1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CAROLINA LESSA AQUINO EXPRESSÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE MSP-119 kDa DE Plasmodium falciparum EM SISTEMA DE BACULOVÍRUS RIO DE JANEIRO 2009 2 CAROLINA LESSA AQUINO EXPRESSÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE MSP-119 kDa DE Plasmodium falciparum EM SISTEMA DE BACULOVÍRUS Monografia submetida como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), na área de concentração de Microbiologia. Orientadora científica: Dra. Myrna Cristina Bonaldo. Co-orientadora científica: MSc Maria Luiza Borges Azevedo. Orientadora acadêmica: Dra. Carmem Soares de Meirelles Saramago. RIO DE JANEIRO 2009 3 CAROLINA LESSA AQUINO EXPRESSÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE MSP-119 kDa DE Plasmodium falciparum EM SISTEMA DE BACULOVÍRUS Monografia submetida como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), na área de concentração de Microbiologia. Orientadora científica: Dra. Myrna Cristina Bonaldo Co-orientadora científica: MSc Maria Luiza Borges Azevedo Orientadora acadêmica: Dra. Carmem Soares de Meirelles Saramago Aprovada em: 29/06/2009 BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________________________________________ Dra. Carmem Soares de Meirelles Saramago Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro ___________________________________________________________________________ Dr. Marcello Xavier Sampaio Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro ___________________________________________________________________________ Dra. Simone Morais da Costa Fundação Oswaldo Cruz 4 Aos meus pais, avós e namorado. 5 AGRADECIMENTOS À Dra. Myrna Cristina Bonaldo, pela orientação e pela oportunidade de participar de sua equipe. À MSc Maria Luiza Borges Azevedo, pela orientação, paciência, confiança e amizade. À Dra. Ariane Leites Larentes, do Laboratório de Tecnologia Recombinante (BioManguinhos, FIOCRUZ), pela ajuda com a densitometria. Aos colegas do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus (Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ), pela receptividade, companhia e momentos de descontração. Á Dra. Carla Holandino Quaresma e aos amigos do Laboratório Multidisciplinar de Ciências Farmacêuticas (Departamento de Medicamentos, UFRJ), que também muito contribuíram para minha formação acadêmica. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, ao Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para Saúde e à Fundação Oswaldo Cruz, pelo financiamento do projeto. À Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, pela formação que me foi dada e ao seu corpo docente, pelos conhecimentos passados. 6 Aos meus pais queridos, por acreditarem e investirem em mim, pela confiança, pela compreensão e pelo amor diário. Aos meus avós queridos, em especial minha avó Lindalva, também por acreditar e investir em mim, por todo o carinho e amor. Ao meu namorado, por todo amor, paciência e compreensão; por ser minha criança grande. À Aline, minha amiga-irmã, pelas palavras amigas e por estar sempre presente na minha vida. Aos amigos que encontrei na UNIRIO, por fazerem da faculdade um momento ainda mais especial. 7 RESUMO A malária é uma das doenças parasitárias mais sérias do mundo, causada por parasitas do gênero Plasmodium sp. Os sintomas clínicos ocorrem durante o ciclo eritrocítico do parasito, que se inicia com a invasão do eritrócito pelo merozoíto. Uma das proteínas envolvidas nesse processo é proteína de superfície do merozoíto 1 (MSP-1), sendo essa proteína muito estudada como alvo para desenvolvimento de uma vacina para malária clínica. No momento da invasão, a MSP-1 sofre duas proteólises resultando num fragmento C-terminal de 19 kDa (MSP-119 kDa). Estão sendo desenvolvidos, em nosso laboratório, estudos para geração de uma vacina combinada febre amarela-malária utilizando o vírus da febre amarela vacinal, cepa 17D, como vetor de expressão para MSP-119 kDa. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi expressar a proteína MSP-119 kDa em células de inseto utilizando baculovírus, para sua posterior utilização em estudos de caracterização desses vírus recombinantes. Foi possível obter um cassete de expressão da MSP-119 kDa para sua expressão em células de inseto utilizando baculovírus. A proteína foi detectada em SDS-PAGE a partir de 48 horas de infecção. Após 96 horas, a MSP-119 kDa correspondeu a cerca de 12 % da massa protéica total celular. A proteína será purificada e empregada na obtenção de anti-soros específicos e em testes com soros de camundongos imunizados com vírus recombinantes FA/MSP-119 kDa. 8 ABSTRACT Malaria is one of the most serious parasitic disease of the world. It is caused by Plasmodium sp. parasites. The symptoms occur during the erithrocytic cycle of the parasite that initiate with erythrocyte invasion by the merozoite. One of the proteins involved in this process is the merozoite surface protein 1 (MSP-1). For this reason, MSP-1 is one of the most studied target for the development of a vaccine for clinical malaria. Immediately before invasion, MSP-1 suffers 2 proteolytic processes, resulting in a C-terminus fragment of 19 kDa (MSP-119 kDa). Our group has been working on the development of a vaccine for both yellow fever (YF) and malaria through the generation of recombinant flavivirus carrying the MSP-119 kDa antigen. Then the aim of this work was to express the recombinant protein MSP-119 kDa using a baculovirus expression system. It was possible to detect MSP-119 kDa in insect cells infected with recombinant baculovirus from 48 hours in SDS-PAGE. At 96 hours of infection, approximately 12 % of the total cellular proteins corresponded to MSP-119 kDa. The MSP-119 kDa will be purified and used in immunologic assays with the serum of YF/MSP-119 immunized mice. kDa – 9 ABREVIATURAS AcMNPV Autographa californica “Multiple Nuclear Polihedrosis Virus” DNA do inglês, “Desoxyribonucleic Acid” DO Densidade óptica E Proteína do Envelope ECV do inglês, “Extracellular Viruses” EDTA Ácido etilenodiaminotetracético EGF do inglês, “Epidermal Growth Factor” EGFP do inglês, “Enhanced Green Fluorescent Protein” FA 17D Vírus da Febre Amarela cepa 17D GPI Glicosilfosfatidilinositol GV do inglês, “Granulosis Viruses” ICTVdB LB do inglês, “International Committee on Taxonomy of Viruses Database” Luria-Bertani MNPV do inglês, “Multiple Nuclear Polihedrosis Viruses” M.O.I. do inglês, “Multiplicity of Infection” MSP do inglês, “Merozoite Surface Protein” 10 MSP-119 kDa Proteína de superfície do merozoíto 1 domínio 19 kDa NPV do inglês, “Nuclear Polihedrosis Viruses” NS1 do inglês, “Non-structural Protein” OMS Organização Mundial de Saúde pb Pares de base PCR do inglês, “Polimerase Chain Reaction” PPM Padrão de peso molecular RE Retículo Endoplasmático RNM Ressonância Nuclear Magnética SAP do inglês, “Shrimp Alcaline Phosphatase” SDS Dodecil Sulfato de Sódio SDS-PAGE Sf do inglês, SDS “Polyacrylamide Gel Electrophoresis” Spodoptera frugiperda SNPV do inglês, “Single Nuclear Polihedrosis Viruses” TAE Tampão Tris-Acetato-EDTA TE Tampão Tris-EDTA TEV do inglês, “Tobacco Etch Virus” tPA do inglês, “Human Tissue Plasminogen Activator” 11 SUMÁRIO 1 Introdução ................................................................................................................................... ........11 1. 1 Malária ........................................................................................................................................ 11 1.1.1 Biologia do parasito .............................................................................................................. 11 1.1.2 Estrutura, processamento e importância imunitária da MSP-1.............................................15 1.1.3 Vacina e imunidade protetora................................................................................................18 1.2 Vírus vacinal da febre amarela.....................................................................................................20 1.3 Expressão de proteínas em células de inseto utilizando baculovírus............................................22 2 Objetivos ........................................................................................................................................ .....29 2.1 Objetivo geral .............................................................................................................................. 29 2.2 Objetivos específicos...................................................................................................................29 3 Materiais e métodos........................................................................................................................... .30 3.1 Amplificação e clonagem do fragmento MSP-119 kDa Modificada................................................30 3.1.1 Eletroforese e visualização de DNA......................................................................................30 3.1.2 Amplificação do fragmento MSP-119 kDa Modificada............................................................30 3.1.3 Células...................................................................................................................................33 3.1.4 Clonagem no vetor de transferência pFastBac DUAL..........................................................34 3.2 Obtenção do baculovírus recombinante........................................................................................38 3.2.1 Produção do bacmídio recombinante.....................................................................................38 3.2.2 Transfecção de células de inseto............................................................................................40 3.2.3 Infecção de células de inseto.................................................................................................41 3.2.4 Detecção do DNA viral e verificação da presença do fragmento clonado............................42 3.3 Expressão da proteína recombinante MSP-119 kDa Modificada.....................................................44 3.3.1 Eletroforese de proteína.........................................................................................................44 3.3.2 Cinética de expressão da MSP-119 kDa Modificada recombinante..........................................44 3.3.3 Análise do rendimento por densitometria..............................................................................45 4 