a equoterapia no tratamento da esclerose múltipla: uma

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A EQUOTERAPIA NO TRATAMENTO DA ESCLEROSE MÚLTIPLA: UMA BREVE
REVISÃO DE LITERATURA 1
MACHADO, Simone Gonçalves2; PADILHA, Juliana Falcão3; PREIGSCHADT,
Gláucia Pinheiro4; BRAZ, Melissa Medeiros5
1
Trabalho realizado pelo grupo de pesquisa “Promoção da saúde e tecnologias aplicadas à
fisioterapia”
2
Fisioterapeuta (UNIFRA) Santa Maria, RS, Brasil
3
Fisioterapeuta (UNIFRA); Especializanda em Atividade Física e Desempenho Motor e em
Reabilitação Físico-Motora pela Universidade Federal de Santa Maria/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil
4
Acadêmica do curso de Fisioterapia (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil
5
Fisioterapeuta (UDESC), doutora em Engenharia de Produção (UFSC), professor adjunto do curso
de Fisioterapia da UFSM. Santa Maria, RS, Brasil.
E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]
RESUMO
O objetivo deste estudo é revisar a literatura a respeito da Esclerose Múltipla (EM) e dos
benefícios proporcionados pela prática da equitação terapêutica no tratamento desta patologia. Esta
revisão realizou-se de maio a agosto de 2012, com pesquisas em artigos científicos nacionais e
internacionais em bibliotecas virtuais e bases de dados da saúde (Bireme, SciELO, PubMed e Google
Scholar), selecionados de 2000 até a atualidade. A EM é considerada a enfermidade neurológica
crônica mais frequente em adultos jovens, caracterizada como uma doença desmielinizante, por lesar
a mielina e prejudicar a neurotransmissão. Um dos tratamentos para esta patologia é a Equoterapia,
que consiste de terapia auxiliada por cavalo, visando melhorar o quadro clínico do praticante, além de
melhorar os sinais e sintomas motores característicos da doença, tais como: equilíbrio, coordenação
motora, marcha e, dentro da visão psicológica, proporciona com a prática o ganho afetivo, contato e
respeito.
Palavras-chave: Equoterapia Assistida; Escrelose Múltipla; Equitação Terapêutica.
1. INTRODUÇÃO
A Esclerose Múltipla (EM) é considerada a enfermidade neurológica crônica mais
frequente em adultos jovens (MOREIRA et al., 2000). Em 1868, foi descrita pelo
neurologista francês Jean Martin Charcot como "Esclerose em Placas", por observar áreas
circunscritas endurecidas disseminadas pelo SNC de pacientes durante autópsia. Segundo
a ABEM (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla), a EM é caracterizada como uma
doença desmielinizante, por lesar a mielina e prejudicar a neurotransmissão. A mielina é um
complexo de camadas lipoproteicas que envolvem e isolam as fibras nervosas (axônios),
para permitir que os nervos transmitam seus impulsos rapidamente, ajudando na condução
das mensagens que controlam todas as atividades conscientes e inconscientes do
organismo (ABEM, 2012 a).
1
Os tratamentos da EM vão além dos cuidados gerais, sendo importante escolher a
melhor forma terapêutica, considerando o tipo da doença e a faixa etária acometida, para
obter, assim, um melhor prognóstico dos pacientes (SANTOS, 2009; PEREIRA et al., 2012).
Dentre as opções terapêuticas disponíveis atualmente, a Fisioterapia e a
Pscioterapia são indicadas principalmente por proporcionar o não agravamento e a
manutenção dos sinais e sintomas apresentados pela doença (SANTOS, 2009). A
Fisioterapia, através de seus diversos recursos, atua em todas as fases da EM, desde os
primeiros sinais até a reabilitação de possíveis sequelas, com o objetivo de ajudar o
paciente em suas atividades de vida diárias (AVD´s) e de manter a independência e
capacidade funcional, além de proporcionar bem estar e melhor qualidade de vida do
indivíduo (PEREIRA et al., 2012).
