Um livro sobre o medo

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Um livro sobre o medo
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Que susto!
Sue Graves
SUPLEMENTO DIDÁTICO
SUGESTÕES PEDAGÓGICAS E DE ATIVIDADES ELABORADAS POR:
Andréa Cristina Felix Dias – Professora do ensino fundamental, psicóloga,
mestre e doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento na área de Moral e Ética
pela Universidade de São Paulo, formadora em cursos de pós-graduação em
Educação Infantil e Alfabetização.
A OBRA
com uma situação específica, mas logo os
outros vêm ajudar, mostrando que aquilo que
Rodrigo e Rafael vão dormir na casa de Jú-
parecia terrível na verdade é algo comum,
lio. Na casa, também estão Elisa, a irmã mais
que pode ser divertido e engraçado quando
velha de Júlio, e o cachorro Pipo. Durante a
se torna conhecido. Quando algo deixa de
noite, as crianças ouvem barulhos e vivem
ser desconhecido e misteriosos nossos perso-
situações que parecem assustadoras.
nagens descobrem que os medos podem ser
Com uma narrativa simples e dinâmica,
enfrentados e superados. Ao final da noite,
podemos acompanhar esses personagens ex-
todas as crianças, e até Pipo, o cachorro, estão
pondo seus medos. Cada um deles se assusta
mais fortes e aliviados.
1
TEMAS ABORDADOS
trabalho para a formação da personalidade
das crianças em seu aspecto moral. O desen-
• Comportamento
volvimento da moralidade é um processo de
• Emoções, sentimentos, sensações
construção que se inicia desde o nascimento;
• Impressões
questões como o respeito às regras e a impo-
• Medo em crianças
sição de limites estão sempre presentes na
• Superação
vida das crianças. No convívio escolar, essas
• Confiança
questões se tornam ainda mais cotidianas,
• Relações entre crianças
cabendo à escola e ao professor uma atuação
que ajude a criança a compreender regras e
valores, direcionando o olhar dos pequenos
SUGESTÕES PEDAGÓGICAS
para a construção do bem comum.
Formação do leitor
A formação da
personalidade moral
Para favorecer o desenvolvimento da
linguagem, um trabalho consistente com
O desenvolvimento moral é um processo
a leitura deve acontecer sempre na escola,
que não é só cognitivo, mas também afetivo,
uma vez que favorece a ampliação do voca-
social e cultural. Identificar o que é certo e o
bulário, estimula a imaginação, além de dar
que é errado, agir em um grupo buscando
oportunidade para discussões de temas inte-
o bem comum, ser respeitoso com os outros e
ressantes (como no caso destes livros), como
consigo mesmo, realizar-se como pessoa; esses
a convivência e os sentimentos envolvidos
são alguns dos principais aspectos que envol-
nas relações. É imprescindível que o profes-
vem o desenvolvimento moral. Desde os pri-
sor dedique um momento da aula, todos os
meiros contatos sociais que o bebê estabelece
dias, para ler e discutir estas leituras com seus
com a mãe, o primeiro “Não!”, as primeiras
alunos, ampliando os olhares e ajudando as
regras e imposições dos adultos, a criança vai
crianças a aproveitarem todos os aspectos
aprendendo a discernir: quem sou eu, quem
que aquela obra pode suscitar.
são os outros, e busca ativamente os melhores
modos de se relacionar.
As crianças pequenas aprendem no convívio com os adultos e com outras crianças
A escola tem identificado seu importante
como nomear e expressar seus sentimentos.
papel nesse processo, e vem ampliando sua
As emoções à flor da pele encontram nas
atuação para além da simples transmissão de
palavras uma espécie de contorno, um nome
informações. Sabemos hoje que é fundamen-
que as ajuda a enfrentar estes afetos e dire-
tal que o aluno possa ver sentido nos conhe-
cioná-los para superar momentos difíceis, dar
cimentos que são ensinados, e mais que isso,
significado ao que foi vivido e fortalecer suas
que a escola forma valores, educa no amplo
identidades.
sentido desta palavra.
O livro Que susto! – Um livro sobre o medo
Os professores precisam atuar de modo
traz como possibilidade a explicitação do
intencional nessa área; no entanto, assim
sentimento de medo e também propicia um
como apontado nos Referencias Curriculares
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Nacionais (PCN), não é necessário criar aulas
Os sentimentos são uma espécie de porta
especiais para a Educação Moral dos alunos.
de entrada da criança no mundo moral e são
As situações vividas, especialmente o tempo
a fonte de comportamentos de obediência e
e o espaço reservado para a convivência, são
respeito ao outro, ainda que dependentes dos
mais importantes do que aulas com exposi-
adultos, das figuras de autoridade. Quando a
ção de “bons modelos” de comportamento.
criança pode nomear o que sente e entender
O que se faz necessário é a reflexão a partir
estes sentimentos, eles servirão de base para a
dessas vivências, a explicitação de valores e
compreensão das relações com as outras pes-
a sistematização das regras e seus princípios.
soas. É essa compreensão, juntamente a uma
Esses conceitos devem ser trabalhados sempre
noção cada vez mais clara de quem se é, que
de modo transversal ao currículo e, preferen-
libertará a criança da necessidade de outras
cialmente, em projetos interdisciplinares. É
pessoas indicarem a ela o que é certo e o que
nesse sentido que estamos propondo o tra-
é errado. A formação de uma personalidade
balho com este livro.
moral autônoma depende de uma percepção de si mesmo, de seu papel no grupo, das
Por que trabalhar esses
temas com crianças pequenas?
consequências de suas ações e da noção de
responsabilidade.
