Grande festa de abertura do VSB será no CPA 2 PÁGINA 2 domingo [email protected] Crimes virtuais crescem 60% em Mato Grosso PÁGINA 4 A GAZETA - 1B CUIABÁ, 31 DE MARÇO E 1 DE ABRIL DE 2013 OBESIDADE MÓRBIDA Em 2012, apenas 7 cirurgias bariátricas foram realizadas em Cuiabá e nos 3 primeiros meses deste ano nenhum procedimento foi feito; há pelo menos 250 pessoas na fila de espera Pacientes não recebem atendimento adequado RAQUEL FERREIRA DA REDAÇÃO E mbora seja considerado um fator grave de risco à saúde e ocasione cerca de 30 doenças, os pacientes obesos de Mato Grosso não recebem o atendimento adequado, especialmente quando se trata de cirurgia bariátrica oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dados da Central de Regulação de Cuiabá apontam que em 2012 foram realizados 7 procedimentos. Este ano, nenhum obeso mórbido passou por intervenção cirurgia até este mês. Na lista de espera do órgão regulador da Capital há 57 pessoas, porém a Associação Mato-grossense dos Obesos (AMO) garante que a fila contabiliza pelo menos 250 pacientes de Cuiabá e interior aguardando pelo procedimento. Presidente da associação, Silvana Aparecida Gacani, 45, destaca que este é um problema histórico da saúde pública, que não dá a devida atenção para pacientes desta enfermidade. Comenta que o Hospital Geral Universitário (HGU) era o único que atendia, mas o credenciamento venceu em julho de 2012. “Lutamos e conseguimos a prorrogação por mais alguns meses, mas o hospital nunca tem materiais e nem mesmo estrutura para atender obesos mórbidos, a maca cirúrgica é pequena”. Quando o serviço está em funcionamento, a espera dura em média 2 anos. Tempo necessário para os preparativos e acompanhamento do paciente. “Mas do jeito que está hoje, a pessoa passa muito mais tempo esperando. Quem não passa por isso, não sabe o quanto a cirurgia é importante para garantir qualidade de vida e saúde para o obeso”. Conforme o Ministério da Saúde, o SUS gasta R$ 488 milhões por ano com o tratamento de doenças associadas à obesidade. A situação tende a agravar. Pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) aponta que o excesso de peso e a obesidade crescem no Brasil. A proporção de pessoas acima do peso no Brasil avançou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. No mesmo período, o percentual de Arquivo obesos subiu de 11,4% para 15,8%. Diante dos dados, o Ministério da Saúde anuncia que a obesidade merece atenção. Mas a realidade cuiabana é bem diferente, aponta Silvana. “Temos vários pacientes liberados para a cirurgia, mas simplesmente não podem fazer porque não tem hospital credenciado, mesmo diante de todo nosso esforço”. O descaso da saúde pública reflete diretamente na vida da estudante Janine Teixeira de Melo, 26, que há 2 anos está na fila aguardando por uma cirurgia custeada pelo SUS. Com 1,63 metro de altura e 132 quilos, ela sofre todos os desconfortos que acompanham a obesidade tanto no lado físico, quanto no emocional. Conta que sempre esteve acima do peso e conseguiu emagrecer 40 quilos quando tinha 17 anos. Permaneceu mais magra por 3 anos, mas conta que ainda não era o peso ideal para a altura. “Antes era mais fácil emagrecer, o metabolismo é diferente. Chegou um momento que não consegui mais. Não dou conta de emagrecer sozinha”. Quando começou a tratar, Janine pesava 118 quilos e já sofria com dores no joelho, costas, além de ter apneia. “Durmo com dor de cabeça e acordo com ela”. As dores não são os únicos problemas enfrentados pela estudante, que relata vivenciar uma série de situações constrangedoras e ser vítima de preconceito. “Me sinto a pessoa mais feia do mundo, tenho vergonha de ser assim. É super constrangedor não conseguir passar na roleta do ônibus, por exemplo. Viajei para