ISOLAMENTO E ESTUDO CITOMORFOLÓGICO DE AMEBAS DE VIDA LIVRE PRESENTES NO MEIO AMBIENTE ZUFFO, Daniele Ceolin1; NAGEL, Andréia Saggin2; SPEROTTO, Rita Leal3; ZANELLA, Janice de Fátima Pavan4. Palavras-Chave: Protozoários. Meningoencefalite. Acanthamoeba. Introdução As amebas de vida livre (AVL) constituem um grupo de protozoários de ampla distribuição ambiental, isoladas em praticamente todos os ambientes da água, do solo e do ar. Esses microrganismos já foram isolados em todos os continentes, nas mais diversas altitudes. Resistem a extremas condições de temperatura e de pH, bem como ao cloro e a outros sistemas de desinfecção. (KONG, 2009; NEVES, 2005). A presença de tais protozoários em águas doces superficiais como de rios, fontes de águas de abastecimento público e águas de piscinas, representa riscos para a saúde humana já que o contato com estas é a principal via de contaminação (CARLESSO et al., 2009). O homem se infecta ao tomar banho em lagos, lagoas ou piscinas. A contaminação pode ocorrer se, através da inalação de cistos ou penetração de trofozoítas na mucosa nasal, mucosa conjuntiva e trato respiratório superior. A disseminação se dá através da circulação sanguínea e consequentemente pode ocorrer encefalite. No olho a infecção esta relacionada com traumatismos penetrantes da córnea através do contato com águas contaminadas e, mais recentemente, com o uso de lentes de contato (SZENASI, 1998). Tem sido observadas diferenças de densidade de isolamento, nas diferentes estações no ano. Na primavera e outono, as amebas são encontradas em maiores concentrações, o que parece 1 Acadêmica do Curso de Farmácia da Unicruz e bolsista do projeto Isolamento e estudo citomorfológico de amebas de vida livre presentes no meio ambiente –PIBIC. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Farmácia da Unicruz e bolsista voluntária do projeto Isolamento e estudo citomorfológico de amebas de vida livre presentes no meio ambiente –PIBIC.E-mail: [email protected] 3 Prof. da Unicruz e coordenadora do projeto Isolamento e estudo citomorfológico de amebas de vida livre presentes no meio ambiente –PIBIC. E-mail: [email protected] 4 Prof. da Unicruz e colaboradora do Projeto Isolamento e estudo citomorfológico de amebas de vida livre presentes no meio ambiente –PIBIC. E-mail: [email protected] estar relacionado com os aparecimentos dos sintomas de ceratite por Acanthamoeba, nos meses mais quentes do ano. O fato de que podem ser isoladas de piscinas, tubulações de calefação e de ventilação, solo, água mineral engarrafada, ar, balneários, aquários, vegetais, sedimentos marinhos, lodos procedentes de águas residuais, isto pode ser consideração um indicador de qualidade do ambiente e também de riscos à saúde pública (ILLINGWORTH; COOK, 1998). Portanto, justifica-se este trabalho pelo fato desta pesquisa abordar a importância da detecção de Amebas de Vida Livre no meio ambiente, observando a sua relação com esses locais. Material e métodos Este estudo foi realizado no laboratório de microbiologia da Universidade de Cruz Alta. Foram coletadas 10 amostras de água de diferentes locais do campus da Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ no município de Cruz Alta - Rio Grande do Sul, no mês de julho de 2010. Os locais de amostragem foram cinco bebedouros localizados no prédio 1, no prédio central, no prédio 13, na acadêmica e na biblioteca. As amostras de biofilmes foram coletadas com swabs estéreis de forma aleatória (duplicata para cada amostra), as quais após as coletas foram introduzidos em tubos de ensaio contendo água destilada. Os tubos de ensaio foram agitados em vórtex para desprender as sujidades contidas nos swabs. Retirou-se os swabs e procedeu-se a centrifugação do conteúdo (2500 rpm/ 5min) onde o sedimento que ficou retido no fundo dos tubos foi semeado em placas previamente identificadas, contendo Ágar Page + uma suspensão de Escherichia coli inativada que serve como alimento para as amebas, favorecendo o crescimento das mesmas. A semeadura foi realizada com o auxilio de pipetas de 10 microlitros, feita no centro das placas a fim de não espalhar a amostra, sendo que para isso demarcou-se as áreas de inoculação das amostras. Após a semeadura a placas foram incubadas