- Evolvedoc

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PROCESSOS EROSIVOS LINEARES E USO DO SOLO NA BACIA DO
RIO DO PEIXE - SP.
Maria Cristina Jacinto de Almeida1; Gerson Salviano de Almeida Filho;2*; Tatiane Brasil de
Freitas3
Resumo – Este trabalho apresenta uma correlação entre os processos erosivos lineares, dos
tipos ravina e boçoroca, cadastrados na Bacia Hidrográfica do rio do Peixe, visando contribuir
para a adequada gestão da Bacia, em suas ações regionais e locais, voltadas principalmente à
proteção e manutenção da qualidade dos seus recursos hídricos. A Bacia do rio do Peixe está
localizada na porção oeste do Estado de São Paulo, com uma área de drenagem de 10.769
km2, e constitui aquela com os mais graves processos erosivos lineares, dentre as bacias
hidrográficas do Estado de São Paulo. Em levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas, foram cadastradas as erosões lineares com ocorrência na área urbana e rural da
Bacia do rio do Peixe, num total de 6970 pontos de erosão, sendo 155 na área urbana e
periurbana e 6815 na área rural. Separando-se por tipo de erosão, obteve-se: erosões lineares
urbanas, sendo 70 ravinas e 85 boçorocas; e na área rural foram identificadas 1457 ravinas e
5358 boçorocas. A evolução do uso do solo na Bacia se caracterizou pela expansão da cultura
cafeeira; pelo cultivo do algodão; por uma fase longa de predomínio das pastagens; e, mais
recentemente, destaca-se a cultura da cana-de-açúcar. Atualmente as erosões estão mais
concentradas nas áreas ocupadas por pastagens e de cana-de-açúcar, havendo também um
avanço desses processos nos entornos das áreas de mata.
Palavras-Chave – Uso do Solo; Processos Erosivos; Bacia do rio do Peixe.
EROSIVE PROCESSES AND LAND USE IN THE BASIN OF THE RIO
DO PEIXE - SP.
Abstract - This paper presents a correlation between linear erosion processes, registered in
the Rio do Peixe Hydrographic Basin, aiming to contribute to the proper management of the
Basin, in its regional and local actions, especially for protecting and maintaining the quality of
its water resources. The Rio do Peixe basin is located in the western portion of the state of São
Paulo, with a 10.769 km2 drainage area, and is the one with the most serious linear erosion
processes, of ravine and gully types, among the hydrographic basins of the state of São Paulo.
In a survey conducted by the Institute for Technological Research, were registered linear
erosion occurring in urban and rural areas of the Rio do Peixe basin, in a total of 6.970 points
of erosion, 155 of which in urban and peri-urban areas and 6.815 in rural areas. Separating by
type of erosion, were obtained: 155 urban linear erosions, 70 ravines and 85 gullies; and in the
rural area 6.815 erosions have been identified, 1.457 ravines and 5.358 gullies. The evolution
of land use in the basin was characterized by the expansion of the coffee culture; the
cultivation of cotton; for a long period of dominance of pastures; and, more recently, there is
the culture of sugarcane. Currently erosions are more concentrated in the areas occupied by
pastures and sugarcane; there is also an improvement of these processes in the surroundings
of the forest areas.
Keywords - Land Use; Erosion; Basin of the Rio do Peixe
1
Geógrafa - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT. E-mail: [email protected].
Tecnólogo Civil - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT. E-mail: [email protected]
3
Bolsista Geografia - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT. E-mail: [email protected]
2
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1. INTRODUÇÃO
A Bacia do rio do Peixe está localizada na porção oeste do Estado de São Paulo, com uma
área de drenagem de 10.769 km2. Dentre as bacias hidrográficas do Estado de São Paulo, constitui
aquela com os mais graves processos erosivos lineares, dos tipos ravina e boçoroca.
A ocorrência desses processos na Bacia está associada à gestão inadequada do uso e ocupação
do solo, tanto na área rural quanto na urbana, que desencadeia e intensifica o desenvolvimento
desses processos, configurando um quadro crítico de degradação. Essa situação produz uma grande
quantidade de sedimentos que contribuem para o assoreamento dos cursos d’água, principalmente
do rio do Peixe e seus afluentes.
