentária. Por outro lado, isso faz com que produtos de genes fetais, assim como antígenos específicos de diferenciação sejam expostos a células maternas imunocompetentes presentes no local (CROSS, WERB, FISHER, 1994). O HLA G, um antígeno paterno polimórfico está presente nas células do trofoblasto que se implanta. Ele apresenta antígenos (peptídeos terminais) não próprios para a mãe. (KOVATS et al., 1990) O antígeno fetal escapa dos tecidos do trofoblasto na placenta, sendo seqüestrado no baço ou nos linfonodos maternos, onde ocorre uma resposta imunológica (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). (Figura 05). Os peptídeos terminais não próprios do HLA-G servem como moléculas de adesão para os antígenos CD8 nos leucócitos granulares da decídua que já haviam migrado para aí; (SANDERS, GIBLIN, KAVATHAS, 1991) Estas células NK CD3- CD8+ CD56+ são funcionalmente mais inertes na produção de citocinas Th-1 relacionadas como TNF-α, INF-γ em comparação com os linfócitos granulares deciduais CD8-CD56+. Além disso, o trofoblasto fetal expressa baixa afinidade por receptores para as citocinas Th-1 relacionadas como TNF-α, INF-g e GM-CSF (JOHNSON et al., 1993). Isto resulta em uma resposta preferencialmente Th-2 na interface materno-fetal. Há moléculas contra reguladoras contra a produção de TNF como a fetuina e a espermina produzidas no feto e no amnio. Estas moléculas suprimem a produção de TNF e mantém um estado de imunossupressão (WANG et al, 1997). As células deciduais do estroma e as células NK produzem as citocinas GM-CSF, CSF-1, LIF, TGF-β que são essenciais para o crescimento, proliferação e diferenciação do 36 trofoblasto (JOKHI, KING, LOKE, 1994). Isto resulta no crescimento do trofoblasto e no aumento da produção de progesterona. A progesterona em altas doses estimula a produção local de TJ6 (proteína imunomoduladora) e de outras proteínas placentárias e uterinas. A TJ6m ligada aos linfócitos deciduais são CD 56+ 16- induzem estas células a apoptose. O trofoblasto prolifera, invade e se deporta para a corrente sanguínea e aloanticorpos antipaternos são produzidos que retornam e se ligam à placenta. Aqui eles apresentam função imunotrópica e bloqueiam o ramo eferente da resposta imune local. A placenta se torna um tecido privilegiado localmente. Ao redor da décima semana o processo está completo e não só o feto está parasitando a futura mãe, como estabeleceu uma relação imunológica duradoura com ela, que se imprime no sistema imune materno e dura para o resto da vida. Uma vez estabelecida não há nada que possa ser feito essencialmente para modificar esta relação. Eventos hormonais e de outra natureza programados para o final da gravidez permitem o encerramento desta união. O útero recicla e se prepara para outra experiência futura de gravidez com sucesso se o pai se mantém o mesmo. A mudança na paternidade pode resultar em novas experiências gestacionais patológicas não ocorridas na gravidez com o primeiro marido (BEER, NEED, 1985). Figura 05: Ativação imunológica materna por antígeno fetal. Fonte: STITES, TERR, PARSLOW, 2000. 37 2.8.1 Ativação do complemento na gravidez normal O sistema complemento é o principal componente do sistema imune inato, é constituído de diferentes proteínas do plasma reagindo com uma outra na cascata proteolítica, gerando produtos ativos e potentes que fornece mecanismos de defesa contra os patógenos. Opsonização e a lise dos organismos podem resultar da ativação da cascata de complemento. Além do mais, o sistema complemento tem sido atribuído para modular a imunidade adaptativa através da regulação de linfócitos B e T (CARROLL, 2004) e tem sido sugerido recentemente seu envolvimento na resposta antiviral (KIM et al., 2004). O complemento pode ser ativado por três mecanismos diferentes: 1) o método clássico provocado pela ligação de C1q aos complexos do antígeno-anticorpo ou diretamente à superfície de um microorganismo; 2) o método alternativo, provocado pela deposição de componentes espontaneamente ativados do complemento diretamente em superfícies microbial; ou 3) a mannan binding lectinthe (MBL), iniciado pela ligação do MBL aos hidratos de carbono contendo manose em microorganismos. Todos estes métodos convergem na proteína C3; a clivagem subseqüente do C5 inicia a montagem do complexo de ataque a membrana (MAC), que é essencial para a função do complemento. C3a, C4a e C5a são um grupo de peptídeos liberados na clivagem de suas proteínas nativas durante a ativação do sistema do complemento. Estes "complementam produtos rachados" são conhecidos também como os anafilotoxinas, devido a sua habilidade de aumentar permeabilidade (SCHUMACHER, 1991; GORSKI, HUGLI, MULLER-EBERHARD, 1979) vascular e de estimular a contração músculo liso (COCHRANE, MULLER-EBERHARD, 1968; GORSKI, HUGLI, MULLER-EBERHARD, 1979). A ativação do complemento poderia potencialmente prejudicar o desenvolvimento fetal. Evidências recentes em modelos murinos têm envolvido deficiência Crry, uma C3 convertase inibidora, e produtos de C3 no mecanismo do aborto (XU et al., 2000). Adicionalmente, ferimento e a perda fetal da gravidez na síndrome experimental do anticorpo anti-fosfolipídeo foram atribuídos aos efeitos do complemento, principalmente C5a (GIRARD et al., 2003). Conseqüentemente, propôs-se que a inibição do sistema do complemento é uma exigência para a gravidez normal (GIRARD, 2003). Ainda, a presença de complexos imunes e os produtos da cascata do complemento foram identificados no tecido do trofoblasto na gestação normal (MCCORMICK, et al., 1971; TEDESCO et al., 1993). Além disso, a 38 gravidez é caracterizada pelo realce do sistema imune e da supressão inata na resposta imune adaptativa (SACKS G., SARGENT I., REDMAN, 1999). Acumular a evidência na sustentação desta proposta inclui: 1) um número aumentado dos granulócitos no sangue maternal; (EFRATI et al., 1964) 2) mudanças fenotípicas e metabólicas nos granulócitos e nos monócitos (expressão aumentada de moléculas da adesão, do oxigênio reativo intracelular da linha de base, e do estouro oxidativo) (NACCASHA et al., 2001; SACKS et al., 1998) 3) uma concentração aumentada de proteínas agudas das fases (fibrinogênio, fatores clotting, globulinas) (STIRLING et al., 1984; COMEGLIO et al., 1996); e 4) um deslocamento do T helper-1 ao perfil do cytokine da pilha de T helper-2 (LIN et al., 1993; MARZI et al., 1996). Os estudos conduzidos no sistema de ativação do complemento durante a gravidez normal demonstraram concentrações aumentadas da proteína do complemento e as proteínas regulatórias do complemento e atividade hemolítica total do complemento (CH50) (BAINES, MILLAR, MILLS, 1974; LEVY, ARQUEMBOURG, 1981) incluindo "o fator de aceleração de deterioração" (DAF), a proteína do cofator da membrana (MCP), e o CD59 foram relatadas por ser expressas altamente no trofoblasto (TEDESCO et al., 1993; HOLMES et al., 1992 HSI, HUNT, ATKINSON, 1991), e podem dobrar o papel de proteger o feto contra os danos gerados na ativação do complemento. 2.8.2 O efeito da gravidez na resposta imune periférica O sinciotrofoblasto está flutuando no sangue maternal, e conseqüentemente está em contato próximo com os leucócitos maternal periféricos. Daí pode-se esperar que a resposta imune periférica esteja adaptada à presença das células semialogênica do sinciotrofoblasto. Uma das primeiras mudanças reconhecidas no sistema imune maternal periférico durante a gravidez era um aumento na contagem de células brancas do sangue periférico (SIEGEL, GLEICHER 1981; KUHNERT et al., 1998; MINAGAWA et al., 1999; NIEUWENHOVEN et al., 2002). A evidência clínica para mudanças na resposta imune durante a gravidez é vista nos pacientes com artrite reumatóide e com lupus eritematoso que respectivamente voltam durante a gravidez (OSTENSEN et al., 1983; VARNER, 1991). Nas seguintes seções, o ponto de vista atual na adaptação de respostas imunes periféricas durante a gravidez será destacado (NIEUWENHOVEN, HEINEMAN, FAAS, 2003). 