III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 431 A Problemática do Lixo: Trabalhando a Reciclagem nas Escolas A. C. Costa1, W. M. da Costa1*, R. L. B. Carreço1, M. J. A. de Oliveira1, M. P. S. Souza1, L. R. Alves1 & W. L. de Lima2. 1 Graduandos em Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo - Campus de Alegre. 2 Professor Doutor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo - Campus de Alegre. *Email para correspondência: [email protected] Introdução A ecologia tornou-se, ao longo de seu processo de desenvolvimento, a ciência geradora da transição de paradigmas: da visão cartesiana do mundo aos processos energéticos complexos; da sujeição aos sistemas dominantes à autonomia; do individualismo ao espírito altruísta, de participação e cidadania; do ecologismo ancorado no senso de conservação dos aspectos físicos do meio para a sustentabilidade dependente da inclusão social. No entanto, para que essas mudanças de paradigmas se reflitam no comportamento da sociedade, é preciso que se provoque, mais que conscientizações sobre riscos iminentes, um resgate dos laços que unem o ser humano à natureza (Marin et al., 2003). A questão ambiental se torna cada vez mais urgente para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende do equilíbrio do meio ambiente. Com o crescimento populacional, a quantidade de lixo e poluição também crescem sem controle, por essa razão se torna cada vez mais importante a realização de trabalhos educacionais em favor do meio ambiente (Britto, 2000). Através da reciclagem, o lixo passa a ser visto de outra maneira, não como um final, mas como o início de um ciclo em que podemos preservar o meio ambiente, a participação consciente e a transformação de hábitos (Marodin; Morais, 2004). O processo de reciclarem gera riquezas, já que algumas empresas usam esse procedimento como uma forma de reduzir os custos e também contribui para a preservação do ambiente. Os materiais mais reciclados são o papel, o plástico, o vidro e o alumínio. A coleta seletiva do lixo e a reciclagem são cada vez mais conhecidas em todo o mundo, uma vez que a reciclagem auxilia a redução da poluição do solo, do ar e da água (Zuben, 1988). Por isso é 431 432 COSTA ET AL.: A PROBLEMÁTICA DO LIXO. importante a escola aprender como trabalhar interdisciplinamente, questões ambientais, em especial, utilizando a reciclagem do lixo. Coaduamos com Marin et al. (2003), que apreendemos o mundo, o ambiente, por intermédio de um fenômeno perceptivo tão complexo quanto a natureza humana, não sendo possível seu entendimento pelos caminhos puramente conceituais. Temos que buscar novas formas de fazer com que os alunos sejam sensibilizados a respeito das questões ambientais alarmantes, em especial o lixo, em uma tentativa de minimizar problemas. Com isto o presente trabalho teve o objetivo de avaliar o conhecimento que alunos do Ensino Fundamental tem sobre o problema do lixo no enfoque: Reciclagem e sua importância para a sociedade, a fim de propor sujestões de modelos para se trabalhar esse tema nas escolas e testar uma das propostas para avaliar sua eficácia na aprendizagem. Material e Métodos A pesquisa foi realizada com 60 alunos matriculados no sexto ano do ensino fundamental de uma escola estadual, situada no município de Alegre, ES em agosto de 2013. A metodologia utilizada na realização do trabalho foi a aplicação de um questionário, como ferramenta para obtenção de dados, composto de quatro perguntas relacionadas ao tema reciclagem (Figura 1). Figura 1: Questionário aplicado aos alunos para obtenção dos dados. Após os alunos terem respondido o questionário os dados foram tabulados no programa Microsoft Excel e, a partir dos resultados criou-se gráficos demonstrativos (figuras) para melhor compreensão dos resultados. III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 433 Para propor idéias didáticas para trabalhar o tema “Lixo e Reciclagem” com os alunos foi realizada uma pesquisa com os professores da escola e com os alunos do curso superior de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFES – Campus de Alegre, através de entrevistas. Para testar uma