Mestrado em Engenharia Ambiental Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental DISSERTAÇÃO CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E MOLECULAR DE BACTÉRIAS REDUTORAS DE SULFATO ISOLADAS NA RPPN DO CARAÇA, MG AUTOR: IVAN CEZARINI PATRÍCIO OURO PRETO, MG 2009 Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós-Graduação Engenharia Ambiental Mestrado em Engenharia Ambiental Ivan Cezarini Patrício “CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E MOLECULAR DE BACTÉRIAS REDUTORAS DE SULFATO ISOLADAS NA RPPN DO CARAÇA, MG” Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título: “Mestre em Engenharia Ambiental – Área de Concentração: Saneamento Ambiental” Orientadora: Profa. Dra.. Maria Célia da Silva Lanna Co-Orientadora: Profa. Dra.. Silvana de Queiroz Silva Ouro Preto, MG 2009 P314c Patrício, Ivan Cezarini. Caracterização bioquímica e molecular de bactérias redutoras de sulfato isoladas na RPPN do Caraça, MG [manuscrito] / Ivan Cezarini Patrício. - 2009. xi, 89f. : il., graf., tabs. Orientadora: Profa. Dra. Maria Célia da Silva Lanna. Co-orientadora: Profa. Dra. Silvana de Queiroz Silva. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Mestrado em Engenharia Ambiental. Área de concentração: Saneamento Ambiental. 1. Sulfatos - Teses. 2. Biorremediação - Teses. 3. Bioquímica molecular Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título. CDU: 577(815.1) Catalogação: [email protected] AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho contou com a ajuda de várias pessoas, tanto de maneira direta quanto indiretamente, aos quais agradeço: - Em primeiro lugar meus pais e familiares, que sempre me apoiaram para a continuidade de meus estudos desde o meu ingresso na universidade; - Ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental – ProAgua – e seus coordenadores, professores e funcionários pela oportunidade de realizar o presente trabalho; - Ao programa de bolsas da CAPES e ao PRODOC-CAPES que forneceram recursos sem os quais a minha estadia na instituição e realização do trabalho não seriam possíveis; - À Profa. Dra. Maria Célia da Silva Lanna, que me concedeu a possibilidade de confeccionar este projeto no Laboratório de Microbiologia do ICEB-UFOP além com os meios necessários à realização do mesmo; - À Profa. Dra. Silvana de Queiroz Silva, que como minha co-orientadora deu importantes contribuições para a realização do trabalho; - Ao Profo. Dr. Hubert Mathias Peter Roeser e seus alunos e pesquisadores do DEGEO, que realizaram a coleta das amostras utilizadas neste trabalho, além de fornecer ajuda necessária á sua confecção; - A Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – e seus professores e técnicos que forneceram apoio á confecção do trabalho; - Aos professores, técnicos, estagiários, bolsistas e mestrandos que atualmente fazem parte, ou mesmo já fizeram, do Laboratório de Microbiologia do ICEB cuja ajuda na confecção dos experimentos e apoio foram imprescindíveis para o término do trabalho; - Aos estudantes do Laboratório de Microscopia e Microanálise (Microlab) do Departamento de Geologia da UFOP (DEGEO), pela disponibilidade para realização das análises; - Aos meus grandes amigos da República DNA, da qual fui morador, que sempre me apoiaram de várias formas e com os quais sempre pude contar. II SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 12 1.1 Objetivo Geral ........................................................................................................ 14 1.2 Objetivos Específicos ............................................................................................. 14 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 15 2.1 Classificação Taxonômica e Caracterização dos Grupos de BRS ..................... 15 2.2 Distribuição e Ecologia dos Grupos de BRS ....................................................... 18 2.3 Bioquímica e Fisiologia das Bactérias Redutoras de Sulfato ............................. 20 2.4 Utilização das BRS para Imobilização de Metais e Biorremediação ................ 23 2.5 Estudo de BRS em Biorreatores ........................................................................... 27 2.6 BRS Associadas à Biocorrosão ............................................................................. 30 3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 33 3.1 Área de Estudo e de Amostragem ........................................................................ 33 3.2 Cultivo Inicial das Amostras................................................................................. 34 3.3 Isolamento das Culturas Puras de Bactérias Redutoras de Sulfato.................. 35 3.4 Caracterização dos Isolados Obtidos ................................................................... 36 3.4.1 Caracterização Morfológica ................................................................................... 36 3.4.2 Caracterização Bioquímica Visando a Identificação Taxonômica ...................... 37 3.4.3 Caracterização Bioquímica Visando a Identificação de Processos ...................... 38 3.4.4 Caracterização Taxonômica Presuntiva dos Isolados ........................................... 39 3.4.5 Caracterização Molecular dos Isolados ................................................................. 39 3.5 Métodos para Escolha de Linhagens para Testes Fisiológicos .......................... 40 3.5.1 Determinação do Tempo de Redução de Sulfato em Relação ao pH ................... 41 3.5.2 Determinação do Número de Células dos Isolados após Redução de Sulfato em Diferentes Valores de pH ................................................................................................... 41 3.6 Determinação das Curvas de Crescimento e Tempo de Geração dos Isolados 42 3.7 Quantificação do Consumo de Sulfato pelos Isolados ........................................ 44 3.8 Quantificação da Produção de Sulfeto pelos Isolados ........................................ 45 4 RESULTADOS ...................................................................................................... 46 III 4.1 Amostras Positivas para Redução de Sulfato ...................................................... 46 4.2 Linhagens Isoladas................................................................................................. 47 4.3 Caracterização Morfológica dos Isolados ............................................................ 48 4.3.1 Morfologia das Colônias ........................................................................................ 48 4.3.2 Morfologia das Células Observadas ao Microscópio Ótico (M.O.) ...................... 48 4.3.3 Morfologia das Células ao Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) .......... 49 4.4 Caracterização Bioquímica dos Isolados ............................................................. 51 4.5 Identificação Taxonômica Presuntiva dos Isolados ............................................ 57 4.6 Caracterização Molecular dos Isolados ............................................................... 58 4.7 Escolha de Linhagens para Testes Fisiológicos ................................................... 62 4.8 Curva de Crescimento e Tempo de Geração dos Isolados ................................. 65 4.9 Quantificação do Consumo de Sulfato e Produção de Sulfeto pelos Isolados .. 66 5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 69 6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 75 7 PERSPECTIVAS ................................................................................................... 77 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 78 9 ANEXOS ................................................................................................................. 86 IV LISTA DE FIGURAS FIGURA 2-1: Árvore filogenética baseada em seqüências de DNA ribossomal descritas em bactérias redutoras de sulfato. Números dentro dos quadros indicam o número de espécies diferentes presentes em um determinado grupo e entre parênteses a identificação no banco de dados. Modificado de Muyzer e Stams (2008). .............................................................................................. 17 FIGURA 2-2: Ciclo biogeoquímico do enxofre segundo Muyzer e Stams (2008). ........... 18 FIGURA 2-3: Redução assimilativa e dissimilativa do sulfato. Adaptado de Madigan et al. (2009). ......................................................................................................... 21 FIGURA 2-4: Modelo de Ress revisado segundo Brunner e Bernasconi (2005)............... 22 FIGURA 2-5: Rota de biodegradação proposta para (A) Fluoreno e (B) Fenantreno por BRS segundo TSAI et al. (2008). ............................................................... 25 FIGURA 2-6: Modelo da corrosão do aço por BRS segundo Barton e Fauque (2009). .... 30 FIGURA 3-1: Região do Rio Conceição, MG. Locais de coleta e principais atividades humanas próximas. ..................................................................................... 33 FIGURA 4-1: Crescimento dos organismos em meio sólido de Postgate C após enriquecimento e espalhamento das amostras. Incubação em anaerobiose por 24 horas................................................................................................. 46 FIGURA 4-2: Isolados de BRS das amostras apresentando diferenças na redução de sulfato (visualmente) em meio Postgate C após uma semana de incubação à 32 ºC em anaerobiose, o primeiro tubo (da esquerda para a direita) demonstra um controle negativo. ................................................................ 47 FIGURA 4-3: Isolados bacterianos ao microscópio eletrônico. A: R104A, B: R105A, C: R107A, D: R111A, E: R301A, F: R305A, G: R307A e H: R310A............ 50 FIGURA 4-4: Teste de desnitrificação de dois dos isolados. O primeiro e o segundo tubos (da esquerda para a direita) representam, respectivamente, um controle negativo e um positivo utilizando E. coli.................................................... 53 FIGURA 4-5: Dendrograma indicando a diferenciação bioquímica entre os isolados da amostra R1A. Os números de 1 à 12 representam, respectivamente, os isolados de R101A à R112A. ...................................................................... 56 FIGURA 4-6: Dendrograma indicando a diferenciação bioquímica entre os isolados da amostra R3A. Os números de 1 à 14 representam, respectivamente, os isolados de R301A à R314A. ...................................................................... 56 V FIGURA 4-7: Gel de agarose mostrando a amplificação do DNA dos isolados. .............. 59 FIGURA 4-8: Gel de agarose mostrando a amplificação do DNA dos isolados. .............. 59 FIGURA 4-9: Gel de agarose mostrando a quantificação do DNA dos isolados. ............. 60 FIGURA 4-10: Árvore filogenética contendo sequências do gene DNAr 16S (1.137 pb) construída pelo método Neighbor-Joining e modelo Maximum Composite Likelihood no programa Mega 4.1. Análise de Bootstrap com 1000 réplicas. Números de referência no GenBank se encontram entre parênteses.. .................................................................................................. 61 FIGURA 4-11: Curvas de crescimento dos isolados e equação de sua fase exponencial. . 65 FIGURA 4-12: Valores das concentrações de sulfato e sulfeto acumulado dos isolados em crescimento controlado. .............................................................................. 67 FIGURA 9-1: Curva padrão de sulfato. ............................................................................. 87 FIGURA 9-2: Curva padrão de sulfeto. ............................................................................. 88 VI LISTA DE QUADROS QUADRO 4-1: Características das colônias das linhagens isoladas observadas em meio Postgate C sólido. ...................................................................................... 48 QUADRO 4-2: Características morfológicas ao M.O. das linhagens isoladas após técnica de coloração de Gram. .............................................................................. 49 QUADRO 4-3: Características metabólicas gerais dos isolados da Amostra R1A incubados em anaerobiose à 32ºC por 48 horas. ....................................... 51 QUADRO 4-4: Características metabólicas gerais dos isolados da Amostra R3A incubados em anaerobiose à 32 ºC por 48 horas. ...................................... 52 QUADRO 4-5: Diferenciação dos isolados quanto à atividade de catalase e desnitrificação. Teste de desnitrificação realizado após incubação à 32 ºC em anaerobiose por uma semana em meio de cultura peptonado (CLESCERI et al., 1999). ......................................................................... 52 QUADRO 4-6: Características dos isolados quanto à utilização de diferentes substratos como fonte de carbono. Incubação à 32 ºC em anaerobiose por uma semana. Amostras R1A. ............................................................................ 54 QUADRO 4-7: Características dos isolados quanto à utilização de diferentes substratos como fonte de carbono. Incubação a 32 ºC em anaerobiose por uma semana. Amostras R3A. ............................................................................ 55 QUADRO 4-8: Similaridade bioquímica entre os isolados da amostra R1A. .................... 57 QUADRO 4-9: Similaridade bioquímica entre os isolados da amostra R3A. .................... 57 QUADRO 4-10: Proximidade taxonômica entre os isolados seqüenciados e os microrganismos catalogados no GenBank. ............................................... 61 VII LISTA DE TABELAS TABELA 2-1: Equações estequiométricas dos principais doadores de elétrons utilizados pelas BRS. Baseada no trabalho de Liamleam e Annachhatre (2007)....... 29 TABELA 4-1: Número médio de UFC´s entre as amostras positivas para redução de sulfato. ........................................................................................................ 46 TABELA 4-2: Concentração de DNA das amostras purificadas segundo leitura do Ladder Massa. ........................................................................................................ 60 TABELA 4-3: Determinação do tempo de início de redução do sulfato pelos isolados em diferentes valores de pH. ............................................................................ 62 TABELA 4-4: Determinação do tempo de redução completa de sulfato pelos isolados em diferentes valores de pH. ............................................................................ 63 TABELA 4-5: Determinação do número de células em cada isolado após redução total do sulfato nos diferentes valores de pH testados. ........................................... 64 TABELA 4-6: Equação da fase exponensial, R2, µmax e Tg dos isolados calculados com base em suas curvas de crescimento. ......................................................... 66 TABELA 4-7: Relação entre o consumo de sulfato e a produção de sulfeto pelos isolados. .................................................................................................................... 68 TABELA 9-1: Solução Tampão A para dosagem de sulfato, segundo Clesceri et al. (1999). ........................................................................................................ 86 TABELA 9-2: Soluções para dosagem de sulfeto total, segundo Clesceri et al. (1999). ... 