39 2.8.2.1 Linfócitos T As células mais estudadas na imunidade periférica da gravidez humana são os linfócitos T. Dentro da população de Linfócitos T, os linfócitos T helper (Th) e os Linfócitos T citotóxicos (Tc) podem ser distintos. Os linfócitos Th fornecem a ajuda a outras células imunes produzindo citocinas, visto que os linfócitos Tc podem diretamente matar células estranhas ou infectadas. Os números de linfócitos Tc e de linfócitos Th podem (MATTHIESEN et al., 1996; LUPPI et al., 2002) ou não podem (COULAM et al., 1983; NIEUWENHOVEN et al., 2002) diferir em mulheres grávidas e em mulheres não grávidas. Os linfócitos T podem também ser classificados em subconjuntos funcionais diferentes baseados em seu perfil na produção de citocinas. As células tipo Th1 produzem, por exemplo, o interferon-γ (IFN-γ), a interleucina-2 (IL-2) e o fator de necrose o tumoral - α (TNF-α), que promovem respostas imunes celulares, visto que as células T tipo 2 produzem IL-4, IL-5, IL9, IL-10 e IL-13 que fornecem a ajuda para respostas imunes humoral (MOSMANN et al., 1986). 2.8.2.2. Células Natural Killer (NK) Pouco é conhecido sobre células NK periféricas na gravidez. O número de células NK periféricas em mulheres grávidas é diminuído em comparação às mulheres não grávidas (WATANABE et al., 1997; KUHNERT et al., 1998; NIEUWENHOVEN et al., 2002). Em mulheres grávidas sabe-se também que, além de uma diminuição no número de células NK, sua produção de IFN-γ está diminuída (NIEUWENHOVEN et al., 2002). Estas mudanças no número e na atividade da célula NK durante a gravidez são também consistentes com um deslocamento da resposta imune celular a uma resposta imune humoral durante a gravidez (BEER, et al., 1996). 2.8.2.3. Monócitos e granulócitos Embora muitas investigações fossem realizadas em linfócitos durante a gravidez, pouca atenção foi dada aos granulócitos e aos monócitos, as células imunes inata. Apesar do fato que alguns anos atrás uma variedade dos estudos foram executados para avaliar a função das células imunes inata durante a gravidez, os resultados não eram consistentes e as 40 investigações foram executadas na maior parte com os monócitos ou os granulócitos isolados (PERSELLIN, THOI, 1979; SIEGEL, GLEICHER, 1981; KRAUSE et al., 1987). No presente, com a introdução de novas técnicas (o mais importante, citometria de fluxo) a função do monócito e do granulócito pode ser examinada no sangue total (NIEUWENHOVEN, HEINEMAN, FAAS, 2003). 2.8.2.4. Células dendríticas As células dendríticas (DCs) são conhecidas por ser as células mais potente (STEINMAN, 1991). Adicionalmente, há uma evidência emergente que DCs podem ser envolvidas na regulação do balanço das citocinas tipo 1/tipo 2 (NISHIOKA et al., 2001; OSADA et al., 2001; BRADLEY et al., 2002). Pode-se, conseqüentemente, esperar que DCs tem um papel importante no paradoxo imunológico da gravidez, embora pouca pesquisa tem focalizado na atividade da DC. na gravidez (GERMAIN et al., 2002; WILLIAMS et al., 2002). 2.9 ABORTO RECORRENTE Define-se aborto recorrente como três ou mais perdas conceptuais espontâneas e consecutivas antes de 20 semanas de gestação ou de o peso fetal atingir 500g (STIRRAT 1992; EDMONDS, 1982). Segundo Dudley e Branch (1989), sua incidência é inferior a 1% entre os casais que tentam ter filhos. Podemos denominá-lo primário ou secundário, respectivamente, na ausência ou na presença de um feto vivo viável, precedendo a seqüência de abortos. Esta distinção torna-se importante, em vista de que estes dois grupos parecem apresentar comportamentos epidemiológico e imunológico distintos (STIRRAT, 1990). Do ponto de vista imunológico, o aborto primário apresenta maior compartilhamento de antígenos HLA, hiporreatividade na cultura mista de linfócitos, ausência de anticorpos bloqueadores e dirigidos contra antígenos paternos, enquanto o secundário apresenta compartilhamento de antígenos HLA e cultura mista de linfócitos normais, presença de anticorpos bloqueadores e contra antígenos paternos (Tabela 01) (FERRIANI, VOLTARELLI, SOUZA, 1997). 41 Tabela 01: Classificação e imunopatogênese do aborto recorrente. Fonte: FERRIANI, VOLTARELLI, SOUZA, 1997. Um dos fatores mais estudados e pesquisados na atualidade em relação ao aborto de repetição é o imunológico. Neste aspecto estão envolvidos os fenômenos auto-imunes, situação em que existe a produção, por parte do sistema imunológico materno, de autoanticorpos que vão alterar o leito placentário e com isso determinar a perda gestacional (CLIFORD et al., 1994) e os fenômenos aloimunológicos, em que estão implicados distúrbios no reconhecimento dos antígenos feto-paternos e/ou no desencadeamento de resposta imunológica modulada e protetora (CHRISTIANSEN, 1996). O sistema imunológico tem a função de reconhecer como estranho e elaborar mecanismos para rejeitar todo enxerto de órgãos de doadores que não sejam geneticamente idênticos ao receptor. O feto possui antígenos de origem paterna, sendo considerado um aloenxerto que deveria ser rejeitado, mas que representa exceção a esta regra (MATTAR, CAMANO, DAHER, 2003). Inicialmente a não-rejeição do feto foi atribuída à ausência de resposta imunológica materna, mas inúmeras investigações demonstraram que na gravidez existe o desenvolvimento de resposta imunológica com a participação de fatores humorais e celulares (CHRISTIANSEN, 1996). 42 Em 1977, Komlos et al. relataram, pela primeira vez, um elevado índice de compartilhamento do sistema HLA entre os casais com aborto recorrente. Apesar de vários trabalhos realizados na tentativa de elucidar o papel destes antígenos no aborto recorrente (OBER et al., 1985; STEACK et al., 1995), sabemos que os antígenos HLA-A, -B e -DR não estão expressos na superfície do trofoblasto (HILL, 1990). Estes antígenos, talvez, pudessem atuar por meio de um desequilíbrio de ligação com outros antígenos relevantes, expressos nos tecidos fetais, como os antígenos de reação cruzada entre o trofoblasto e os linfócitos (TLX). Portanto, a tipagem dos antígenos HLA clássicos estaria revelando, indiretamente, alterações no padrão de distribuição destes outros antígenos. (SOUZA, VOLTARELLI, FERRIANI, 1996) De fato, McIntyre e Faulk (1982), sugeriram que o compartilhamento de antígenos HLA afeta negativamente a gestação por uma associação com antígenos TLX. Assim, casais que compartilham antígenos HLA seriam mais prováveis candidatos a aborto recorrente como resultado da compatibilidade no TLX, pois também teriam antígenos TLX iguais, impossibilitando o desenvolvimento de resposta imune protetora ao feto. As citocinas são substâncias envolvidas na resposta imunológica e que podem estar relacionadas ao aborto de repetição. Diversas evidências sugerem que as citocinas desempenhem papel crítico no desenvolvimento da gravidez. (CHOUDHURY, KNAPP, 2001; WEGMANN et al., 1993). O padrão de citocinas produzidas no período préimplantação parece influenciar diferentes eventos nas etapas iniciais da reprodução (CHOUDHURY, KNAPP, 2001). Citocinas de padrão Th1 parecem exercer efeito deletério no desenvolvimento da gestação, ao passo que citocinas do tipo Th2 parecem desempenhar papel benéfico em eventos reprodutivos (RAGHUPATHY, 1997). Existem indicações de que a interleucina 2 (IL-2) cause falhas de implantação em camundongos e possa diretamente ativar células killer induzidas por linfocinas, que podem lisar células trofoblásticas (CHAOUAT et al., 1990; DRAKE, HEAD, 1989). Além disso, foi demonstrado que interferon γ e o fator de necrose tumoral α inibem o crescimento e a diferenciação do trofoblasto, ao passo que a IL4 e a IL10 parecem promover o desenvolvimento do embrião e a placentação (LIN et al., 1993; HUNT, CHEN, MILLER, 1996). 