Resultados............................................................................................................................................46 4.1 Amplificação e clonagem do fragmento MSP-119 kDa Modificada............................................46 4.2 Obtenção do baculovírus recombinante....................................................................................49 4.3 Expressão da proteína recombinante MSP-119 kDa Modificada.................................................51 5 Discussão.............................................................................................................................................53 6 Conclusões...........................................................................................................................................57 7 Perspectivas.........................................................................................................................................58 8 Bibliografia..........................................................................................................................................59 12 1 INTRODUÇÃO 1.1 Malária 1.1.1 Biologia do parasito Plasmodium sp. (Marchiafava & Celi, 1885), agente causador da malária, é um microorganismo unicelular eucariótico. Mais de 100 espécies de Plasmodium sp. podem infectar inúmeras espécies animais, incluindo répteis, pássaros e mamíferos, mas, sob condições naturais, apenas 4 espécies infectam humanos: Plasmodium (Laverania) falciparum (Welcha, 1897), Plasmodium vivax (Grassi & Feletti 1890) Labbé, 1892, Plasmodium (Plasmodium) malariae (Grassi & Feletti, 1892) e Plasmodium ovale (Stephens, 1922). Essas espécies diferem entre si por sua distribuição geográfica, morfologia, resposta imune e resistência a drogas, sendo P. vivax e P. falciparum as mais frequentes. Apesar de P. vivax ser mais frequente que P. falciparum, sua infecção raramente leva o indivíduo à morte, enquanto P. falciparum é o maior causador de mortes por malária. O plasmódio é transmitido aos hospedeiros mamíferos pela fêmea do mosquito Anopheles sp. (Meigen, 1818). Existem mais de 400 espécies de Anopheles sp. pelo mundo, das quais 60 são vetores de malária sob condições naturais e, dessas, 30 são de maior importância (TUTEJA, 2007). O ciclo de vida do plasmódio é extremamente complexo (Figura 1). Esporozoítos infectivos, provenientes das glândulas salivares da fêmea do mosquito Anopheles sp., são injetados no hospedeiro vertebrado. Os esporozoítos são células alongadas, assexuadas e 13 móveis, que migram até o fígado e invadem os hepatócitos através de um mecanismo em que a proteólise de proteínas na superfície do parasito desempenha um papel fundamental (SILVIE et al., 2004; COPPI et al., 2005; MENARD et al., 2008). Figura 1: Representação esquemática do ciclo de vida do plasmódio. Durante uma refeição, o mosquito infectado injeta esporozoítos infectivos no hospedeiro vertebrado (1). Os esporozoítos alcançam o fígado (2) e sofrem esquizogonia hepática (3), originando merozoítos. Os merozoítos que caem na corrente sanguínea (4) invadem eritrócitos (5). Nos eritrócitos infectados, há formação do esquizonte sanguíneo, que se rompe, liberando novos merozoítos na corrente sanguínea (6); ou há formação de gametócitos (7). Um mosquito, ao se alimentar de um hospedeiro vertebrado infectado, ingere eritrócitos contendo gametócitos (8). No mosquito, os gametócitos evoluem a gametas maduros e se fundem (9) originando o oocineto (10), que evolui a oocisto (11). O oocisto se rompe, liberando esporozoítos infectivos que migram para as glândulas salivares do mosquito (12). Em uma nova refeição, o mosquito injeta esporozoítos no hospedeiro vertebrado (1), perpetuando o ciclo do plasmódio. Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention. Disponível em: http://www.cdc.gov/malaria/ biology/life_cycle.htm. No hepatócito, os esporozoítos se dividem rápida e assexuadamente em uma replicação chamada de esquizogonia, na qual há a formação de uma célula multinucleada chamada 14 esquizonte hepático. O esquizonte hepático se divide e dá origem à nova forma do parasito no seu ciclo de vida, chamada de merozoíto. O merozoíto se caracteriza por ser estruturalmente semelhante ao esporozoíto, embora mais curto e largo e por ter sua superfície recoberta por um envoltório piloso, composto por várias proteínas de superfície que são importantes na aderência ao eritrócito (TUTEJA, 2007). Os merozoítos liberados do fígado caem na corrente sanguínea, onde invadem eritrócitos. O contato inicial é crucial para o reconhecimento da célula competente para invasão pelo parasito. Primeiramente, esse reconhecimento é de baixa afinidade e reversível e ocorre em qualquer ponto da sua superfície. Depois, inicia-se a reorientação do merozoíto, no intuito de justapor sua porção apical à membrana eritrocítica e, assim, permitir uma interação mais íntima entre as células. É formada uma junção oclusiva, que é movida para porção posterior do merozoíto. As moléculas que medeiam a adesão ao eritrócito são, então, gradativamente removidas através de proteases, em um processo que culmina na perda do envoltório piloso. À medida que o merozoíto penetra na célula, é formado um vacúolo parasitóforo a partir da membrana celular, no qual o parasito seguirá se desenvolvendo (AIKAWA et al., 1978; COWMAN et al., 2006). Um grande número de interações específicas entre o parasito e a célula hospedeira já foi identificado. O seqüenciamento do genoma do P. falciparum revelou que muitas moléculas envolvidas na invasão celular são membros de famílias de genes. As proteínas de superfície do merozoíto (MSP), por exemplo, constituem uma classe importante de proteínas de membrana identificadas nos merozoítos livres e em desenvolvimento. Elas estão envolvidas na interação inicial via resíduos de ácido siálico na superfície do eritrócito (TUTEJA, 2007). O antígeno de ligação ao eritrócito 175 (EBA-175) é uma proteína de P. falciparum que se liga à glicoforina A, glicoproteína mais freqüente na superfície do eritrócito, que atua como receptor para o parasito (SIM et al., 1994; MILLER et al., 2002). 15 No eritrócito, o merozoíto se transforma em trofozoíto, também referido como “forma de anel” devido à sua morfologia característica. O trofozoíto, então, aumenta seu tamanho e sua atividade metabólica, o que inclui glicólise acentuada, digestão do citoplasma do eritrócito e proteólise da hemoglobina. A proteólise da hemoglobina leva à liberação de seu grupamento heme, composto tóxico para o parasito. Entretanto, o parasito não é capaz de degradá-lo, mas sim de polimerizá-lo, processo que resulta na formação da hemozoína, substância de coloração escura, também conhecida como pigmento malárico (TUTEJA, 2007). O fim da fase trofozoíta é marcado por múltiplas divisões nucleares, levando à formação do esquizonte sanguíneo. O esquizonte, por sua vez, se divide e produz cerca de 20 merozoítos. O eritrócito rico em merozoítos se rompe e libera, além dos parasitos, toxinas no corpo do hospedeiro. Esse ciclo invasão-replicação-liberação dura cerca de 48 horas no caso do P. falciparum e caracteriza o conhecido quadro clínico de febre e calafrios da malária (TUTEJA, 2007). O plasmódio entra na fase sexual quando alguns merozoítos, no eritrócito, se transformam em micro- e macrogametócitos, células capazes de se diferenciarem em gametas masculino e feminino respectivamente. Os eritrócitos contendo gametócitos não se rompem e são levados ao hospedeiro invertebrado quando o mosquito se alimenta de um mamífero infectado. Somente no trato gastrointestinal médio do mosquito os gametócitos são capazes de evoluir a micro- e macrogametas, originando gametas masculino e feminino maduros. Os gametas se fundem e o zigoto diplóide se desenvolve na parede intestinal, formando oocistos. Dentro dos oocistos, inúmeras mitoses ocorrem, em uma reprodução chamada esporogonia. Com a ruptura do oocisto, esporozoítos são liberados e migram para as glândulas salivares do mosquito. O mosquito se mantém infectivo por 1 a 2 meses e, em uma nova alimentação, 16 injeta os esporozoítos na corrente sanguínea do hospedeiro vertebrado, perpetuando o ciclo do plasmódio (TUTEJA, 2007). 1.1.2 Estrutura, processamento e importância imunitária da MSP-1 Muitas são as proteínas envolvidas no processo de invasão do eritrócito. O envoltório piloso do merozoíto é rico em proteínas ancoradas na membrana através de uma região glicosilfosfatidilinositol (GPI) e seus ligantes associados. Atualmente, já foram descritas 9 proteínas ancoradas por GPI na superfície do merozoíto de P. falciparum e todas são potencialmente ligantes do eritrócito: MSP-1, MSP-2, MSP-4, MSP-5, MSP-10, Pf 12, Pf 38, Pf 92 e Pf 113. Tais proteínas não estão igualmente distribuídas, apresentando diferentes funções no processo de invasão. Além da âncora por GPI, muitas proteínas de superfície apresentam outras características comuns, incluindo domínios ricos em cisteína. Entre estes, está incluído o domínio semelhante ao fator de crescimento epitelial (EGF) na porção Cterminal (SANDERS et al., 2005; COWMAN et al., 2006). A MSP-1 é a proteína mais abundante na superfície do merozoíto; portanto, acredita-se que seja essencial para sobrevivência do parasito e sua aderência ao eritrócito (COWMAN et al., 2006). É sintetizada durante as esquizogonias hepática e sanguínea e seu tamanho varia de 180 a 225 kDa de acordo com a espécie. Nos estágios iniciais da sua biossíntese, um peptídeo sinal N-terminal é removido e sua porção C-terminal hidrofóbica é substituída por uma região GPI, que será responsável pela inserção da proteína na membrana do merozoíto (BENTLEY, 2006). 17 A MSP-1 sofre duas proteólises até chegar a sua forma efetiva. A primeira ocorre no estágio de esquizonte, gerando 4 produtos polipetídicos de aproximadamente 30, 83, 38 e 42 kDa, os quais permanecem ligados não covalentemente (HOLDER et al., 1992). O complexo protéico adere à superfície do parasito através da região GPI na porção C-terminal do fragmento de 42 kDa. O segundo processamento proteolítico ocorre no momento da invasão eritrocítica. O fragmento C-terminal de 42 kDa é dividido em dois, gerando um fragmento Nterminal de 33 kDa que é liberado juntamente com o complexo polipeptídico (BLACKMAN et al., 1991) e permanecendo um fragmento C-terminal de 19 kDa ancorado à membrana pelo GPI (BLACKMAN et al., 1990). Elementos estruturais foram identificados na MSP-1 domínio 42 kDa (MSP-142 kDa) indicando que a proteína pode se apresentar na forma de dímero e que, após a segunda proteólise, o complexo é liberado na forma dimérica, permanecendo, na superfície do merozoíto, os dois fragmentos MSP-1 domínio 19 kDa (MSP-119 kDa) monoméricos (Figura 2) (BABON et al., 2007). Figura 2: Modelo proposto para MSP-1 na superfície do parasito. Duas moléculas de MSP-1 formam um dímero; após um processamento primário, os dímeros são clivados em fragmentos que mantêm um complexo na superfície do merozoíto. Um segundo processamento ocorre com a clivagem do fragmento de 42 kDa, no momento da invasão do eritrócito. O domínio 19 kDa, agora monomérico, permanece na superfície do merozoíto e medeia a invasão ao eritrócito. Adaptado de Babon et al., 2007. 