88 VIII LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AFS: Adenosina Fosfosulfato. BRN: Bactérias Redutoras de Nitrato. BRS: Bactérias Redutoras de Sulfato. BTEX: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno. DAM: Drenagem àcidas de minas. DEGEO: Departamento de Geologia. FAFS: Fosfoadenosina fosfosulfato. ICEB: Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. MEV : Microscópio Eletrônico de Varredura. MICROLAB: Laboratório de Microscopia e Microanálise do Departamento de Geologia. M.O.: Microscópio ótico. PAH’s: Polycyclic Aromatic Hydrocarbons = Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos. RPPN: Reserva Particular do Patrimônio Ambiental Tg: Tempo de geração. UFC’s: Unidades Formadoras de Colônias. UFOP: Universidade Federal de Ouro Preto. IX RESUMO O estudo sobre as bactérias redutoras de sulfato (BRS) tem sido direcionado, entre vários aspectos, a sua identificação, considerando a importância das mesmas para os processos de remediação de ambientes contaminados pelas mais diversas substâncias, visto a atual demanda ambiental nos países industrializados. O uso de microrganismos na remediação requer um conhecimento detalhado sobre a sua fisiologia e bioquímica, o qual tem sido subsidiado por diversas pesquisas visando o aprimoramento de técnicas de isolamento e identificação das diferentes características que tornam este grupo de bactérias de grande utilidade nestes processos. No presente trabalho, a partir de amostras de sedimento do Rio Conceição localizado na RPPN do Caraça em Minas Gerais, Brasil, foram isoladas linhagens bacterianas de bastonetes Gram negativos e Gram positivos capazes de reduzir sulfato a sulfeto de hidrogênio. Esses isolados bacterianos foram submetidos a testes para a sua caracterização bioquímica e mostraram-se capazes de utilizar variados substratos como fonte de carbono e elétrons para a redução de sulfato. Testes adicionais demonstraram a capacidade destas linhagens em realizar metabolismos diferenciados como a redução de nitrato. Em relação à investigação da sua fisiologia foram determinadas as taxas de crescimento dos isolados R102A, R106A, R112A, R304A, R307A e R313A em cultivo controlado, assim como a eficiência destas diferentes linhagens para a produção de sulfeto como produto da redução do sulfato consumido, embora não tenham sido observadas diferenças significativas entre algumas linhagens. A identificação filogenética dos isolados citados, baseada nas sequências do DNAr 16S, indicou que os mesmos pertencem à família Enterobacteriaceae, com similaridade em torno de 99% com espécies de Enterobacter sp. e Pantoea sp. Com base nos resultados fisiológicos e filogenéticos pode-se definir tais isolados como possivelmente pertencentes à família Enterobacteriaceae. A utilização alternativa do sulfato como aceptor final de elétrons demonstrada pelas linhagens isoladas, apesar desta característica metabólica ser pouco comum entre os representantes da família Enterobacteriaceae é condizente com a versatilidade desse grupo taxonômico. Destaca-se ainda que, a flexibilidade metabólica para os isolados indica a possibilidade da sua utilização em processos de biorremediação e imobilização de metais. X ABSTRACT The study of sulphate-reducing bacteria (SRB) has been conducted, among several aspects, for their identification, considering the importance of this bacteria for remediation of contaminated environments by many substances, in observation at the current environmental demands in industrialized countries. The application of microorganisms in remediation requires a detailed knowledge about their physiology and biochemistry, which has been subsidized by many approaches seeking the improvement of isolation and identification techniques of different characteristics that make this bacterial group very helpful in these processes. In this work, from sediment samples of Rio Conceição located in the Caraça’s RPPN in Minas Gerais, Brazil, were isolated bacterial strains of Gram negative and Gram positive rods able to reduce sulphate to hydrogen sulfide. These bacterial strains were tested for their biochemical characterization and proved capable of using several substrates as carbon and electrons sources to reduce sulphate. Additional tests demonstrated the ability of these strains to perform distinguished metabolic features as nitrate reduction. In relation to the physiological properties were determined the growth rates of R102A, R106A, R112A, R304A, R307A e R313A strains in controlled cultivate, as well as the efficiency of the various lineages for the production of sulfide as sulphatereduction product, although no significant differences have been observed among some strains. Phylogenetic identification of these strains based on 16s rDNA sequences, indicated that many of the isolates belong to the family Enterobacteriaceae, with similarity around 99% with species of Enterobacter sp. and sp Pantoea. Based on the physiology and phylogenetic results it can be conclude that the isolates as belong to the family Enterobacteriaceae. The capability of using sulphate as electron’s acceptor demonstrated by strains, despite being unusual among the family Enterobacteriaceae members is consistent with the versatility of this taxonomic group. The metabolic flexibility demonstrated by the isolates indicates the possibility of their use in bioremediation and imobilization of metals. XI 1 INTRODUÇÃO Bactérias redutoras de sulfato (BRS) é uma designação usual para alguns grupos bacterianos de vida livre, no meio ambiente. Estes são organismos que utilizam formas oxidativas de enxofre, ao invés do oxigênio, como aceptor final de elétrons, tendo como produto dessa reação o gás sulfídrico (H2S), processo esse denominado de “respiração do sulfato” ou também de redução dissimilativa do enxofre (MADIGAN et al., 2009). Atualmente, dezenas de gêneros de bactérias redutoras de sulfato são conhecidos, podendo os mesmos ser distribuídos em vários grupos, tanto de bactérias Gram negativas quanto de Gram positivas. As BRS apresentam um bom desenvolvimento em uma faixa ampla de pH, podendo ser mesófilas, ou seja, a temperatura ideal de crescimento é de 20ºC a 40ºC, ou termófilas crescendo e temperatura de até 70ºC (BARTON e FAUQUE, 2009). A literatura registra vários trabalhos subseqüentes à descoberta das BRS, entretanto não se identifica continuidade nos trabalhos iniciais, ou seja, inicialmente os trabalhos eram baseados somente em questões de identificação e caracterização das BRS, sendo que o seu uso biotecnológico só foi abrangido mais tardiamente, principalmente com o surgimento de questões ambientais. Provavelmente este fato possa ser atribuído à dificuldade de isolamento e manutenção das culturas puras, pois essas são bactérias anaeróbias e o contato com o oxigênio pode levar á inativação ou inibição de muitas enzimas ou proteínas utilizadas no processo de redução. Entretanto, mais recentemente, têm sido detectados alguns desses microrganismos com certa habilidade na utilização de oxigênio (LEMOS et al., 2001). Já foi comprovada a presença da enzima catalase nesses organismos, fato que justifica o possível crescimento na presença de oxigênio (WIERINGA et al., 2000). Este grupo de bactéria é bastante difundido na natureza podendo ser encontrado tanto no ambiente aquático quanto no ambiente terrestre, mas ocorre principalmente em sedimentos, onde as condições redutoras são mais favoráveis. Por serem quimioheterotróficos utilizam compostos orgânicos de baixo peso molecular, tais como: lactose, acetato e propionato, além do hidrogênio molecular (H2), como doadores de elétrons e fonte de energia para o seu crescimento. Os compostos de enxofre mais utilizados como aceptores finais de elétrons pelas BRS, são sulfitos (SO32-), tiossulfatos (S2O32-) e sulfato (SO42-). Entretanto, a redução do sulfato, forma mais oxidativa do 12 enxofre, é a mais difundida devido à abundância do mesmo no ambiente (RABUS et al., 2006). Outro aspecto relevante com relação à redução dissimilativa do sulfato é a importância geológica e processos, visto que o gás sulfídrico produzido pode reagir com metais presentes no ambiente levando a formação de sulfetos metálicos. Evidências dessa atuação podem ser remetidas à participação das BRS na formação, por exemplo, de depósitos de Pirita (FeS2) (CARVALHO, 2004). O conhecimento desse processo permitiu investigar o uso dessas bactérias em processos de remediação de metais pesados no ambiente (WEEB et al., 1998). Com a crescente preocupação com relação às questões ambientais, a investigação de vários aspectos das BRS tornou-se relevante, uma vez que as BRS são importantes no ciclo do carbono e do enxofre, em condições anaeróbicas (MUYZER e STAMS, 2008). Com isso, muitos estudos sobre a sua dinâmica biogeoquímica, problemas chaves de filogenia e relação evolutiva, fisiologia celular, ecologia microbiana e aplicabilidade industrial vem sendo realizados. 13 1.1 Objetivo Geral Isolar e caracterizar bactérias com capacidade de redução do íon sulfato de sedimentos do rio Conceição, buscando elucidar aspectos bioquímicos e fisiológicos úteis das mesmas para bioprocessos. 1.2 Objetivos Específicos O presente trabalho engloba os seguintes objetivos: 1. Isolar bactérias redutoras de sulfato de amostras de corpos d’água e sedimentos; 2. Caracterizar e identificar os isolados e seus gêneros taxonômicos levando em consideração seus aspectos morfológicos e metabólicos; 3. Investigar possíveis adaptações fisiológicas ao ambiente, como o crescimento em diferentes pHs, respiração do nitrato e a utilização de diferentes fontes de carbono como doadores de elétrons; 4. Determinar as curvas de crescimento dos isolados e seu tempo de geração, podendo inferir sobre sua velocidade de crescimento; 5. Determinar a capacidade dos isolados em consumir sulfato com concomitante produção de sulfeto; 6. Caracterizar o perfil filogenético dos fragmentos amplificados de 16s DNA dos isolados. 14 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Classificação Taxonômica e Caracterização dos Grupos de BRS No mundo dos procariotos existem diversos organismos que são capazes de realizar vários tipos diferentes de metabolismos, sendo que entre eles existem os que possuem a capacidade única de viverem em ambientes totalmente isentos de oxigênio; realizando assim reações bioquímicas que produzem energia por meio da redução dos mais diferentes tipos de compostos que agem como aceptores finais de elétrons, entre os quais se podem citar o nitrato, manganês, ferro, enxofre (em diferentes formas), dióxido de carbono, bem como formas oxidadas de compostos naturalmente menos abundantes como o arsenato, cromato, selenato e urânio (RABUS et al., 2006). Entre estes organismos existe um grupo microbiano de grande interesse, as BRS, que se apresentam na forma de células esféricas, ovóides, bastonetes ou vibrióides, com diâmetro em torno de 0,3 a 0,4 μm, ocorrendo sozinhas, em pares ou, algumas vezes, em agregados. Algumas apresentam flagelos polares ou peritríquios; vivendo principalmente em ambientes anóxicos aquáticos e sedimentos (HOLT, 1994), e perfazem o único grupo de organismos procariotos com a habilidade comum de produzir energia por meio da redução dissimilativa de sulfato para gás sulfídrico (LLOYD et al., 2001). Por redução dissimilativa de sulfato entende-se a utilização conjunta da oxi-redução de compostos orgânicos ou hidrogênio molecular com a redução de sulfato como um aceptor externo de elétrons sob condições anaeróbicas (TEBO e OBRAZTSOVA, 1998); este processo se diferencia em muito da redução assimilativa de sulfato, onde o mesmo é convertido a enxofre molecular na forma de aminoácidos e segue por diferentes vias bioquímicas (MADIGAN et al., 2009). Embora haja diversos estudos recentes sobre as BRS, as mesmas são conhecidas há muito tempo, sendo que os pesquisadores Ferdinand Cohn em 1867 e Lothar Meyer em 1964 foram os primeiros a identificar a redução biológica do sulfato como a responsável por crescentes concentrações de gás sulfídrico em habitats aquáticos (RABUS et al., 2006). No entanto, apenas em 1895 o professor holandês Martinus W. Beijerinck (1851 – 1931) da Escola Politécnica de Delft isolou as primeiras culturas puras de BRS por meio do 15 conceito e metodologia, por ele mesmo formulados, de “cultura de enriquecimento” (MADIGAN et al., 2009). Desde esta época muitos avanços têm ocorrido quanto à identificação das BRS, uma vez que muitos trabalhos têm proposto várias características tanto bioquímicas quanto morfológicas visando à construção de uma chave para os grupos. Em seu trabalho, HOLT et al. (1994), propuseram uma divisão em quatro subgrupos levando se em consideração características morfológicas e bioquímicas, sendo estas últimas ligadas à oxidação completa dos substratos orgânicos até CO2 (QUADRO 2-1). Nas demais chaves presentes no livro são propostas diversas outras características para identificação de gêneros e espécies para cada grupo. QUADRO 2-1: Diferenciação de subgrupos de 1 a 4 de bactérias dissimilativas de sulfato ou enxofre segundo HOLT (1994). 2. BRS não formadoras de esporos; oxidação incompleta de substratos 3. BRS não formadoras de esporos; oxidação completa de substratos + + + - - + ou - - + + ou - - + + 1. BRS Características formadoras de esporos Sulfato reduzido a sulfito Enxofre reduzido a sulfito Substratos orgânicos completamente reduzidos à CO2 4. Bactérias redutoras de enxofre Muitos outros autores também citam a oxidação completa de compostos orgânicos como uma característica muito importante para a caracterização destas bactérias (MADIGAN et al., 2009 e CASTRO et al., 2000), sendo que a oxidação do acetato é muito conhecida e considerada relevante. Embora a energética de sua reação ainda não tenha sido totalmente elucidada, o seu mecanismo é muito bem conhecido (MADIGAN et al., 2009). Além desta, dentre as principais características citadas para identificação estão a motilidade, forma da célula e tipo de reação ao procedimento de coloração de Gram (CASTRO et al., 2000). 16 Embora estas características bioquímicas e morfológicas sejam até hoje muito utilizadas para a identificação das BRS, deve-se salientar que vários trabalhos têm se utilizado de ferramentas moleculares (DIAS et al., 2008; BAHR et al., 2005; MENERT et al., 2004; CASTRO et al., 2000 e STACKEBRANDT et al., 1997), a fim de buscar métodos para catalogar as diversas espécies que, atualmente, passam de 220 estando divididas em cerca de 60 gêneros (BARTON e FAUQUE, 2009). Em relação a este tópico pode-se citar um trabalho bastante abrangente realizado por Muyzer e Stams (2008), que agruparam grande parte das espécies conhecidas de BRS em uma árvore filogenética confeccionada segundo seqüências de DNA ribossomal presentes em banco de dados ARB-SILVA (FIGURA 2-1). FIGURA 2-1: Árvore filogenética baseada em seqüências de DNA ribossomal descritas em bactérias redutoras de sulfato. Números dentro dos quadros indicam o número de espécies diferentes presentes em um determinado grupo e entre parênteses a identificação no banco de dados. Modificado de Muyzer e Stams (2008). 17 Assim, as BRS fazem parte de cinco subdivisões pertencentes ao domínio Bacteria (Deltaproteobacteria, Nitrospirae, Clostridia, Thermodesulfobiaceae e Thermodesulfobacteria), além de 2 subdivisões pertencentes ao domínio Archaea (Euryarchaeota e Crenarchaeota). Deve-se ressaltar que, segundo Barton e Fauque (2009), as BRS presentes à subdivisão Clostridia são todas pertencentes à família Firmicutes e perfazem os únicos gêneros de BRS Gram positivas formadoras de esporos. Tais características mostram como as BRS são um grupo diverso, sendo adicionadas cada vez mais espécies e gêneros a este grupo em função dos estudos cada vez mais freqüentes. 2.2 Distribuição e Ecologia dos Grupos de BRS Segundo observado em relação ao grupo das BRS, as mesmas são importantes não apenas pelo seu óbvio papel no ciclo biogeoquímico do enxofre (FIGURA 2-2), como também pela produção do gás sulfídrico que não só é conhecido pela sua toxicidade e cheiro característico, como também pela sua alta reatividade que causa um grande impacto de alterações nos constituintes do ambiente (RABUS et al., 2006). FIGURA 2-2: Ciclo biogeoquímico do enxofre segundo Muyzer e Stams (2008). 18 Com relação à sua distribuição ambiental, as BRS são consideradas amplamente presentes em grandes profundidades. A grande maioria de suas espécies foram encontradas, principalmente, em ambientes considerados anóxicos como minas profundas de ouro da África do Sul e aqüíferos basálticos profundos em Washington, EUA (BAKER et al., 2003), ou mesmo poços petrolíferos do Golfo do México (MIRANDA-TELLO et al., 2004). Porém, muitos pesquisadores, a exemplo de Wieringa et al. (2000), evidenciam as descobertas de BRS com capacidade de sobreviver em ambientes onde existe a presença de oxigênio, sendo relatada a presença de enzimas de proteção contra os danos celulares recorrentes do metabolismo de redução de oxigênio como, por exemplo, a catalase e a superóxido dismutase. Além disso, Lemos et al. (2001) demonstraram a presença de metabolismo oxidativo em um exemplar de BRS identificado como Desulfovibrio gigas cujo gênero, a exemplo do gênero Desulfomicrobium, é amplamente relatado como capaz de sobreviver ao oxigênio tendo não apenas espécies identificadas em condições oligotróficas, como também relatadas a presença de enzimas redutoras de oxigênio em alguns de seus exemplares (SANTANA, 2008; BADE et al., 2000 e SASS et al., 1997). Assim, vários estudos recentes mostram que este grupo de microrganismos pode ser identificado em diversos ambientes como, por exemplo, na rizosfera de algumas plantas (CIFUENTES et al., 2003); em solos diversos (MILETTO et al., 2007), bem como em solos úmidos usados para o cultivo de arroz (LIU et al., 2009) onde os seus representantes Gram positivos já foram identificados como de grande importância nos processos biogeoquímicos destes locais (STUBNER e MEUSER, 2000), em sedimentos marinhos (ISHII et al., 2004), de estuários (DEVEREUX et al., 1996), e de lagos de água doce e salgada (PEDUZZI et al., 2003 e LI et al., 1999), no trato gastrointestinal de humanos e animais (DETHLEFSEN et al., 2006 e LIN et al., 1997), e até mesmo associadas à doenças periodontais e colites ulcerativas em humanos (LANGENDIJK et al., 2000 e PITCHER et al., 2000). Dentre todos estes locais, as BRS marinhas são consideradas como as mais abundantes já que este ambiente apresenta maior quantidade de sulfato dissolvido em relação aos outros citados (MUYZER e STAMS, 2008). Por fim, as BRS foram provavelmente as maiores responsáveis pela formação de depósitos de sulfetos metálicos em ambientes pré-históricos anaeróbios, sendo tais jazidas atualmente muito exploradas para fins comerciais (CARVALHO, 2004). 