1 MARILÉIA SIMON POSSAMAI DELLA CÂNCER DE COLO DO ÚTERO: SIGNIFICADO DO EXAME CITOPATOLÓGICO CERVICOVAGINAL NA PERCEPÇÃO DAS MULHERES, USUÁRIAS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE JACINTO MACHADO – SC. Criciúma, 2004 2 MARILÉIA SIMON POSSAMAI DELLA CÂNCER DE COLO DO ÚTERO: SIGNIFICADO DO EXAME CITOPATOLÓGICO CERVICOVAGINAL NA PERCEPÇÃO DAS MULHERES, USUÁRIAS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE JACINTO MACHADO – SC. Projeto de Pesquisa apresentado à Diretoria de Pós-Graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para a obtenção do título de especialista em Saúde Pública e Ação Comunitária. Orientadora: Maria Inês da Rosa. Criciúma, 2004 3 AGRADECIMENTOS Os meus sinceros agradecimentos a todos os que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho. Registro o meu agradecimento especial às seguintes pessoas: A Deus pelo universo e pela vida, por eu conseguir andar, ouvir, falar, raciocinar e enxergar; Ao meu pai, eterno memorável, que em muitos momentos senti sua presença; A minha mãe, que sempre foi à avó e mãe de meus filhos nas horas da minha ausência; Ao meu marido, Afonso, e aos meus filhos, Everton e Júnior, pela compreensão e o carinho; A minha orientadora, Maria Inês da Rosa, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Mestre em Saúde Coletiva e Professora de Graduação em Medicina na UNESC, pelo aprendizado, paciência e amizade; A Tânia, bibliotecária da biblioteca Comuti da UNESC, por sua atenção e servidão na aquisição de artigos científicos; A todas as mulheres que se dispuseram a ser entrevistadas e a dedicar parte do seu tempo para a execução desta pesquisa; Ao Secretário de Saúde, do Município de Jacinto Machado – SC, por consentir e conceder o espaço físico da Unidade de Saúde Central para que a pesquisa fosse realizada, e as funcionárias pela atenção dispensada. 4 RESUMO DELLA, M.S.P. Câncer de Colo do Útero: Significado do Exame Citopatológico Cervicovaginal na Percepção das Mulheres, usuárias do Sistema Único de Saúde no Município de Jacinto Machado – SC. Criciúma, 2004 [Monografia de Pós-Graduação em Saúde Pública e Ação Comunitária da Universidade do Extremo Sul Catarinense]. Objetivo: Realizar uma pesquisa exploratória quanto ao significado do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal, na concepção das mulheres ao submeterem-se a este. Material e Método: Realizou-se uma pesquisa descritiva, qualitativa, com vinte mulheres entre 18 e 61 anos de idade, usuárias do Sistema Único de Saúde, na Unidade Básica de Saúde Central, no município de Jacinto Machado – SC. Os critérios de exclusão foram: gestantes, mulheres, que tinham utilizado medicação fungicida vaginal nos últimos dez dias, relação sexual nos últimos três dias e mulheres em período menstrual. A coleta de dados foi desenvolvida mediante entrevista individual semi-estruturada. Para a análise de dados qualitativos, fez-se no primeiro momento, uma leitura analítica do conteúdo e as mensagens foram agregadas em ordem de temática e após estabeleceu-se maior aprofundamento de algumas questões. Resultados: Entre as mulheres participantes, encontrou-se como significado de submeter-se ao exame os seguintes resultados: prevenção, diagnosticar infecção, diagnosticar Doenças Sexualmente Transmissíveis e diagnosticar as causas do corrimento. A presente pesquisa demonstrou uma freqüência relativa de 70% quanto a iniciativa própria de buscar o serviço de saúde em uma instituição pública, para submeter-se ao exame de prevenção citopatológico cervicovaginal. Estando associado à prática do auto-cuidado e a prevenção do câncer de colo do útero em 95% das participantes, porém a demanda é pequena no grupo etário entre 48 e 58 anos, com 5%, e no grupo etário entre 59 e 69 anos, com 10%, o qual nos leva a observar que nesta faixa etária elas diminuíram a atenção para com seu corpo, uma vez que, segundo o Programa Viva Mulher, em conjunto com Instituto Nacional do Câncer e o Ministério da Saúde, o pico de incidência do câncer do colo de útero situa-se entre 40 e 60 anos de idade; e uma menor porcentagem ocorre abaixo dos 30 anos. Observou-se que o grau de escolaridade entre as mulheres entrevistadas é menor nestes grupos que diminuíram o auto-cuidado; havendo déficit de conhecimento e faltando educação em saúde. Conclusão: Com o aumento da expectativa de vida principalmente das mulheres e em especial na Região Sul, a programação e o desenvolvimento eficaz das ações do Programa Preventivo de Câncer de Colo do Útero devem ser intensificadas. Palavras Chaves: Câncer de Colo do Útero; Mulheres; Auto-Cuidado; Fatores de Risco. SUMÁRIO LISTA DE TABELAS...........................................................................................6 INTRODUÇÃO....................................................................................................7 1. DELIMITAÇÃO E ELABORAÇÃO DO PROBLEMA.......................................7 1.1 Tema........................................................................................................7 1.2 Formulação do Problema.........................................................................7 2. JUSTIFICATIVA..............................................................................................8 3. OBJETIVOS....................................................................................................9 3.1 Objetivo Geral .........................................................................................9 3.2 Objetivos Específicos...............................................................................9 4. REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................10 4.1 Conceito.................................................................................................10 4.1.1.Fisiologia do Útero.........................................................................12 4.1.1.1. Fisiologia do Colo Uterino.................................................13 4.2 Fisiologia do Câncer de Colo do Útero..................................................15 4.3 Diagnóstico do Câncer de Colo do Útero..............................................17 4.4 Epidemiologia........................................................................................18 4.4.1. Fatores de Risco..........................................................................20 4.4.2. As Diferenças Regionais da Incidência do Câncer do País.........26 4.4.3. Epidemiologia do Câncer em Santa Catarina..............................27 4.5 Exame Citológico...................................................................................28 4.5.1. Periocidade de Realização do Teste Citológico...........................32 4.5.2. Técnica do Esfregaço Citológico de Papanicolau........................33 4.5.3. Cuidados na Colheita...................................................................34 4.5.4. Cuidado com a Paciente..............................................................36 4.7.2 Cuidado com a paciente................................................................29 5. METODOLOGIA............................................................................................31 6 5.1 Casuística e Métodos............................................................................39 5.1.1. Tipo de Pesquisa..........................................................................40 5.1.2. Amostra........................................................................................41 5.1.3. Instrumento de Coleta de Dados..................................................41 5.1.4. Limitações de Pesquisa................................................................42 5.1.5. Aspectos Éticos............................................................................43 5.2 Análise.........................................................................................................44 5.3. Resultados e Comentários.........................................................................45 5.3.1. Faixa Etária..................................................................................45 5.3.2. Escolaridade.................................................................................47 5.3.3. Motivação para Procurar o Serviço de Saúde para Realizar o Exame de Prevenção Citopatológico Cervicovaginal.............................48 5.3.4. Prevenção....................................................................................49 5.3.5. Temor do Câncer..........................................................................51 5.3.6. Detectar Feridas...........................................................................53 5.3.7. Diagnosticar Infecção...................................................................54 5.3.8. Diagnosticar Doenças Sexualmente Transmissíveis...................55 5.3.9. Diagnosticar as Causas do Corrimento........................................56 5.3.10. Centralização do Local para a Realização do Exame de Prevenção Citopatológico Cervicovaginal..............................................57 5.3.11. Déficit de Conhecimentos das Mulheres....................................59 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................60 REFERÊNCIAS.................................................................................................63 ANEXOS............................................................................................................68 ANEXO1 – Questionário....................................................................................69 ANEXO 2 – Termo De Consentimento Livre e Esclarecido...............................70 ANEXO 3 - Termo de Consentimento................................................................71 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Posição relativa dos casos novos de câncer segundo a região 26 geográfica. Mulheres - Estimativa para 2002 Tabela 2. Distribuição da mortalidade pelos cânceres de colo uterino e de mama nas mulheres do estado de Santa Catarina, Brasil, 1992 – 28 1996. Tabela 3. Interpretação do esfregaço de Papanicolaou 32 Tabela 4. Distribuição da faixa etária das mulheres submetidas ao exame 45 citopatológico cervicovaginal. Jacinto Machado – SC. Fevereiro de 2004. Tabela 5. Distribuição do grau de escolaridade por faixa etária entre as 47 mulheres submetidas ao exame citopatológico cervicovaginal. Jacinto Machado – SC. Fevereiro de 2004. Tabela 6. Distribuição das mulheres entrevistadas quanto