43 Em concordância com estas observações, padrão de citocinas Th1 tem sido observado em pacientes com história de aborto espontâneo de repetição sem etiologia definida, e perfil de citocinas Th2 tem sido detectado em mulheres com história de sucesso gestacional (MARZI et al., 1996; VASSILIADIS et al., 1998). Hill et al. (1995), sugerem que uma resposta imune celular tipo Th1 anormal, dirigida a antígenos reprodutivos, seria responsável pela falha reprodutiva nos casos de abortos repetidos, mas esta hipótese também carece de confirmação. A presença de anticorpos citotóxicos tem sido considerada por alguns autores (MOWBRAY et al., 1985) como fundamental para que uma gestação subseqüente tenha evolução favorável. Entretanto, Regan e Braude (1987) demonstraram que 62% de mulheres com gestação a termo nunca produziram estes anticorpos. Aoki et al., (1995) sugeriram que a avaliação da atividade NK poderia ser um fator preditivo para o aborto, uma vez que as pacientes com aborto recorrente, com níveis elevados desta atividade, tiveram um risco de abortar 3,5 vezes maior do que aquelas com atividade normal. Entretanto, esta observação não foi confirmada em nossa casuística, ainda que com pequeno número de pacientes (SOUZA, 1996). Takakuwa et al. (1991) e Behar et al. (1993) relataram que uma elevação de células CD8+ após imunoterapia celular (transfusão de leucócitos paternos ou de um pool de linfócitos de indivíduos diferentes) poderia beneficiar as pacientes com aborto recorrente, uma vez que induziria um estado de tolerância imunológica, necessária para a manutenção da gestação. Entretanto, Fizet et al. (1990) e Christiansen et al. (1994), não confirmaram estes achados. A ativação policlonal das células B parece representar um defeito básico dentro das anormalidades imunológicas, comuns às doenças auto-imunes. As variações individuais na produção destes auto-anticorpos levaram à caracterização de uma síndrome, denominada Síndrome Auto-Imune de Falência Reprodutiva (GLEICHER, EL-ROEIY, 1988), que pode se manifestar como aborto recorrente, endometriose e/ou infertilidade (GLEICHER, 1992). 44 2.10 ENDOMETRIOSE Define-se por endometriose a presença de células endometriais fora da cavidade e musculatura uterinas constituindo-se hoje em uma das mais comuns condições ginecológicas (FERRIANE, VOLTARELLI, SOUZA, 1997). Apesar de mais de 90% das mulheres apresentarem refluxo menstrual, considerado uma das principais causas da endometriose, apenas uma parte delas desenvolvem a doença. Ela ocorre, geralmente, durante a fase reprodutiva, mas não é raro na adolescência e na menopausa, tendo incidência desconhecida. O grau de sintomatologia (dismenorréia, dor pélvica e infertilidade) não tem correlação com a gravidade da doença, sendo as pacientes, muitas vezes, assintomáticas (SOUZA, VOLTARELLI, FERRIANE, 1997). O sítio mais comum de implantes era o ovário, em 54,9% dos casos, seguido pelo ligamento largo (35,2%) e os fundos de saco anterior (34,6%) e posterior (34,0%) (JENKINS, OLIVE, HANEY, 1986). No tecido endometrióide, observa-se uma concentração de receptores hormonais diferentes em relação ao endométrio normal, com predomínio de receptores para progesterona em relação aos para estrógenos, além de modificações nas alterações cíclicas fisiológicas. Estas diferenças podem ser responsáveis pela diversidade de resposta ao tratamento hormonal (SOUZA, VOLTARELLI, FERRIANE, 1997). A despeito do grande interesse pelo estudo da endometriose, relativamente pouco se conhece sobre a sua causa, história natural, relação com subfertilidade e, principalmente, sobre sua imunopatogênese. O primeiro relato de alteração da resposta imune na endometriose data de 1980, na literatura médica russa, quando se observou aumento de células B e redução da reatividade de células T nestas pacientes (SOUZA, VOLTARELLI, FERRIANE, 1997). Neste mesmo ano, Weed e Arguembourg (1980), observaram a presença de depósitos de complemento (C3) e imunoglobulinas no endométrio acometido. Dois anos mais tarde, Mathur et al. (1982), identificaram a presença de auto-anticorpos contra tecido endometrial e ovariano. 45 Assim, foram geradas duas hipóteses para a imunopatogênese da endometriose: 1 - a de uma doença auto-imune, uma vez que ocorre uma ativação policlonal de células B (aumento de imunoglobulinas e auto-anticorpos), ao lado de outras características de auto-imunidade, como incidência no sexo feminino, ocorrência familiar, dano tecidual inflamatório e envolvimento de múltiplos órgãos; 2 - o processo patológico iniciar-se-ia por uma deficiência do mecanismo celular e, secundariamente, ocorreria uma alteração humoral, uma vez que existe um número aumentado de macrófagos no líquido peritonial destas pacientes (HALME, BECKER, HASKILL, 1987). (Figura 06) Figura 06: Mecanismos imunológicos celulares envolvidos na endometriose. Fonte: HALME, BECKER, HASKILL, 1987. Estas células, basicamente, reconhecem, fagocitam e destroem os microorganismos, mas podem, também, promover o crescimento celular. Na endometriose, os 46 macrófagos apresentam-se ativados, com um diâmetro celular aumentado, receptores de membrana para outras células, produção aumentada de enzimas (fosfatase ácida, mieloperoxidase, leucina aminopeptidase e outras) e de prostanóides, interleucinas, fatores de crescimento e outras substâncias. Os principais prostanóides presentes no fluido peritoneal são: tromboxano, o metabólito da prostaciclina 6-ceto-1α α. Estas substâncias podem alterar a motilidade e velocidade dos espermatozóides, a maturação folicular, a contractilidade uterina, a ação ciliar tubária e o desenvolvimento embrionário. Mais recentemente, tem sido estudada a participação da citotoxicidade celular na patogênese da endometriose (SOUZA, VOLTARELLI, FERRIANI, 1997). Assim, a lise celular mediada por célula T, com atividade NK, era aumentada em cultura de células endometriais que modulavam a expressão de antígenos HLA classe I. O fato de o antígeno HLA-B7 inibir a citotoxicidade NK sugere que o crescimento de células endometriais ectópicas estava sob controle genético (SEMINO et al., 1995). 2.11 INFERTILIDADE E IMUNIDADE Segundo Piato (1997), o conceito arbitrário de esterilidade sem causa aparente (ESCA) aplica-se a casais que se mostram normais pela abordagem propedêutica, com dois anos no mínimo de tentativas para engravidar. Com base em Berek (2005), a infertilidade é definida como ausência de gravidez após um ano de reações sexuais freqüentes sem anticoncepção. Existem fortes evidências que apontam a autoimunidade como um fator importante na causa de infertilidade, especialmente quando não houver causa aparente. Em 10% a 20% dos casais inférteis, as investigações revelam a análise do sêmen normal, ovulação regular, cavidade uterina normal, teste pós-coito normal, trompas de falópio sem aderência e ausência de endometriose (ANTUNES, MATOS, 1992). Segundo Copeland (1996), dentre as causas da infertilidade feminina pode-se citar: malformações congênitas dos órgãos reprodutores femininos, anomalias genéticas, fatores uterinos como miomas, fatores tubários principalmente relacionados à infecção por clamídeas e micoplasma, fatores imunológicos como acontece na Síndrome Antifosfolipídica, 47 fatores hormonais, fatores ovarianos caracterizado por anovulação ou ovulação infrequente, fatores cervicais relacionados a qualidade do muco e fatores ambientais como tabagismo ou alcoolismo. As causas de infertilidade masculina podem ser divididas em causas prétesticulares, testiculares, pós-testiculares. As causas pré-testiculares geralmente estão relacionadas a produção ou deficiência de hormônios. As causas testiculares podem envolver fatores genéticos, inflamações, infecções, malformações dos órgãos reprodutores, entre outros. As causas pós-testiculares estão associadas à função e transporte espermático. A infertilidade primária refere-se a casais que nunca conseguiram estabelecer uma gravidez, enquanto a infertilidade secundária refere-se a casais que anteriormente tiveram uma gravidez, mas que atualmente têm dificuldade em estabelecer uma nova gravidez (STITES, TERR, PARSLOW, 2000). Porém um ou dois abortos pode ser aceitável como natural e não deve ser encarado como uma infertilidade. O aborto de repetição caracteriza a situação de um casal que experimenta três ou mais perdas gestacionais (SILVA, UTIYAMA, 2004). “A diferença entre infertilidade e esterilidade baseia-se no fato de que a esterilidade representa uma condição em que os recursos terapêuticos atuais não proporcionam cura” (SILVA, UTIYAMA, 2004). 2.11.1 Principais auto-anticorpos relacionados à infertilidade Existem vários fatores autoimunes relacionados à infertilidade, dentre eles podemos citar os auto-anticorpos antifosfolipídeos, como os anticorpos anticardiopilina e anticoagulante lúpico, os anticorpos antiespermatozóides e também alguns fatores mais raros que são os anticorpos antiovário e os anticorpos antizona pelúcida. Cada um desses fatores autoimunes possui mecanismos imunopatogênicos específicos (SILVA, UTIYAMA, 2004). Os espermatozóides são considerados potencialmente antigênicos tanto para o homem quanto para a mulher. Os anticorpos são estruturas que podem se ligar especificamente à cauda e a cabeça dos espermatozóides e podem interferir com a mobilidade, penetração no muco cervical e também na capacidade de fertilizar o óvulo, mesmo que a contagem de espermatozóide esteja normal (RIALE, 1992). 