19 Assim, as BRS se mostram amplamente difundidas no ambiente, o que, ligado à sua diversidade metabólica, as torna de grande valia no equilíbrio dos processos biológicos dos ecossistemas. 2.3 Bioquímica e Fisiologia das Bactérias Redutoras de Sulfato Segundo Rabus et al. (2006) existem cinco importantes atributos referentes ao metabolismo das BRS que são explorados na maioria dos estudos realizados atualmente: 1. O metabolismo de sulfato a sulfeto que é bioquimicamente mais complexo do que a redução do oxigênio pelas bactérias aeróbicas; 2. A ampla variedade de compostos orgânicos que podem ser utilizados pelas BRS como fontes de carbono e energia; 3. O fluxo que ocorre entre doadores e aceptores de elétrons associado à cadeia respiratória e que envolve uma grande quantidade de carreadores; 4. A capacidade de alguns grupos de síntese celular utilizando CO₂ durante seu crescimento na presença de H₂ e sulfato; 5. A regulação do metabolismo, que o aspecto menos explorado entre os grupos de BRS. Quanto ao metabolismo as BRS são um grupo formado essencialmente por bactérias quimiorganotróficas heterotróficas, embora representantes de alguns gêneros como Desulfosarcina, Desulfonema, Desulfococcus, Desulfobacterium, Desulfotomaculum e algumas espécies de Desulfovibrio apresentem a capacidade de crescer com metabolismo quimiolitotrófico autotrófico, utilizando H₂ como doador de elétrons e CO₂ como fonte de carbono (MADIGAN et al., 2009). Porém, embora ocorram tipos diferentes de metabolismo em algumas espécies, todas as BRS possuem a capacidade de utilizar o sulfato como seu aceptor final de elétrons, sendo a rota bioquímica muito bem conhecida, ocorrendo a participação na mesma de diversas enzimas específicas (FIGURA 2-3). 20 FIGURA 2-3: Redução assimilativa e dissimilativa do sulfato. Adaptado de Madigan et al. (2009). AFS: Adenosina Fosfosulfato. FAFS: Fosfoadenosina fosfosulfato. As taxas de crescimento das BRS sugerem que para cada sulfato reduzido há a formação de uma molécula de ATP (MADIGAN et al., 2009). Além disso, diferente de algumas espécies de bactérias redutoras de nitrato, as BRS usualmente não excretam intermediários de seu metabolismo respiratório, liberando assim apenas o produto final do mesmo, o ácido sulfídrico (RABUS et al., 2006). A rota demonstrada na FIGURA 2-3 é baseada no modelo proposto por Ress publicado em 1973, sendo que, recentemente Brunner e Bernasconi (2005) propuseram, em um trabalho de revisão, adições ao mesmo levando em conta observações de muitos outros trabalhos posteriores. Assim, segundo a revisão do modelo de Ress proposta por ambos (FIGURA 2-4), a redução do sulfito para a formação do gás sulfídrico possui diversos passos com a formação de vários compostos intermediários como, por exemplo, o tiosulfato e o tritionato, além disso, pode ser observado um fluxo inverso para algumas dessas reações. 21 FIGURA 2-4: Modelo de Ress revisado segundo Brunner e Bernasconi (2005). O metabolismo de redução de sulfato apresenta uma enorme variedade de possíveis compostos que podem ser utilizados pelas BRS como aceptores finais de elétrons, sendo que, Madigan et al. (2009) e Rabus et al. (2006), citaram, além do sulfato, o enxofre orgânico, sulfeto, enxofre elementar, tiossulfato, sulfito, sulfonatos, dimetilsulfoxido, nitrato (desnitrificação), nitrito, arsenato, oxigênio, fumarato, acrilato, urânio entre outros. Além disso, os autores ressaltam que compostos como o gás hidrogênio, lactato, etanol, acetaldeido, acetona, açucares, glicolato, malato, fumarato, succinato, aminoácidos, compostos aromáticos polares, hidrocarbonetos aromáticos, hidrocarbonetos saturados, metano, acetato, propionato, formiato, butirato e ácidos graxos diversos entre outros já foram identificados como doadores de elétrons, assim como a fermentação de alguns compostos orgânicos como o piruvato formando acetato, H₂ e CO₂ também já foi relatada. Por serem de grande interesse em vários processos industriais, alguns aspectos do 22 metabolismo de vários dos compostos citados, pela ação das BRS, serão discutidos posteriormente com mais detalhes. Outra interessante via que podemos citar é a capacidade de redução de alguns metais pesados utilizados como aceptores finais de elétrons. Embora não se tenha detectado crescimento significativo das culturas nas condições propensas à tais reações (LLOYD et al., 2001 e TEBO e OBRAZTSOVA, 1998), Cheung e Gu (2003), realizaram estudos com BRS em relação à redução de cromo hexavalente (Cr6-). O cromo oxidado é considerado altamente tóxico e cancerígeno, sendo este oriundo de vários tipos de indústrias, demonstrando como pode ser de grande valia o uso destas bactérias na biotecnologia industrial. Assim, a gama de possíveis compostos que estas bactérias podem utilizar em diferentes etapas de seu metabolismo, mostram como as mesmas podem participar dos diferentes processos bioquímicos presentes nos mais diversos ambientes. Em relação ao seu crescimento, as BRS mostram em vários estudos uma grande diversidade de dados, tendo sido relatados tempos de geração (Tg) de 1,5 dias (d) com velocidade máxima de crescimento (µmax) de 0,5 dias-1 (d-1) para espécies de Desulfoharbdus amnigenus (OUDE ELFERINK et al., 1995); 5,3 horas (h) e 0,13 horas-1 (h-1); 8,6 h e 0,08 h-1, e 6,9 h e 0,10 h-1, respectivamente para Desulfobacter postgatei, Desulfobulbus propionicus e Desulfovibrio bacuolatus (LAAMBROEK et al., 1984); 7 d e 0,004 h-1 para uma cultura degradadora de naftaleno (HaphS1) (GALUSHKO et al., 1999); e, por fim; 5,33 d e 0,13 d-1, e 2,47 d e 0,28 d-1 para uma cultura de Desulfovibrio sp. em cultivo controlado com lactato sem agitação e com agitação, respectivamente (SILVA, 1999). 2.4 Utilização das BRS para Imobilização de Metais e Biorremediação Devido à produção do H2S em seu metabolismo final as BRS têm a capacidade de complexar metais em ambientes aquáticos, já que o mesmo reage rapidamente com os íons metálicos formando sulfetos insolúveis, sendo muito utilizadas para remediar drenagens ácidas de minas (DAM) em barragens de resíduos (WEEB et al., 1998). Tais características, e também a enorme capacidade metabólica destas bactérias as tornam hoje de grande importância econômica, ecológica e para a biotecnologia industrial. 23 Huisman et al. (2006) evidenciaram muito bem a utilidade destas bactérias para as indústrias de mineração e metalurgia, pois, a excreção de H2S pelas BRS, permite a recuperação de metais de importância econômica, na forma de sulfetos, liberados nas DAM destas atividades. Prática que é mais vantajosa do que a precipitação em forma de hidróxidos. Além disso, relata que o uso destas bactérias tem maior vantagem econômica, uma vez que o uso de reagentes para esse fim, como o NaHS ou H2S industrializados, têm custo muito elevado. Um bom exemplo é fornecido por Lengke e Southam (2006) que demonstraram o uso das BRS na recuperação de ouro por bioacumulação. Em relação ao uso das BRS em biorremediação, as mesmas já foram identificadas atuando como reguladoras de uma variedade de processos que ocorrem em solos inundados incluindo a reciclagem de matéria orgânica, biodegradação de diversos poluentes aromáticos clorados em anaerobiose e a metilação do mercúrio (CASTRO et al., 2000). A este respeito, Teclu et al. (2008) evidenciaram que as BRS podem ser utilizadas como ferramentas úteis para inativar um rejeito muito comum em algumas atividades de mineração, os arsênicos tri e pentavalentes, que podem ser precipitados em formas menos tóxicas e praticamente insolúveis como por exemplo o trisulfeto de arsênico (As2S3). Além disso, Kleikemper et al. (2004) reforçaram, em seu estudo, como as BRS têm sido altamente utilizadas em áreas contaminadas por hidrocarbonetos de petróleo, sendo a degradação de sulfato considerada um importante processo nestes locais, Robertson et al. (2000), também citam esta capacidade das BRS, tendo relacionado em seu trabalho a degradação de certos hidrocarbonetos como naftaleno, 1,3,5-trimetilbenzeno (TMB), tolueno, p-xileno e etilbenzeno à degradação de sulfato por associações bacterianas, uma vez que nesta investigação culturas puras não foram capazes de degradar todos os compostos sozinhas como, por exemplo, o benzeno. Resultado parecido foi observado por Dou et al. (2008) que, por meio de um consórcio formado por BRS e por bactérias redutoras de nitrato coletado e enriquecido de um ambiente contaminado por combustíveis, foi capaz de realizar a degradação biológica do BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno), um conjunto de poluentes comuns de vários tipos combustíveis e cuja presença no ambiente é muito preocupante devido aos seus potenciais tóxico e cancerígeno. Tsai et al. (2008) também evidenciaram a capacidade de associações de BRS em utilizar PAH’s (Polycyclic Aromatic Hydrocarbons = Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos) para suas biossínteses, o que segundo os mesmos, é de grande valia para o ambiente já que tais compostos são potencialmente cancerígenos e muito estáveis à degradação ambiental. Além disso, o trabalho propõe uma possível rota metabólica pela 24 qual um consórcio de BRS degradou dois tipos diferentes PAH’s, o fluoreno e o fenantreno (FIGURA 2-5), que são comumente encontrados em diversos locais contaminados e, assim como todos PAH’s compostos de 2 ou 3 anéis aromáticos, perfazem um grande perigo para os humanos devido à sua solubilidade em água e, logo, fácil dispersão no ambiente. FIGURA 2-5: Rota de biodegradação proposta para (A) Fluoreno e (B) Fenantreno por BRS segundo TSAI et al. (2008). 25 Consórcios de BRS (inclusive associados a outros grupos de bactérias) também já foram identificados como responsáveis pela degradação de compostos nitroaromáticos presentes no ambiente como, por exemplo, os encontrados em solos e sedimentos de corpos d’água próximos a fábricas de explosivos, pesticidas, herbicidas e produtos farmacêuticos (KULKARNI e CHAUDHARI, 2007). Como tais rejeitos são considerados altamente prejudiciais, visto sua grande estabilidade ambiental e capacidade cancerígena comprovada, a sua degradação visando a remediação do ambiente é altamente prioritária em diversos países, visto o uso desenfreado dos mesmos ao longo dos anos (LEWIS et al., 2004). Embora grande parte dos estudos cite a biodegradação de compostos aromáticos de carbono como realizadas principalmente por consórcios microbianos, visto a complexidade da estrutura dos mesmos, Wilkes et al. (2000) evidenciaram em seu trabalho como muitos estudos têm identificado culturas puras de bactérias anaeróbias capazes de utilizar tais compostos como, por exemplo, duas culturas de BRS isoladas em seu trabalho capazes de degradar alquil-benzenos na presença de petróleo. Outro exemplo pode ser observado no trabalho de Galushko et al. (1999), que identificaram uma cultura pura de BRS isolada de sedimento marinho com a capacidade de degradar naftaleno. Ao se considerar contaminantes presentes no ambiente, as BRS também apresentam grande atuação. Azabou et al. (2005) em um estudo sobre a degradação por BRS do “Phosphogypsum” (CaSO4), um subproduto potencialmente tóxico advindo da produção industrial do ácido fosfórico ou por meio da reação entre o fosfato de cálcio [Ca3(PO4)2] das rochas e o ácido sulfúrico (H2SO4) das chuvas ácidas, identificaram a possibilidade de uso das mesmas para a degradação deste composto e seu tratamento industrial antes do despejo. Em trabalho semelhante Schröder-Wolthoorn et al. (2008) demonstraram que BRS podem ser utilizadas para conversão de anglesita (PbSO4) para galena (PbS), que é um composto bem menos solúvel e de fácil remoção por processos eletroquímicos, evidenciando que tal processo não pode ser apenas utilizado em solos ricos em anglesita e, por conseguinte, contaminados por chumbo, mas também para tratamento de despejos ricos em anglesita de diversas indústrias, como as de baterias. 26 2.5 Estudo de BRS em Biorreatores Como tratado anteriormente as BRS possuem muitos possíveis usos industriais em relação à biorremediação e imobilização de metais, sendo que não apenas as indústrias de mineração podem ser beneficiadas pelo seu estudo, como também várias outras cujos despejos sejam ricos em sulfatos e metais a exemplo de processos galvânicos, baterias, tintas e várias outras manufaturas químicas (BASKARAN e NEMATI, 2006), além de indústrias com despejos ricos em diferentes formas de compostos de enxofre como, por exemplo, curtumes, fábricas de papel, óleos comestíveis, fermentações e produtos de amido (HIRASAWA et al., 2008). Assim, visando esta capacidade das BRS, muitos trabalhos têm atualmente se dedicado ao estudo da utilização das mesmas em condições controladas como os biorreatores, o que pode ser muito útil para atingir o seu melhor potencial em processos industriais, já que se podem definir as melhores formas para seu cultivo. Embora as BRS já tenham sido utilizadas em biorreatores com resultados positivos para o aumento da capacidade de degradação de sulfato para diversos tipos de rejeitos (GROUDEV et al., 2008; MOHAN et al., 2005; ELLIOTT et al., 1998), sabe-se que as condições de tais despejos muitas vezes não são favoráveis para as mesmas. Xin et al. (2008), por exemplo, mostraram que vários estudos não atingiram bons resultados para tratamento de DAM utilizando BRS, e demonstra que para garantir um bom rendimento em relação à redução de sulfato, biorreatores que utilizam BRS podem ser enriquecidos com ferro metálico, já que o mesmo aumenta o pH do meio além de fornecer hidrogênio ao sistema pela Equação 2-1. Isso é importante porque a grande maioria das BRS não suportam valores muito baixos de pH (WILLOW e COHEN, 2003) e algumas espécies podem utilizar o hidrogênio gasoso para a redução do sulfato. Assim, os baixos valores de pH presentes em alguns sistemas, como as DAM, podem ser o motivo pelo qual o uso de BRS para remediar estes locais não tenha tido sucesso efetivo em alguns trabalhos. Equação 2-1 Feº + 2H₂O = Fe²⁺ + 2OH⁻ + H₂ Além da limitação do pH, Martins et al. (2009) citam como outro grande empecilho do uso das BRS a toxicidade dos metais pesados presentes em DAM que são alvo de 27 biorremediação, já que compostos de metais pesados podem bloquear muitas enzimas do metabolismo celular; o que evidencia a necessidade de selecionar cepas resistentes para tais situações, uma vez que BRS crescendo em condições teoricamente adversas como baixos valores de pH e temperatura já foram identificadas (TSUKAMOTO et al., 2004). Outra possibilidade para o uso das BRS em biorreatores, visando a imobilização de metais, foi proposta no trabalho de Luptakova e Kusmierova (2005) que compararam um sistema comum utilizando apenas um biorreator com um sistema de biorreatores duplos para redução de sulfato pelas BRS e concomitante precipitação de cobre. No sistema comum as bactérias se encontravam junto ao rejeito e no sistema duplo a redução de sulfato acontecia no primeiro reator e o gás sulfídrico era lançado dentro do segundo reator. O sistema duplo mostrou uma precipitação mais rápida do cobre presente na amostra além de uma maior facilidade de recuperá-lo do meio. Assim, como as bactérias não precisariam entrar em contato com o rejeito, este sistema poderia