No Estado de São Paulo, a erosão, vem gerando prejuízos na área rural e urbana, por meio da
perda solos agricultáveis, danos a obras de infraestrutura e interferência na qualidade e quantidade
dos recursos hídricos, entre outros, além das perdas econômicas e sociais.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2012), cadastrou as erosões lineares com
ocorrência na área urbana e rural da Bacia do rio do Peixe e obteve um total de 6970 pontos de
erosão, sendo 155 na área urbana e periurbana e 6815 na área rural. Separando-se por tipo de
erosão, obteve-se: na área urbana, 70 ravinas e 85 boçorocas; e na área rural, 1457 ravinas e 5358
boçorocas.
Esses processos se formaram ao longo do tempo, e se iniciaram com a inserção da Bacia do
rio do Peixe na rota de expansão da cultura cafeeira no Estado de São Paulo, com o desmatamento
de grandes áreas de mata; passando pelo cultivo do algodão; por uma fase longa de predomínio das
pastagens; e, mais recentemente, com a cultura da cana-de-açúcar.
Atualmente as erosões estão mais concentradas nas áreas ocupadas por pastagens e de canade-açúcar, havendo também um avanço desses processos nos entornos das áreas de mata.
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma correlação entre as formas de uso e ocupação
do solo e a ocorrência dos processos erosivos, com a finalidade de contribuir para a adequada
gestão da Bacia, em suas ações regionais e locais, voltadas principalmente à proteção e manutenção
da qualidade dos seus recursos hídricos.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A Bacia do rio do Peixe ou Unidade Hidrográfica de Gerenciamento dos Recursos Hídricos –
UGRHI 21, pertence à região hidrográfica da Bacia do rio Paraná e está localizada na porção oeste
do Estado de São Paulo. Limita-se ao norte com a Bacia do rio Aguapeí, ao Sul com a Bacia do rio
Paranapanema, a Oeste com o rio Paraná e a leste com a Serra dos Agudos e a Serra do Mirante.
Possui área de drenagem de 10.769 km2. O Rio do Peixe nasce na Serra dos Agudos, numa altitude
de 670 metros e percorre uma extensão de 380 km quando desemboca no rio Paraná, a uma altitude
de 240 m. Essa UGRHI é constituída por 26 municípios, cujas sedes estão compreendidas dentro da
sua área, e onde estão assentados 453.749 habitantes. Destaca-se na Bacia, o município de Marília,
como aquele economicamente mais importante (http://cbhap.org/ugrhi-21).
Condicionantes do Meio Físico
Em termos geológicos, a Bacia do rio do Peixe está inserida no Planalto Ocidental,
compreendendo a Bacia Sedimentar do Paraná.
Sabe-se que o substrato geológico condiciona fortemente os processos erosivos em
decorrência da alteração das rochas e principalmente, das formações de solos de textura arenosa,
altamente suscetíveis à erosão. Portanto, os mapas geológicos elaborados por IPT (1981a), na escala
1:1. 000.000; e por Perrotta et al. (2005), na escala 1:750.000; definiram compartimentos geológicogeotécnicos, com ênfase para os processos erosivos.
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Predominam na UGRHI-21 as rochas sedimentares, de composição essencialmente arenosa,
pertencentes ao Grupo Bauru, conforme definido por Fernandes (1998), a partir de diferenças
petrográficas e estruturais, que são representadas pelas Formações Presidente Prudente, Vale do Rio
do Peixe e Marília. Ocorrem também, arenitos do Grupo Caiuá constituído pelas Formações Rio
Paraná e Santo Anastácio. Pequenas áreas de rochas básicas do Grupo São Bento, representado pela
Formação Serra Geral. E, os Sedimentos/Depósitos Aluviais (argilas, siltes, areias e cascalhos),
associados ás principais drenagens. As características do Grupo Bauru e Caiuá são condicionantes
dos processos erosivos dos tipos laminar e linear, com raras manifestações de escorregamentos e
quedas de blocos em locais de afloramentos de rochas sedimentares mais resistentes, associados a
escarpas da Cuesta ou de planaltos interiores, como o de Marília, ou, ainda, em cortes de estradas. O
substrato geológico condiciona fortemente os processos erosivos, uma vez que determina a natureza
e a textura dos solos, formados a partir da alteração das rochas, bem como a posição e
comportamento da água subterrânea, condicionando também o desenvolvimento das formas de
relevo.
