PROCESSOS EROSIVOS LINEARES E USO DO SOLO NA BACIA DO RIO DO PEIXE - SP. Maria Cristina Jacinto de Almeida1; Gerson Salviano de Almeida Filho;2*; Tatiane Brasil de Freitas3 Resumo – Este trabalho apresenta uma correlação entre os processos erosivos lineares, dos tipos ravina e boçoroca, cadastrados na Bacia Hidrográfica do rio do Peixe, visando contribuir para a adequada gestão da Bacia, em suas ações regionais e locais, voltadas principalmente à proteção e manutenção da qualidade dos seus recursos hídricos. A Bacia do rio do Peixe está localizada na porção oeste do Estado de São Paulo, com uma área de drenagem de 10.769 km2, e constitui aquela com os mais graves processos erosivos lineares, dentre as bacias hidrográficas do Estado de São Paulo. Em levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, foram cadastradas as erosões lineares com ocorrência na área urbana e rural da Bacia do rio do Peixe, num total de 6970 pontos de erosão, sendo 155 na área urbana e periurbana e 6815 na área rural. Separando-se por tipo de erosão, obteve-se: erosões lineares urbanas, sendo 70 ravinas e 85 boçorocas; e na área rural foram identificadas 1457 ravinas e 5358 boçorocas. A evolução do uso do solo na Bacia se caracterizou pela expansão da cultura cafeeira; pelo cultivo do algodão; por uma fase longa de predomínio das pastagens; e, mais recentemente, destaca-se a cultura da cana-de-açúcar. Atualmente as erosões estão mais concentradas nas áreas ocupadas por pastagens e de cana-de-açúcar, havendo também um avanço desses processos nos entornos das áreas de mata. Palavras-Chave – Uso do Solo; Processos Erosivos; Bacia do rio do Peixe. EROSIVE PROCESSES AND LAND USE IN THE BASIN OF THE RIO DO PEIXE - SP. Abstract - This paper presents a correlation between linear erosion processes, registered in the Rio do Peixe Hydrographic Basin, aiming to contribute to the proper management of the Basin, in its regional and local actions, especially for protecting and maintaining the quality of its water resources. The Rio do Peixe basin is located in the western portion of the state of São Paulo, with a 10.769 km2 drainage area, and is the one with the most serious linear erosion processes, of ravine and gully types, among the hydrographic basins of the state of São Paulo. In a survey conducted by the Institute for Technological Research, were registered linear erosion occurring in urban and rural areas of the Rio do Peixe basin, in a total of 6.970 points of erosion, 155 of which in urban and peri-urban areas and 6.815 in rural areas. Separating by type of erosion, were obtained: 155 urban linear erosions, 70 ravines and 85 gullies; and in the rural area 6.815 erosions have been identified, 1.457 ravines and 5.358 gullies. The evolution of land use in the basin was characterized by the expansion of the coffee culture; the cultivation of cotton; for a long period of dominance of pastures; and, more recently, there is the culture of sugarcane. Currently erosions are more concentrated in the areas occupied by pastures and sugarcane; there is also an improvement of these processes in the surroundings of the forest areas. Keywords - Land Use; Erosion; Basin of the Rio do Peixe 1 Geógrafa - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT. E-mail: [email protected]. Tecnólogo Civil - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT. E-mail: [email protected] 3 Bolsista Geografia - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT. E-mail: [email protected] 2 XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 1. INTRODUÇÃO A Bacia do rio do Peixe está localizada na porção oeste do Estado de São Paulo, com uma área de drenagem de 10.769 km2. Dentre as bacias hidrográficas do Estado de São Paulo, constitui aquela com os mais graves processos erosivos lineares, dos tipos ravina e boçoroca. A ocorrência desses processos na Bacia está associada à gestão inadequada do uso e ocupação do solo, tanto na área rural quanto na urbana, que desencadeia e intensifica o desenvolvimento desses processos, configurando um quadro crítico de degradação. Essa situação produz uma grande quantidade de sedimentos que contribuem para o assoreamento dos cursos d’água, principalmente do rio do Peixe e seus afluentes. No Estado de São Paulo, a erosão, vem gerando prejuízos na área rural e urbana, por meio da perda solos agricultáveis, danos a obras de infraestrutura e interferência na qualidade e quantidade dos recursos hídricos, entre outros, além das perdas econômicas e sociais. