Leia a íntegra do Boletim Conjuntura em Foco número 18

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Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas | Diretora: Vanessa Petrelli Corrêa
Uma publicação do gap – grupo de análise e previsões
número
Análise Temática
18 · ano 4 · março de 2012
Desindustrialização no Brasil: Apontamentos para um
Debate em Favor do Desenvolvimento Econômico
O fenômeno do desenvolvimento econômico, inaugurado, historicamente, a partir dos quesitos da Revolução Industrial inglesa no século XVIII,
caracteriza-se por, entre outros fatos notáveis, progressiva alteração dos pesos relativos dos setores primário, secundário e terciário na produção
agregada ao longo de sua tendência de crescimento. Nesse sentido, de modo geral, durante a instalação das primeiras estruturas manufatureiras,
o setor industrial tende a ganhar peso relativo no conjunto da economia, reduzindo, ao mesmo tempo, as participações do emprego (inicialmente) e da renda (posteriormente) do setor agrícola. Concomitantemente, em meio ao movimento expansivo da indústria, as atividades do
setor terciário transformam-se de modo incessante, adequando-se às crescentes necessidades de apoio ao setor industrial. Tipicamente, a partir
de certo momento, o peso relativo das atividades manufatureiras, em termos das escalas setoriais do emprego e do valor adicionado, passa a
ceder espaço para as atividades do setor terciário,1 já contando, então, com atividades mais diversificadas e de maior complexidade.
Essa tendência geral de redução do peso relativo das atividades industriais ao longo do processo de desenvolvimento das economias mais
avançadas acabou por gerar o termo “desindustrialização” (sem conotação necessariamente negativa) nas análises econômicas. Nos anos
mais recentes, contudo, várias economias emergentes (“países de renda média”) têm registrado movimentos de desindustrialização em
termos das escalas setoriais do emprego e do valor adicionado, mas cujas causas e implicações para a continuidade de seu desenvolvimento
diferem muito daquelas que caracterizaram o processo de desenvolvimento nas economias mais avançadas.
Nas sociedades pré-capitalistas, a participação do que hoje chamamos de setor primário e setor terciário (então constituído por modestas
formas de atividades mercantis ou serviços pouco sofisticados) era predominante. Este cenário muda, no entanto, na medida em que se
instala o setor manufatureiro. Conforme mencionado, seu peso relativo aumenta em meio à industrialização e, posteriormente, sofre uma
queda contínua, deixando como legado não apenas um setor terciário mais diversificado e sofisticado (cujas atividades, em sua maior parte,
atendem ao próprio processo de desenvolvimento industrial) mas também um setor primário muitas vezes caracterizado por participações
relativamente baixas de mão de obra e de produto setoriais nos agregados equivalentes, com grande potencial de produção de alimentos e
de matérias-primas para alimentar a demanda derivada dos outros setores da atividade econômica.2
No caso das economias com industrialização retardatária, contudo, pode ocorrer o fato preocupante de que seu setor manufatureiro comece
a perder participação relativa na produção total antes que tenham sido alcançados o ritmo de produtividade sistêmica e os níveis de renda
per capita similares das economias avançadas no momento em que se inicia o processo da desindustrialização.
Em particular, no caso da economia brasileira, há, recentemente, um crescente e intenso debate sobre o fenômeno da desindustrialização,
em função dos sentidos efeitos do acirramento da concorrência internacional para a indústria doméstica, seja pela menor intensidade relativa do ritmo de criação de empregos no setor industrial seja pelo avanço sistemático do volume de importações para o atendimento da
demanda interna, ou, ainda, pela perda de participação das exportações de produtos manufaturados nos mercados internacionais.
Antes, porém, de uma avaliação comparativa do caso brasileiro com base nos indicadores mencionados, vale destacar a associação positiva,
de caráter geral, prevalecente entre expansão industrial e desenvolvimento econômico. Nesse sentido, note-se que o dinamismo do processo
de geração e difusão dos ganhos de produtividade na economia envolve de modo especial as atividades industriais. Isto porque, em primeiro lugar, a própria ampliação das escalas de produção nestas últimas tende a elevar os ganhos de eficiência e a geração de externalidades
positivas para além do setor industrial (GREENHALG; GREGORY, 1997; RODRIK, 2009). Em segundo lugar, porque os movimentos
de introdução e de difusão de inovações no processo produtivo, responsáveis pelos aumentos sistemáticos (e sistêmicos) da produtividade
1. Nas últimas décadas, quando as grandes estruturas industriais começaram a promover diversas modalidades de reestruturação produtiva, muitas atividades que
antes estavam sendo realizadas dentro das fábricas passaram a ser “terceirizadas”, ou seja, desenvolvidas em outras empresas, nas mais diversas modalidades do setor
de serviços. Assim, tarefas e trabalhos, que antes eram exercidos no interior de unidades produtivas classificadas como pertencentes ao setor manufatureiro (setor
secundário da atividade econômica), passaram a ser então classificados nos compêndios estatísticos dos diferentes países como pertencentes ao setor terciário, embora
fossem exatamente os mesmos, exercidos inclusive pelos mesmos trabalhadores.
2. Kollemeyer (2009), Nickell, Redding e Swaffield (2008), Alderson (1997), Üngör (2011), Rowthorn e Ramaswamy (1999), Rowthorn e Ramaswamy (1997), Tregenna
(2011) e Dasgupta e Singh (2006) estão entre vários autores que, com base em amplos painéis de dados, analisaram empírica e teoricamente a redução da participação
da indústria, seja no emprego seja na renda de diversos países desenvolvidos.
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
1
na economia, encontram-se umbilicalmente ligados à atividade empresarial na indústria.3 Em terceiro lugar, porque a produção de novos
bens pelo setor manufatureiro estimula, também, a geração de novas atividades no setor terciário da economia, com reflexos positivos
sobre a produtividade total dos fatores – por exemplo, a comercialização de novos bens ou o surgimento de serviços de apoio à escala crescente da produção industrial. Além disso, deve-se destacar, ainda, que a atividade manufatureira e, em particular, os ganhos de escala e de
produtividade por ela gerados reforçam-se mutuamente, na medida em que constituem fatores decisivos de aumento da competitividade
externa na disputa (ou criação) de mercados no cenário internacional.