à motivação de 48 submeter-se ao exame de prevenção citopatológico cervicovaginal. Jacinto Machado – SC. Fevereiro de 2004 7 INTRODUÇÃO Conforme Abrão, (2001, p. 1289), “o câncer do colo do útero ainda representa a mais freqüente neoplasia maligna do aparelho genital feminino, surgindo em qualquer época do menacme (fase reprodutiva). Predomina, no entanto, na quinta década da vida, quando na sua forma invasora”. Sendo uma doença de evolução lenta, apresentando fases préinvasoras e, portanto, benignas, caracterizados por lesões conhecidas como neoplasias intra-epiteliais cervicais. O período de evolução de uma lesão cervical inicial para a forma invasora e, por conseguinte, maligna, é de aproximadamente vinte anos. Este período relativamente longo, permite que ações preventivas sejam eficientes e alterem o quadro epidemiológico da doença (TRINDADE, 2001, p.1269). O exame citopatológico de amostras cervicovaginais (exame de Papanicolaou“) tem sido considerado um método altamente confiável para detectar as lesões cervicais. Pois a proporção de casos verdadeiros positivos detectados já foi descrita como sendo próxima de 99,8%. (INCA – Instituto Nacional de Câncer, 1996). Além de sua acuidade diagnóstica é considerado um método de baixo custo, simples e de fácil execução. Estas características o tornam um método amplamente utilizado em programas de controle de câncer do colo do útero. Koss apud Halbe (2000, p.540) é enfático ao afirmar, sem qualquer equívoco, que “o exame citológico de esfregaço cervical é uma ferramenta 8 eficaz de detecção de câncer, talvez o único teste de triagem de câncer atualmente eficaz”. Do ponto de vista de Saúde Pública, sabe-se que a efetividade do programa de controle do câncer de colo do útero depende da cobertura populacional alcançada, assim preconiza-se que 80%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1989) e 85% pelo Ministério da Saúde (MS, 1994), das mulheres sejam submetidas ao exame. Muitas vezes, quase sempre por vergonha, preconceito e medo de realizarem os exames ginecológicos de rotina, as mulheres colocam desnecessariamente sua saúde em risco e por tanto sua vida. Em se tratando do câncer de colo do útero, este é um sério perigo, haja vista esta doença ser responsável por milhares de mortes em todo o mundo, devendo ser devidamente prevenida e controlada.As mulheres devem buscar os serviços de saúde e fazer seus exames anualmente, sem qualquer visão de preconceito, tanto da parte delas próprias como de seus parceiros (MAGRO, 2003). 7 1. DELIMITAÇÃO E ELABORAÇÃO DO PROBLEMA 1.1. Tema Câncer de colo do útero: significado do exame citopatológico cervicovaginal, na percepção das mulheres, usuárias do Sistema Único de Saúde do município de Jacinto Machado – SC. 1.2. Formulação do Problema Qual o significado de submeter-se a um exame citopatológico cervicovaginal na percepção das mulheres, usuárias do Sistema Único de Saúde. 8 2. JUSTIFICATIVA Ao longo do tempo de minha atuação profissional, como enfermeira, responsável pela equipe de enfermagem do Hospital São Roque de Jacinto Machado, SC; tenho observado nos diálogos com as mulheres durante o período de internação, de que elas possuem certos preconceitos e temores, no que se refere ao exame citopatológico cervicovaginal ou “exame preventivo”. Algumas, inclusive, relatam que nunca submeteram-se ao exame, devido ao medo exacerbado de um possível diagnóstico de câncer. Isso parece uma posição paradoxal: se existe fobia pelo câncer, não deveria haver mais preocupação em prevení-lo? Por conseguinte, senti necessidade de compreender qual o significado que elas têm concebido frente ao exame citopatológico, já que este é considerado um exame de rotina para as mulheres, a partir do momento em que iniciam sua atividade sexual, tendo o mesmo como objetivo principal; a prevenção. Prevenção esta do câncer do colo do útero, que segundo o Ministério da Saúde (MS – 2003), este ocupa o terceiro lugar em incidência e o quarto lugar em mortalidade entre as mulheres. Pretende-se que os resultados desta pesquisa possam promover ações de saúde educativas, despertando consciência coletiva das mulheres e profissionais envolvidos, invertendo a hegemonia existente da atenção curativa para preventiva. 9 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral Explorar o significado do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal, na percepção das mulheres, usuárias do Sistema Único de Saúde. 3.2. Objetivos Específicos Compreender a auto-percepção das mulheres a respeito do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal. Identificar a faixa etária das mulheres entrevistadas. Conhecer o grau de escolaridade das mulheres entrevistadas. Identificar os motivos que levaram-nas a submeter-se ao exame de prevenção citopatológico cervicovaginal. 10 4. REVISÃO DA LITERATURA Nos últimos séculos, com o avanço da ciência e da tecnologia, encontrou-se um tratamento eficaz para se obter a cura de muitas doenças consideradas incuráveis e males que afligiam a humanidade. Entretanto, algumas patologias, entre elas o câncer, têm se constituído no grande desafio a ser vencido. Conhecido desde a antiguidade, pois nos papiros egípcios já havia registros a seu respeito, o câncer continua a ser um problema por suas características nefastas (BEYERS; DUDAS, 1989, p.1362). 4.1. Conceito Mas, a final, o que é o câncer? Como poderia ser conceituado? Segundo Koifman, (1995, p. 443), “Denomina-se câncer ao conjunto de doenças caracterizadas pela perda do controle no processo de divisão celular, gerando um contingente de células que apresentam crescimento anárquico, com perda da relação entre sua forma e função”. André Marcio Murad et al (1996, p. 3) conceitua o câncer como, “Um tumor que infiltra através das barreiras do tecido normal até as estruturas adjacentes, e então disseminam-se metasticamente aos órgãos e tecidos distantes”. 11 Mesmo sendo uma doença muito antiga, o câncer apresenta-se como um sério problema de Saúde Pública em nosso país e, segundo o Ministério da Saúde, desde 1995, tem-se constituído em prioridade política nos programas de saúde. O câncer de colo do útero é caracterizado como um problema de Saúde Pública, controlável por ações de saúde e educativas, nos aspectos biológicos, estilo de vida e riscos auto-imposto. É necessário despertar a vontade política, a consciência coletiva e definir prioridades para reorientar a política de saúde, invertendo a hegemonia existente da atenção curativa para a preventiva (VANZIN; NERY, 1997, p.21). Um dos cânceres que retrata bem este quadro é o câncer de colo do útero, pois este, possui altas taxas de incidência (18,32/100.000), prevalência e mortalidade (4,58/100.000) entre as mulheres brasileiras, apesar de estar disponíveis na maioria dos serviços de atendimento à saúde, recursos para a realização do exame citológico, sendo estes dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2003). O exame de prevenção citopatológico cervicovaginal é eficiente na detecção precoce e eficaz na redução destas taxas. Isto é enfatizado por Emilia Lopes et al (1995, p. 505): O câncer de colo do útero no Brasil ao contrário do que ocorre nos países desenvolvidos, apresenta altas taxas de mortalidade e morbilidade, em decorrência dos diagnósticos serem, geralmente, feitos em estágios avançados, apesar deste tipo de câncer ser facilmente diagnosticado e apresentar altas taxas de cura quando esse diagnostico é feito precocemente. 12 4.1.1. Fisiologia do Útero Conforme Miranda et al. (2000, p. 485), o útero é um dos órgãos componentes do sistema reprodutor feminino e se localiza na pelve. Seu tamanho varia durante a vida reprodutiva, mas mede, em média, 8 cm de comprimento, 6 cm de largura e 3 cm de espessura, pesa aproximadamente 50 g. O útero tem como funções sustentar, nutrir e proteger o concepto durante a gestação e, por isso, apresenta forma, volume, localização e estrutura variáveis conforme a idade da mulher, período do ciclo menstrual e gravidez. Sua forma é semelhante à de uma pêra invertida, cujo segmento estreitado, em baixo e geralmente para trás formando um ângulo ligeiramente maior que 90º com a vagina (ângulo de anteversão). Após a menopausa, o útero sofre hipotrofia, diminuindo em até metade do seu tamanho original. A principal sustentação do útero na pelve é feita pelo ligamento largo, que é formado pela fusão dos folhetos do peritônio que se refletem sobre o reto e a bexiga, dando origem à mesos salpinge e ao mesométrio. Entre os dois folhetos peritoniais do ligamento largo, existe quantidade variedade de tecidos conjuntivo e adiposo, que constituem o paramétrio. Os ligamentos cardinais representam reflexões das fáscias pélvica e visceral lateral que emitem fibras que se fixam na região do istmo e do terço superior da vagina. O útero compõe-se de duas porções principais: o corpo (2/3 superiores) e o colo (1/3 inferior). Uma pequena constrição denominada istmo marca a junção entre o corpo e o colo do útero. 13 4.1.1.1. Fisiologia do Colo Uterino Conforme Miranda et al. (2000, p.485, 486), o colo uterino ou cérvice, que representa a porção inferior do órgão, tem forma cilíndrica. O canal endocervical comunica a cavidade uterina (através do orifício interno) com a luz vaginal (através do orifício externo). Em uma mulher multípara, o orifício externo (OE) é olongado ou em fenda e delimita os chamados labios cervicais, um anterior e outro posterior; na nulípara, o orifício externo é circular. A superfície mucosa cervical voltada para vagina, externamente ao OE, é denominada ectocérvice e é revestida por epitélio estratificado escamoso não ceratinizado. A superfície mucosa do canal endocervical, chamado endocérvice, é recoberta por epitélio simples colunar mucossecretor. Abaixo deste, existem células de reserva, multipotentes, capazes de se diferenciar tanto em células colunares, quanto em células escamosas. O local de encontro entre o epitélio colunar e o epitélio escamoso é abrupto e denominado junção escamo-colunar (JEC). A localização da JEC é variável e sofre influência sobretudo de estímulos hormonais, variando com a idade da mulher e o período do ciclo menstrual. No inicio, a JEC localiza-se na região do orifício externo do colo uterino. Com o tempo, a mucosa pode sofrer eversão, fenômeno fisiológico em que parte da endocérvice move-se para fora do canal endocervical e adiante do orifício externo, constituindo o chamado ectrópio, que é encontrado em cerca de 45% das mulheres entre 1 e 13 anos. A ectopia é duas vezes mais freqüente no lábio anterior do que no posterior (ibidem). 