Desse modo, quando indicamos a impor-
Como já citamos, a criança constrói desde
tância de uma educação que trabalhe os
cedo um conjunto de valores pessoais. Essa
sentimentos não estamos falando de sermos
construção parte de experiências e ensina-
carinhosos com nossos alunos ou de um
mentos vividos na família, nos grupos sociais
professor que se declara magoado quando
que frequenta, na escola e também dos sen-
seu aluno desobedece. Estamos propondo
timentos com relação às pessoas, simpatias e
estratégias para que os sentimentos vividos
antipatias, generosidade e agressividade,
na escola, no convívio social, como medo,
e assim por diante. Sentimentos essenciais ao
frustração, raiva etc. tenham a possibilida-
desenvolvimento moral como a vergonha, a
de de ser pensados e refletidos com o apoio
indignação, a culpa e a confiança aparecem
do professor.
logo nos primeiros anos de vida.
Fazer uso de histórias simples como as que
Os pequenos ficam indignados quando
não recebem a mesma quantidade de refri-
aparecem no livro Que susto! – Um livro so-
gerante que seu irmão, por exemplo, ou se
bre o medo é um ótimo recurso para abordar
magoam quando uma promessa não é cum-
essas questões sem invadir a privacidade das
prida por seus pais. Desde os 3 ou 4 anos de
crianças. Em vez de expor um aluno, ou uma
idade, as crianças experimentam até mesmo
situação concreta para tematizar uma dis-
certo desconforto quando fazem algo erra-
cussão sobre o que sentimos, pode-se propor
do, como quebrar um objeto da sala. Dizem
uma conversa sobre o modo como os perso-
“não é justo” ou “foi sem querer”, mesmo
nagens do livro interagem, aproximando as
antes de entender conceitos de justiça ou
crianças do tema e estimulando-as a falar
intencionalidade.
espontaneamente sobre si mesmas.
3
Medo e coragem
ATIVIDADES
PARA ANTES DA LEITURA
Crescer é assustador. Assim, um sentimento
muito presente na vida das crianças é o medo.
1. Proponha brincadeiras que também
As crianças se assustam com o que desconhe-
explorem medos e sustos como os que apa-
cem: barulhos, silhuetas estranhas, pessoas
recem no livro, como: cabra-cega, esconde-
novas, lugares etc. Além de também temer
-esconde ou gato mia. Na brincadeira gato-
o próprio crescimento, com as muitas mu-
-mia, por exemplo, uma criança sai da sala
danças que estão sempre acontecendo com
(ela será o pegador) e as outras se escondem;
elas. Diante desse cenário, a solução dada
pode-se usar uma sala escura ou vendar a
pela moral é evocar a coragem, a confiança e
criança que vai procurar os colegas. Quando
seguir em frente.
o pegador encontra outra criança deve dizer
Coragem não é a inexistência de medo,
“Gato mia” e, pelo som da voz dessa criança,
pelo contrário, corajoso é aquele que reco-
que deverá dizer “miau”, tentar adivinhar
quem é o colega. Trata-se de uma situação
nhece seus medos e os enfrenta. Essa virtude,
muito semelhante à que aparece na história
onipresente nas histórias infantis, persona-
do livro Que susto!, uma vez que o escuro e os
gens de desenhos animados e heróis, pode
sons desconhecidos assustam os personagens.
ser apresentada e trabalhada com os alunos,
Após a brincadeira, faça a leitura da história.
repertoriando a construção de valores.
2. Mostre o livro para seus alunos e explore
Se quiser explorar mais profundamente
os elementos presentes na capa: Por que será
essa virtude com seus alunos, sugerimos
que o título é “Que susto!”? O que será que
como leitura para o professor o livro do
esse menino está sentindo e por quê? Alguém
filósofo André Comte-Sponville, Pequeno
já viveu uma situação assim? Ouça com aten-
tratado das grandes virtudes (Ed. Martins
ção as histórias ou situações descritas pelas
Fontes).
crianças. Se for possível, anote para que possam ser retomadas após a leitura.
SUGESTÃO DE ATIVIDADES
3. Leia o texto presente na quarta capa do
livro. A premissa da história já propicia outra
Professor, vamos expor aqui sugestões de
ótima conversa: Quem já dormiu fora de sua
atividades a serem desenvolvidas, preferen-
casa? Os alunos podem relatar idas à casa da
cialmente com alunos de educação infantil
avó, de outros parentes e amigos. Novamente
ou dos primeiros anos do ensino fundamen-
o professor pode ampliar a conversa: Quando
tal (crianças de 3 até 8 anos de idade). Essa
dormimos fora de nossa casa, não é comum
sequência tem como base o livro estudado
escutar mais barulhos durante a noite?
e busca favorecer o desenvolvimento moral
ATIVIDADES
PARA DURANTE A LEITURA
dos alunos. Fica a seu critério aproveitar as
propostas, adaptando-as ao perfil de suas
turmas. Não é necessário realizar todas elas,
1. Organize sua turma em roda ou sentados
você pode escolher as que mais se adequarem
a sua frente, de modo que todos possam obser-
ao seu grupo.