Finalmente, a experiência histórica revela que a maior densidade do setor industrial é fator de significativa relevância para o alcance de
maior progressividade no perfil da distribuição da renda nacional, pois é em torno de suas atividades que o movimento sindical acaba por
se organizar com mais solidez e consequência para reivindicar os ganhos de produtividade social derivados do desenvolvimento econômico.
Tendo em conta as considerações anteriores, assume-se aqui, conforme Tregenna (2011),4 que o processo de desindustrialização pode
ser mensurado pela intensidade do movimento conjunto de redução dos pesos relativos do emprego e do valor adicionado do setor
manufatureiro nos agregados correlatos; ou seja, nos níveis de emprego total e do Produto Interno Bruto (PIB) registrados ao longo de
determinado período.
Brasil: evolução da participação da indústria no PIB e do PIB per capita PPC
(Em US$)
PIB per capita PPC (US$)
Indústria (% do PIB)
Brasil: participação da indústria (%)
2010
2006
2002
1998
1994
1990
1986
1982
1978
9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1974
50
47
44
41
38
35
32
29
26
23
20
BrasiL: PIB per capita
Fontes: Banco Mundial, FMI e Maddison (2006). Elaboração própria.
Obs.: Foram utilizadas as séries do PIB per capita em “international Geary-Khamis dollars” (MADDISON, 2006) para os respectivos
países. Entretanto, como as séries se encerram em 2001, fez-se uma projeção destas até 2010 com base nas taxas interanuais
de crescimento do PIB per capita PPP em dólar, divulgada pelo FMI. Isso foi possível devido ao fato de que, como a perspectiva
deste estudo é uma análise comparativa entre o Brasil e os demais países selecionados, a relação entre o PIB per capita PPP do
Brasil e dos demais países é aproximadamente a mesma em ambas as séries utilizadas.
GRÁFICO 2
China: evolução da participação da indústria no PIB e do PIB per capita PPC
(Em US$)
PIB per capita PPC (US$)
Indústria (% do PIB)
2010
2006
2002
1998
1994
1990
1986
1982
1978
11.000
10.000
9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1974
50
48
46
44
42
40
38
36
34
32
30
1970
Basicamente, há dois aspectos importantes que os
gráficos revelam quando se comparam os processos
de desindustrialização ocorridos nos países desenvolvidos e no Brasil: i) nos países desenvolvidos, a
perda de participação relativa da indústria no conjunto da economia ocorre quando seus respectivos
níveis de renda per capita situam-se num patamar
bem mais elevado do que no caso brasileiro; e
ii) nos países desenvolvidos, a perda de peso das
atividades manufatureiras não impediu que os
ganhos de produtividade – e não dos termos de
troca de suas exportações – continuassem a ocorrer
de modo a elevar as respectivas rendas per capita.
GRÁFICO 1
1970
Os gráficos 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 ilustram processos
de desindustrialização (ou não, no caso chinês)
ocorridos em diversos países, com a intensidade
desta última avaliada pela redução da participação
relativa do setor manufatureiro no produto total.
Para efeito de comparação com o caso brasileiro,
foram selecionados os seguintes países: China,
Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França e
Alemanha. Os dados de participação do setor
manufatureiro no PIB foram coletados do sítio
do Banco Mundial, e os dados do PIB per capita
– de acordo com a Paridade do Poder de Compra
(PPC) – foram extraídos de Maddison (2006) e
atualizados a partir de estatísticas divulgadas pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI).
A inclusão da China tem função de destacar a peculiaridade brasileira, tanto com relação à China,
China: participação da indústria (%)
China: PIB per capita PPP
Fontes: Banco Mundial, FMI e Maddison (2006). Elaboração própria.
evidentemente, como com relação às economias
avançadas. O caso chinês mostra que ainda não
está em curso um processo de desindustrialização naquela economia, ao mesmo tempo em que sua renda per capita, impulsionada pela
produtividade, segue crescendo a um ritmo expressivo e que não se compara a nenhum outro caso aqui mencionado (e tampouco ao de
outros países de importância semelhante, talvez com exceção da Índia.5
3. Esta situação é conhecida na literatura econômica como a terceira lei de Kaldor, a qual postula existir uma forte correlação causal positiva entre a velocidade de
expansão do setor manufatureiro e os ganhos de produtividade dos demais setores de atividade (THIRWALL, 2002).
4. Há autores, como, por exemplo, Rowthorn e Ramaswamy (1997; 1999), que consideram que existe desindustrialização quando ocorre perda de participação do
emprego industrial no conjunto do emprego; há vários outros que lembram que, como a produtividade nas atividades industriais cresce a taxas mais elevadas do que
nas demais, a perda de participação do valor agregado nas atividades industriais em relação ao conjunto do valor agregado (PIB) tende a ocorrer depois de um movimento de queda da participação do emprego industrial no emprego total. Esta é a razão pela qual se optou aqui por uma comparação internacional de trajetórias de
participação da produção manufatureira nos respectivos PIBs dos países. A análise concomitante da evolução dos respectivos PIBs per capita (medidos em termos da
PPC) permitirá avaliar a precocidade ou não dos processos de desindustrialização ilustrados em um estudo comparativo do caso brasileiro.
5. Sobre o processo recente de desenvolvimento econômico indiano, ver Dasgupta e Singh (2011).
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
2
PIB per capita PPC (US$)
Indústria (% do PIB)
Fontes: Banco Mundial, FMI e Maddison (2006). Elaboração própria.