Em relação às características do relevo regional da Bacia do rio do Peixe utilizou-se como
referência o Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo, escala 1:1. 000.000 (IPT. 1981b).
Dentre os principais sistemas de relevo definidos para o Planalto Ocidental Paulista (ALMEIDA,
1964) corresponde, geologicamente, aos derrames basálticos que cobrem as unidades sedimentares
do final do ciclo de deposição da Bacia do Paraná e às coberturas sedimentares que, por sua vez,
foram depositadas na Bacia do rio do Peixe, acima desses basaltos.
As formas de relevo apresentam relações diretas com o desencadeamento dos processos
erosivos, tanto no âmbito regional quanto local, diferenciando-se quanto ao comportamento de cada
um dos compartimentos do relevo ante aos processos erosivos. A característica do relevo, tais como
declividade, forma e comprimento do declive são as maiores potencializadoras de fenômenos
erosivos, uma vez que as rampas são relativamente longas e inclinadas, e são frequentes as áreas de
cabeceiras de drenagem e linhas preferencias de concentração do fluxo d'água O tamanho e a
quantidade do material em suspensão arrastado pela água dependem do seu volume e da velocidade
com que ela escorre e essa velocidade depende do comprimento de rampa (ou de vertente) e da
declividade do terreno.
Na Bacia, o relevo é predominantemente muito suave, ondulado, com longas vertentes
retilíneas e convexas, de baixa declividade. Também ocorrem áreas com relevo mais enérgico, com
colinas médias, morrotes; e ainda, na cabeceira do rio do Peixe, grandes áreas de relevo de escarpas.
Estas formas de relevo são as maiores potencializadoras dos processos erosivos, (IPT, 1981b).
Segundo Oliveira et al. (1999), as associações pedológicas que predominam na UGRHI-21,
são classificadas como Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos e Eutróficos abrúpticos ou não,
A moderado com textura arenosa/média e média em relevo suave ondulado e ondulado e Latossolos
Vermelhos Distróficos A moderado textura média relevo plano e suave ondulado. Os Argissolos são
solos que apresentam gradiente textural entre os horizontes A e B, tornando-os altamente
suscetíveis a erosões.
No geral, conclui-se que solos com textura arenosa apresentam maior erodibilidade devido ao
fato de se desagregarem mais facilmente que os solos com textura argilosa e muito argilosa. Quanto
à classificação pedológica, solos do tipo Argissolos são, geralmente, mais suscetíveis à erosão que o
do tipo Latossolos, pois os Argissolos ocorrem principalmente em topografia mais movimentada
que os Latossolos e, apresentam um horizonte B textural, com maior concentração de argila, que
representa uma “barreira” para a infiltração das águas, favorecendo o escoamento e acelerando os
processos erosivos. A distinção destes horizontes é muito importante, uma vez que os solos são
classificados de acordo com a natureza de seus horizontes e das relações entre eles. Esses tipos de
solos têm como características intrínsecas um alto potencial de erodibilidade e sendo assim, é
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necessário que a ocupação em áreas de sua ocorrência seja realizada de forma a prevenir a geração
de processos erosivos, tendo-se o cuidado de evitar a exposição dos terrenos e a concentração das
águas superficiais. Por outro lado, solos relativamente menos erodíveis, como os Latossolos
argilosos, podem sofrer erosões de grande porte, desde que induzidas por elevadas concentrações de
águas superficiais, sem dissipação de energia, até atingir o lençol freático, desencadeando as
boçorocas.
Os demais solos encontrados na área de estudo são de ocorrência muito restrita, destacando os
Neossolos Quartzarênico (RQ11), Neossolos Flúvicos (RU2), Gleissolos Háplicos (GX10),
Argissolos Vermelho-Amarelo (PV9) que ocorre a jusante da bacia do rio do Peixe apresentam
potencialidade baixa na questão de processo erosivo.
Processos Erosivos Lineares – Urbanos e Rurais
A erosão corresponde ao processo de desgaste da superfície do terreno, desencadeado pelo
escoamento da água superficial com caráter mais contínuo e gradativo, por meio da desagregação,
transporte e deposição dos materiais alterados que compõem o solo (IPT, 2012).
