Linkage A 2ª Lei de Mendel é sempre obedecida? A descoberta de que os genes estão situados nos cromossomos gerou um impasse no entendimento da 2º Lei de Mendel. Como vimos, segundo essa lei, dois ou mais genes não alelos segregam-se independentemente, desde que estejam localizados em cromossomos diferentes. Surge, no entanto, um problema. Mendel afirmava que os genes relacionados a duas ou mais características sempre apresentavam segregação independente. Se essa premissa fosse verdadeira, então haveria um cromossomo para cada gene. Se considerarmos que existe uma infinidade de genes, haveria, então, uma quantidade assombrosa de cromossomos, dentro de uma célula, o que não é verdade. Logo, como existem relativamente poucos cromossomos no núcleo das células e inúmeros genes, é intuitivo concluir que, em cada cromossomo, existe uma infinidade de genes, responsáveis pelas inúmeras características típicas de cada espécie. Dizemos que esses genes presentes em um mesmo cromossomo estão ligados ou em linkage e caminham juntos para a formação dos gametas. Assim a 2ª lei de Mendel nem sempre é obedecida, bastando para isso que os genes estejam localizados no mesmo cromossomo, ou seja, estejam em linkage. Linkage Genes unidos no mesmo cromossomo T. H. Morgan e seus colaboradores trabalharam com a mosca da fruta, Drosophila melanogaster, e realizaram cruzamentos em que estudaram dois ou mais pares de genes, verificando que, realmente, nem sempre a 2ª Lei de Mendel era obedecida. Concluíram que esses genes não estavam em cromossomos diferente, mas, sim, encontravam-se no mesmo cromossomo (em linkage). Um dos cruzamentos efetuados por Morgan Em um dos seus experimentos, Morgan cruzou moscas selvagens de corpo cinza e asas longas com mutantes de corpo preto e asas curtas (chamadas de asas vestigiais). Todos os descendentes de F1 apresentavam corpo cinza e asas longas, atestando que o gene que condiciona corpo cinza (P) domina o que determina corpo preto (p), assim como o gene para asas longas (V) é dominante sobre o (v) que condiciona surgimento de asas vestigiais. A seguir Morgan cruzou descendentes de F1 com duplo-recessivos (ou seja, realizou cruzamentos testes). Para Morgan, os resultados dos cruzamentos-teste revelariam se os genes estavam localizados em cromossomos diferentes (segregação-independente) ou em um mesmo cromossomo (linkage). Surpreendentemente, porém, nenhum dos resultados esperados foi obtido. A separação e a contagem dos decendentes de F2 revelou o seguinte resultado: 41,5% de moscas com o corpo cinza e asas longas; 41,5% de moscas com o corpo preto e asas vestigiais; 8,5% de moscas com o corpo preto e asas longas; 8,5% de moscas com o corpo cinza e asas vestigiais. Ao analisar esse resultado, Morgan convenceu-se de que os genes P e V localizavam-se no mesmo cromossomo. Se estivessem localizados em cromossomos diferentes, a proporção esperada seria outra (1: 1: 1: 1). No entanto, restava a dúvida: como explicar a ocorrência dos fenótipos corpo cinza/asas vestigiais e corpo preto/asas longas? A resposta não foi difícil de ser obtida. Por essa época já estava razoavelmente esclarecido o processo da meiose. Em 1909, o citologista F. A. Janssens (1863-1964) descreveu o fenômeno cromossômico conhecido como permutação ou crossing over, que ocorre durante a prófase I da meiose e consiste na troca de fragmentos entre cromossomos homólogos. Em 1911, Morgan usou essa observação para concluir que os fenótipos corpo cinza/asas vestigiais e corpo preto/asas longas eram recombinantes e devido a ocorrência de crossing-over. Como diferenciar Segregação independente (2ª Lei de Mendel) de Linkage? Quando comparamos o comportamento de pares de genes para duas características para a segunda lei de Mendel com a ocorrência de linkage e crossing-over em um cruzamento genérico do tipo AaBb X aabb, verificamos que em todos os casos resultam quatro fenótipos diferentes: Dominante/dominante Dominante/recessivo Recessivo/dominante Recessivo/recessivo. A diferença em cada caso está nas proporções obtidas. No caso da 2ª lei de Mendel, haverá 25% de cada fenótipo. No linkage com crossing, todavia, os dois fenótipos parentais surgirão com frequência maior do que as frequências dos recombinantes. A explicação para isso reside no fato de, durante a meiose a permuta não ocorrer em todas as células, sendo, na verdade, um evento relativamente raro. Por isso, nos cruzamentos PpVv X ppvv, da pagina anterior, foram obtidos 83% de indivíduos do tipo parental (sem crossing) e 17% do tipo recombinantes (resultantes da ocorrência de permuta). Frequentemente, nos vários cruzamentos realizados do tipo AaBb