14 Conforme Miranda et al (2000, p.485, 486), o epitélio evertido, mais delgado, é menos resistente às adversidades existentes na luz vaginal, como pH ácido, flora bacteriana e traumatismo, aos quais o colo fica exposto durante as relações sexuais. Esses fatores são os principais responsáveis pela ocorrência de um outro fenômeno fisiológico e adaptativo. Nas áreas de epitélio evertido, surge metaplasia escamosa que, no caso, é traduzida pela substituição progressiva do epitélio colunar endocervical por epitélico escamoso, mais resistente. Ao final do processo, a ectopia cervical é totalmente substituída por esse novo epitélio, passando a JEC a ser menos abupta. A região compreendida entre a JEC original e a nova junção externa, dita funcional, é denominada zona de transformação ou zona de transição (ZT), que se caracteriza justamente pela presença de epitélio escamoso metaplásico. O reconhecimento da ZT tem grande importância no estudo das lesões do colo interino por ser ela a sede inicial da maioria das lesões precursoras e dos neoplasias cervicais. Conforme Miranda et al (2000, p.485, 486), ao exame direto com o colposcópio, instrumento que permite a visualização da mucosa através de uma lupa, pode-se identificar a ZT, que é conhecida como zona de transformação típica (ZTT). Quando os mesmos processos irritativos indutores de transformação metaplásica se perpetuam, muitas vezes surgem inflamação crônica ou displasias, os quais resultam em alterações no padrão colposcópico 15 da zona de transformação, que possa a ser denominado zona de transformação atípica (ZTA) (ibidem). 4.2. Fisiopatologia do Câncer de Colo do Útero Segundo CARVALHO (2000, p. 2171-2172), o câncer do colo do útero desenvolve-se sem qualquer sintomatologia específica nas suas etapas iniciais pré-invasivas, o que torna o diagnóstico das neoplasias intra-epiteliais um acontecimento ocasional em mulheres que se submetem aos exames ginecológicos de rotina ou programas de rasteamento e detecção precoce do câncer ginecológico. Como a quase totalidade do câncer do colo do útero ocorre em mulheres com atividade sexual, os sintomas mais freqüentes são corrimento vaginal, prurido, irritação vulvovaginal, dor às relações sexuais e lesões condilomatosas da vulva e vagina. Estes sintomas, não decorrem da transformação neoplásica do epitélio cervical, mas das conseqüências do tipo de atividade sexual dessa população, freqüentemente exposta a múltiplos parceiros sexuais de higiene precária e portadores de doenças sexualmente transmissíveis. Dentre elas, a infecção pelo papilomavírus humano, representa o agente etiológico principal do câncer do colo do útero. Os primeiros sintomas específicos da doença, aparecem somente quando o tumor invade o estroma cervical, provocando ulceração da mucosa e exposição de vasos sangüíneos, os quais, se manifestam por sangramentos. No início, esses sangramentos ocorrem apenas durante as relações sexuais 16 (sinusorragia), e, posteriormente, podem acontecer de maneira casual, levando, nas fases mais avançadas da doença, a hemorragias importantes. O crescimento do tumor no colo do útero, propicia a ulceração e necrose com infecção bacteriana secundária, responsável pelo corrimento aquoso e de odor fétido. O câncer de colo do útero propaga-se, preferentemente, por contigüidade com os tecidos visinhos e raramente dão metástases a distância. Acomete inicialmente os fórnices vaginais e, posteriormente, o restante da vagina até o terço distal. Propaga-se para os paramétrios em direção à parede óssea da bacia e, nesta trajetória, pode obstruir os ureteres parcial ou totalmente. Em etapas mais tardias, compromete a bexiga e o reto. Por via linfática, a propagação se faz para os linfonodos paracervicais, obturadores, ilíacos e paraórticos. O comprometimento linfonodal é sempre um fator de mau prognóstico que reduz, aproximadamente pela metade, a sobrevida em todos os estágios da doença. O edema de membros inferiores é um sinal indicativo da doença linfonodal. Dor na região hipogástrica, corrimento fétido e hemorragias vaginais, são os sintomas mais freqüentes na doença invasiva. O comprometimento e a obstrução ureteral levam à hidronefrose, infecção do trato urinário alto que se manifesta como dor lombar intensa, febre e toxemia. A obstrução ureteral bilateral e completa, provoca uremia e 17 hiperpotassemia, sendo considerado um quadro grave e que necessita de intervenção de urgência com derivação de vias urinárias (nefrostomia), quando possível, ou hemodiálise. Nas mulheres idosas, a junção escamocolunar, onde a maioria dos tumores começam, costuma estar em posição bastante alta no interior do canal cervical devido a pouca estimulação estrogênica. Os tumores originados nestas circunstâncias, demoram mais para exteriorizarem-se na ectocérvice e no meio vaginal. O colo assume a forma de um barril à medida que o tumor cresce no seu interior. O comprometimento parametrial e ureteral, pode acontecer antes da hemorragia e do corrimento fétido. Muitas vezes, estas pacientes apresentam colo aparentemente normal à inspeção descuidada, e a doença só se faz notar quando se examina cuidadosamente o interior do canal cervical. O exame citológico positivo em paciente idosa com colo aparentemente normal, faz supor comprometimento alto no canal cervical. 4.3. Diagnóstico do Câncer de Colo do Útero Segundo Carvalho (2000, p.2172), o diagnóstico do câncer do colo do útero baseia-se fundamentalmente na citologia cervicovaginal (teste de 18 Papanicolaou), colposcopia e biópsia com estudo anatomopatológico das áreas suspeitas. Outros testes vem sendo examinados e utilizados com a finalidade de proporcionar uma cobertura maior das populações de risco, com otimização dos resultados e diminuição dos custos. Dentre estes novos métodos, encontram-se a cervicografia, epeculocospia e citologia automatizada 4.4. Epidemiologia Segundo Pereira (1995, p.49), o conhecimento do perfil epidemiológico de uma determinada patologia é indispensável para o seu estudo. É através dos estudos epidemiológicos que se obtém os dados da distribuição do câncer de colo do útero entre a população feminina, a observação e a análise das variações de sua ocorrência em diferentes faixas etárias e os fatores de risco a que a população feminina se expõe. As taxas estatísticas mais utilizadas para a mensuração da ocorrência de câncer são a incidência e mortalidade. A incidência diz respeito ao número de casos novos e, a mortalidade, ao número de óbitos para cada 100.000 pessoas por ano. Tendo em vista o fato de que o câncer constitui doenças, cujo risco aumenta com a idade, espera-se, obviamente, que em 19 populações de composição etária mais avançada, as taxas de mortalidade e incidência sejam maiores. Segundo dados do “National Câncer Institute”, o câncer do colo do útero corresponde a 6% de todos os tumores malignos da mulher norte-americana. Estima-se o surgimento de 16.000 casos novos ao ano e 5.000 mortes, no mesmo período. Ao nascerem crianças do sexo feminino, espera-se que 1 entre 63 vá desenvolver câncer do colo do útero, em algum momento da vida (BARBER apud HALBE 2000, p. 2121). Segundo Disaia e Creasman, os dados fornecidos pela “American Cancer Society” (1989, p. 37) demonstram que a incidência de câncer do colo do útero, na década de 40, era aproximadamente 23/100.000/ano e, a mortalidade, 14/100.000/ano. Paulatinamente, esses valores foram decrescendo, atingindo no final dos anos 80 as cifras de 12/100.000 e 5/100.000, respectivamente. Tal fato é explicado pelo sucesso alcançado pelas intensas campanhas de rastreamento de populações femininas, por meio de exame colpocitológico, associado ou não ao exame colposcópico e comprovação histológica. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2003) o câncer de mama ocupa o segundo lugar em incidência, e o terceiro em mortalidade, já o câncer de colo do útero, ocupa o terceiro lugar em incidência, e o quarto em mortalidade; ocorrendo mais amiúde em mulheres entre 30 e 45 anos de idade, porém, pode ocorrer tão precocemente quando com 18 anos de idade levando em consideração os fatores de risco que estas jovens mulheres estão expostas (MS, 2003). 20 4.4.1. Fatores de Risco A literatura, através de estudos e metanálises, relata vários fatores de risco associados ao câncer de colo do útero. Alguns já comprovados e outros ainda controversos, necessitando mais estudos e pesquisas para comprovar sua associação. Segundo: Trindade apud Oliveira et al. (2001, p. 1271), e Focchi et al apud Halbe (2000, p. 2121), os fatores de risco são: Idade: a incidência é muito baixa antes dos 20 e após os 50 anos há pouca variação. Como a doença tem uma grande correlação com a comportamento sexual e possíveis agentes transmitidos sexualmente, este dado é consistente com o período de maior atividade sexual; Raça: a incidência é maior entre as negras e asiáticas. A analise, no entanto, é dificultada, devido haver superposição geográfica. Os estudos mostram que as asiáticas que migram para os Estados Unidos têm a incidência diminuída em 50%, em relação ao seu país de origem. Do ponto de vista socioeconômico, tais populações são despreparadas, de baixa escolaridade, grassando, entre seus componentes, a promiscuidade e a multiplicidade de parceiros. Fator socioeconômico: a doença ocorre mais nas populações de baixo poder aquisitivo. Há de se pensar também, no comportamento sexual, no 21 tabagismo, que é mais intenso nesse meio, e no risco de um agente infeccioso relevante, de transmissão sexual, estar presente. Religião: o primeiro dado epidemiológico que foi relatado era a ausência do câncer do colo de útero entre as freiras católicas. A devoção religiosa pode impedir a vida sexual, restringi-la ou induzir a uma maior fidelidade e conseqüentemente menor promiscuidade. Portanto, o dado é consciente com o comportamento sexual. Tabagismo: os componentes do cigarro são secretados pelo muco cervical, encontrando-se a presença de metabólitos carcinogênicos da nicotina. Sendo a nicotina fonte exclusiva do mais poderoso carcinógeno do tabaco, a 4(metilnitrosamino)-1-(3-piridil)-1-butanona. Os estudos demonstram um risco relativo duas vezes maior entre as tabagistas em relação às não-fumantes. Paridade: estudos mais antigos mostraram uma diferença nítida na incidência da neoplasia entre as multíparas e as nulíparas. Recentemente têm aparecido estudos demonstrando um risco relativo aumento entre as multíparas. Hormônios: não se comprovou sua influencia direta, embora haja maior incidência entre as usuárias de contraceptivos orais. O risco é maior quando o uso se prolonga por mais de 5 a 10 anos. Pode se dever a uma maior exposição sexual ou a uma diminuição do uso dos métodos de barreira na anticoncepção. 