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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
ESTUDO DOS GEOSSISTEMAS DAS CRISTAS QUARTZÍTICAS DA
MANTIQUEIRA MERIDIONAL: ENFOQUE REGIONAL NOS ESTUDOS
DA PAISAGEM
CRISTINA SILVA DE OLIVEIRA1
ROBERTO MARQUES NETO 2
Resumo: O objetivo geral do trabalho que é desenvolver um estudo dos geossistemas em
perspectiva regional na região das cristas quartzíticas da Mantiqueira Meridional, estado de Minas
Gerais. Como fundamento teórico e metodológico recorreu-se aos postulados da Teoria dos
Geossistemas, proposto por V.B Sochava (1978). Nesse contexto, a interpretação será levada a
efeito conforme a teoria de classificação bilateral dos geossistemas. Para o mapeamento foram
utilizadas imagens orbitais multiespectrais da missão RapidEye, datada do ano de 2012. Os
softwares utilizados para o processamento digital das imagens foram o ENVI 4.5 e o ArcGIS 10.2.1. A
representação cartográfica da estrutura e dinâmica dos geossistemas foi confeccionada com base na
interpretação integrada de cartas temáticas no nível regional e levantamentos de campo, lançando-se
mão da escala de 1/250.000, adequada aos enfoques regionais.
Palavras-chave: geossistemas; classificação bilateral; estrutura.
Abstract: The overall objective of the work is to develop a study of geosystems in regional
perspective in the area of quartzite ridges of southern Mantiqueira, state of Minas Gerais. As
theoretical and methodological foundation appealed to the postulates of the Theory of Geosystems
proposed by VB Sochava (1978). In this context, the interpretation will be carried out according to the
bilateral classification theory of geosystems. For mapping were used multispectral satellite images of
the RapidEye mission, dating from 2012. The software used for digital image processing were the
ENVI and ArcGIS 4.5 10.2.1. The cartographic representation of the structure and dynamics of
geosystems was made based on integrated interpretation of thematic maps on regional and field
surveys level, launching hand scale of 1 / 250,000, adequate to regional approaches.
Key-words: geosystems; Bilateral classification; structure.
1 – Introdução
Um dos principais interesses históricos da Geografia Física é investigar os
processos que configuram a organização espaço-temporal dos geossistemas. Em
outras palavras, compreender como os padrões espaciais e suas interações
influenciam os processos geoecológicos operantes no espaço geográfico. Tais
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail de
contato: [email protected]
2
Professor do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade
Federal de Juiz de Fora.
E-mail de contato: [email protected]
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processos determinam as possibilidades de desenvolvimento e a existência dos
complexos paisagísticos através da circulação de matéria, energia e informação do
geossistema (RODRIGUEZ et al. 2010).
Nessa perspectiva, a altitude é um dos fatores que tem influência sobre
alterações em todos os componentes dos sistemas geográficos e sobre a
transformação de todo o complexo natural, manifestando-se como um parâmetro
pelo qual as características específicas dos geossistemas são gradualmente
transformadas e sua tipologia alterada de forma irregular. Ela determina a energia
potencial de uma localização, a intensidade dos processos geomorfológicos,
hidrológicos e de formação de solo (FROLOV e CHERKASHIN, 2011).
No contexto da Serra da Mantiqueira, região na qual se pauta o presente
estudo, o conjunto de cristas alongadas de diversificadas características
geomorfológicas, como a elevada amplitude altimétrica e morros associados a vales
estreitos, resultam de processos endógenos e exógenos complexos, tectônicos,
denudacionais e agradacionais, que dinamizam a evolução dessas paisagens.
Dessa forma, o padrão espacial dos geossistemas é fortemente influenciado pelas
condições geológicas, geomorfológicas, pedológicas, vegetacionais e pelo regime
climático que controlam a diversidade de fluxos de matéria e energia locais e
regionais, para citar os fatores naturais. O contraste e diferenciação espacial das
unidades de paisagem tem forte influência nos tipos de relevo que em parte devemse à diversidade litológica da área, que consequentemente acaba gerando uma
variação frente à ação erosiva em seus diversos setores.