ser uma alternativa para a utilização das BRS em rejeitos onde as mesmas não apresentam um bom crescimento devido a condições adversas do ambiente. Outra questão que deve ser considerada em se tratando do uso de BRS em biorreatores é a necessidade de se complementar os despejos com uma fonte de carbono para as mesmas, já que muitos rejeitos industriais, embora ricos em sulfato, são deficientes em possíveis doadores de elétrons que as BRS possam utilizar para suas biossínteses (LIAMLEAM e ANNACHHATRE, 2007). Segundo van Houten et al. apud Liamleam e Annachhatre (2007 - pag. 461), a seleção de um doador de elétrons deve ser baseada em duas considerações: 1. A eficiência do tratamento ou habilidade do doador de elétrons para completamente reduzir e remover sulfato enquanto minimiza a ocorrência de outros poluentes no efluente e; 2. O custo do doador de elétrons por unidade de sulfato convertida. Como evidenciado anteriormente são muitos os doadores de elétrons que podem ser utilizados pelas BRS, o que providencia uma enorme gama de possíveis compostos que podem ser utilizados para biorremediação, devendo apenas ser observados os critérios citados. Assim, levando-se em consideração a importância em se determinar as fontes de carbono apropriadas para um melhor desempenho ao se utilizar biorreatores, é proposta a 28 TABELA 2-1 que apresenta além das reações estequiométricas de utilização de alguns dos principais doadores de elétrons já identificados como de uso comum pelas BRS, como também a relação entre a quantidade de cada substrato necessária para a utilização de certa quantidade de sulfato. Tal tabela foi baseada em dados compilados por Liamleam e Annachhatre (2007) em seu excelente trabalho de revisão. TABELA 2-1: Equações estequiométricas dos principais doadores de elétrons utilizados pelas BRS. Baseada no trabalho de Liamleam e Annachhatre (2007). Substrato Equação Estequiométrica Formiato SO42- + 4HCOO- + H+ → HS- + 4HCO3- Relação Substrato/Sulfato Reduzido (Mol) 4/1 Metanol 4CH3OH + 3SO42- → 4HCO3- + 3HS- + 4H2O + H+ 4/3 Etanol 2C2H5OH + 5SO42- + 8H2 + 1H+ → 4HCO3- + 5HS- + 10H2O 2/5 Lactato 2CH3CHOHCOOH + H2SO4 → 2CH3COOH + 2CO2 + H2S + 2H2O 2/1 Acetato CH3COO- + SO42- → HS- + 2HCO3- 1/1 Propionato CH3CH2COO- + 2SO42- + H2 → 2HS- + 3HCO3- + H2O 1/2 Butirato CH3CH2CH2COO- + 3SO42- + 2H2 → 3HS- + 4HCO3- + 2H2O 1/3 Além da possibilidade de se utilizar qualquer um dos compostos citados é válido ressaltar que muitos trabalhos têm obtido bons resultados empregando soluções mistas de doadores de elétrons em estudos de redução de sulfato, o que não só pode ser usado como forma de diminuir custos como abrange uma maior diversidade bacteriana já que diferentes espécies de BRS podem não ser capazes de utilizar o mesmo tipo de substrato (WAYBRANT et al., 1998 e CHRISTENSEN et al., 1996). Assim, ao se observar estas questões, um trabalho indicando características de interesse para o uso de BRS em biorreatores pode ser altamente vantajoso para tratamentos de resíduos dos mais diversos tipos. 29 2.6 BRS Associadas à Biocorrosão A capacidade das BRS de ampliar a corrosão de vários tipos de ligas metálicas tem levado a muitos estudos visando o melhor entendimento deste processo e possíveis ações para o seu controle, uma vez que a corrosão causa grandes danos à estruturas metálicas em ambientes marinhos a exemplo de pontes, cais, plataformas e tubulações (DUAN et al., 2008). Devido à produção do gás sulfídrico, a maioria dos metais é susceptível à ação das BRS (FIGURA 2-6). Javaherdashti et al. (2006) demonstraram em seu trabalho como as BRS participam da transformação de metais em ambientes aquáticos, relatando a grande perda de ductibilidade e quebra de amostras de aço muito mais elevadas em condições bióticas quando comparado as abióticas, resultado também relatado por Liu et al. (2008), que evidenciaram como as BRS aumentaram visivelmente a corrosão de ligas de magnésio, sendo observada a formação ativa de biofilmes sobre as mesmas, o que é um aspecto muito interessante visto que biofilmes já foram relatados como causadores de cavidades em ligas metálicas devido à biocorrosão (DUAN et al., 2008). FIGURA 2-6: Modelo da corrosão do aço por BRS segundo Barton e Fauque (2009). È importante ressaltar que, além de sua grande afinidade por metais, o gás sulfídrico já foi identificado causando corrosões em outros tipos de materiais como, por exemplo, o concreto (ABDELMSEEH et al., 2008), sendo reportado por Postgate (1979) que estátuas de pedra do Camboja tem sido sujeitas à corrosão envolvendo atividades de BRS. 30 A indústria petrolífera é uma das mais preocupadas com esta questão já que BRS termofílicas já foram reconhecidas como uma importante fonte de gás sulfídrico em reservatórios de petróleo (LEU et al. 1998), sendo encontradas participando da corrosão de equipamentos nas próprias indústrias como, por exemplo, os tanques para separação de óleo (MIRANDA et al., 2006) além da corrosão de diferentes tipos de peças metálicas em ambientes marinhos (PINEAU et al., 2008). Em observação à corrosão de metais por BRS em ambientes aquáticos, Dinh et al. (2004), propuseram dois mecanismos que podem vir a ocorrer em relação ao ferro (Fe), sendo um indireto pelo ataque químico do sulfito de hidrogênio (H2S) produzido pelas BRS e representado pela Equação 2-2, e outro direto por meio da formação de um “filme de hidrogênio” sobre o ferro exposto à água representado pela Equação 2-3. A formação deste filme despolariza o ferro e estimula a sua corrosão. Além disso, cita a capacidade de algumas BRS em corroer o ferro por utilizá-lo como suplemento energético através de uma rota bioquímica envolvendo um citocromo associado à membrana celular e um sistema de transferência de elétrons mediado por uma hidrogenase intracelular (Esquema 2-1). Equação 2-2 2[CH2O] + 11/3Fe + 11/3SO42- + 2/3H+ → 2HCO3- + 11/3FeS + 11/3H2O 4Fe + SO42- + 4H2O → FeS + 3Fe2+ + 8HO- Equação 2-3 Esquema 2-1 Fe → Citocromo → Hidrogenase (1) → H2 → Hidrogenase (2) → → Sistema de transporte de elétrons → Enzimas de redução de sulfato Além de mostrar possíveis caminhos para a corrosão de um metal amplamente utilizado, estes mecanismos nos fornecem dados que podem ser utilizados na elucidação de certas vias bioquímicas pelas quais estes organismos utilizam seu substrato, uma vez que, como discutido anteriormente, as capacidades metabólicas destas bactérias se mostram altamente variáveis. Em relação às alternativas para o controle da ação das BRS, Haveman et al. (2005) demonstraram em seu trabalho que o nitrito produzido por bactérias redutoras de nitrato (BRN) age como um inibidor para as enzimas que atuam na redução do sulfato, sendo que Barton e Fauque (2009) propuseram que a simples adição de nitrato à reservatórios de petróleo pode controlar a ação das BRS já que o mesmo seria posteriormente convertido a nitrito pelas BRN que são amplamente difundidas nestes locais. Além disso, Greene et al. 31 (2006) mostra em seu trabalho que uma melhor atividade inibitória do nitrito em relação à redução de sulfato pode ser obtida se o mesmo for combinado com diversos tipos de biocidas como, por exemplo, glutaraldeído, formaldeído, bronopol, etc. 32 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Área de Estudo e de Amostragem As amostras foram coletadas no mês de Abril do ano de 2004 em trabalho associativo com pesquisadores do Departamento de Geologia/DEGEO/UFOP em pontos escolhidos aleatoriamente na extensão do Rio Conceição situado na região do Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Santuário do Caraça, MG (FIGURA 3-1). FIGURA 3-1: Região do Rio Conceição, MG. Locais de coleta e principais atividades humanas próximas. A coleta foi feita por meio de metodologia padrão (CLESCERI et al., 1999), na qual frascos de vidro estéreis foram levados até o local onde as amostras foram recolhidas. Após este procedimento o material levado ao Laboratório de Microbiologia do Instituto de Ciências Exatas e Biológicas/ICEB/UFOP. Os pontos de coleta foram um total de dois 33 identificados como: R1A e R3A (FIGURA 3-1). De cada um deles foi retirada uma amostra de sedimento. 3.2 Cultivo Inicial das Amostras As amostras foram enriquecidas com o objetivo de aumentar o número de bactérias, além de selecionar o tipo de bactéria de interesse (BRS) aumentando assim a efetividade dos passos posteriores do experimento. Para este fim foi escolhido um meio de cultura específico: Meio de cultura modificado de Postgate C segundo Cheung e Gu (2003) que se mostrou muito eficiente em trabalhos anteriores realizados no Laboratório de Microbiologia do DECBI-ICEB/UFOP (RAMPINELLI, 2004). O enriquecimento das amostras, utilizando-se do meio de cultura citado, foi feito da seguinte forma: uma alíquota de 10g de cada amostra de sedimento foi transferida para um Erlenmeyer diferente contendo o meio de cultura citado em uma proporção de 1:25 (amostra: meio). Os frascos foram incubados a 32ºC, durante uma semana, após a qual foi verificada a redução do sulfato por meio da formação de sulfeto de ferro (FeS), resultando em um precipitado negro característico. Como estas bactérias são anaeróbias, um ambiente próprio foi necessário para seu enriquecimento, assim as mesmas foram incubadas em cubas de anaerobiose que eram na verdade confeccionadas a partir de dessecadores de vidro hermeticamente fechados. Segundo o procedimento adotado, o oxigênio presente no interior do dessecador era esgotado utilizando-se uma chama de vela e, após a mesma se apagar, era retirada uma parte da atmosfera do dessecador com a ajuda de uma bomba de vácuo previamente acoplada á sua tampa. O vácuo formado ajudava a selar o ambiente interno do dessecador garantindo a anaerobiose, sendo adicionada também sílica para remover a umidade, por fim, o dessecador era fechado e incubado em estufa segundo as necessidades do experimento. Após o período citado, objetivando um maior enriquecimento e seleção do referido grupo, uma alíquota de 10mL cada cultura enriquecida que apresentou formação de precipitado negro foi transferida para um novo Erlenmeyer contendo o mesmo meio de cultura, seguido do mesmo tratamento descrito acima, resultando assim o segundo enriquecimento. Passados os dias de incubação, o terceiro enriquecimento foi realizado de 34 maneira similar. As amostras que não apresentaram precipitação foram submetidas a novo enriquecimento com nova alíquota buscando uma melhor varredura das BRS. 3.3 Isolamento das Culturas Puras de Bactérias Redutoras de Sulfato Após as etapas descritas de enriquecimento, realizou-se o isolamento das bactérias pelo método espalhamento em placa, que consiste na diluição seriada (10-1 a 10-5) do material enriquecido das amostras de água e sedimento. De cada diluição foram colhidos 0,1mL e aplicados sobre placa de Petri contendo o meio sólido modificado de Postgate C (CHEUNG e GU, 2003), totalizando cinco placas por amostra (uma para cada diluição). A solução foi espalhada com o uso de uma alça de vidro estéril (alça de Drigalski) para contagem das colônias isoladas. As placas foram então incubadas a uma temperatura de 32ºC, durante 24 horas, em ambiente anaeróbio segundo metodologia utilizada por Rampinelli (2004). A metodologia de espalhamento foi aplicada visando uma maior facilidade em se coletar as colônias isoladas, visto que as mesmas crescem em sua totalidade na superfície do meio o que não ocorre no método de pour plate onde colônias crescem no interior do meio sólido, dificultando assim a sua obtenção. Destes procedimentos resultaram colônias isoladas em algumas diluições. As placas que apresentavam colônias mais diversas e bem definidas foram separadas para que as mesmas fossem obtidas com agulha bacteriológica e inoculadas, separadamente em frascos de 2mL contendo o mesmo meio de cultura em sua forma líquida. Como estas bactérias são anaeróbias, o uso dos tubos foi de grande ajuda já que são herméticos e propiciam bem esta condição. Para a confirmação de BRS, as culturas puras inoculadas foram incubadas a temperatura de 32ºC, durante uma semana. Os inóculos que apresentaram a formação de precipitado negro de sulfeto de ferro foram separados e identificados com números começando por 01. De cada isolado que apresentou teste positivo para BRS foi feita uma cultura de estoque em frascos herméticos, tipo penicilina, contendo o meio sólido descrito anteriormente picado com agulha de repicagem, incubado nas condições descritas para crescimento e, após verificação de redução de sulfato, conservado em geladeira no Laboratório de Microbiologia do DECBI-ICEB/UFOP. 35 3.4 Caracterização dos Isolados Obtidos Após obtenção das culturas puras de BRS, prosseguiram-se os trabalhos com os testes para a identificação do gênero e/ou espécies das mesmas. A identificação foi realizada observando-se as características morfológicas tanto das células (forma, arranjo, entre outras) quanto das colônias (tamanho, cor, entre outras); além das bioquímicas, relacionadas com a capacidade das bactérias de sintetizar enzimas, assimilarem diferentes substratos e gerar produtos metabólicos específicos. Por fim, procurando resultados mais seguros para a identificação dos isolados e assim inferir mais características sobre os mesmos, foi realizada a sua caracterização molecular. 3.4.1 Caracterização Morfológica As características de cada colônia foram descritas observando-se macroscopicamente as mesmas após o crescimento dos isolados em meio sólido. Em seguida utilizou-se o Método de Coloração de Gram para a identificação da forma, arranjo celular bacteriano como também sua definição de Gram positivo ou Gram negativo como parâmetros usuais para etapa inicial de classificação taxonômica (RABUS et al., 2006). As observações de morfologia foram reforçadas com a sua visualização por meio de exame à fresco utilizando microscopia de contraste de fase. Todos os testes citados foram realizados com a utilização de Microscópio ótico marca Olympus (Modelo BX41). Para melhor avaliação morfológica das referidas células dos isolados utilizou-se o Microscópio Eletrônico de Varredura, Marca Jeol, Modelo JSM-5510 (MEV), equipamento do Laboratório de Microscopia e Microanálise (Microlab) do Departamento de Geologia (DEGEO)-UFOP. Para esta análise seguiu-se o protocolo padronizado do Microlab/DEGEO-UFOP (GOLDSTEIN et al., 2003). 36 3.4.2 Caracterização Bioquímica Visando a Identificação Taxonômica Para esta caracterização metabólica realizou-se uma série de testes bioquímicos a fim de avaliar a fermentação de glicose e de lactose pela produção de ácido e/ou gás. Também foi utilizado citrato como única fonte de carbono e uréia como única fonte de nitrogênio além da produção de indol e ácido sulfídrico a partir de triptofano e aminoácidos sulfurados, respectivamente. A motilidade foi também avaliada pela visualização do padrão de crescimento em meio semi-sólido, sendo posteriormente confirmada por meio do método da gota pendente em lâmina escavada (MILOSTAN, 2006). Após a incubação dos tubos a 32ºC, durante 48 horas em condições anóxicas, foi feita a leitura das reações bioquímicas dos testes supracitados. Para certificação foram feitos controles positivos e negativos para os meios. A verificação da capacidade das culturas puras para a utilização de diversos compostos orgânicos como fontes de carbono e energia foi também realizada utilizando o meio de cultura modificado de Postgate C contendo cada um dos compostos, citados à seguir, como única fonte de carbono, estando todos à uma concentração de 5g/L no meio de cultivo. Como dito anteriormente, este parâmetro é muito importante para uma melhor identificação dos isolados, além de fornecer importantes informações sobre as capacidades metabólicas dos mesmos. Assim, verificou-se o grau de oxidação dos seguintes compostos: acetato, lactose, glicose, lactato, etanol, acetona, benzeno, propionato e butirato, observando-se a formação de precipitado negro de FeS e produção de gás em tubo de Durhan, esta última evidencia uma oxidação completa do composto à CO2. Para realização deste teste foram utilizados tubos de ensaio herméticos com rosca, contendo o meio dotado de apenas um dos compostos citados como fonte de carbono disponível, para cada composto testado foi feita uma bateria de tubos em duplicatas para maior certeza dos testes. Foram utilizados controles negativos, ou seja, um tubo contendo o meio sem as bactérias e com a fonte de carbono, e outro contendo as bactérias, mas sem a fonte de carbono. O último teste realizado visando à identificação taxonômica dos isolados, o teste que indica a presença da enzima desulfoviridina, é muito importante uma vez que esta enzima (um tipo de sulfato redutase) está presente em apenas alguns grupos de BRS (RABUS et al., 2006). 