processamento de plantas com propriedades

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PROCESSAMENTO DE PLANTAS COM PROPRIEDADES MEDICINAIS UTILIZADAS
PELA COMUNIDADE DE MONTE ALEGRE DO MUNICÍPIO DE CACHOEIRO DO
ITAPEMIRIM, E.S.
Letícia Abreu Simão1, Ana Carolina Giori Ferrão1, Vivian França Mainardi1, Raphaela
Cantarino Ribeiro1, Heberth de Paula1, Taís Cristina Bastos Soares1
1
Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Zootecnia, Alto universitário s/n,
[email protected]
Resumo- O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de
muitas comunidades e grupos étnicos. Este trabalho propôs o levantamento junto às comunidades rurais,
quais, como e para que fins as plantas estão sendo utilizadas na medicina popular e divulgar estes
conhecimentos na comunidade. O estudo foi realizado na comunidade de Monte Alegre pertencente ao
município de Cachoeiro de Itapemirim, ES, utilizando questionários fechados com a pessoa mais idosa de
cada família. As principais plantas medicinais utilizadas pelas famílias foram Macaé, Boldo, Poejo, Saião e
Hortelã.
Palavras-chave: plantas medicinais, etnobotânico
Área do Conhecimento:
Introdução
As plantas medicinais têm sido utilizadas
há anos como método para obtenção do
tratamento e cura de várias enfermidades, e o uso
de algumas plantas ainda hoje é caracterizado
como única forma de obtenção de medicamentos.
É comum encontrar em feiras livres, comércios
tradicionais e em pequenas hortas residenciais
plantas que são utilizadas para fins terapêuticos,
muito embora sua ação curativa seja empírica,
uma vez que há poucas pesquisas que
comprovem seus constituintes químicos. Apesar
de pouco estudados, os conhecimentos populares
acerca de tais vegetais contribuem de forma
bastante notória para a medicina tradicional
através da divulgação dos efeitos que produzem.
O interesse por esses conhecimentos populares
fez com que Harshberger, em 1986 utilizasse pela
primeira vez o termo “etnobotânica” definindo-o
como um estudo das “plantas usadas por povos
primitivos e aborígines” (Garub- Fakim, 2006).
Programas de levantamento etnobotânicos
são de importância primordial para conhecermos
melhor as plantas medicinais mais utilizadas, a
importância terapêutica e a forma de utilização das
mesmas por diferentes comunidades.
A comunidade quilombola de Monte Alegre
reside próxima a Floresta Nacional de Pacotuba, e
assim como as demais comunidades tradicionais
quilombola vivem principalmente da agricultura de
subsistência e utilizam-se de recursos florestais
para resolverem os problemas de saúde que
aparecem em seu cotidiano (IBASE, 2006). É
importante que os conhecimentos possuídos por
essa comunidade acerca das plantas medicinais e
suas aplicações sejam inventariados, realizando a
difusão entre os conhecimentos científicos e
populares, garantindo assim uma melhoria na
qualidade de vida de seus integrantes, bem como
o uso sustentável dos recursos naturais.
O objetivo do nosso trabalho foi catalogar
espécies de plantas medicinais que possui maior
freqüência de uso da comunidade.
Metodologia
O estudo foi realizado na comunidade de
Monte Alegre pertencente ao município de
Cachoeiro de Itapemirim está localizada no sul do
Espírito Santo, e consiste na integração de 36
famílias com descendência quilombola.
Foram utilizados questionários fechados
que tinham como premissa, caracterização da
família entrevistada, o nome popular da planta, a
parte usada, a forma de preparo e como a mesma
seria usada. Foi padronizado que a entrevista
seria feito com a pessoa mais idosa de cada
família.
Resultados
Foram entrevistadas 22 famílias (63%) da
comunidade de Pacotuba, no município de
Cachoeiro do Itapemirim, ES. Das famílias
entrevistadas, apenas 16,2% alegaram não utilizar
plantas medicinais. A média de idade dos
entrevistados foi de 39 anos (mediana: 37 anos).
As famílias entrevistadas citaram 52 plantas
diferentes, sendo que a média observada foi de
XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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5,77 plantas por família. As principais plantas
medicinais utilizadas pelas famílias foram Macaé,
Boldo, Poejo, Saião e Hortelã, e estão
apresentadas no gráfico 1. A principal forma de
uso apontada foi a ingestão de chá (80,9%)
preparado a partir das folhas das plantas
anteriormente citadas (82,2%), e são comumente
utilizadas para o tratamento de patologias que
afetam os sistemas respiratório, digestório e
nervoso, além de cólicas e infecções de um modo
geral, apresentados no gráfico 2.