Ao longo do eixo norte-sul que atravessa o munícipio de Lima Duarte, uma
diversidade de condições naturais e paisagens vão se configurando a partir dos
contrastes estabelecidos pelo conjunto de cristas alongadas com direção NNE e
vales encaixados associados à ocupação das terras pela agropecuária e pequena
densidade populacional. Pequenos polígonos de Floresta Estacional Semidecidual
se encontram dispersos em uma matriz de pastagens antropogênicas, a qual sofre
grande pressão antrópica devido à existência da rodovia federal BR 267, principal
eixo de ligação entre o Sul de Minas Gerais e a Zona da Mata Mineira, ao longo da
qual se instalaram formas mais intensivas de uso da terra. A tipologia dessas
paisagens fragmentadas é caracterizada por um mosaico de ecossistemas naturais
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ou próximos do estado natural, intercalados por um conjunto de ecossistemas,
antropizados.
No intuito de compreender a organização espaço-temporal dos geossistemas
da Serra da Mantiqueira Mineira e representá-los cartograficamente, bem como
compreender a integração entre os fatores naturais e antropogênicos intervenientes
na definição de sua estrutura, o presente trabalho, objetiva desenvolver um estudo
integrativo dos geossistemas em perspectiva regional na região das cristas
quartzíticas da Mantiqueira Meridional, estado de Minas Gerais. A área em apreço
situa-se no sudeste de Minas Gerais, próximo ao limite com o estado do Rio de
Janeiro. Abrange os munícipios de Juiz de Fora, Lima Duarte, Olaria, Santa Bárbara
do Monte Verde, Rio Preto, Bom Jardim de Minas, Santa Rita do Ibitipoca, Bias
Fortes e Pedro Teixeira.
Figura 1: Localização e enquadramento regional da área de estudo.
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2 – METODOLOGIA
O princípio bilateral de classificação dos geossistemas exprime a ideia de que
a dimensão espacial dos mesmos reflete o nível hierárquico que ocupa. A cada
categoria dimensional, diferentes integrações espaciais podem ser interpretadas. As
fileiras hierárquicas dos geômeros e geócoros possibilitam uma classificação das
paisagens sobre uma base sistêmica a partir da interpretação simultânea de
integridades homogêneas e heterogêneas.
Em conformidade às proposições de Sochava (1977, 1978) o fundamento de
interpretação dos geômeros baseia-se na ideia de área natural homogênea, ou seja,
um espaço no qual se distribuem todos os componentes do geossistema. De acordo
com o princípio de semelhança, as áreas homogêneas mais simples configuram
geossistemas elementares que se agrupam em fácies, e estas se agrupam em
grupos de fácies. As fácies e os grupos de fácies não ocupam grandes espaços,
mas se distribuem em mosaicos com determinados limites (SOCHAVA, 1978). Na
acepção do autor os geócoros pertencem à outra categoria dos geossistemas,
conformando os sistemas espaciais heterogêneos. Eles se formam por geômeros
que se interpenetram territorialmente. A integridade dos geócoros é determinada
pela interação dos geômeros que os formam.
Dentro dessa perspectiva, o trabalho se propõe fazer uma interpretação de
tipologias (classes de fácies) que se agrupam em um macrogeócoro 3. Para tanto,
recorreu-se ao método “Top down” ou "de cima para baixo" para identificação da
estrutura dos geossistemas. Essa metodologia é baseada na subdivisão consistente
de uma área "de cima para baixo" ou “Top down”, ou seja, identificação de uma
paisagem grande e posterior subdivisão (CAVALCANTI, 2014).
Essa abordagem envolve a interpretação integrada de mapas geográficos
temáticos gerais e regionais acompanhados do reconhecimento e investigação da
paisagem com a coleta de dados “in locu”. Este método permite combinar a
confiabilidade dos estudos de campo com a eficácia do trabalho de escritório.