48 Os anticorpos antiespermatozóides foram estudados desde o início do século XX, quando foi mostrado que a inoculação intraperitoneal de espermatozóides na cobaia fêmea induzia à formação de anticorpos. (STITES, TERR, 2000). [...] podem levar a infertilidade de duas maneiras. A primeira é a citotoxidade dependente de complemento, que pode interferir no transporte do espermatozóide no trato genital ou também prejudicar o processo de interação celular na fertilização. A outra maneira são as doenças autoimunes direcionados contra as gônadas (ROSE et al., 1997). Vários mecanismos imunopatogênicos têm sido propostos em relação a presença de anticorpos na superfície dos espermatozóides : - Anticorpos ligados ao colo do espermatozóide levam a perda da motilidade - Anticorpos ligados a cabeça causam a perda da capacidade de fixação ao óvulo, pois não conseguem atravessar a zona pelúcida - Anticorpos podem ativar o sistema imune e provocar a fagocitose dos espermatozóides -Anticorpos interferem no desenvolvimento do embrião, algumas vezes conseguem fertilizar o óvulo, porém este embrião não se desenvolve (BRONSON, COOPER, ROSENFELD, 1984). “[...] Podem ser detectados anticorpos antiespermatozóides em ambos os sexos, no sangue e no líquido linfático (primariamente IgG), bem como nas secreções seminais locais ou cervicovaginais (primariamente IgA).” (STITES, TERR, 2000). “Os anticorpos antifosfolipideos estão presentes em até 5% da população normal, sendo mais freqüente em indivíduos da raça caucasiana.” (SILVA, UTIYAMA, 2004). Existem vários tipos de anticorpos antifosfolipídeos, mas os que mais se relacionam aos casos de infertilidade são os anticorpos anticardiolipina e anticoagulante lúpico. Estes anticorpos reagem com as moléculas de fosfolipídeos, que são parte da membrana da célula. Em conjunto os dois testes, o anticoagulante lúpico e anticardiolipina, são chamados de antifosfolipídeos (SILVA, UTIYAMA, 2004). 49 Os anticorpos antifosfolipídeos possuem atividade anticoagulante in vitro, mas na prática os anticorpos antifosfolipídeos estão relacionados a manifestações tromboembólicas arteriais e venosas, abortos de repetição, doenças autoimunes, neoplasias, quadros infecciosos virais e bacterianos (ASHERSON, 1998). Os mecanismos envolvidos na associação entre anticorpos anticardiolipina e doenças vasculares incluem várias combinações: ativação endotelial, aterogênicas, imunológicas e genéticas (HAVIV, 2000). Com a descoberta dos anticorpos antifosfolipídeos, vários mecanismos imunopatogênicos têm sido propostos: a ligação de um cofator denominado Beta 2Glicoproteína, a reação cruzada com o LDL (Low-density lipoprotein), apoptose, fatores genéticos, aumento na produção do inibidor de plasminogênio, entre outros. Contudo, os mecanismos imunopatogênicos estão basicamente relacionados a ativação endotelial e conseqüente formação de trombos, que podem ocorrer nos vasos placentários, prejudicando a irrigação e provocando abortos (HAVIV, 2000). Os anticorpos antiovário contribuem para o risco da infertilidade já que se observou a presença desses anticorpos em 30% de 110 pacientes com menopausa precoce devido à insuficiência ovariana prematura (SILVA, UTIYAMA, 2004). Estas mulheres que perdem a capacidade de ovular estão mais susceptíveis a dificuldade de engravidar. Também foi encontrada uma associação entre a ooforite, inflamação de um ou mais ovários, e a presença destes anticorpos. Estes anticorpos dirigiamse, sobretudo a células foliculares e da granulosa (HALBE, 1994). Os anticorpos antizona pelúcida interferem na capacidade de fertilização, pois no ciclo ovariano, a presença de camada de células que constituem a zona pelúcida é importante para a diferenciação do folículo, sendo a interferência nesta zona capaz de alterar o desenvolvimento folicular e, prejudicar a fertilização (SILVA, UTIYAMA, 2004). Os anticorpos antizona pelúcida podem ser encontrados também no sangue de mulheres férteis e até de homens. Portanto para obter-se um resultado com importância clínica 50 teria que ser desenvolvido um ensaio refinado para detecção de antígenos específicos, evitando reações falso-positivas (HALBE, 1994). 2.11.2 Testes Laboratoriais Exames de coagulação sanguínea são utilizados para detectar o anticoagulante lúpico (SILVA, UTIYAMA, 2004). O tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (KPTT) é um exame comum e ainda é o mais utilizado por ser um teste de baixo custo, rápido e facilmente automatizado (RAVEL, 1997). [...] o princípio deste teste baseia-se na utilização de plasma citratado que é ativado por fatores de contato (caolim, cefalite). Adiciona-se uma preparação padronizada de fosfolipídeos em baixa concentração como substituto de plaquetas, determinando-se o tempo de coagulação após adição de cálcio (HENRY, 1995). Atualmente no mercado existem testes de ELISA para detecção dos anticorpos antifosfolipideos. Entre eles pode-se citar o kit para detecção de anticorpos anticardiolipina IgG e IgM e anticorpos antiβ2-Glicoproteína IgG, IgM e IgA. ( SILVA, UTIYAMA, 2004). Os resultados dos anticorpos antifosfolipídeos são expressos em unidades GPL/MPL. As unidades recebem esta nomenclatura PL originária da palavra fosfolipídeos em inglês, e são diferenciadas pelas imunoglobulinas que as determinam G e M para as moléculas de IgG e IgM, respectivamente (SILVA, UTIYAMA, 2004). Atualmente, segundo a Organização Mundial de Saúde, dois tipos de testes são os mais utilizados para a pesquisa de anticorpos antiesperma nos diferentes fluidos e secreções: o teste com anticorpos marcados (Immunobead) e o teste de aglutinação (Mar-test) (COPELAND, 1996). O immunobead test é o melhor método atualmente disponível para detecção dos anticorpos. É uma metodologia simples, sensível e específica usada na investigação inicial de infertilidade imunológica. Este teste utiliza esferas de poliacrilamida ligadas a anticorpos antiimunoglobulinas humana e é capaz de detectar IgA,IgG e IgM (HALBE, 1994). 51 Segundo Antunes, Matos (1992), o Immunobeads test utiliza-se para determinar (as) região (ões) do espermatozóide na qual se fixaram moléculas de anticorpos. As microesférulas são revestidas com antiimunoglobulinas e quando misturadas com espermatozóides anteriormente incubados com soro de mulher, localizam-se em pontos destes, sendo visualizados com o auxílio de microscópico óptico. A Reação de Mistura com Antiglobulina detecta anticorpos antiespermatozóides no sêmen (teste direto), soro, plasma seminal e muco cervical (teste indireto) (SILVA, UTIYAMA, 2004). O teste direto consiste na mistura, em uma lâmina, de uma gota de sêmen fresco com partículas de látex marcadas com partículas antigênicas e cobertas com antiglobulinas anti-IgG e anti-IgA. A formação de aglutinação indica presença de anticorpos antiespermatozóides no esperma (SILVA, UTIYAMA, 2004). No teste indireto, os espermatozóides de um doador (teste direto negativo) são incubados com soro inativado da paciente. Caso ocorra a presença de anticorpos antiespermatozóides no soro, estes sensibilizarão os espermatozóides do doador, que então serão identificados com a aplicação do teste direto (SILVA, UTIYAMA, 2004). Esta metodologia possui a mesma sensibilidade e especificidade para detecção da IgG que o Immunobead Test, porém é muito menos sensível para detecção de IgA (ROSE et al.,1997). Para Antunes, Matos (1992), para pesquisa laboratorial da presença de anticorpos contra espermatozóides e substâncias contida no líquido espermático além dos dois testes citados por Silva, Utiyama (2004), existem também a Reação de Hemaglutinação passiva, Reação de imunofluorescência e os testes de imobilização do espermatozóide. O teste de Hemaglutinação passiva baseia-se no recobrimento de hemácias com antígenos obtidos de lisados de espermatozóides. As hemácias sensibilizadas são incubadas com soro ou secreções vaginais, observando-se, após duas horas, as formas das hemácias (patern) depositadas no fundo dos tubos (ANTUNES, MATOS, 1992). 