Os processos erosivos lineares resultam da ruptura do equilíbrio ambiental, quando ocorre
uma transformação significativa da paisagem, iniciada com a retirada da cobertura vegetal para
ceder lugar a outras formas de uso do solo. Esses processos se manifestam na forma de sulcos,
ravinas e boçorocas.
A ravina é um sulco profundo no solo provocado pela ação erosiva da água de escoamento
superficial concentrado, e que não pode ser combatido pelos métodos simples de conservação do
sol. As ravinas são feições de maior porte, profundidade variável, de forma alongada e não atingem
o nível d’água subterrânea, onde atuam mecanismos de desprendimento de material dos taludes
laterais e transporte de partículas do solo. São raras as ramificações e não atinge o lençol freático.
Sua evolução ocorre de montante para jusante e o escoamento das águas pluviais só ocorre no seu
interior e nos taludes, quando chove.
As boçorocas representam a forma de erosão mais complexa e mais destrutiva no quadro
evolutivo da erosão linear. São ocasionadas pela articulação entre erosão ocasionada por
escoamento d’água superficial concentrado, e subsuperficial, com erosão interna (“piping”)
provocada pela concentração de água do nível freático, que se caracteriza pelo avanço para o
interior do solo na forma de tubos. Envolvem mecanismos complexos, associados ao fluxo da água
superficial e subsuperficial que se infiltra no solo. Dessa forma, seu poder destrutivo local é
superior ao das outras formas de erosão e, portanto, de mais difícil contenção. Possuem dimensões
significativas, superiores às ravinas, e avançam a grande velocidade, por meio de ramificações que
atingem edificações, estradas e obras públicas.
O oeste paulista é a região mais afetada pelas erosões lineares no Estado de São Paulo.
Partindo dessa premissa, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas realizou um levantamento das
erosões lineares com ocorrência na área urbana e rural da Bacia do rio do Peixe.
O levantamento realizado para a elaboração do mapa de feições erosivas (IPT, 2012)
constituiu na identificação das erosões do tipo sulco/ravina e boçorocas, que se manifestam em toda
a Bacia do rio do Peixe. As feições erosivas lineares (sulco/ravinas e boçorocas) foram identificadas
por meio da interpretação de fotos aéreas da Empresa Paulista de planejamento Metropolitano SA Emplasa, na escala 1:8.000, do ano de 2010, e com auxilio de imagens do Google Pro.
O inventário de processos de erosão se constitui em documento fundamental para a adequada
gestão ambiental e territorial de áreas afetadas por processos erosivos acelerados (MORGAN,
1996), pois a intensificação do número de processos erosivos pode condicionar ou até mesmo
impossibilitar a utilização da área para um determinado uso (FERREIRA, 2008). De acordo com
Guimarães (2008), a produção do inventário das feições erosivas é fundamental para identificar
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todos os processos erosivos presentes na área de estudo, podendo assim definir o tipo (sulco/ravina
e boçoroca) e as dimensões destas feições.
Apesar da dificuldade de verificar a concentração de sulcos/ravina em campo, é notório que
elas representem também os locais onde a erosão laminar é mais intensa. Os processos com incisões
profundas, retilíneas e sem grandes irregularidades ou ramificações aparecem geralmente nas
vertentes, perpendiculares ao eixo das drenagens; muitas vezes associados a estradas, trilhas de
gado, carreadores e outros. As boçorocas são erosões de grande porte, profundas, irregulares e
ramificadas e normalmente se localizam nas cabeceiras de drenagem. No fundo das boçorocas e nas
saídas à jusante é comum uma tonalidade branca, refletindo o transporte intenso de sedimentos.
Estas feições erosivas foram plotadas nas bases topográficas na escala 1:250.000,
configurando o Mapa de Feições Erosivas Lineares, que retrata a distribuição das feições lineares na
Bacia, indicando as regiões mais e menos sensíveis à ocorrência de tais processos e auxiliando na
compreensão das relações entre erosão e as diferentes paisagens nas quais ocorrem. A concentração
dos pontos de erosão de acordo com o mapa de erosão da Bacia do rio do Peixe está
predominantemente inserida nas classes I – Muito Alta e classe II – Alta.
Uso e Ocupação do Solo
A dinâmica da ocupação no território paulista somada aos condicionantes naturais dos
terrenos e às práticas inadequadas do uso do solo, contribuiu, ao longo do tempo, para o
desencadeamento ou aceleração da ocorrência de processos do meio físico, entre os quais os
processos erosivos lineares.