3
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O processo de interpretação cartográfica das classes de fácies efetuou-se
utilizando a escala de 1:250.000, pela qual as tipologias foram representadas
cartograficamente. Por extensão, para o mapeamento foram utilizadas imagens
orbitais multiespectrais da missão RapidEye, datada do ano de 2012. Os softwares
utilizados para o processamento digital das imagens foram o ENVI 4.5 e o ArcGIS
10.2.1. A representação cartográfica da estrutura e dinâmica dos geossistemas foi
confeccionada com base na interpretação integrada de cartas temáticas nos níveis
topológico e regional e levantamentos de campo, lançando-se mão da escala de
1/250.000, adequada aos enfoques regionais.
Os elementos da paisagem levantados foram organizados em um banco de
dados geográficos por meio de um Sistema de Informação Geográfica. Procedeu-se
a execução de estudos de fotointerpretação da região em tela, recorrendo a
fotografia aérea e imagens de satélite Landsat 5 e informação altimétrica da Missão
Espacial da Shuttle Radar Topography Mission e cartas topográficas do IBGE.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os geossistemas do setor norte da Mantiqueira Meridional Mineira, abrangido
por segmentos dos municípios de Juiz de Fora, Lima Duarte, Olaria, Santa Bárbara
do Monte Verde, Rio Preto, Bom Jardim de Minas, Santa Rita do Ibitipoca, Bias
Fortes e Pedro Teixeira, são particularmente influenciados pelo sistema orográfico
regional das escarpas e reversos da serra. Nessas áreas o contraste pronunciado da
paisagem se dá não apenas em função das características do relevo, mas pelos
sistemas vegetacionais florestais marcadamente diferentes dos componentes
arbustivo e herbáceo das cimeiras da Mantiqueira (figura 2).
No mapa da figura 2 foram espacializados os geossistemas que compõe o
macrogeócoro do setor norte da Mantiqueira Meridional. As classes de fácies estão
organizados espacialmente em: Vertentes escarpadas alongadas com Floresta
Estacional Semidecidual sob influência de pastagem; Vertentes escarpadas
alongadas e interflúvios estreitos com Floresta Ombrófila Densa Montana com
influência de silvicultura; Patamares de Cimeira com campos rupestres de altitude
em quartzito; Vertentes escarpadas alongadas com pastagem e floresta; Morros e
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vales encaixados com Floresta Estacional Semidecidual
sob influência de
pastagem; Morros e vales encaixados com Floresta Estacional Semidecidual
alterada com influência de pastagem.
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Figura 2: Mapa de geossistemas do Setor Norte da Mantiqueira Meridional.
.Mineira
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Embora se saiba que as grandes formações vegetais se diferenciam em
função de fatores geoambientais, se distinguindo pela fisionomia, florística e
aspectos geoecológicos, nas paisagens da Mantiqueira Meridional as características
geomorfológicas e os processos biofísicos a elas associados influenciam na
constituição de elementos paisagísticos conferindo-lhe peculiaridades em função
dos aspectos azonais formadores da paisagem que se interpenetram aos elementos
zonais na composição dos geossistemas. No entanto, nas áreas delimitadas por
condições geoecológicas específicas (climáticas, edáficas e geomorfológicas), a
vegetação florestal que acompanha os cursos d’água apresenta características em
comum, frequentemente restritas a uma pequena faixa ao longo dos cursos d’água,
mesmo naquelas paisagens onde os fatores azonais são determinantes na
constituição das paisagens.
Dentre as características que compõe as paisagens do setor norte da
Mantiqueira Meridional Mineira, o gradiente ambiental delineado em função das
mudanças nos elementos geoecológicos é um deles. Em função desse gradiente,
são perceptíveis mudanças relativamente graduais na vegetação e solos, como
aquelas visualizadas no alto, médio e baixo curso do córrego do Salto e aquelas
presentes na bacia hidrográfica do Córrego Grande (sul de Lima Duarte – face norte
Altitude (metros)
da Serra Negra) (figura 3).