37 Este teste seguiu uma metodologia citada por Silva (1999) pela qual o isolado, após seu crescimento em meio de cultura apropriado, é colocado em uma lâmina e tem sua células lisadas com a utilização de algumas gotas de NaOH 2N, em seguida a lâmina é observada ao microscópio óptico sob luz fluorescente de comprimento de onda de 365nm onde se nota a formação de manchas avermelhadas caso haja a presença da enzima em questão, uma vez que, o cromóforo sirohidroclorina presente na mesma reage desta maneira à este tipo de luz (POSTGATE, 1979). Este teste teve o seu resultado confirmado posteriormente pela metodologia citada por Postgate (1979) onde os isolados tem suas células lisadas ao se adicionar o NaOH 2N em tubos de ensaios fechados hermeticamente contendo os mesmos após incubação, neste caso a formação das manchas avermelhadas é confirmada ao se observar os tubos junto a uma lâmpada teste com luz de comprimento de onda de 365nm. Para as duas metodologias utilizaram-se controles negativos. 3.4.3 Caracterização Bioquímica Visando a Identificação de Processos Por fim, foram realizados outros 2 testes: a presença da enzima catalase e a capacidade dos isolados em realizar a desnitrificação. Os testes de catalase e desnitrificação foram feitos por meio de metodologias padrão (CLESCERI et al., 1999) utilizando-se, respectivamente, a reação das células com água oxigenada 30V (trinta volumes) e reação dos isolados com soluções de naftiamina e ácido sulfanílico após o seu crescimento em meio de cultura peptonado. Nos testes, foram utilizados controles positivo e negativo, de bactérias de referência pertencentes ao laboratório. De posse dos resultados destes testes os mesmos foram utilizados, juntamente com os testes bioquímicos de caracterização taxonômica, para a construção de um dendrograma indicando a variabilidade bioquímica entre as bactérias. Este teste permite determinar com maior nível de confiabilidade quais bactérias possuem maior semelhança bioquímica o que facilita a escolha das cepas que devem ser usadas para os experimentos de fisiologia. Os dendrogramas foram confeccionados por meio do programa Minitab 15.1.30.0., da Minitab Inc.. 38 3.4.4 Caracterização Taxonômica Presuntiva dos Isolados Para proceder-se à identificação presuntiva dos isolados após a realização destes testes foram utilizadas três fontes como referência: os trabalhos de Castro et al. (2000); Rabus et al. (2006), e Thauer et al. (2007). A escolha destas referências em questão se deu devido ao fato dos mesmos indicarem características diferentes como forma de identificação dos grupos de BRS, o que torna suas chaves úteis, uma vez sendo complementares. Além disso, Rabus et al. (2006) e Thauer et al. (2007) foram trabalhos publicados em livros conceituados em relação à descrição de características tanto morfológicas quanto bioquímicas dos grupos descritos de bactérias, incluindo as redutoras de sulfato, além disso, se tratam de edições muito recentes e de ampla revisão bibliográfica. 3.4.5 Caracterização Molecular dos Isolados Primeiramente, os isolados foram inoculados em placas de Petri visando à obtenção de colônias visíveis. Após este passo as colônias foram colhidas das placas com a ajuda de alça bacteriológica e solubilizadas em água própria para a realização da extração de DNA (ultra-pura) segundo protocolo de lise térmica citado por Moore et al. (2004). Em seguida, os produtos obtidos pela extração de DNA foram amplificados por meio de reação de polimerase em cadeia (PCR) que ocorreram na presença dos primers EpsilonF(5`-GAGASTTGATCMTGGCTCAG-3`) e 1541R(5`-AGGAGGTGATCAGCC3`) (EMBLEY, 1991), específicos para amplificação do gene DNAr 16S de microrganismos do domínio Bacteria. As condições de amplificação por reação foram: Tampão de reação (1x), MgCl2 (2,0mM), dNTP (0,8mM), primer 1 (500nM), primer 2 (500nM), BSA (0,2mg/L), Taq polimerase (1,25u/mL). As reações foram incubadas em um termociclador Biocycler modelo MJ96+, e o programa de amplificação consistiu das seguintes etapas: 3 minutos a 94ºC (desnaturação inicial); 30 ciclos de 60 segundos a 94ºC (desnaturação), 1 minuto a 55ºC (anelamento dos primers) e 1 minuto a 72ºC (extensão); 7 minutos a 72º C (extensão final). O resultado das amplificações foram analisadas em gel de 39 agarose 1% em TAE 1x (Tris, Ácido acético glacial, EDTA) corados com SybrSafe DNA gel stain (Invitrogen) e visualizados em um transiluminador de luz UV. Várias reações de amplificação foram feitas até uma única banda de aproximadamente 1500 pb ser visualizada. Obtendo-se resultado positivo na observação do gel de agarose os produtos de PCR foram purificados utilizando-se o DNA Purification Kit da marca MO BIO, segundo protocolo presente no mesmo e, em seguida, procedeu-se à determinação da concentração de DNA presente nos produtos purificados utilizando-se de análise em gel de agarose e comparação com o Low DNA Mass Ladder (Ladder Massa) da Invitrogen, sendo os mesmos posteriormente enviados para procedimento de seqüenciamento utilizando ambos os primers a fim de se obter uma seqüência de aproximadamente 1.400 pb. A empresa GENOMIC – Engenharia molecular foi a responsável pelo seqüenciamento sendo as amostras enviadas segundo as suas especificações. Após recebimento do resultado, os fragmentos de bases obtidos foram comparados aos previamente depositados no GenBank do National Center for Biotechnology Information (NCBI), sendo assim determinado o seu nível de similaridade com vários isolados bacterianos descritos na literatura o que possibilitaria a construção de uma árvore filogenética por meio do programa MEGA versão 4 (TAMURA et al., 2007) indicando a posição taxonômica dos mesmos dentre os vários grupos descritos de BRS. 3.5 Métodos para Escolha de Linhagens para Testes Fisiológicos Após a realização de todos os testes citados, já se possuía uma boa idéia das características dos isolados o que foi muito útil para a sua identificação. Contudo, o número de isolados, mesmo após a sua separação em grupos segundo os testes bioquímicos, se mostrou muito grande e percebeu-se que a utilização de todos para os testes de cinética de crescimento tornaria o experimento altamente dispendioso com muita dificuldade em se organizar e comparar os dados. Assim, decidiu-se pela eliminação de algumas culturas por meio de testes que permitiriam observar quais são as que apresentam características mais interessantes para o trabalho, incluindo o crescimento em condições variáveis de pH e produção de H₂S em curtos períodos de tempo. Deve-se observar que os 40 resultados dos testes bioquímicos também foram levados em conta, pois se decidiu não utilizar isolados que tivessem alta similaridade entre si para os testes de cinética. 3.5.1 Determinação do Tempo de Redução de Sulfato em Relação ao pH Neste experimento foi determinado o tempo em que cada isolado apresentava um resultado visível de redução de sulfato, levando-se em conta diferentes valores de pH. Segundo Willow e Cohen (2003), as BRS mostram um crescimento mais acentuado no meio ambiente na faixa de pH entre 5 e 9, assim a escolha deste intervalo de pH se mostrou muito apropriada para o teste. Logo, 5 alíquotas de 0,1mL de cada isolado foram inoculadas cada uma em um frasco de 2mL contendo meio modificado de Postgate C. Cada frasco possuía o meio com um valor diferente de pH, a saber: pH’s 5, 6, 7, 8 e 9; e foram incubados em estufa de cultura regulada à 32°C. Após este procedimento, a cada 12 horas era feita uma leitura dos isolados para observação da formação de precipitado negro de sulfeto de ferro, que caracteriza a redução do sulfato no meio. O tempo de 12 horas foi escolhido devido á observações do crescimento dos isolados nos testes anteriores, onde a redução de sulfato só se tornava aparente após alguns dias de incubação. Ao se observar a primeira formação de precipitado no tubo o tempo era anotado e o isolado era mantido em incubação até a precipitação total do ferro na forma de sulfeto ferroso. Após esta etapa, este tempo também era anotado e os isolados eram mantidos em geladeira para experimento posterior. 3.5.2 Determinação do Número de Células dos Isolados após Redução de Sulfato em Diferentes Valores de pH Para a realização deste experimento foi utilizada uma metodologia de contagem por meio da câmara de Neubauer (BAIN, 2006), segundo a qual alíquotas de 0,1mL de uma diluição de 1:10 de cada tubo, os quais foram utilizados no experimento anterior, foi inoculada na câmara para a contagem das unidades celulares em microscópio óptico. Depois de realizada a contagem foi feita a determinação do número total de células por 41 mililitro de amostra utilizando-se os fatores de conversão próprios da câmara. Os resultados puderam ser utilizados como uma forma de comparar o número de células presente em cada isolado segundo o pH do mesmo. Além disso, foi possível fazer um paralelo entre o número de células de cada amostra e o tempo em que a redução do sulfato pelas cepas se tornou visível no meio de cultivo. Comparando-se os resultados dos testes de cada isolado foi possível escolher aqueles que apresentavam características que poderiam ser de melhor valia para o trabalho, como dito anteriormente, e com eles prosseguiu para os experimentos seguintes. 3.6 Determinação das Curvas de Crescimento e Tempo de Geração dos Isolados Os isolados escolhidos foram inoculados em frascos testes de vidro herméticos de 1L vedados com septos de silicone e tampas vazadas, garantindo assim um meio anaeróbico próprio para os mesmos, e incubados a uma temperatura de 32ºC. A retirada de alíquotas de 5mL para realização do teste foi feita a cada dois dias durante um período de dez dias totalizando seis leituras por amostra (incluindo medição do tempo 0), para retirada das alíquotas foi utilizada uma seringa estéril para perfurar os septos evitando assim possíveis problemas com contaminações externas. O crescimento das amostras ao passar do tempo foi determinado segundo a medida da absorbância do meio em fotocolorímetro Metronic (Modelo M2) utilizando-se o meio de cultivo estéril como branco e filtro na cor laranja (620nm). Buscando os melhores resultados possíveis para o crescimento dos isolados também se procurou diminuir a fase de adaptação dos mesmos, isso foi feito por meio da inoculação dos isolados nos frascos de teste após os mesmos serem incubados por uma semana em tubos Falcon com volume de quinze mililitros. Depois do período de incubação o meio foi centrifugado e o sobrenadante descartado, assim, após ressuspender a massa de células resultante com salina estéril, a mesma foi adicionada aos frascos testes respeitando uma inoculação de 5% do volume total. Quanto ao meio utilizado, foi observado que o Postgate C modificado não seria de valia para o teste por dois motivos: 42 • A precipitação do ferro contido no meio na forma de sulfetos não permitiria uma leitura correta da absorbância das células, e; • Os sulfetos metálicos podem agir como inibidores para as BRS, pois a sua precipitação nas paredes das células bloqueia o acesso das mesmas aos substratos e a outros nutrientes presentes no meio (UTGIKAR et al. apud TANG et al., 2009 – pag. 77). Tendo em vista estas questões, foi inicialmente proposta a retirada dos compostos de ferro do meio de cultivo visando impedir a sua precipitação e assim poder realizar o experimento. Porém foi observado também que muitas BRS dependem de ferro no meio para o seu crescimento, já que o mesmo é requerido como micronutriente por muitas delas (POSTGATE, 1965), tornando inviável que o mesmo seja totalmente eliminado do experimento. Para solucionar este problema escolheu-se utilizar outro meio de cultivo para este experimento: o meio Postgate C original, que possui uma quantidade bem inferior de ferro em sua composição além de uma quantidade maior de citrato de sódio que impede que ocorra a precipitação do mesmo na forma de sulfetos (POSTGATE, 1979); porém, como este meio possui em sua composição o extrato de levedura, optou-se por modificar a sua fórmula retirando-o visando assim impedir a proliferação de bactérias indesejadas que podem agir como contaminantes como, por exemplo, as bactérias fermentativas (WIDDEL e BAK, 1992); para compensar esta fonte de carbono utilizou-se uma maior concentração de lactato. Como última observação em relação ao meio, sabe-se que a presença de sulfeto em excesso no meio pode inibir o crescimento das BRS (ZAGURI et al., 2007) o que poderia acontecer ao meio utilizado já que o sulfeto não estaria reagindo com o ferro formando o sal insolúvel; optou-se por sanar este problema com a utilização de um maior espaço vazio nos frascos (headspace) onde o crescimento das bactérias ocorria, permitindo assim que o sulfeto migrasse do meio para a atmosfera do frasco onde não afetaria os isolados. Com a determinação das curvas de crescimento, os resultados foram interpretados graficamente por meio do programa ORIGIN 8 Pro (OriginLab) e os tempos de geração de cada um dos isolado foram determinados segundo metodologia padrão (VARESCHE apud SILVA, 1999 – pag. 49), segundo a qual o tempo de geração (Tg) de uma cultura bacteriana pode ser calculado segundo a seguinte equação: 43 Equação 3.1 Tg = µ Sendo µmax determinado pelo valor do coeficiente angular da equação da reta que representa a fase exponencial de crescimento da cultura bacteriana (GOMES apud SILVA, 1999 – pag. 49). Logo, com estes dados em mãos pode-se determinar com grande precisão quais dos isolados possuíam crescimento mais rápido. 3.7 Quantificação do Consumo de Sulfato pelos Isolados A quantificação do sulfato foi realizada segundo metodologia padrão (CLESCERI et al., 1999), pela qual a concentração de sulfato no meio é determinada por meio da formação de cristais insolúveis de sulfato de bário medidos por método turbidimétrico. Para a realização deste método em particular, foi inicialmente feita uma curva padrão utilizando-se soluções com concentrações conhecidas de sulfato (FIGURA 9-1) medidas, segundo o método citado, em um turbidímetro da marca DEL LAB (Modelo DLM-2000B). A curva não apenas foi importante para a determinação do sulfato no meio de cultivo, como também serviu para demonstrar o grau de confiabilidade do aparelho utilizado, ou seja, a maior concentração de sulfato que o meio poderia conter para que houvesse uma medida confiável. Assim, neste experimento, o meio Postgate C modificado teve uma redução na sua concentração de sulfato para 4g/L se adequando assim ao nível necessário para uma leitura confiável. Maiores informações sobre o procedimento para quantificação de sulfato encontram-se no ANEXO 1, onde o mesmo é descrito. O procedimento de incubação e coleta de alíquotas dos isolados para o teste foi o mesmo utilizado para o experimento de determinação da curva de crescimento e tempo de geração dos isolados, diferenciando-se pela utilização do meio de Postgate C modificado e pelo número de alíquotas para análise que, neste caso, foram um total de 10. Além disso, para se evitar que o sulfeto de ferro formado interferisse na leitura turbidimétrica, as alíquotas colhidas eram centrifugadas por 5 minutos a 10.000 RPM, sendo utilizado para leitura apenas o sobrenadante livre de sulfeto de ferro. Assim, para cada isolado foi determinada uma curva de consumo de sulfato. 44 3.8 Quantificação da Produção de Sulfeto pelos Isolados A quantificação da produção de sulfeto foi feita também segundo metodologia padrão (CLESCERI et al., 1999) onde a concentração foi obtida através da reação do meio com soluções de acetato de zinco, dimetil-p-fenilenodiamina e sulfato férrico amoniacal. Novamente foi feita uma curva de calibração (FIGURA 9-2) visando os mesmos objetivos da realizada no experimento de quantificação de consumo de sulfato. As leituras foram feitas por meio de fotocolorímetro Metronic (Modelo M2) utilizando-se de filtro de cor laranja (620nm) e água mili-Q desoxigenada como branco. O procedimento é descrito com maiores detalhes no ANEXO 2 do presente trabalho. O procedimento para incubação dos isolados foi o mesmo utilizado no experimento de quantificação de sulfato e se mostrou muito vantajoso, uma vez que os frascos herméticos impediam que o sulfeto se difundisse para o ambiente, sendo que a coleta realizada com as seringas descartáveis também contribuiu para este fim. Ao final das leituras as curvas de produção de sulfeto de cada isolado foram comparadas com as suas respectivas curvas consumo do sulfato determinadas anteriormente, o que permitiu que se inferissem importantes conclusões sobre a fisiologia dos mesmos. 