França: participação da indústria (%)
2010
2006
2002
1998
1994
1990
1986
1982
1978
1974
30.000
27.000
24.000
21.000
18.000
15.000
12.000
9.000
6.000
3.000
0
1970
37
35
33
31
29
27
25
23
21
19
17
15
França: PIB per capita
GRÁFICO 4
Alemanha: evolução da participação da indústria no PIB e do PIB per capita PPC
(Em US$)
Indústria (% do PIB)
PIB per capita PPC (US$)
Alemanha: participação da indústria (%)
2010
2006
2002
1998
1994
1990
1986
1982
1978
1974
27.000
24.000
21.000
18.000
15.000
12.000
9.000
6.000
3.000
0
1970
49
47
45
43
41
39
37
35
33
31
29
27
25
Alemanha: PIB per capita
Fontes: Banco Mundial, FMI e Maddison (2006). Elaboração própria.
GRÁFICO 5
Reino Unido: evolução da participação da indústria no PIB e do PIB per capita PPC
(Em US$)
Indústria (% do PIB)
PIB per capita PPC (US$)
Reino Unido: participação da indústria (%)
2010
2006
2002
1998
1994
1990
1986
1982
1978
28.000
26.000
24.000
22.000
20.000
18.000
16.000
14.000
12.000
10.000
8.000
1974
44
42
40
38
36
34
32
30
28
26
24
22
20
Reino Unido: PIB per capita
Fontes: Banco Mundial, FMI e Maddison (2006). Elaboração própria.
GRÁFICO 6
Japão: evolução da participação da indústria no PIB e do PIB per capita PPC
PIB per capita PPC (US$)
Fontes: Banco Mundial, FMI e Maddison (2006). Elaboração própria.
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
Japão: participação da indústria (%)
2010
2006
2002
1998
1994
1990
1986
30.000
27.000
24.000
21.000
18.000
15.000
12.000
9.000
6.000
3.000
0
1982
47
45
43
41
39
37
35
33
31
29
27
25
(Em US$)
Indústria (% do PIB)
1978
Tais movimentos contrastam com o ocorrido
nos exemplos asiáticos, onde, notadamente a
partir dos anos 1980, foram adotadas políticas
desenvolvimentistas conduzidas pelos respectivos
Estados Nacionais, a partir de incentivos à produção industrial, do aumento do peso no PIB dos
investimentos em pesquisa e desenvolvimento
(P&D), dos investimentos em educação básica
e superior e em infraestrutura, acompanhados,
ainda, mais recentemente, de uma crescente regulamentação dos mercados financeiros nacionais,
dos controles das taxas de câmbio e da manutenção de uma taxa de câmbio subvalorizada com o
intuito de elevar a produção doméstica de bens
comercializáveis internacionalmente (MATTOS;
CARCANHOLO, 2011).
(Em US$)
1974
Nesses termos, a perda de participação do setor
manufatureiro brasileiro no PIB revela-se bem
prematura em relação à ocorrida nos países
desenvolvidos. Nesse sentido, Dasgupta e Singh
(2011) e Palma (2005) apontam para a precocidade do fenômeno da desindustrialização no
Brasil; fenômeno que preocupa na medida em
que se faz acompanhar da perda de dinamismo
das vendas externas dos bens manufaturados, da
ruptura do processo de ganhos de produtividade
na atividade econômica em geral (e da industrial,
em particular) e do arrefecimento do processo de
crescimento econômico.
França: evolução da participação da indústria no PIB e do PIB per capita PPC
1970
Da mesma forma, o PIB per capita dos Estados
Unidos cresceu algo como 141,6% no período,
com perda de participação manufatureira, também, somente a partir de meados dos anos 1970.
O caso do Japão é um pouco diferente, pois a
perda de peso da indústria na atividade econômica ocorre de forma significativa apenas a partir
dos anos 1980, mas isso não impediu que seu
PIB per capita apresentasse um crescimento de
101,5% desde então, com média anual de +2,8%
no período (bem inferior àquela que caracterizou
o “milagre japonês” do pós-guerra, contudo, de
todo modo, nada desprezível, considerando que
o patamar do PIB per capita japonês já era alto
em 1980).
GRÁFICO 3
1970
Nos países europeus selecionados, a perda de
participação do setor industrial no PIB mostra-se
contínua desde o início dos anos 1970 (exceto
no Reino Unido, onde esse processo começou
um pouco mais tarde, acentuando-se fortemente
nos anos 1980). Isso não impediu, contudo, que
entre 1970 e 2010, o PIB per capita da França,
e também o da Alemanha, crescesse algo como
128% (o que equivale à variação média anual de
+2,2% durante o período considerado), e que o
do Reino Unido crescesse em torno de 143,9%
(equivalente à média anual de +2,3% nesse mesmo intervalo de tempo).
Japão: PIB per capita
3
Finalmente, o gráfico 8 corrobora a presença de
tais sintomas na economia brasileira ao exibir, por
um lado, uma nítida tendência de queda no percentual da população total ocupada na indústria
nos últimos anos e, por outro, uma situação que
pode estar se agravando mais recentemente, em
função da desaceleração do ritmo de ocupações
em termos absolutos nesse setor.
GRÁFICO 7
Estados Unidos: evolução da participação da indústria no PIB e do PIB per capita PPC
(Em US$)
PIB per capita PPC (US$)
Indústria (% do PIB)
Estados Unidos: participação da indústria (%)
2010
2006
2002
1998
1994
1990
1986
1982
1978
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
1974
36
34
32
30
28
26
24
22
20
18
1970
Por outro lado, dados recentes da economia
brasileira revelam uma significativa mudança
em curso nas pautas de exportações e de importações,6 com ampliação da deterioração recente
do perfil comercial, evidenciada, também, pela
perda de participação de manufaturados de alto
conteúdo tecnológico na pauta exportadora.
Nesse sentido, as trajetórias recentes das pautas
de exportações e de importações do Brasil têm
sido afetadas dramaticamente pelas exportações
chinesas, as quais, por sua vez, têm promovido
redução da participação da produção doméstica
nos itens de consumo aparente, ao mesmo tempo
em que têm deslocado as vendas externas brasileiras em terceiros mercados – sintomas típicos
de desindustrialização prematura.
Estados Unidos: PIB per capita
Fontes: Banco Mundial, FMI e Maddison (2006). Elaboração própria.