52 Em reação de imunfluorescência, os espermatozóides são incubados com os soros e secreções vaginais e posteriormente tratados com antiimunoglobulina, marcadas com isotiocianato de fluoresceína. Este permite identificar as classes de anticorpos presentes no material estudado, revelando também a localização dos antígenos na superfície e no interior do espermatozóide (ANTUNES, MATOS, 1992). Os testes de imobilização do espermatozóide são feitos misturando-se espermatozóide com soro humano ou secreções vaginais incubados a 37°C durante 30 minutos. O material é em seguida examinado ao microscópico em lâmina. A aglutinação, se observada, poderá ser pela região da cabeça, colo e cauda (ANTUNES, MATOS, 1992). Este teste pode apresentar resultado falso-negativo, porque nem todos os anticorpos podem causar aglutinação. Pode ser melhorado adicionando-se complemento à mistura. Nesse caso, a visualização será da morte celular do espermatozóide mostrada pela incorporação de azul-de-tripan (ANTUNES, MATOS, 1992). 2.11.3 Tratamento Quanto à terapêutica mais adequada, a literatura apresenta controversa, porém a maioria sugere que algum anticoagulante deva ser utilizado (ASHERSON, 1998). O tratamento da infertilidade decorrente de compatibilidade HLA envolve a imunização materna com concentrados de linfócitos paternos, de forma que o sinal seja amplificado cerca de 10 mil vezes quando comparado ao nível normalmente encontrado na gestação inicial. A imunização com linfócitos paternos (PLI) consiste de vacinas que são aplicadas com intervalos médios de 4 semanas. E, 4 semanas após a segunda dose, o nível de APLA (anticorpos antilinfócitos paternos) é novamente medido (OLIVEIRA, 2006). A simples presença de anticorpos antifosfolipídeos não indica obrigatoriamente a necessidade de tratamento. Porém se o paciente apresenta anticorpos associados às manifestações da SAF (Síndrome Antifosfolipídica), torna-se necessário uma medida terapêutica (SILVA, UTIYAMA, 2004). Em função da etiologia não totalmente esclarecida, a terapia para os anticorpos antiespermatozóides inclui: diminuição dos níveis de anticorpos através da condoterapia em 53 mulheres, androgenoterapia nos homens, a inseminação intrauterina, imunossupressão por corticosteróides e mais recentemente a tentativa de degradação enzimática de anticorpos ligados à superfície dos espermatozóides (HALBE, 2000). “A fertilização in vitro e transferência do embrião, quando comparadas com os métodos rotineiros de tratamento da infertilidade imunológica [...] têm mostrado bons resultados” (ANTUNES, MATOS, 1992). Para Souza et al., 1996, apesar do avanço dos programas de fertilização in vitro, existem grandes lacunas no conhecimento deste campo, pois pouca melhora se notou, por exemplo, na taxa de implantação do embrião. As razões para a falha no sucesso da implantação do embrião são complexas e multifatoriais. Uma alteração do mecanismo imunológico normal, que envolve a implantação, pode conduzir a falha no estabelecimento de uma gestação clínica, após fertilização in vitro e transferência do embrião, representando apenas uma faceta deste problema. 54 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da revisão bibliográfica percebeu–se que evolução progressiva dos conhecimentos no que se refere à imunologia celular e tecidual tem permitido um acúmulo constante de informações as quais, muitas vezes, quando aplicadas de maneira correta na medicina clínica, facilita bastante o diagnóstico e o tratamento de pacientes com alguma disfunção imunológica e consequentemente patológica. O sistema imunológico apresenta um importante papel, não apenas como órgão de defesa contra agressões externas, mas também como mediador do equilíbrio dinâmico do organismo. No sistema reprodutor humano tem participação desde a deposição do espermatozóide, passando pela interação entre endométrio e blastocisto, fecundação, implantação, manutenção da gestação, até o nascimento do feto. O estudo conclui que no caso de modificações na produção de substâncias próprias do Sistema Imunológico na Reprodução Humana, podem acarretar alterações no processo reprodutivo e, clinicamente, podem manifestar-se como um amplo espectro de patologias, como o aborto recorrente, uma endometriose, e/ou infertilidade. Esta pesquisa nos mostra que os avanços da medicina reprodutiva estão ligados intimamente com fatores imunológicos próprios da mãe e do pai como a interação antígeno – anticorpo. Sendo o espermatozóide um corpo estranho para sistema imunológico feminino e que o feto por possuir características genéticas pertencentes ao pai também pode ser um fator de intolerância por parte do organismo feminino é de extrema importância o estudo destes fatores imunológicos para a concepção e consolidação da gravidez. 55 4 REFERÊNCIAS: ANTUNES, Lucyr Jr; MATOS, Kimble F.M. Imunologia Médica. São Paulo: Editora Atheneu, 1992. 401p. AOKI, K.; KAJIURA, S.; MATSUMOTO, Y.; OGASAWARA, M.; OKADA, S.; YAGAMI, Y.; GLEICHER, N. Preconceptional natural-killer-cell activity as a predictor of miscarriage. Lancet, 1995. 345, 1340 - 1342. ASHERSON, R.A. Síndrome Fosfolipídica Catastrófica: Características Clínicas e Laboratoriais de 50 pacientes.. Medicine, [S.I.], 1998, v. 77, p. 195-210. BAINES, M.G.; MILLAR, K.G.; MILLS, P. Studies of complement levels in normal human pregnancy Obstet Gynecol, 1974. 43: 806–810. BARINI, Ricardo; COUTO, Egle; KWAK-KIM, Joanne Y.H.; BEER, Alan E. Imunologia da Reprodução, 2004. Disponível em: < http://www.imunorepro.med.br/artigos/docs/ImunologiaReprodu%8D%8Bo.pdf > . Acesso em: 23 mar. 2006 BEER A.E.; NEED J.A. Immunological aspects of pre-eclampsia /eclampsia. Birth Defects. 1985. 21:313. BEER A.E.; KWAK J.Y.H.; RUIZ J.E. Immunophenotypic profiles of peripheral blood lymphocytes in women with recurrent pregnancy losses and in infertile women with multiple failed in vitro fertilization cycles. Am. J. Reprod. Immunol, 1996. 35:376 BEHAR E. et al. Differential suppression activity induced by paternal leukocyte immunization in habitual abortion. Gynecol Obstet Invest, 1993. 36: 202-207. BEREK, Jonathan S. Novak Tratado de Ginecologia. Décima terceira edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2005. 1338p 56 BOYD J.D.; HAMILTON W.J. The giant cells of the human pregnant uterus. J. Obstet. Gynecol. Br. Emp, 1960. 67:208. BRADLEY, L.M.; HARBERTSON, J.; BIEDERMAN, E.; ZHANG, Y.; BRADLEY, S.M.; LINTON, P.J. Availability of antigen-presenting cells can determine the extent of CD4 effector expansion and priming for secretion of Th2 cytokines in vivo. Eur. J. Immunol., 2002. 32, 2338 - 2346. BRANDON J.M. Leucocyte distribution in the uterus during the preimplantation period of pregnancy and phagocyte recruitment to sites of blastocyst attachment in mice. J. Reprod. Fertil, 1993. 98:567. BRONSON R.; COOPER G.; ROSENFELD D. Sperm Antibodies: their role in infertility. Fertility and Sterility, Birmingham, 1984. v. 42, p.171. BULMER JN. Immunology of the uterine decidual response. In: COULAM CB; FAULK WP & MCINTYRE JA. Immunological obstetrics, W W Norton & Company, New York, 1992. p. 245-255. BULMER JN. Immune cells in decidua. InKurpisz M and N Fernandez (eds):Immunology of Human Reproduction. Oxford, Bio Scientific Publishers, 1995. p313. BULMER JN; SMITH J; MORRISON L, et al. Maternal and fetal cellular relationship in the human placental basal plate. Placenta, 1988. 9:237. BULMER, J.N.; MORRISON, L.; LONGFELLOW, M.; RITSON, A; PACE, D. Granulated lymphocytes in human endometrium: histochemical and immunohistochemical studies. Hum. Reprod, 1991. 6, 791 - 798. CARROLL, M.C. The complement system in regulation of adaptive immunity. Nat Immunol, 2004. 5: 981–986. 57 CAULFIELD JJ; SARGENT IL; FERRY BL, et al. Isolation and characterisation of a subpopulation of human chorionic cytotrophoblast using a monoclonal anti-trophoblast antibody (NDOG2) in flow cytometry. J Reprod Immunol, 1992. 21:71. CHAOUAT G.; TRANCHOT D.J.; VOLUMENIE J.L., et al. Immune suppression and Th1/Th2 balance in pregnancy revisited: a (very) personal tribute to Tom Wegmann. 