18 A MSP-119 kDa foi estudada por cristalografia de raio-X e ressonância nuclear magnética (RNM). Como já se esperava por sua estrutura primária, a proteína contém dois domínios semelhantes ao EGF in tandem. Esses domínios estão em íntimo contato através de resíduos invariáveis e altamente conservados. Essa proximidade lhe confere uma forma compacta e rígida. A MSP-119 kDa possui apenas 5 sítios dimórficos, os quais se encontram espaçados na sua superfície de modo que a resposta imune não é afetada por permutações nesses resíduos (PIZARRO et al., 2003; BENTLEY, 2006). A função da MSP-119 kDa ainda não foi totalmente elucidada, mas acredita-se que ela forme uma co-ligação com MSP-9, que se liga à proteína de membrana banda 3 do eritrócito e, assim, auxilie na invasão da célula pelo merozoíto (LI et al., 2004; BENTLEY, 2006). Epítopos da MSP119 kDa reconhecidos por anticorpos monoclonais foram detalhadamente estudados por RNM e cristalografia de raio-X. Anticorpos monoclonais que previnem a invasão do eritrócito agem impedindo o segundo processamento proteolítico, pois reconhecem epítopos sobrepostos no primeiro domínio semelhante ao EGF. Anticorpos que se ligam a regiões adjacentes nesse mesmo domínio não inibem essa proteólise (BENTLEY, 2006; PIZARRO et al., 2003), indicando que porções do primeiro domínio semelhante ao EGF presente na MSP-119 kDa são fundamentais para o seu reconhecimento pelo sistema imune hospedeiro. Por ser essencial à invasão do eritrócito pelo parasito, a MSP-119 kDa vem sendo muito estudada como um potencial alvo para desenvolvimento de uma vacina contra a malária clínica. 19 1.1.3 Vacina e imunidade protetora Segundo as estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2006 havia 3,3 bilhões de pessoas em risco de contrair malária. Foram registrados 247 milhões de casos, resultando em quase 1 milhão de mortes, principalmente em menores de 5 anos de idade. Em 2008, havia 109 países com malária endêmica, dos quais 45 estavam na África. No Brasil, mais de 350.000 casos de malária foram reportados anualmente entre 2001 e 2007, com um máximo de 600.000 casos em 2005. A transmissão ocorre principalmente na região da Amazônia, onde 10 a 15% da população estão em risco. Quase todos os casos suspeitos foram confirmados para doença, dos quais 19% foram causados pelo Plasmodium falciparum em 2007 (OMS, 2008). Esses números mostram a necessidade do desenvolvimento de uma vacina eficaz para malária, mas são muitos os obstáculos nesse sentido. A existência de 4 espécies capazes de infectar o homem, associada ao complexo ciclo de vida do parasito e seu alto grau de polimorfismo constituem uma combinação de fatores complicadores nesse sentido (LI et al., 2007). A imunidade adquirida para malária surge após infecções recorrentes; a resistência ao desenvolvimento das formas graves da doença aumenta com a idade do indivíduo, de modo que crianças apresentam maior risco de desenvolverem a malária com severa morbidade e mortalidade (GUPTA et al., 1999; MARSH et al., 2006). A imunidade adquirida não protege contra a infecção pelo plasmódio, mas controla o desenvolvimento da doença e está relacionada a antígenos do parasito com baixo grau de polimorfismos (BEESON et al., 2008). A importância dos anticorpos na proteção contra malária já foi claramente demonstrada através de estudos clínicos nos quais soros hiperimunes ou imunoglobulinas purificadas de adultos reduziram a parasitemia e levaram à cura de crianças doentes (COHEN et al., 1961; 20 PLEASS et al., 2005). Além disso, anticorpos maternos parecem prevenir a infecção em recém-nascidos (LOGIE et al., 1973; PLEASS et al., 2005). Acredita-se que anticorpos protetores tenham como alvo primário antígenos de superfície do merozoíto e ligantes do eritrócito, embora seu papel na imunidade protetora não esteja completamente entendido. Vários mecanismos, incluindo a inibição da invasão do eritrócito pelo merozoíto, fagocitose mediada por anticorpos e o sistema complemento são possíveis. Também pouco é compreendido da imunidade mediada por células na malária, mas sabe-se que o reconhecimento por células T CD4+ é importante tanto para produção de anticorpos pelas células B quanto para produção de células T CD8+ de memória (BEESON et al., 2008). Apesar dos desafios, resultados promissores foram alcançados com RTS,S, uma vacina pré-eritrocítica, baseada na proteína circunsporozoíta (CSP). A RTS,S foi desenvolvida a partir de um gene que codifica a porção repetitiva da CSP - indutora de resposta humoral via anticorpos -, um fragmento final da CSP – indutor de resposta celular através de células T – e o antígeno de superfície do vírus da hepatite B. A vacina é empregada juntamente com um adjuvante e vem demonstrando proteção contra malária clínica em adultos e crianças africanas (BOJANG et al., 2009). A abordagem tradicional no desenvolvimento de vacinas para malária se baseia em proteínas recombinantes. Porém, um dos principais desafios dessa abordagem é que a proteína, por si só, geralmente é pouco imunogênica, tornando necessária a adição de adjuvantes para deflagrar a resposta imune. Além disso, sua conformação estrutural, que influencia diretamente na capacidade de gerar uma resposta imunológica efetiva, deve ser mantida após as metodologias de purificação da proteína recombinante em um rendimento que torne possível sua produção em larga escala (LI et al., 2007). Vetores virais, por outro lado, são empregados no desenvolvimento de vacinas há décadas e parecem ser capazes de induzir respostas humoral e celular na ausência de 21 adjuvantes. Como essas vacinas utilizam as células hospedeiras para gerar os alvos antigênicos, sua conformação nativa é garantida. Além disso, vetores virais têm a capacidade de carrear múltiplos antígenos, de diferentes estágios de vida do parasito, e, consequentemente, potencial para induzir uma resposta imune abrangente (LI et al., 2007). Neste sentido, o uso de vírus atenuados – empregados com sucesso em várias vacinas humanas – como vetores de expressão para antígenos plasmodiais poderia acarretar uma proteção eficaz e duradoura à malária humana. 1.2 Vírus vacinal da febre amarela Constituinte de uma das vacinas humanas de maior sucesso, o Vírus da Febre Amarela (ICTVdB, 2006), cepa 17D (FA 17D), é um vírus atenuado, produzido em ovos embrionados de galinha e usado para vacinação humana há 70 anos. Nos últimos 50 anos, mais de 600 milhões de doses da vacina foram administradas. A administração é por via subcutânea, em dose única, e 99-100 % dos indivíduos vacinados desenvolvem anticorpos neutralizantes após a vacinação (MONATH, 2005). A reimunização é necessária a cada 10 anos para manter a carteira internacional de vacinação em dia, entretanto, a imunidade efetiva é provavelmente para toda a vida (POLAND et al., 1981). Algumas das propriedades da vacina incluem replicação viral limitada no hospedeiro, com significativa expansão e disseminação da massa viral, conferindo imunidade duradoura. A vacina é barata e envolve uma metodologia de produção e de controle de qualidade bem estabelecidas (BONALDO et al., 2007). Tais características fazem do vírus FA 17D um vetor de expressão em potencial no desenvolvimento de novas vacinas atenuadas. 22 O vírus FA 17D vem sendo utilizado como vetor para desenvolvimento de vacinas quiméricas contra outros flavivírus, como o Vírus da Encefalite Japonesa (ICTVdB, 2006), Vírus do Oeste do Nilo (ICTVdB, 2006) e Vírus da Dengue (ICTVdB, 2006; PUGACHEV et al., 2005), mas pode, também, expressar proteínas heterólogas pela inserção da seqüência codificante na região não-estrutural do genoma viral ou em sítios específicos no gene da proteína do envelope (E) (BONALDO et al., 2006). Foi estabelecida, em nosso laboratório, uma metodologia inovadora de geração de flavivírus vivos contendo inserções gênicas heterólogas entre os genes das proteínas E e da proteína não estrutural 1 (NS1). Tal metodologia se baseou na duplicação de regiões funcionais que flanqueiam a região intergênica E/NS1 no gene a ser inserido de modo que essas regiões ficassem fusionadas à proteína expressa. Isso permitiu o processamento correto do precursor da poliproteína viral sem comprometer substancialmente a viabilidade dos vírus gerados. O vírus recombinante apresentou estabilidade genética quanto ao gene heterólogo e foi capaz de induzir a produção de anticorpos neutralizantes para febre amarela e para a proteína “Enhanced Green Fluorescent Protein” (EGFP), inserida no genoma viral, em camundongos BALB/c imunizados (BONALDO et al., 2007). O desenvolvimento de uma vacina combinada contra febre amarela e malária seria de extrema importância, uma vez que estas doenças apresentam áreas endêmicas quase que coincidentes nas Américas, sendo essa uma abordagem extremamente relevante no controle de ambas as endemias. Estudos nesse sentido já vêm sendo realizados em nosso laboratório com o desenvolvimento do vírus FA 17D recombinante para MSP-119 kDa. Entretanto, faz-se necessário obter a proteína recombinante para ser utilizada como insumo em estudos para caracterização de tais vírus. A obtenção da MSP-119 kDa permitirá analisar o curso da infecção pelos vírus recombinantes em células cultivadas in vitro e também avaliar a resposta imune induzida pelo vírus FA/MSP-119 kDa em camundongos imunizados. 