GRÁFICO 8
Evolução recente do emprego industrial: população ocupada na indústria em número
e participação na população total ocupada (%)
(Média anual de janeiro/2012)
3.800
3.750
3.700
3.650
3.600
3.550
3.500
3.450
3.400
3.350
3.300
3.250
3.200
3.150
3.100
População ocupada na
indústria (em mil pessoas)
População ocupada na
indústria (%)
17,8%
17,7%
17,6%
17,5%
17,4%
17,3%
17,2%
17,1%
17,0%
16,9%
16,8%
16,7%
16,6%
16,5%
16,4%
16,3%
16,2%
16,1%
16,0%
Assim, as evidências recentes revelam que a
perda de participação do setor industrial na
renda nacional e no conjunto do emprego tem
sido acompanhada, também, de uma redução
da participação relativa dos produtos manufaturados na pauta exportadora. A persistência de
uma taxa de câmbio sobrevalorizada por longo
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011 jan/12
período de tempo deixou sequelas em termos de
Participação da população ocupada na indústria na população total ocupada (%)
uma diluição da densidade das cadeias produtivas
População ocupada na indústria (mil pessoas)
na economia, movimento que aponta para uma
Fonte: Pesquisa Mensal de Emprego (PME)/ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
ruptura na estrutura industrial. Estes fatos não
têm passado despercebidos pelas autoridades econômicas, mas as dificuldades com o manejo da política macroeconômica, as incertezas promovidas pelo cenário externo e a alta velocidade
das mudanças na divisão internacional do trabalho (que não tem atingido somente o Brasil) nas últimas décadas têm gerado esse processo
preocupante de retração relativa da atividade industrial brasileira.
Alguns Números da Conjuntura Nível de Atividade
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, o PIB registrou crescimento de 0,3% na passagem entre o terceiro e o quarto
trimestres de 2011, na série livre de influências sazonais, encerrando o ano com uma expansão de 2,7% (ver tabela 1). Com isso, o
carry-over (carregamento estatístico) se reduziu para 0,3%, ou seja, caso permaneça estagnado no patamar do último trimestre do
ano passado, o PIB cresceria a esta taxa ao final de 2012. Na comparação com o mesmo período de 2010, o PIB desacelerou pelo
sétimo trimestre consecutivo, com a taxa de crescimento passando de 2,1% para 1,4%. Analisando os seus componentes pelo lado
da oferta, o setor industrial foi o principal destaque negativo, com retrações de 0,5% ante o período imediatamente anterior, na
série com ajuste sazonal, e de 0,4% na comparação interanual, tendo acumulado um crescimento de apenas 1,6% em 2011. Pelo
lado da demanda, todos os componentes apresentaram variação positiva na margem, com destaque para o consumo das famílias,
que avançou 1,1% sobre o quarto trimestre do ano passado, e para a exportação de bens e serviços, que registrou alta de 1,9% na
mesma base de comparação.
6. Análise Temática, Conjuntura em Foco, n. 17; fevereiro de 2012.
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
4
TABELA 1
PIB: taxa real de crescimento trimestral e acumulado no ano
(Em %)
2010
PIB pm
Imposto sobre produtos
Agropecuária
Indústria
Serviços
Consumo - Total
Famílias
Governo
Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF)
Exportação
Importação
PIBpm variação
dessazonalizada (%)
2011
Variação acumulada no ano
2010
2011
7,5
2,7
11,7
4,3
6,3
3,9
10,4
1,6
5,5
2,7
6,2
3,5
6,9
4,1
4,2
1,9
I
9,3
14,5
7,0
15,4
6,2
7,1
8,5
3,1
II
8,8
12,6
9,0
13,9
5,8
6,2
6,2
6,2
III
6,9
11,1
5,5
8,9
5,2
5,7
5,9
5,1
IV
5,3
9,1
2,3
4,9
4,8
6,1
7,3
2,8
I
4,2
6,5
3,3
3,8
4,0
4,9
6,0
1,8
II
3,3
5,9
–0,6
2,1
3,7
5,1
5,6
3,5
III
2,1
3,0
6,9
1,0
2,0
2,4
2,8
1,2
IV
1,4
2,0
8,4
–0,4
1,4
1,9
2,1
1,3
29,9
15,4
40,6
27,2
6,9
38,7
20,3
11,3
40,0
11,1
13,2
26,4
8,8
4,0
13,4
6,2
6,2
14,8
2,5
4,1
5,8
2,0
3,7
6,4
21,3
11,5
35,8
4,7
4,5
9,7
1,9
1,2
1,0
1,1
0,6
0,5
–0,1
0,3
Fonte: IBGE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
jan/12
dez/11
nov/11
set/11
out/11
jul/11
ago/11
jun/11
abr/11
mai/11
fev/11
mar/11
jan/11
dez/10
nov/10
set/10
out/10
jul/10
ago/10
jun/10
mai/10
abr/10
fev/10
mar/10
jan/10
O mau desempenho do setor industrial durante
GRÁFICO 9
Trajetória de crescimento acumulado em 12 meses da produção industrial
o ano de 2011 também se verificou na Pesquisa
Industrial Mensal-Produção Física (PIM-PF), 14 (Em %)
calculada pelo IBGE, que apontou para um 12
crescimento de apenas 0,3% no mesmo período, 10
8
deixando um carry-over negativo de 1,6% para
6
11,25 11,7811,76 10,47
9,81
9,44 8,71
o ano de 2012 (gráfico 9). Este panorama se
8,28
4
6,93
6,48
5,45 4,47
4,52
2
agravou com o resultado referente a janeiro, que
3,66 2,88 2,32 1,61 1,25 0,55 0,25
2,30
0
registrou queda de 2,1% da produção ante o mês
–0,20
–2,61–0,27
-2
de dezembro, na comparação livre de efeitos sa- -4 –5,03
zonais. Dentre as categorias de uso, com exceção -6
do setor de bens de consumo semiduráveis e não
duráveis, que apresentou alta de 0,7%, todos os
Fonte: IBGE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
demais recuaram na margem. O principal destaque negativo ficou por conta da produção de
bens de capital, que sofreu retração de 16,0% ante o mês anterior, sendo este o pior resultado desde dezembro de 2008, quando registrou
queda de 23,5%. Na comparação com o mês de janeiro de 2011, os resultados também foram negativos. Mais uma vez a produção de
semiduráveis e não duráveis foi a única a registrar avanço na margem, com alta de 1,9%. Nesta base de comparação, a produção de bens
de capital também obteve o pior desempenho, ficando num patamar 13,0% menor do que aquele verificado no mesmo período do ano
anterior. O resultado da produção industrial de janeiro reflete a influência negativa de alguns fatores que também foram responsáveis pelo
baixo crescimento auferido em 2011, como, por exemplo, a existência de um acúmulo indesejado de estoques, notadamente no setor de
autoveículos; o nível excessivamente apreciado da taxa de câmbio; e as turbulências presentes na conjuntura internacional.