22 Comportamento sexual da mulher: em 1842, foi observado a correlação do câncer do colo do útero com o comportamento sexual, quando Rigoni e Stern observaram que ele não ocorria entre as freiras católicas. Vários trabalhos mostraram a associação com o casamento, a paridade e, principalmente, como o primeiro coito em idade precoce e a multiplicidade dos parceiros sexuais. Esta última, levou ao conceito de que este câncer seria causado predominantemente por um agente transmitido sexualmente, os estudos são consistentes, tanto para a incidência quanto para a mortalidade. Parece que a idade precoce do primeiro coito seja um fator distinto do anterior e se deva ao fato de o colo do uterino das adolescentes serem mais susceptíveis aos agentes cancerígenos. Pois a adolescência é um período no qual o colo do útero mostra, na maioria das jovens, a presença de ectopia; conseqüentemente encontra-se em período de metaplasia escamosa exacerbada. Nestes aspectos o adenocarcinoma do colo do útero apresenta um perfil similar ao do carcinoma epidermóide. O início precoce da atividade sexual, com conseqüente gravidez, em jovens logo após a menarca é habitual em populações de baixa renda, onde a pobreza obriga a busca prematura de proteção, de independência forçada, de amadurecimento inadequado e até de novas fontes de renda. Comportamento sexual do homem: os estudos demonstram a correlação entre, o câncer do pênis e do colo do útero. As mulheres com homens cuja primeira mulher teve essa neoplasia têm risco relativo duas vezes maior. Mulher monogâmica, cujos maridos não o são têm risco aumentado para a doença, que é proporcional ao número de parceiras deles. 23 Doenças sexualmente transmissíveis: desde que a doenças passou a ser considerada de origem sexual, todos os patogenos comuns tem sido incriminados em vários estudos, como o Treponema pallidum, a Neisseria gonorrhaeae, o Trichomonas vaginalis e os fungos. Nesse aspecto de doença transmitida sexualmente são esperadas três condições para serem comprovadas: mulher de risco, homem de risco e caracinógeno. As duas primeiras estão bem definidas. O carcinógeno continua motivo de pesquisa. A promiscuidade e maior número de parceiros sexuais, associados a baixo nível de higiene corpórea leva enquadrar-se à neoplasia de colo do útero às doenças sexualmente transmissíveis. Papilomavirus humano (HPV): promove infecção local, sitioespecifica em epitélio. É um DNA de dupla fita, que se reproduz no núcleo da célula. Ele também se apresenta na forma infectante, com reprodução viral até a morte celular e uma forma latente, onde fragmentos do vírus permanecem no núcleo da célula, constituindo carga gênica anômala na reprodução celular. Existem mais de 70 tipos, sendo que alguns promovem o condiloma acuminado, mais freqüente e que não se relacionam com o câncer, outros promovem o condiloma aplanado, de manifestação subclinica e têm potencial oncogênico. No primeiro grupo, destacam-se os tipos 6 e 11 e, no segundo grupo, os tipos 16, 18 e 31. Em 95% dos cânceres invasores, adenocarcinomas e adenocarcionoma in situ, a célula contém HPV e presume-se que, em 90% das NIC, ele também esteja presente. Quando são do tipo oncogênico, a lesão 24 raramente regride e deveria ser tratada e seguida rigorosamente. Os estudos mostram que as mulheres com NIC de grau 3, associados ao HPV dos tipos oncogênicos, são 10 anos mais novas que a pacientes com mesma lesão sem o vírus, e elas evoluem para o câncer invasor 15 vezes mais que o esperado. Foi demonstrado também que as mulheres portadoras de HPV oncogênico desenvolvem NIC de alto grau em um ano. Hoje admite-se que, entre todos os agentes infecciosos, o único que mostra consistência de causalidade com o câncer do colo uterino é o HPV. Espermatozóide: as judias têm baixa incidência para o câncer de colo do útero. Devido a esse dado, pensou-se numa possível ação do esmegama como agente causal, tendo em vista a realização da postectomia entre os judeus. O fato não foi comprovado e , então, se pensou na possibilidade de o espermatozóide fornecer carga gênica às células do colo do útero. O espermatozóide é rico em histonas e protaminas, proteínas básicas que podem desencadear processo de transformação neoplásica; existem diferenças individuais na composição dessas proteínas, favorecendo a idéia do conceito de auto risco do companheiro. Imunossupressão: é encontrada incidência maior do que a esperada entre as mulheres que utilizam imunossupressores. Entre as transplantadas renais, o risco relativo é de 4,7. Mulheres com o vírus da 25 imunodeficiência humana (HIV) têm índice elevado da infecção pelo HPV e, também, risco elevado para o câncer do colo de útero. Vitamina E: tem ação antioxidante e função de removedor de lixos celulares, conferindo-lhe o papel de provável protetor no desenvolvimento do câncer; Vitamina A: exerce função de maturação e diferenciação epitelial; Vitamina C, Selênio, Cobre e outros micronutrientes, prováveis coparticipantes desse processo protetor estão em estudos. Segundo Berão apud Halbe (2000, p. 2130), multiparidade e partos antes dos 20 anos de idade são fatores de risco importantes para o câncer de colo do útero, provavelmente superando a precocidade de relações sexuais. Segundo Herbert et al. Halbe. (2000, p. 2130), mulheres que iniciaram sua atividade sexual aos 14 ou 15 anos de idade, têm uma maior incidência de câncer de colo do útero quando comparadas às que iniciam aos 20 anos de idade. Segundo Lavecchia apud Halbe (2000, p.140), elementos protetores contra o surgimento das lesões intra-epiteliais escamosas, englobam medidas que determinem prática sexual mais segura, como a utilização de condons ou diafragmas, além da simples realização rotineira da citologia cervicovaginal; esta, ao que parece, diminui o risco em até 10 vezes, mesmo se realizada a cada 3 anos. 26 4.4.2. As diferenças Regionais da Incidência do Câncer no País O estudo do Instituto Nacional de Câncer (Tabela 1), mostra que a incidência de casos novos de câncer continuarão variando de região para região, devido a diferentes características regionais, tanto geográfica quanto geoeconômica: Tabela 1: Posição relativa dos casos novos de câncer segundo a região geográfica. Mulheres - Estimativa para 2002: Brasil 1° 3° Mama feminina Pele não melanoma Colo do útero 4° Cólon e reto 5° Estômago 2° Sul Pele não melanoma Mama feminina Colo do útero Cólon e reto Sudeste Mama feminina Pele não melanoma Colo do útero Nordeste Mama feminina Colo do útero Norte Centro-Oeste Cólon e reto Pele não melanoma Cólon e reto Colo do útero Mama feminina Pele não melanoma Estômago Pele não melanoma Mama feminina Colo do útero Estômago Estômago Cólon e reto Estômago Cólon e reto Fonte: Instituto Nacional de Câncer – INCA Os principais tipos de câncer apresentam-se diferentemente entre as regiões brasileiras, por conta das discrepâncias observadas no grau de expectativa de vida, industrialização, exposição e fatores de risco e acesso aos serviços de saúde. Considerando-se apenas o sexo feminino, o câncer de mama é o que tem a maior incidência entre as mulheres na região Sudeste. Já nas regiões Norte e Nordeste, o câncer do colo do útero supera todos os demais. Entre as mulheres, o câncer de mama é o de maior mortalidade, exceto na região Norte, onde prevalece o câncer do colo do útero. 27 As estimativas da incidência e mortalidade por câncer, do Instituto Nacional de Câncer, prevêem 16.480 novos casos de câncer de colo uterino e 4.110 óbitos em 2003. Ocupando o terceiro lugar em incidência e o quarto em mortalidade. Todos os dias cerca de 10 mulheres morrem vítimas desta doença. Porém, por meio da educação popular, detecção, diagnóstico precoce e tratamento das lesões cervicais precursoras, pode-se alterar a história natural da doença, proporcionando a diminuição da morbidade e mortalidade (Instituto Nacional de Câncer – INCA, 2003). 4.4.3. Epidemiologia do Câncer em Santa Catarina Segundo os dados da Secretaria de Saúde de Santa Catarina, as informações de que se dispõem relacionadas a incidência do câncer no nosso meio são muito escassas. Os registros de mortalidade nos dão uma idéia parcial da magnitude do problema, pois alguns tipos de tumores felizmente são curáveis e outros tipos de tumores freqüentemente são registrados de forma inadequada no atestado de óbito. Em Santa Catarina as neoplasias ocupam o quarto lugar em mortalidade por causa com 13,2%. O câncer de mama e colo uterino são importantes causas de mortalidade na população feminina (Tabela 2). A mortalidade proporcional por estes dois tipos de tumores de 1992 a 1996 são as seguintes: 28 Tabela 2: Distribuição da mortalidade pelos cânceres de colo uterino e de mama nas mulheres do estado de Santa Catarina, Brasil, 1992 – 1996. Ano Câncer de colo uterino % Câncer de mama % 1992 9,37 15,01 1993 5,80 14,74 1994 5,77 15,49 1995 6,86 13,57 1996 6,12 12,43 Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina Através dos dados registrados pela Secretaria de Saúde de Santa Catarina, pode-se concluir que o câncer é um dos mais sérios problemas de Saúde Pública no nosso Estado, cuja mortalidade vem crescendo. Para muitos dos tumores de alta incidência como o de colo uterino, mama e pele; existem métodos de prevenção e diagnósticos precoce que, devem ser intensificados, para que haja uma diminuição efetiva na morbimortalidade por estes tipos de neoplasias malignas. 4.5 Exame Citológico Teste citológico, exame citológico, citologia oncólica, esfregaço de Papanicolaou e o que popularmente chamam de exame preventivo possuem o mesmo significado. 