23 1.3 Expressão de proteínas em células de inseto utilizando baculovírus Os baculovírus são vírus que naturalmente infectam insetos e são amplamente empregados na biotecnologia como vetores de expressão de proteínas. O principal sítio do genoma viral empregado para expressão de proteínas recombinantes está no gene da poliedrina, uma proteína produzida em grandes quantidades em células de inseto nos estágios finais da infecção, ou seja, a associação com seu promotor pode induzir a expressão eficiente de proteínas heterólogas. Além disso, a poliedrina, apesar de ser requerida no ciclo normal do vírus, não é necessária para manutenção da infecção em células cultivadas in vitro – tornando viável a clonagem e expressão de proteínas nesse sítio. Outro local utilizado para expressão de proteínas em células de inseto utilizando baculovírus é o gene da proteína P10, outra proteína estrutural sintetizada em grandes quantidades pela célula no fim da infecção (KING et al., 1992). Os baculovírus são constituídos por um DNA circular de dupla fita, que varia de 80 a 180 kb, que se encontra inserido em um nucleocapsídeo alongado. Os nucleocapsídeos são empacotados em um envelope para formar as partículas virais ou virions. Os virions podem ou não formar corpo de oclusão, o qual pode ser chamado de poliedro, quando composto pela proteína poliedrina ou de grânulo, quando composto pela proteína granulina. Poliedrina e granulina são proteínas muito relacionadas que constituem o componente principal do corpo de oclusão (KING et al., 1992). Baseado no número de nucleocapsídeos dentro do poliedro, os baculovírus são divididos em 3 subgrupos: subgrupo A ou Vírus da Poliedrose Nuclear (NPV), no qual o poliedro contém inúmeras partículas virais, sendo estas compostas por único (SNPV) ou múltiplos (MNPV) nucleocapsídeos - os vírus da categoria MNPV foram desenvolvidos como vetores 24 de expressão; subgrupo B ou Vírus Granulares (GV), no qual uma partícula viral com único nucleocapsídeo é ocluída por grânulos formados pela proteína granulina; e subgrupo C, no qual os vírus não formam corpos de oclusão (KING et al., 1992). Infecções por baculovírus foram descritas em diferentes espécies de insetos incluindo Lepidoptera (Linnaeus, 1758), Hymenoptera (Linnaeus, 1758), Diptera (Linnaeus, 1758) e Coleoptera (Linnaeus, 1758), mas nunca em humanos ou mamíferos. O baculovírus isolado de Autographa californica (Speyer, 1875) é chamado AcMNPV (ICTVdB, 2006) e é amplamente estudado a nível molecular devido à facilidade com que é cultivado em cultura de células sendo, por isso, o baculovírus popularmente empregado na expressão de proteínas (KING et al., 1992). Os baculovírus desenvolveram dois importantes recursos que permitem sua adaptação ao longo do seu ciclo de vida (Figura 3): a formação de uma estrutura estável no meio ambiente, mas susceptível ao pH alcalino do trato digestivo médio do inseto; e uma estrutura resistente ao meio alcalino e às enzimas digestivas. A primeira, chamada de corpo de oclusão, é o poliedro ou grânulo, e chegará ao inseto quando este ingerir um alimento contaminado. A segunda, o virion em si ou vírus extracelulares (ECV), será liberada do corpo de oclusão em meio ao pH alcalino e seguirá a infecção no inseto. Ao infectar novas células, o ECV pode levar à formação de novos virions, seguindo para infecção sistêmica do inseto, ou à formação dos corpos de oclusão. Entretanto, a maioria dos nucleocapsídeos formados parece ser destinada a permanecer no núcleo e formar os corpos de oclusão (KING et al., 1992). Essa produção bifásica dos ECV e dos corpos de oclusão observada no inseto também é observada em cultura de células. Os genes dos baculovírus são expressos de forma coordenada nas células infectadas. Por convenção, essa expressão é dividida em 4 fases: genes bem iniciais ( ), iniciais (β), tardios (γ) e muito tardios (δ). Um evento característico do final da replicação do DNA viral é a hiperexpressão dos genes muito tardiamente expressos, 25 transcritos no período em que ocorre a formação dos corpos de oclusão no interior do núcleo celular, em aproximadamente 15 horas após a infecção. É nessa fase em que há superexpressão da poliedrina e da P10. Seus promotores podem, juntos, resultar em 50 % da massa total de proteínas nas células nesse estágio de infecção (KING et al., 1992). Como todo sistema de expressão protéica, o uso de baculovírus apresenta vantagens e desvantagens. A principal vantagem consiste na presença dos genes da poliedrina e da P10, regulados por fortes promotores e não necessários à infecção viral in vitro, o que resultará na alta expressão da proteína de interesse. A ocorrência da expressão desses genes na etapa final da infecção constitui outra vantagem: a possibilidade de expressão de uma proteína citotóxica, que pudesse afetar a replicação viral caso fosse expressa nos estágios iniciais da infecção (KING et al., 1992). O sistema de expressão em células de inseto utilizando baculovírus apresenta vantagens relacionadas à biologia do vírus em si, como: (1) o grande genoma viral, que permite a inserção de seqüências de tamanho variado sem que isso afete a replicação do vírus, (2) não foi descrita, até hoje, infecção em humanos, o que garante a segurança do manipulador durante os experimentos e (3) a produção das proteínas virais ocorre em uma célula eucariótica, aumentando as chances de a proteína recombinante sofrer modificações pós-traducionais e adquirir sua conformação nativa. O padrão de glicosilação em células de inseto, no entanto, é diferente do padrão das células de vertebrados, tornando o trabalho com glicoproteínas de organismos vertebrados limitado. Outra desvantagem do sistema decorre do fato de os baculovírus promoverem a morte das células infectadas, tornando necessária a reinfecção de culturas de células de inseto frescas, o que impede a expressão contínua da proteína de interesse (KING et al., 1992). 26 Figura 3: Representação esquemática do ciclo de vida do baculovírus. Um inseto ingere alimento contaminado com poliedro contendo partículas virais infectivas (P). Ocorre a liberação dos nucleocapsídeos (NC), que penetram nas células do trato gastrointestinal do animal e liberam o DNA viral no núcleo celular. Há formação de novos nucleocapsídeos, que podem sair da célula e infectar novas células (ECV) ou permanecer no núcleo e ser incorporado na formação de novos poliedros (PDV). Fonte: King e Posee, 1992. O grande genoma dos baculovírus não permite que sejam manipulados diretamente com enzimas de restrição ou DNA ligases para inserir seqüências externas, sendo necessário adotar uma abordagem indireta para tal. Foi desenvolvida, inicialmente, uma metodologia baseada na inserção de porções do genoma viral contendo o gene da poliedrina em plasmídeos bacterianos, possibilitando sua replicação em Escherichia coli (Migula, 1895) Castellani & Chalmers, 1919. O gene da poliedrina foi, então, manipulado com enzimas de restrição para que houvesse sua liberação, mas mantendo seu promotor intacto. Com um sítio de restrição logo depois do promotor, a inserção do DNA externo é facilitada. O plasmídeo final, contendo o promotor da poliedrina seguido de um sítio único de restrição foi chamado de vetor de transferência. A seqüência inserida no vetor de transferência é transferida para o genoma viral através de uma cotransfecção de células derivadas de Spodoptera frugiperda 27 (Smith & Abbot, 1797) - células Sf - com o genoma infectivo do baculovírus e o plasmídeo recombinante. No decorrer da infecção, as seqüências que flanqueiam a porção recombinante do plasmídeo recombinam com as seqüências homólogas no genoma viral e, assim, trocam o gene da poliedrina pelo gene recombinante, originando o vetor de expressão e culminando na expressão da proteína de interesse pelas células de inseto infectadas (KING et al., 1992). Atualmente, existem sistemas comercialmente disponíveis para expressão de proteínas em células de inseto através da infecção com baculovírus recombinantes desenvolvidos de modo a facilitar a manipulação desde a clonagem da seqüência de interesse no genoma viral até a obtenção da proteína recombinante (KING et al., 1992). O “Bac-to-Bac Baculovírus Expression System”, da Invitrogen, se baseia na transposição sítio-específica de um cassete de expressão presente em um vetor de transferência, para um plasmídeo bifuncional, denominado bacmídio, que possui capacidade de replicação em células de inseto e em E. coli (Figura 4). No sistema, a seqüência que codifica a proteína de interesse é clonada em um vetor de transferência, dentro do transposon bacteriano Tn7, que carreia um gene de resistência a gentamicina e uma região de múltiplo sítio de clonagem, esta última localizada entre um promotor específico de baculovírus (5’ terminal) e um sinal de poliadenilação SV40 (3’ terminal), possibilitando, assim, sua expressão em células de inseto. O vetor de transferência recombinante é, então, transformado em E. coli DH10Bac, linhagem bacteriana que contém o bacmídio e um plasmídeo auxiliador. O bacmídio contém um gene de resistência à canamicina e um segmento de DNA que codifica o peptídeo lacZ . Inserido na porção N-terminal do gene do lacZ há um pequeno segmento contendo um sítio específico de recombinação para o transposon bacteriano Tn7, sem interferir na fase de leitura do peptídeo do lacZ . Dessa forma, a construção de bacmídios recombinantes se dá através da 28 transposição do cassete de expressão do vetor de transferência contendo a seqüência de interesse, sendo as funções de transposição determinadas pelo plasmídeo auxiliador que, além TetR AmpR Transformação GmR CanR AmpR Seleção com antimicrobianos, X-Gal e IPTG TetR CanR Extração do bacmídio recombinante GmR Bacmídio recombinante Transfecção de células de inseto Infecção de células de inseto Partículas virais recombinantes Figura 4: Resumo esquemático do “Bac-to-Bac Expression System”, Invitrogen. A seqüência de interesse é clonada em um plasmídeo de transferência e, este, transformado em E. coli DH10 Bac para transposição do fragmento de interesse com o bacmídio. As colônias brancas são submetidas à extração do bacmídio Expressão gene recombinante recombinante e células de inseto são transfectadas com o mesmo. Os baculovírus gerados são doestocados e ou utilizados nos ensaios de expressão da proteína recombinante. Adaptado de “Bac-toBac Baculovírus Expression Amplificação viral System”, Invitrogen. 29 de codificar transposases, confere resistência à tetraciclina. A inserção do cassete de expressão no bacmídio interrompe a expressão do peptídeo lacZ , de modo que, na presença do substrato cromogênico Bluo-gal ou X-gal e do indutor IPTG, as colônias contendo o bacmídio recombinante tornam-se brancas, enquanto as colônias azuis carregam o bacmídio inalterado. O bacmídio recombinante pode ser purificado de culturas em pequena escala e utilizado na transfecção de células de inseto. Os estoques virais obtidos a partir das células de inseto infectadas podem ser empregados na infecção de novas células para subseqüente expressão, purificação e análise da proteína desejada. 