X aabb, Morgan obteve os dois fenótipos parentais (AaBb e aabb), na proporção de 50% cada. Para explicar esse resultado, ele sugeriu a hipótese que os genes ligados ficam tão próximos um do outro que dificultam a ocorrência de crossing over entre eles. Assim, por exemplo, o gene que determina a cor preta do corpo da drosófila e o gene que condiciona a cor púrpura dos olhos ficam tão próximos que entre eles não ocorre permuta. Nesse caso se fizermos um cruzamento teste entre o duploheterozidoto e o duplo-recessivo, teremos nos descendentes apenas dois tipos de fenótipos, que serão correspondentes aos tipos parentais. Os arranjos “cis” e “trans” dos genes ligados Considerando dois pares de genes ligados, como, por exemplo, A/a e B/b, um indivíduo duplo heterozigoto pode ter os alelos arranjados de duas maneiras nos cromossomos: Os alelos dominantes A e B se situam em um cromossomo, enquanto os alelos recessivos a e b se situam no homólogo correspondente. Esse tipo de arranjo é chamado de Cis. O alelo dominante A e o alelo recessivo b se situam em um cromossomo, enquanto o alelo recessivo a e o alelo dominante B, se situam no homólogo correspondente. Esse tipo de arranjo é chamado de Trans. Podemos descrever esses arranjos, usando um traço duplo ou simples para descrever o cromossomo, ou mais simplificadamente, o arranjo pode ser descrito como AB/ab para Cis e Ab/aB para trans. O arranjo cis e trans dos alelos no duplo-heterozigoto pode ser facilmente identificado em um cruzamento teste. No caso dos machos de Drosófila, se o arranjo for cis (PV/pv), o duplo heterozigoto forma 50% de gametas PV e 50% de gametas pv. Se o arranjo for trans (Pv/pV), o duplo heterozigoto forma 50% de gametas Pv e 50% de pV. Nas fêmeas de Drosófila, nas quais ocorrem permutações, o arranjo cis ou trans pode ser identificado pela frequência das classes de gametas. As classes mais frequentes indicam as combinações parentais e as menos frequentes as recombinantes. A BASE DO MAPEAMENTO CROMOSSÔMICO Introdução A chance de ocorrer crossing-over entre dois pares de genes alelos que estão em linkage é diretamente proporcional à distância que existe entre eles. Quanto maior for a distância, maior é a probabilidade de permutação. A partir dessa constatação, Thomas Hunt Morgan e alguns outros geneticistas propuseram uma forma de se medir distâncias entre os genes de um cromossomo. Não se trata de uma distância absoluta, como o comprimento de um objeto, mas um valor relativo, útil para se mapear os cromossomos. Determinação da frequência ou taxa de permutação A frequência da permutação é determinada por meio de resultados adquiridos em um cruzamento-teste (com genes recessivos) (AB/ab x ab/ab). Veja:, Como a relação é multiplicada por 100, o valor expressa a porcentagem de gametas recombinantes, no total de gametas. Dessa forma, se os gametas recombinantes perfazem 10% do total, a taxa de recombinação é de 10%. Foi estabelecido que, para cada 1% de taxa de recombinação, a distância entre os dois genes seria convencionada em uma unidade de recombinação. Essa unidade também é chamada unidade de mapeamento cromossômico (u.m.c.) ou centimorganídeo, em homenagem a Thomas Morgan, pesquisador americano que desenvolveu os primeiros trabalhos nessa área da genética, no início do século XX. As células que não sofrem permutação (80% do total) formam apenas dois tipos de gametas: 40% AB e 40% ab. Os 20% de células nas quais aconteceu o crossing-over originam 4 tipos de gametas: 5% AB, 5% Ab, 5% aB e 5% ab. No total dos gametas produzidos, teremos: 45% AB 5% aB 5% Ab 45% ab Portanto, são 90% de gametas parentais (AB e ab) e 10% de gametas recombinantes (Ab e aB). Conclui-se que a taxa de recombinação equivale à metade da porcentagem de células que sofre permutação. Essa constatação leva a outra, também muito importante: os gametas parentais são sempre aqueles que surgem em maiores quantidades! Há menor chance de crossing over entre os genes A e C. ---B-------A----------------------------C-----b--------a----------------------------c--Há maior probabilidade de crossing over entre os genes B e A. 2. Posicionando os genes nos cromossomos Sabendo-se quais são os tipos de gametas que um indivíduo é capaz de produzir e as quantidades nas quais eles aparecem, podemos determinar a posição que eles ocupam no par de cromossomos homólogos. Para tanto, nos baseamos em dois dados: a) os gametas que aparecem em maiores quantidades são os tipos parentais, que refletem a distribuição dos genes, nos cromossomos. b) a taxa de recombinação indica a distância entre eles. Por exemplo, vamos supor que um animal produza os seguintes