Mercado de Trabalho Deve Manter o Bom Dinamismo ao Longo de 2012
Os primeiros dados referentes ao mercado de
trabalho, em 2012, revelam que o cenário do
emprego no país deve manter sua trajetória
positiva ao longo do ano. De acordo com a
PME, após encerrar o ano passado em 6,0%, na
média, a taxa de desocupação recuou para 5,5%
em janeiro, desacelerando 0,6 ponto percentual
(p.p.) na comparação com o mesmo período de
2011 (gráfico 10). Assim, como vem acontecendo ao longo dos últimos meses, esta queda
da desocupação é resultante do crescimento
da população ocupada em ritmo superior ao
observado na população economicamente ativa
(PEA), o que vem reduzindo paulatinamente o
contingente de desempregados no país.
GRÁFICO 10
10
Taxa de desocupação
(Em %)
9
8
7
6
5
4
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
2009
Jul
Ago
2010
Set
Out
2011
Nov
Dez
2012
Fonte: IBGE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
5
Além da queda de desocupação, as condições favoráveis no mercado de trabalho também se revelam através dos reajustes reais dos
salários. Em janeiro, o rendimento médio habitualmente recebido pelo trabalhador apresentou alta de 2,7%, repetindo o mesmo
resultado obtido no mês anterior. Como consequência direta deste aumento do emprego e da renda, a massa salarial habitualmente
recebida apresentou forte alta em janeiro (4,8% contra 3,9% em dezembro).
No entanto, o destaque positivo no mercado de trabalho continua sendo o expressivo crescimento da população ocupada com carteira
assinada no país. Após registrar variações de 6,8% e 6,2% em 2010 e 2011, respectivamente, o número de ocupados com carteira
subiu 5,2% em janeiro. Este avanço do emprego formal no Brasil reforça a percepção de uma mudança no padrão de crescimento da
economia brasileira, marcado, entre outros aspectos, pela expansão da demanda doméstica possibilitada por uma maior estabilidade
do emprego e pelos reajustes reais dos rendimentos dos trabalhadores.
Assim como a PME, os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (CAGED), divulgados pelo Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), também revelam um aumento gradativo no número de celetistas no país. Em janeiro, em que pese o fato de que
a criação líquida de 118.895 novos postos de
GRÁFICO 11
trabalho tenha ficado abaixo da observada no
CAGED – evolução do estoque de emprego celetista
(Em mil pessoas)
mesmo mês de 2011 (152.091), o estoque de
pessoas empregadas cresceu 0,3% em relação
38.500
a dezembro do ano passado, já descontados os
38.000
ajustes sazonais (gráfico 11).
37.500
Jan./2012
Dez./2011
Nov./2011
Out./2011
Set./2011
Ago./2011
Jul./2011
Jun./2011
Mai./2011
Abr./2011
Mar./2011
Fev./2011
Jan./2011
37.000
Em termos setoriais, entretanto, o cenário
do emprego no país ainda apresenta algumas 36.500
distorções. Os dados da Pesquisa Industrial 36.000
Mensal de Emprego e Salário (PIMES) reve- 35.500
lam que, após uma ligeira alta em dezembro 35.000
(0,1%), o pessoal ocupado na indústria recuou
0,3% em janeiro, na comparação sazonal
com o mês anterior. Com este resultado, nos
Fonte: CAGED/MTE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
últimos 12 meses, o número de empregados
na indústria registra alta de apenas 0,8%. A
expectativa, no entanto, é de que com a expansão da economia a taxas mais robustas que as observadas em 2011, estes indicadores
do emprego na indústria comecem, gradativamente, a apontar variações positivas ao longo do ano.
Dentro desta perspectiva, os dados de janeiro ratificam a trajetória do mercado de trabalho esperada para o restante do ano, composta
pela junção de desemprego em queda, ainda que de forma mais suave, e aumento de rendimentos reais, influenciado, sobretudo,
pelo reajuste do salário mínimo, garantindo, desta forma, as condições necessárias à manutenção da demanda interna no país.
Inflação – Mudança Estrutural
Em fevereiro de 2012, o Índice Nacional de Preços
GRÁFICO 12
ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de
Trajetória do IPCA (em 12 meses) e da SELIC efetiva (taxas anualizadas)
5,84% no acumulado em 12 meses, mostrando
um recuo relativamente ao valor acumulado em
16,0
14,0
12 meses terminados em janeiro (6,22%) e dando
12,0
prosseguimento à tendência de queda iniciada em
10,0
8,0
outubro de 2011 (gráfico 12). Esse movimento de
6,0
queda é determinado em grande parte pelo pro4,0
2,0
cesso de desinflação das commodities ocorrido no
0,0
segundo semestre de 2011. Neste mês de fevereiro
de 2012, esse processo determinou deflação nos
preços ao consumidor de alimentos e combustíveis
segundo o IPCA, com destaque para o etanol e
Inflação ao consumidor (acumulado em 12 meses)
SELIC efetiva (valores anualizados)
para as carnes. Por outro lado, como ocorre em
Fontes: IBGE e Banco Central do Brasil (BCB). Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
todo mês de fevereiro, o índice sofreu forte impacto
dos reajustes anuais das mensalidades escolares
(6,93%). Outros destaques de altas na relação fevereiro/janeiro foram dos serviços pessoais (1,42%) e do aluguel residencial (1,19%), resultando em alta de 0,45% no índice cheio. Contudo, apesar de permanecerem ainda em patamares elevados, os preços de alguns serviços
já indicam, na margem, a ocorrência de um movimento de desaceleração, como é o caso da alimentação fora do domicílio. O processo de
desinflação de commodities também foi responsável pela deflação no atacado, determinando uma variação negativa em relação a janeiro de
(–)0,03% no Índice de Preços no Atacado–Disponibilidade Interna (IPA-DI) da Fundação Getulio Vargas (FGV), especialmente por causa
da deflação das matérias-primas brutas (–0,64%).