30 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral o Expressar a proteína recombinante MSP-119 kDa de Plasmodium falciparum em células de inseto utilizando baculovírus. 2.2 Objetivos específicos o Amplificar a seqüência que codifica a proteína MSP-119 kDa; o Clonar o produto da amplificação no vetor de transferência pFastBac DUAL; o Obter o bacmídio recombinante; o Transfectar células Sf9 com bacmídio recombinante; o Obter estoque de baculovírus recombinantes; o Caracterizar a expressão da MSP-119 kDa em células Sf9. 31 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Amplificação e clonagem do fragmento MSP-119 kDa Modificada 3.1.1 Eletroforese e visualização de DNA Os fragmentos de DNA foram visualizados por eletroforese em gel de agarose (BioRad), na concentração adequada ao tamanho do fragmento, utilizando o tampão TAE 1X (Tris-Acetato 40 mM e EDTA 1 mM). As amostras foram diluídas em tampão de amostra 6X (Promega) para aplicação no gel. As corridas foram realizadas a aproximadamente 70 V. Após a eletroforese, o gel de agarose foi corado em solução de brometo de etídeo (Bio-Rad) 0,5 µg/mL por aproximadamente 2 min e, em seguida, descorado em água durante aproximadamente 10 min. O DNA foi visualizado e registrado em transiluminador de luz ultravioleta (Quantity One, versão 4.6.3, Bio-Rad). As análises foram feitas através de comparação com padrões de tamanho e massa de DNA adequados (Invitrogen). 3.1.2 Amplificação do fragmento MSP-119 kDa Modificada A seqüência que codifica a proteína MSP-119 kDa foi amplificada a partir de um plasmídeo recombinante, que contém o cassete de expressão da MSP-119 kDa de P. falciparum 32 inserido na região intergênica E/NS1 do vírus FA 17D. Este plasmídeo é um derivado do pT3 - plasmídeo construído em nosso laboratório (BONALDO et al., 2007) - que contém o DNA complementar à porção central do genoma do vírus FA 17D. O fragmento que codifica a MSP-119 kDa Modificada, a ser clonado no vetor de transferência, foi obtido por reação de PCR (MULLIS et al., 1986), na qual os oligonucleotídeos iniciadores utilizados continham, além da região de complementaridade à seqüência, outros nucleotídeos que acrescentaram, ao produto final, sítios específicos para enzimas de restrição, favorecendo a clonagem no vetor de transferência pFastBac DUAL (Invitrogen) e seqüências codificando uma cauda de histidina e um sítio para protease “Tobacco Etch Vírus” (TEV), para posterior purificação da proteína recombinante por cromatografia de afinidade. Em uma primeira etapa, foram utilizados os oligonucleotídeos iniciadores RG 466 (+), complementar aos 9 últimos códons da porção N-terminal da NS1 e contendo um códon de iniciação e um sítio para enzima de restrição Xba I; e RG 468 (-), complementar à porção Cterminal da MSP-119 kDa e codificando um espaçador e um sítio para protease TEV. Em uma segunda etapa, foram utilizados os oligonucleotídeos iniciadores RG 466 (+) e RG 467 (-), este último complementar à sequência referente ao espaçador e ao TEV e codificando 6 resíduos de histidina e um sítio para enzima de restrição Hind III. O fragmento MSP-119 kDa Modificada contém, portanto, um sítio de restrição para enzima Xba I, um códon de iniciação, 9 códons da porção N-terminal da NS1, a seqüência da MSP-119 kDa. Na sua porção 3´ terminal, o fragmento codifica um espaçador, um sítio para protease TEV, 6 aminoácidos histidina e carrega um sítio de restrição para enzima Hind III (Figura 5). A reação foi feita em termociclador programável (Gene Amp PCR System 9700, Applied Biosystems). O protocolo envolveu uma primeira etapa de aquecimento a 94 °C por 2 33 min para desnaturação do plasmídeo, seguida por 30 ciclos de desnaturação a 94 °C por 15 s, pareamento dos oligonucleotídeos iniciadores a 55 °C por 30 s e extensão da nova fita por uma polimerase a 68 °C por 1 min, além de uma extensão final de 5 min a 68 °C. Foi utilizada a enzima Platinum Pfx DNA Polimerase (Invitrogen), de acordo com as recomendações do fabricante. Para todas as reações de PCR neste trabalho, um molde de água livre de nuclease (Promega) foi utilizado como controle da reação. ETAPA 1: pT3 + cDNA FA pT3 + cDNA FA MSP-1 19KDa RG 466 RG 468 ETAPA 2: MSP-1 19KDa RG 466 RG 467 FRAGMENTO MSP-1 19KDa MODIFICADA: MSP-1 19KDa ~500pb Figura 5: Esquema representativo das etapas de PCR realizadas para obtenção do fragmento MSP-119 kDa Modificada. O fragmento foi obtido a partir do cassete de expressão heterólogo clonado no cDNA do genoma do vírus FA 17D contido no plasmídeo pT3. Os oligonucleotídeos iniciadores continham, além da região de complementaridade à seqüência, outros nucleotídeos que acrescentaram, ao produto final, sítios específicos para enzimas de restrição e seqüências para posterior purificação da proteína recombinante. 1cm corresponde a aproximadamente 20 pares de base (pb). 34 3.1.3 Células Escherichia coli DH5 (Invitrogen) e Escherichia coli SURE (Stratagene), células utilizadas na transformação de plasmídeos por eletroporação durante a clonagem, foram submetidas a um tratamento com água e glicerol 10 % para torná-las eletrocompetentes (adaptado do manual de instruções do “Gene Pulser XCell”, Bio-Rad). Células E. coli DH5 e E. coli SURE foram plaqueadas em meio LB-ágar [1 % (p/v) triptona, 0,5 % (p/v) extrato de levedura, 1 % (p/v) NaCl, pH 7,0, 1,5 % (p/v) ágar] por estriamento e as placas foram incubadas a 37 °C (Max 4000 Barnstead, Lab-Line) por aproximadamente 16 h. O préinóculo foi feito a partir de uma colônia isolada que foi transferida para meio LB líquido [1 % (p/v) triptona, 0,5 % (p/v) extrato de levedura, 1 % (p/v) NaCl, pH 7,0] e cultivada a 37 °C, sob agitação (Max 4000 Barnstead, Lab-Line), por aproximadamente 16 h. O inóculo foi feito na proporção de 1:100 do pré-inóculo em meio BHI líquido (BD Biosciences) e cultivado a 37 °C, sob agitação. Alíquotas de 1 mL foram retiradas de 30 em 30 min para aferição da DO600nm em espectrofotômetro (BioSpec 1601, Shimadzu) até que a cultura atingisse um valor de absorbância entre 0,5 e 0,6. As células foram, então, transferidas para tubos cônicos de 50 mL previamente gelados e mantidas no gelo por 15 min, paralisando, assim, seu crescimento. Os tubos foram centrifugados a 16000 x g, 4 °C (Centrifuge 5810, Eppendorf) por 15 min, para retirada do meio de cultivo. Os sobrenadantes foram descartados e os precipitados foram ressuspendidos em 5 mL de água tipo I estéril e gelada. Foi acrescentada, a cada tubo, água estéril e gelada até o volume final de 50 mL e os tubos foram centrifugados novamente nas mesmas condições. Essa lavagem com água foi repetida e uma nova centrifugação foi feita. Os precipitados foram, então, ressuspendidos em 2 mL de glicerol 10 % (Sigma) e reunidos em único tubo, que foi centrifugado novamente nas mesmas condições. Finalmente, o 35 precipitado foi ressuspendido em 800 µL de glicerol 10 % e alíquotas de 50 µL foram feitas para tubos de 1,5 mL. As alíquotas foram deixadas a -20 °C por 1h e, depois, armazenadas a -70 °C até utilização. Células Escherichia coli DH10Bac quimiocompetentes (Invitrogen) foram utilizadas na transformação do plasmídeo de transferência recombinante por choque térmico para geração do bacmídio recombinante. Células Sf9 (Invitrogen), derivadas de ovário de Spodoptera frugiperda, entre a 4ª e 30ª passagens, foram cultivadas em meio de Grace (Invitrogen) suplementado com 10 % de SFB (Gibco) e 10 µg/mL de gentamicina (Gibco) por 3-4 dias e utilizadas para transfecção com o bacmídio recombinante e para infecção com os baculovírus recombinantes. 3.1.4 Clonagem no vetor de transferência pFastBac DUAL Inicialmente, o fragmento MSP-119 kDa Modificada amplificado foi digerido simultaneamente com as enzimas Hind III e Xba I (Invitrogen), de acordo com as recomendações do fabricante. O produto da digestão foi purificado seguindo a metodologia de purificação de DNA do “DNA Purification Kit” (GE Health Care) de acordo com as recomendações do fabricante para purificação de DNA a partir de reações enzimáticas. O produto da purificação foi analisado por eletroforese em gel da agarose conforme descrito no item 3.1.1 e conservado a -20 °C até a ligação ao vetor de transferência. O vetor de transferência pFastBac DUAL, selecionado para o desenvolvimento do trabalho, foi linearizado com as mesmas enzimas, purificado utilizando o mesmo sistema, de acordo com as recomendações do fabricante e analisado por eletroforese em gel da agarose 36 conforme descrito no item 3.1.1. Para otimizar a reação de ligação, o vetor foi desfosforilado nas extremidades 5’ com a enzima “Shrimp Alkaline Phosphatase” (SAP, Promega), de acordo com as recomendações do fabricante. Após cálculo das massas necessárias à reação de ligação, aproximadamente 230 ng de plasmídeo e 240 ng de inserto foram precipitados na presença de 10 % de Acetato de Sódio 3M (Promega) e 3 volumes de etanol 96 % gelado (Merck, SAMBROOK et al., 1989). A mistura foi incubada em banho de gelo seco e etanol 96 % por 30 min e centrifugada a 16000 x g (Centrifuge 5415D, Eppendorf) por 20 min. O sobrenadante foi descartado e, em seguida, o precipitado foi lavado com 4 volumes de etanol 70 % gelado. Foi feita nova centrifugação a 16000 x g por 10 min e o sobrenadante foi novamente descartado. O precipitado foi seco aquecendo-se a 62 °C em termobloco (ThermoStatPlus, Eppendorf) e, então, ressuspendido diretamente na reação de ligação, a qual foi realizada com a enzima T4 DNA Ligase (Invitrogen), de acordo com as recomendações do fabricante. O produto da reação de ligação foi transformado em E. coli DH5 e E. coli SURE eletrocompetentes por eletroporação (DOWER et al., 1988). Uma alíquota de 2 µL da reação de ligação foi acrescentada à 50 µL de células eletrocompetentes; a suspensão foi transferida para uma cuveta gelada e, então, eletroporada a 2,5 kV, 25 µF e 200 Ω (“Gene Pulser XCell”, Bio-Rad). Foram adicionados 450 µL de meio S.O.C. (Invitrogen) à cuveta e a suspensão foi transferida para tubos cônicos de 15 mL para cultivo a 37 °C, sob agitação, durante 1 h. Uma alíquota de 100 µL das células transformadas foi cultivada em meio LB-ágar suplementado com 100 µg/mL de ampicilina (Sigma) a 37 °C, por aproximadamente 16 h. As colônias resultantes foram repicadas para meio LB líquido suplementado com 100 µg/mL de ampicilina e incubadas a 37 °C, por 16 h, sob agitação. Uma alíquota contendo 10 pg do plasmídeo comercial pUC 19 (Invitrogen) foi utilizado como controle positivo da eficiência das células para transformação. 