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2012), cadastrou as erosões lineares com ocorrência na área urbana e rural da Bacia do rio do Peixe e obteve um total de 6970 pontos de erosão, sendo 155 na área urbana e periurbana e 6815 na área rural. Separando-se por tipo de erosão, obteve-se: na área urbana, 70 ravinas e 85 boçorocas; e na área rural, 1457 ravinas e 5358 boçorocas. Esses processos se formaram ao longo do tempo, e se iniciaram com a inserção da Bacia do rio do Peixe na rota de expansão da cultura cafeeira no Estado de São Paulo, com o desmatamento de grandes áreas de mata; passando pelo cultivo do algodão; por uma fase longa de predomínio das pastagens; e, mais recentemente, com a cultura da cana-de-açúcar. Atualmente as erosões estão mais concentradas nas áreas ocupadas por pastagens e de canade-açúcar, havendo também um avanço desses processos nos entornos das áreas de mata. Este trabalho tem por objetivo apresentar uma correlação entre as formas de uso e ocupação do solo e a ocorrência dos processos erosivos, com a finalidade de contribuir para a adequada gestão da Bacia, em suas ações regionais e locais, voltadas principalmente à proteção e manutenção da qualidade dos seus recursos hídricos. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A Bacia do rio do Peixe ou Unidade Hidrográfica de Gerenciamento dos Recursos Hídricos – UGRHI 21, pertence à região hidrográfica da Bacia do rio Paraná e está localizada na porção oeste do Estado de São Paulo. Limita-se ao norte com a Bacia do rio Aguapeí, ao Sul com a Bacia do rio Paranapanema, a Oeste com o rio Paraná e a leste com a Serra dos Agudos e a Serra do Mirante. Possui área de drenagem de 10.769 km2. O Rio do Peixe nasce na Serra dos Agudos, numa altitude de 670 metros e percorre uma extensão de 380 km quando desemboca no rio Paraná, a uma altitude de 240 m. Essa UGRHI é constituída por 26 municípios, cujas sedes estão compreendidas dentro da sua área, e onde estão assentados 453.749 habitantes. Destaca-se na Bacia, o município de Marília, como aquele economicamente mais importante (http://cbhap.org/ugrhi-21). Condicionantes do Meio Físico Em termos geológicos, a Bacia do rio do Peixe está inserida no Planalto Ocidental, compreendendo a Bacia Sedimentar do Paraná. Sabe-se que o substrato geológico condiciona fortemente os processos erosivos em decorrência da alteração das rochas e principalmente, das formações de solos de textura arenosa, altamente suscetíveis à erosão. Portanto, os mapas geológicos elaborados por IPT (1981a), na escala 1:1. 000.000; e por Perrotta et al. (2005), na escala 1:750.000; definiram compartimentos geológicogeotécnicos, com ênfase para os processos erosivos. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2 Predominam na UGRHI-21 as rochas sedimentares, de composição essencialmente arenosa, pertencentes ao Grupo Bauru, conforme definido por Fernandes (1998), a partir de diferenças petrográficas e estruturais, que são representadas pelas Formações Presidente Prudente, Vale do Rio do Peixe e Marília. Ocorrem também, arenitos do Grupo Caiuá constituído pelas Formações Rio Paraná e Santo Anastácio. Pequenas áreas de rochas básicas do Grupo São Bento, representado pela Formação Serra Geral. E, os Sedimentos/Depósitos Aluviais (argilas, siltes, areias e cascalhos), associados ás principais drenagens. As características do Grupo Bauru e Caiuá são condicionantes dos processos erosivos dos tipos laminar e linear, com raras manifestações de escorregamentos e quedas de blocos em locais de afloramentos de rochas sedimentares mais resistentes, associados a escarpas da Cuesta ou de planaltos interiores, como o de Marília, ou, ainda, em cortes de estradas. O substrato geológico condiciona fortemente os processos erosivos, uma vez que determina a natureza e a textura dos solos, formados a partir da alteração das rochas, bem como a posição e comportamento da água subterrânea, condicionando também o desenvolvimento das formas de relevo. Em relação às características do relevo regional da Bacia do rio do Peixe utilizou-se como referência o Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo, escala 1:1. 