No tratamento, são administradas medicações que buscam melhorar gradualmente a
sintomatologia. Dentre os fármacos mais utilizados, estão os antivirais, Amantadina,
Aciclovir, Interferon, Imunossupressores e Corticóides (SANTOS, 2009). É de fundamental
importância o apoio dos familiares e amigos, durante o tratamento, a fim de incentivar o
paciente nas situações de crises, remissões e estagnação dos sinais e sintomas
apresentados pela doença (PEREIRA et al., 2012).
Dentre os tratamentos para EM, pode-se citar a equoterapia. Esta tem como principal
objetivo a estimulação, seja ela muscular ou neuronal, em que os estímulos proporcionados
pelo cavalo ajudam o praticante na melhora no controle e fortalecimento da musculatura de
tronco e dos membros inferiores (SANTOS, 2009).
A prática da equoterapia atua tanto na mente como no corpo do praticante, levando-o
a um estado de equilíbrio, desenvolvimento e manutenção do tônus muscular, além de
proporcionar relaxamento, conscientização corporal, aperfeiçoamento da coordenação
motora, da atenção, da autoconfiança e auto-estima (GALVÃO et al., 2010).
Assim, o objetivo deste estudo é revisar a literatura a respeito da EM e os benefícios
proporcionados pela prática da equitação terapêutica no tratamento desta patologia.
2. METODOLOGIA
Esta pesquisa é do tipo exploratória, classificando-se como uma revisão de literatura.
Foi realizada uma revisão bibliográfica, com pesquisas em artigos científicos nacionais e
internacionais em bibliotecas virtuais e bases de dados da saúde: Bireme, SciELO, PubMed
e Google Scholar, no período correspondido entre maio a agosto de 2012.
Foram utilizadas para a busca os seguintes termos: Equoterapia Assistida, Esclerose
Múltipla e Equitação Terapêutica, bem como seus respectivos descritores em inglês
“Equine-Assisted Therapy”, “Multiple Sclerosis” e “therapeutic riding”, além de associações
2
entre elas. O período estipulado para a seleção dos estudos foi a partir das publicaçõe de
2000 ao que a literatura atual apresenta.
Após leitura crítica e análise dos materiais encontrados, foram selecionados os
trabalhos de maior relevância para o tema proposto.
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Esclerose Múltipla
A esclerose múltipla (EM) consiste em uma doença desmielinizante inflamatória, que
acomete a substância branca do sistema nervoso central, resultando em sinais e sintomas
neurológicos que podem deixar sequelas, conforme a localização da lesão. A
desmielinização ocorre frequentemente no cérebro e cerebelo, o que torna frequentes
sensações vestibulares anormais como vertigem e desequilíbrio (PAVAN et al., 2007).
O quadro clínico manifesta-se geralmente por surtos ou ataques agudos, que podem
entrar em remissão de forma espontânea ou com o uso de corticosteroides (pulsoterapia).
Destacam-se como sintomas da EM a neurite óptica, paresia ou parestesia de membros,
disfunções da coordenação e equilíbrio, mielites, disfunções esfincterianas e disfunções
cognitivo-comportamentais, de forma isolada ou em combinação, sendo os sintomas
cognitivos característicos da manifestação de surto da doença (BRASIL, 2010).
O diagnóstico diferencial deve ser a conduta clínica mais importante e que precede a
confirmação da EM. Várias são as doenças que tem uma apresentação temporal e espacial
iguais aos sinais e sintomas da EM, entre elas a encefalomielite aguda disseminada, a
leucodistrofias (adrenoleucodistrofia) e o lúpus eritematoso sistêmico (CALLEGARO, 2001).
Segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) (Figura 1), a EM
classifica-se em três tipos: Esclerose Múltipla Remitente-Recorrente (EMRR) ou surto
remissão, considerada a forma mais comum de EM, evolui em surtos cujos sintomas
ocorrem de maneira súbita com posterior recuperação parcial ou total destes, podendo ou
não deixar sequelas; Esclerose Múltipla Primária Progressiva (EMPP), a qual evolui sem
surtos, porém com sintomas progressivos acumulados ao longo do tempo; e Esclerose
Múltipla Secundária Progressiva (EMSP), na qual a doença evolui com sintomas lentos e
progressivos. No decorrer do tempo, os indivíduos que apresentam a EMRR inicialmente
podem evoluir para a EMSP adjunto de sintomas sem surto, em geral, observado após 20
anos de manifestação da doença (ABEM, 2012 b).
3
Figura 1: Tipos de EM relacionadas com a incapacidade pelo tempo, segundo ABEM.
Estudo realizado por Hincapié-Zapata et al. (2009) avaliou o impacto na qualidade de
vida (QV) de 56 pacientes (através do Short Form 36- SF-36) portadores de doença crônica
auto-imune como a EM. Evidenciou-se que diferentes funções neurológicas deterioram-se
progressivamente na EM, o que leva à repercussão sobre o sistema músculo-esquelético e,
consequentemente, a uma pior QV, principalmente quanto às funções físicas e sociais. A
incapacidade gerada nos portadores não é definida apenas pelo déficit, mas também pelo
grau de limitação funcional no contexto da saúde pessoal. Dessa forma, a QV torna-se um
fenômeno global biopsicossocial.
3.2 Equoterapia no Tratamento da Esclerose Múltipla
A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de
uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando
melhorar aspectos motores e situações biopsicossociais em pessoas com necessidades
especiais. Na EM, a equoterapia visa melhorar o quadro clínico do praticante e, dentro da
visão psicológica, proporcionar o ganho afetivo, contato e respeito (SANTOS, 2009).
As técnicas de equitação terapêutica e hipoterapia proporcionam a seus usuários
resultados positivos sobre a coordenação motora, tônus e rigidez muscular, alinhamento
4
postural, resistência, melhora da força e marcha, assim como a correção de padrões
anormais de movimento e consequente melhora do equilíbrio (BRONSON et al., 2010;
MUÑOZ-LASA et al., 2011).
No estudo de Silkwood-Sher e Warmbier (2007), foram avaliados 15 indivíduos com
EM, na faixa etária de 24-72 anos, quanto à eficácia da equoterapia como intervenção no
tratamento da instabilidade postural dos sujeitos com essa doença. Os participantes foram
divididos em dois grupos, o grupo experimental com 9 sujeitos (4 homens e 5 mulheres), o
qual recebeu hipoterapia, e o grupo controle com 6 sujeitos (2 homens e 4 mulheres). Os
indivíduos foram avaliados através da Escala de Equilíbrio de Berg e do Tinetti Performance
Oriented Mobility Assessment e, por meio desses, comprovou-se melhora estatisticamente
significativa no grupo da hipoterapia em todos os pós testes, o que mostra a importância
terapêutica da equoterapia para a melhora do equilíbrio em pacientes com EM.
Corroborando com esses autores, o estudo de Hammer et al. (2005) avaliou a
eficácia da equitação terapêutica em 11 pacientes com EM através da Escala de Equilíbrio
de Berg e questionário de QV SF-36. Verificou-se que a prática da equitação terapêutica
melhorou marcha, espasticidade, força funcional, coordenação motora, nível de tensão
muscular, além da prática das AVD´s dos pacientes, com destaque para os benefícios no
equilíbrio, dor e modificações na saúde emocional.
5. CONCLUSÃO
A partir dos dados encontrados na literatura, o estudo observou que a equoterapia é
uma importante ferramenta terapêutica para o tratamento e manutenção dos sinais e
sintomas apresentados pela EM. Esta técnica é dotada de benefícios aos pacientes no que
diz respeito à motricidade, equilíbrio, marcha, entre outros. Dessa forma, coloca-se a
equoterapia como mais uma opção de tratamento para a doença.
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