1 Treme! A influência da Pop Music Mundial na construção identitária do Tecnobrega e de suas Divas 1 Anderson Patrick Rodrigues2 RESUMO Nos últimos anos, o Tecnobrega sofreu profundas transformações em sua raiz musical, passou por diversas influências rítmicas, mas nenhuma está tão presente quanto a Pop Mucic mundial. Essas transformações contribuíram para que o maior expoente da música popular paraense de massa deixasse de ser considerado um estilo periférico e marginal e adquirisse status de movimento pop-cult, passando então a circular livremente entre todas as classes sociais do Pará e do Brasil. O presente trabalho tem por objetivo principal analisar como os hits e videoclipes de Divas da música pop mundial, como Beyoncé e Lady Gaga, influenciam na produção, performance e comercialização do atual Tecnobrega, além de observar como se constitui a modelagem das novas Divas locais como Gaby Amarantos e Keila Gentil (Gang do Eletro) e como estas estabelecem e defendem suas identidades exageradas, multicoloridas e glamorosas. Para tanto, este trabalho divide-se em dois momentos distintos e complementares: o primeiro, diz respeito na análise das músicas e respectivos videoclipes que inspiraram versões de suas letras “traduzidas” e musicalizadas em Tecnobrega, buscando a relação entre os hits e videoclipes com o ritmo em questão; o segundo momento, consiste em identificar como a imagem das Divas da música pop mundial inspira e se insere na construção da identidade das Divas do Tecnobrega paraense. Espera-se com este trabalho contribuir para o entendimento da nova música popular de massa do Pará, chamar atenção para a sua construção identitária enquanto Cultura Popular e provocar a realização e novas pesquisas sobre o tema. Palavras-chave: Tecnobrega, Música Pop, Cultura Popular. Introdução O Tecnobrega é uma manifestação musical popular paraense surgido no início dos anos 2000. Trata-se da mistura do estilo “brega” tradicional com “pegadas” de música eletrônica” tendo a tecnologia como matéria prima fundamental para a composição do referido estilo. Como quase todos os ritmos da cena musical do Pará, o Tecnobrega tem uma raiz tradicional, manifestada por estilos tais como a Carimbó, o Siriá, o Lundu e outros 1 Trabalho apresentado na Divisão Temática “Música e Meios: convergências e divergências”, durante o Culturas, Linguagens e Interfaces Contemporâneas 2012, realizado no Espaço Benedito Nunes, na Saraiva MegaStore, de 20 a 23 de novembro de 2012.. 2 Graduado em Letras, habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará ( UFPa); Graduando em Educação Física pela Universidade Estadual do Pará (UEPa). E-mail. [email protected] 2 gêneros populares como o Calypso e as guitarradas, todos, claro, extremamente exagerados e ressintetizados em batidas eletrônicas. O diferencial do estilo, não está apenas na composição tecnológica das batidas, na alegria das melodias e exagero das letras, coreografias e figurinos, mas também na produção, no desenvolvimento e na distribuição musical em um mercado independente e autossustentável. Outra característica importante do Tecnobrega e alvo desta pesquisa é a presença da Música Pop mundial em sua composição, seja inspirando versões de letras “traduzidas” e musicalizadas no referido ritmo, seja na montagem visual e identitária das Divas Tecno inspirada nas atuais Divas da musica pop mundial: Beyoncé e Lady Gaga. Este trabalho visa, portanto, analisar como os hits e videoclipes das Divas destacadas anteriormente, influenciam a criação/produção, a performance e comercialização do atual Tecnobrega, além de observar como se constitui a modelagem da identidade das novas Divas Tecno paraenses como Gaby Amarantos e Keila Gentil (Gang do Eletro) e, paralelo a isso, como estas estabelecem e defendem suas identidades exageradas, multicoloridas e glamorosas no mercado musical brasileiro. Para