gametas, indicados com as suas respectivas proporções: 15% CD 35% cD 35% Cd 15% cd Pela análise desses dados, concluímos tratar-se de um caso de linkage. Se assim não fosse, todos os tipos de gametas deveriam aparecer nas mesmas quantidades. Como os gametas dos tipos Cd e cD surgem nas maiores quantidades, são os tipos parentais e espelham a posição dos genes, nos cromossomos. O genótipo desse animal é Cd/cD (duplo-heterozigoto do tipo "trans"). Uma vez conhecida a distribuição dos genes, podemos determinar a distância entre eles, que é dada pela taxa de recombinação. No total de gametas gerados, 30% são recombinantes. Logo, a taxa de recombinação é de 30%, e a distância entre esses dois loci vale 30 u.m.c. O mesmo raciocínio pode ser aplicado quando se conhece a posição dos genes, nas células de um indivíduo, e se deseja estabelecer quais os tipos de gametas que ele pode produzir, além das suas respectivas quantidades. Por exemplo: nas células das drosófilas (ou "moscas-da-fruta"), há dois pares de genes alelos Rr e Ss, cujos loci distam 8 u.m.c. Uma mosca tem genótipo duplo-heterozigoto do tipo "cis". Quais os tipos de gametas ela pode gerar, e quais são as suas proporções? Os gametas parentais serão dos tipos RS e rs. Sua formação não depende da ocorrência da permutação, de tal forma que eles deverão ser formados em maiores quantidades. Como a distância entre os dois loci é de 8 u.m.c., a taxa de recombinação é de 8%, ou seja, os gametas recombinantes perfazem 8% do total, e os restantes 92% são de gametas parentais. 46% RS 4% Rs 4% rS 46% rs Comparando o cis e trans de maneira bem simples: Genes - fenótipo a= amarelo A= branco b= baixo B= alto 1 Recombinantes 2 Recombinantes Colocando-se uma porcentagem para indicar o recombinante que sempre é de menor valor. Fica: Vejamos no cis caso 1 dos recombinantes o Ab é verde/baixo. AB-21% - (Ab= 8%verde/baixo e aB=8% amarelo/alto - Recombinantes) e ab-21%. No trans caso 2 o AB é verde/alto. Ab-21% - (AB=8% verde/alto e ab=8% amarelo/baixo –Recombinantes) e aB-21% EXERCÍCIOS COMENTADOS: 1) Se em um indivíduo de genótipo AB/ab a distância entre os dois lócus gênicos é de 22 unidades, que genótipo apresentarão os descendentes se ele for cruzado com um duplo recessivo? Se os genes distam de 22 unidades, há uma taxa de 22% de crossing entre os genes A e B(11% para cada tipo de recombinante) e se os genes encontram-se em posição CIS, essa será a conformação dos gametas parentais, os que aparecerão em maior número. Assim, teremos: P: AaBb x aabb F1: AaBb . 39% Note que os tipos que aparecem em maior número são os oriundos Aabb . 11% dos gametas parentais. Os recombinantes aparecem em menor núaaBb . 11% mero. aabb . 39% 2) Cruzou-se um diíbrido AaBb com um duplo-recessivo e obteve-se indivíduos com genótipo: 42% dominante-dominante 8% dominante-recessivo 8% recessivo-dominante 42% recessivo-recessivo a) Qual é a posição dos cromossomos no tipo parental do diíbrido? b) Qual a distância entre os genes A e B? a) Analisando os resultados, temos que os indivíduos produzidos que apareceram em maior número foram os de posição dominante-dominante e recessivorecessivo, isto é, AB e ab, portanto indicando posição CIS. b) Para calcular a distância precisamos da taxa de crossing, o que obteremos com a soma dos tipos recombinantes: 8% + 8% = 16%, ou seja, há 16unidades de recombinação (U.r.) entre os alelos A e B. 3) Em um indivíduo verificou-se que, para três pares de genes ligados, A, B, C, a taxa de crossing entre A e B é de 3,5%; entre A e C é de 17,4% e entre B e C é de 13,9%. Calcule a ordem dos genes no cromossomo: Comentário: Se você localizar os genes mais distantes (os que têm taxa de crossing maior), fica fácil depois colocar os alelos intermediários, que ficam entre os alelos extremos. Então, se entre A e C a taxa de crossing (distância) é de 17,4 %, esses serão os alelos mais distantes. 3,5 13,9 ............................................................. A B 17,4 C 4) Entre os genes A e B de um indivíduo existe 21% de recombinação. Se os genes estão em posição TRANS no cromossomo parental, calcule a quantidade de gametas de cada tipo que deverão surgir em um total de 1000 gametas. Comentário: Se em 21% das células há crossing over, significa que em 79% não ocorre, sendo que a metade do valor maior (79%) corresponde à quantidade de cada um dos tipos parentais e a metade do valor menor (21%) corresponde à quantidade de gametas recombinantes que serão formados. Então, estando em TRANS os genes no cromossomo, teremos: Ab - 39,5% - AB- 10,5% - ab -10,5% - aB- 39,5% - E Se fosse cis? Mudaria.... Veja: AB -39% Ab- 10,5% aB- 10,5% e ab- 39,5