000.000 (IPT. 1981b). Dentre os principais sistemas de relevo definidos para o Planalto Ocidental Paulista (ALMEIDA, 1964) corresponde, geologicamente, aos derrames basálticos que cobrem as unidades sedimentares do final do ciclo de deposição da Bacia do Paraná e às coberturas sedimentares que, por sua vez, foram depositadas na Bacia do rio do Peixe, acima desses basaltos. As formas de relevo apresentam relações diretas com o desencadeamento dos processos erosivos, tanto no âmbito regional quanto local, diferenciando-se quanto ao comportamento de cada um dos compartimentos do relevo ante aos processos erosivos. A característica do relevo, tais como declividade, forma e comprimento do declive são as maiores potencializadoras de fenômenos erosivos, uma vez que as rampas são relativamente longas e inclinadas, e são frequentes as áreas de cabeceiras de drenagem e linhas preferencias de concentração do fluxo d'água O tamanho e a quantidade do material em suspensão arrastado pela água dependem do seu volume e da velocidade com que ela escorre e essa velocidade depende do comprimento de rampa (ou de vertente) e da declividade do terreno. Na Bacia, o relevo é predominantemente muito suave, ondulado, com longas vertentes retilíneas e convexas, de baixa declividade. Também ocorrem áreas com relevo mais enérgico, com colinas médias, morrotes; e ainda, na cabeceira do rio do Peixe, grandes áreas de relevo de escarpas. Estas formas de relevo são as maiores potencializadoras dos processos erosivos, (IPT, 1981b). Segundo Oliveira et al. (1999), as associações pedológicas que predominam na UGRHI-21, são classificadas como Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos e Eutróficos abrúpticos ou não, A moderado com textura arenosa/média e média em relevo suave ondulado e ondulado e Latossolos Vermelhos Distróficos A moderado textura média relevo plano e suave ondulado. Os Argissolos são solos que apresentam gradiente textural entre os horizontes A e B, tornando-os altamente suscetíveis a erosões. No geral, conclui-se que solos com textura arenosa apresentam maior erodibilidade devido ao fato de se desagregarem mais facilmente que os solos com textura argilosa e muito argilosa. Quanto à classificação pedológica, solos do tipo Argissolos são, geralmente, mais suscetíveis à erosão que o do tipo Latossolos, pois os Argissolos ocorrem principalmente em topografia mais movimentada que os Latossolos e, apresentam um horizonte B textural, com maior concentração de argila, que representa uma “barreira” para a infiltração das águas, favorecendo o escoamento e acelerando os processos erosivos. A distinção destes horizontes é muito importante, uma vez que os solos são classificados de acordo com a natureza de seus horizontes e das relações entre eles. Esses tipos de solos têm como características intrínsecas um alto potencial de erodibilidade e sendo assim, é XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3 necessário que a ocupação em áreas de sua ocorrência seja realizada de forma a prevenir a geração de processos erosivos, tendo-se o cuidado de evitar a exposição dos terrenos e a concentração das águas superficiais. Por outro lado, solos relativamente menos erodíveis, como os Latossolos argilosos, podem sofrer erosões de grande porte, desde que induzidas por elevadas concentrações de águas superficiais, sem dissipação de energia, até atingir o lençol freático, desencadeando as boçorocas. Os demais solos encontrados na área de estudo são de ocorrência muito restrita, destacando os Neossolos Quartzarênico (RQ11), Neossolos Flúvicos (RU2), Gleissolos Háplicos (GX10), Argissolos Vermelho-Amarelo (PV9) que ocorre a jusante da bacia do rio do Peixe apresentam potencialidade baixa na questão de processo erosivo. Processos Erosivos Lineares – Urbanos e Rurais A erosão corresponde ao processo de desgaste da superfície do terreno, desencadeado pelo escoamento da água superficial com caráter mais contínuo e gradativo, por meio da desagregação, transporte e deposição dos materiais alterados que compõem o solo (IPT, 2012). Os processos erosivos lineares resultam da ruptura do equilíbrio ambiental, quando ocorre uma transformação significativa da paisagem, iniciada com a retirada da cobertura vegetal para ceder lugar a outras formas de uso do solo. Esses processos se manifestam na forma de sulcos, ravinas e boçorocas. A ravina é um sulco profundo no solo provocado pela ação