esta pesquisa, trabalharemos com alguns dos clipes mais famosos das Divas da Pop Music mundial, aqueles que insipraram as versões tecnobrega mais expressivas dos últimos tempos. De Beyoncé, o videoclipe escolhido é o da música Single Ladies; de Lady Gaga o videoclipe analisado é o da música Bad Romance. Ambos os videoclipes apresentam particularidades que chamaram atenção mundial para as Divas que os consagraram, seja pela coreografia inovadora e pós-moderna do primeiro, seja pela estranhesa e liberdade de criação do segundo. Trazê-los para uma versão tecnobrega foi um risco assumido que deu certo, muito certo, isso fez com que a carreira dos músicos que os gravaram ganhasse tamanho reconhecimento que em pouco tempo consagraram as novas Divas da música Tecno paraense, dentre elas a mais representativa nacionalemnte, Gaby Amarantos com seus figurinos assimétricos, exagerados e trabalhados no LED, seguida de Keila Gentil (Gang do Elétro) com seu psicodelismo manifestado tanto na energia transbordada nos palcos, quanto no figurino fosforecente de toda a sua gang. O Videoclipe 3 A palavra videoclipe é uma palavra inglesa traduzida em Português por “filme curto, em suporte digital”. O videoclipe é a materialização da música. Atua como canal de transporte da mensagem de um emissor (o cantor/compositor) transmitida através de imagens, facilitando assim o entendimento da mensagem. Sua criação pode ou não seguir regras lineares de tempo e produção, mas todos seguem um roteiro, todos usam de atores e/ou modelos, defendem um argumento e utilizam diversos recursos cinematográficos para destacar aquela como uma grande produção. A partir dos anos 80, com a explosão da Musica Pop mundial, por intermédio de seu maior ícone, Michael Jackson, os vídeos musicais adquiriram uma linguagem diferenciada que resultou em uma estética própria, chamada de “Estética Videoclipe” (SUSSI, 2007). Essa nova linguagem, caracterizou-se por tratar-se de montagens fragmentadas e aceleradas, com narrativa não linear, imagens curtas, justapostas e misturadas, variedade visual, riqueza de referências culturais e uma forte carga emocional nas imagens apresentadas. Todos esses elementos reunidos se transformavam num produto de impacto e de fácil absorção: o videoclipe. (Idem. p.8). O videoclipe representou uma nova forma de linguagem. Esta, jovial e atrativa, influenciou toda uma geração e destaca-se no cenário cultural da música mundial como influenciador direto nos modos de agir, consumir, vestir e modelar a própria identidade. Falamos, portanto em um difusor cultural e informativo. Os Videoclipes Analisados Single Ladies – Beyoncé A música Single Ladies está no álbum “I Am...Sasha Fierce” de Beyoncé e tem um ritmo marcante e uma mensagem direta a todas as mulheres que terminaram um relacionamento ruim e estão vivendo muito bem sem os seus respectivos ex - amores. Ao mesmo tempo em que atua como motivação e exemplo de solidariedade feminina, pois implicitamente diz às mulheres: “Você é melhor que ele! Você pode viver sem esse cachorro que só te faz sofrer”; diz explicitamente aos homens: “estou curtindo a minha vida... agora você vai aprender o que é sentir minha falta”. Trata-se de uma mensagem clara e objetiva, logo traduzi-la em videoclipe com todos os elementos citados no tópico anterior: roteiro, 4 atores e/ou modelos, argumentos e diversos recursos cinematográficos poderiam prejudicar a receptividade da mensagem. Escolheu-se então, um cenário simples, em preto e branco, sob uma espécie de tablado amplo e rampado, com figurino e maquiagem sem grande apelo pop, mas com um diferencial: a coreografia mais dinamicamente ousada dos últimos tempos. Single Ladies faz de Beyoncé ícone histórico da nova geração de artistas Pop mundiais. Torna-se uma das artistas mais ouvidas e, consequentemente, vendidas em todo o mundo e chega a causar polêmica por perder um dos