45 4 RESULTADOS 4.1 Amostras Positivas para Redução de Sulfato No experimento de enriquecimento as amostras de sedimento apresentaram resultado positivo para a redução do sulfato, ou seja, foram capazes de precipitar sulfeto de ferro por meio da produção de sulfetos. Assim, para cada amostra positiva foi feito o espalhamento em placa (FIGURA 4-1) e das melhores placas realizou-se a contagem do número de colônias para quantificar as bactérias presentes após enriquecimento, determinando assim o número de UFC/mL (Unidades Formadoras de Colônias) como apresentado na TABELA 4-1. FIGURA 4-1: Crescimento dos organismos em meio sólido de Postgate C após enriquecimento e espalhamento das amostras. Incubação em anaerobiose por 24 horas. A: Amostra R1A e B: Amostra R3A. TABELA 4-1: Número médio de UFC´s entre as amostras positivas para redução de sulfato. Amostra No de Colônias / Diluição -1 UFC/mL (média) -2 R1A 100/10 e 85/10 R3A 292/10-3 e 29/10-4 Colônias Positivas* 4 12 2,91x106 14 4,75x10 *: Precipitado negro em meio modificado de Postgate C. 46 4.2 Linhagens Isoladas Depois da contagem de colônias procedeu-se à obtenção de culturas puras das amostras positivas para redução de sulfato. Neste estágio as amostras apresentaram um número satisfatório de isolados positivos após incubação (TABELA 4-1) que demonstraram capacidade de redução de sulfato (FIGURA 4-2) o que indicou serem apropriados para os demais experimentos. FIGURA 4-2: Isolados de BRS das amostras apresentando diferenças na redução de sulfato (visualmente) em meio Postgate C após uma semana de incubação à 32 ºC em anaerobiose, o primeiro tubo (da esquerda para a direita) demonstra um controle negativo. 47 4.3 Caracterização Morfológica dos Isolados 4.3.1 Morfologia das Colônias Foi executada a caracterização morfológica dos isolados das amostras segundo a metodologia citada. Os resultados obtidos em relação à observação macroscópica das colônias podem ser observados no QUADRO 4-1 que demonstra pouca variabilidade entre os mesmos. QUADRO 4-1: Características das colônias das linhagens isoladas observadas em meio Postgate C sólido. Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A Isolado R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A AMOSTRA - R1A Características Isolado Pequenas e esbranquiçadas R107A Pequenas, esbranquiçadas e R108A levemente transparentes Pequenas e esbranquiçadas R109A Médias e esbranquiçadas R110A Pequenas e esbranquiçadas R111A Médias e esbranquiçadas R112A AMOSTRA - R3A Características Isolado Pequenas e esbranquiçadas R308A Pequenas e esbranquiçadas R309A Pequenas e esbranquiçadas R310A Pequenas e esbranquiçadas R311A Pequenas e esbranquiçadas R312A Pequenas e esbranquiçadas R313A Pequenas e esbranquiçadas R314A Características Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Médias e esbranquiçadas Características Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas Pequenas e esbranquiçadas 4.3.2 Morfologia das Células Observadas ao Microscópio Ótico (M.O.) Após a observação macroscópica foi executada a observação ao M.O. dos isolados. Como pode ser visto no QUADRO 4-2, esta análise apresentou pouca variação entre os isolados da amostra R1A, sendo que os isolados da amostra R3A foram mais diversos morfologicamente. Os isolados R1A foram os únicos que apresentaram esporos evidenciados por meio do procedimento de coloração com Verde Malachita. 48 Deve-se salientar que os resultados quanto à coloração de Gram e forma das células são dados muito importantes para a taxonomia dos isolados (RABUS et al., 2006). QUADRO 4-2: Características morfológicas ao M.O. das linhagens isoladas após técnica de coloração de Gram. Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A R107A R108A R109A R110A R111A R112A Forma Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Bastonetes Isolado R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A R308A R309A R310A R311A R312A R313A R314A Forma Bastonete limão Bastonete oval Bastonete limão Bastonete limão Bastonete oval Bastonete oval Bastonete oval Bastonete limão Bastonete oval Bastonete limão Bastonete oval Bastonete limão Bastonete oval Bastonete oval AMOSTRA - R1A Arranjo Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos Estreptobacilos AMOSTRA - R3A Arranjo Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui GRAM Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Esporos Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo GRAM Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Esporos Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo 4.3.3 Morfologia das Células ao Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) Após estes testes, alguns isolados selecionados foram conduzidos para análise em MEV no Microlab (DEGEO-UFOP). O critério de escolha destes isolados considerou suas características observadas ao microscópio óptico bem como as características coloniais. 49 Com essa técnica, por oferecer maior poder de resolução, confirmou-se às formas celulares já observadas em microscopia ótica, bem como a aproximação de suas dimensões celulares. A B C D E F G H FIGURA 4-3: Isolados bacterianos ao microscópio eletrônico. A: R104A, B: R105A, C: R107A, D: R111A, E: R301A, F: R305A, G: R307A e H: R310A. 50 A visualização em MEV confirmou a morfologia ovóide do isolado R307A (FIGURA 4-3 - G), a morfologia semelhante a limão (bacilo com extremidades afinaladas) do isolado R310A (FIGURA 4-3 - E) além da morfologia bacilar dos isolados R104A, R105A, R107A e R111A (FIGURA 4-3 - A à D). Por meio das observações em MEV, pode-se também comparar as dimensões celulares dos isolados com maior precisão do que o previamente observado em microscopia ótica conforme se pode observar na FIGURA 4-3, apresentada acima, o isolado R107A (FIGURA 4-3 - C) possui dimensões maiores do que 1μm; os isolados R104A e R105A (FIGURAS 4-3 – A e B) têm dimensões aproximadamente de 1μm enquanto os isolados R111A, R301A, R305A, R307A e R310A (FIGURA 4-3 – D, E, F, G e H), têm dimensões menores do que 1μm. 4.4 Caracterização Bioquímica dos Isolados Os resultados dos testes metabólicos dos isolados de BRS estão apresentados nos QUADROS 4-3, 4-4 e 4-5. Uma amostragem de um dos testes apresentados no QUADRO 4-5 pode ser observada na FIGURA 4-4. Deve-se salientar que o resultado positivo nestes testes não significa a precipitação de sulfeto de ferro, mas sim á capacidade de cada isolado em crescer nas condições de cada meio. Cada teste foi feito em duplicata. QUADRO 4-3: Características metabólicas gerais dos isolados da Amostra R1A incubados em anaerobiose à 32ºC por 48 horas. AMOSTRA - R1A Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A R107A R108A R109A R110A R111A R112A Glicose Ácido Gás + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Lactose + + + + + + + + + + + + Citrato Uréia + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Indol + - SIM H2S Motilidade + + + + + + + + + + + + + + H2S: Ácido sulfídrico. 51 QUADRO 4-4: Características metabólicas gerais dos isolados da Amostra R3A incubados em anaerobiose à 32 ºC por 48 horas. AMOSTRA - R3A Isolado R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A R308A R309A R310A R311A R312A R313A R314A Glicose Ácido Gás + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Lactose + + + + + + + + + + + + + + Citrato Uréia + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Indol - SIM H2S Motilidade + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - H2S: Ácido sulfídrico. QUADRO 4-5: Diferenciação dos isolados quanto à atividade de catalase e desnitrificação. Teste de desnitrificação realizado após incubação à 32 ºC em anaerobiose por uma semana em meio de cultura peptonado (CLESCERI et al., 1999). Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A Catalase + + + + + - Isolado R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A Catalase - AMOSTRA R1A Desnitrificação Isolado + R107A + R108A + R109A + R110A + R111A + R112A AMOSTRA R3A Desnitrificação Isolado + R308A + R309A + R310A + R311A + R312A + R313A R314A Catalase + + + + + Desnitrificação + + + + + + Catalase - Desnitrificação + + + + + + + 52 FIGURA 4-4: Teste de desnitrificação de dois dos isolados. O primeiro e o segundo tubos (da esquerda para a direita) representam, respectivamente, um controle negativo e um positivo utilizando E. coli. Os testes metabólicos referentes à utilização de diferentes fontes de carbono pelos isolados podem ser conferidos por meio dos QUADROS 4-6 e 4-7. O último teste bioquímico realizado foi o que indicaria a presença da enzima desulfoviridina, tendo o mesmo apresentado resultados negativos para todos os isolados presentes no trabalho mesmo após se realizarem novas análises segundo metodologia proposta por POSTGATE (1979) que foi utilizada também como uma forma de confirmação dos resultados da primeira análise. 53 QUADRO 4-6: Características dos isolados quanto à utilização de diferentes substratos como fonte de carbono. Incubação à 32 ºC em anaerobiose por uma semana. Amostras R1A. Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A R107A R108A R109A R110A R111A R112A Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A R107A R108A R109A R110A R111A R112A Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A R107A R108A R109A R110A R111A R112A AMOSTRA R1A Acetato Lactato Gás R. Sulf. Gás R. Sulf. + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Etanol Acetona Gás R. Sulf. Gás R. Sulf. + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Lactose Butirato Gás R. Sulf. Gás R. Sulf. + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Glicose Gás R. Sulf. + + + + + + + + + Benzeno Gás R. Sulf. Propionato Gás R. Sulf. + + + + + + + + + + + R. Sulf.: Redução de sulfato evidenciada por formação de precipitado negro de sulfeto de ferro. 54 QUADRO 4-7: Características dos isolados quanto à utilização de diferentes substratos como fonte de carbono. Incubação a 32 ºC em anaerobiose por uma semana. Amostras R3A. AMOSTRA R3A Isolado R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A R308A R309A R310A R311A R312A R313A R314A Isolado R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A R308A R309A R310A R311A R312A R313A R314A Isolado R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A R308A R309A R310A R311A R312A R313A R314A Gás Gás Gás + + + + + + + + + + + + + + Acetato R. Sulf. + + + + + + + + + + + + + + Etanol R. Sulf. + + + + + + + + + Lactose R. Sulf. - Lactato Gás R. Sulf. + + + + + + + + + + + + + + Acetona Gás R. Sulf. + + + + + + + + Butirato Gás R. Sulf. + + + + + + + + + + + + + + Glicose Gás R. Sulf. + + + + + + + + + + + + + + Benzeno Gás R. Sulf. Propionato Gás R. Sulf. + + + + + + + + + + + + R. Sulf.: Redução de sulfato evidenciada por formação de precipitado negro de sulfeto de ferro. 55 Utilizando os dados obtidos foram confeccionados 2 dendrogramas indicando a diferenciação bioquímica entre os isolados das amostras de solo R1A e R3A que podem ser observados, respectivamente nas FIGURAS 4-5 e 4-6. Dendrograma - R1A Similaridade 0,00 33,33 66,67 100,00 1 5 12 8 10 6 4 Isolados 7 9 11 2 3 FIGURA 4-5: Dendrograma indicando a diferenciação bioquímica entre os isolados da amostra R1A. Os números de 1 à 12 representam, respectivamente, os isolados de R101A à R112A. Dendrograma - R3A Similaridade 0,00 33,33 66,67 100,00 1 4 8 11 14 13 7 2 Isolados 6 12 3 5 9 10 FIGURA 4-6: Dendrograma indicando a diferenciação bioquímica entre os isolados da amostra R3A. Os números de 1 à 14 representam, respectivamente, os isolados de R301A à R314A. 56 Cada um dos dendrogramas permitiu a organização dos isolados de cada amostra em grupos segundo a sua semelhança bioquímica. A organização dos isolados das amostras R1A e R3A pode ser observada, respectivamente, nos QUADROS 4-8 e 4-9. QUADRO 4-8: Similaridade bioquímica entre os isolados da amostra R1A. GRUPO 1 4 3 5 6 2 ISOLADO (CÓDIGO) R101A (1) R105A (5) R112A (12) R108A (8) R110A (10) R106A (6) R104A (4) R107A (7) R109A (9) R111A (11) R102A (2) R103A (3) SIMILARIDADE 100% 50% 38,77% (Grupo 1) 20,94% (Grupo 1) 29,30% (Grupo 6) 50% 38,77% QUADRO 4-9: Similaridade bioquímica entre os isolados da amostra R3A. GRUPO 1 4 7 6 2 3 5 ISOLADO (CÓDIGO) R301A (1) R304A (4) R308A (8) R311A (11) R314A (14) R313A (13) R307A (7) R302A (2) R306A (6) R312A (12) R303A (3) R305A (5) R309A (9) R310A (10) SIMILARIDADE 22,54% (Grupo 4) 100% 100% 55,29% 10,57% (Grupo 1) 55,29% 100% 36,76 (Grupo 5) 100% 55,29% 4.5 Identificação Taxonômica Presuntiva dos Isolados Os resultados dos testes bioquímicos e morfológicos dos isolados permitiram a identificação presuntiva de vários deles, conforme referências publicadas a respeito das BRS (THAUER et al., 2007, RABUS et al., 2006 e CASTRO et al., 2000). 57 Os isolados referentes à amostra R1A: R101A, R103A, R105A, R108A, R110A e R112A mostraram grande probabilidade de pertencerem a dois dos três possíveis gêneros presentes na família Firmicutes: Desulfotomaculum e Desulfosporosinus já que apresentaram características comuns a este, tais como células Gram positivas formadoras de esporos possuidoras ou não da capacidade de oxidar completamente o substrato orgânico que utilizam à CO2, além de possuírem motilidade. No entanto, os demais isolados apresentaram algumas características que destoam das descritas para os gêneros desta família: os isolados R102A e R107A apresentaram teste negativo para a capacidade de utilizar etanol como fonte de carbono; os isolados R104A e R106A apresentaram teste negativo para a motilidade e os isolados R109A e R111A apresentaram resultados negativos para etanol e motilidade. Assim, não foi possível a sua classificação precisa em nenhum gênero, embora suas características morfológicas indiquem uma possível proximidade aos gêneros descritos na família Firmicutes. Já os isolados referentes à amostra R3A não puderam, em sua maioria, ter um possível gênero determinado segundo os testes realizados. Assim, os isolados R301A, R303A, R304A, R308A, R310A e R312A, demonstraram uma possível ligação ao gênero Desulfobulbus, uma vez que apresentavam uma morfologia de bastonetes curtos em forma de limão que é muito característica a este gênero. Da mesma forma os isolados R302A, R306A e R307A demonstraram muitas características em comum ao gênero Desulfacinum, como a sua forma oval e a capacidade de utilizar compostos como o acetato e o lactato como fontes de carbono para biossínteses. Por fim, os isolados R305A, R309A, R311A, R313A e R314A foram os únicos cujas características reveladas pelos testes de caracterização morfológica e bioquímica demonstraram correspondência a um gênero em particular, o Desulfacinum. Embora nenhum dos outros isolados tenham tido um possível gênero identificado, é muito possível que eles tenham uma proximidade maior a algum gênero da família Desulfobulbaceae, uma vez que demonstraram características muito semelhantes aos dois gêneros citados que são descritos nesta família. 4.6 Caracterização Molecular dos Isolados O procedimento adotado para extração do DNA genômico e amplificação do DNAr 16S forneceu os resultados esperados como pode ser observado na FIGURA 4-7, onde nota-se a amplificação do fragmento de aproximadamente 1500 pb. No entanto, como 58 alguns isolados não apresentaram reação visível no gel o procedimento foi repetido aumentando-se a quantidade de amostra (FIGURA 4-8). Os isolados foram numerados para facilitar sua identificação de 1 a 6, sendo cada um deles, respectivamente, os isolados R102A, R106A, R112A, R304A, R307A e R313A. FIGURA 4-7: Gel de agarose mostrando a amplificação do DNA dos isolados. L: Ladder, B: Branco, bp: Pares de base. FIGURA 4-8: Gel de agarose mostrando a amplificação do DNA dos isolados. L: Ladder, B: Branco, bp: Pares de base. Como o isolado 1 (R102A) apresentou amplificações inespecíficas no gel (FIGURA 4-8), apenas os demais isolados tiveram se DNA purificado e quantificado como observado na FIGURA 4-9. 