Figura 3. Perfil geoecológico e esboço geológico A/B. Base planialtimétrica – Carta topográfica
Barbacena (SF-23-X-C) 1:250.000.
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O tipo de rocha sobre as quais se emolduram tais feições geomorfológicas de
caráter regional confere características peculiares a estas paisagens, especialmente
nas áreas onde a amplitude altimétrica alcançam seus valores mais altos. As cristas
quartzíticas da Serra da Mantiqueira, devido a sua elevada resistência aos
processos de intemperismo comparativamente às rochas gnáissicas, salientam na
paisagem formas de relevos assimétricas, com encostas íngremes e topos aguçados
a aplainados. Essas feições denudacionais aparecem nos topos e cimeiras da Serra
Negra, Serra do Pilão e Serra de Lima Duarte; nas encostas íngremes do conjunto
de cristas que compõe esse setor da Serra da Mantiqueira o modelado é
caracterizado pela presença de rampas coluviais preenchidas por areias quartzosas
provenientes da intemperização dos quartzitos.
Nas áreas ocupadas pelas planícies aluviais são comumente encontrados
sedimentos aluviais recentes. Esses terrenos ocorrem, sobretudo, associados aos
córregos do Salto e Ribeirão do Pari na porção descontínua posicionada ao norte da
área de estudo, interceptados por feições de morros embasados por ganisses, e no
setor sul, associado ao Rio Santa Bárbara do Monte Verde.
Importante característica ressaltada nos trechos a montante da bacia
hidrográfica do Rio do Salto são as planícies estreitas e o entalhe pronunciado do
canal, com declividades mais acentuadas personificando um relevo de energia mais
veemente. Em contrapartida, nas serras escarpadas da área, a maior parte da rede
de drenagem é desprovida de planícies aluviais, enquanto que a jusante as planícies
são mais largas.
No setor norte da Mantiqueira Meridional, com as mudanças da altitude é
possível constatar diferenciações significativas nas coberturas pedológicas, que se
adelgaçam nos setores mais elevados, sendo que quanto maior a influência do
quartzito, mais arenosa é a granulometria dos materiais. Em áreas restritas ocorrem
solos orgânicos vinculados aos geoambientes de altitude (Organossolos) (DIAS et
al., 2002), solos saprolíticos, solos coluvionares, solos aluvionares e faixas de
depósitos de tálus. Nas encostas íngremes da Serra do Ibitipoca, os solos são
poucos desenvolvidos (Neossolo Litólico e Cambissolos), com exposição recorrente
de material coluvionar em suas vertentes (figura 4). Os solos bem desenvolvidos e
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profundos, argilo-siltosos, estão associados às feições morfológicas que dão lugar
as paisagens mamelonares de morros e colinas.
As elevações altimétricas acentuadas produzem, além da sucessão altitudinal
das formações florestais, solos pouco desenvolvidos sob vegetação de campos
rupestres de altitude, consubstanciando-se elementos azonais que se interdigitam,
ou mesmo suplantam, as influências do clima tropical, definindo-se paisagens de
cimeira cujos sistemas de transformação pedológica e exploração biótica são
fortemente influenciadas pelo relevo e pela estrutura.
Figura 4. Contraste estabelecido entre a encosta da Serra de Ibitipoca e as feições
mamelonares de morros nas porções mais rebaixadas da área de estudo. Na
fotografia, são perceptíveis as diferenças existentes entre os elementos da
paisagem no topo da serra do Ibitipoca daqueles próximos ao fundo do vale.