1997. CHAOUAT, G.; ASSAL MELIANI, A.; MARTAL, J.; RAGHUPATHY, R.; ELLIOT, J.; MOSMANN, T.; WEGMANN, T.G. IL-10 prevents naturally occurring fetal loss in the CBA x DBA/2 mating combination, and local defect in IL-10 production in the abortionprone combination is corrected by in vivo injection of IFN-tau. J. Immunol., 1995. 154, 4261 - 4268. CHAOUAT G.; MENU E.; CLARK D.A.; MINKOWSKI M.; WEGMANN T.G.. Control of fetal survival in CBA x DBA/2 mice by lymphokine therapy. J Reprod Fertil. 1990. 89: 447-58. CHAOUAT, G.; MENU, E.; DELAGE, G.; MOREAU, J.F.; KHRISHNAN, L.; HUI, L.; MELIANI, A.A.; MARTAL, J.; RAGHUPATHY, R.; LELAIDIER, C. Immuno-endocrine interactions in early pregnancy. Hum. Reprod., 1995. 10 (Suppl. 2), 55 - 59. CHOUDHURY S.R.; KNAPP L.A.. Human reproductive failure II: immunogenetic and interacting factors. Hum Reprod Update, 2001. 7:135-60. CHRISTIANSEN O.B. et al. Placebo-controlled trial of active immunization with third party leukocytes in recurrent miscarriage. Acta Obtet Gynecol Scand, 1994. 73: 261-268. CHRISTIANSEN O.B. A fresh look at the causes and treatments of recurrent miscarriage, especially its immunological aspects. Human Reprod Update 1996. 2:271-93. CHUMBLEY G.; KING A.; ROBERTSON K., et al. Resistance of HLA-G and HLA-A2 transfectants to lysis by decidual NK cells. Cell Immunol, 1994. 155:312. 58 CHUMBLEY G.; KING A.; HOLMES N., et al. In situ hybridization and northern blot demonstration of HLA-G mRNA in human trophoblast populations by locus-specific oligonucleotide. Hum Immunol, 1993. 37:17. CLARK D.A.; VINCE G.; FLANDERS K.C., et al. CD56+ lymphoid cells in human first trimester pregnancy decidua as a source of novel transforming growth factor-beta 2related immunosuppressive factors [published erratum appears in Hum Reprod 1995.Apr;10(4):976]. Hum Reprod, 1994 9:2270. CLIFFORD K.; RAI R.; WATSON H.; REGAN L. An informative protocol for the investigation of recurrent miscarriage: preliminary experience of 500 consecutive cases. Human Reprod, 1994. 9:1328-32. COCHRANE, C.G.; MULLER-EBERHARD, H.J. The derivation of two distinct anaphylatoxin activities from the third and fifth components of human complement J Exp Med, 1968. 127: 371–386. COMEGLIO, P.; FEDI, S.; LIOTTA, A.A., et al. Blood clotting activation during normal pregnancy. Thromb Res, 1996. 84: 199–202. COPELAND, Larry J.; JARREL, John F.; McGREGOR, James A. Tratado de Ginecologia. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 1996. p. 227,258,334,335. COULAM C.B.; FAULK W.P.; MCINTYRE J.A. Overview of recurrent pregnancy loss. In: COULAM C.B., FAULK W.P., MCINTYRE J.A. Immunological obstetrics, W W Norton & Company, New York, 1992. p. 245-255. COULAM, C.B.; SILVERFIELD, J.C.; KAZMAR, R.E.; FATHMAN, C.G. Tlymphocyte subsets during pregnancy and the menstrual cycle. Am. J. Reprod. Immunol., 1983. 4, 88 90. CROSS J.C.; WERB Z.; FISHER S.J. Implantation and the placenta: key pieces of the development puzzle. Science, 1994. 266: 1508-81. 59 CROXATTO, Horácio B. Noções básicas sobre a geração de um novo ser humano e a ação da anticoncepção oral de ermegência. Instituto Chileno de Medicina Reproductiva, 1994. DAMSKY, C.H.; FITZGERALD, M.L.; FISHER, S.J. j Clin Invest. 1992. 89 – 210. DANGELO, J.C.; FATTINI, C.A. Anatomia Humana Básica. Minas Gerais: Editora Atheneu, 1995. 260p. DEGENNE D.; KHALFOUN B.; BARDOS P. In vitro inhibitory effect of human syncytiotrophoblast plasma membranes on the cytolytic activities of CTL and NK cells. Am J Reprod Immunol Microbiol, 1986. 12:106. DEGENNE D.; THIBAULT G.; GUILLAUMIN J.M., et al. Syncytiotrophoblast plasma membrane inhibits membrane expression of activation markers on PHA –stimulated human lymphocytes. J Reprod Immunol 1991. 20:183. DRAKE B.L.; HEAD J.R. Murine trophoblast can be killed by lymphokine-activated killer cells. J Immunol 1989. 143:9-14. DUDLEY D.J.; BRANCH D.W. New approaches to recurrent pregnancy loss. Clin Obstet Gynecol, 1989. 32: 520-532. DUDLEY D.J.; MITCHELL M.D.; CREIGHTON K., et al. Lymphokine production during term human pregnancy: differences between peripheral leukocytes and decidual cells. Am J Obstet Gynecol, 1990. 163:1890. EDMONDS D.K., et al. Early embryonic mortality in women. Fertil Steril, 1982. 38: 447453. EFRATI P.; PRESENTEY B.; MARGALITH M, et al., Leukocytes of normal pregnant women Obstet Gynecol, 1964. 23: 429-432. 60 FAY T.N; GRUDZINSKAS J.G. Human endometrial peptides: a review of their potential role in implantation and placentation, 1991. Hum Reprod 6: 1311-1326. FIZET D.; BOUZGARROU R.; VEZON G. Lymphocyte immunization generates immunosupressive factors in women with recurrent abortions. Gynecol Obstet, Invest, 1990. 30: 8-11. GEISELHART A.; DIETL J,; MARZUSCH K., et al. Comparative analysis of the immunophenotypes of decidual and peripheral blood large granular lymphocytes and T cells during early human pregnancy. Am J Reprod Immunol, 1995. 33:315. GERMAIN, S.; REDMAN, C.; SARGENT, I. Peripheral blood dendritic cells are decreased in pre-eclampsia. Hypertension in Pregnancy, 2002. 21, 96. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. GIRARDI, G.; BERMAN, J; REDECHA, P., et al. Complement C5a receptors and neutrophils mediate fetal injury in the antiphospholipid syndrome. J Clin Invest, 2003. 112: 1644–1654. GLEICHER N.; EL-ROEIY A. The reproductive autoimmune failure syndrome . Am J Obstet Gynecol , 1988. 59: 223-227. GLEICHER N. Autoimmunity in obstetrics and gynecology. In: COULAM CB; FAULK W.P; MCINTYRE J.A. Immunological obstetrics. W W Norton & Company, London. 1992. p. 404-411. GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. In: Revista de Administração de Empresas. São Paulo: v.35, n.2, p. 57-63, abril 1995. GORSKI, J.P.; HUGLI, T.E.; MULLER-EBERHARD, H.J. C4a: the third anaphylatoxin of the human complement system Proc Natl Acad Sci USA, 1979. 76: 5299–302. HALBE, Hans Wolfgang. Tratado de Ginecologia. 2. ed. São Paulo: Editora Roca, 1994. p. 1360-1387, 1539-1564. 61 HALBE, Hans Wolfgang. Tratado de Ginecologia. 3. ed. São Paulo: Editora Roca, 2000. p. 356-358, 1695-1696. HALME J.; BECKER S.; HASKILL S. Altered maturation and function of peritoneal macrophages: a possible role in pathogenesis of endometriosis. Am J Obstet Gynecol, 1987.156: 783-787. HAVIV, Y.S. Association of cardiolipin antibodies with vascular injury: Possible mechanisms. Postgraduate Medical Journal, London, 2000. v.76, n.900, p.625- 630. HAYNES M.K.; FLANAGAN M.T.; PERUSSIA B., et al. Isolation of decidual lymphocytes from chorionic villus samples: phenotypic analysis and growth in vitro. Am J Reprod Immunol, 1995. 33:190. HENDERSON, T.A.; SAUNDERS, P.T.; MOFFET-KING, A.; GROOME, N.P.; CRITCHLEY, H.O. Steroid receptor expression in uterine natural killer cells. J. Clin. Endocrinol. Metab., 2003. 88, 440 - 449. HENRY, John Bernard. Diagnósticos Clínicos e Tratamento. 8. ed. São Paulo: Manole LTDA., 1995. p. 854-858. HILL J.A. Immunological mechanisms of pregnancy maintenance and failure: a critique of theories and therapy. Am J Reprod Immunol, 1990. 22: 33-42. HILL, J.A.; POLGAR, K.; ANDERSON, D.J. T-helper 1-type immunity to trophoblast in women with recurrent spontaneous abortion. JAMA, 1995. 273, 1933 - 1936. HO H.N.; CHAO K.H.; CHEN C.K., et al.: Activation status of T and NK cells in the endometrium throughout menstrual cycle and normal and abnormal early pregnancy. Hum Immunol, 1996. 49:130. HOLMES, C.H.; SIMPSON, K.L.; OKADA, H., et al. Complement regulatory proteins at the feto-maternal interface during human placental development: distribution of CD59 62 by comparison with membrane cofactor protein (CD46) and decay accelerating factor (CD55) Eur J Immunol, 1992. 22: 1579–1585. HSI, B.L.; HUNT, J.S.; ATKINSON, J.P. Differential expression of complement regulatory proteins on subpopulations of human trophoblast cells J Reprod Immunol, 1991. 19: 209–223. HUNT J.S.; ROBERTSON S.A. Uterine macrophages and environmental programming for pregnancy success. J Reprod Immunol, 1996. 32:1. HUNT J.S.; CHEN H.L.; MILLER L. Tumor necrosis factors: pivotal components of pregnancy? Biol Reprod, 1996. 54:554-62. HUNT J.S. Cytokine networks in the uteroplacental unit: macrophages as pivotal regulatory cells. J Reprod Immunol, 1989. 16:1. HUNT J.S. Immunologically relevant cells in the uterus. Biol Reprod. 