erosiva da água de escoamento superficial concentrado, e que não pode ser combatido pelos métodos simples de conservação do sol. As ravinas são feições de maior porte, profundidade variável, de forma alongada e não atingem o nível d’água subterrânea, onde atuam mecanismos de desprendimento de material dos taludes laterais e transporte de partículas do solo. São raras as ramificações e não atinge o lençol freático. Sua evolução ocorre de montante para jusante e o escoamento das águas pluviais só ocorre no seu interior e nos taludes, quando chove. As boçorocas representam a forma de erosão mais complexa e mais destrutiva no quadro evolutivo da erosão linear. São ocasionadas pela articulação entre erosão ocasionada por escoamento d’água superficial concentrado, e subsuperficial, com erosão interna (“piping”) provocada pela concentração de água do nível freático, que se caracteriza pelo avanço para o interior do solo na forma de tubos. Envolvem mecanismos complexos, associados ao fluxo da água superficial e subsuperficial que se infiltra no solo. Dessa forma, seu poder destrutivo local é superior ao das outras formas de erosão e, portanto, de mais difícil contenção. Possuem dimensões significativas, superiores às ravinas, e avançam a grande velocidade, por meio de ramificações que atingem edificações, estradas e obras públicas. O oeste paulista é a região mais afetada pelas erosões lineares no Estado de São Paulo. Partindo dessa premissa, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas realizou um levantamento das erosões lineares com ocorrência na área urbana e rural da Bacia do rio do Peixe. O levantamento realizado para a elaboração do mapa de feições erosivas (IPT, 2012) constituiu na identificação das erosões do tipo sulco/ravina e boçorocas, que se manifestam em toda a Bacia do rio do Peixe. As feições erosivas lineares (sulco/ravinas e boçorocas) foram identificadas por meio da interpretação de fotos aéreas da Empresa Paulista de planejamento Metropolitano SA Emplasa, na escala 1:8.000, do ano de 2010, e com auxilio de imagens do Google Pro. O inventário de processos de erosão se constitui em documento fundamental para a adequada gestão ambiental e territorial de áreas afetadas por processos erosivos acelerados (MORGAN, 1996), pois a intensificação do número de processos erosivos pode condicionar ou até mesmo impossibilitar a utilização da área para um determinado uso (FERREIRA, 2008). De acordo com Guimarães (2008), a produção do inventário das feições erosivas é fundamental para identificar XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4 todos os processos erosivos presentes na área de estudo, podendo assim definir o tipo (sulco/ravina e boçoroca) e as dimensões destas feições. Apesar da dificuldade de verificar a concentração de sulcos/ravina em campo, é notório que elas representem também os locais onde a erosão laminar é mais intensa. Os processos com incisões profundas, retilíneas e sem grandes irregularidades ou ramificações aparecem geralmente nas vertentes, perpendiculares ao eixo das drenagens; muitas vezes associados a estradas, trilhas de gado, carreadores e outros. As boçorocas são erosões de grande porte, profundas, irregulares e ramificadas e normalmente se localizam nas cabeceiras de drenagem. No fundo das boçorocas e nas saídas à jusante é comum uma tonalidade branca, refletindo o transporte intenso de sedimentos. Estas feições erosivas foram plotadas nas bases topográficas na escala 1:250.000, configurando o Mapa de Feições Erosivas Lineares, que retrata a distribuição das feições lineares na Bacia, indicando as regiões mais e menos sensíveis à ocorrência de tais processos e auxiliando na compreensão das relações entre erosão e as diferentes paisagens nas quais ocorrem. A concentração dos pontos de erosão de acordo com o mapa de erosão da Bacia do rio do Peixe está predominantemente inserida nas classes I – Muito Alta e classe II – Alta. Uso e Ocupação do Solo A dinâmica da ocupação no território paulista somada aos condicionantes naturais dos terrenos e às práticas inadequadas do uso do solo, contribuiu, ao longo do tempo, para o desencadeamento ou aceleração da ocorrência de processos do meio físico, entre os quais os processos erosivos lineares. Conforme Almeida (2002), as intervenções mais significativas e com maior abrangência em área foram iniciadas em