29 O Dr. George Papanicolaou descobriu, nos anos 30, o valor de examinar células esfoliadas para detectar o câncer de colo do útero e suas lesões precursoras. Em 1947, Ayre recomendou a raspagem direta do colo, para a obtenção das amostras. Desde essa época a colpocitologia tem sido usada amplamente, para o diagnóstico precoce de câncer cervical. Há evidências através dos estudos de análises históricas, dos casos – controles e dos programas de rastreamento populacionais, indicando que há redução na incidência e na mortalidade, pelo câncer, com o uso da colpocitologia. Walton R. J. (1982, p. 483) no Canadá, concluiu que, o câncer epidermóide do colo uterino, pode ser controlado por um programa de rastreamento populacional porque: 1. Ele é procedido, por muitos anos, por alterações, que podem ser reconhecidas no estagio de NIC (neoplasia intra-epitelial cervical); 2. Uma proporção significativa dos pacientes com NIC desenvolve câncer, se não forem tratados, nessa época; 3. A evidência da NIC é fácil e economicamente detectável, pela colpocitologia; 4. Sendo detectada a NIC, a sua progressão para câncer pode ser prevenida por medidas terapêuticas simples e pela supervisão continuada. 30 É estimado que um programa de rastreamento populacional, pela colpocitologia, realizado anualmente, reduz a probabilidade de a mulher desenvolver câncer do colo do útero em 93,3%. Se a freqüência for trianual, essa probabilidade cairá para 91,2%. Por isso, as recomendações em vários países, pelos órgãos de saúde e associações especializadas, é de iniciar o rastreamento aos 18 anos, ou quando a mulher iniciar a atividade sexual, se ocorrer antes, a repetição é anual. Ocorrendo dois exames, subseqüentes negativos, e não sendo a mulher de risco, os exames podem ser bianuais ou trianuais. No Brasil recomenda-se binualidade, salvo as mulheres de risco, que devem continuar a realizar seus exames anualmente, por toda a vida. Os seguintes aspectos devem estar sempre presentes, quanto à citologia: 1. A colpocitologia não faz diagnóstico. Este é sempre histológico e somente com ele é que instituí-se condutas; 2. A colpocitologia tem valor apenas para o rastreamento das neoplasias do colo do útero. As alterações do corpo uterino, trompas e ovários não se associam, com freqüência, às alterações citológicas do exame de Papanicolaou; 3. O esfregaço deve ser feito com cuidado. É necessário que a amostra contenha células representativas da JEC (junção do escamo-colunar) e que o citopatologista receba o máximo de informações possíveis. A melhor forma da colheita é com 31 espátula, na ectocérvice e fundo-de-saco vaginal, e, com escovinha, na endocérvice. As amostras não devem ser colhidas após uso de lubrificantes e da realização do exame bimanual com toque vaginal. Até recentemente, os esfregaços eram lidos e classificados de acordo com o Papanicolaou, nas classes 1 a 5. Em 1988, foi criado o sistema Bethesda, modificado em 1991, que fornece o diagnóstico geral e descritivo, podendo, ainda, recomendar uma investigação adicional. Neste sistema as alterações citológicas, precursoras do carcinoma de células escamosas, são agrupadas em duas categorias, que são; a lesão intra-epitelial escamosa de baixo grau e lesão intra-epitelial escamosa de alto grau. A primeira; está associada ao HPV e à displasia leve ou NIC de grau 1, e a segunda; corresponde às displasias moderada, avançada e carcinoma in situ, ou NIC de grau 2 e 3. Havendo um resultado colpocitológico anormal as opções são: 1. Repetir a colpocitologia; 2. Encaminhar para a colposcopia. Nesta opção, parte-se para o complemento do processo diagnóstico. 32 Tabela 3: Interpretação do esfregaço de Papanicolaou INTERPRETAÇÃO SISTEMA NUMÉRICO CLASSIFICAÇAO DE BETHESTA Negativa (Normal) Classe I Negativa (normal) Provavelmente Negativa Classe II Alterações reativas e reparadas. Anormalidades de células escamosas. Suspeita Classe III Lesão intra-epitelial escamosa de baixo grau (LGSIL), displasia branda. Mais Suspeita Classe IV Lesão intra-epitelial escamosa de alto grau (HGSIL) ou carcinoma in situ (CIS); displasia moderada ou grave. Maligna Classe V Carcinoma de células escamosas. Fonte: Brunner & N Suddarth, (2002, p. 1148). 4.5.1. Periodicidade de Realização do Teste Citológico A efetividade da detecção precoce do câncer de colo do útero por meio do exame de Papanicolaou, associada ao tratamento deste câncer em seus estágios iniciais, tem resultados em uma redução das taxas de incidência de câncer cervical invasor que pode chegar a 90%, quando o rastreamento apresenta boa cobertura (80%, segundo a organização Mundial da Saúde – OMS) e é realizado dentro dos padrões de qualidade (Normas de recomendação do INCA, 2002). Em 1988 o Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional do Câncer, realizou uma reunião de consenso, com a participação de diversos segmentos internacionais, representantes das sociedades científicas e das diversas instâncias ministeriais e definiu-se que, no Brasil, o exame colpocitológico deveria ser realizado em mulheres de 20 a 65 anos de idade, ou 33 que já tivesse ocorrido atividade sexual mesmo antes desta faixa etária, uma vez por ano e, após dois exames anuais consecutivos negativos, a cada 3 anos. Portanto, as mulheres de risco devem continuar a realizar seu exame anualmente. Tal recomendação apóia-se na observação da história natural do câncer de colo de útero, que permite a detecção precoce de lesões préneoplásicas e o seu tratamento oportuno, graças à lenta progressão que apresenta para doenças mais graves (INCA, 2002). 4.5.2. Técnica do esfregaço citológico de Papanicolaou Segundo Berek (1998, p. 327), “o esfregaço citológico de Papanicolaou (PAP – Tetes), deve incluir amostras de endocérvice e ectocérvice. O dispositivo mais usado para colher amostra do canal endocervical é uma escova”. 1. Não usar lubrificante no espéculo vaginal; 2. Colocar a escova endocervical dentro da endocérvice e deslizá-la firmemente contra o canal; 3. Remover a escova endocervical e colocar a amostra sobre uma lâmina de vidro; 4. Colocar a espátula contra o colo com a protusão mais longa no canal cervical; 34 5. Rodar a espátula em sentido horário 360º firmemente contra o colo. Se a espátula não raspar toda a zona de transformação, rodar a espátula novamente mais para fora do colo. Rodá-la o número suficientes de vezes para cobrir toda a zona de transformação; 6. Colocar imediatamente a amostra da espátula sobra a lâmina de vidro, rodando a espátula contra a lâmina em sentido horário; 7. Fixar imediatamente a lâmina com um spray fixador mantido a 2030 cm da lâmina ou colocando a lâmina em um fixador de etanol a 95%. 4.5.3. Cuidados na Colheita Segundo Brunner et al. (2002, p. 321), considera-se a integração Clínico-Paciente-Patologista como dependente da perfeita associação de três pontos críticos: 1. Esfregaços preparados ótimo e perfeitamente identificados; 2. Preenchimento adequado de requisições; 3. Padronização de laudos citológicos. Portanto, alguns cuidados devem ser seguidos de rotina para preparo dos esfregaços, identificação da amostra e preenchimento das requisições: 35 Identificação dos esfregaços: preferentemente usando lâminas de extremidade fosca para facilitar a colocação de iniciais do nome da paciente, se o número de registro ambulatorial do prontuário e as letras V, C e E significando, respectivamente, colheitas vaginal, ecto e endocérvical. Deve ser utilizado lápis comum e feita a identificação nas lâminas antes da colheita do material. Limpeza das lâminas: usar gaze umedecida em álcool ou éter para retirar gordura ou artefato. Não colocar os dedos sobre as superfícies das lâminas para evitar contaminação com células querantinizadas, que podem induzir a falsos diagnósticos. Colheita citológica tríplice: colher na seqüência vagina, ecto e endocérvice, preparando-se o esfregaço em três lâminas separadas individuais. Pode-se modificar esta ordem em caso de optar pela colocação de dois ou três esfregaços em lâmina única ou dupla, mantendo-se o produto da colheita endocervical na escova enquanto é realizado o raspado do ectocérvice e vaginal com espátula. Posteriormente, serão espalhados simultaneamente na (s) lâmina (s), em movimento único. Execução dos esfregaços: realizar os esfregaços com um movimento uniforme, contínuo e retilíneo, de uma extremidade a outra da lâmina. Não fazer movimentos circulares ou anárquicos. Em caso de realização de colheita tríplice em lâmina única ou dupla, procurar padronizar a colocação do esfregaço vaginal junto à identificação da paciente, preparando as demais 36 colheitas sucessivamente para direita, mantendo-se a individualidade de cada esfregaço na lâmina. Fixação do material: fixar imediatamente em álcool etílico comercial, não permitindo secagem do material. Após colocação do material na lâmina, o tempo máximo de exposição ao ar deve ser inferior a 5 segundos. Preenchimento da requisição: preencher adequadamente o formulário com identificação da paciente, idade, história clínica, diagnóstico clínico, dados colposcópicos, data da última menstruação e outras informações que se julgarem necessárias. Lembrar que o patologista melhor diagnosticará, quanto melhor conhecer a paciente através dos dados fornecidos pelo clínico. Informar, sempre, o tipo de colheita realizado e a impressão diagnóstica ao exame especular. Relatar a existência de exames anteriores, seus resultados e os tratamentos efetuados. 4.5.4. Cuidado com a Paciente Segundo Brunner et al. (2002, p. 323), recomenda-se que, a paciente que será submetida ao exame citológico, mantenha abstinência sexual por 24 horas. É contra-indicado o uso, neste período, de medicamentos vaginais devido à possibilidade do veículo prejudicar a visualização das células. Vaselina no espéculo provoca intenso artefato, assim como o toque ginecológico com lubrificante e/ou talco. Sangramento menstrual não chega a 37 ser problema que inviabilize o exame, porém, a maioria dos clínicos preferem colher material após o término do período. Pacientes idosas devem ser avaliadas cuidadosamente quanto à colheita endocervical. Pacientes grávidas podem ser submetidas à colheita tríplice, conforme o discutido anteriormente. Pacientes virgens podem ter o material vaginal coletado por meio de micro-curetas ou espátulas especialmente preparadas para apresentarem espessura mínima, devendo a swab ou cotonete ser terminantemente afastado deste tipo de colheita. 