Conforme Almeida (2002), as intervenções mais significativas e com maior abrangência em
área foram iniciadas em meados do século XIX, com as atividades de mineração, que desbravaram
o sertão paulista; e intensificadas com o desmatamento para a expansão da cafeicultura, cujo
processo esteve associado à utilização de práticas agrícolas inadequadas. O resultado foi um
processo de degradação dos solos, por meio da perda da fertilidade e da ocorrência de processos
erosivos intensos, entre outros aspectos.
Milliet (1946) mostra uma comparação entre produção de café e crescimento populacional, no
período de 1836 a 1935, para sete zonas delimitadas (atendendo aos limites geográficos e naturais
ou vias de penetração) no Estado de São Paulo, entre as quais a Zona Noroeste.
A Zona Noroeste (denominada em razão da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil), na qual
estava compreendida a Bacia do rio do Peixe, foi uma das últimas áreas a ser inserida na rota do
café no Estado de São Paulo, quando teve então, sua vegetação desmatada para ceder lugar às
plantações de café. Essa Zona apresenta registro de produção de café a partir de 1920, com 720.119
arrobas de café (3,27% da produção total do Estado), com população de 136.454 habitantes; e para
1935, uma de produção de 12.544.045 arrobas de café (23,97% da produção total do Estado), e
população de 576.812 habitantes, correspondendo a crescimentos muito significativos.
Esse caminho do café no Estado de São Paulo possibilitou a expansão das ferrovias, que
conforme Milliet (1946) se instalavam atrás do café ou à sua frente; a vinda de grandes
contingentes de migrantes; o desenvolvimento do comércio; e as cidades, que se erguiam e cresciam
rapidamente (por exemplo, Marília), sem tempo suficiente para tomar pé.
Até 1935, na região só existia o café. Com a crise, é o algodão que vai compensar a queda de
preços do café. E em 1937, o algodão se destaca como principal produto da região, ao apresentar
grandes safras e preços excelentes nos mercados internacionais.
Posteriormente, na Bacia do rio do Peixe, houve predominância das áreas ocupadas por
pastagens. De acordo com Chiarini et. al., (1976), em levantamento sobre as áreas agrícolas no
Estado de São Paulo, no início da década de* 1970, as pastagens ocupavam 68,5% dos usos
agrícolas na Bacia; as culturas temporárias 24,2%; e as culturas perenes 7,2%.
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Em 1997, conforme relatório do Comitê de Bacia Hidrográfica do Aguapeí-Peixe (CBH-AP),
o uso agrícola estava assim distribuído: pastagens 71%; culturas temporárias 11%; e culturas
perenes 2%. Trivellato e Perez (2012), em função desses dados, constatam que há uma
predominância histórica das pastagens nessa bacia hidrográfica, intensificando processos erosivos
nos solos arenosos altamente propensos a tal fenômeno. E ainda, que o desmatamento é a causa
primária para a degradação; seguido por atividades agrícolas inadequadas nas áreas rurais; aberturas de
estradas vicinais; e expansão urbana. Esses usos alteram de maneira significativa o equilíbrio da paisagem na
Bacia do rio do Peixe, resultando assim na ocorrência de feições erosivas, responsáveis pelo intenso
assoreamento do rio e seus afluentes.
Nas áreas urbanizadas dos municípios inseridos na Bacia do Peixe, destacam-se os setores de
serviços e comércio que mantêm a economia regional, com exceção de Marília, considerada polo
regional e onde se destacam as atividades industriais, principalmente do ramo alimentício. O
município também é uma importante referência de ensino universitário. Mesmo ainda
predominando a pecuária, já se evidencia uma significativa expansão da agroindústria da cana-deaçúcar (http://cbhap.org/publicacoes/relatorios/).