prêmios mais importantes da música americana, o MTV Music Awards, para Taylor Swift esta, com um hit e videoclipe não tão significativo e inovador quanto o de Beyoncé. Single Ladies inspirou vários posts no Youtube de pessoas reproduzindo, ou tentando reproduzir, seja com seriedade seja com humor, a coreografia do videoclipe. O fato é que estamos falando de um fenômeno musical que coordenou o mundo na mesma batida e na mesma coreografia das mãos próximas ao rosto movendo-se para direita e esquerda. A música de Beyoncé inspirou a versão “Hoje eu to solteira” que ganhou vida na voz de Gaby Amarantos, e logo virou hit Tecnobrega no Pará e em seguida em todo o Brasil, tanto que após cantá-la em um festival em Recife-Pe, Gaby ficou conhecida nacionalmente como “Beyoncé do Pará” e mais tarde, devido aos figurinos exagerados, pirotécnicos e luminosos de “A Lady Gaga da Amazônia” tornando-se o ícone mais significativo da cultura Tecnobrega atual. Bad Romance – Lady Gaga A música "Bad romance" está presente no álbum "The Fame Monster", de Lady Gaga e fala sobre uma pessoa que não tem medo da dor, pois está “Presa em um romance mau” e quer esse romance mal. Ao contrário de Single Ladies, Bad Roamance apresenta muitas mensagens em sua composição e isso está refletido no videoclipe que é repleto de símbolos e imagens estranhas, na maioria das vezes, imcompreensíveis aos olhos comuns. . São varias imagens compondo um mosaico de significados onde o óbvio é quase inexistente, pois há a mistura de alegroias do amor, do sadomazoquismo, do gosto pela fama, do tráfico de mulheres, das drogas, da religiosidade, do sexo e tantas outras. Bad Romance é sem dúvida um divisor de águas na carreira de Lady Gaga. Mas do que uma dose cavalar de simbolismo, Bad Romance, é subversivo, ousado, grotesco, e comercial, pois não há como 5 ouvir a música e/ou assistir ao videoclip sem repetir “Rah-rah-ah-ah-ah!Roma-roma-ma!Gaga-ooh-la-la!Want your bad romance” Bad Romance isnpirou a versão “Não quero Romance” da banda Os Brothers, mas cantada por vários artistas da música tecno, dentre eles Keila Gentil e sua Gang do elétro que herda de Lady Gaga o Psicodelismo, a ousadia, as roupas brilhosas e luminosas do estilo Gaga. As Versões da Musica Pop Mundial em Tecnobrega Com as versões das músicas pop mundiais em tecnobrega, este gênero musical tomou força e proporções nunca antes esperadas por seus defensores: saiu das casas da periferia diretamente para o deleite musical das elites paraenses que até pouco tempo o rejeitavam e o classificavam como ritmo marginal, periférico, “coisa de pobre”, ou sendo mais realista ainda, “música de ladrão”. A grande sacada de unir a melodia da música pop de maior sucesso da atualidade à batida brega e ressintetiza-la com nuances eletrônicas dos estilos house e tecnomusic deixou o ritmo mais acelerado, porém harmônico e agradável para todos os ouvidos, independente da classe social a que pertençam. Graças a essas versões, (ou sampliações como a própria Gaby Amarantos registrou em sua música “Xirley”, carro chefe de seu primiero CD solo, intitulado “Treme”), o Tecnobrega evoluiu musicalmente, imageticamente e socialmente. Hoje está presente em todas as classes sociais, animando, encantando, dividindo opiniões sobre ser ou não cultura popular paraense. Independente das discussões sobre o tema, de uma coisa não se deve duvidar: ser tecnobrega hoje é cult, é pop e está na moda. Isso implica diretamente na formatação de uma nova identidade cultural da música paraense. Entendamos por Identidade cultural aquela que consiste em um um sistema de representação das relações entre indivíduos e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço. (OLIVEIRA, 2010). Com essa nova roupagem do gênero, o tecnobrega alcança reconhecimento nacional, mas não podemos deixar de nos perguntar: como seria o cenário do tecnobrega paraense sem 6 a