38 5. METODOLOGIA O estudo foi realizado no município de Jacinto Machado, SC, pertencente a Micro Região do Extremo Sul Catarinense (AMESC), com área total de 375 km². Apresenta condições favoráveis para as culturas de: arroz irrigado, banana, fumo, maracujá, aves e suínos. Tendo na indústria os seguintes seguimentos: fábrica de balas de banana, vestuário, olaria, beneficiamento de madeira e beneficiamento de arroz. A raça predominante no Município é a raça branca e a maioria de origem Italiana (IBGE, 2000). De acordo com o censo demográfico, realizado no ano de 2000 IBGE, a população do município de Jacinto Machado é de 10.920 habitantes, sendo que 41,54% desse total vive na área urbana, ou seja, menos da metade, e a grande maioria vive na área rural (58,46%). A população feminina é representada por 5.455 mulheres, sendo que 3.132 delas vivem na área rural e 2.313 vivem na área urbana. Na faixa etária de 15 a 69 anos, o Município possui de 3.642 mulheres. A capacidade física instalada do serviço de saúde municipal conta com seis Unidades de Saúde, sendo distribuídos em cinco diferentes bairros. Cada Unidade de Saúde possui um consultório médico, uma sala de espera e uma sala de curativos. Todos os outros serviços ficam centralizados na Unidade Básica de Saúde Central. 39 O Município dispõe de três equipes de Saúde da Família (PSF), representando uma cobertura de 100% da população. Não existe nenhum médico Ginecologista e Obstetra, tanto na rede pública como privada. Quanto ao atendimento privado, possuem três consultórios médicos, três consultórios odontológicos e um hospital geral com 45 leitos. Conforme o Plano Municipal de Saúde para o ano 2003, no Programa Preventivo do Câncer de Colo do Útero, apresentou como meta à realização de 860 exames citopatológico cervicovaginal. 5.1. Casuística e Métodos Nesta pesquisa interessou-se compreender as experiências vividas pelas mulheres, seus anseios, temores e concepção inerentes ao exame de prevenção citopatológico cervicovaginal, partindo-se do pressuposto que, o exame preventivo de câncer de colo do útero gera ansiedade em todas as mulheres a ele submetidas. Os critérios para a escolha da casuística partiram dos seguintes propósitos: 1. Que permitissem o desvelamento do fenômeno a compreender, logo só pôde fazer parte das casuísticas mulheres submetidas ao exame; 2. Que consentissem o diálogo voluntariamente; 40 3. O número de participantes foi limitado por “saturação de temas”, isto é, quando os temas começaram a repetir-se, significando que a relevância do estudo emergiu-se, não sendo agregado mais nada de novo à investigação do fenômeno. O número mínimo recomendado foi de oito mulheres; 4. Que as mulheres fossem usuárias do Sistema Público de Saúde, realizando o exame citopatológico cervicovaginal, na Unidade Básica de Saúde Central; 5. Os critérios de exclusão foram: gestantes, mulheres que tinham utilizado medicação fungicida vaginal nos últimos dez dias; relação sexual nos últimos três dias, e mulheres em período menstrual. 5.1.1. Tipo de Pesquisa O presente estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, do tipo exploratória. Minayo (1993, p. 21) refere à pesquisa qualitativa como: “A pesquisa qualitativa preocupa-se com as Ciências Sociais, com o nível de realidade. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos”. Segundo Gil apud Rosa, MI (2003, p. 44). Pode-se definir a pesquisa exploratória como a que “ (...) envolve levantamento bibliográfico, entrevistas 41 com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema e análise de exemplos que estimulem a compreensão” 5.1.2 Amostra Segundo Lakatos, et al (2001, p.163), a amostra é uma parcela convenientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo. A amostra foi de conveniência com inclusão seqüencial. O número de participantes foi limitado por “saturação de temas”, isto é, quando os temas começaram a repetir-se, significando que a relevância do estudo emergiu-se, não sendo agregado mais nada de novo à investigação do fenômeno. O universo da pesquisa foi representado por 20 mulheres. 5.1.3. Instrumento de coleta de dados Para a coleta de dados, foi utilizado a técnica de entrevista individual semi-estruturada; conforme Minayo (1993, p. 108) [...] Que combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o entrevistado teve a possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador. 42 O desenvolvimento das entrevistas ocorreram durante o mês de Fevereiro em dias de realização do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal na Unidade Básica de Saúde Central. Teve-se o cuidado de garantir os aspectos éticos, ocorrendo em ambiente reservado, sendo garantido o anonimato e explicado a necessidade do uso do gravador para assegurar o conteúdo das falas. A questão norteadora da entrevista foi: “Poderia falar-me sobre o significado de você submeter-se a um exame para prevenção de câncer de colo do útero? Fale-me tudo que considerar importante”. 5.1.4. Limitações da Pesquisa Segundo Lakatos, et al (2001, p.198) a entrevista apresenta algumas limitações ou desvantagens, que podem ser superadas ou minimizadas se o pesquisador for uma pessoa com bastante experiência ou tiver muito bomsenso. As limitações são: Dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes; Incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas, da pesquisa, que pode levar a uma falsa interpretação; Possibilidade de o entrevistado ser influenciado, consciente ou inconscientemente, pelo questionador, pelo seu aspecto físico, suas atitudes, idéias, opiniões, etc; 43 Disposição do entrevistado em dar as informações necessárias; Retenção de alguns dados importantes, receando que sua identidade seja revelada; Ocupa muito tempo e é difícil de ser realizada. 5.1.5. Aspectos Éticos Foi seguido a resolução número 196/1996 sobre pesquisa envolvendo seres humanos. A resolução da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (CONEP), requer a assinatura de, “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, de todos os participantes de estudos/pesquisa que envolva seres humanos. Cada mulher participante desta pesquisa, recebeu explicações detalhadas sobre os objetivos do trabalho. Esses mesmos itens constaram de documento escrito, distribuídos às participantes da pesquisa, explicando detalhadamente no que consistia a pesquisa para a assinatura. Esse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo I e II) foi assinado pelas mulheres que fizeram parte do grupo amostral. O projeto foi submetido pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), com o código de referência do projeto: 031. 44 5.2 Análise As falas foram transcritas e submetidas à leitura analítica do seu conteúdo. As mensagens seguiram agregadas em ordem de temática, para posterior interpretação dos significados. Catalogaram-se as respostas vinculadas a uma letra, simbolizando as entrevistadas. Foram seguidos os passos da análise fenomenológica propostas por Struebert (1992, p. 237) e Kude (1997, p. 191): 1. Sentido do todo: Leitura e escuta atenta das descrições das entrevistadas (transcrição das fitas das entrevistas), para perceber o sentido do todo. 2. Discriminação das unidades de significado ou temas: foram classificadas em ordens temáticas. 3. Clarificar e elaborar os significados, relacionando-se entre si e com respeito ao todo: reagruparam-se as unidades semelhantes para posterior análise individual. 4. Refletir a própria linguagem das pesquisadas nas unidades de significado: as frases textuais das pesquisadas são transcritas. 5. Integração e síntese coerente das unidades de significado transformadas: é uma das partes mais difíceis pois não há convenções ou medidas de intensidade de associações ou fórmulas matemáticas que usa-se nas análises de pesquisa quantitativa. 45 5.3 Resultados e Comentários No decurso das falas, identificou-se a concepção que as mulheres têm quanto ao significado do exame citopatológico cervicovaginal. 5.3.1. Faixa Etária A idade das mulheres da amostra variou de 18 a 61 anos, sendo que a média foi de 37 anos. Tabela 4: Distribuição da faixa etária das mulheres submetidas ao exame citopatológico cervicovaginal. Jacinto Machado – SC. Fevereiro de 2004. Faixa Etária Freqüência Absoluta Freqüência Relativa 15 – 25 4 20% 26 – 36 5 25% 37 – 47 8 40% 48 – 58 1 5% 59 – 69 2 10% TOTAL 20 100% 46 Conforme um dos objetivos propostos para esta pesquisa, entre eles o de identificar a faixa etária das mulheres entrevistadas, observamos que a faixa etária de 37 a 47 anos, apresentou maior número de demanda para o exame de prevenção citopatológico cervicovaginal, sendo representada por 40% das mulheres entrevistadas, seguindo com 25% entre a faixa etária de 26 a 36 anos, e o grupo de 15 a 25 anos com 20%, porém ficando com 10% o grupo etário de 59 a 69 anos, e 5% o grupo etário de 48 a 58 anos, onde este foi o menor percentual entre as mulheres pesquisadas, o qual nos leva a observar que nesta faixa etária elas diminuíram a atenção para com seu corpo, uma vez que motivos como viuvez e um período hipoestrogênico, devido a pósmenopausa. Auto-cuidado este, porque, segundo o Programa Viva Mulher, em conjunto com o Instituto Nacional do Câncer e o Ministério da Saúde, o pico de incidência do câncer de colo do útero, situa-se entre 40 e 60 anos de idade; e uma menor porcentagem ocorre abaixo dos 30 anos. 47 5.3.2. Escolaridade Tabela 5: Distribuição do grau de escolaridade por faixa etária entre as mulheres submetidas ao exame citopatológico cervicovaginal. Jacinto Machado – SC. Fevereiro de 2004. Escolaridade Não Freqüentou Até 4 anos 4 a 8 anos 8 a 12 anos TOTAL No - % No - % No - % No - % No - % 15 – 25 ------- 1 – 5% 2 – 10% 1 – 5% 4 – 20% 26 – 36 ------- 4 – 20% ------- 1 – 5% 5 – 25% 37 – 47 1 – 5% 6 – 30% 1 – 5% ------- 8 – 40% 48 – 58 ------- 1 – 5% ------- ------- 1 – 5% 59 – 69 ------- 2 – 10% ------- ------- 2 – 10% TOTAL 1 – 5% 14 – 70% 3 – 15% 2 – 10% 20 – 100% Faixa Etária Conforme objetivos propostos nesta pesquisa, ao levantar dados sobre o grau de escolaridade, observou-se que, à medida que aumenta a faixa etária, diminui o nível de escolaridade, porque, devido a necessidade de lutar pela sua autonomia, a mulher passou a ter dupla jornada: o serviço doméstico e sua realização profissional, pois esta passou a contribuir no fator socioeconômico, para com seu cônjuge. Porém, onde encontramos a freqüência maior, são as mulheres que estudaram até a Quarta Série do Ensino Fundamental, pois quando jovens, foram instruídas para apenas casar- 48 se e servir ao cônjuge com seus trabalhos domésticos, sendo apenas esposa, mãe e uma eterna serviçal. Segundo Focchi apud Lemgruber (2001, p. 2120), na epidemiologia do câncer de colo do útero, a maior incidência desse agravo, varia de acordo com a região geográfica e geoeconômica, predominando em países subdesenvolvidos, como na África, Índia e nos países da América Latina, onde o nível socioeconômico e cultural também é baixo. 