meados do século XIX, com as atividades de mineração, que desbravaram o sertão paulista; e intensificadas com o desmatamento para a expansão da cafeicultura, cujo processo esteve associado à utilização de práticas agrícolas inadequadas. O resultado foi um processo de degradação dos solos, por meio da perda da fertilidade e da ocorrência de processos erosivos intensos, entre outros aspectos. Milliet (1946) mostra uma comparação entre produção de café e crescimento populacional, no período de 1836 a 1935, para sete zonas delimitadas (atendendo aos limites geográficos e naturais ou vias de penetração) no Estado de São Paulo, entre as quais a Zona Noroeste. A Zona Noroeste (denominada em razão da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil), na qual estava compreendida a Bacia do rio do Peixe, foi uma das últimas áreas a ser inserida na rota do café no Estado de São Paulo, quando teve então, sua vegetação desmatada para ceder lugar às plantações de café. Essa Zona apresenta registro de produção de café a partir de 1920, com 720.119 arrobas de café (3,27% da produção total do Estado), com população de 136.454 habitantes; e para 1935, uma de produção de 12.544.045 arrobas de café (23,97% da produção total do Estado), e população de 576.812 habitantes, correspondendo a crescimentos muito significativos. Esse caminho do café no Estado de São Paulo possibilitou a expansão das ferrovias, que conforme Milliet (1946) se instalavam atrás do café ou à sua frente; a vinda de grandes contingentes de migrantes; o desenvolvimento do comércio; e as cidades, que se erguiam e cresciam rapidamente (por exemplo, Marília), sem tempo suficiente para tomar pé. Até 1935, na região só existia o café. Com a crise, é o algodão que vai compensar a queda de preços do café. E em 1937, o algodão se destaca como principal produto da região, ao apresentar grandes safras e preços excelentes nos mercados internacionais. Posteriormente, na Bacia do rio do Peixe, houve predominância das áreas ocupadas por pastagens. De acordo com Chiarini et. al., (1976), em levantamento sobre as áreas agrícolas no Estado de São Paulo, no início da década de* 1970, as pastagens ocupavam 68,5% dos usos agrícolas na Bacia; as culturas temporárias 24,2%; e as culturas perenes 7,2%. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5 Em 1997, conforme relatório do Comitê de Bacia Hidrográfica do Aguapeí-Peixe (CBH-AP), o uso agrícola estava assim distribuído: pastagens 71%; culturas temporárias 11%; e culturas perenes 2%. Trivellato e Perez (2012), em função desses dados, constatam que há uma predominância histórica das pastagens nessa bacia hidrográfica, intensificando processos erosivos nos solos arenosos altamente propensos a tal fenômeno. E ainda, que o desmatamento é a causa primária para a degradação; seguido por atividades agrícolas inadequadas nas áreas rurais; aberturas de estradas vicinais; e expansão urbana. Esses usos alteram de maneira significativa o equilíbrio da paisagem na Bacia do rio do Peixe, resultando assim na ocorrência de feições erosivas, responsáveis pelo intenso assoreamento do rio e seus afluentes. Nas áreas urbanizadas dos municípios inseridos na Bacia do Peixe, destacam-se os setores de serviços e comércio que mantêm a economia regional, com exceção de Marília, considerada polo regional e onde se destacam as atividades industriais, principalmente do ramo alimentício. O município também é uma importante referência de ensino universitário. Mesmo ainda predominando a pecuária, já se evidencia uma significativa expansão da agroindústria da cana-deaçúcar (http://cbhap.org/publicacoes/relatorios/). Visando analisar a influência do uso do solo no desencadeamento ou aceleração dos processos erosivos, utilizou-se como referência o mapeamento elaborado pela Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental – CPLEA, da Secretaria de Meio Ambiente – SMA (SMA, 2009), na escala 1:50.000. Esse mapeamento foi realizado a partir de classificação supervisionada (semi-automática) de imagens do satélite IRS P6 (Resourcesat-1 IRS P6) fusionadas com as imagens do satélite LandSat 7 ETM +, com datas de passagens, de ambos os satélites, entre 2004 e 2005. Para este trabalho, os mapas produzidos pela CPLEA (2009), na escala 1:50.000, foram integrados com vistas a se obter uma visão regional e analisar a distribuição espacial das classes de uso na Bacia. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Bacia do Peixe é a que apresenta o maior número de processos erosivos lineares do tipo ravina e boçoroca, dentre as bacias hidrográficas do estado de São Paulo. O número total de pontos de erosão cadastrados foi de 6970, sendo 155 na área urbana e periurbana e 6815 na área rural. O Resultado do levantamento das feições erosivas foram 155 erosões lineares urbanas, sendo 70 ravinas e 85 boçorocas; e na área rural foram identificadas 6815 rurais, sendo 1457 ravinas e 5358 boçorocas. Conforme o mapa de uso e ocupação do solo do Estado de São Paulo (SMA/CPLEA, 2009), predominam as áreas ocupadas por pastagens e culturas (perenes, semi-perenes e temporárias), seguidas por áreas de matas. Consequentemente, são nessas classes de uso que se concentram a grande maioria dos pontos de erosão. A distribuição dos processos por classes de uso, mostra que 86,7% destes estão na classe de pastagem; 5,16% no entorno das áreas de mata; 4,85% nas áreas de cultura semi-perene; 1,32% nas áreas de cultura anual; 1% próximo aos cursos d’agua e mata ciliar; 0,74% nas áreas urbanas; e 0,23% nas áreas de cultura perene (Figura 1). A concentração desses processos nas áreas de pastagens está associada ao processo de expansão da cultura cafeeira, no qual a Bacia passou, com intenso desmatamento para ceder lugar a esse cultivo, e que ao final desse ciclo se transformaram em pastagens ou de campo; posteriormente com a introdução de novas culturas, com destaque a cana-de-açúcar, ocorreram novos processos, decorrentes do intenso manejo do solo e da falta de práticas agrícolas adequadas; e nas áreas de entorno das matas, que correspondem a uma pressão sobre essas áreas em função de novos usos. Com base nesses dados, observa-se que são urgentes e necessárias ações de combate à erosão urbana e rural, que possam ser priorizadas ao nível preventivo e corretivo, para reverter ou reduzir esse quadro de degradação do solo na Bacia e seus impactos sobre os recursos hídricos. A ocupação agrícola deve considerar a capacidade de uso das terras e adotar práticas conservacionistas XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6 adequadas; realizar mapeamento para recuperação e preservação da vegetação ciliar; a expansão urbana deve ser planejada e embasada em instrumentos técnicos que considerem os aspectos do meio físico e as restrições legais, e deve ser executada com os devidos critérios. CONSIDERAÇÕES FINAIS As diferentes formas de ocupação, quando não implementadas adequadamente, exercem influência no desencadeamento dos processos erosivos (produção, transporte e deposição de sedimentos), que resultam no assoreamento dos corpos d’água e geram impactos nos recursos hídricos. Entende-se que os processos do meio físico podem ser desencadeados e acelerados pela ação antrópica em diferentes formas e intensidades. A caracterização e análise do uso e ocupação do solo permitem identificar as alterações impostas e os problemas desencadeados no território, subsidiando o planejamento e a gestão, a partir da previsão do comportamento dos terrenos (em suas condições naturais e as solicitações de uso) e prever a ocorrência ou intensificação dos processos erosivos e suas consequências. Os impactos dos processos erosivos nos recursos hídricos, nas áreas urbanas e rurais, se dão principalmente pelo aporte de sedimentos aos corpos d’água. As principais consequências são: perda de volume total de água dos reservatórios; diminuição das zonas de recarga dos aquíferos; problemas operacionais nas usinas; aumento das taxas de erosão e dos locais atingidos por enchentes nas áreas marginais; comprometimento da navegabilidade dos canais; perda de qualidade das águas por turbidez e por veiculação de poluentes pelos sedimentos em suspensão; comprometimento da piscicultura e dos habitats aquáticos e outros. Figura 1 – Pontos de erosão por classes de uso e ocupação do solo na Bacia. REFERÊNCIAS ALMEIDA, F.F.M. de (1964) Fundamentos geológicos do relevo paulista. Boletim Instituto Geológico, São Paulo, (41), p. 169-263. ALMEIDA, M. C. J. Abordagem do uso do solo nas alterações de processos do meio físico. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002. 167p. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7 ALMEIDA, M. C. 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