introdução da música pop mundial em suas raizes? Será que o Tecnobrega seria tão bem aceito atualemnte se negasse a influência da música pop em sua produção musical? Provavelemente não estaria em tamanha evidência e continuaria renegado à condição de música periférica. As versões analisadas nessa pesquisa foram “Hoje eu to solteira”, de Gaby Amarantos e “Não quero Romance” da banda Os Brothers, mas cantada por vários nomes da música Tecno praraense, dente eles Keila Gentil e sua Gang. A primeira tem como base, a melodia e a letra de Single Ladies, de Beyoncé e segue a mesma ideia de liberdade feminina, da mulher solteira, que sabe o que quer, porém, diferentemente da música de Beyoncé, ela não quer fazer um ex-namorado sofrer, e sim conquistar o coração do homem que ama e que por algum motivo está longe e isso a deixa triste: “Você sabe que preciso De você aqui comigo Me fazendo feliz No teu sorriso Eu viajo, eu deliro Teu beijo me acende. Você sabe que eu preciso Então fica comigo Preciso amar você Quando a saudade me consome Grito seu nome...” (BROTHERS, 2009). É importante salientar que pouco se modificou da estrutura melódica de Single ladies. A versão Tecnobrega, abusou da semelhança musical para sustentar a ideia de que sua interprete não é qualquer pessoa, mas Gaby Amarantos, a Beyoncé do Pará. Trata-se, portanto de uma canção identitária. A segunda música por sua vez tem como base a melodia e a letra de Bad Romance, porém, ao contrário da música que a originou, não fala da espera de viver um amor, por mais penoso que ele seja, ao contrário, fala da separação: “oh oh oh oh oh oh oh oh Vai! Tchau e benção! oh oh oh oh oh oh oh oh Vê se me esquece!” (OS BROTHERS, 2009). Enquanto a música de Lady Gaga é carregada de varias imagens compondo um mosaico de significados onde o óbvio é quase inexistente devido à intensa mistura de alegroias do amor, do sadomazoquismo, do gosto pela fama, do tráfico de mulheres, das drogas, da relidiosidade, do sexo e tantas outras, a versão Tecnobrega de Bad Romance, é pobre em imagens e 7 significados prevalecendo assim o óbivio em detrimento da estranhesa e complexidade da música que a originou. Em “Não quero Romance” o Eu lírico revela a dor da perda de um amor que a fez mal, mas diferentemente da Música de Gaga, ela não pretende viver o mesmo amor novamente e sim sair e curtir a vida à Single Ladies. O uso da melodia e da letra de Bad romance é justificado apenas por tratar-se de uma canção famosa mundialmente com forte apelo jovem e homossexual, campos produtivos comercialmente para germinação do Tecnobrega. Seus autores apenas ressintetizaram (ou sampliaram) a música original, acrescentaram uma letra pobre de sentido e abusaram de batidas eletrizantes para chamar atenção para a versão e assim conquistaram o mercado brega paraense. Não demorou muito e todos já estavam repetindo baixinho: “Ah-rá uh lalá, eu sou sincera! Ah-rá uh lalá, eu sou sincera!”. Evitou-se modificar o mínimo possível a melodia da música original, deixando-a apenas mais rápida e com as bases graves mais potentes, isso porque a letra usaria um sentido diferente daquela que a inspirou, puro marketing promocional. Divas Pop versus Divas Tecno 1. Beyoncé Beyoncé Giselle Knowle, ou simplesmente Beyoncé, é cantora, compositora, atriz, dançarina, coreógrafa, arranjadora vocal, produtora, diretora de vídeo e empresária americana nascida e criada em Houston, Texas. Ficou conhecida mundialmente a partir de 1997, quando era vocalista do girlsband Destiny's Child, que já vendeu mais de 50 milhões de discos. Possui cinco singles em primeiro lugar na Billboard Hot, vendeu mais de 75 milhões de discos em todo o mundo, fato este que a qualifica como uma das artistas musicais mais bem sucedidas da história. Uma verdadeira Diva da Pop muisc mundial que preserva sua imagem particular do acesso das câmeras e da fúria dos Paparazzos. Beyoncé é duas mulheres em uma: de um lado a ousada e destemida Sasha Fierce que encanta e seduz com seu corpo escultural, voz potente e coreografias arrasadoras, de outro, Beyoncé Knowle, casada, mãe de familia, discreta, exemplo de elegância e educação, criadora da instituição de caridade Survivor Foundation , a típica mulher religiosa, política e conservadora sobre tudo, mas que não levanta a bandeira da moralidade contra seu público, formada por uma parcela homossexual significativa. 