das alternativas de aula, proposta pelos professores, foi realizada uma visita a trilha interpretativa do PEAMA (Pólo de Educação Ambiental) do IFES – Campus de Alegre com alunos participantes do programa Mais Tempo na Escola de uma escola pública estadual do município de Cachoeiro de Itapemirim, ES. A avaliação dos alunos foi feita a partir da observação e de entrevistas informais. Resultados e Discussão Através dos dados obtidos pelo questionário, foi possível afirmar que 98% dos alunos entrevistados sabem o que é reciclagem, pois expressam de uma forma positiva que o impacto causando pelo lixo pode ser diminuído através desse processo (Figura 2). Figura 2: Opinião dos alunos a respeito da diminuição do lixo através da reciclagem. O tema reciclagem é noticiado com frequência em jornais, por exemplo, o que explica o conhecimento dos alunos sobre a importância do mesmo. É importante salientar que nas aulas o tema geralmente é trabalhado de forma interdisciplinar nas matérias de ciências, geografia e arte, por exemplo. Na continuidade da pesquisa os alunos demonstraram dominar e conhecer o tema (Figura 3). Observou-se que 97% dos alunos disseram ser possível transformar o que seria lixo em objetos que poderiam a ter utilidade novamente. Fica subentendido que os alunos sabem o que significa uma “grande quantidade” de lixo, e que esse material pode ser reaproveitado. Comumente atribui-se, no cotidiano, a designação de lixo a toda forma e quantidade de resíduos. Contudo, os resíduos só passam a se constituir em lixo quando a sua produção ocorre em certa quantidade e quando são mal destinados, ou mesmo passam a não ter 433 434 COSTA ET AL.: A PROBLEMÁTICA DO LIXO. destinação útil – sendo descartados e tornando-se elementos prejudiciais ao ambiente e aos seres humanos (Souza et al., 2012). Figura 3: Alunos apresentam seus conhecimentos sobre transformação do lixo. Dos envolvidos na pesquisa, 85% confirmaram que já reutilizaram algum tipo de lixo (garrafas pets, caixa de leite, latas de leite ninho e etc.) e apenas 15% nunca reutilizaram o lixo de maneira direta. A escola é um espaço no qual, ações possibilitam a prática da educação ambiental. Assim foi questionado aos alunos se gostam de participar de projetos que envolvam o tema, onde 93% disseram gostar de participar e apenas 7% não se envolvem (Figura 4). Figura 4: Alunos expressam seu interesse em participar de projetos que abrangem a reciclagem e o aproveitamento do lixo. A escola é um importante instrumento de transformação social e de efetivação do processo ensino-aprendizado, por conseguinte, a mesma é um importante instrumento para a efetivação da mudança de pensamento e atitude no sentido do cuidado para com o meio ambiente, ou seja, para a promoção da educação ambiental. No entanto, não basta apenas falar sobre educação ambiental ou praticar ações nesse sentido dentro dos muros da escola, III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 435 é preciso estendê-la para a prática social cotidiana, com a finalidade de desenvolver uma consciência ambiental (Souza et al., 2012). A Educação Ambiental vem sendo considerada interdisciplinar, orientada para a resolução de problemas locais. É participativa, comunitária, criativa e valoriza a ação. É transformadora de valores e atitudes através da construção de novos hábitos e conhecimentos, conscientizadora para as relações integradas ser humano – sociedade – natureza, objetivando o equilíbrio local e global, melhorando a qualidade de todos os níveis de vida (Guimarães, 2005). A escola, por ser o ambiente o qual foi conferida a função primordial de passar os conjuntos de conhecimentos e princípios que irão formar os cidadãos que irão compor a sociedade, e também por a escola se constituir em um instrumento de transformação social, deve também ser o ambiente primordial propiciador da mudança de pensamento e atitude no sentido da necessidade da conservação ambiental, ou seja, na promoção da educação ambiental (Souza et al., 2012). Assim como os autores acima citados, acredita-se que a escola é formadora de opiniões, interferindo de forma significativa na vida e nas opiniões dos