Resignificando situações traumáticas através da argila em grupos de pacientes com transtorno depressivo em internação psiquiátrica Júlia Goldoni Balestreri (1) Cristina Pilla Della Méa (2) (1) Graduanda em Psicologia, 8º nível (IMED), Passo Fundo, RS. E-mail: [email protected] (2) Psicóloga. Especialista em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (UNISINOS) e Especialista em Psicologia Clínica (IMED). Professora Escola de Psicologia da IMED, Passo Fundo, RS. E-mail: [email protected] Resignificando situações traumáticas através da argila em grupos de pacientes com transtorno depressivo em internação psiquiátrica Resumo: A depressão caracteriza-se como um transtorno mental que atinge grande parte da população, causando um grande sofrimento e inúmeros prejuízos na vida de indivíduos acometidos pela patologia. Acredita-se que traumas e eventos estressores contribuem de forma bastante significativa no desencadeamento de transtornos depressivos, somados a outros fatores de risco como predisposição genética e vulnerabilidade cognitiva. A utilização de técnicas terapêuticas, como a argila, pode contribuir no tratamento desses pacientes, pois auxilia na elaboração e resignificação de situações traumáticas ou eventos estressores vivenciados anteriormente. Trata-se de uma pesquisa exploratória com objetivo de descrever uma experiência de estágio em que buscou-se, através da técnica da argila, resignificar traumas e eventos estressores em um grupo de pacientes com Transtorno Depressivo Maior, internados em uma clínica particular no interior do estado do RS. A dinâmica da argila mostrou-se, com esse grupo de pacientes, um bom recurso terapêutico, pois, permitiu que os indivíduos acessassem as suas memórias passadas e as reproduzissem de forma mais concreta no presente, promovendo uma reflexão sobre o impacto das mesmas em suas vidas e permitindo uma resignificação dos fatos vividos. A técnica promoveu um envolvimento do grupo, onde os mesmos conseguiram expressar e compartilhar seus traumas, suas dificuldades, conflitos, medos e angústias. A experiência realizada demonstrou que eventos estressores ou traumáticos estavam envolvidos no quadro depressivo atual desse grupo de pacientes internados. Palavras-chave: Depressão; Eventos traumáticos; Dinâmica de grupo. Abstract: Depression is characterized as a mental disorder affecting a large part of the population, causing great suffering and many losses in life of individuals affected by the condition. It is believed that trauma and stressful events contribute quite significantly in the onset of depressive disorders, in addition to other risk factors such as genetic predisposition and cognitive vulnerability. The use of therapeutic techniques such as clay, can contribute to the treatment of these patients, because it assists in the development and redefinition of previously experienced traumatic events or stressors. This is an exploratory research aims to describe an experience of internship in which we sought, through the technique of clay, reframe trauma and stressful events in a group of patients with Major Depressive Disorder, admitted to a private clinic within the RS. The dynamics of clay showed up, with this group of patients, a good therapeutic resource therefore allowed individuals from accessing their past memories and reproduce more concretely present, promoting reflection on their impact on their lives and allowing a reframing of experienced facts. The technique promoted the involvement of the group, where they were able to express and share sues traumas, difficulties, conflicts, fears and anxieties. The experiment conducted has shown that stressful or traumatic events were involved in this current group of inpatient depression. Keywords: Depression; Traumatic events; Group dynamics. INTRODUÇÃO Antes da reforma psiquiátrica ocorrer no Brasil, o modelo médico da época centrava o tratamento da loucura na contenção de comportamentos não aceitos socialmente, e utilizava a reclusão destes indivíduos como uma opção para afugentar o diferente e “proteger” a sociedade. Assim, a internação psiquiátrica teve por muito tempo a conotação menos terapêutica e mais “carcerária” (RODRIGUES, 2001; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Além