Visando analisar a influência do uso do solo no desencadeamento ou aceleração dos processos
erosivos, utilizou-se como referência o mapeamento elaborado pela Coordenadoria de Planejamento
Ambiental Estratégico e Educação Ambiental – CPLEA, da Secretaria de Meio Ambiente – SMA
(SMA, 2009), na escala 1:50.000. Esse mapeamento foi realizado a partir de classificação
supervisionada (semi-automática) de imagens do satélite IRS P6 (Resourcesat-1 IRS P6) fusionadas
com as imagens do satélite LandSat 7 ETM +, com datas de passagens, de ambos os satélites, entre
2004 e 2005. Para este trabalho, os mapas produzidos pela CPLEA (2009), na escala 1:50.000,
foram integrados com vistas a se obter uma visão regional e analisar a distribuição espacial das
classes de uso na Bacia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Bacia do Peixe é a que apresenta o maior número de processos erosivos lineares do tipo
ravina e boçoroca, dentre as bacias hidrográficas do estado de São Paulo. O número total de pontos
de erosão cadastrados foi de 6970, sendo 155 na área urbana e periurbana e 6815 na área rural.
O Resultado do levantamento das feições erosivas foram 155 erosões lineares urbanas, sendo
70 ravinas e 85 boçorocas; e na área rural foram identificadas 6815 rurais, sendo 1457 ravinas e
5358 boçorocas.
Conforme o mapa de uso e ocupação do solo do Estado de São Paulo (SMA/CPLEA, 2009),
predominam as áreas ocupadas por pastagens e culturas (perenes, semi-perenes e temporárias),
seguidas por áreas de matas. Consequentemente, são nessas classes de uso que se concentram a
grande maioria dos pontos de erosão. A distribuição dos processos por classes de uso, mostra que
86,7% destes estão na classe de pastagem; 5,16% no entorno das áreas de mata; 4,85% nas áreas de
cultura semi-perene; 1,32% nas áreas de cultura anual; 1% próximo aos cursos d’agua e mata ciliar;
0,74% nas áreas urbanas; e 0,23% nas áreas de cultura perene (Figura 1).
A concentração desses processos nas áreas de pastagens está associada ao processo de
expansão da cultura cafeeira, no qual a Bacia passou, com intenso desmatamento para ceder lugar a
esse cultivo, e que ao final desse ciclo se transformaram em pastagens ou de campo; posteriormente
com a introdução de novas culturas, com destaque a cana-de-açúcar, ocorreram novos processos,
decorrentes do intenso manejo do solo e da falta de práticas agrícolas adequadas; e nas áreas de
entorno das matas, que correspondem a uma pressão sobre essas áreas em função de novos usos.
Com base nesses dados, observa-se que são urgentes e necessárias ações de combate à erosão
urbana e rural, que possam ser priorizadas ao nível preventivo e corretivo, para reverter ou reduzir
esse quadro de degradação do solo na Bacia e seus impactos sobre os recursos hídricos. A ocupação
agrícola deve considerar a capacidade de uso das terras e adotar práticas conservacionistas
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adequadas; realizar mapeamento para recuperação e preservação da vegetação ciliar; a expansão
urbana deve ser planejada e embasada em instrumentos técnicos que considerem os aspectos do
meio físico e as restrições legais, e deve ser executada com os devidos critérios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes formas de ocupação, quando não implementadas adequadamente, exercem
influência no desencadeamento dos processos erosivos (produção, transporte e deposição de
sedimentos), que resultam no assoreamento dos corpos d’água e geram impactos nos recursos
hídricos. Entende-se que os processos do meio físico podem ser desencadeados e acelerados pela
ação antrópica em diferentes formas e intensidades. A caracterização e análise do uso e ocupação do
solo permitem identificar as alterações impostas e os problemas desencadeados no território,
subsidiando o planejamento e a gestão, a partir da previsão do comportamento dos terrenos (em
suas condições naturais e as solicitações de uso) e prever a ocorrência ou intensificação dos
processos erosivos e suas consequências. Os impactos dos processos erosivos nos recursos hídricos,
nas áreas urbanas e rurais, se dão principalmente pelo aporte de sedimentos aos corpos d’água. As
principais consequências são: perda de volume total de água dos reservatórios; diminuição das zonas
de recarga dos aquíferos; problemas operacionais nas usinas; aumento das taxas de erosão e dos locais
atingidos por enchentes nas áreas marginais; comprometimento da navegabilidade dos canais; perda de
qualidade das águas por turbidez e por veiculação de poluentes pelos sedimentos em suspensão;
comprometimento da piscicultura e dos habitats aquáticos e outros.
Figura 1 – Pontos de erosão por classes de uso e ocupação do solo na Bacia.
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