Rondônia de avião e o cinto de segurança não fechou, teve que fazer uma adaptação. Nada é preparado para o obeso e isso aumenta o constrangimento”. Para Janine, a vida seria completamente diferente se recebesse o tratamento adequado. “Não gosto nem de lembrar da minha adolescência, eu era alvo na escola. Muitas vezes fui agredida verbalmente até mesmo na rua por pessoas que me chamavam de baleia, sem eu nunca ter feito nada para elas. Quando você é gordo é como se tivesse uma doença contagiosa e as pessoas se acham no direito de serem agressivas com você”. Como reflexo desses preconceitos, a estudante não tem vida social. Sai de casa somente para trabalhar e estudar. Para ela, o peso ideal seria 65 quilos. Mesmo Marcus Vaillant diante da paralisação dos serviços, Janine tem esperança de um dia conseguir fazer a cirurgia pelo SUS. “Me entristece ver que somos esquecidos, úde a S a d a o i r Ministé 18 para 16 anos reduziu deima para realizar a idade mín ariátrica, em casos cirurgia b risco ao paciente em que há Helena Cristina foi operada há 9 anos e recuperou a autoestima e qualidade de vida Quando o serviço está em funcionamento, a espera dura em média 2 anos, tempo necessário para preparativos e acompanhamento do paciente existem muitas histórias de partir o coração”. Atendente de call center, Helena Cristina Jacinto, 35, conhece de perto o drama vivido por Janine e centenas de obesos de Cuiabá. Ela passou por uma cirurgia bariátrica há 9 anos e recuperou a autoestima e qualidade de vida. Na época, pesava 136 quilos. Pressão alta, dores nas pernas e discriminação. Essa era a realidade dela. “Comecei engordar aos 10 anos e não parei. Fiz todos os regimes, dietas e tratamentos que qualquer um possa imaginar e não adiantava”. Ao saber da cirurgia que também era ofertada pelo SUS, entrou na fila e depois de 2 anos de espera passou pelo procedimento. “Naquela época já era uma luta e ainda hoje não mudou. Continua do mesmo jeito porque as pessoas não têm noção da importância disso para os obesos, muda completamente a vida. Coisas simples fazem diferença. Você pode comprar uma calça jeans, as pessoas se relacionam com você. Coisas que antes não aconteciam”. Segundo o HGU, a unidade atende pacientes bariátricos com até 150 quilos em razão da limitação dos equipamentos instalados no centro cirúrgico e enfermaria, situação de conhecimento da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Secretaria Municipal de Saúde (SMS), AMO e Ministério Público Estadual (MPE). Aponta ainda que buscou diversas parcerias para implementar o serviço, mas até momento não obteve respostas. “O atendimento aos pacientes segue as regras instituídas pelo SUS e central de regulação, utilizando materiais contemplados pela tabela do governo federal. O HGU não possui vigente nenhum procedimento de gastroplastia contratualizado, “visto que à época da assinatura do contrato com a SMS, a habilitação para a realização do serviço encontrava-se vencida e nenhum aditivo foi assinado posteriormente. Ainda assim, o HGU deu continuidade à prestação do serviço, embora limitado estruturalmente, em respeito aos pacientes e por entender que se trata de um problema social”. goutro lado SMS afirma que tenta resolver a situação, além de buscar meios de manter convênios com outras instituições de saúde, a exemplo do Hospital Metropolitano. Aponta que embora o governo federal anuncie as melhorias, os repasses não são suficientes para atender toda a demanda e os valores pagos pela tabela SUS são considerados impróprios pelos médicos. Cita ainda que o Estado reduziu o valor do repasse destinado ao atendimento de alta complexidade. As cirurgias não são consideradas de emergência e a secretaria vai estudar com cautela uma medida definitiva. A