1994. 50:461. HUNT J.S.; MILLER I.; VASSMER D., et al. Expression of the inducible nitric oxide synthase gene in mouse uterine leukocytes and potential relationships with uterine function during pregnancy. Biol. Reprod. 1997. 57:827. IWATANI Y.; AMINO N.; TACHI J., et al. Changes of lymphocyte subsets in normal pregnant and postpartum women: postpartum increase in NK/K (Leu 7) cells. Am J Reprod Immunol Microbiol. 1988. 18:52. JENKINS S.; OLIVE D.L.; HANEY A.F. Endometriosis: pathogenic implications of the anatomic distribution . Obstet Gynecol. 1986. 67: 335-338. JOHNSON P.M.; DENIZ G.; MCLAUGHLIN P.J., et al. Functional properties of cloned CD3-decidual leucocytes and low-affinity cytokine receptor expression on human trophoblast. In Reproductive immunology. New York, Raven press, 1993. p141. 63 JOKHI P.P.; KING A.; LOKE Y.W. Production of granulocyte-macrophage colonystimulating factor by human trophoblast cells and by decidual large granular lymphocytes. Hum Reprod, 1994. 9:1660. KABAWAT S.E.; MOSTOUFI-ZADEH M.; DRISCOLL S.G., et al. Implantation site in normal pregnancy. Am. J. Pathol, 1985. 76. KELLER M.A. Immunology of lactation. In: COULAM C.B.; FAULK W.P.; MCINTYRE J.A. Immunological obstetrics, W W Norton & Company, New York, 1992. p. 315-330. KIM, A.H.; DIMITRIOU, I.D; HOLLAND, M.C. et al., Complement C5a receptor is essential for the optimal generation of antiviral CD8 + T cell responses J Immunol, 2004. 173: 2524–2529. KING A.; LOKE, Y.W. Uterine large granular lymphocytes: a possible role in embryonic implantation? Am J Obstet Gynecol, 1990. 162: 308-310. KING A.; BOOCOCK C.; SHARKEY A.M.; et al. Evidence for the expression of HLAAC class I mRNA and protein by human first trimester trophoblast. J Immunol, 1996. 156 : 2068. KING A.; BURROWS T.; LOKE Y.W. Human uterine Natural Killer cells. Nat Immun, 1996. 15 : 41. KING A.; GARDNER L.; LOKE Y.W. Human decidual leukocytes do not proliferate in response to either extravillous trophoblast or allogeneic peripheral blood lymphocytes. J Reprod Immunol, 1996. 30 : 67. KING A.; HILBY S.E.; VERMA S., et al. Uterine NK cells and trophoblast HLA class Imolecules. Am. J. Reprod. Immunol, 1997. 37 : 459. KING A.; JOKHI P.P.; BURROWS T.D., et al. Functions of human decidual NK cells. Am J Reprod Immunol, 1996. 35 : 258. 64 KOMLOS, L. et al. Common HLA antigens in couples with repeated abortions. Clin Immunol Immunopathol, 1977. 7: 330-335. KOVATS S.; MAIN E.K.; LIBRACH C., et al.: A class I antigen, HLA-G, expressed in human trophoblasts. Science, 1990. 248:220. KRAUSE, P.J.; INGARDIA, C.J.; PONTIUS, L.T.; MALECH, H.L.; LOBELLO, T.M.; MADERAZO, E.G. Host defence during pregnancy: neutrophil chemotaxis and adherence. Am. J. Obstet. Gynecol., 1987. 157, 274±280. KUHNERT, M.; STROHMEIER, R.; STEGMULLER, M.; HALBERSTADT, E. Changes in lymphocyte subsets during normal pregnancy. Eur. J. Obstet. Gynecol. Reprod. Biol., 1998. 76, 147 - 151. KUTTEH, W.H. et al Antisperm antibodies current knowledge and new horizons. Mol Androl. 1993. 4: 183. KWAK J.Y.; KWAK F.M.; AINBINDER S.W., et al. Elevated peripheral blood Natural Killer cells are effectively downregulated by immunoglobulin G infusion in women with recurrent spontaneous abortions. Am J Reprod Immunol, 1996. 35:363. LACHAPELLE M.H.; MIRON P.; HEMMINGS R., et al. Endometrial T, B, and NK cells in patients with recurrent spontaneous abortion. Altered profile and pregnancy outcome. J Immunol, 1996. 156:4027. LANGMAN Jan, M.D. Embriologia Médica. Quarta edição. São Paulo: Editora Atheneu, 1985. 354p LESSIN D.L.; HUNT J.S.; KING C.R.; et al.: Antigen expression by cells near the maternal fetal interface. Am. J. Reprod. Immunol, 1988. 16:1. 65 LEVY, D.L.; ARQUEMBOURG, P.C. Maternal and cord blood complement activity: relationship to premature rupture of the membranes Am J Obstet Gynecol, 1981. 139: 38–40. LIN, H.; MOSMANN, T.R.; GUILBERT, L.; TUNTIPOPIPAT, S.; WEGMANN, T.G. Synthesis of T helper 2-type cytokines at the maternal-fetal interface. J. Immunol., 1993. 151, 4562 - 4573. LOBO S.C.; HUANG S.T.J.; GERMEYER A., et al: The immune environment in human endometrium during the window of implantation. Am J Reprod Immunol, 2004. 52: 24451. LUPPI, P.; HALUSZCZAK, C.; BETTERS, D.; RICHARD, C.A.; TRUCCO, M.; DELOIA, J.A. Monocytes are progressively activated in the circulation of pregnant women. J. Leukoc. Biol., 2002. 72, 874 - 884. LUPPI, P.; HALUSZCZAK, C.; TRUCCO, M.; DELOIA, J.A. Normal pregnancy is associated with peripheral leukocyte activation. Am. J. Reprod. Immunol., 2002. 47, 72 81. MARGNI, Ricardo Aníbal. Inmunología e Inmunoquímica fundamentos. 5. ed. Buenos Aires: Médica Panamericana S.A, 1996. 976p. MARZI M.; VIGANO A.; TRABATTONI D., et al. Characterization of type 1 and type 2 cytokine production profile in physiologic and pathologic human pregnancy. Clin Exp Immunol 1996. 106:127-33. MATHUR S. et al. Autoimmunity to endometrium and ovary in endometriosis. Clin Exp. Immunol, 1982. 56: 259-266. MATTAR, Rosiane; CAMANO, Luiz; DAHER, Silva. Aborto Espontâneo de Repetição e Atopia. São Paulo: 2003. 331 – 335. Disponível http://test.scielo.br/pdf/rbgo/v25n5/16818.pdf > . Acesso em: 4 abr. 2006 em: < 66 MATTHIESEN, L.; BERG, G.; ERNERUDH, J.; HAKANSSON, L. Lymphocyte subsets and mitogen stimulation of blood lymphocytes in normal pregnancy. Am. J. Reprod. Immunol., 1996. 35, 70 - 79. MCCORMICK, J.N.; FAULK, W.P.; FOX, H. et al., Immunohistological and elution studies of the human placenta. J Exp Med, 1971. 133: 1–18. McINTYRE J.A.; FAULK W.P. Allotypic trophoblast-lyphocyte cross-reactive (TLX) cell surface antigens. Human Immuno, 1982. l4: 27-35. MCMASTER M.T.; LIBRACH C.L.; ZHOU Y., et al.: Human placental HLA-G expression is restricted to differentiated cytotrophoblasts. J Immunol , 1995. 154:3771. MILLER L.; HUNT J.S. Sex steroid hormones and macrophage function. Life Sci, 1996. 59:1. MINAGAWA, M.; NARITA, J.; TADA, T.; MARUYAMA, S.; SHIMIZU, T.; BANNAI, M.; OYA, H.; HATAKEYAMA, K.; ABO, T. Mechanisms underlying immunologic states during pregnancy: possible association of the sympathetic nervous system. Cell. Immunol.,1999. 196, 1 - 13. MINCHEVA-NILSSON L.; BARANOV V.; YEUNG M.M.; et al. Immunomorphologic studies of human decidua-associated lymphoid cells in normal early pregnancy. J Immunol 152:2020, 1994. MONTELEONE, Pedro P. R.; VALENTE, Carlos A. Infectologia em Ginecologia e Obstetrícia. São Paulo: Editora Atheneu. 1998. 184p. MOSMANN, T.R.; CHERWINSKI, H.; BOND, M.W.; GIEDLIN, M.A.; COFFMAN, R.L. Two types of murine helper T cell clone. I. Definition according to profiles of lymphokine activities and secreted proteins. J. Immunol., 1986. 136, 2348±2357. MOWBRAY J.F. et al. Controlled trial of treatment of recurrent spontaneous abortion by immunization with paternal cells. Lancet, 1985. 1: 931-933. 67 NACCASHA, N.; GERVASI, M.T.; CHAIWORAPONGSA, T.; BERMAN, S.; YOON, B.H.; MAYMON, E.; ROMERO, R. Phenotypic and metabolic characteristics of monocytes and granulocytes in normal pregnancy and maternal infection. Am. J. Obstet. Gynecol., 2001. 185, 1118 - 1123. NIEUWENHOVEN, Veenstra V.; BOUMAN, A.L.; MOES, A.; HEINEMAN, H.; DE LEIJ, M.J.; SANTEMA, L.F.M.H.; J. and FAAS, M.M. Cytokine production in natural killer cells and lymphocytes in pregnant women compared with women in the follicular phase of the ovarian cycle. Fertil. Steril , 2002. 77, 1032-1037. NIEUWENHOVEN, Veenstra V.; HEINEMAN, M.J.; FAAS, M.M. The immunology of successful pregnancy. 2003. 347 – 357p. Disponível em: < http://humupd.oxfordjournals.org/cgi/reprint/9/4/347 >. Acesso em: 4 abr. 2006 NISHIOKA, Y.; NISHIMURA, N.; SUZUKI, Y.; SONE, S. Human monocyte-derived and CD83(+) blood dendritic cells enhance NK cellmediated cytotoxicity. Eur. J. Immunol., 2001. 31, 2633 - 2641. OBER C, STECK T, VAN DER VEN K, et al.: MHC class II compatibility in aborted fetuses and term infants of couples with recurrent spontaneous abortion. J Reprod Immunol, 1993. 25:195. OBER C.; ROSINSKY B.; GRIMSLEY C., et al.: Population genetic studies of HLA-G: allele frequencies and linkage disequilibrium with HLA-A1. J Reprod Immunol, 1996. 32:111. OBER C.L. et al. Adverse effects of human leukocytes antigen- DR sharing on fertility: a cohort study in a human isolate. Fertil Steril, 1985. 