4
var as ilustrações ao acompanhar sua leitura. A
5. Na página 12, Elisa relata seu medo de
cada página lida, mostre as imagens para seu
voar, e ela mesma mostra aos meninos a solu-
grupo e comente sobre a palavra em destaque.
ção que encontrou: ouvir música. O medo do
2. O primeiro susto da história acontece
cachorro Pipo (página 16) também é soluciona-
com Rodrigo e Rafael que ouvem um barulho
do pelas crianças com distrações como a TV e
e imaginam feras no jardim. Interrompa a
brincadeiras com a bolinha. Trabalhe com seu
leitura na página 4 e converse com o grupo,
grupo os antídotos para as situações de medo:
veja se seus alunos possuem hipóteses a res-
esconder-se embaixo das cobertas, ir para a
peito deste momento: O que fez este som?
cama do pai e da mãe, acender a luz, são alguns
ou Por que Júlio (o dono da casa) não estava
exemplos para lidar com o medo do escuro. In-
assustado?
vestigue com o grupo medos e outras soluções.
3. O barulho, na verdade, era do cachorro.
6. A história termina com o pai lendo para
Muitas crianças temem cachorros e outras
as crianças uma história assustadora. Pode-
tantas possuem este animal de estimação.
se fazer um paralelo com a mesma situação
Converse com eles a respeito deste medo:
vivida na escola: Por que será que é bom
Afinal, cachorros devem ser temidos? Em qual
ouvir histórias sobre o medo, como esta que
situação? Também é possível que seus alunos
estamos lendo? Novamente, conduza a dis-
relatem medos de outros animais como ga-
cussão para que as crianças percebam que
tos, aranhas, cavalos. É importante concluir
quanto mais conhecerem seus medos, melhor
com eles que alguns animais podem mesmo
poderão enfrentá-los; assim como fizeram os
ser perigosos, animais selvagens, aqueles que
personagens da história.
encontramos na rua e não sabemos quem é o
ATIVIDADES
PARA DEPOIS DA LEITURA
dono. Enquanto outros são mansinhos, estão
dentro de casa, ou são tão pequenos que não
oferecem perigo.
4. Na página 8, o barulho assustador vem
1. Peça que seus alunos desenhem uma
de dentro do armário. Desta vez, até Júlio,
cena assustadora. Exponha os desenhos em
o dono da casa, fica com medo. Novamente,
um mural. No dia seguinte, peça que cada um
interrompa a leitura e levante as hipóteses
explique o que desenhou (caso sejam muito
de seus alunos: O que pode estar dentro do
pequenos, é importante anotar no mesmo dia
armário fazendo aquele som? A irmã de Jú-
o que desenharam atrás do papel). A partir
lio aparece na história e acalma os meninos.
dos desenhos, é possível discutir os “antído-
Aproveite a oportunidade para conversar com
tos” para essas situações e listá-los.
as crianças sobre os “mais velhos”, como eles
2. Explore o tema da coragem com seu
podem nos ajudar em situações de medo? Por
grupo, veja se conhecem a palavra, se con-
quê? É interessante conduzir a conversa para
seguem explicar o que significa. Peça que
que seus alunos percebam que as pessoas que
cada um cite um personagem corajoso (das
viveram mais conhecem as coisas e podem nos
histórias infantis ou mesmo desenhos ani-
ajudar a perceber o que realmente é perigoso
mados da TV ou cinema). Faça uma lista com
e o que não precisamos temer.
esses personagens e converse com seu grupo
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SUGESTÕES DE
LEITURA PARA O PROFESSOR
o que eles têm em comum, como, por exemplo, a luta contra injustiças, a defesa dos
mais fracos, ou identidades secretas (uma
• ROCHA, Ruth. Tenho medo, mas dou um
das condições para um ação virtuosa é não
jeito. São Paulo: Salamandra, 2009.
se vangloriar dela).
3. Leia outras histórias com o tema da co-
• Organização Heloisa Pietro. O livro dos me-
ragem, fábulas como “O leão e o ratinho”, ou
dos. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998.
mesmo contos clássicos como “Chapeuzinho
• GRAVETT, Emily. Grande livro dos medos.
São Paulo: Salamandra.
vermelho”. Chame a atenção dos pequenos
para o comportamento dos personagens e
Para saber mais sobre o desenvolvimento
como enfrentam situações complicadas. Se
moral e trabalho com virtudes:
houver oportunidade, amplie a conversa
• TAILLE, Yves de la. Moral e ética: dimen-
incluindo seus alunos, peça que descrevam
sões intelectuais e afetivas. São Paulo: Art-
momentos em que foram corajosos.
med, 2006.
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