Edézio Teixeira de Carvalho. Telfax (31) 3262 2722; 3221 0325; [email protected] O condomínio da transposição GC189 O Brasil fez transposições. São exemplos a do Tietê para Cubatão, a do Pium-hi para o São Francisco; a maior vazão desviada é a do Paraíba do Sul (180 m3/s) transpondo a serra do Mar para produzir energia e abastecer o Grande Rio (44m3/s). A RMBH conhece transposições, como a da adutora do rio das Velhas). Em 1841, concluiu-se em São Paulo pequena derivação fluvial: para cortar trajeto de navegação, abriu-se canal na restinga que separava o rio Ribeira do mar Pequeno. Tinha dimensões modestas, raso, funcionando só na maré alta, e 20 metros de largura. Passaria apenas a água necessária à navegação, mas a erosão a que deu início acabou por levar quase todo o rio e o canal, atualmente chamado Valo Grande, alargou-se por erosão das margens para mais de 300 metros, a profundidade para mais de 10 metros e a cidade de Iguape perdeu muito, com o porto assoreado. É caso de cidade quase inviabilizada por erosão antrópica. O impacto ambiental, com graves repercussões econômicas, é imenso. 180 anos depois da aventura do Valo Grande, a transposição de parte das águas do São Francisco certamente não provocará efeito semelhante, mas poderá ter conseqüências negativas bem maiores pelo vulto das obras envolvidas. Dentre impactos econômicos, ambientais e sociais dessa transposição são previstos, a título de exemplo: Frustração de proprietários pretendentes a futuros pedidos de outorga de água para irrigação na bacia cedente pelo comprometimento da vazão de operação; geração de discórdia entre residentes na bacia cedente e nas receptoras; frustração de residentes nas bacias receptoras quando ficar claro que não serão de fato beneficiados pela solução adotada em comparação com alternativas menos dispendiosas e de maior penetratividade. O projeto é dimensionado para a vazão de 127 m3/s, mas funcionará com 26 m3/s e com 127 m3/s quando o reservatório de Sobradinho estiver cheio, o que ocorre uma vez a cada 8 anos. Então cabe a reflexão: Faz-se edifício de 127 andares, mas apenas 26 serão ocupados permanentemente. É claro que esses 26 andares responderão pela taxa integral de condomínio para pagar a operação básica, mais os custos financeiros da obra (mínimo de 12% ao ano). E a amortização? Fica por conta da Viúva, da qual a maioria dos filhos reside do Oiapoque ao Chuí; outros na bacia, em parte prejudicados em sua economia particular; outros enfim estarão frustrados e endividados ao invés de sentir-se de fato beneficiados. Belo Horizonte, 02/02/2005 Edézio Teixeira de Carvalho – Geólogo