da mudança de paradigmas com a Reforma Psiquiátrica, ocorreu também, nesse período, o desenvolvimento de novos e mais eficientes psicofármacos e de programas multidisciplinares para melhorias na manutenção do tratamento. Esta assistência passou a valorizar a reabilitação psicossocial de pessoas com transtornos mentais como forma de abordagem terapêutica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Atualmente, a internação psiquiátrica é indicada apenas para os casos graves em que o atendimento em regime ambulatorial e extra-hospitalar não foram suficientes para conter as frequentes crises do paciente. A internação psiquiátrica está também indicada para casos onde existe o risco do paciente ferir a si mesmo, os outros ou ainda causar dano à ordem pública ou incapacidade grave de autocuidados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002; DALGALARRONDO, BOTEGA, BANZATO, 2003). Pode-se afirmar que a finalidade, nos dias atuais, da internação psiquiátrica está centrada na estabilização do paciente, na minimização de riscos, nas necessidades psicossociais, no ajuste e adesão do tratamento farmacológico e na reinserção social do paciente em seu meio (CARDOSO, GALERA,2009). A depressão é um transtorno psiquiátrico com altas taxas de prevalência, morbidade e mortalidade que muitas vezes necessita de um tratamento sob o regime de internação. Ela caracteriza-se como um grande problema de saúde pública (KNAPP, 2004, CARDOSO, et al 2009). A característica comum do Transtorno Depressivo é a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, DSM 5 (ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA, APA, 2014) o quadro de sintomas do Transtorno Depressivo Maior deve apresentar pelo menos 5 dos nove critérios de diagnóstico apresentados, sendo eles: humor deprimido, redução do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades, perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimentos de desvalia ou culpa inapropriados, redução da concentração e ideias de morte ou de suicídio. Para o diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior, é necessário que os sintomas durem pelo menos duas semanas e um deles seja, obrigatoriamente, humor deprimido ou perda de interesse ou prazer (APA, 2014). Estudos de prevalência em diferentes países ocidentais mostram que a depressão é um transtorno frequente. A estimativa de prevalência durante a vida para um transtorno de humor é de 20,8% (BARLOW, 2009). A prevalência anual na população em geral varia entre 3% e 11%. Em pacientes de cuidados primários em saúde, mostraram uma prevalência de 10% e nos pacientes internados por qualquer doença física a prevalência varia entre 22% e 33%. Em pacientes com infarto recente é de 33%, chegando a 47% nos pacientes com câncer (FLECK, ET AL 2009). A prevalência desse transtorno é duas a três vezes mais frequentes em mulheres do que em homens (APA, 2014), mas afeta pessoas de ambos o sexos e em diferentes faixas etárias, resultando em grande sofrimento e prejuízo social e ocupacional, podendo ocasionar incapacidade temporária ou permanente (ANDRETTA, OLIVEIRA, 2011). O estresse e o trauma contribuem de forma significativa para a etiologia de todos os transtornos psicológicos, cerca de 60 a 80% das causas de depressão poderia ser atribuída a acontecimentos estressantes de vida (BARLOW, DURAND, 2010). Os eventos estressantes podem precipitar episódios depressivos em pacientes vulneráveis, e a depressão por sua vez compromete o funcionamento interpessoal, dificultando a administração desses eventos (BARLOW, 2009). Para Margis et al. (2003), os eventos estressantes podem ser classificados como independentes ou dependentes em relação ao controle que o sujeito pode exercer sobre os mesmos. Existe também a necessidade de diferenciar um evento traumático de um evento de vida estressor. O evento traumático é aquele em que, uma vez a ele exposto, o sujeito poderá sofrer consequências psíquicas por um tempo longo, mesmo após seu afastamento do mesmo. O evento de vida estressor, por outro lado, é aquele que, embora possa dar origem a efeitos psicológicos sob a forma de sintomas e desadaptação, uma vez removido, tende a acarretar uma diminuição do quadro psicopatológico por ele