alunos, daí a importância de serem trabalhados temas ambientais, tais como: reciclagem, reutilização de resíduos, importância dos recursos naturais, entre outros. Seria interessante que as escolas criassem uma disciplina voltada para a educação ambiental nas séries iniciais ou trabalhar temas como a importância do lixo e seu destino, realizando projetos interdisciplinares onde envolvam o aluno em atividades práticas, contando com a participação dos pais e da comunidade. Na entrevista com os professores e alunos graduandos do Ifes foram sujeridos aulas demonstrativas em uma usina de reciclagem, aulas práticas de reutilização do lixo, aulas expositivas para se trabalhar o lixo em números na disciplina de matemática (quantidade de lixo produzida por pessoa em um dia, quantidade de lixo existente no planeta), a realização de oficinas de reciclagem nas escolas e a implantação de uma coleta seletiva na escola. Além disso, um dos alunos entrevistados sujeriu a utilização do material disponível no site ''Portal do Professor'' do MEC com sujestão de aulas sobre a reciclagem (http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=36792). Para os alunos que não se interessam pelo tema foi proposto analisar o que eles gostam de fazer, como por exemplo: cantar, dançar, atuar, e, com base nos resultados, desenvolver estratégias de ensino aprendizagem - sensibilização a respeito do tema. 435 436 COSTA ET AL.: A PROBLEMÁTICA DO LIXO. Um dos professores relatou, a experiência realizada em uma trilha ecológica com alunos para trabalhar o tema lixo. Tal experiência despertou o interesse para se testar novamente a posssibilidade de trabalhar o tema em uma trilha interpretativa. Figura 5: Alunos em visita ao PEAMA no IFES – Campus de Alegre. Sendo assim, foi realizada a visita na trilha ecológica. Durante a visita os alunos (Figura 5) puderam observar a mata atlântica enquanto ouviam explicações a respeito da mesma. Um participante do projeto trabalhou o tema lixo – reciclagem e recusos disponíveis da mata em uma palestra após a trilha, onde expôs que é possível confeccionar acessórios, como por exemplo: filtro dos sonhos, pulseiras, bolsas, etc, utilizando o lixo e os recusos que a mata nos fornece (cipós, folhas, casca de árvores, etc). Na entrevista com os alunos a maioria sugeriu uma oficina na escola para que aprendessem a confeccionar os objetos citados na palestra. Todos os alunos disseram gostar da visita e todos responderam de maneira afirmativa quando questionaos se iriam reutilizar materiais que iriam para o lixo. A visita proporcionou, aos alunos, uma reflexão no sentido de repensarem a natureza e a quantidade de recursos disponíveis, bem como na reutilização de materiais descartados. A sensibilização traz, portanto, a proposta de transposição do enfoque racional na prática educativa e a busca de se atingir a dimensão emotiva, espiritual da pessoa humana na sua interação com a natureza (Marin, 2003). Conclusão Apesar das escolas ainda não terem uma disciplina voltada para a Educação Ambiental, a mesma tem se preocupado em sensibilizar os alunos a respeito da problemática do lixo. A pesquisa possibilitou aos professores sugestões de como devem desenvolver atividades para trabalharem a reciclagem de diferentes formas na sala de aula e fora dela e, além III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 437 disso, comprovou-se que a experiência de trabalhar o tema lixo e o uso de recursos naturais, em uma trilha de mata atlântica, desperta e sensibiliza o aluno sobre a problemática do lixo. Literatura Citada Britto, C. Educação e Gestão Ambiental. Salvador: Ministério do Meio Ambiental, 2000. Carvalho, Isabel Cristina Moura; Farias, Carmen Roselaine; Pereira, Marcos Villela. A missão "ecocivilizatória" e as novas moralidades ecológicas: A educação ambiental entre a norma e a antinormatividade. Ambiente & Sociedade, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 35-49, jul./dez. 2011. Guimarães, M. A dimensão Ambiental na educação. Campinas-SP: Papirus, 2005. Marin, Andréia Aparecida; Oliveira, Haydée Torres; Comar, Vito. 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