59 FIGURA 4-9: Gel de agarose mostrando a quantificação do DNA dos isolados. LM: Ladder Massa, B: Branco, ng: Nanogramas. Segundo observado no Ladder Massa (FIGURA 4-9), e sabendo-se que as concentrações do mesmo são referentes à 5µL de amostra, foram propostas as concentrações de DNA para cada reação segundo a TABELA 4-2. TABELA 4-2: Concentração de DNA das amostras purificadas segundo leitura do Ladder Massa. Reação 2 3 4 5 6 Isolado R106A R112A R304A R307A R313A Concentração (ng/µL) 6,5 16,5 13 10 2 De posse destes dados, as reações foram encaminhadas para seqüenciamento na empresa GENOMIC – Engenharia molecular. Com o recebimento do seqüenciamento, prosseguiu-se a confecção da árvore filogenética dos isolados com base em seqüencias já depositadas no GenBank da NCBI, para tanto os dados recebidos foram primeiramente observados por meio do programa MEGA versão 4 (TAMURA et al., 2007) sendo então descartadas as regiões com fragmentos contendo bases de identificação incerta que são muito comuns nas extremidades das cadeias de DNA seqüenciadas; assim, as seqüências resultantes serviram como base de consulta para o GenBank de onde novos dados de bactérias foram obtidos para se realizar a análise filogenética. Os isolados, segundo o GenBanK, apresentaram grande similaridade com alguns grupos já descritos, como pode ser observado no QUADRO 4-10. 60 QUADRO 4-10: Proximidade taxonômica entre os isolados seqüenciados e os microrganismos catalogados no GenBank. E. Similaridade Isolado Catalogados no GenBank Código Value Máxima Pantoea sp. y2 16S ribosomal RNA gene GQ395336.1 0.0 99% Pantoea sp. M1R3 16S ribosomal RNA gene FJ560465.1 0.0 99% R106A Endophytic bacterium HA04 16S rib. RNA gene FJ205656.1 0.0 99% Uncultured bacterium clone Nan3 16S rib. RNA EU862304.1 0.0 99% Pantoea sp. y2 16S ribosomal RNA gene GQ395336.1 0.0 98% Pantoea sp. M1R3 16S ribosomal RNA gene FJ560465.1 0.0 98% R112A Endophytic bacterium HA04 16S rib. RNA gene FJ205656.1 0.0 98% Uncultured bacterium clone Nan3 16S rib. RNA EU862304.1 0.0 98% Pantoea sp. y2 16S ribosomal RNA gene GQ395336.1 0.0 99% Pantoea sp. M1R3 16S ribosomal RNA gene FJ560465.1 0.0 99% R304A Endophytic bacterium HA04 16S rib. RNA gene FJ205656.1 0.0 99% Uncultured bacterium clone Nan3 16S rib. RNA EU862304.1 0.0 99% Pantoea sp. y2 16S ribosomal RNA gene GQ395336.1 0.0 98% Pantoea sp. M1R3 16S ribosomal RNA gene FJ560465.1 0.0 98% R307A Endophytic bacterium HA04 16S rib. RNA gene FJ205656.1 0.0 98% Uncultured bacterium clone Nan3 16S rib. RNA EU862304.1 0.0 98% Pantoea sp. M1R3 16S ribosomal RNA gene FJ560465.1 0.0 98% Endophytic bacterium HA04 16S rib. RNA gene FJ205656.1 0.0 98% R313A Pantoea sp. y2 16S ribosomal RNA gene GQ395336.1 0.0 98% Uncultured bacterium, partial 16S rRNA gene CU915123.1 0.0 98% O Valor E. (E. Value), representa a possibilidade da busca por seqüências semelhantes aos isolados, realizada no GenBanK, apresentar resultados obtidos ao acaso, sendo que, quanto menor é este número, maior é esta probabilidade. O maior número possível para o Valor E. é 0.0. Por fim, gerou-se uma árvore filogenética, segundo observa-se na FIGURA 4-10. R106A R112A R304A 63 R307A Pantoea sp. (GQ395336.1) 22 26 R313A NC. Enterobacter sp. (EU705171.1) Enterobacter sp. (EF429007.1) Pantoea sp. (FJ560465.1) Enterobacter cloacae (AM778415.1) Leclercia sp. (GQ856079.1) 0.001 FIGURA 4-10: Árvore filogenética contendo sequências do gene DNAr 16S (1.137 pb) construída pelo método Neighbor-Joining e modelo Maximum Composite Likelihood no programa Mega 4.1. Análise de Bootstrap com 1000 réplicas. Números de referência no GenBank se encontram entre parênteses. NC.: Não Cultivada. 61 4.7 Escolha de Linhagens para Testes Fisiológicos Os testes realizados para escolha das cepas a serem utilizadas nos experimentos de cinética estão listados nas TABELAS 4-3, 4-4 e 4-5. TABELA 4-3: Determinação do tempo de início de redução do sulfato pelos isolados em diferentes valores de pH. Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A R107A R108A R109A R110A R111A R112A R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A R308A R309A R310A R311A R312A R313A R314A pH 5 96 48 48 36 36 84 84 60 156 60 60 60 84 36 36 60 48 96 36 84 156 72 96 84 156 60 Tempo de Início de Redução (Horas) pH 6 pH 7 pH 8 36 240 36 36 36 24 36 36 84 36 24 24 36 24 36 60 36 48 60 48 60 36 24 24 36 156 36 60 156 36 36 24 36 36 36 36 120 24 12 36 24 12 156 36 36 36 24 12 36 24 72 72 24 24 156 24 60 120 24 12 48 36 24 36 24 12 48 24 36 36 36 12 36 240 24 48 36 12 pH 9 36 36 36 36 36 84 60 36 24 24 24 36 24 36 84 36 36 36 36 36 84 36 36 48 36 36 62 TABELA 4-4: Determinação do tempo de redução completa de sulfato pelos isolados em diferentes valores de pH. Amostra R101A R102A R103A R104A R105A R106A R107A R108A R109A R110A R111A R112A R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A R308A R309A R310A R311A R312A R313A R314A pH 5 108 48 48 36 36 96 108 72 192 84 60 72 96 36 60 84 108 192 36 144 192 84 108 132 192 60 Tempo de Redução Completa (Horas) pH 6 pH 7 pH 8 36 240 36 36 36 36 60 36 108 36 36 36 36 36 36 60 36 60 72 84 60 24 48 36 156 192 36 84 192 36 36 36 36 36 36 36 144 36 24 240 36 24 192 36 36 36 36 24 36 36 96 84 36 36 192 36 108 144 36 36 60 36 36 36 36 24 60 36 36 36 36 24 36 240 36 48 36 24 pH 9 36 36 36 36 36 120 84 36 36 36 36 36 36 36 108 36 36 36 36 36 132 36 36 60 36 36 63 TABELA 4-5: Determinação do número de células em cada isolado após redução total do sulfato nos diferentes valores de pH testados. Isolado R101A R102A R103A R104A R105A R106A R107A R108A R109A R110A R111A R112A R301A R302A R303A R304A R305A R306A R307A R308A R309A R310A R311A R312A R313A R314A pH 5 4500 1500 3000 2000 4000 5500 11500 3000 3000 500 4500 6000 2500 6500 2500 1500 3000 5000 5500 8000 1500 3500 3500 2500 2500 4000 Número de Células por Mililitro de Amostra pH 6 pH 7 pH 8 3000 2000 5500 8500 6000 1500 2000 3500 2000 7000 4500 13000 3500 7500 2500 1000 1500 1500 500 1500 1500 4000 5500 13500 7500 3000 4000 12000 6500 3000 5500 1500 1500 2500 500 6000 4000 6500 6500 6000 2000 11000 2000 1000 6500 2500 2500 9000 3500 5000 3000 5000 6000 1000 5000 3500 1500 6500 3500 10500 1500 1500 2000 7500 4500 13500 1000 3000 18000 17500 2000 5500 4000 2500 1000 1500 2000 6000 pH 9 19500 5500 7500 4000 3500 2000 3500 9000 9500 11500 4000 2500 2000 3500 500 1000 2000 3500 2500 9000 2500 4000 3500 2500 6500 4000 Após a observação dos resultados destes testes optou-se por selecionar os isolados levando-se em conta as seguintes características: os que apresentaram menor número de células quando foi verificada a redução total do sulfato, indicando um maior rendimento por célula; aqueles que reduziram completamente o sulfato em um espaço de tempo mais curto, também buscando melhor rendimento, além dos isolados que reuniram estas duas características no maior número de diferentes valores de pH, demonstrando melhor maleabilidade a esta mudança de ambiente. Também se levou em consideração o agrupamento segundo as características bioquímicas. Com estes parâmetros em mente os isolados R102A, R106A, R112A, R304A, R307A e R313A foram definidas como as que seriam utilizadas nos experimentos seguintes. 64 4.8 Curva de Crescimento e Tempo de Geração dos Isolados A FIGURA 4-11 apresenta os resultados obtidos no experimento de determinação da curva de crescimento dos isolados; deve-se salientar que todos os isolados tiveram as mesmas condições de crescimento - incubação a 32ºC utilizando lactato como única fonte de carbono disponível á uma concentração de 52 miliMolar (mM) e sulfato a uma concentração de 32mM. R102A 0,45 0.40 0,40 0.35 0,35 0.30 0,30 0.25 0.20 0.15 0.10 0,20 0,15 0,10 0.00 0,00 -0.05 -0,05 0 2 4 6 8 0 10 Tempo (Dias) 2 0,40 0,40 0,35 0,35 Absorbância 0,45 0,25 0,20 0,15 0,10 6 8 10 0,05 B R304A 0,50 0,45 0,30 4 Tempo (Dias) A R112A 0,50 Absorbância 0,25 0,05 0.05 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0,00 -0,05 -0,05 0 2 4 6 8 10 Tempo (Dias) 0 2 C 0,45 0,40 0,40 0,35 0,35 0,30 0,30 Absorbância 0,45 0,20 0,15 0,10 0,05 6 8 10 D R313A 0,50 0,25 4 Tempo (Dias) R307A 0,50 Absorbância R106A 0,50 0.45 Absorbância Absorbância 0.50 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0,00 -0,05 -0,05 0 2 4 6 Tempo (Dias) 8 10 0 E 2 4 6 Tempo (Dias) 8 10 F FIGURA 4-11: Curvas de crescimento dos isolados e equação de sua fase exponencial. Como pode ser observado na FIGURA 4-11, os isolados apresentaram algumas similaridades em suas curvas de crescimento, pode ser observado que, por exemplo, com 65 exceção do isolado R102A (FIGURA 4-11 – A), cujo período de crescimento exponencial se situou entre os dias 0 e 2; todos os isolados apresentaram seu crescimento exponencial situado entre os dias 0 e 4. Mesmo com estas similaridades observam-se valores distintos no coeficiente angular das retas geradas e, mesmo que alguns valores de R2 não tenham sido tão altos como seria ideal, pôde-se ter uma boa idéia do tempo de geração dos isolados por meio deles segundo observa-se na TABELA 4-6. TABELA 4-6: Equação da fase exponencial, R2, µmax e Tg dos isolados calculados com base em suas curvas de crescimento. Isolado R102A R106A R112A R304A R307A R313A Equação (Fase Exponencial) y = 0,225x + 0,005 y = 0,079x + 0,044 y = 0,091x + 0,024 y = 0,087x + 0,027 y = 0,086x + 0,029 y = 0,091x + 0,012 Valores de R2 1,00 0,826 0,968 0,943 0,952 0,992 µmax (d-1) 0,225 0,079 0.091 0,087 0,086 0,091 Tg (d) 3,08 8,77 7.61 7,96 8,06 7,61 Assim, o isolado com o crescimento mais rápido é o R102A cujo Tg é 3,08 dias, sendo que o isolado de crescimento mais lento é o R106A com o Tg de 8,77 dias. Os outros isolados apresentaram tempos de geração variáveis. 4.9 Quantificação do Consumo de Sulfato e Produção de Sulfeto pelos Isolados Como dito anteriormente, para a determinação destes dados foram utilizadas curvas padrões de sulfato e sulfeto que podem ser observadas nas FIGURAS 9-1 e 9-2, respectivamente. Assim, a FIGURA 4-12 mostra os resultados referentes às leituras de sulfato e sulfeto de cada um dos isolados. 66 R102A 4,0 Sulfato Sulfeto 3,5 200 2,0 100 1,5 500 400 3,0 Sulfeto (mg/L) 2,5 Sulfeto (mg/L) 300 3,0 600 Sulfato Sulfeto 400 Sulfato (g/L) 3,5 Sulfato (g/L) R106A 4,0 300 2,5 200 2,0 100 1,5 0 0 1,0 1,0 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 -2 A Tempo (Dias) 0 2 4 6 R112A 4,0 10 12 14 16 18 20 B R304A Sulfato Sulfeto 3,5 8 Tempo (Dias) 500 4,0 400 3,5 Sulfato Sulfeto 500 200 2,0 100 Sulfato (g/L) 2,5 1,5 3,0 300 2,5 200 2,0 100 1,5 0 0 1,0 1,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 C Tempo (Dias) R307A 4,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 D Tempo (Dias) 300 Sulfato Sulfeto 3,5 -2 R313A 4,0 400 Sulfato Sulfeto 3,5 300 100 2,0 1,5 3,0 200 2,5 2,0 100 Sulfeto (mg/L) 2,5 Sulfeto (mg/L) 200 3,0 Sulfato (g/L) -2 Sulfato (g/L) Sulfeto (mg/L) 300 Sulfeto (mg/L) Sulfato (g/L) 400 3,0 1,5 0 1,0 -2 0 2 4 6 8 10 12 Tempo (Dias) 14 16 18 20 0 E 1,0 -2 0 2 4 6 8 10 12 Tempo (Dias) 14 16 18 20 F FIGURA 4-12: Valores das concentrações de sulfato e sulfeto acumulado dos isolados em crescimento controlado. Pela visualização da FIGURA 4-12 observa-se que o consumo de sulfato determinado no isolado R304A (FIGURA 4-12 – D) foi mais acentuado em relação às demais amostras, pois nota-se uma diminuição de 58,2% em relação às leituras inicial e final do mesmo; sendo que o isolado R106A (FIGURA 4-12 – B) também conseguiu um alto consumo de sulfato de 56,31% seguido pelos isolados R102A com 53,05% (FIGURA 4-12 – A), R313A com 50,45% (FIGURA 4-12 – F), R112A com 47,9% (FIGURA 4-12 – C) e, por fim, pelo isolado R307A (FIGURA 4-12 – E) com a menor porcentagem de consumo de 43,65%. 67 A relação sulfato consumido/sulfeto produzido por cada isolado pode ser conferida na TABELA 4-7, a seguir. TABELA 4-7: Relação entre o consumo de sulfato e a produção de sulfeto pelos isolados. Isolado R102A R106A R112A R304A R307A R313A Sulfato Consumido (mMol) 14,7 18,1 15,4 19,6 14,7 17,7 Sulfeto Produzido (mMol) 11,7 15,8 13,5 14 7,5 9,7 Relação 0,79 0,87 0,88 0,71 0,51 0,55 68 5 DISCUSSÃO À semelhança do que já foi relatado por outros pesquisadores (CHEUNG e GU, 2003 e WIERINGA et al., 2000), na presente investigação foram isoladas das amostras de sedimento linhagens bacterianas capazes de reduzir sulfato com diferentes perfis metabólicos, como evidenciado nas FIGURAS 4-5 e 4-6, indicando, possivelmente, diferentes espécies. Esta riqueza de grupos taxonômicos em um mesmo nicho indica a provável interação metabólica destas espécies como relatado por Robertson et al. (2000). A capacidade de reduzir o sulfato das linhagens isoladas indica que as mesmas possuem potencial de uso na bioremediação de resíduos ricos em sulfato o que justifica a continuação do seu estudo que é de grande valia pela abrangência em questões ambientais tal como indicado por Huisman et al. (2006); Azabou et al. (2005); Cheung e Gu (2003); Tebo e Obraztsova (1998), e Webb et al. (1998). Ainda sobre esta questão, os resultados obtidos no presente trabalho referentes à utilização de diversos compostos como fontes de carbono pelos isolados, a redução de sulfato na presença de tais compostos pelos mesmos, assim como a sua capacidade de crescimento em diferentes pH’s, indicam que os isolados podem ser usados nos mais diferentes tipos de resíduos, uma vez que, suas exigências nutricionais e ambientais são muito variáveis podendo assim eliminar os mais diversos contaminantes conforme evidenciado por Robertson et al. (2000). Além disso, o teste referente à realização de desnitrificação mostrou uma interessante adaptação dos isolados, pois, a desnitrificação é um importante processo realizado por várias bactérias do ambiente sendo que, neste caso, indica outro possível aceptor final de elétrons além do sulfato. Dentre os resultados dos testes realizados visando à classificação taxonômica dos isolados, destaca-se que a maioria deles produziu gás apenas a partir de glicose ou lactose como única fonte de carbono e nessa condição não ocorreu a redução do sulfato. Isso se deve, provavelmente, a maior complexidade molecular da glicose e lactose em relação aos demais substratos utilizados como fontes de carbono que foram acetato, lactato, etanol, acetona, butirato e propionato facilitando, assim, preferencialmente a via fermentativa em relação às vias usuais para a redução de sulfato. Entretanto, alguns isolados da amostra R1A utilizaram lactose concomitantemente à redução de sulfato significando, assim, a possível utilização de outras vias. Os isolados que apresentaram resultados negativos tanto na redução de sulfato quanto na produção de gás para as diferentes fontes de carbono são, provavelmente, incapazes de usá-las como doadores de elétrons e fonte de carbono. O fato 69 de nenhum teste ter apresentado a redução de sulfato ligada à produção de gás sugere que nenhum dos isolados é capaz de oxidar completamente o seu substrato à CO2 por meio desta via. Além dos substratos supracitados, o benzeno também foi testado como única fonte de carbono, porém, nenhum isolado foi capaz de degradá-lo, a saber, pelo não escurecimento do meio, mas isso já poderia ser esperado, considerando que alguns autores demonstraram que a degradação bacteriana do benzeno por uma única espécie é rara, sendo observada apenas pela interação de mais de uma espécie em consórcio conforme mostrado por Robertson et al. (2000). No presente trabalho, algumas linhagens, a semelhança de outras investigações (WIERINGA et al., 2000), apresentaram atividade de catalase positiva ao se realizar o teste em meio modificado de Postgate C indicando assim possível metabolismo oxidativo, o que pode ser de grande valia em ambientes com nível alto de oxigênio como, por exemplo, as camadas superficiais dos sedimentos. Também, a exemplo de outros trabalhos, a maioria dos isolados foram capazes de realizar desnitrificação (MOURA et al., 1997), mostrando assim a possibilidade de utilizar o nitrato, além do sulfato como aceptor final de elétrons, na respiração anaeróbia. A presença deste tipo de metabolismo indica que estas bactérias são capazes de mudar seu metabolismo, provavelmente, seguindo mudanças ambientais, ou seja, o nitrato pode ser usado como aceptor de elétrons em ambientes onde o sulfato é escasso. Dessa forma os referidos grupos taxonômicos mostram maior poder de adaptação em diferentes nichos ecológicos e chance de participação em muitos ciclos naturais além do ciclo do enxofre (CHEUNG E GU, 2003; LLOYD et al., 2001 e TEBO E OBRAZTSOVA, 1998). A presença da enzima catalase apenas nos isolados da amostra R1A mostra que, assim como a capacidade de esporulação comum das bactérias Gram positivas, este grupo possui outras adaptações ambientais