O cultivo de eucalipto e a substituição das áreas florestais por pastagens
são as principais alterações nas paisagens naturais ou pouco alteradas,
empreendidas pelo homem no setor norte da Mantiqueira Meridional Mineira. As
áreas ocupadas pelas classes de fácies de morros e vales encaixados, no município
de Olaria e no distrito de Santa Rita do Ibitipoca são as que concentram as
infraestruturas urbanas, como: serviços, arruamentos, praças, calçamentos e
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estradas. Essas áreas situam-se em terrenos topograficamente ondulados, com
declives acentuados.
Em síntese, os elementos zonais se projetam em sistemas pedogenéticos
latossólicos a argissólicos que se materializam a partir do intemperismo em
litologias gnáissicas, ou mesmo em xistos, recobertos originalmente por
formações florestais, que se sucedem em diferentes grupos fisionômicos
conforme as elevações topográficas até estabelecerem áreas de tensão
ecológica que marcam a transição com as paisagens de cimeira, controladas
fundamentalmente por fatores azonais, que, conjugados aos elementos típicos
da
tropicalidade,
fazem
eclodir
geossistemas
regionais
de
portentosa
biodiversidade e geodiversidade.
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapeamento da paisagem ou macrogeócoro realizado a partir da proposta
teórica dos geossistemas constitui uma ferramenta metodológica capaz de fornecer
informações importantes acerca da heterogeneidade da paisagem. Além disso,
através da identificação de seus limites naturais em nível regional, torna-se possível
o estudo e gerenciamento de tais paisagens, fato este que viabiliza, em uma
dimensão espacial mais ampla, o ordenamento do uso da terra e a materialização do
corredor ecológico das porções meridional e setentrional da Serra da Mantiqueira.
Em outras palavras, significa dizer que a problemática ambiental, que se manifesta
nos níveis local, regional e continental, adquire um respaldo teórico capaz de
suscitar o problema em seu conjunto multiescalar englobando a dimensão e
extensão geoecológica e social dos processos e dinâmica dos geossistemas.
Por outro lado, não se trata de considerar o geossistema somente em termos
de níveis de organização, mas considerar seus diferentes patamares de integração,
evitando simplificações grosseiras, conforme as teorias de cunho atomista sugerem;
em contraponto, fortalecendo as noções de complexidade sistêmica nos estudos
geográficos.
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No tocante à aplicabilidade do referencial teórico-metodológico trabalhado,
Sochava (1978) assevera que para a execução de uma política e planejamento
ambiental em nível regional e nacional, as características e processos que compõe
os geossistemas, seus mecanismos de retroalimentação, as integrações e
organizações hierárquicas em múltiplos níveis edificam uma arquitetura de
complexidade que devem ser consideradas nas propostas de gestão do uso da terra
e utilização de seu patrimônio natural. Dentre as orientações presentes nos textos
do autor, pelo menos duas devem ser destacadas: a modelização de geossistemas
à base de sua dinâmica espontânea e antropogênica e do regime natural a ela
correspondente; estudo da influência dos fatores socioeconômicos no ambiente
natural e prognose dos geossistemas do futuro (SOCHAVA, 1977). Essa
preocupação decorre principalmente dos problemas ambientais que emergiram em
função de fomentos indevidos no uso da terra. Nesse sentido, a poluição ambiental
crescente associada à extinção de espécies da fauna e flora e a desconfiguração de
paisagens de rara beleza cênica, são itens que resultaram em variadas tentativas
por entidades político-administrativas de diferentes países de limitar e controlar
eficazmente o aproveitamento do espaço geográfico pelas atividades econômicas.
No Brasil, diversos tipos de intervenção judicial e regras jurídicas relativas à
proteção da natureza e a militância contra a poluição podem ser visualizados na
formulação e implementação das políticas ambientais que permeiam nossa
legislação ambiental. Nessa perspectiva, a teoria geossistêmica também se vincula
a uma necessidade de orientação e ordenamento territorial e articulação entre as
diferentes esferas de atuação política e social, sublinhando a importância e
capacidade de intervenção emanada da ciência geográfica por meio de discursos
integradores que alinhavam com propriedade as necessidades de desenvolvimento
econômico e proteção do patrimônio natural.
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