44: 227-232. OLIVEIRA M. Ricardo. Aspectos imunológicos em reprodução humana : parte II . Boletim da SBRH. São Paulo: 2006. 68 OSADA, T.; NAGAWA, H.; KITAYAMA, J.; TSUNO, N.H.; ISHIHARA, S.; TAKAMIZAWA, M.; SHIBATA, Y. Peripheral blood dendritic cells, but not monocytederived dendritic cells, can augment human NK cell function. Cell. Immunol., 2001. 213, 14 - 23. OSTENSEN, M.; AUNE, B.; HUSBY, G. Effect of pregnancy and hormonal changes on the activity of rheumatoid arthritis. Scand. J. Rheumatol., 1983. 12, 69 - 72. OZENCI, C.C.; KORGUN, E.T.; DEMIR, R. Immunohistochemical detection of CD45+, CD56+, and CD14+ cells in human decidua during early pregnancy. Early Pregnancy, 2000. 5, 164 - 175. PERSELLIN, R.H.; THOI, L.L. Human polymorphonuclear leukocyte phagocytosis in pregnancy. Development of inhibition during gestation and recovery in the postpartum period. Am. J. Obstet. Gynecol., 1979. 134, 250 - 254. PIATO, Sebastião. Tratado de Ginecologia. São Paulo: Editora Artes Médicas Ltda, 1997. 739p PIJNENBORG R.; DIXON G.; ROBERTSON W.B., et al.: Trophoblast invasion of human decídua from 8 to 18 weeks of pregnancy. Placenta, 1980. 1:3. POLLARD J.W.; HUNT J.S.; WITKOR-JEDRZEJCZAK W., et al.: A pregnancy defect in the osteopetrotic (op/op) mouse demonstrates the requirement for CSF-1 in female fertility. Dev. Biol, 1991. 148:273. RAGHUPATHY R. Th1-type immunity is incompatible with successful pregnancy. Immunol Today, 1997. 18:478-82. RAVEL, Richard. Laboratório Clínico: Aplicações Clínicas dos Dados Laboratoriais. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. p. 90-91. REGAN L.; BRAUDE P.R. Is antiparternal cytotoxic antibody a valid marker in the management of recurrent abortion? Lancet, 1987. 28: 1280. 69 RIALE, James W. Overstreet. Male Infertlity. Infertility and Reproductive Medicine Clinics of North America. Philadelphia: W.B. Saunders Company, v.3, nº2, 1992. p.413423, abr. RODELLE, Bernard. Novos conceitos em Imunologia. São Paulo: Organizações Audrey Editora LTDA, 1987. 260p. ROITT I.; BROSTOFF J.; MALE D. Immunology. In St. Louis, Mosby, 1993. p8.8. ROMERO R, MANOGUE KH, MITCHELL MD, et al.: Infection and labor. IV. Cachectintumor necrosis factor in the amniotic fluid of women with intraamniotic infection and preterm labor. Am. J. Obstet. Gynecol. 161:336, 1989. ROSE, Noel R., et al. Manual of Clinical Laboratory Immunology. 5 ed. Washington: ASM Press Washington D.C., 1997. p 949-953, 1013-1017. SACKS, G.; SARGENT, I.;REDMAN, C. An innate view of human pregnancy. Immunol. Today, 1999. 20, 114 - 118. SACKS, G.P.; STUDENA, K.; SARGENT, I.L.; REDMAN, C.W. Normal pregnancy and preeclampsia both produce in¯ammatory changes in peripheral blood leukocytes akin to those of sepsis. Am. J. Obstet. Gynecol. 1998. 179, 80-86. SANDERS S.K. GIBLIN P.A.; KAVATHAS P. Cell-cell adhesion mediated by CD8 and human histocompatibility leukocyte antigen G, a nonclassical major histocompatibility complex class 1 molecule on cytotrophoblasts. J Exp Med, 1991. 174:737. SASAGAWA M.; YAMAZAKI T.; ENDO K, et al.: Immunohistochemical localization of HLA antigens and placental proteins (alpha hCG, beta-hCG, CTP, hPL and SP1) in villous and extravillous trophoblast in normal human pregnancy: a distinctive pathway of differentiation of extravillous trophoblast. Placenta , 1987. 8 – 515. SCHLUTER, Roswitha. O Milagre da vida. São Paulo: editora Nova época, (19_ _) 170p. 70 SCHUMACHER, W.A; FANTONE, J.C; KUNKEL, S.E., et al . The anaphylatoxins C3a and C5a are vasodilators in the canine coronary vasculature in vitro and in vivo Agents Actions, 1991. 34: 345–349. SEMINO C. et al. Role of major histocompatibility complex class I expression and natural killer-like T cells in the genetic control of endometriosis. Fertil Steril, 1995. 64: 909-916. SESSION A.; HORWITZ A. Myoblast aminophospholipid asymmetry differs fromthat of fibroblasts. FEBS Lett , 1981. 134:75. SHETTLES, L.B. Fertilization and early development from the inner cell mass. Londres: 1970. SIEGEL, I.; GLEICHER, N. Changes in peripheral mononuclear cells in pregnancy. Am. J. Reprod. Immunol., 1981. 1, 154 - 155. SILVA, Juliana S.A.; UTIYAMA, Shirley R.R. Principais Auto-Anticorpos Envolvidos na Infertilidade Masculina e Feminina, com Ênfase nos Aspectos Clínicos e Laboratoriais. Paraná: 2004. 233 – 238p. Disponível em: < http://www.sbac.org.br/pdfs/rbac3704_08.pdf > . Acesso em: 23 mar. 2006 SIMÓN C. et al. Interleukin-1 system crosstalk between embryo and endometrium in implantation. Hum Reprod, 1995. 10: 43-54. Supplement 2. SOUZA S.S. et al. Aspectos imunológicos da infertilidade conjugal. Reprod Climat, 1996. 11: 16-20. SOUZA S.S. Avaliação de teste imunológicos em pacientes com aborto recorrente. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, Ribeirão Preto, 1996. p. 1-95. 71 SOUZA S.S.; VOLTARELLI J.C.; FERRIANI R.A. Interação imunoneuroendócrina. Reprod Climat. ,1996. 11:117-124. SOUZA, Sulani S.; VOLTARELLI, Júlio C.; FERRIANI, Rui A. Imunologia da Reprodução Humana. São Paulo: 1997. 277p – 288p. Disponível em: < http://www.fmrp.usp.br/revista/1997/vol30n2/imunologia_reproducao_humana.pdf > . Acesso em: 24 mar. 2006 STEACK T. et al. HLA-DQA1 and HLA-DQB1 haplotypes in aborted fetuses and couples with recurrent spontaneous abortion. J Reprod Immunol, 1995. 29: 95-104. STEINMAN, R.M. The dendritic cell system and its role in immunogenicity. Annu. Rev. Immunol., 1991. 9, 271±296. STIRLING, Y.; WOOLF, L.; NORTH, W.R. et al, . Haemostasis in normal pregnancy Thromb Haemost, 1984. 52: 176–182. STIRRAT G.M. Recurrent Miscarriage I definition and epidemiology. 1990. Lancet 336: 673-675 STIRRAT G.M. Recurrent spontaneous abortion. In: COULAM C.B.; FAULK W.P.; MCINTYRE J.A. Immunological obstetrics. W W Norton & Company, London, 1992. p357-376. STITES, Daniel P.; TERR Abba I. Imunologia Básica. Rio de Janeiro: Prentice - Hall do Brasil - Ltda, 1992. 187p. STITES, Daniel P.; TERR Abba I.; PARSLOW, Tristam G. Imunologia Médica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2000. 689p. TAKAKUWA K. et al. Influence of immunotherapy on the cellular immunity of unexplained recurrent aborts. J Reprod Immunol , 1991. 20:153-163. 72 TEDESCO, F.; NARCHI, G.; RADILLO, O. et al, Susceptibility of human trophoblast to killing by human complement and the role of the complement regulatory proteins. J Immunol, 1993. 151: 1562–1570. VARNER, M.W. Autoimmune disorders and pregnancy. Semin. Perinatol., 1991. 15, 238 250. VASSILIADIS S.; RANELLA A.; PAPADIMITRIOU L.; MAKRYGIANNAKIS L.A.; ATHANASSAKIS I. Serum levels of pro- and anti-inflammatory cytokines in nonpregnant women, during pregnancy, labour and abortion. Mediators Inflamm 1998. 7:69-72. WANG H.; ZHANG M.; SODA K. et al. Fetuin protects the fetus from TNF. Lancet, 1997 350:861 WATANABE, M.; IWATANI, Y.; KANEDA, T.; HIDAKA, Y.; MITSUDA, N.; MORIMOTO, Y.; AMINO, N. Changes in T, B, and NK lymphocyte subsets during and after normal pregnancy. Am. J. Reprod. Immunol., 1997. 37, 368:377. WEED J.C.; ARGUEMBOURG P.C. Endometriosis: can it produce na autoimmune response resulting in infertility? Clin Obstet Gynecol, 1980. 23: 885-895. WEGMANN, T.G.; LIN, H.; GUILBERT, L.; MOSMANN, T.R. Bidirectional cytokine interactions in the maternal-fetal relationship: is successful pregnancy a TH2 phenomenon? Immunol. Today,1993. 14, 353:356. WEINBERG E.D. Iron Withholding: a defense against infection and neoplasia. Rev. 64(1) 1984. 65-102p. WILLIAMS, D.B.; BACHY, V.; IBRAHIM, M. Preeclampsia and activation of maternal innate immunity. Hypertension in Pregnancy, 2002. 21, 104. 73 XU, C.; MAO, D.; HOLERS, V.M. et al. A critical role for murine complement regulator crry in fetomaternal tolerance. Science, 2000. 287: 498–501. YANG Y, CHU W, GERAGHTY DE, et al.: Expression of HLA-G in human mononuclear phagocytes and selective induction by IFN-gamma. J Immunol, 1996. 156:4224. ZANOM, V.; LORIAN, V. Mecanismos de defesa antiinfecciosa. Rio de Janeiro: Editora Medsi, 1987. 165-206p. ZHOU Y.; FISHER S.J.; JANATPOUR M., et al: Human cytotrophoblasts adopt a vascular phenotype as they differentiate. A strategy for successful endovascular invasion? J Clin Invest, 1997. 99: 2139-51.