provocado. Da mesma forma, Brown e Harris (1978), referem que a depressão em adultos surge como resultado de fatores sociais estressantes, tais como eventos de vida (perdas) ou dificuldades crônicas, combinadas com vulnerabilidade e outros fatores, tais como: desvantagens sociais, perdas em relacionamentos íntimos, eventos traumáticos precoces, perdas educacionais e na capacidade intelectual, história pessoal e familiar de doença depressiva (FORTES-BURGOS, NERI, CUPERTINO, 2008). Estima-se que ao longo da vida 51,2% das mulheres e 60,7% dos homens tenham vivenciado pelo menos um evento potencialmente traumático. Entretanto, os eventos traumáticos em si não são determinantes isolados ou exclusivos do desenvolvimento de transtornos psiquiátricos e em torno de 20 a 50% destes acabam desenvolvendo depressão (BARLOW, DURAND, 2010; MARGIS, ET AL, 2003). O tratamento para depressão deve ser entendido de uma forma globalizada levando em consideração o ser humano como um todo incluindo dimensões biológicas, psicológicas e sociais. Indica-se psicoterapia e farmacoterapia focando na mudança do estilo de vida do paciente. As intervenções psicoterápicas podem ser de diferentes formatos, como psicoterapia de apoio, psicodinâmica breve, terapia interpessoal, comportamental, cognitiva comportamental, de grupo, de casais e de família (SOUZA, 1999). Existe evidência científica que os medicamentos antidepressivos são eficazes no tratamento da depressão melhorando ou até mesmo eliminando os sintomas do transtorno. Além disso, vários estudos de revisão científica e de metanálises demonstraram que as psicoterapias cognitivo-comportamental, comportamental, interpessoal e de resolução de problemas são eficazes no tratamento da depressão. Sugerem, ainda, que existe uma eficácia semelhante entre os dois tipos de tratamento (psicoterapia e farmacoterapia), porém a combinação de ambos no tratamento dos pacientes com quadros depressivos demonstram uma maior eficácia (FLECK, 2009). Os grupos terapêuticos propiciam aos participantes uma melhora nas relações sociais, nos níveis de conhecimento sobre questões discutidas no grupo, na capacidade para lidar com situações inerentes ao transtorno sofrido, na confiança, além do alívio emocional (GUANAES, JAPUR, 2001; PELUSO, BARUZZI, BLAY, 2001). Para Cardoso e Seminotti (2006), o grupo é entendido pelos pacientes como um lugar onde ocorre o debate e a necessidade de ajuda entre todos. No desenvolvimento das atividades, os participantes fazem questionamentos sobre as alternativas de apoio e suporte emocional. A vida de uma forma geral oferece tanto bons como maus momentos, e a forma como cada indivíduo lida com esses eventos tem importantes consequências no seu bem-estar físico e psicológico (SMYTH, HELM, 2003). Contudo, o processamento deste tipo de eventos tem recebido diferentes atenções por parte dos investigadores, que se têm centralizado no processamento das experiências negativas, perante a necessidade de alívio do ser humano (LYUBOMIRSKY, SOUSA, DICKERHOOF, 2006). Muitos estudos mostram que escrever e falar sobre eventos negativos é benéfico, pois, a estruturação e síntese da linguagem leva à organização e integração da informação sobre o trauma. Através deste processo, o indivíduo consegue encontrar um significado para o evento, controlar as emoções que lhe estão associadas e, assim, seguir em frente (SMYTH, TRUE, SOUTO, 2001; LYUBOMIRSK, SOUSA, DICKERHOOF, 2006). Recentemente, observou-se que escrever sobre os aspectos positivos de um evento traumático pode ter os mesmos benefícios que escrever sobre o trauma (KING, MINER, 2000). Dinâmicas psicológicas ou terapêuticas podem ser compreendidas como uma tendência interpretativa emocional que afeta o diálogo interno relacionado a um evento significativo. Várias pessoas no mesmo ambiente podem experimentar e perceber distintas situações e vivenciar aspectos comuns, mas as memórias emocionais sob as mesmas circunstâncias podem ser similares, porém nunca idênticas. A experiência reconstruída como uma memória que provoca tristeza ou qualquer outra emoção deve ser respeitada. Assim, a narração da memória traumática é enviesada pelo repertório individual de representações da realidade e dinâmicas psicológicas, que configuram