8 2. Lady Gaga Stefani Joanne Angelina Germanotta, mais conhecida por Lady Gaga, é cantora, compositora e produtora musical nascida nos Estados Unidos. Gaga ganhou destaque no cenário musical mundial após o lançamento de seu álbum “The Fame”, em 2008. Seu diferencial está no culto ao estranho, à androgenia e à provocação, na fuga dos padrões comerciais de Divas Pop e no início de uma nova geração musical inspirada na ousadia de outros artistas libertários que fizeram história como David Bowie e Fred Mercury. A recepção crítica da música de Lady Gaga, está intimamente ligada a seu senso de moda e a sua personalidade marcante. Sua imagem de Diva pop convive com a imagem de uma pessoa crítica, politizada, louca e trasformadora. Gaga surge como ícone de um novo movimento de cultura popular na contracorrente do mercado musical e com sua irreverência e ousadia que vai de suas letras ao estilo próprio marcado por figurinos exagerados e o culto ao corpo assexuado ou androgino, além da liberadade sexual. Seu papel de Diva manifesta-se na íintima relação que estabelece com seu público, na preocuapção com o reforço da autoestima de seus fãs e na militância homossexual, genêro que compõe a maioria significativa de seus seguidores mais fiéis. 3. Gaby Amarantos Gabriela Amaral dos Santos, ou simples mente Gaby Amarantos, é cantora e compositora de Tecnobrega, MPB e Carimbó. É natural de Belém do Pará, iniciou sua carreira como cantora na Paróquia de Santa Terezinha do Menino Jesus, onde participava do coral, de onde mais tarde fora convidada a se retitar, pois sua alegria “exagerada” não condizia com a vertente musical do coral em questão. Gaby começou então a cantar nas noites paraeses e logo ficou conhecida por seu estilo exuberante e extravagante. Gaby tem um estilo que divide opiniões, abusa do figurino autoral composto por muitos brincos de mateirias inusitados, sapatos de 20 centímetros de altura com leds, roupas coloridas, muitos cílios postiços, apliques de cabelo e uma infinidade de acessórios coloridos. Usa a tecnologia e as redes sociais para divulgar e transmitir suas músicas e é uma das responsáveis pelo surgimento e difusão do estilo Tecnobrega paraense com vertentes da musica pop mundial. Dentre seus sucessos nacionais estão as músicas “Hoje eu tô Solteira”, versão da música “Single Ladies”, da cantora americana Beyoncé e “ Beba Doida” versão da 9 música “I like to move it”, tema do filme Madascar. Seus grandes sucessos atuais são as músicas, "Xirley" e “Ex mai love”, esta última, tema de novela inspirada no estilo brega pop de Gaby e outras cantoras nacionais que seguem o estilo. É inegável a influência comercial de Beyoncé e Lady Gaga na construção da personagem Gaby Amarantos. Quando batizada de Beyoncé do Pará, Gaby passou a se apresentar com figurinos, penteado e maquiagem que lembravam aqueles usados por Beyoncé no videoclipe Single Ladies. Para Gaby, essa ligação foi extremamente positiva, favorecendo assim a aceitação de, ou ao menos a curiosidade por, suas músicas, seu estilo, seu jeito de ser. De Gaga, Gaby abusa na inspiração de um figurino composto por modelos assimétricos, multicoloridos, polêmicos, pirotecnicos e luminosos que chamam atenção por onde ela passa. 