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
6
A partir de 2012, a trajetória de queda da inflação no varejo foi influenciada também pela vigência da nova estrutura de ponderação do
IPCA pelo IBGE.7 No âmbito da nova cesta de consumo, houve queda dos pesos relativos do transporte público e da educação. Assim,
enquanto em janeiro de 2012 a redução do peso relativo dos transportes contribuiu para reduzir o impacto dos reajustes das tarifas de ônibus
urbanos sobre o índice geral, em fevereiro de 2012 o efeito dos reajustes das mensalidades escolares foi amenizado pela menor contribuição
proveniente da educação, em função da queda em seu peso relativo. Assim, a contribuição do grupo educação no IPCA reduziu-se em
relação àquela computada no mês de fevereiro de 2011.8
Outra mudança que merece destaque está relacionada ao chamado canal de transmissão de custo da política monetária. É fato estilizado
que, para dados níveis de spreads bancários e graus de riscos de inadimplência dos tomadores finais, a magnitude da taxa básica de juros
seja uma referência para o patamar das taxas de juros cobradas nas concessões de crédito, em suas diversas modalidades. Dessa forma,
segundo o canal de custo representado pelos juros, a própria queda de 2,75 p.p. da taxa Serviço Especial de Liquidação e de Custódia
(SELIC), entre setembro de 2011 e março de 2012, proporciona uma redução nos custos financeiros e de oportunidade do capital das
empresas, e que acabam influenciando a formação de seus preços de oferta de bens e serviços. Consequentemente, este canal de variação
do custo marginal das empresas, ao contrário do canal do câmbio ou da demanda, determina uma correlação positiva entre inflação e taxa
de juros (gráfico 12). Obviamente, esta correlação positiva entre juros e inflação é um resultado, também, da própria função de resposta
da taxa de juros, no âmbito do regime de metas de inflação. Ainda assim, estimativas mostram que este canal, ainda que com magnitude
moderada, tem impacto relevante sobre a determinação do nível de inflação e apresenta significância estatística na economia brasileira (ver
SUMMA; MACRINI, 2011; OREIRO; KAWAMOTO, 2011). Nesse sentido, o processo conjunto de quedas sistemáticas nas trajetórias
recentes da inflação e da taxa de juros (ambas também influenciadas por fatores exógenos, como a desinflação dos preços das commodities
e os ganhos econômicos de longo prazo de produtividade) tende a se autoalimentar, levando as duas variáveis para patamares inferiores
aos vigentes num passado ainda não muito distante.
Setor Externo
O déficit em transações correntes do país, em janeiro, foi de US$ 7,1 bilhões, ou 2,46% do PIB, com aumento de 26,9% em relação ao mesmo mês do ano passado. Este crescimento deveu-se integralmente ao comportamento da balança comercial, visto que
o déficit conjunto das contas de serviços e rendas teve redução de 3%. Destaca-se, nesse sentido, a rubrica de remessas de lucros e
dividendos, cujo déficit reduziu-se em 47,8%.
A balança comercial reverteu o resultado negativo de janeiro e registrou um superávit de US$ 1,7 bilhão em fevereiro, tornando o
saldo acumulado no ano positivo em US$ 424 milhões. O resultado deveu-se à forte desaceleração das importações, que tiveram
alta de apenas 5% em relação ao mesmo mês do ano passado, contrastando com o ritmo da ordem de 17% observado ao longo dos
meses anteriores – o que representa, também, mais um indício de ausência de força do ritmo da atividade econômica neste começo
de ano. As exportações cresceram mais no mês, à taxa de 7,7%, em comparação a fevereiro de 2011, mantendo o ritmo moderado
que se observa desde o final do ano passado. Um ponto positivo a destacar é que o crescimento no primeiro bimestre foi puxado
pelas exportações de bens manufaturados (alta de 8,5% no bimestre), com destaque para material de transporte e equipamentos
mecânicos. Os produtos básicos cresceram apenas 2,6%, respondendo basicamente à queda dos preços de venda do minério de ferro.
As perspectivas para a evolução da balança comercial em 2012 estão intimamente ligadas às incertezas da economia mundial, principalmente no que concerne a dois pontos: a evolução dos preços das commodities e o crescimento da demanda nos principais países e regiões.
Os preços das commodities agrícolas voltaram a apresentar tendência de alta no período recente, assim como o petróleo. O mesmo não se pode
dizer dos produtos minerais, especialmente o minério de ferro, cujos preços estão em trajetória de queda e sem perspectivas de recuperação
ao longo do ano. É possível, assim, que o ano de 2012 se caracterize pela alta de preços das commodities, tendo em vista a possível ocorrência
de problemas de oferta, como eventuais quebras de safras agrícolas e rupturas derivadas das incertezas no cenário político do Oriente Médio.
É possível, ainda, que os preços das commodities estejam crescendo atualmente em função das medidas de expansão monetária nos países
desenvolvidos, o que também tem colaborado para novas pressões de valorização da moeda brasileira. Essa pressão motivou a adoção de medidas de contenção da entrada de recursos externos pelo Ministério da Fazenda (MF) – a exemplo da aplicação de Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) de 6% para empréstimos com prazos inferiores a cinco anos – e o anúncio de que novas medidas estão sendo consideradas.