padrões interpretativos do evento. Observou-se, na experiência clínica, que as dinâmicas psicológicas influenciam a interpretação do evento traumático e permeiam a reconstrução da memória, afetando a relação com esse evento (PERES, ET AL, 2005; FAVORETO, CABRAL, 2009). Embora o processo de adoecimento e sofrimento trate de experiências individuais e singulares vivenciadas e registradas na memória de cada um, é por meio da interação com o mundo externo e do relacionamento com os outros que os sujeitos conseguem expressar suas emoções e seus sentimentos. Essa interação favorece o desenvolvimento e crescimento pessoal do indivíduo permitindo que, o mesmo, realize mudanças em sua vida (LACERDA, VALLA, 2006; BECHELLI, SANTOS, 2005). O presente estudo tem como objetivo descrever uma experiência de estágio, através da realização de uma dinâmica terapêutica, aplicada em um grupo de pacientes internados em uma clínica psiquiátrica no interior do estado do RS. MÉTODO O trabalho foi realizado através de uma experiência de estágio da escola de Psicologia da IMED. Aplicou-se durante as atividades de estágio básico uma dinâmica terapêutica em um grupo de pacientes internados em uma clínica psiquiátrica no interior do estado do RS. Trata-se de uma pesquisa exploratória que visa descrever precisamente uma situação ou obter uma nova percepção de um fenômeno (CERVO, BERVIAN, DA SILVA, 2007). A DINÂMICA DE GRUPO O grupo de pacientes estudado era composto por oito indivíduos, sendo seis do sexo feminino e dois do sexo masculino, com faixa etária entre 30 e 45 anos. As seis mulheres participantes apresentavam um quadro depressivo associado a outras comorbidades como transtornos de ansiedade e de personalidade. Um dos pacientes do sexo masculino tinha o diagnóstico de transtorno delirante e, o outro, apresentava sintomas psicóticos e tinha como hipótese diagnóstica a esquizofrenia. Todos os pacientes eram mantidos sob regime de internação psiquiátrica e as atividades de estágio com esse grupo eram desenvolvidas três vezes na semanais com duração de uma hora cada. Uma das atividades realizadas com esses pacientes foi uma dinâmica terapêutica que fazia o uso da argila. Essa dinâmica foi aplicada no intuito de mobilizar questões pessoais que poderiam ser melhor exploradas e trabalhadas no contexto grupal. Segundo Bresson (2010), a técnica da argila permite que os indivíduos acessem com maior facilidade as memórias do passado e as tragam de forma mais concreta para o presente, expressando e moldando-as no barro. A aplicação da técnica terapêutica ocorreu em várias etapas. Primeiramente, foi entregue um pedaço de argila a cada paciente e solicitou-se que individualmente moldasse algum fato ou cena triste que havia vivenciado no passado e que ainda lhe mobilizasse emoções negativas ou sofrimento. Essa etapa durou aproximadamente 20 minutos. Para Bresson (2010), quando o indivíduo molda a cena na argila adquire de certa forma um controle sobre a memória exteriorizada permitindo que a analise sobre uma outra perspectiva, mesmo sabendo que tais memórias não podem ser modificadas ou apagadas. Ainda, nessa perspectiva, Coqueiro, Vieira e Freitas (2010) acreditam que o uso da argila como técnica terapêutica produz efeito positivo em pacientes com transtorno mental, além de possibilitar que os mesmos vivenciem suas dificuldades, conflitos, medos e angústias de uma forma menos dolorosa. Após moldada a cena, através da argila, os pacientes foram estimulados a partilharem com o grupo as suas memórias e o significado da suas construções. Permitiu-se esse momento, pois, vários estudos revelam que escrever e falar sobre eventos negativos ajudam o paciente a resignificar tais experiências e libertarem-se do conflito emocional (SMYTH, TRUE, SOUTO, 2001; LYUBOMIRSK, SOUSA, DICKERHOOF, 2006). Ao término das verbalizações e trocas, entre os integrantes do grupo, utilizou-se uma metáfora onde foi comparado as experiências da vida ao barro (argila). Buscou-se um entendimento que da mesma forma que criamos, manipulamos e transformamos um pedaço de argila também podemos fazer o mesmo com nossa vida. Finalizada a reflexão, solicitou-se que desmanchassem aquela escultura, que representava o evento e junto com ela, todos os