4. Keila Gentil ( Gang do Eletro) A Gang do Eletro é uma combinação de vozes e ritmos eletrônicos do Pará com batida eletro que abriu uma nova vertente de ritmos eletrônicos paraenses, tem seis anos de estrada e há dois está sob os comandos vocais da eletrizante e irreverente Keila Gentil. Keila, é amazonense e assim como Gaby Amarantos, também iniciou sua carreira cantando em igrejas, mudou-se para Belém com 16 anos, onde teve experiência musicais com bandas de forró, passando pelo rock, até chegar ao Tecnobrega, ritmo apresentado pelo marido William. A Gang utiliza hits com “pegadas” fortes, ritmo aluciante e utiliza como materia prima de suas versões, a musica pop mundial. Keila, abusa dos figurinos psicodélicos e luminosos à Lady Gaga e como esta, não teme ousar em cima do palco, em suas letras, em sua diversidade. Ao fazer esse panorama das Divas pop e Divas Tecnobrega paraenses, podemos observar o quão presente está a musica pop mundial na construção da identidade do estilo brega atual. Relacionar as características que inspiraram as cantoras Tecno não é afirmar que elas copiam Divas “de verdade”, mas que se inspiram na atitude, no profissionalismo, na visão de mundo, de comércio musical, e na própria questão cultural que essas mulheres defendem. Pode-se afirmar que sem essa influência o estilo eletrônico do Pará ainda enfrentasse dificuldades para sair da periferia e talvez, não estaríamos falando sobre assunto neste momento. O fato é que o Tecnobrega é uma expressão cultural que ganhou forma 10 mercadológica e seus intérpretes não poderiam deixar de acompanhar esse produto. Passou-se então a modernizar e a recriar a identidade Tecno e isso, ao mesmo tempo em que assustou, foi extremamente positivo para quem o defende e o produz. Com o reconhecimento das Divas populares paraenses, estas tiveram que adotar certos posicionamentos, algumas pesquisas e muitas decisões que determinaram seus respectivos estilos musicais e visuais, pois o estilo Tecnobrega é uma arte que se vê, ouve e faz TREMER. Essa remodelagem imagética e musical foi importante para atingir o gosto da burguesia e classificar o gênero musical em questão como música cult, ainda que seja aceito e defendido por alguns estudiosos do assunto, como um ritmo midcult (BARROS, 2009), que não permanecerá muito tempo no gosto da elite por tratar-se de um veículo de massa. O que houve, portanto, foi um rearranjo estrutural-cultural onde a imagem do brega eletrônico é vendida como cultura superior, valorativa da tradição musical paraense o que facilita sua introdução em espaços antes não ocupados. Ressalta-se que o gênero não deixou de ser uma manifestação de massa, o que nos leva a firmar que sua aceitação não se dá por mudanças na estrutura musical do próprio gênero, mas por mudanças sociais da atual burguesia que o aprecia. Considerações Finais Diante do exposto, podemos afirmar que as grandes mudanças ocorridas no estilo Tecnobrega, nos últimos anos, deve-se pela influência da musica pop mundial. Essas transformações contribuíram para que o estilo musical deixasse de ser considerado um ritmo periférico e marginal e adquirisse status pop-cult, passando então a circular livremente entre todas as classes sociais do Pará e do Brasil. A análise dos hits e videoclipes de Divas da música pop mundial, como Beyoncé e Lady Gaga, permitiu observar como suas músicas e suas respectivas imagens de Divas Pop influenciam na produção, performance e comercialização do atual Tecnobrega; permitiu também observar e entender como se constitui a modelagem da identidade das novas Divas locais como Gaby Amarantos e Keila Gentil da Gang do Eletro (a partir da imagem de Lady Gaga e Beyoncé), além de entender como estas compõe e defendem suas personagens exageradas, multicoloridas e glamorosas. 