Com relação à demanda pelas exportações brasileiras, deve-se destacar que o quadro da economia internacional continua recheado de
incertezas e, muito embora a ocorrência de um grave aprofundamento da crise internacional não pareça ser o cenário mais provável, a
situação das principais economias do globo também não sinaliza conforto no presente momento. Nesse sentido:
1) Os últimos indicadores da economia dos Estados Unidos são encorajadores, especialmente o crescimento de 3,0% do PIB no quarto
trimestre (taxa anualizada na série livre de flutuações sazonais). Ainda assim, o gráfico 13 ilustra que o movimento de recuperação do
PIB norte-americano perdeu fôlego em 2011, e o crescimento em 2012 deve limitar-se a 1,8%, segundo as últimas projeções do
FMI, acelerando para algo como 2,2% em 2013.
7. Ver Conjuntura em Foco de fevereiro de 2012.
8. A medida de contribuição de cada grupo é calculada pela variação do índice de preços daquele grupo multiplicada pelo peso do mesmo no índice. Em fevereiro de
2011 foi de 0,32 p.p. e, em fevereiro de 2012, 0,25 p.p.
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
7
2013 (P)
2012 (p)
Abr./2011
Fev./2011
Mar./2011
Jan./2011
Abr./2010
Mar./2010
Jan./2010
Fev./2010
Abr./2009
Fev./2009
Mar./2009
Jan./2009
Abr./2008
Mar./2008
Jan./2008
Fev./2008
Abr./2007
Fev./2007
Mar./2007
Jan./2007
Abr./2006
2) Já na Europa, o quadro continua bastante
GRÁFICO 13
Crescimento do PIB – Estados Unidos e Zona do Euro
negativo, com a persistência de grandes incer(Média móvel de 4 trimestres, em %)
tezas sobre a situação da Grécia, inclusive sua
4,0
3,5
permanência na Zona do Euro. É verdade que
3,0
2,5
o cenário nos mercados financeiros ficou mais
2,0
1,5
1,0
tranquilo após as operações de refinanciamento
0,5
-0,5
de longo prazo (LTRO, sigla em inglês) do Ban-1,0
-1,5
co Central Europeu, que ofereceu aos bancos
-2,0
-2,5
-3,0
recursos da ordem de 1 trilhão de euros, em
-3,5
-4,0
duas operações, com prazo de três anos e taxa
-4,5
-5,0
de juros fixa de 1% ao ano (a.a.). Há consenso,
todavia, de que o relaxamento monetário até
aqui empreendido deve ter pouco efeito sobre
Estados Unidos
Zona do Euro
Fontes: FMI, EUROSTAT e Bureau of Economic Analysis. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
o ritmo da atividade econômica. Na verdade,
a Zona do Euro já registrou queda do PIB no
quarto trimestre de 2011 (–0,3% em relação ao trimestre anterior, na série livre de flutuações sazonais). Há um risco elevado de que a
região sofra nova redução no primeiro trimestre de 2012, o que configuraria um quadro de recessão. As últimas previsões do FMI dão
conta de uma redução do PIB da ordem de 0,5%, em 2012, e alta de algo como 0,8% em 2013 (gráfico 13).
3) Em relação à economia chinesa, os números recentes apontam para uma desaceleração significativa, embora sem a configuração
de hard landing (um “pouso forçado”). O governo chinês reviu sua meta de crescimento do PIB em 2012 para 7,5%, número inferior
ao registrado nos anos anteriores, entre 9% e 10%. Esta desaceleração resulta do menor crescimento das exportações chinesas, em
virtude do fraco desempenho das economias desenvolvidas, e também da redução ou eliminação de diversos incentivos criados para
minimizar os impactos da crise financeira internacional de 2008, o que tenderá a reduzir significativamente o ritmo de expansão
dos investimentos, especialmente na área de construção civil.
Mercado de Crédito e Política Monetária
A taxa de crescimento interanual dos saldos totais de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) desacelerou-se de 19,0%, em dezembro de 2011, para 18,4%, em janeiro de 2012. O crédito com recursos direcionados foi o principal responsável por essa desaceleração,
destacando-se, no período, a queda da taxa de crescimento (interanual) dos recursos repassados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), de 17,3% para 15,3%. Assim, em termos de unidades de produto, o saldo total do crédito declinou de
49,1% do PIB em dezembro de 2011, para algo como 48,8% do PIB em janeiro do ano corrente. Por outro lado, apesar da trajetória
declinante da taxa SELIC, as taxas médias de juros cobradas nos empréstimos para pessoas físicas e jurídicas apresentaram elevação na
passagem destes meses: de 43,8% a.a. para 45,1% a.a., no primeiro caso; e de 28,2% a.a. para 28,7% a.a. no caso das pessoas jurídicas.
Jan./2012
Jan./2011
Jan./2010
Jan./2009
Jan./2008
Jan./2007
Jan./2006
Jan./2005
Jan./2004
Jan./2003
Jan./2002
Jan./2001
Jan./2000
Em relação ao desempenho futuro do crédito, as perspectivas indicam um cenário de crescimento moderado nos próximos meses. Os
dados da Serasa Experian em janeiro revelam o quarto recuo mensal consecutivo (para 101,2) do indicador de perspectiva do crédito
GRÁFICO 14
ao consumidor. Embora este indicador ainda
Indicador Serasa Experian de inadimplência do consumidor e das empresas
se encontre acima do nível 100,0 – associado a
(Média de 2009 = 100, com ajuste sazonal)
um quadro geral de estabilidade, o que confi160
guraria, portanto, a continuidade das condições
140
120
expansivas –, sua trajetória de queda envolve um
100
ritmo de crescimento do crédito para consumo
80
inferior ao registrado em 2011. Ainda de acordo
60
com a Serasa Experian, a trajetória declinante
40
do indicador seria, em parte, explicada pela
20
0
elevação sistemática do nível de inadimplência
do consumidor (gráfico 14).
Pode-se apontar, ainda, como fator limitativo da
expansão do crédito ao consumo nos próximos
Consumidor
Empresas
meses, o elevado percentual de comprometiFonte: Serasa Experian (sem ajuste sazonal). Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
mento da renda das famílias com o serviço de
suas dívidas junto ao SFN. O expressivo crescimento do nível de endividamento familiar verificado nos últimos anos – que passou de
18,4% da renda disponível (acumulada em 12 meses) em janeiro de 2005, para 42,4%, em dezembro de 2011 – acabou por resultar
num percentual próximo a 25% de comprometimento da renda disponível com despesas de juros e amortizações.