5.3.3. Motivação para Procurar o Serviço de Saúde, para Realizar o Exame de Prevenção Citopatológico Cervicovaginal. Tabela 6: Distribuição das mulheres entrevistadas quanto à motivação de submeter-se ao exame de prevenção citopatológico cervicovaginal. Jacinto Machado – SC. Fevereiro de 2004. Motivação Freqüência Absoluta Freqüência Relativa Profissional de Saúde 5 25% Familiar 1 5% Iniciativa Própria 14 70% 20 100% TOTAL Os resultados mostram que entre as mulheres pesquisadas, 5% receberam orientação de familiares, 25% receberam orientação de algum 49 profissional de saúde, e 70% buscaram a realização deste exame (exame de prevenção citopatológico cervicovaginal) por iniciativa própria, levando-nos a pensar que houve a assimilação da educação em saúde por parte destas participantes da pesquisa. Isto pode revelar reflexos das campanhas de prevenção do Ministério da Saúde, pois em Março de 2002, este desencadeou uma segunda etapa de intensificação do Programa Viva Mulher, durante a qual 3,9 milhões de mulheres foram submetidas ao exame de prevenção citopatológico cervicovaginal. Além disso, durante o ano de 2002, foram realizados outros 8 milhões de exames como parte da rotina desse programa. Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de colo do útero, ocupa o terceiro lugar em incidência e o quarto lugar em mortalidade entre as mulheres brasileiras. 5.3.4. Prevenção Para melhorar a qualidade de vida do homem e sua relação com o meio ambiente, é preciso estar em busca constante de novas e melhores formas de prevenir as doenças. O exame de prevenção citopatológico cervicovaginal é utilizado em diversos países para o rastreamento e detecção precoce do câncer de colo do útero, sendo considerado um método de baixo custo, simples e de fácil execução. A prevenção evita altos custos hospitalares de longas internações, cirurgias, radioterapia e quimioterapia, os quais obrigam ao Serviço Público 50 financiar à população, principalmente a de baixa renda, incapaz de custear seu tratamento. Além da economia, o benefício da cura, senão uma qualidade de vida melhor e uma sobrevida maior é o resultado principal desse investimento denominada prevenção. A efetividade da detecção precoce do câncer de colo do útero, por meio do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal, associada ao tratamento deste câncer em seus estágios iniciais, tem resultados em uma redução das taxas de incidência de câncer cervical invasor que pode chegar a 90%, quando o rastreamento apresenta boa cobertura (80% segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS) e é realizado dentro dos padrões de qualidade (INCA, 2002). Identificou-se em suas falas (95% das entrevistadas) que o exame de prevenção citopatológico cervicovaginal representa grande importância para as mulheres em estudo. “...prevenir antes que a doença chega...” (A) “...se previne contra doenças, assim né, o câncer do útero...” (B) “...previne as doenças, infecção, algum corrimento, alguma coisa...” (C) “...é uma prevenção que a gente tem que ter.” (D) “...para prevenir o câncer, serve para a saúde, para ver como é que a pessoa está, é muito bom fazer...” (E) “...é para prevenir, ver se agente tem o câncer de colo de útero.” (F) “...serve para prevenir o câncer de colo de útero...” (G) 51 “...para a gente se prevenir né? Porque tem o câncer...” (H) “...é porque é bom a gente prevenir contra o câncer de colo do útero...” (J) “...serve pra prevenir, porque a gente não vê o que acontece no útero...” (K) “...prevenção de um monte de doença, e o câncer também do colo do útero.” (L) “...é para prevenir sobre o câncer.” (M) “...prevenir o câncer né, no caso eu olho isso...” (N) “...é porque a gente está prevenindo né, pra essas doenças; o câncer, essas coisas.” (Q) “...a gente se previne das doença né...” (R) “...previne o câncer de colo do útero, e é um direito de toda mulher fazer este exame. Incentivo toda mulher a fazer...” (S) “...a gente faz para se prevenir. (T) 5.3.5. Temor do Câncer Embora conhecido há muitos séculos, o câncer de colo do útero, somente nas ultimas décadas, vem ganhando uma dimensão maior, convertendo-se em um evidente problema de Saúde Pública. No Brasil, a partir dos anos 60, as doenças infecciosas e parasitarias deixaram de ser a principal causa de morte, sendo substituídas pelas doenças do aparelho circulatório, causas externas e pelas neoplasias. Muitos fatores têm contribuído para isso, 52 merecendo destaque o envelhecimento da população, resultante do intenso processo de urbanização e das ações de promoção e recuperação da saúde, que propiciam a exposição contínua a fatores ambientais e mudanças de comportamento responsáveis pela carcinogênese. O câncer de colo do útero é uma doença cuja evolução é lenta, apresentando fases pré-invasivas e, portanto, benignas, caracterizada por lesões como neoplasias intra-epiteliais cervicais. O período de evolução de uma lesão cervical inicial para a forma invasiva e, por conseguinte, malígna é de aproximadamente 20 anos. Este período, relativamente longo, permite que ações preventivas sejam eficientes e alterem o quadro epidemiológico da doença. Estas ações se fazem por meio da educação popular, detecção, diagnóstico precoce e tratamento das lesões cervicais precursoras. “...o exame consta que a gente tem o câncer ou não...” (D) “...porque tem o câncer e a gente tem medo, daí a gente se previne cedo, para não ter problema mais tarde...” (H) “...a gente tem medo e batalha por isso, tu sabe o que que to falando né? Aquilo que a gente não gosta nem de falar. O câncer né...” (I) “...porque a gente tem medo, essa doença é que nem um bicho, quando chega, avança...” (J) “...eu tenho pavor dessa doença, por isso faço o exame todo ano...” (M) “...a gente sempre tem medo, né, não gosto nem de pronunciar a palavra, parece que cada vez que toco nesta palavra, ele chega mais perto...” (T) 53 5.3.6 Detectar Feridas Entre as mulheres entrevistadas participantes da pesquisa, 20% delas relatam em suas falas, que o significado de realizar o exame preventivo do câncer, seria de verificar se possuíam “ferida” de colo de útero, o que poderia indicar um estágio inicial de câncer. Conclui-se que essas mulheres entrevistadas reproduzem uma visão positivista da doença, podendo identificar como característica deste positivismo, a pouca valorização conceitual do processo saúde/doença e seus determinantes. Estas mulheres parecem demonstrar em suas falas de que, a ferida seria o fator predominante para o estágio inicial do câncer, negando outros fatores de risco relacionado ao social e, negando outros fatores causais no processo saúde/doença. Segundo Minayo apud Nunes (1993, p. 49) coloca que: “Na prática médica e suas relações com a sociedade o positivismo se manifesta: (1) Na concepção da saúde/doença como fenômeno apenas biológico individual em que o social entra, compreendido como modo de vida e apenas como variável, ou é desconhecido e omitido; (2) Na valorização excessiva da tecnologia e da capacidade absoluta da medicina de erradicar as doenças; (3) Na dominação corporativa dos médicos em relação aos outros campos do conhecimento, adotando-os de forma pragmática (a sociologia e a antropologia consideradas importantes apenas para fazer questionários, produzir informes culturais, ensinar alguns conceitos básicos); no tratamento subalterno dado aos outros 54 profissionais da área (enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, atendentes, etc...); em relação ao senso comum da população, numa tentativa nunca totalmente vitoriosa, de desqualificá-lo e absorvê-lo. Na medida que observamos as falas percebemos a manutenção de uma prática médica hegemônica, isto é, o modelo assistencial vivenciado na área da saúde valoriza mais as medidas curativas do que as medidas preventivas. Essa prática torna-se incorporada também à população. Também se percebe que as mesmas são estimuladas a submeter-se ao exame, uma vez que dispõe de prioridade de atendimento, caso seja detectado intercorrências que mereçam continuidade ao tratamento, isto é: “não precisa pegar fila nem ficha”. “... queria ver se tinha ferida.” (C) “.. . ver se a gente tem ferida.” (F) “.. .se tem problema de ferida.” (K) “.. .uma ferida e outros problemas...” (P) “...foi assim que descobri que tinha ferida...” (R) 5.3.7. Diagnosticar Infecção Infecção, qualidade ou estado daquilo que está infeccionado. Desenvolvimento e multiplicação de seres inferiores no organismo de 55 hospedeiro, de que podem resultar para este, conseqüências variadas, habitualmente nocivas, em grau maior ou menor. Dentre as mulheres pesquisadas, cinco relacionam como significado do exame verificar se possui algum tipo de infecção ginecológica. “...saber se tenho alguma infecção...” (C) “...vê se tenho alguma infecção, pois eu já fiz e já deu infecção escamosa...” (E) “...preciso saber se tenho ou não infecção, porque às vezes tenho dor na hora da relação...” (J) “...ver se tem problema de infecção...” (K) “...e outros problemas, como infecção...” (P) 5.3.8 Diagnosticar Doenças Sexualmente Transmissíveis Observou-se que o temor das doenças sexualmente transmissível, foi relatado por mulheres, cujos maridos tiveram múltiplas parceiras como também relacionamento extraconjugal. Temor este, porque o câncer de colo do útero tem estas como um dos fatores de risco. As falas, porém, nos mostram uma certa preocupação em autoproteção, sendo que na sua intimidade não tem esta liberdade; onde seus 56 maridos rejeitam o preservativo, dificultando a qualidade do relacionamento sexual, ficando estas mulheres, submissas ao desejo sexual masculino. “...e essas doença que a gente pega até na relação sexual...” (G) “...essas doenças sexual que a gente pega né...” (L) “...porque meu marido tinha uma namorada na rua, então quero ver se vai aparecer alguma doença dessas mulheres de rua...” (O) Segundo Passos (1995, p. 82), a ciência estabeleceu como fatores de risco para o câncer de colo do útero, condições direta ou indiretamente ligadas à sexualidade: início precoce da atividade sexual, prostituição, promiscuidade, uso de concepção oral, infecções cervicovaginais freqüentes, em especial pelo vírus do papiloma humano (HPV, o qual encontra-se presente em 99% dos casos de câncer de colo do útero diagnosticados); teste imunológico positivo para HIV, e ainda, primiparidade precoce, falta de higiene pessoal. Os fatores de risco para esta doença não excluem o dano que os parceiros pode causar a mulher, assinala-se a relação entre esmegma peniano. 