11 Da análise comparativa entre as músicas e videoclipes selecionados com as respectivas versões Tecnobrega, pode-se observar a obediência melódica das versões eletrônicas que apresentaram diferença apenas na letra e nas mensagens apresentadas ao interlocutor. Da análise comparativa entre imagens das Divas pop e das Divas Tecno verificou-se que o quão presente está a estilo pop mundial na construção da identidade Tecnobrega atual e que não se trata de uma cópia de estilo, mas de uma inspiração de atitude, profissionalismo, visão de mundo e de comércio musical dessas mulheres, características essas que Gaby Amarantos e Keila Gentil, cultivam no estilo musical/cultural que defendem. Espera-se com este trabalho contribuir com o entendimento que o gênero Tecnobrega não deve ser visto com olhos recriminadores, mas ao contrário, encarado como manifestação artística (de massa ou de elite) cultural paraense. Que a identidade Tecnobrega é constituída por raízes amazônicas, mas também apresenta traços significativos extraídos da musica pop mundial e do estilo de vida, profissional e pessoal de suas maiores Divas; que não se pode simplesmente excluir o Tecnobrega do ciclo de Cultura tradicional por tratar-se de um gênero divisor de opiniões, pois negar a importância musical do estilo e seu atual sucesso nacional é negar a si mesmo, sua historia e sua Cultura. É desejo deste autor mobilizar especialmente às pessoas que manifestam todo o seu preconceito contra a música eletrônica paraense, que estes possam voltar seus olhares para o Tecnobrega sem medo do desconhecido e sem os pré-julgamentos elíticos que possam cultivar em relação ao assunto. Que entendam que atualmente há uma valorização elítica da Cultura periférica, esta aos moldes barrocos, privilegia o estranho, o diferente, o ambíguo, o grotesco aglutinadas e devoradas em uma espécie de processo antropofágico pós-moderno que as digere e em seguida as cospem na cara da sociedade elitista, mas com um gosto doce, refinado e de boa aparência, fazendo, com isso, que o produto final seja bem aceito por quem antes a renegava e a discriminava. Portanto, não se pode falar em identidade Tecnobrega hoje sem considerar três fatores indissociáveis no processo de aceitação do gênero: a tradição do estilo brega e dos ritmos paraenses que nunca saem de moda; a presença da musica pop enquanto cultura influenciadora de uma nova geração de interpretes e estilos da música eletrônica do Pará; e da aceitação total ou parcial do gênero pela burguesia do Pará e do Brasil. 12 Referências ARAÚJO, Samuel. Brega,samba e trabalho acústico: variações em torno de uma contribuição teórica à etnomusicologia. Revista Opus, v. 6. Belo Horizonte: ANPPOM, 1999. Disponível em www.anppom.com.br/opus BARROS, Lygia. Tecnobrega: entre o apagamento e o culto. Revista Contemporânea. N.12, 2009. COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural. SP: Iluminuras, 1997. LE BRETON, David. A sociologia do Corpo. 3. ed.São Paulo: Vozes, 2009. OLIVEIRA, Lúcia Maciel Barbosa de. Identidade Cultural. Disponível em: << http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Identidade+cultural>>. Acesso: 26 outubro de 2012. SOARES, Tiago. Por uma metodologia de análise mediática dos videoclipes: Contribuições da Semiótica da Canção e dos Estudos Culturais. Revista UNIrevista - Vol. 1, n° 3: (julho 2006). SOUTO, Juliana da Silva; SOARES, Thiago. A linguagem do videoclipe como geradora conceitual: análise da campanha publicitária da marca Rider. Encontro ESPM. Disponível em: <http://www.encontroespm.com.br/pdf/prov52.pdf> Acesso: 18 setembro de 2006. SUSSI, Juliano Shiavo. et. al. Videoclipe, estética e linguagem: sua influência na sociedade contemporânea. Revista NUCON - Ano 4, nº 12- Limeira/SP :De outubro à dezembro de 2007. 13 Anexos Imagem 01 Lady Gaga – Bad Romance Fonte: www.google.com.br/imagens Imagem 02. Lady Gaga- Turnê Borns This way Fonte: www.google.com.br/imagens 14 Imagem 03 Beyoncé – Single Ladies Fonte: www.google.com.br/imagens Imagem 04 Gaby Amarantos Fonte: www.google.com.br/imagens 15 Imagem05 Keila Gentil (Gang do Eletro) Fonte: www.google.com.br/imagens