sentimentos e emoções negativas que se faziam presentes naquele pedaço de argila. Em seguida, solicitou-se que criassem uma nova escultura contendo nela seus projetos e idealizações para a sua vida futura. Todos os paciente puderam novamente comentar sobre a sua nova construção. Observou-se durante a dinâmica que a maioria dos pacientes construíram nos moldes de argila histórias pregressas de suas vidas carregadas de sentimentos e emoções negativas. Durante o relato de suas memórias, ocorreu manifestação de choro e a mobilização de sentimentos de tristeza, impotência, raiva, revolta e desilusão. Da mesma forma, compreende-se que as dinâmicas psicológicas podem ser uma importante ferramenta, pois permitem ao paciente fazer um diálogo interno com suas memórias ou fatos passados. Peres, et al. (2005), observaram que as dinâmicas psicológicas influenciam a interpretação do evento traumático e mediam a reconstrução da memória, afetando a relação com esse evento. Os pacientes demonstraram empenho e concentração durante a realização da atividade. Muitos expressaram com criatividade suas memórias e um sentimento de pertencimento pode ser notado do grupo trabalhado. Algumas pessoas do grupo identificaram-se com os relatados ou sentimentos expressados, demonstrando empatia e solidariedade. Essa troca permite que os pacientes percebam que a vida, de uma forma geral, oferece tanto bons como maus momentos, e a forma como cada indivíduo lida com esses eventos, tem importantes consequências no seu bemestar físico e psicológico (SMYTH, HELM, 2003). A dinâmica terapêutica com a argila se estendeu aproximadamente por uma hora. Após o término da técnica, os participantes puderam manifestar um feedback pessoal sobre a experiência com a atividade proposta e todos a classificaram como positiva e geradora de bem estar. A experiência dessa vivência em grupo contempla o que Lacerda e Valla (2006), referem sobre o processo de adoecimento e sofrimento, o qual trata de experiências individuais e singulares vivenciadas e registradas na memória de cada um. É por meio da interação com o mundo externo e do relacionamento com os outros que os sujeitos conseguem expressar suas emoções e seus sentimentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante a realização da dinâmica terapêutica com a argila foi possível observar um envolvimento profundo do grupo em realizar a atividade que havia sido proposta. Os indivíduos demonstraram concentração e criatividade para confeccionar o evento estressante ocorrido em suas vidas. Percebeu-se que, durante a modelagem da argila, os pacientes expressavam em suas faces sentimentos de tristeza e sofrimento. No momento de partilharem suas memórias, o grupo se mostrou empático e solidário permitindo a troca de experiências e aprendizado. Os pacientes, ao fazerem o relato e expressarem seus sentimentos ao grupo, em relação aos fatos passados, puderam perceber o quanto tais eventos ainda repercutiam na sua vida atual e comprometiam sua saúde mental. A destruição da cena traumática e o trabalho de eliminar mentalmente as emoções negativas parece ter trazido alívio para a maioria do grupo conforme relatos. Através dessa experiência, pode-se verificar nitidamente o envolvimento de eventos estressores ou traumáticos no quadro depressivo atual desses pacientes. A dinâmica da argila revelou-se com esse grupo de pacientes um bom recurso terapêutico. A técnica permitiu, através da manipulação da argila, deslocar do passado para o presente memórias mal elaboradas e resignificá-las através da vivência em grupo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALESSANDRINI, C. D. Oficina criativa e psicopedagogia. Casa do psicólogo, são Paulo 1996. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5º ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. ANDRETTA, M. S.; OLIVEIRA, I. Manual Prático de Terapia Cognitivo-Comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. BARLOW, D. H. Manual Clínico dos Transtornos Psicológicos: Tratamento passo a passo. 4º ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. BARLOW, D. H.; DURAND, M. R. Psicopatologia: uma abordagem integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2010. 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