37 Uma alíquota de 100 µL de cada cultivo foi submetida à extração do DNA plasmidial com 50 µL de solução fenol:clorofórmio:álcool isoamílico (25:24:1, Invitrogen) e 3 µL de tampão de amostra para eletroforese de DNA [2,5 mL glicerol 99 %, 1 mL TAE 5X, 0,5 mL azul de bromofenol 10 % (p/v)] (AZEVEDO, 2004). A mistura foi vigorosamente agitada (Vortex-2 Genie, Scientific Industries) por 1 min e centrifugada a 16000 x g por 3 min. A fase aquosa foi submetida à eletroforese em gel de agarose e visualizada conforme descrito no item 3.1.1, para uma seleção inicial dos plasmídeos recombinantes de acordo com tamanho. Os plasmídeos recombinantes foram purificados a partir de 3 mL do cultivo utilizando o “Qiagen Miniprep Kit” (Qiagen), de acordo com as recomendações do fabricante. Os plasmídeos purificados foram visualizados por eletroforese em gel de agarose conforme descrito no item 3.1.1 e armazenados a -20 °C. A confirmação da presença do fragmento MSP-119 kDa Modificada foi feita por digestão dos plasmídeos recombinantes com as enzimas Hind III e Xba I, de acordo com as recomendações do fabricante e por PCR utilizando os oligonucleotídeos iniciadores empregados na obtenção do fragmento MSP-119 kDa Modificada. Os produtos das reações de digestão e PCR foram visualizados por eletroforese em gel de agarose conforme descrito no item 3.1.1. Em ambos os ensaios, esperava-se visualizar um fragmento de aproximadamente 500 pares de base (pb), correspondente ao fragmento de interesse e, no ensaio de digestão enzimática, esperava-se visualizar, ainda, um fragmento de 5200 pb, referente ao vetor linearizado. Os plasmídeos recombinantes selecionados foram submetidos ao seqüenciamento nucleotídico para confirmação da integridade do fragmento MSP-119 kDa Modificada (SANGER et al., 1977). Para o seqüenciamento, foi empregada a metodologia “ABI Prism Big Dye Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction Kit”, versão 3.1 (Aplied Biosystems), de acordo com as recomendações do fabricante. Os oligonucleotídeos iniciadores utilizados 38 foram RG 466 (+) e RG 446 (-), este último complementar à porção central da MSP-119 kDa (Figura 6). RG 436 (+) pFastBac DUAL (+) RG 466 (+) RG 446 (-) pFastBac DUAL (-) Fragmento MSP-1 domínio 19 kDa Modificado Transposon pFastBac DUAL Tn7/R GmR PPH SV40 Tn7/L DNA do Bacmídio M13/pUC (+) M13/pUC (-) ~3000 pb Figura 6: Esquema representativo do produto esperado no PCR para confirmação da presença do fragmento MSP-119 kDa Modificada após transposição; e das regiões de complementaridade dos oligonucleotídeos utilizados na reação de seqüenciamento nucleotídico dos bacmídios recombinantes. Adaptado de “Bac-toBac Baculovirus Expression System”, Invitrogen. A precipitação do produto da reação de seqüenciamento foi feita em tubo cônico de 1,5 mL, na presença de isopropanol (Merck) a uma concentração final de 60 % (v/v) durante 15 min à temperatura ambiente. O tubo foi centrifugado a 16000 x g durante 30 min. O sobrenadante foi descartado e o precipitado foi ressuspendido em 250 µL de etanol 70 % (v/v). O tubo foi novamente centrifugado, nas mesmas condições, e o sobrenadante foi descartado. O precipitado foi seco incubando-se o tubo a 90 °C durante 1 min, sob monitoramento e, então, ressuspendido em 12 µL de formamida (Applied Biosystems). Em seguida, o tubo foi aquecido a 95 °C durante 5 min para desnaturação do DNA. Uma alíquota de 10 µL dessa solução foi transferida para uma placa de seqüenciamento, que foi levada ao seqüenciador (ABI Prism 3100 Genetic Analyser, Applied biosystems). As seqüências foram analisadas por meio do programa Chromas, versão 3.0 (Technelysium Pty Ltda) e do SeqMan II do conjunto Lasergene, versão 5.07 (DNAStar, 39 Inc.). Baseado no resultado do sequenciamento nucleotídico, foram escolhidos 3 plasmídeos recombinantes para transposição de E. coli DH10Bac e obtenção do bacmídio recombinante. A figura 7 mostra um esquema resumindo as etapas até aqui realizadas. Figura 7: Resumo esquemático mostrando as etapas realizadas para obtenção do fragmento MSP-119 kDa Modificada clonado no vetor de transferência pFastBac DUAL. O fragmento MSP-119 kDa Modificada, obtido por PCR, foi clonado no vetor pFastBac DUAL. O plasmídeo recombinante foi transformado em E. coli e os clones selecionados na presença de ampicilina foram submetidos à extração do DNA plasmidial. Os plasmídeos recombinantes foram confirmados quanto à presença do inserto por PCR e digestão enzimática. Os clones selecionados para dar continuidade ao trabalho foram submetidos ao seqüenciamento nucleotídico. 3.2 Obtenção do baculovírus recombinante 3.2.1 Produção do bacmídio recombinante Aproximadamente 10 ng do pFastBac DUAL recombinante foram transformados em E. coli DH10Bac quimiocompetentes (Invitrogen) por choque térmico (COHEN et al., 1972) 40 para transposição com bacmídio, seguindo as recomendações do “Bac-to-Bac Baculovirus Expression System” (Invitrogen). Em tubo cônico de 1,5 mL, a referida massa de DNA foi adicionada à 100 µL de células E. coli DH10Bac. A mistura foi incubada no gelo durante 30 min, sendo rapidamente transferida para banho-maria a 42 °C durante 45 s e, em seguida, incubada novamente no gelo durante 2 min. Foram acrescentados 900 µL de meio S.O.C ao tubo , que foi incubado a 37 °C, sob agitação, durante 4 h. Uma alíquota de 100 µL das células transformadas foi cultivada em meio LB-ágar suplementado com canamicina 50 µg/mL (Gibco), gentamicina 7 µg/mL (Gibco), tetraciclina 10 µg/mL (Sigma), X-gal 100 µg/mL (Invitrogen) e IPTG 40 µg/mL (Invitrogen), a 37 °C, por aproximadamente 36 h. As colônias brancas resultantes foram estriadas por 2 vezes consecutivas em meio LB-ágar com os suplementos mencionados a fim de verificar a estabilidade dos clones. As colônias que permaneceram brancas foram inoculadas em meio LB líquido suplementado com os antimicrobianos mencionados por aproximadamente 36 h, sob agitação. Após a transposição, os bacmídios foram purificados a partir de 3 mL de cultivo utilizando o “FlexiPrep Kit” (Amersham Pharmacia Biotech Inc), de acordo com as recomendações do fabricante para isolamento de cosmídios. Os bacmídios purificados foram armazenados a -20 °C. A verificação da presença do fragmento MSP-119 kDa Modificada nos bacmídios purificados foi feita através de PCR utilizando “PCR SuperMix High Fidelity” (Invitrogen), de acordo com as recomendações do fabricante. Os oligonucleotídeos iniciadores utilizados foram M13/pUC (+) e M13/pUC (-) (Invitrogen), complementares ao bacmídio (Figura 6). Os produtos das reações foram visualizados por eletroforese em gel de agarose conforme descrito no item 3.1.1 e analisados quanto ao tamanho. Os bacmídios recombinantes foram submetidos ao seqüenciamento nucleotídico, conforme descrito no item 3.1.4. Como molde, foram utilizados os produtos do ensaio de PCR 41 para seleção dos recombinantes. Os seguintes oligonucleotídeos iniciadores foram empregados: M13pUC (+) e M13/pUC (-), complementares ao bacmídio; pFastBac DUAL (+) e pFastBac DUAL (-), complementares à região transposta do pFastBac DUAL; RG 466 (+), complementar à porção inicial do fragmento MSP-119 kDa Modificada; RG 446 (-) e RG 436 (+), complementares à porção central da seqüência da MSP-119 kDa, como pode ser visualizado no esquema da figura 6. Os bacmídios recombinantes foram armazenados a -20 °C. 3.2.2 Transfecção de células de inseto (Sf9) Células Sf9, cultivadas conforme descrito no item 3.1.3, foram transfectadas com bacmídio recombinante conforme as recomendações do “Bac-to-Bac Baculovirus Expression System”. As células foram destacadas mecanicamente da garrafa de cultura e quantificadas em Câmara de Neubauer ao microscópio óptico (CKX41, Olympus). A transfecção foi realizada em placa de 6 orifícios, com 106 células viáveis por orifício em 2 mL de meio de Grace suplementado. A placa foi incubada a 27 °C durante 2 h para que as células aderissem. As células aderidas foram lavadas com 2 mL de meio de Grace. Para transfecção foram preparadas duas soluções: solução A, composta por 5 µL do bacmídio recombinante purificado e 100 µL de meio de Grace e solução B, composta por 6 µL de Cellfectin (Invitrogen) e 100 µL de meio de Grace. As duas soluções foram misturadas e, após 45 minutos, foram adicionados à mistura 800 µL de meio de Grace. Ao controle negativo (células não infectadas), foi acrescentado 1 mL de meio de Grace; ao outro orifício, foi acrescentado 1 mL da solução de transfecção. As células foram incubadas a 27 °C durante 42 5 h em câmara úmida. Passado o tempo de incubação, o meio foi removido e 2 mL de meio de Grace suplementado foi adicionado aos orifícios. As células foram, então, incubadas a 27 °C durante 72 h. Para recolher os vírus, as células foram destacadas da superfície da placa mecanicamente e a suspensão celular foi clarificada por centrifugação a 500 x g durante 5 min. Os sobrenadantes da centrifugação foram transferidos para novos tubos e armazenados a 4 °C, protegidos da luz. De acordo com o fabricante, os títulos virais recuperados no sobrenadante estão entre 2 x 107 e 4 x 107 pfu/mL. 3.2.3 Infecção de células de inseto (Sf9) A infecção de células Sf9 foi feita em garrafas de cultura de 25 cm 2 contendo 1 x 106 células viáveis. As células foram deixadas em repouso por 2 h a 27 °C para que aderissem e inoculadas com o vírus recombinante a uma multiplicidade de infecção (M.O.I) de 1, considerando o menor título viral esperado (2 x 107 pfu/mL). Ao controle negativo, foi acrescentado igual volume de meio de Grace. Os cultivos inoculados foram mantidos a 27 °C durante 1 h, sendo levemente agitados a cada 15 min. Passado o tempo de incubação, foi acrescentado meio de Grace suplementado a um volume final de 10 mL e as células foram incubadas a 27 °C durante o tempo de infecção desejado. As células foram, então, destacadas mecanicamente da garrafa de cultura e a suspensão celular foi clarificada centrifugando a 500 x g durante 5 min. As células foram lavadas 2 vezes com 500 µL de PBS e armazenadas em 100 µL de PBS a -20 °C. 43 3.2.4 Detecção do DNA viral e verificação da presença do fragmento clonado Células Sf9 infectadas com baculovírus recombinantes e células Sf9 não infectadas (controle negativo) foram recolhidas após 24 h e 48 h de incubação, conforme descrito no item 3.2.3 e submetidas à extração do DNA total (KING et al., 1992). As células foram rompidas com 250 µL de tampão de rompimento (50 mM Tris-HCl, pH 8,0, 5 % β-mercaptoetanol, 0,4 % SDS, 10mM EDTA, pH 8,0) e foram adicionados 12,5 % de proteinase K (10 mg/mL, Sigma). A mistura foi homogeneizada e incubada a 37 °C durante 30 min. Foi feita uma extração dos debris celulares com igual volume de solução de fenol:clorofórmio:álcool isoamílico e centrifugação a 16000 x g durante 5 min. A fase aquosa foi transferida para novo tubo e extraída novamente com igual volume de solução de fenol:clorofórmio:álcool isoamílico. A fase aquosa foi precipitada na presença de 10 % de Acetato de Sódio 3 M e 3 volumes de etanol 96 % gelado, conforme descrito no item 3.1.4. O precipitado foi mantido em 100 µL de TE (QIAGEN) a 4 °C durante 16 h. Passado esse tempo, foi aquecido a 37 °C por 10 min e só então foi ressuspendido. A detecção do DNA viral foi feita através de PCR utilizando os oligonucleotídeos iniciadores M13/pUC (+) e M13/pUC (-) para confirmar a presença dos vírus recombinantes. Uma alíquota de 3 µL do DNA total extraído foi utilizada como molde para a reação, a qual foi realizada com “PCR SuperMix High Fidelity” (Invitrogen), de acordo com as recomendações do fabricante. O bacmídio utilizado na transfecção de células Sf9 foi empregado como controle positivo da reação. Os produtos de PCR foram submetidos ao seqüenciamento nucleotídico, conforme descrito no item 3.1.4. Os oligonucleotídeos iniciadores utilizados foram os mesmos empregados nas reações de seqüenciamento dos bacmídios (item 3.2.1, figura 6). 