Em suma, não há um quadro prospectivo de crescimento descontrolado do crédito na economia brasileira, ainda que a maior flexibilização da política monetária – a partir da decisão de acelerar o ritmo de redução da taxa SELIC de 0,50 p.p. para 0,75 p.p. na
mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) – seja capaz de estimular de modo mais significativo o mercado de
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
8
crédito e, consequentemente, o nível da atividade econômica. Tal decisão pode ser justificada, principalmente, com base na ainda
lenta recuperação da economia brasileira desde o terceiro trimestre do ano passado (ver seção Nível de Atividade), na necessidade
de diminuir a magnitude do diferencial entre os níveis das taxas doméstica e internacional de juros – estimulante do influxo de
capitais externos e, portanto, da pressão sistemática de apreciação da taxa de câmbio – e, evidentemente, nos efeitos do processo de
desinflação de commodities ocorrido sobre os preços finais (varejo e atacado) durante o segundo semestre de 2011 (ver seção Inflação).
A Dinâmica Recente das Transferências Públicas de Assistência e Previdência
Estimativas preliminares da Coordenação de
Finanças Públicas (CFP) do Ipea dão conta
de que, em 2011, as transferências públicas de
assistência e previdência e subsídios (TAPS)
atingiram o patamar de 14,9% do PIB, aproximando-se, portanto, do recorde de 15,2% do
PIB verificado em 2009.9
GRÁFICO 15
TAPS do PIB
(Em %)
15,40%
15,20%
15,00%
14,80%
14,60%
14,40%
14,20%
14,00%
13,80%
13,60%
13,40%
Uma análise dos componentes desagregados
das TAPS permite entender melhor o que está
acontecendo. A tabela 2 mostra a evolução do
tamanho e da composição das TAPS na última
década, medidos em proporção do PIB.
Percebe-se, dos dados acima, que a despesa com os
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
benefícios do Regime Geral de Previdência Social
Fonte: IBGE e CFP/Ipea. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
(RGPS) é, de longe, o principal componente das
TAPS totais, representando cerca de 40% destas últimas e 6% do PIB. Em seguida, aparecem i) as transferências dos governos subnacionais
(2,3% do PIB e 15,4% das TAPS totais), destinadas em sua grande maioria aos servidores públicos estaduais e municipais aposentados e
seus herdeiros; ii) os pagamentos de aposentadorias e pensões aos servidores públicos da União federal (1,9% do PIB e 12,8% das TAPS
totais); e iii) os saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) com 1,4% do PIB e 9,3% das TAPS totais. Há ainda alguns
componentes menores que, contudo, têm aumentado consideravelmente sua participação nos últimos anos. É o caso dos benefícios pagos
com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), dos benefícios da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) e da Renda Mensal
Vitalícia (RMV), do Programa Bolsa Família (PBF) e das transferências públicas às instituições privadas sem fins lucrativos (IPSFL).
Boa parte das TAPS – mesmo, em alguma medida, os valores das aposentadorias e pensões pagas aos servidores públicos10 – cresce junto
com o SM. Espera-se, assim, que as TAPS aumentem significativamente este ano por conta do aumento do SM de R$ 545 para R$ 622.
TABELA 2
Tamanho e composição das TAPS na última década em proporção do PIB
(Em %)
Ano
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Serv, federais
2,14
2,18
2,06
1,98
1,96
1,96
1,97
2,11
1,94
1,91
RGPS
5,76
6,11
6,22
6,29
6,28
6,07
5,87
6,24
6,02
6,05
FAT
0,49
0,49
0,49
0,53
0,62
0,68
0,67
0,83
0,79
0,82
Loas
0,35
0,38
0,40
0,44
0,50
0,51
0,53
0,59
0,59
0,60
FGTS
1,33
1,20
1,14
1,21
1,25
1,44
1,41
1,48
1,32
1,39
PBF
0,06
0,11
0,23
0,30
0,32
0,34
0,36
0,41
0,42
0,44
Estados e municípios
2,69
2,64
2,45
2,42
2,44
2,39
2,35
2,42
2,32
2,34
IPSFL
0,36
0,40
0,47
0,53
0,46
0,49
0,52
0,55
0,55
0,52
Demais
0,88
1,08
0,67
0,83
1,02
0,89
0,70
0,58
0,71
0,78
Total
14,05
14,58
14,14
14,52
14,86
14,78
14,38
15,20
14,67
14,86
Fontes: IBGE, Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT), CAIXA, BCB e STN, Cálculos dos autores.
9. O último dado oficial divulgado pelo IBGE, em novembro de 2011, é referente ao ano de 2009. Os dados das TAPS totais nos anos de 2010 e 2011 apresentados neste
trabalho são, portanto, estimativas preliminares (baseadas na metodologia de DOS SANTOS; MACEDO SILVA; RIBEIRO, 2010). Os dados oficiais de 2010 e 2011 devem ser
anunciados pelo IBGE em 2012 e 2013, respectivamente.
10. Seja pelo fato de os servidores públicos ganharem o salário mínimo (SM) – o que é menos frequente no caso da União federal do que nos governos subnacionais –
seja por conta de argumentos tais como “salário real relativo” (que parecem mais convincentes no caso da União federal, haja vista a forte correlação entre os aumentos
reais do SM e dos rendimentos médios dos servidores públicos federais verificados nos últimos anos).
Conjuntura em Foco | número 18 · ano 4 · março de 2012
9
REFERÊNCIAS
ALDERSON, A. S. Globalization and deindustrialization: direct investment and the decline of manufacturing employment in 17 OECD nations.
Journal of World-Systems Research, v. 3, n. 1, 1997.
DASGUPTA, S.; SINGH, A. Manufacturing, services and premature deindustrialization in developing countries – a Kaldorian analysis.
United Nations University (UNU), World Institute for Development Economics Research (WIDER), May 2006 (Working Paper, n. 2006/49).
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