interessantes. Para confirmação da morfologia e tamanho celular das linhagens isoladas a fim de determinar de maneira mais segura a sua classificação taxonômica procedeu-se a observação destas características em Microscopia Eletrônica de Varredura que oferece maior poder de resolução e, portanto maior detalhamento de estruturas. A referida técnica serviu também para comparar as dimensões celulares dos isolados com maior precisão do que o previamente observado em microscopia ótica, informação esta importante na confirmação da diversidade taxonômica dos isolados (GOLDSTEIN et al., 2003). Quanto à identificação presuntiva dos isolados, as diversidades metabólicas e morfológicas identificadas nos testes realizados indicaram que os isolados podem pertencer a diferentes linhagens de bactérias. Sendo que os grupos taxonômicos presumidos foram 70 quatro gêneros, a saber, Desulfotomaculum, Desulfosporosinus, Desulfobulbus e Desulfacinum. Dentre estes, Desulfotomaculum e Desulfosporosinus são alguns dos gêneros mais citados na literatura, o que ocorre possivelmente pela sua ampla distribuição explicada por maior estabilidade no ambiente devido a sua capacidade de esporulação (STACKEBRANDT et al., 1997), além disso, é proposto para estes gêneros uma nova divisão segundo técnicas moleculares (ROBERTSON et al., 2000 e STACKEBRANDT et al., 1997). A elucidação da taxonomia desses grupos, bem como maior conhecimento de seus processos metabólicos são fundamentais para o seu adequado manejo e aplicações futuras, conforme preconizado por Cheung e Gu (2003). Em relação à cinética dos isolados, pôde-se inferir o tempo de geração (Tg) de todos e o isolado R102A apresentou um Tg menor em relação aos demais de 3,08 dias, tendo chegado à valores próximos aos relatados por Silva (1999) de 2,47 dias. Os demais isolados, no entanto tiveram tempos maiores em torno de 8 dias, sendo bem próximos aos relatados por Galushko et al. (1999) de 7 dias, indicando assim que o isolado R102A possui um crescimento mais acelerado o que também é evidenciado pelo seu decaimento mais rápido quando observada a sua curva de crescimento (FIGURA 4-11 A). Considerando as curvas de consumo de sulfato e produção de sulfeto, deve-se salientar o fato de que, em todos os isolados incubados, a última leitura apresentou um pico para as duas leituras (FIGURA 4-12). Este fato ocorreu porque, como as leituras das amostras se apresentaram sem grandes modificações após um curto período de tempo, ou seja, tanto o consumo de sulfato quanto a produção de sulfeto não apresentavam modificações, tendendo assim a uma estabilidade, optou-se por adicionar mais lactato ao meio para determinar se a fonte de energia das bactérias havia se esgotado. Isto foi feito após a oitava leitura em todos os enriquecimentos e, como após este procedimento as leituras voltaram a apresentar resultados positivos para o consumo de sulfato e produção de sulfeto, pode-se afirmar que as análises não apresentavam variação de sulfato e sulfeto devido ao fato das bactérias não possuírem uma fonte de carbono e doadores de elétrons para suas biossínteses bloqueando assim o seu metabolismo. Assim, levando-se em consideração que a quantidade de lactato de sódio presente no meio no início do experimento era de 8g/L e que a de sulfato era em média de 3,27g/L, a média da concentração de sulfato presente no meio quando as bactérias pararam a sua biossíntese indica quanto do mesmo foi utilizado em função do lactato de sódio disponível. Como a concentração de sulfato média dos meios neste período estacionário foi de 2,60g/L, pode-se inferir que em cada litro de meio de cultivo as bactérias utilizaram 8g de 71 lactato de sódio para reduzir 0,67g de sulfato a sulfeto, ou seja, 70mM de lactato foi utilizado na redução de 7mM de sulfato. O único resultado que foi discrepante ocorreu no isolado R106A onde a cultura atingiu estabilidade quando a concentração de sulfato no meio chegou em média à 1,86g/L, mas como a concentração de lactato de sódio no meio era a mesma, pode-se inferir que este isolado utiliza, para cada litro de meio, a mesma quantidade de lactato que os outros para consumir uma maior quantia de sulfato, ou seja, para cada 8g de lactato de sódio utilizados há um consumo de 1,41g de sulfato, o que em mols seria 70mM de lactato utilizado para cada 15mM de sulfato consumido. Assim, o isolado R106A se mostrou com melhor relação entre o substrato consumido e o sulfato utilizado. Tais dados não são correspondentes ao indicado na TABELA 2-1, derivada do trabalho de Liamleam e Annachhatre (2007), que relata a utilização de 2M de lactato para o consumo de 1M de sulfato pelas BRS, o que pode indicar que os isolados possivelmente consomem o lactato seguindo outro tipo de reação estequiométrica. Ainda em relação aos dados da TABELA 2-1, pode-se notar que o formiato apresenta o menor rendimento de redução de sulfato em função da quantidade de substrato consumido, tendo o butirato, em contrapartida, demonstrado a melhor relação, assim, mesmo que o lactato tenha sido escolhido para o teste, por ser de fácil obtenção, deve-se observar que não apenas este fator, mas também o preço e rendimento do substrato devem ser levados em conta para a realização do experimento. Em se tratando da relação consumo de sulfato/produção de sulfeto pelos isolados pôde-se observar que nenhum deles demonstrou a relação citada por Postgate (1979) que relata o consumo de 1M de sulfato para cada 1M de sulfeto produzido. No entanto os isolados R106A e R112A se aproximaram muito desta relação (TABELA 4-7), sendo que os isolados R102A e R304A também obtiveram valores relativamente próximos. Os resultados mais discrepantes em relação à literatura citada foram encontrados nos isolados R307A e R313A, que apresentaram o consumo de praticamente 2M de sulfato para cada 1M de sulfeto produzido. Tal fato pode ter ocorrido pelos seguintes motivos: • O sulfeto produzido pode ter se desprendido de forma mais ativa para o headspace dos frascos, fazendo assim com que a análise do sulfeto dissolvido não demonstrasse a totalidade do sulfeto presente no sistema já que análises da atmosfera dos frascos não foram realizadas; 72 • Os isolados podem ter usado o sulfeto para biossínteses ou mesmo armazená-lo em forma de outros óxidos de enxofre que, por sua vez, não seriam detectados pelas técnicas empregadas para o sulfeto e sulfato. No entanto, levando em consideração a produção de sulfeto como uma característica importante para que as BRS participem de processos de imobilização de metais, os isolados R106A e R112A seriam os mais indicados por apresentarem uma produção de sulfeto mais eficiente em relação ao sulfato consumido. Os testes de identificação molecular dos isolados revelaram considerável proximidade dos mesmos com vários grupos de bactérias tanto cultiváveis quanto nãocultiváveis (QUADRO 4-10), porém, os mesmos não corresponderam aos grupos usualmente identificados como redutores de sulfato, uma vez que nota-se uma grande proximidade com alguns grupos de bactérias da família Enterobacteriaceae, como Enterobacter e Pantoea. Embora não haja muitos estudos em relação à redução de sulfato por membros da família Enterobacteriaceae, sabe-se que representantes desta família já foram identificados como capazes de realizar o metabolismo de redução de sulfato (QIU et al., 2008 e SAHRANI et al., 2008), e como o grupo das BRS é polifilético, fazendo parte do mesmo representantes de diferentes famílias do domínio Bacteria; além de algumas do domínio Archaea (FIGURA 2-1) é possível que representantes ainda não catalogados de grupos distintos também possuam a capacidade metabólica de reduzir o sulfato à sulfeto. É valido acrescentar que, devido ao metabolismo de grande parte dos representantes da família Enterobacteriaceae ser anaeróbio facultativo, os enriquecimentos utilizados no trabalho não seriam capazes excluí-los, contanto que fossem capazes de realizar o metabolismo de redução de sulfato. Além disso, representantes do gênero Enterobacter, já foram relatados como capazes de utilizar o lactato como fonte de carbono, ou mesmo o citrato (GRIMONT e GRIMONT, 2006), que estavam entre os testes de caracterização bioquímica realizados. Outra questão importante é a taxonomia deste gênero que é considerada como altamente heterogênea ao se considerar outros representantes da família Enterobacteriaceae (GRIMONT e GRIMONT, 2006) sendo inclusive as espécies do gênero Pantoea, outro identificado como de grande proximidade com os isolados e que possui várias espécies endofíticas, até pouco tempo identificadas como pertencentes ao gênero Enterobacter (JANDA, 2006). 73 Já em relação aos isolados R106A e R112A, que mesmo sendo identificados como bactérias Gram positivas, foram também classificados como similares às espécies da família Enterobacteriaceae pela análise molecular, deve-se observar que no mesmo experimento também foram observadas semelhanças entre eles e isolados não cultiváveis registrados em outros trabalhos com amostras ambientais (QUADRO 4-10), assim há a possibilidade destes isolados pertencerem a grupos ainda não descritos de BRS, ou mesmo serem representantes cultiváveis destes grupos já identificados, devendo ser realizados estudos mais aprofundados para esclarecer tais dúvidas. É importante observar que, mesmo os isolados não sendo identificados como pertencentes a grupos já descritos de BRS, diferentemente do indicado pelos testes bioquímicos, os mesmos apresentaram visível capacidade de redução de sulfato, evidenciada principalmente nos testes de cinética, sendo capazes de consumir sulfato e precipitar metais na forma de sulfetos; características que, somadas a sua diversidade metabólica e capacidade de precipitar metais em diferentes pHs, os capacitam como de possível uso em processos ambientais de biorremediação e imobilização de metais. 74 6 CONCLUSÕES O trabalho executado conduziu às seguintes conclusões: 1. O isolamento de culturas puras de bactérias com capacidade de reduzir sulfato produzindo sulfeto foi bem sucedida, demonstrando que a metodologia utilizada foi apropriada para as amostras de sedimento coletadas; 2. As metodologias realizadas visando à comprovação da presença de metabolismo de redução de nitrato, assim como a presença de catalase, se mostraram muito eficientes, e comprovaram que os isolados são capazes de se adaptar a certas condições adversas do ambiente, sendo capazes de utilizar outros compostos como aceptores de elétrons e resistir a certos níveis de oxigenação do meio; 3. Os testes metabólicos e morfológicos realizados mostraram considerável diversidade de entre os isolados possibilitando indicar possíveis gêneros de alguns isolados baseado nas características de grupos conhecidos de bactérias com capacidade de redução de sulfato, tais como Desulfotomaculum, Desulfosporosinus, Desulfobulbus e Desulfacinum; 4. A variedade de substratos utilizáveis como também de vias metabólicas possíveis pelas linhagens isoladas demonstram uma grande gama de possíveis ambientes onde estas bactérias podem viver e os tipos de compostos que podem utilizar, podendo ser úteis em processos de biorremediação; 5. O procedimento para escolha dos isolados bacterianos, os quais seriam utilizados nos testes de cinética, proporcionou uma visão das capacidades de redução de sulfato e crescimento em diferentes condições de pH do ambiente; 6. O experimento visando determinar o tempo de geração dos isolados, possibilitou inferir a velocidade de crescimento dos mesmos; 7. Os experimentos para determinação da produção de sulfeto e concomitante consumo de sulfato se mostraram eficientes para os isolados pesquisados, já que se pode acompanhar as variações de concentração destes dois compostos durante todo o tempo de incubação; 75 8. Os isolados R106A e R112A apresentaram melhor relação entre as taxas de consumo de sulfato e produção de sulfeto o que pode torná-los de grande valia para processos de biorremediação e imobilização de metais; 9. Mesmo não apresentando correspondência dos isolados aos grupos usualmente identificados como redutores de sulfato, as técnicas moleculares utilizadas foram capazes de indicar a proximidade taxonômica dos mesmos com outros grupos já descritos. 76 7 PERSPECTIVAS Considerando a potencial aplicabilidade dos grupos isolados no presente trabalho considera-se relevante o seu prosseguimento quanto à melhor elucidação da sua taxonomia pela utilização de técnicas de biologia molecular para futura criação de uma biblioteca gênica para melhor estudar os processos envolvidos no metabolismo da redução do sulfato. Além disso, tendo sido elucidados alguns aspectos de sua fisiologia, utilizá-los em testes de biorremediação e imobilização de metais em condições práticas como biorreatores ou barragens de contenção podem ser de grande valia para questões ambientais. 77 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • ABDELMSEEH, V.A., JOFRIET, J., e HAYWARD, G., Sulphate and sulphide corrosion in livestock buildings, Part I: Concrete deterioration. Biosystems Engineering. v. 99, p. 372-381, 2008. • AZABOU, S., MECHICHI, T., e SAYADI, S., Sulfate reduction from phosphogypsum using a mixed culture of sulfate-reducing bacteria. International Biodeterioration e Biodegradation. v. 56, p. 236-242, 2005. • BADE, K., MANZ, W., e SZEWZYK, U., Behavior of sulfate reducing bacteria under oligotrophic conditions and oxygen stress in particle-free systems related to drinking water. 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O procedimento utilizado para a dosagem de sulfato está descrito abaixo: • Mediu-se 100mL da amostra diluída 100x e transferiu-se este volume para um erlenmeyer; • Adicionou-se 20mL da solução Tampão A (TABELA 9-1) e agitou-se; • Adicionou-se 0,26g de cloreto de bário e agitou-se em velocidade constante por 1 minuto; • O branco foi realizado com a amostra acrescida da solução tampão, sem a adição do cloreto de bário; • Mediu-se a turbidez. TABELA 9-1: Solução Tampão A para dosagem de sulfato, segundo Clesceri et al. (1999). Solução Tampão A 30,0g Cloreto de magnésio (MgCl2.6H2O) 5,0g Acetato de sódio (CH3COONa.3H2O) 1,0g Nitrato de potássio (KNO3) 20,0mL Ácido acético (CH3COOH) Completar o volume para 1000mL com água destilada 86 C u rva P ad rão d e S u lfato 45 40 Concentração (mg/L) 35 30 25 20 15 y = 0,378x + 2,85 2 R = 0,994 10 5 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 T urbidez (N T U ) FIGURA 9-1: Curva padrão de sulfato. ANEXO 2: Método para dosagem de sulfeto total Para o acompanhamento da produção de sulfeto foi utilizado o método descrito por Clesceri et al. (1999). A concentração de sulfeto detectada por este método situa-se entre 0 e 1,5mM. A concentração é obtida através de curva padrão com sulfeto de sódio (FIGURA 9-2: Curva padrão de sulfeto.FIGURA 9-2). Cuidados para evitar perdas devem ser tomados, como manter os tubos sempre fechados e utilizar água desoxigenada (fervida e resfriada). Segue abaixo os procedimento para a dosagem de sulfeto: • Distribuiu-se um volume de 200µL da amostra em tubos com rolha de borracha herméticos; água Milli-Q desoxigenada substituiu a amostra para o branco; • Adicionou-se um volume de 10mL da solução de acetato de zinco a 0,01M, 1mL da solução dimetil-p-fenilenodiamina (DMPD) e 70µL da solução de sulfato férrico amoniacal (todas as soluções descritas na TABELA 9-2); • Após o período de reação de 20 minutos, mediu-se a absorbância em filtro de cor laranja (663nm). 87 TABELA 9-2: Soluções para dosagem de sulfeto total, segundo Clesceri et al. (1999). Solução de Acetato de Zinco 0,01M 20g de acetato de zinco dihidratado 0,2mL de ácido acético P.A. 1000mL de água Milli-Q desoxigenada Obs.: Armazenar sob refrigeração Solução de sulfato férrico 2ml de ácido sulfúrico P.A. (gota a gota) em 50ml de água Milli-Q desoxigenada 10g de sulfato férrico amoniacal Fe(NH4).(SO4)2.12H2O Completar o volume para 100mL com água Milli-Q desoxigenada Obs.: Armazenar no escuro sob refrigeração Solução de dimetil-p-fenilenodiamina (DMPD) 0,5g de DMPD em 50ml de água desoxigenada sob banho de gelo 50mL de ácido sulfúrico (96%) gota a gota Completar o volume com água desoxigenada para 250mL Obs.: Armazenar no escuro sob refrigeração por 30 dias C u rv a P ad rã o d e S u lfeto 225 200 Concentração (mg/L) 175 150 125 100 75 y = 2 09 ,23 7x - 0 ,38 7 2 R = 0,9 98 50 25 0 0 ,0 0 ,1 0 ,2 0 ,3 0 ,4 0 ,5 0 ,6 0 ,7 0 ,8 0 ,9 1 ,0 1 ,1 A bso rb ância FIGURA 9-2: Curva padrão de sulfeto. 88