44 A figura 8 mostra um esquema representativo dos passos realizados nesta etapa do trabalho. Canamicina Gentamicina Tetraciclina X-gal / IPTG Plasmídeo recombinante Transposição em E. coli DH10Bac Transfecção de células de inseto P1 Baculovírus recombinantes Sequenciamento nucleotídico Confirmação da presença do inserto no baculovírus Seleção dos clones recombinantes Confirmação da presença do inserto no bacmídio Sequenciamento nucleotídico Figura 8: Resumo esquemático das etapas desenvolvidas para obtenção do baculovírus recombinante. O plasmídeo recombinante foi transformado em E. coli DH10Bac e os clones selecionados na presença de gentamicina, tetracilcina, canamicina, X-gal e IPTG foram confirmado quanto à presença do inserto por PCR. Os clones selecionados foram submetidos ao seqüenciamento nucleotídico e um deles foi utilizado na transfecção de células de inseto para produção dos baculovírus recombinantes. Os baculovírus obtidos foram confirmados quanto à presença do inserto por PCR e a integridade do fragmento MSP-119 kDa Modificada clonado foi verificada por seqüenciamento nucleotídico. 45 3.3 Expressão da proteína recombinante MSP-119 kDa Modificada 3.3.1 Eletroforese de proteína As proteínas foram visualizadas por eletroforese em gel de SDS-PAGE 15 % em sistema de Miniprotean II, da Bio-Rad (LAEMMLI, 1970). As soluções necessárias à corrida eletroforética, bem como a montagem do sistema foram feitos conforme as recomendações do fabricante. Uma alíquota de 12 µL de células Sf9 infectadas obtidas em diferentes tempos de infecção foi acrescida de 3 µL de tampão de amostra 5X, rompida por fervura em banhomaria a 100 °C por 5 min e aplicada no gel. A corrida foi realizada a aproximadamente 80 V. Após a eletroforese, o gel de poliacrilamida foi corado em solução de Azul de Coomassie R250 (2,5g/L em solução de 45 % metanol e 15 % ácido acético) durante 16 h e descorado em solução de etanol 30 % por aproximadamente 2 h. As proteínas foram visualizadas a olho nu. O gel foi devidamente seco e registrado por digitalização. 3.3.2 Cinética de expressão da MSP-119 kDa Modificada recombinante Células Sf9 foram infectadas conforme descrito no item 3.2.3 e recolhidas após 24, 48, 72 e 96 h de incubação com baculovírus recombinante. Os precipitados celulares foram rompidos e analisados por SDS-PAGE conforme descrito no item 3.3.1. 46 3.3.3 Análise do rendimento por densitometria O rendimento da MSP-119 kDa Modificada expressa foi avaliado por densitometria (GS800 Calibrated Densitometer, Bio-Rad), utilizando o programa Quantity One, versão 4.4.1, da Bio-Rad. Foi avaliado, também, o percentual da MSP-119 kDa expressa em relação às demais proteínas celulares. 47 4 RESULTADOS 4.1 Amplificação e clonagem do fragmento MSP-119 kDa Modificada Para obtenção do fragmento MSP-119 kDa Modificada foram realizadas 2 etapas de PCR, como mostra a figura 5. Após a primeira etapa, foi gerado um fragmento de aproximadamente 500 pb utilizando-se os oligonucleotídeos RG 466 (+) e RG 468 (-) (Figura 9A). O produto dessa reação foi utilizado como molde na segunda etapa, na qual foram utilizados os oligonucleotídeos RG 466 (+) e RG 467 (-), gerando o fragmento MSP-119 kDa Modificada, de aproximadamente 500 pb (Figura 9B). Não é possível diferenciar, quanto ao tamanho, o produto das etapas 1 e 2 pois a diferença de nucleotídeos entre eles é de aproximadamente 40 pb. A B 800 pb ~500 pb 400 pb Figura 9: Eletroforese em gel de 0,8 % agarose dos produtos de PCR para obtenção do fragmento MSP-119 kDa Modificada. PPM: “Low Mass DNA Ladder”. A: Eletroforese da primeira etapa do PCR. 1: controle da reação, 2: produto esperado na etapa 1. B: Eletroforese da segunda etapa do PCR. 1: controle da reação, 2: produto esperado na etapa 2. A seta indica a banda correspondente ao produto esperado na amplificação. Após digestão do inserto e do vetor com as enzimas Xba I e Hind III, ambos foram submetidos à reação de ligação com a enzima T4 DNA Ligase e o produto da ligação foi 48 transformado em células E. coli DH5 e E. coli SURE por eletroporação. Foram gerados 9 clones resultantes da transformação do produto da ligação em E. coli DH5 e 18 clones em E. coli SURE. O controle positivo da transformação feito através do plasmídeo comercial pUC 19 confirmou a eficiência das células competentes. Os 27 clones gerados foram cultivados em meio LB líquido para extração do DNA plasmidial com solução de fenol:clorofórmio:álcool isoamílico. Uma seleção inicial dos recombinantes foi feita comparando-se, em relação ao tamanho, os plasmídeos extraídos com o plasmídeo pFastBac DUAL sem inserção. Após eletroforese em gel de agarose, foi possível visualizar 12 clones de maior tamanho – compatível com o tamanho esperado para o plasmídeo recombinante, aproximadamente 5700 pb - quando comparados com os demais sem inserção - de aproximadamente 5200 pb (Figura 10). Dos recombinantes, 4 foram oriundos de E. coli SURE (clones 3, 4, 8 e 14) e 8 foram oriundos de E. coli DH5 (19, 20, 22, 23, 24, 25, 26 e 27). Figura 10: Eletroforese em gel de 0,8 % agarose da extração do DNA plasmidial dos clones obtidos após transformação. 1 a 27: produto da extração do DNA plasmidial dos clones 1 a 27 respectivamente, 28: pFastBac DUAL sem inserção. As raias com asterisco apresentam os plasmídeos dos clones possivelmente recombinantes. 49 A confirmação da presença do fragmento MSP-119 kDa Modificada nestes clones foi obtida por ensaio de PCR com os oligonucleotídeos RG 466 (+) e RG 467 (-), que gerou o produto esperado de cerca de 500 pb (Figura 11A). Da mesma forma, a clivagem com as enzimas Xba I e Hind III (Figura 11B) produziu um perfil contendo uma banda de aproximadamente 5200 pb, correspondente ao vetor, e outra de aproximadamente 500 pb, correspondente ao fragmento de interesse. Todos os 12 clones foram positivos para ambos os ensaios e foram submetidos à reação de sequenciamento nucleotídico para verificação da integridade do fragmento MSP-119 kDa Modificada. A 800 pb ~500 pb 400 pb B 6557 pb 4361 pb 800 pb 400 pb 5200 pb ~500 pb Figura 11: Confirmação da presença do fragmento MSP-119 kDa Modificada nos clones obtidos após ligação ao pFastBac DUAL. A: Eletroforese em gel de 1 % agarose dos produtos do PCR. PPM: “Low Mass DNA Ladder”, 1: controle da reação, 2 a 13: reação feita com os clones 3, 4, 8, 14, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, e 27 respectivamente. B: Eletroforese em gel de 0,8 % agarose dos produtos das reações de digestão. PPM 1: “Lambda Hind III DNA Ladder”, PPM 2: “Low Mass DNA Ladder”, 1 a 12: digestão dos clones 3, 4, 8, 14, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, e 27 respectivamente. As setas indicam as banda esperadas. Os plasmídeos recombinantes foram seqüenciados utilizando-se os oligonucleotídeos RG466 (+) e RG446 (-). Todos obtiveram 100 % de identidade com a seqüência esperada. 50 Aleatoriamente, foram escolhidos 3 clones para dar continuidade ao trabalho, os clones 3, 22 e 26. 4.2 Obtenção do baculovírus recombinante Os 3 plasmídeos recombinantes escolhidos foram utilizados na transposição de células E. coli DH10Bac. Todas as transposições geraram colônias brancas. Foram selecionados 4 clones provenientes do clone 3, referidos como 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4; 4 clones provenientes do clone 22, referidos como 22.1, 22.2, 22.3 e 22.4; e 2 clones provenientes do clone 26, referidos como 26.1 e 26.2. Os clones selecionados foram estriados 2 vezes consecutivas em meio LB-ágar suplementado conforme descrito no item 3.2.1 e apresentaram estabilidade em relação à transposição. Os clones foram, então, cultivados em meio LB líquido suplementado para extração do DNA do bacmídio. A seleção dos bacmídios recombinantes foi feita por PCR utilizando os oligonucleotídeos iniciadores M13/pUC (+) e M13/pUC (-), na qual se esperava obter um produto de aproximadamente 3000 pb (Figura 6). Os clones 3.1, 3.2, 3.4, 22.1, 22.2, 22.4, 26.1 e 26.2 apresentaram produto amplificado compatível com o esperado (Figura 12); os demais foram descartados. O bacmídio 3.1 foi escolhido para ser submetido ao seqüenciamento nucleotídico e dar continuidade ao trabalho. Os oligonucleotídeos empregados na reação de seqüenciamento foram RG 466 (+), RG 436 (+), RG 446 (-), pFastBac DUAL (+), pFastBac DUAL (-), M13/pUC (+) e M13/pUC (-). Foi possível confirmar a integridade gênica de todo o fragmento MSP-119 kDa Modificada que foi clonado. 