Figura 1- Percentual das principais plantas
medicinais utilizadas pelas famílias.
Figura 2 – Percentual de emprego das plantas
medicinais.
Discussão
A exploração de recursos genéticos de
plantas medicinais no Brasil está relacionada, em
grande parte, à coleta extensiva e extrativa do
material silvestre. Apesar do volume considerável
da exportação de várias espécies medicinais na
forma
bruta
ou
de
seus
subprodutos,
pouquíssimas espécies chegaram ao nível de ser
cultivadas, mesmo em pequena escala. O fato
torna-se mais marcante quando é considerado as
espécies nativas, cujas pesquisas básicas ainda
são incipientes (Evangelista & Carvalho, 2001).
Durante a aplicação da metodologia, podese perceber a importância da utilização desses
recursos
naturais
para
a
obtenção
de
medicamentos nesse tipo de comunidade. É
notório também que muito desses conhecimentos
acerca de plantas medicinais foi perdido ao longo
das gerações, no entanto o pouco que se
conservou, é utilizado com bastante freqüência
uma vez que a comunidade se localiza em uma
região afastada dos pontos comerciais de venda
de remédios.
A comunidade relatou que a persistirem os
sintomas da doença, procura o posto de saúde
mais próximo e comunica ao médico sobre o uso
desse recurso, e que os médicos apresentam uma
opinião positiva ao uso desses medicamentos,
incentivando a continuidade em caso de
necessidade.
Como se pode confirmar nos gráficos
anteriormente mostrados, há uma grande
utilização de cinco plantas dentre às cinqüenta e
duas citadas: macaé, boldo, saião, hortelã e poejo.
Estas plantas apresentaram bons resultados na
melhoria de várias doenças diferentes, não
estando ligadas a apenas um tipo de enfermidade.
Como é uma comunidade rural, e seu
acesso só é permitido através de estradas de
chão, é comum as pessoas que lá vivem
apresentarem problemas respiratórios e por isso
apresentam maiores conhecimentos sobre plantas
capazes de curar doenças ligadas a esse sistema.
Já
as
doenças
do
sistema
digestório
provavelmente estão ligadas ao uso de água não
tratada, uma vez que a comunidade não tem
acesso a uma rede de saneamento básico o que
também explica seu vasto conhecimento sobre o
uso de plantas com finalidade de tratamento e
cura de doenças desse tipo.
As plantas medicinais citadas nos inquéritos são
comumente encontradas nos quintais das casas, e
é de lá que são retiradas para o consumo, não
havendo registros de utilização de recursos da
flora para tal finalidade. Além disso, foi relatado
pela maioria dos entrevistados que seus
conhecimentos são fruto de uma herança cultural,
tendo eles aprendido com os pais e avós.
Conclusão
Embora esses conhecimentos apresentem
um embasamento popular, os eventos de cura de
enfermidades são comprovados no dia a dia
dessas pessoas. Assim, faz-se importante que se
estude mais aprofundadamente a etnobotânica,
comprovando cientificamente o que o cotidiano
dessa comunidade tradicional já comprovou.
Referências
- FIDALGO O, BONONI V. L. R. Técnicas de
coleta, preservação e herborização de material
botânico. Instituto de Botânica, São Paulo 1984.
XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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- GARUB- FAKIM, A. Molecular Aspects of
Medicine, Medicinal Plants: Traditions of
Yesterday and Drugs of Tomorrow; volume 27,
issue 1, february 2006, p 3-14.
- IBASE 2006. Diagnóstico social de Retiro.
Relatório técnico integrante das medidas
compensatórias da instalação da linha de
transmissão elétrica de Furnas Ouro Preto –
Vitória. Santa Leopoldina, IBASE, 31p.
- JOLY, A B. Botânica: introdução a taxonomia
vegetal. Ed. Cia Ed. Nacional, São Paula 1977.
- LORENZI H, MATOS F J A. Plantas medicinais
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Estudos da Flora, Nova Odessa 2002.
- OLIVEIRA F, AKISSUE G. Fundamentos de
Farmacobotânica. Livraria Atheneu Editora, Rio de
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- SOUZA V C, LORENZI H. Botânica sistemática Guia ilustrado para identificação das famílias
angiosperma da flora brasileira, baseado em
APGII. Instituto Plantarum de Estudos da Flora,
Nova Odessa 2005.
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IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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