em estufa a 35ºC por no mínimo 7 dias, e, então foi realizada a identificação de prováveis amebas em microscópico óptico no Laboratório de Microbiologia da UNICRUZ. Resultados e discussão Das 10 amostras coletadas dos biofilmes dos bebedouros em cinco (50%) obteve-se positividade para amebas de vida livre (AVL). A Tabela 1 resume os resultados obtidos nas dez coletas referentes à presença de AVL nos biofilmes de bebedouros investigados. Foram obtidos isolados de Amebas de Vida Livre sugestivas de serem do gênero Acanthamoeba spp. em três bebedouros estudados. No bebedouro do prédio 1 foram obtidos dois isolados de AVL; no bebedouro da acadêmica foram obtidos dois isolados de AVL e no bebedouro do prédio central foi obtido um isolado de AVL. Tabela 1 - Resultado da presença de amebas de vida livre potencialmente patogênica, em amostras de biofilmes coletadas nos bebedores estudados. LOCAIS Bebedouro prédio AMOSTRAS AMOSTRAS TOTAL POSITIVAS NEGATIVAS N(%) N(%) N(%) 2 0 2 2 0 2 1 1 2 0 2 2 0 2 2 5 (50%) 5 (50%) 10 (100%) 1 Bebedouro da Acadêmica Bebedouro do prédio central Bebedouro da Biblioteca Bebedouro do prédio 13 TOTAL O encontro de amebas patogênicas no meio ambiente constitui somente um indicador da possibilidade de aquisição da parasitose. São pouco conhecidos os fatores que condicionam a ocorrência de infecção e doença. Para Page (1976), é evidente que muitas cepas não são patogênicas, ou muitas pessoas não são vulneráveis, ou circunstâncias especiais são necessárias para que ocorram as alterações patogênicas. (SILVA; ROSA, 2003). No presente estudo, foram obtidos 5 isolados de AVL de 5 bebedouros equivalendo a 10 amostras. Onde a positividade em biofilmes para AVL é quase sempre 100% segundo trabalhos citados na literatura e a explicação para esse fato, é que AVL se aderem aos biofilmes para se alimentar das bactérias que os colonizam. (SILVA; ROSA, 2003). Os índices de positividade no presente trabalho – Isolamento e estudo citomorfológico de amebas de vida livre presentes no meio ambiente, ocorreram em ambientes onde existe um maior fluxo de profissionais e acadêmicos circulando, por se tratar que alguns destes bebedouros estarem localizados em corredores de prédios da UNICRUZ. Os resultados encontrados no presente estudo são semelhantes àqueles encontrados pela maioria dos autores que estudaram AVL nos mais variados ambientes, sendo o gênero Acanthamoeba spp. o mais isolado mundialmente entre as AVL, principalmente devido à resistência de seus cistos às variações ambientais. De acordo com Carlesso et al (2007), é preocupante a ocorrência dessas amebas, já que muitos profissionais e mesmo acadêmicos bebem a água destes bebedouros. Uma vez que a pessoas que consomem estas águas, se estiverem com a sua imunidade deprimida, seja naturalmente devido a doenças, gripes, idade ou artificialmente pelo uso de drogas imunossupressoras, poderá comprometer a sua saúde pela ingestão destes microrganismos. Conclusão Os resultados colhidos até o presente momento evidenciam que deveria haver uma maior preocupação com a limpeza e desinfecção desses bebedouros, uma vez que há livre acesso de profissionais e acadêmicos a utilização de suas águas. Pelos riscos de exposição à saúde que as AVL podem causar as pessoas se as mesmas estiverem com sua imunidade deprimida. Referências CARLESSO, A. M. et al. Isolamento e identificação de amebas de vida livre potencialmente patogênicas em amostras de ambientes de hospital público da cidade de Porto Alegre, RS. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 40(3):316-320, mai-jun, 2007. CARLESSO, A. M. et al. Potentially Pathogenic Acanthamoeba Isolated from a Hospital in Brazil. Current Microbiology, 2009. ILLINGWORTH, C.D.; COOK, S.D. Acanthamoeba Keratitis. Surv. Ophthalmol. v.42, n.6, p.493-508, 1998. KONG, H.H. Molecular phylogeny of Acanthamoeba. Korean J Parasitol. v.47, p. 21-28, 2009. SILVA MA, ROSA JA. Isolamento de amebas de vida livre potencialmente patogênica em poeira de hospitais. Revista de Saúde Pública 37: 242-246, 2003. SZENASI, Z.; ENDO T.; YAGITA K.; NAGY E. Isolation, identification and increasing importance of ‘free-living’ amoebae causing human disease. Journal of Medical Microbiology. v. 47, p. 5-16, 1998.