5.3.9. Diagnosticar as Causas do Corrimento Como a quase totalidade do câncer de colo do útero, ocorre em mulheres com atividade sexual, o corrimento vaginal está entre os sintomas mais freqüentes, portanto, duas das mulheres pesquisadas relataram este desconforto. 57 Segundo Abrão (2001, p. 1282), [...] o emprego do exame de prevenção citopatológico, no rastreamento do câncer de colo de útero, permite sua prevenção, na medida em que identifica lesões ainda em estágios anteriores à neoplasia e seu diagnóstico na fase pré-sintomática, modificando o curso clínico da doença e tornando mais efetivo o tratamento. “...algum corrimento...” (C) “...às vezes um corrimento já nos assusta...” (D) 5.3.10 Centralização do local para a realização do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal Entre as mulheres pesquisadas, 25% relataram em suas falas, que houve protelação do exame por serem da área rural, onde enfrentam os seguintes obstáculos: localização, transporte e excesso de serviço. Percebemos a necessidade da descentralização das ações de saúde, com prioridade para as atividades preventivas. “...nem sempre quando o meu marido desse o morro eu posso vir também, algum dia o tempo é ruim, outro dia a gente tem muito serviço...” (C) “...só onde elas fazem este exame, é aqui no Jacinto, e nem sempre dá para a gente vir quando a gente qué, porque moro longe né!” (J) 58 “...já era pra mim ter vindo há mais tempo, mais tu sabe o trabalho que passo né, morando longe, um dia é o serviço, outro dia é o tempo que não ajuda, e assim a gente vai relaxando...” (P) “...olha, já vinha planejando este exame a mais tempo, mas como moro longe, fui deixando e demorei a vir...” (R) “...se a gente tivesse alguém que fizesse este exame lá no postinho, ficava mais fácil para nós mulheres. Tive que sair às quatro horas da manhã de casa para poder pegar o ônibus... Segundo Barros (1994, p. 34), a estruturação política e organizacional do sistema de saúde vigente, coloca no nível municipal a responsabilidade pelo planejamento, programação, execução, controle e avaliação do sistema de saúde local. Desta forma o município é responsável pela garantia do acesso da população às ações de saúde, sejam elas de promoção, prevenção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde. Segundo Silva (2001, p. 284), a municipalização permite, dentro dos limites do poder local, que sejam postas em prática ações de saúde inovadoras que tenham como objetivo a eqüidade em saúde e o desenvolvimento de práticas intersetoriais. 59 5.3.11. Déficit de Conhecimento das Mulheres Entre as mulheres entrevistadas, algumas não tinham informações sobre a importância e o significado de submeter-se ao exame de prevenção do câncer de colo do útero. O déficit de conhecimento, é caracterizado quando o indivíduo não tem a informação correta ou completa sobre aspectos necessários para manter ou melhorar o seu bem-estar, e pode estar relacionado à falta de experiência prévia. Essa deficiência de conhecimento pode levar ao déficit de autocuidado, levando em consideração que, a desinformação quanto a doença, pode gerar uma despreocupação por parte das mulheres em adquiri-la e, uma conseqüente protelação da consulta de prevenção de câncer de colo do útero. “...é uma prevenção que a gente tem que ter.” (D) “...para a gente se prevenir né? Porque tem o câncer!” (H) “...porque a gente tem medo, essa doença é que nem bicho, quando chega, avança...” (J) “...preciso saber se tenho ou não infecção, porque às vezes tenho dor na hora da relação...” (J) “...porque meu marido tinha uma namorada na rua, então quero ver se vai aparecer alguma doença dessas mulheres de rua...” (O) “...a gente se previne das doenças né...” (R) 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a chegada de um novo século e a evolução da medicina, procurando aumentar cada vez mais a expectativa de vida, não podemos permitir que mulheres morram de câncer com possibilidade de prevenção e cura. Devemos buscar também a forma mais qualitativa de vida, por intermédio da prevenção e diagnóstico precoce. O câncer de colo do útero é um tipo de câncer que pode ser curado, se diagnosticado e tratado precocemente. O exame de prevenção de câncer de colo do útero, representa grande importância para as mulheres entrevistadas, as quais atribuíram o significado de submeter-se a este exame; a prevenção do câncer e de outras doenças, supostamente, as Doenças Sexualmente Transmissíveis, que trazem à tona a falta de confiança por parte dos companheiros, como também referiram queixas ginecológicas. É importante destacar que foi referida a protelação do exame de prevenção entre algumas mulheres entrevistadas, devido a distância de suas residências em relação a Unidade Básica de Saúde Central. A maioria das mulheres demonstraram déficit de conhecimento,com relação a doença, enquadrando-se na categoria de déficit de auto-cuidado, visto que a desinformação pode ser um fator culminante para a protelação do exame e conseqüente empecilho à prática do auto-cuidado. 61 No decorrer das entrevistadas, percebeu-se uma deficiência do sistema apoio-educação, evidenciado no relato das mulheres do desconhecimento de aspectos gerais quanto ao seu corpo, exame e o câncer. Portanto, torna-se necessário repensar a inserção de um trabalho em educação em saúde, pois a promoção da saúde, diminuirá a incidência do câncer de colo do útero, e com o diagnóstico precoce, diminui-se ou retarda a mortalidade; caminho este pelo qual consegue-se modificar a realidade epidemiológica de uma região. Contudo, cabe aos gestores, planejadores e a equipe multidisciplinar, a contínua responsabilidade de enfatizar a importância deste exame para a saúde da mulher. No entanto, para garantir o êxito na detecção precoce e no tratamento das lesões cervicais, outros fatores são importantes, além da necessária acuidade diagnóstica, como a cobertura do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal entre a população feminina, a proporção de mulheres rastreadas em cada faixa etária, principalmente a de maior risco do ponto de vista epidemiológico; a periodicidade adequada e, acima de tudo, o sucesso do rastreamento e o controle do câncer de colo do útero, juntamente com Educação em Saúde, para que as mulheres tenham uma concepção correta do significado do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal, dependerá também da reorganização da assistência clínicoginecológica às mulheres usuárias do Sistema Único de Saúde; da capacitação dos profissionais de saúde; do aumento dos recursos humanos e financeiros 62 destinados a esta área e da implementação efetiva de políticas públicas que resgatem os princípios de universalidade e integralidade presentes no Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Sugestões: Maior divulgação pela intervenção da mídia escrita e falada, em relação à importância de realizar o exame de prevenção citopatológico cervicovaginal; Realizar educação em saúde, despertando o real significado do exame de prevenção citopatológico cérvicovaginal, utilizando grupos de jovens, grupos de diabéticos, hipertensos e nos cursos de noivos; Equipar as unidades dos bairros do município para a coleta do exame de prevenção citopatológico cervicovaginal; Realizar campanhas itinerantes com cronogramas pré- estabelecidos; Utilizar os agentes comunitários, do Programa Saúde da Família, para fazer um mapeamento e/ou diagnóstico situacional da procedência das mulheres, como também discutir e avaliar as metas do programa conforme aprazamento. 63 REFERÊNCIAS ABRAO, Fauzer Simão. Tratado de Ginecologia: Tratamento do Câncer do Colo do Útero. 2 ed. Rio de Janeiro: Revinter Ltda, 2001. v.2. BARROS, Elizabeth. O Controle Social e o Processo de Descentralização dos Serviços de Saúde. 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Esta pesquisa tem por objetivo explorar o significado que as mulheres tem a respeito do exame citopatológico cervicovaginal, o exame preventivo de câncer de colo do útero Será realizada uma entrevista que será gravada para não se perder o teor das falas, mas será mantido no anonimato, sendo usado um pseudônimo para identificar as entrevistadas. Somente a pesquisadora estará presente na hora da entrevista. Não haverá risco nenhum. Não haverá custos para as participantes. Serão feitas algumas perguntas de caráter particular (a participante tem todo o direito de não responder, caso não queira), onde serão anotadas em uma ficha sigilosa que em nenhum momento poderá ser utilizada para outros fins que não sejam os da pesquisa. Fotografias das participantes só serão feitas, com o consentimento por escrito das participante. Jacinto Machado, ___/___/2004 ________________________________ Mariléia Simon Possamai Della (pesquisadora) End: Rua Governador Jorge Lacerda, no 93 Fone: (048) 535-2084 70 ANEXO II - TERMO DE CONSENTIMENTO PREFEITURA MUNICIPAL DE JACINTO MACHADO – SC SECRETARIA DE SAÚDE CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO - LATO SENSU - UNESC ESPECIALIZAÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA E AÇÃO COMUNITÁRIA TERMO DE CONSENTIMENTO Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa e que recebi, de forma clara e objetiva, todas as explicações pertinentes ao projeto e que todos os dados a meu respeito serão sigilosos. Declaro que fui informada que posso me retirar do estudo a qualquer momento. Nome por extenso: ________________________________________________ Local e data: _________________________________________/__/__/_____ Assinatura: _____________________________________________________ 71 ANEXO III - QUESTIONÁRIO PREFEITURA MUNICIPAL DE JACINTO MACHADO – SC SECRETARIA DE SAÚDE CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO - LATO SENSU - UNESC ESPECIALIZAÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA E AÇÃO COMUNITÁRIA QUESTIONÁRIO 1 – Pseudônimo: _________________________________________ Número |_|_| 2 – Idade: |_|_| 4 – Grau de escolaridade |_1_| não freqüentou a escola |_2_| até 4 anos de escola |_3_| de 4 a 8 anos |_4_| de 8 a 12 anos |_5_| mais de 12 anos 5 – Quem lhe instruiu para fazer o exame para prevenção do colo do útero |_1_| Profissional de Saúde |_2_| Amiga |_3_| Parente |_4_| iniciativa própria |_5_| Mídia – meios de comunicação 6 – Poderia falar-me sobre o que significa para você submeter-se a um exame para prevenção de câncer do colo do útero. Fala-me tudo que considerar importante.