51 4361 pb ~3 kb 2322 pb Figura 12: Eletroforese em gel de 1 % agarose dos produtos do PCR para confirmação da presença do fragmento MSP-119 kDa Modificada nos bacmídios extraídos após transposição em E. coli DH10Bac. PPM: “Lambda Hind III DNA Ladder”, 1: controle da reação, 2 a 11: reação feita com os bacmídios 3.1, 3.2, 3.3, 3.4, 22.1, 22.2, 22.3, 22.4, 26.1 e 26.2 respectivamente. A seta indica a banda correspondente ao produto esperado na amplificação. Células Sf9 foram transfectadas com bacmídio 3.1. Após 72 h da transfecção, foi possível observar células em suspensão no meio de cultura e de volume aumentado, aspectos que, segundo o fabricante, são característicos de células Sf9 infectadas com baculovírus; o controle negativo permaneceu inalterado. O sobrenadante da transfecção foi utilizado na produção do estoque viral que, por sua vez, foi utilizado nas infecções posteriores. As células infectadas com os baculovírus recombinantes durante 24 h e 48 h e os respectivos controles negativos foram submetidas à extração do DNA total para detecção do fragmento MSP-119 kDa Modificada no DNA viral através de PCR utilizando os oligonucleotídeos iniciadores RG 466 (+) e M13pUC (-). O bacmídio 3.1 foi empregado como controle positivo da reação. Foi possível detectar produto amplificado, de aproximadamente 1000 pb, referente ao fragmento MSP-119 kDa Modificada no DNA viral, nas reações feitas com o DNA total das células infectadas em 24 h e 48 h (Figura 13). Para certificação de que o fragmento clonado manteve sua integridade gênica após a formação dos vírus, foi realizado o seqüenciamento nucleotídico utilizando como molde os produtos do PCR feito para detecção do DNA viral. Os oligonucleotídeos empregados na 52 reação de seqüenciamento foram RG 466 (+), RG 436 (+), RG 446 (-), pFastBac DUAL (+), pFastBac DUAL (-), M13/pUC (+) e M13/pUC (-). Foi possível confirmar a integridade gênica de todo o fragmento MSP-119 kDa Modificada que foi clonado nas células infectadas com baculovírus recombinante por 24 h. Figura 13: Eletroforese em gel de 0,8 % agarose dos produtos do PCR para detecção do fragmento MSP-119 kDa 2027 Modificada no DNA de pb células infectadas com baculovírus recombinante. PPM: “Lambda Hind III DNA Ladder”, 1: controle da reação, 2: controle positivo da reação, feito com bacmídio 3.1, 3: reação com DNA de células não infectadas cultivadas por 24 h, 4: reação com DNA de células infectadas por 24 h, 5: reação com ~1000 pb DNA de células não infectadas cultivadas por 48 h e 6: reação com DNA de células infectadas por 48 h. A seta indica a banda correspondente ao produto esperado na amplificação. 500 pb 4.3 Expressão da proteína recombinante MSP-119 kDa Modificada A cinética de expressão da proteína MSP-119 kDa Modificada recombinante permitiu a detecção, em SDS-PAGE, de uma banda de aproximadamente 18 kDa - correspondente à proteína de interesse - a partir de 48 h de infecção. Após 72 h e 96 h de infecção, a expressão foi significativa (Figura 14). 53 A análise preliminar da expressão da MSP-119 kDa Modificada por densitometria revelou que, em 96 h, houve uma maior produção da proteína comparado aos outros tempos. O percentual de expressão da MSP-119 kDa Modificada em relação às demais proteínas celulares aumentou gradativamente com o tempo de infecção, alcançando aproximadamente 8 % e 12 % da massa total de proteínas celulares em 72 h e 96 h, respectivamente. PPM 1 2 3 4 5 18,4 kDa 20 kDa 15 kDa Figura 14: SDS-PAGE da cinética de expressão da MSP-119 kDa Modificada. PPM: “Precision Plus Protein Standard DUAL Color” (Bio-Rad). 1: Células Sf9 cultivadas por 72 h não infectadas. 2 a 5: Células Sf9 rompidas após infecção com baculovírus recombinante por 24, 48, 72 e 96 horas de infecção, respectivamente. A seta indica a banda correspondente à proteína recombinante. 54 5 DISCUSSÃO O presente trabalho se propôs a expressar a proteína recombinante MSP-119 kDa Modificada em células de inseto utilizando baculovírus. O primeiro estudo de expressão e verificação da imunogenicidade da MSP-119 kDa Modificada de P. falciparum foi feito em sistema procarioto (HOLDER et al., 1988). Embora a proteína expressa tenha induzido uma resposta imune por anticorpos em camundongos imunizados, o sistema procarioto não foi capaz de reproduzir a estrutura nativa da proteína e os soros dos animais imunizados apresentaram baixo título de anticorpos específicos. A estrutura tridimensional de uma proteína é fundamental para o exercício de sua função biológica em um organismo. Em se tratando de micro-organismos, a estrutura tridimensional de compostos de superfície pode ser importante para o reconhecido de uma célula susceptível a infecção e para o reconhecimento pelo sistema imune hospedeiro, constituindo um antígeno. Os determinantes antigênicos estão diretamente relacionados à conformação da proteína e são geralmente formados por regiões descontínuas da cadeia protéica que se aproximam quando a proteína assume sua estrutura tridimensional. No caso de proteínas que contém múltiplas pontes dissulfeto, como a MSP-119 kDa Modificada, a conformação protéica é substancialmente alterada quando na ausência dessas interações o que afeta diretamente sua imunogenicidade. Para expressão de proteínas cuja integridade conformacional é estritamente requerida, a expressão pode ser feita em sistemas eucariotos, pois os organismos eucariotos geralmente fazem uma série de modificações pós-traducionais nas proteínas sintetizadas, conferindo sua estrutura adequada. A expressão em sistemas eucariotos pode ser feita em células de mamíferos, em leveduras ou em células de inseto utilizando baculovírus. 55 Os baculovírus, em especial o AcMNPV, são amplamente empregados na expressão de uma grande número de genes eucarióticos. Os produtos, geralmente, assumem uma conformação correta e são submetidos a uma série de modificações pós-traducionais, resultando na completa atividade biológica da molécula e antigenicidade esperada. A formação de pontes dissulfeto constitui uma modificação pós-traducional que, no caso da MSP-119 kDa Modificada, é essencial para sua conformação e, consequentemente, para sua função. A formação dessas pontes dissulfeto é favorecida no lúmen do retículo endoplasmático (RE) da célula, que se caracteriza por ser um ambiente oxidativo. Ao contrário, o citosol é um ambiente altamente redutor e, por isso, proteínas ricas em pontes dissulfeto somente adquirem sua conformação tridimensional após passarem pelo RE. De igual forma, espera-se que o correto enovelamento da MSP-119 kDa Modificada só ocorra após sua passagem pelo RE, evento que só é possível na presença de um peptídeo sinal N-terminal, responsável por direcioná-la a esta organela. O primeiro estudo expressando antígenos protéicos maláricos em células de inseto utilizando baculovírus foi feito por Murphy e colaboradores (MURPHY et al., 1990), no qual sequências referentes à porção C-terminal da MSP-1 e à porção repetitiva da CSP foram expressas em diferentes construções. Os autores mostraram que as proteínas puderam ser expressas em células de inseto tanto na forma híbrida como separadamente. Entretanto, sua conformação correta e antigenicidade só foram garantidas na presença de um peptídeo sinal e puderam ser secretadas quando retirada a âncora hidrofóbica. Em nosso estudo, não podemos afirmar que a MSP-119 kDa Modificada obtida apresenta a conformação esperada, pois o cassete de expressão desenvolvido para clonagem da proteína no genoma viral não continha um peptídeo sinal para direcioná-la ao RE. Entretanto, estamos desenvolvendo um estudo em paralelo com um outro cassete de expressão, que contém Fator de Ativação do Plasminogênio Tecidual Humano (tPA) como peptídeo sinal (GOLDEN et al., 56 1998) e nosso objetivo é comparar os resultados obtidos nessas diferentes construções. A expressão da MSP-119 kDa Modificada recombinante está sendo útil para o estabelecimento da metodologia de expressão em células de inseto utilizando baculovírus que será empregada não somente para esse novo cassete de expressão para MSP-119 kDa Modificada, mas também em outros estudos que são desenvolvidos em nosso laboratório. No projeto destinado ao desenvolvimento de uma vacina combinada para febre amarela e malária, a proteína expressa será empregada na geração de anti-soros específicos, que serão utilizados em estudos de caracterização da infecção pelo vírus recombinante. Obtivemos um bom rendimento com o resultado preliminar da expressão da MSP-119 kDa Modificada. Pelo SDS-PAGE (Figura 14), é possível observar que provavelmente houve expressão da proteína a partir de 48 horas de infecção com baculovírus recombinante. As bandas referentes à MSP-119 kDa Modificada nos demais tempos se mostraram gradativamente mais intensas, o que foi confirmado por densitometria e está de acordo com o esperado, uma vez que o cassete de expressão da MSP-119 kDa Modificada foi clonado fusionado ao promotor da poliedrina, que é um promotor induzido tardiamente na infecção pelo baculovírus. De acordo com o “Bac-to-Bac Baculovirus Expression System”, o máximo de expressão de proteínas recombinantes a serem secretadas é geralmente observado entre 30 e 72 horas de infecção enquanto proteínas recombinantes que permanecerão intracelulares geralmente apresentam um máximo de expressão entre 48 e 96 horas. O resultado aqui apresentado está consistente com o esperado. Quando comparamos a proporção entre a expressão da MSP-119 kDa Modificada com as demais proteínas celulares, vemos que essa relação aumenta com o tempo de infecção, chegando a aproximadamente 12 % das proteínas totais em 96 horas. Seria interessante acrescentar mais um tempo de infecção, de 120 horas, e verificar se ocorrem alterações significativas no perfil de expressão da proteína observado. Estabelecido o melhor tempo de infecção para expressão da MSP-119 kDa Modificada, a proteína será 57 purificada por cromatografia de afinidade em coluna de níquel para, então, ser usada nos ensaios de caracterização dos vírus recombinantes. 58 6 CONCLUSÕES o Foi possível obter um cassete de expressão para clonagem da MSP-119 kDa Modificada no genoma de baculovírus; o A expressão da MSP-119 kDa Modificada foi detectada em SDS-PAGE a partir de 48 horas de infecção com baculovírus recombinante; o A análise preliminar por densitometria revelou que, em 96 horas, a expressão da proteína recombinante correspondeu a aproximadamente 12 % da massa protéica total celular; o O sistema de expressão em células de inseto utilizando baculovírus se mostrou adequado para expressão da proteína MSP-119 falciparum. kDa Modificada de Plasmodium 59 7 PERSPECTIVAS o Purificar a MSP-119 kDa Modificada recombinante por cromatografia de afinidade em coluna de níquel; o Imunizar camundongos com a proteína recombinante purificada para obtenção de antisoros específicos a serem utilizados em estudos de caracterização da infecção pelo vírus recombinante FA/MSP-119 kDa; o Desenvolver um novo cassete de expressão contendo o peptídeo sinal TPA e comparar os resultados obtidos. 60 8 BIBLIOGRAFIA AIKAWA, M., MILLER, L. 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